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aula08 (2)

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87
8ºAula
Globalização e as novas formas de 
organização e gestão: novas formas de 
exploração humana?
Boa aula!
Olá! Estamos chegando ao final desta disciplina e 
muitos dos conceitos e informações das aulas anteriores serão 
importantes para compreender melhor o que trataremos nesta 
aula. Já falamos bastante sobre a Revolução Industrial e seus 
desdobramentos sobre o mundo do trabalho e seus impactos na 
vida das pessoas. 
Buscamos inicialmente refletir sobre trabalho, 
conhecimento e vida e da importância no processo de 
Humanização. Vimos nas primeiras aulas como a partir 
do Trabalho, o homem produz as condições de vida. Neste 
sentido, falamos sobre a capacidade tecnológica e importância 
da “práxis”, como meio de o Homem produzir as suas 
condições materiais de existência.
Também já vimos como as inovações tecnológicas estão 
gerando novas realidades que se desvendam aos olhos das 
pessoas e geram novos desdobramentos. Assim, à medida que 
o homem foi capaz de produzir pelo trabalho suas condições de 
vida, foi capaz de produzir cultura. Dessa forma, vimos que o 
Homem é produto social, produzido a partir do trabalho e ao 
se produzir, produz cultura. 
Depois seguimos nossas discussões sobre as influências 
culturais e como a cultura influencia na conduta humana. 
Laraia (2001) propõe a ideia que a cultura condiciona a visão 
de mundo do homem. O Homem, diferentemente dos animais, 
cria e recria, pela ação consciente do trabalho: ele produz pelo 
trabalho a sua própria existência.
A Revolução Industrial e seus desdobramentos no campo 
econômico, social, cultural e político serviram para ampliar nossa 
compreensão de como o Homem, a partir do Trabalho, produz 
suas condições de vida e que pelas inovações tecnológicas ele é capaz 
de recriar as formas de produzir, distribuir e de consumir bens. 
Assim, o trabalho, presente na história da humanidade 
desde os primórdios, configura-se como ocupação básica na sua 
luta pela sobrevivência desde as tribos mais primitivas.
Você lembra o que foi a Revolução Industrial? Ela 
representa um conjunto de transformações no campo campo 
tecnológico que assegurariam ao homem o domínio de 
poderosas forças naturais, de fontes de energia cada vez mais 
potentes, de meios de transporte e comunicação, de armamentos 
e conhecimentos especializados que garantiriam à humanidade 
a conquista de enormes dimensões do globo terrestre.
Em seguida, centramos nossos estudos sobre as transformações 
tecnológicas e organizacionais no mundo do trabalho, que se 
desenvolveram a partir do Fordismo e as progressivas e intensas 
transofrmações no campo tecnológico e na vida social, geradas com a 
da adoção do modelo Toyotistas como modelo mundial a partir do 
desenvolvimento da era da Globalização.
Seriam estas inovações as responsáveis pelas profundas 
transformações que vêm se dando de forma cada vez mais 
rápida e profunda em escala local e também em escala global 
no atual momento histórico?
Quais são os desdobramentos e impactos no campo 
econômico, social, cultural e político que o processo de 
Globalização vem gerando atualmente sobre a organização 
do mundo do trabalho e sobre os trabalhadores? Quais as 
reestruturações que estão sendo gerados nos diferentes campos e 
espaços da vida social e política? Que benefícios ou danos essas 
novas realidades trazem para a vida das pessoas?
Nesta aula, aprofundaremos mais alguns conceitos e 
reflexões sobre Globalização. Ou mundialização? Até seu 
nome é incerto! Contudo, vamos usar o termo 3ª Revolução 
Industrial. Assim, nesta aula vamos buscar compreender as 
transformações geradas no mundo do trabalho que se iniciam 
nos países centrais a partir dos anos 1970, momento em que 
se iniciam uma série de transformações no mundo do trabalho 
que irão desencadear uma série de revoluções em todos os 
campos, primeiramente nos países centrais e a partir da década 
de 1990 também nos países periféricos.
Vamos aprofundar mais essas questões nesta aula?
Sociologia aplicada
88
Objetivos de aprendizagem
Ao término desta aula, vocês serão capazes de: 
• compreender como mudanças ocasionadas pelo 
processo de Globalização geram as desigualdades sociais;
• conhecer como se deu o processo de 
reconfiguração do mundo do trabalho a partir do 
casamento da informática com os sistemas produtivos;
• relacionar as reestruturações ocorridas no 
mundo do trabalho com a vida social e os processos 
de exclusão.
 1 – Globalização e Toyotismo: as desigualdades 
se aprofundam com as novas formas de acumulação 
de capital
2 – Toyotismo: as desigualdades se aprofundam 
com o casamento Informática x Toyotismo 
3 - O Peso de cada Revolução: desemprego e 
exclusão social
Seções de estudo
1 – Globalização e Toyotismo: as 
desigualdades se aprofundam com 
as novas formas de acumulação 
de capital
Para Refl etir
PEDRAS E PALAVRAS (texto com adaptações)
Até o século XV, dizia Gutemberg, num mundo de analfabetos, 
a humanidade comunicava-se com pedras, empilhando-as 
e arrumando-as das mais variadas formas para expressar 
a fé (as igrejas), o poder (os castelos), o luxo (os palácios), 
a propriedade (o muro), a punição (o cárcere), a pobreza 
(os casebres), e a morte (as lápides). Com Gutemberg tudo 
aquilo deixava de ter sentido. O livro impresso seria a pedra 
dos tempos futuros. O construtor dos templos do devir.
