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Aula 3 Fundamentos Socioantropológicos da Educação

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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO 
AULA 3
FUNDAMENTOS SOCIOANTROPOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO
DEFINIÇÃO
Apresentação de linhas de Ciências Sociais aplicadas à Educação por intermédio do professor, com o uso do conhecimento sociológico e antropológico em seu cotidiano.
PROPÓSITO
Oferecer instrumentos teóricos, por meio da Antropologia e da Sociologia, que permitam a reflexão sobre Educação, práticas docentes e cotidiano escolar.
INTRODUÇÃO
Quem é você? Como funciona sua sociedade?
Quais são as regras dos ambientes em que você convive?
Em um antigo comercial, o exercício do conhecimento era definido como: “não são as respostas que movem o mundo. São as perguntas”. Essa provocação vai guiar nosso estudo.
Quando convivemos, podemos vivenciar o espaço social de forma recorrente, mas tendemos a não pensar sobre ele. Geralmente, não refletimos sobre como foram definidas suas regras e como alguns comportamentos passaram a ser naturalizados ou negados. Ao estudar sobre as sociedades, somos provocados a perceber que todo o palco de relações humanas é composto por construções sociais. (Construção social. Compreendida como a ideia de que uma composição social não é algo natural, mas organizada, pensada, “criada” no limite pelo conjunto das interações humanas).
Neste tema, analisaremos como o conhecimento sobre as Ciências Sociais pode ser fundamental para compreender o que representa a Escola, sua relação com a Educação e a dinâmica de como o professor, ao se instrumentalizar com conceitos desse campo, torna-se mais bem preparado para a atuação docente.
MÓDULO 1
Identificar as principais linhas sociológicas aplicadas à Educação
Dividimos a construção deste módulo em duas partes: conheceremos a história e depois apresentaremos os principais conceitos da Sociologia, sempre relacionando-os com a Educação. Vamos lá!
SOCIOLOGIA: O CONTEXTO HISTÓRICO DO NASCIMENTO DA NOVA CIÊNCIA
A Sociologia é uma ciência relativamente nova – do século XIX – e surgiu em um contexto de intensas transformações na sociedade. Para conhecermos as origens da Sociologia, é necessário considerarmos alguns fatores históricos que desencadearam a construção dessa nova proposta científica de análise e compreensão da sociedade.
1. Renascimento
Séculos XV a XVI
Movimento intelectual que propunha romper com as tradições intelectuais medievais, retomando ideias do mundo grego.
2. Mercantilismo
Séculos XVI a XVIII
Estrutura econômica que fortalecia o papel dos governos na economia, provocando acúmulo de capital.
3. Iluminismo
Séculos XVII a XIX
Movimento filosófico que se propunha a questões sobre o funcionamento social, debates abordando formas políticas, sociais e econômicas.
4. Revolução Francesa
Séculos XVIII a XIX
Marco de ruptura burguesa assumindo o poder. Tem reflexos nas independências das Américas e na mudança de sistemas políticos e econômicos por toda a Europa, consolidando o pensamento iluminista como símbolo de um novo mundo.
Cada um desses movimentos faz parte do processo de construção e reconstrução do olhar do homem sobre si mesmo e sobre o mundo que o cerca.
O Renascimento marcou a entrada da Europa, até então medieval, na Idade Moderna, com o resgate de referências da Antiguidade Clássica em diversas esferas da cultura e da sociedade: Artes, Ciência e Filosofia.
A partir dessa revalorização dos elementos da Antiguidade Clássica, o período renascentista foi responsável pela valorização do conhecimento humano advindo da razão e consequente separação dos dogmas religiosos.
O Mercantilismo trouxe mudanças nas relações econômicas e comerciais não apenas na Europa como em todo o mundo. Essa prática representou rápido desenvolvimento econômico para o continente europeu. A partir da Expansão Marítima, o poder econômico e comercial do continente se intensificou com a exploração de territórios, povos, rotas comerciais.
O Iluminismo, período entre o final do século XVII e início do século XVIII, foi marcado pelos esforços do homem em analisar a sociedade em que vive sob um novo viés: o científico. Vieram à tona os avanços e comprometimentos do homem em relação ao estudo de seus modos de vida a partir da Ciência, da pesquisa e do debate – iniciados no Renascimento. (Iluminismo. Seus pensadores, filósofos e economistas se entendiam como propagadores da luz justamente pelo compromisso com o conhecimento e sua difusão – daí vem o termo Iluminismo.)
A partir do Iluminismo, ocorreu a principal mudança de perspectiva sobre o homem e seu papel na sociedade: a propagação do ideal de igualdade entre os homens.
O Iluminismo foi um movimento cultural que surgiu, principalmente, na Inglaterra, Holanda e França e que pode ser definido pela defesa de que o pensamento racional deveria substituir o misticismo e os dogmas da Igreja.
Os novos moldes de pensamento sobre a vida e a sociedade revelavam os anseios da burguesia crescente e a tendência de rompimento com as estruturas do Antigo Regime. Muitas ideias que surgiram nesse período fazem parte das bases que utilizamos atualmente para pensar sobre o mundo ao nosso redor.
A partir desses elementos, podemos afirmar que o movimento defendia:
· Antropocentrismo: o homem era o centro do universo
· Valorização da investigação e do questionamento como formas de construção do conhecimento em todas as áreas – natureza, política, sociedade e economia
· Crença nos direitos
· Liberdade econômica
· Predomínio da classe burguesa
A Revolução Francesa tem destaque quando nos propomos a analisar o contexto histórico do surgimento da Sociologia. A Revolução, que derrubou o Antigo Regime, possuía como base a rejeição ao modelo de governo da monarquia e sua manutenção de poder justificado pela vontade divina. Assim, os ideais defendidos pelos revolucionários estavam alinhados com as novas propostas de pensar o mundo e a sociedade.
Nesse contexto, surgiu a Sociologia, apesar de ainda não ser compreendida como ciência. Nasceu com Auguste Comte e o Positivismo, buscando uma forma de enxergar a sociedade que ajudasse a trazer estabilidade nos campos da política, da economia e da sociedade.
 (Positivismo. Sistema filosófico elaborado por Comte, baseado na ideia de que a cultura e a sociedade passam por três estados: o teológico, o metafísico e o positivo.Para Comte, a maturidade e as ciências surgem no terceiro estágio. A etapa positiva corresponde, então, às ciências positivas, que deveriam ser a base ou os princípios da organização científica da sociedade. No positivismo, há uma valorização da experiência sensível (os fatos “positivos”) como principal fonte do conhecimento.)
Qual o sentido dessa história?
Essa perspectiva histórica levará você a perceber que as sociedades humanas se tornaram cada vez mais complexas e, na transição do século XIX para o XX, isso estava muito claro.
Grandes intelectuais se debruçavam sobre as relações sociais, sobre o seu sentido, como os indivíduos se relacionavam. Esse campo, dentro da nova perspectiva de Ciência (afinal, o século XIX é o século da Ciência), fazia com que os relatos sobre outras sociedades servissem de comparativos e, da comparação, emergiam as concepções universais, com perspectivas globais que explicariam desde o domínio europeu até o estudo sobre como as dominações eram validadas.
Sempre foi difícil defender a Sociologia como uma ciência, pela ausência de um resultado de pesquisas desenvolvidas de maneira direta. No entanto, seus pensadores defendiam que o vasto campo de história e a análise de sua perspectiva seriam mais do que suficientes para alcançar tais resultados.
Ao longo do século XIX, foram fundadas as bases do pensamento sociológico. Ainda que profundamente alterado, discutido e com autores importantes, todos, de algum modo, são reconhecidos como tributários de três importantes pensadores: Emile Durkheim, Karl Marx e Max Weber. Tendo posições antagônicas, não sendo contemporâneos em sua produção, os três são entendidos como pedras angulares para conhecer, desenvolver e entender o pensamento sociológico.
Sobre cada um desses autores, no entanto, há rios de tinta de análisede suas ideias. Há muito mais material do que nossa abordagem ou qualquer outra poderia, de uma única vez, alcançar. Assim, a partir de agora, você conhecerá os fundamentos básicos de seu pensamento e, especialmente, como influenciam esse campo comumente chamado de Sociologia da Educação.
SOCIOLOGIA E EDUCAÇÃO
Sociologia e Educação se entrelaçam como forma de analisar, compreender e debater os processos sociais no campo do ensino e da aprendizagem. Essa vertente, a Sociologia da Educação, tem interesse tanto pelo aspecto institucional e organizacional da Educação como pelas relações sociais entre os indivíduos envolvidos nesse processo. (Aspecto institucional e organizacional da Educação. Determinado pelas bases que norteiam a ideia de Educação de uma sociedade).