Fonte: http://profpedroemestremoz.fi les.wordpress.com/2011/09/3_fa_
ainvimprensa.pdf
Figura 8.1 A ofi cina de Gutemberg
Fonte: http://images.google.com.br/images, acessado em 23 de setembro 
de 2012, às 18 horas
Uma impressão da época
A prensa de Gutemberg
Problematização
Uma das principais características que sinalizam 
o atual momento histórico, marcado por um lado, 
pelo acelerado desenvolvimento tecnológico, 
iniciado no remoto século XVI, “quando as 
elites da Europa ocidental entraram numa fase de 
desenvolvimento tecnológico que asseguraria o 
domínio de poderosas forças naturais, de novos 
meios de transporte e comunicação, de armamentos 
e conhecimentos especializados” (SEVCENKO, 
2001, p. 14); e por outro lado, os processos de 
inovação tecnológica, estão gerando elevados 
índices de desemprego estrutural, precarização nas 
relações de trabalho e o aumento da exclusão social.
 Esses processos técnicos, se por um lado, 
num primeiro momento e de forma mais direta, 
possibilitaram a ampliação dos potenciais produtivos 
de dado sistema econômico, seja aumentando sua 
capacidade de produção e consumo pela automação 
e barateamento, seja multiplicando suas riquezas, 
representadas pelos fluxos de recursos humanos, 
conhecimentos, equipamentos, materiais e capitais, 
provocaram de outro lado, a necessidade de domínio 
e de incorporação de novos conhecimentos que 
irão alterar a própria estrutura da sociedade com o 
surgimento dos novos e grandes complexos industriais 
tais como usinas elétricas, fundições, siderúrgicas, 
indústrias químicas e refinarias de petróleo.
Esses processos técnicos, se por um lado, num 
primeiro momento e de forma mais direta, ampliam 
os potenciais produtivos de dado sistema econômico, 
seja aumentando sua capacidade de produção 
89
Você Sabia?
O advento da imprensa de caracteres móveis de Gutemberg 
promoveu um sensível mudança. O resultado [...] foi um 
novo mundo da comunicação. De repente, num piscar 
de olhos histórico, os escribas se tornaram obsoletos. 
Num determinado ano, levava-se um mês ou dois para se 
produzir a simples cópia de um livro; no seguinte, podia-
se ter quinhentas cópias em uma semana (quinhentas era 
e consumo, seja multiplicando suas riquezas, 
representadas pelos fluxos de recursos humanos, 
conhecimentos, equipamentos, materiais e capitais.
Por outro lado, os processos de inovação 
tecnológica, estão gerando elevados índices de 
desemprego estrutural, precarização nas relações 
de trabalho e o aumento da exclusão social. Tanto 
nos países capitalistas centrais como nos países 
periféricos, o desemprego é um dos problemas 
sociais que mais ocupaas páginas dos jornais. Neste 
sentido, pode-se dizer que o desenvolvimento das 
forças produtivas, da ciência e das chamadas novas 
tecnologias aparece acompanhado por graves 
problemas sociais, geradores de sofrimento para 
grande parte da população que se encontra excluída 
dos processos produtivos. 
Na mesma linha 
de análise, podem ser 
enquadradas também 
a fantástica produção 
e difusão cultural 
que a invenção da 
prensa proporcionou. 
Como seria possível 
imaginarmos, por 
exemplo, os cursos de 
formação em todos 
os níveis sem o uso das modernas tecnologias de 
comunicação e de informação que se desencadearam 
a partir da invenção de Gutemberg, do telefone, do 
computador e mais tarde da internet?
Tanto nos países capitalistas centrais como nos 
países periféricos, o desemprego é um dos problemas 
sociais que mais ocupa as páginas dos jornais. Neste 
sentido, pode-se dizer que o desenvolvimento das 
forças produtivas, da ciência e das chamadas novas 
tecnologias aparece acompanhado por graves 
problemas sociais, geradores de sofrimento para 
grande parte da população que se encontra excluída 
dos processos produtivos.
Fonte: http://images.google.
com.br/images, acessado 
em 21 de outubro de 2012, 
às 21 horas
uma média razoável naqueles primeiros dias). A distribuição 
ainda era a pé ou a cavalo, mas isso não importava. Um livro 
copiado apenas fi cava ali esperando por leitores, um a um, 
um livro impresso de sucesso é uma pedra jogada pela água, 
sua mensagem repercutindo em dezenas, centenas, milhões 
de leitores (MAN, 2004, p. 12. Apud ALVES, 2005, p. 25).
Saber Mais
Em 1848 um trecho de Marx revela a essência da Revolução 
Industrial para o Homem:
“Subversão ininterrupta da produção, contínua perturbação 
de todas as relações sociais, interminável incerteza e 
agitação distinguem a era burguesa de todas as anteriores. 
Todas as relações sociais fi xas, enrijecidas, com seu travo 
de Antigüidade, veneráveis preconceitos e opiniões, forram 
banidas; todas as novas relações envelhecem antes mesmo 
de se ossifi car. Tudo o que é sólido desmancha no ar; tudo 
que é sagrado é profanado; e os homens fi nalmente são 
levados a enfrentar com um olhar sem ilusões as verdadeiras 
condições de suas vidas”.
Fonte: http://www.cefetsp.br/edu/eso/globalizacao/textocut.html
Como já ficou evidenciado, as transformações 
tecnológicas que se iniciaram com a revolução 
científico tecnológica a partir do século XIX, por 
volta de 1870, geraram seus desdobramentos que 
ao longo do século XX, tornaram-se paulatina 
e progressivamente mais aceleradas, intensas e 
dramáticas. Seus efeitos se fizeram sentir num primeiro 
momento de forma mais direta nas comunidades 
e nos países eles aconteciam, porém, século XX a 
dentro ampliam os potenciais produtivos de dado 
sistema econômico, seja aumentando sua capacidade 
de produção e consumo, seja multiplicando as 
riquezas representadas pelas riquezas, representadas 
pelos fluxos de recursos humanos, conhecimentos, 
equipamentos, mercadorias e capitais.
Os desdobramentos da revolução científico-
tecnológica com o surgimento de grandes complexos 
industriais promoverão rápido e grande crescimento 
e concentração de operários nas cidades industriais 
com aumento excepcional do seu poder de pressão, 
barganha e contestação.
Tal situação, potencialmente explosiva, gerou 
nos países em que seus efeitos se faziam sentir 
primeiro, otimismo pela expansão das conquistas, 
um sentimento de euforia e de confiança no 
progresso gerado pelo avanço das tecnologias. 
Sociologia aplicada
90
A expansão dessas conquistas nos mais variados 
setores da vida social pareciam ter gerado, na 
passagem para o século XX, que a humanidade teria 
atingido o seu ponto mais alto.
No começo do século XX, o economista 
Maynard Keynes mostrava-se preocupado com a 
possibilidade de chegar o dia em que as famílias 
seriam proprietárias de todos os bens disponíveis 
no mercado. Se isso acontecesse, o sistema entraria 
em colapso. Graças, porém, à impossibilidade 
da satisfação humana, a economia de mercado 
encontra-se hoje a pleno vapor.
Parece que, de algum modo, a ideia da realização 
sempre esteve ligada à satisfação material. Nas 
economias de mercado, ela em geral se reduz ao 
consumo de bens materiais, ou para proporcionar 
mais lazer, ou para ostentar a aparência de poder.
Porém, de acordo com Sevcenko (2001), 
esse processo foi interrompido graças aos novos 
recursos tecnológicos, “produziu-se um efeito de 
destruição em massa” e lançou a humanidade numa 
situação nunca antes imaginada espasmo caótico 
e destrutivo em que o horror de duas Guerras 
Mundiais engoliram a história.
Neste momento tumultuoso, em que a 
celeridade das mudanças vem sufocando sua 
capacidade de reflexão e de diálogo, mais que 
nunca torna-se imperativo investir na formação de 
capacidades sem as quais não teria sido possível 
acontecer o próprio processo de humanização. Para 
se ter uma ideia da amplitude e densidade dessas 
mudanças tecnológicas, 
[...] se somássemos todas as descobertas 
científi cas, invenções e inovações 
técnicas realizadas pelos seres humanos 
desde as origens de nossa espécie até 
hoje, chegaríamos à espantosa conclusão 
de que mais de oitenta por cento de 
todas elas se deram nos últimos cem 
anos. Dessas, mais de dois terços 
ocorreram concentradamente após a 
Segunda Guerra. Verifi camos também 
que cerca de setenta por cento de todos 
os cientistas, engenheiros, técnicos e 
pesquisadores produzidos pala espécie 
humana estão ainda vivos atualmente, 
ou seja, compõem o quadro de gerações 
nascidas depois da Primeira Guerra 
(SEVCENKO, 2001, P. 24).
Essa situação transparece claramente na taxa de 
crescimento dos conhecimentos técnicos. Calculam 
alguns teóricos, alerta Sevcenko (2001, p. 24), em 
vista das novas possibilidades introduzidas pela 
Revolução da Microeletrônica, em inícios do século 
XXI, que essa taxa estaria superior a quarenta 
porcento ao ano e nestas proporções, prognostica 
o autor, essa taxa praticamente estaria dobrando no 
atual momento a cada doze meses. Neste contexto, 
alerta sobre a importância de as sociedades que se 
querem adequadas para o momento histórico, mais 
do que nunca, é imperativo investir na formação 
do ser humano e no desenvolvimento das funções 
judiciosas, corretiva e orientadoras para que a crítica 
acontecesse: a capacidade de reflexão e de diálogo.
Por isso, de acordo com Sevcenko, torna-se 
necessário adotar uma estratégia fundamentada em 
três distintos movimentos:
O primeiro consiste em conseguirmos 
desprender-nos do ritmo acelerado 
das mudanças atuais, a fi m de obter 
uma posição de distanciamento a 
partir da qual possamos articular 
um discernimento crítico que nunca 
conseguiríamos estabelecer se nos 
mantivéssemos colados às vicissitudes 
das próprias transformações. O segundo 
requer que recuperemos o tempo da 
própria sociedade, ou seja, o tempo 
histórico, aquele que nos fornece o 
contexto no interior do quadro podemos 
avaliar a escala, a natureza, a dinâmica e 
os efeitos das mudanças em curso, bem 
como quem são os benefi ciários e a quem 
elas prejudicam. O terceiro movimento 
seria, então, o de sondar o futuro a 
partir da crítica em perspectiva histórica, 
ponderando como a técnica pode ser 
posta a serviço de valores humanos, 
benefi ciando o maior número de pessoas 
(SEVCENKO, 2001, p. 19).