A Sociologia da Educação parte do princípio de que a Educação se desenvolve em uma sociedade que também é resultante da Educação.
A partir de diversas linhas teóricas, ela debate sobre aspectos que envolvem cultura, sociedade, Educação e processos de aprendizagem – as realidades socioeducacionais.
Sociologia da Educação é um campo específico transdisciplinar. Dialoga com a Sociologia, a Pedagogia e a Educação. Seu fim é perceber que a Escola deve ser entendida como um fenômeno social.
A construção contemporânea da Escola – urbana, a Escola popular que surge após a consolidação do capitalismo – só pode ser compreendida se for associada às demandas que a criam, ou melhor, que a inventam. A Escola é apresentada a partir da segunda metade do século XIX e, principalmente, ao longo do século XX, como mecanismo fundamental para difusão da Educação.
De que Educação estamos falando?
Depende de quem fomentou a criação dessas Escolas, dos planos estabelecidos, das propostas que a cercam. Uma Escola não é um ato de amor! Escola é uma instituição social que dialoga com interesses, e as pessoas que a frequentam são sujeitos que possuem interesses, normas e cultura.
Perdendo o lirismo idealizado que temos sobre a Escola como uma instituição de natureza positiva, devemos vê-la como uma parte do complexo social em que vivemos. Temos um desafio: estudar como essas dinâmicas podem ser estabelecidas. O caminho será o mesmo que todos os grandes nomes da Sociologia propuseram: conhecer Durkheim, Marx e Weber e, depois, voltar a olhar para essa Escola.
ÉMILE DURKHEIM
Émile Durkheim (1858-1917), sociólogo e psicólogo francês, é considerado o criador da Sociologia como ciência e pai da Sociologia da Educação. O primeiro sociólogo recebeu esse título por ter sido o primeiro a elaborar um método bem estruturado que consolidou a Sociologia como ciência.
Durkheim afirmava que as ideias de Auguste Comte se aproximavam mais de abstrações filosóficas do que de uma estrutura científica.
Ele construiu um método baseado no conceito de fato social, que representa as maneiras de agir dos indivíduos dentro de determinado grupo social e da humanidade em geral. Tais maneiras de agir revelam a existência de uma consciência coletiva.
Para Durkheim, os indivíduos não importam em sua ação, em si. O sentido do ser humano é viver socialmente e se constituir por essa relação.
Todos nós vivemos sob um sistema de coerção efetivo, e essa coerção não é vista como um problema, mas como “fato social”, uma forma dos indivíduos conseguirem conviver coletivamente. A busca social seria a do equilíbrio, e tudo o que gera desequilíbrio é entendido como “desvio”. Desviantes têm perfeita noção de que são desviantes e que serão punidos por isso, o que faz parte do sistema e da busca do equilíbrio social.
Para entendermos o papel de Durkheim na Sociologia da Educação, podemos partir de uma das ideias mais marcantes do sociólogo: em cada aluno haveria dois seres igualmente distintos e inseparáveis; um deles seria o individual. Esse conceito representou grande mudança na análise sobre a Educação, os alunos e o processo de aprendizagem, pois apresentou outro lado dos alunos, formado por um sistema de ideias, no qual é possível observar elementos da sociedade da qual fazem parte.
Para Durkheim (1978), "a Educação é uma socialização da jovem geração pela geração adulta", que deveria seguir em forma de um processo eficiente, buscando o melhor desenvolvimento possível da comunidade na qual a Escola estivesse inserida.
Essa concepção durkheimiana, também conhecida como funcionalista, entende que as consciências individuais são formadas pela sociedade. Por meio dessa teoria, o autor considera a Educação com um bem social, trazendo, pela primeira vez, a discussão das relações entre normas sociais e cultura local.
A construção do ser social, feita em boa parte pela Educação, é a assimilação pelo indivíduo de uma série de normas e princípios – morais, religiosos, éticos ou de comportamento – que baliza a conduta do indivíduo em um grupo. O ser humano, mais do que formador da sociedade, é um produto dela.