Globalização, mundialização? Até o seu nome 
é incerto. A economia capitalista industrial tende 
a superar os limites do estado-nação quase desde 
o início. A livre movimentação de mercadorias e 
de capitais através das fronteiras nacionais atingia, 
de acordo com Singer (2003), seu primeiro auge 
por volta da segunda metade do século XIX, 
quando o padrão ouro proporcionou moedas 
automaticamente conversíveis e se criou um 
conjunto de instituições destinadas a garantir o 
livre-câmbio e as inversões estrangeiras.
91
2 - Toyotismo: as desigualdades 
se aprofundam com o casamento 
Informática X ToyotismoDentre experiências do capital que se 
diferenciavam do binômio taylorismo/fordismo, de 
acordo com Antunes (2003), pode-se dizer que o 
Toyotismo ou modelo japonês. Enquanto o modelo 
americano apresentava sinais de superação, no distante 
Japão, germinava a semente de uma virada. Dessa vez 
a escolha do país-sede da revolução é desconcertante. 
O Japão tem uma área igual a 4,5% do Brasil, 80% 
montanhosa e pobre. Atrasou-se na industrialização. 
A história tem suas ironias. Apesar desses 
pontos fracos, e até graças a eles, é no Japão que 
nasce um novo paradigma. O sistema industrial 
japonês, a partir dos anos 1970, teve grande impacto 
no mundo. Naturalmente, a “transferibilidade do 
toyotismo carecia, para sua implantação no ocidente, 
das inevitáveis adaptações às singulariedade e 
particularidades de cada país. A indústria foi 
arrasada? Pode se reestruturar. O mercado é 
pequeno? A produção será flexível, muitos modelos 
em pequeno número. Os japoneses são pobres? 
Cortem-se os custos. A concorrência dos EUA 
sufoca? Mobilizem o Estado e o patriotismo do 
povo. Assim a montadora Toyota, entre 1950 e 
1970, desenvolve, adapta e modifica o fordismo até 
criar um novo sistema, o toyotismo.
O Toyotismo, como via japonesa de expansão e 
consolidação do capitalismo monopolista industrial, 
é uma forma de organização do trabalho que nasce na 
Toyota, no Japão no período pós-Segunda Guerra, e 
que, muito rapidamente, as propaga para as grandes 
companhias daquele país. O Toyotismo, de acordo 
com Antunes (2003), se diferencia basicamente por 
alguns traços que lhe são peculiares:
1. No sistema Toyota a produção é vinculada à 
demanda. Fabricam-se muitos modelos, em pequena 
quantidade. A demanda puxa a oferta. Como num 
supermercado, os artigos são repostos nas prateleiras à 
medida que são vendidos. Para dar conta da demanda, 
as máquinas também têm de ser flexíveis.
2. Não há uma rígida definição de função. O 
toyotismo fundamenta-se no trabalho operário em 
equipe, com multivariedade de funções.
3. O processo produtiva estrutura-se na produção 
flexível, onde o operário precisa saber operar várias 
máquinas (na Toyota, em média até 5 máquinas.
4. Pelo sistema “Just in Time”, as fornecedoras 
descarregam as encomendas num fluxo contínuo 
em que se objetiva o melhor aproveitamento 
possível do tempo de produção.
5. Para coordenar tudo segundo o sistema 
de kanban, placas ou senhas de comando para 
reposição de peças de estoque. Os estoques são 
mínimos quando comparados ao fordismo.
6. As empresas, ao contrário da estrutura fordista, 
no toyotismo, há uma estrutura horizontalizada. 
No sistema fordista taylorista, 75% da produção é 
realizada na fábrica. No sistema toyotista, somente 
25 % da produção são de responsabilidade da fábrica 
onde se prioriza o que é central em sua especialidade 
e transfere-se a terceiros grande parte do que antes 
era produzido dentro de seu espaço produtivo.
7. Não há desperdício. São organizados os 
Círculos de Controle de Qualidade. Constitui-se 
grupos de trabalhadores que são instigados pelo 
capital a discutir seu trabalho e desempenho, com 
vistas a melhorar a produtividade das empresas. Só 
a produção acrescenta valor ao produto. Transporte, 
estocagem e controle de qualidade são reduzidos ao 
mínimo. Hoje a Toyota trabalha com estoques de 
apenas duas horas. 
8. O Toyotismo implantou o emprego vitalício 
para uma pequena parcela de trabalhadores das grandes 
empresas (cerca de 25 a 30) por cento da população 
trabalhadora com exclusão das mulheres e o aumento 
de salário é vinculado ao aumento de produtividade.
Curiosidade
No sistema Toyotista, o trabalho é polivalente, racionalização 
do processo produtivo, dotado de forte disciplinamento. Em 
média, um trabalhador da Toyota opera em média cinco 
máquinas. Há incentivo para que os trabalhadores formem 
equipes de oito que operam uma “ilha” de máquinas e 
ainda controlam a qualidade, fazem serviços simples de 
manutenção, limpam o maquinário. A Toyota só produz 25% 
das peças de seus carros e controla tudo via participação 
acionária, créditos, fornecimento de tecnologia.
3 - O Peso de cada Revolução: 
desemprego e exclusão social
Diante do que foi apresentado, evidencia-se 
que ao globalização é um termo que mais ofusca 
do que ilumina as novas questões a cerca das 
Sociologia aplicada
92
relações sociais na dimensão global. Um exame 
comparado entre as três Revoluções Industriais 
permite identificar diversas semelhanças e muitas 
contradições. Dentre Todas nascem do casamento 
entre um novo hardware (a base tecnológica) um 
novo software (organização) do trabalho. Partem de 
um país sede. Elevam bruscamente a produtividade. 
Mas há diferenças. 
O que caracteriza a nossa época é um salto 
tecnológico que é correlato à centralização dos 
bens de produção nas mão de cada vez menos em 
detrimento de cada vez mais. Com o fim da guerra 
fria, “os Estados Unidos se viram numa situação 
privilegiada, como a mais forte, coesa e prospera 
economia mundial” (SEVCENKO, 2001, p. 25)
O dólar americano se tornando a moeda 
padrão, os Estados Unidos se beneficiaram de 
sua condição de liderança, patrocinariam tratados 
multilaterais, destinados a garantir a estabilidade 
dos mercados e reduzir as práticas protecionistas e 
barreiras alfandegárias, com isso eles garantiram sua 
hegemonia global no período de 1953 a 1975. O 
resultado deste conjunto de medidas neste período 
foi um crescimento econômico sem precedentes. “O 
crescimento da riqueza foi de cerca de quatro por 
cento per capita em todo esse período e, mesmo com 
a crise do petróleo entre 1973 e 1980 o crescimento 
continuou. Porém, após os anos 1990, “a tendência 
ao crescimento foi retomado, mais sujeita agora, 
às oscilações voláties causadas pela introdução 
das tecnologias microeletrônicas no mercado 
internacional (SEVCENKO, 2001, p. 25-26).
O mais significativo no entanto, com relação ao 
período de pós-guerra, “foi a excepcional expansão do 
setor de serviços, que em alguns países desenvolvidos, 
como os Estados Unidos, chegou a gerar mais de 
setenta por cento do Produto Interno Bruto PIB 
[...] o PIB mundial chegou a quadrupicar entre 1950 
e 1980, saltando de cerca de 2 trilhões para mais de 8 
trilhões de dólares” (SEVCENKO, 2001, p. 26).
 Porém, em meio às convulsões geradas pela 
crise do petróleo, visando a dar maior dinamismo 
ao mercado internacional, uma série de medidas 
foram tomadas que provocaram um efeito de 
liberação dos controles cambiais e que se difundiu 
para as economias desenvolvidas de todo o planeta. 
“Os grandes beneficiados com essa nova situação 
foram os capitais financeiros – que poderiam agora 
especular livremente com as oscilações de valor entre 
as moedas fortes no mercado internacional – e as 
chamadas empresas transnacionais (SEVCENKO, 
2001, p. 27).
Tanto as grandes empresas, como também 
instituições bancárias, já atuavam simultaneamente 
em diferentes regiões do globo terrestre desde 
o final do século XIX, embora ainda em número 
limitado. Elas só começariam a se multiplicar em 
função dos investimentos para a reconstrução da 
Europa no pós-guerra. Mas, foi com as medidas de 
liberalização dos anos 1970 que elas encontrariam 
o campo fértil e ideal para a sua difusão sistemática 
por todo o mundo.
O novo cenário gerado pela liberalização 
de fluxos financeiros permitiu a ampliação dos 
investimentos por todo o mundo e produziu uma 
alteração drástica em todo o quadro da economia 
mundial com a dinamização dos mercados, 
ampliação da produção e da prestação de serviços. 
Tal situação gerou, por um lado, a possibilidade 
de multiplicar filiais de suas empresas nos mais 
diversos pontos do planeta. Por outro lado, ela 
também acabou provocando uma separação 
entre as praticas financeiras propriamente ditas 
e os empreendimentos econômicos. Induziu à 
especulação com moedas e títulos de diferentes 
naturezas, na esfera ampla dos mercados globalizado, 
se tornou por si só, um atrativoirresistível para os 
agentes financeiros
Tal situação proporcionou às grandes corporações 
uma enorme vantagem. Eles foram beneficiários não 
só pelas medidas de liberalização e desregulamentação 
dos mercados, mas também pelas conquistas das 
novas tecnologias microeletrônicas. Proporcionou 
também a elas na oferta de seus produtos e serviços 
um enorme poder de barganha, impondo, aos 
governos interessados em receber seus investimentos 
e respectivos postos de trabalho, um amplo cardápio 
de vantagens, favores, isenções e garantias que 
praticamente tornava os Estados e as sociedades reféns 
dos poderosos conglomerados multinacionais. 
ANEXO
LEITURA COMPLEMENTAR: 
Esquema das três revoluções do capitalismo
93
PRIMEIRA SEGUNDA TERCEIRA
ÉPOCA DE INÍCIO 1780 1913 1975
PAÍS LÍDER INGLATERRA ESTADOS UNIDOS JAPÃO
CARRO-CHEFE Indústria têxtil (algodoeira) Indústria automobilística Indústria automobilística e 
eletroeletrônica
PARADIGMA MANCHESTER FORD TOYOTA
BASE DE "HARDWARE" 
(MATERIAL)
Máquina de fi ar, tear mecânico, 
máquina a vapor, ferrovia, 
descaroçador de algodão.