A Educação para Durkheim tinha um papel de garantir que a sociedade humana não se perdesse em uma tábula rasa, ou seja, o homem não traz elementos definidos de antes do nascimento; todas as relações e construções vêm da relação com o mundo e cada indivíduo preenche a sua tábula ao longo da vida, sendo a garantia da continuidade dos valores morais, religiosos, políticos e científicos de uma sociedade. (Tábula rasa. Expressão derivada do latim, significa folha de papel em branco, usada por inúmeros filósofos ao longo da história como metáfora para categorizar as pessoas que não têm conhecimento).
A função de todos que optam por atuar na Escola é garantir a compreensão desses fatores, o que avaliza o processo social.
Durkheim e sua teoria recebiam a denominação de funcionalista até por conta da percepção de uma sociedade que funciona como um relógio. Para que efetivamente haja precisão, é necessário que cada um entenda e reproduza plenamente seu papel social. Dinâmicas de ruptura, de quebra dos processos, mesmo que em busca de uma ascensão social, deveriam se reprimidas.
Mas o que isso tudo quer dizer?
Para Durkheim, a sociedade era perfeita e o papel da Educação era manter essa sociedade perfeita?
Era uma proposta que defendia os poderosos e queria garantir que os mais pobres aceitassem sua condição?
A Resposta é: não!
Durkheim tomava como base de sua análise o funcionamento dinâmico do presente. Sociedades humanas tendem à conservação e, na busca de se conservarem, criam sistemas que garantem essa preservação. Para o autor, o desvio, o desviante, a desestruturação sempre acontecerão, o que é considerado um problema e, diante disso, a vontade coletiva busca reestabelecer seu equilíbrio.
A Educação é um esforço dessa manutenção, de que a sociedade permaneça equilibrada.
Durkheim nos ajuda a entender preceitos sociais muito presentes. Os valores de conservação, da Escola como um ambiente de continuidade, que prepara o indivíduo para estar perfeitamente adaptado a se integrar no tecido social, não é algo que ficou no passado e foi superado. É um preceito cotidiano, mas que claramente gera desafios, como lidar com o outro, qual o papel da Escola, qual o papel do professor.
“A ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida social; tem por objeto suscitar e desenvolver, na criança, certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política no seu conjunto e pelo meio especial a que a criança, particularmente, destine-se.” DURKHEIM, 1978
O pensamento do autor nos ajuda a entender, discutir e discordar sobre o funcionamento social.
KARL MARX
Se a busca de Durkheim era entender o presente e a dinâmica social, a de Marx era observar como a história poderia nos ajudar a compreender a dinâmica de transformações da sociedade. Se o primeiro buscava compreender os mecanismos do equilíbrio social, Marx, em uma posição antagônica, propunha compreender como o equilíbrio representava a vitória da dominação de um grupo.
A única maneira de modificação e transformação social passava pela ruptura das estruturas de dominação!
Nãoé difícil notar como os autores perceberam de forma diversa o conhecimento sobre a dinâmica social, mas isso não diminui a importância de um e ou de outro. Marx é um autor que, analisando os efeitos da consolidação do capital e politicamente incomodado com a questão, propôs uma Sociologia engajada, um olhar sobre essa dinâmica, a percepção de suas formas de dominação e como vencer esse processo.
Observa-se a inovação de Karl Marx em relação às ciências humanas como eram vistas até então. Ele propunha o entendimento de uma Sociologia que notasse que a história e as sociedades eram feitas por pessoas e que disputas e ordenamentos abririam importantes perspectivas sobre a noção de progresso.
Com Marx, temos a criação do materialismo histórico, que trazia um conceito novo para a interpretação dos acontecimentos sociais, pois chamava fatores técnicos e econômicos para a leitura e compreensão da história.
O idealismo dialético de Hegel foi lido, criticado e transformado no materialismo dialético.
Marx partia da premissa de que toda a história humana é baseada na existência de indivíduos humanos e vivos, e essa premissa é fundamental para compreender a relação existente entre o homem e a natureza.
Para Marx, a partir dessa percepção pode-se distinguir o homem da natureza, pois torna possível perceber que o ser humano apresenta uma concepção de religião e, mais importante, a noção da necessidade de produção do seu meio de subsistência, ou seja, de sua vida material.
É este o fundamento da crítica irreligiosa: o homem faz a religião, a religião não faz o homem.