Eletricidade, aço, eletromecânica, 
motor a explosão, petróleo, 
petroquímica
Informática, máquinas CNC, 
robôs, sistemas integrados, 
telecomunicações, novos 
materiais, biotecnologia.
BASE DE "SOFTWARE" 
(ORGANIZACIONAL)
Produção fabril, trabalho 
assalariado.
Produção em série, linha de 
montagem, rigidez, especialização, 
separação gerência-execução.
Produção fl exível, ilha de 
produção, "just in time", 
qualidade total, integração 
gerência-execução.
TRABALHO Semi-artesanal, qualifi cado, 
"poroso", pesado, insalubre.
Especializado, fragmentado, não-
qualifi cado, intenso, rotineiro, 
insalubre, hierarquizado.
Polivalente, integrado, em 
equipe, intensíssimo, fl exível, 
estressante, menos hierarquia.
VOLUME DE 
INVESTIMENTOS
Baixo Alto Altíssimo
RELAÇÃO 
INTEREMPRESAS
Livre concorrência Monopólio, forte verticalização. Monopólio, forte horizontalização 
(terceirização), formação de 
megablocos comerciais.
ESCALA Local, nacional, internacional. Nacional, internacional. Internacional, global.
DOUTRINA Liberalismo (Adam Smith), David 
Ricardo).
Liberalismo até 30; Keynesianismo 
pós-30.
Neoliberalismo(Thatcher, 
Reagan).
PRODUTIVIDADE Grande elevação Grande elevação Grande elevação em ritmo 
vertiginoso
PRODUÇÃO Desencadeou ciclo de 
crescimento
Desencadeou ciclo de crescimento Não desencadeou ciclo de 
crescimento
CONSUMO Grande expansão Grande expansão Tendência à estagnação
EMPREGO Forte expansão principalmente 
na indústria
Forte expansão principalmente na 
indústria
Forte retração principalmente 
na indústria, trabalho parcial, 
precário, informal.
REAÇÃO DOS 
TRABALHADORES
Perplexidade, quebra de 
máquinas, cooperativismo, 
primeiros sindicatos.
Perplexidade, reforço dos sindicatos, 
conquistas sociais (salários, 
previdência, jornada de trabalho, 
contrato coletivo)
(até o momento) Perplexidade, 
dessindicalização, fragmentação, 
tendência à "parceria" assumida 
ou confl itiva
Disponível em: http://www.ime.usp.br/~is/ddt/mac333/projetos/fi m-dos-empregos/encruzilhada.htm
Retomando a aula
Parece que estamos indo bem. Então, para 
encerrar esse tópico, vamos recordar:
Abordamos, nesta aula, sobre um tema que apesar 
de ser frequentemente citado, todas as circunstâncias 
da vida social. Nesta aula aprofundaremos mais 
alguns conceitos e reflexões sobre Globalização. Ou 
mundialização? Até seu nome é incerto! Contudo, 
vamos usar o termo 3ª Revolução Industrial para 
nos referir aos efeitos gerados no campo das 
tecnologias e seus efeitos na organização da vida 
social e econômica – a glbalização.
No sistema Toyotista, o trabalho é polivalente, 
há uma forte racionalização do processo produtivo, 
dotado de forte disciplinamento. Um trabalhador 
da Toyota opera em média cinco máquinas. Mais 
Sociologia aplicada
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tarde, formam-se equipes de oito que operam uma 
“ilha” de máquinas e ainda controlam a qualidade, 
fazem serviços simples de manutenção, limpam o 
maquinário. A “porosidade” cai a quase zero. É o 
trabalho “by stress” (sob tensão).
Resultado: já houve no Japão mais do que 1.500 
casos de karoshi (de karo, traballho estafante, e shi, 
morte), a morte súbita por estafa (ANTUNES, 2003).
Assim, nesta aula, buscamos compreender as 
transformações geradas no mundo do trabalho 
que se iniciam nos países centrais a partir dos anos 
1970, momento em que se iniciam uma série de 
transformações no mundo do trabalho que irão 
desencadear uma série de revoluções em todos os 
campos, primeiramente nos países centrais e a partir 
da década de 1990 também nos países periféricos.
Oportuno relembrar que o cenário gerado pela 
liberalização de fluxos financeiros a partir da globalização 
e da internacionalização do capital permitiu a ampliação 
dos investimentos por todo o mundo e produziu uma 
alteração drástica em todo o quadro da economia 
mundial com a dinamização dos mercados, ampliação 
da produção e da prestação de serviços.
Tal situação gerou a possibilidade de 
multiplicar filiais de suas empresas nos mais 
diversos pontos do planeta.
Esta situação também acabou gerando uma 
separação entre as práticas financeiras propriamente 
ditas e os empreendimentos econômicos. Induziu 
à especulação com moedas e títulos de diferentes 
naturezas. Na esfera ampla dos mercados 
globalizados, ela se tornou um atrativo irresistível 
para os agentes financeiros.
http://www.espacoacademico.com.br
Vale a pena
Vale a pena acessar
DOCUMENTÁRIO: A CORPORAÇÃO:
O documentário situa as corporações 150 anos 
atrás. Examina a natureza, a evolução, o impacto... e 
Vale a pena assistir
possível futuro da corporação moderna.
Submetidas a um rígido controle legal, no 
início a grande corporação era uma instituição 
insignificante. Hoje, ela é onipresente. Como a igreja, 
a monarquia, o partido comunista antigamente... a 
corporação hoje é dominante.
O que permitiu à corporação atual obter tal 
poder de dominação sobre nós?
Hoje, os escândalos abrem um debate sobre... a 
falta de controle público sobre as grandes corporações.
“Com Mérito”
O filme tem como ator principal Monty, um 
aplicado estudante, está prestes a se formar em 
Harward. Depois de descobrir que seu trabalho de 
conclusão de curso foi apagado de seu computador 
e que tem apenas uma cópia impressa, sai 
desesperadamente para tirar mais cópias. Ele perde 
essa única cópia no caminho, que cai no porão de 
um prédio, e ali depara-se com um mendigo, Simon, 
um desabrigado que vive no porão da biblioteca e 
que está quase a fazer uma fogueira com as páginas 
do trabalho. Percebendo que Monty fará qualquer 
coisa para recuperá-lo, Simon lhe faz uma proposta: 
a cada pedido que ele fizer, seja roupas, comida ou 
cobertores, devolverá uma folha do trabalho. E, 
com o passar do tempo, nasce uma grande amizade 
entre os dois e também com os colegas de república.
O Adão e a Eva da 
ordem neoliberal.
Essa situação de 
polarização forçou uma 
corrida armamentista 
e tecnológica entre os 
mundos capitalista e 
comunista e no limite 
levou ao esgotamento 
do bloco soviético, 
cuja rigidez centralista, 
acentuada pela corrupção 
crescente e pela 
intolerância repressiva da máquina partidária, acabaria 
por tornar seus quadros dirigentes imensamente 
impopulares. Esse declínio dos regimes comunistas se 
deu em paralelo à ascensão de dois líderes que avocaram 
para si os méritos da “vitória do capitalismo.” Os 
novos personagens foram o presidente Ronald Reagan, 
dos Estados Unidos, e a primeira-ministra Margaret 
Thatcher, da Grã-Bretanha.
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Thatcher em especial se tornaria a madrinha 
do novo contexto político. Decretando a falência 
da ideia de socialismo, ela pronunciou o que se 
tornaria a fórmula básica do novo credo neoliberal: 
“Não há e nem nunca houve essa coisa chamada sociedade, 
o que há e sempre haverá são indivíduos.” Fórmula que 
ela completou com um princípio lapidar, de fundo 
moral, para abençoar o espírito da concorrênciaagressiva: “a ganância é um bem” (“greed is good”). 
O fato é que, na sua oportuna aliança com Ronald 
Reagan, ao longo dos anos 1980, ambos efetuaram 
uma mudança drástica do discurso conservador, 
invertendo os termos do debate político.
Até então as posições radicais monopolizavam 
a simbologia da emancipação e da justiça social, 
apostando todas as cartas nos princípios da esperança 
e da solidariedade, num mundo coeso por impulsos de 
liberdade, igualdade e fraternidade. Aos conservadores 
restava tachar essa atitude de ilusória, de lunática, de 
chamariz para a implantação da tirania totalitária. A 
operação ideológica construída pelo anexo Reagan-
Thatcher mudou completamente a configuração do 
debate político. Sua maior proeza foi metamorfosear 
os termos da sua aliança num amalgama cultural de 
alcance místico. Fortemente apoiados em tradições 
puritanas exclusivas e autocentradas da cultura anglo-
saxônica deslocaram seus conteúdos doutrinários da 
esfera religiosa para a política.
O resultado foi o deslizamento, para o próprio 
sistema capitalista, do conceito de destino manifesto, 
tão latente nos lideres históricos ingleses e americanos, 
como Oliver Cromwell, George Washington e Thomas 
Jefferson – da idéia de uma missão de liderança 
civilizadora atribuída pela Providência aos povos anglo-
saxões. Diante da obsolescência e do esfarelamento 
do mundo soviético, acentuado pelo apoio maciço 
dado pelas potências capitalistas aos rebeldes afegãos, 
diante da hegemonia incontestável da língua e da 
cultura anglo-americana, das redes de informações e 
comunicação unificando o planeta e da cristalização 
de um estilo de vida centrado na publicidade,nos 
apelos hedonistas e na euforia do consume, ninguém 
poderia negar a preponderância do modelo saxônico. 
A queda do muro de Berlim só confirmou o que todos 
já pressentiam àquela altura. Foi quando se declarou o 
“fim da história” e surgiu a idéia de batizar o século XX 
como o “século americano” 
Mas havia muito mais em curso do que apenas o 
delírio de Reagan e Thatcher de encarnarem o Adão 
e a Eva de um novo mundo em versão Wasp. De 
fato, uma nova era estava surgindo. Tomando como 
base o ano de 1975, quando os circuitos integrados 
alcançaram o pico de 12 mil componentes, a 
Revolução Microeletrônica assumiu uma aceleração 
explosiva. Segundo a Lei de Moore, a tendência era 
que esse número duplicasse a cada dezoito meses. 