A religião é a autoconsciência e o sentimento de si do homem, que ainda não se encontrou ou voltou a se perder. Mas, o homem não é um ser abstrato, apartado do mundo. O homem é o mundo do homem, o Estado, a sociedade. A Filosofia do Direito de Hegel é criticada e rediscutida por Marx, que formulava sua visão de mundo a partir de um sistema dialético e materialista. Com proposições como essa, Marx vê a Escola de maneira diferente que Durkheim:
(Dialética. É a ideia de conceber a realidade como um devir, o qual se daria a partir da existência de contradições, ou seja, esse conceito está diretamente ligado à concepção de transformação).
(Materialismo. A Sociologia não deve ser pensada como um campo possível de pensamento, ele é material, estrutura-se nas demandas e disputas presentes no cotidiano).
: A Escola pode ser um importante campo de dominação, de reprodução dos interesses de determinados grupos.
Para Marx, o motor da História é a luta de classes. Toda sociedade é composta por grupos que dominam os meios de produção – terras, estoque, capital –, que são as formas de garantir a subsistência, de se inserir nas dinâmicas econômicas dentro de determinada sociedade.
Quem domina os meios de produção domina a sociedade. Mas, o que impede que os dominados, normalmente mais numerosos, lutem e tomem para si os meios de produção? É o estudo desses mecanismos que passam à ordem do dia do autor.
Junto com o inglês Engels, um autor mais prático, mas que auxilia na difusão das ideias marxistas, Marx entende que as sociedades são divididas em classes sociais, nas quais existem as classes dominantes e as classes oprimidas. As ideias das classes dominantes são, para ele, em todas as épocas, as ideias dominantes.
A classe que controla os meios de produção e a força material dominante também é a que controla a força dominante intelectual. E os indivíduos que possuem essa dominação têm a consciência disso.
O que modifica a história é a luta dos dominados contra os dominantes, travada não no campo físico, mas no intelectual, permitindo que, por meio da alienação imposta, os dominados naturalizem a dominação e se sintam incapazes de se levantar contra seus dominantes. (Alienação. Conceito de Marx exposto em muitos materiais e mais famoso pela forma clara que é apresentado no chamado Manifesto Comunista. No limite, quem controla os meios de produção aliena um conjunto de bens, que é social, do coletivo. Essa tomada dos bens – político, culturais e principalmente econômicos – é o motivo legitimador dos dominantes).
Para Marx, historicamente, a construção de discursos carismáticos, os treinamentos, as formas de ensinamento sempre atuaram nesse sentido. No entanto, a Escola burguesa sofisticou esse processo. Para legitimar a ascensão da burguesia e o seu direito aos meios de produção, passou a ser defendida e consolidada uma estrutura escolar que tinha a finalidade de, entre outras, manter o quadro de alienação da classe proletária e sua fragilidade diante dos dominantes. A crítica nos parece clara no trecho de Trabalho Assalariado e Capital, de 1847.
“Outra proposta muita apreciada pelos burgueses é a da “instrução”, mais especialmente do “ensino industrial” geral. Nós não chamaremos a atenção para a contradição absurda que reside no fato de que a indústria moderna substitui cada vez mais o trabalho complexo pelo trabalho simples. (...) O real sentido da instrução para os economistas filantropos é o seguinte: ensinar a cada operário o maior número possível de ramos industriais de tal modo que, se ele for expulso de um ramo pela introdução de uma nova máquina ou por uma modificação na divisão de trabalho, possa se empregar em outro lugar o mais facilmente possível. ” MARX apud NOGUEIRA, 1990
Na Sociologia de Marx, a Educação é algo negativo?
Não é bem assim!
Marx afirma que uma das estratégias burguesas foi a separação definitiva entre capital e trabalho, fazendo com que a força trabalhadora perdesse a noção sobre o quanto vale sua força produtiva. Esse seria um dos preceitos da alienação. Assim, os educadores que tivessem o interesse em transformar efetivamente a sua sociedade teriam uma função social vital: combater a alienação e a desumanização por meio do aprendizado de competências que permitissem a compreensão tanto do mundo físico como do social.
Direta e indiretamente, a obra de Marx serviu como base para diversas linhas pedagógicas voltadas para a mudança da sociedade. Autores que seguiam o marxismo debateram como a Educação é parte integrante do processo de transformação das condições sociais ao mesmo tempo em que é controlada por ele.