Ou seja, atingindo um limiar máximo de densidade 
para um circuito integrado, esse equipamento era 
então utilizado para produzir circuitos mais densos 
ainda, numa cadeia de transformações cumulativas 
que se alimentam umas às outras. Segundo outra 
lei clássica de engenharia, cada decuplicação da 
capacidade de um sistema constitui uma mudança 
qualitativa de impacto revolucionário. O que 
significa que desde 75 passamos por algo como dez 
revoluções tecnológicas sucessivas no espaço de 
duas décadas e meia. Uma escala de mudança jamais 
vista na história da humanidade.
Foi esse contexto fortuito que proporcionou os 
meios para que Reagan-Thatcher consolidassem a 
agenda conservadora, retraindo a ação do Estado 
em favor das grandes corporações e do livre fluxo 
de capitais, abalando os sindicatos, disseminando 
o desemprego, rebaixando a massa salarial e 
concentrando a renda. Foi a grande epidemia 
mundial das privatizações, das reengenharias, das 
flexibilizações e das megafusões entre grandes 
empresas. Apoiada na dramática mudança 
tecnológica, essa onda foi tão poderosa que acabou 
forçando a alteração do discurso das oposições.
Surfando a onda surgiu o jovem líder trabalhista 
Tony Blair, que derrotou os conservadores 
brandindo um programa resumido em três palavras: 
“educação, educação, educação.” Era uma proposta 
clara que tocava a todos. A nova realidade só 
oferece oportunidades para o trabalho qualificado; 
portanto, o melhor meio de favorecer a promoção 
social deve ser necessariamente a educação. 
Ademais, na vertiginosa corrida tecnológica que 
sucedeu à Guerra Fria, somente sociedades que 
tiverem autonomia tecnológica poderão garantir sua 
soberania. Logo, a educação, ciência e tecnologia 
são as três chaves da nova era.
Entretanto, o veneno da maçã proibida já havia se 
infiltrado nas veias dos novos lideres. A idéia não era 
mais garantir um bom emprego para todos, conforme 
a tradição socialista, mas disseminar o espírito da 
concorrência agressiva por intermédio de uma nova 
agenda educacional, de modo que, num mercado cada 
vez mais concentrado, somente os mais aguerridos, 
Sociologia aplicada
96
os mais individualistas e os mais expedientes 
prevalecessem, em detrimento dos desfavorecidos em 
todos os quadrantes do planeta. E aqui se insere o 
conceito ampliado de destino manifesto, traduzido no 
novo dogma chamado “eficiência.”
Eficiência, excelência ou eficácia são princípios 
altamente positivos e desejáveis, desde que não se 
transformem em panacéias, em fins definidos por 
si mesmos ou por escalas quantitativas, indiferentes 
aos contextos em que são aplicados, às pessoas e 
aos recursos envolvidos ou a critérios quantitativos 
que mantenham compromissos com valores éticos, 
sociais ou ambientais. Mas foi assim, com esse 
sentido equívoco, que eles acabaram se tornando 
as principais bandeiras em torno das quais se 
aglutinaram tanto os grupos políticos conservadores 
como muitos daqueles que pretendiam representar 
os valores radicais, na linha do liberalismo 
democrático do trabalhismo, da social-democracia 
ou do socialismo. Engolfados pelas vicissitudes da 
rápida globalização, que lhes diminui os poderes de 
controle e de ação, esses grupos passaram a negociar 
com as novas forças do mercado, tentando garantir 
para si menos algum poder de barganha.
Essa situação inusitada congelou o debate 
político em função de um consenso conformista, 
denominado por seus críticos “o pensamento 
único.” O foco da pratica política mudou 
substancialmente. Até então suas metas principais 
eram a consolidação e o aperfeiçoamento do Estado 
de bem-estar social, a formulação de políticas 
fiscais de taxação progressiva com vistas á melhor 
distribuição das rendas, definição e regulamento das 
garantias de emprego, saúde, educação, moradia e 
seguro social, fiscalização da formação de trustes 
e cartéis e controle de setores-chave da economia, 
de forma a estimular o crescimento econômico e 
desonerar os serviços essenciais aos setores mais 
carentes da população. O pressuposto, muito óbvio, 
desse conjunto de ações era o de que o vigor de uma 
sociedade democrática e inversamente proporcional 
aos seus níveis de desigualdade social.
Com o advento do “pensamento único” ou das 
chamadas políticos neoliberais, passou a prevalecer, 
ao contrario, a idéia de que os Estados abandonassem 
a cena, abrindo suas fronteiras ao livre jogo das 
forças do mercado e das finanças internacionais, 
desregulamentassem quaisquer mecanismos de 
proteção à economia nacional ou às garantias dos 
trabalhadores e submergissem junto com toda a 
sociedade sob uma liberalização geral, em beneficio 
da atuação mais desinibida das grandes corporações. 
Os argumentos em favor desse rearranjo enfatizam 
o que é caracterizado como seus aspectos positivos: 
a difusão das idéias e informações, a atualização e 
transferência das tecnologias, o rebaixamento dos 
custos das mercadorias e a ampliação das opções 
para os consumidores.
Fonte: SEVCENKO, Nicolau. A corrida para o século XXI: no loop da 
montanha-russa. São Paulo : Companhia das Letras, 2001 p. 41-45.
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