MAX WEBER
Chegamos ao terceiro autor considerado pilar da Sociologia: Max Weber (1864-1920). Sociólogo, jurista e intelectual alemão, Weber apresentou ideias muito valiosas para o debate metodológico de diversas áreas das ciências sociais, pois, enquanto a abordagem de Durkheim valorizava a coerção social e o coletivo sobre o indivíduo, Weber aponta para a valorização da escolha do indivíduo. Ele é o agente, que medeia seus interesses, atende e se permite estar submetido a regras, assim como opta, por interesse como indivíduo, pelo rompimento de regras. Assim, segundo Weber, determinados pontos e conflitos internos são possíveis e adequados à estrutura social, inclusive à realidade educacional.
Em relação a Marx, a História tem mais uma vez papel vital, não seria racional em si mesma, mas o historiador seria capaz de racionalizá-la parcialmente. Quer dizer, não existe um modelo de transformação ou conservação social, mas os indivíduos se espelham em modelos, interpretativos, constantemente reproduzidos e que permitem ser observados e interpretados.
Até aqui está tranquilo? Não? Então vamos lá!
Enquanto Durkheim e Marx tentam compreender a mecânica do funcionamento social, Weber afirma que o que temos é uma interpretação: observar a história é construir modelos inexistentes, e que não precisam existir, mas que dali é possível notar padrões e como cada conjunto social assume características próprias oriundas desses padrões.
Resumindo
Imagine alguém que pregue uma mensagem em uma sociedade:
· Para Durkheim, se sua voz tiver consonância social, ele terá um papel;
· Para Marx, sua voz visa legitimar um grupo ou se opor a ele;
· Weber analisaria o seu papel, cruzando os modelos de pregadores com o comportamento desse indivíduo específico.
Ele propõe que pregadores em diversassociedades sejam tratados como sujeitos estranhos, com hábitos excêntricos que se afastam da média das pessoas. Esse é o modelo, vamos ver como ele, por comparação, ajuda a entender o pregador específico dessa sociedade, o que ele fala, para quem fala, no que se afasta ou se aproxima do modelo. Essa é a operação sociológica.
Weber sugere a construção de um modelo teórico que, como tal, tem a função de oferecer um formato ideal que, porém, é inexistente na prática. Pode-se compreender isso ao se pensar em um manequim de uma loja. Ele é um modelo, aquele corpo não existe, constituindo apenas uma aproximação genérica, idealizada; o que os clientes fazem é traçar comparações para decidirem se querem experimentar a roupa ou não.
As ações, para Weber, partem do indivíduo e podem ser organizadas por suas motivações. Segundo Weber, podemos dividi-las em:
AÇÃO RACIONAL
Você observa e vê que no fim daquilo obterá ganhos. Exemplo: Vou colocar meu filho na melhor escola que puder, pois, assim, ele terá mais possibilidades de ter boas condições financeiras no futuro.
AÇÃO EM FUNÇÃO DE VALORES
Questão de ordem, de valor, orienta-se pelos valores familiares ou pelo modo como os incorporamos à nossa hierarquia de valores. Exemplo: Vou matricular meu filho em uma escola confessional (religiosa), assim ele fica afastado de professores que possam tentar desvirtuá-lo.
AÇÃO TRADICIONAL
Relacionada aos atos rotineiros, entendidos como comuns em uma sociedade, praticados por recorrência. Exemplo: Criança pergunta à mãe por que precisa usar um tênis todo preto para uniforme da escola; na aula sobre futebol, os meninos separam os times, e, se alguma menina quiser jogar, tem que avisar.
AÇÃO AFETIVA
Relacionada a impulsos do indivíduo, lógicas construídas por ele a partir de sua observação e sentimentos. Exemplo: Aluno invade escola e atira nos colegas, motivado por alguma vingança.
Weber entende a Educação como o meio pelo qual os indivíduos se preparam para o exercício de funções determinadas pelas transformações provenientes da racionalização de suas vidas. Assim, o modelo de Educação possui três finalidades básicas:
Despertar o carisma - Encontrar os dons, despertar o gosto pelo aprender e ser capaz de levar isso à sociedade.
Preparar o aluno para a vida - É a pedagogia do cultivo, que consiste em uma forma de ensino que visa a formação de sujeitos cultos.
Ensino de conhecimentos especializados - É a pedagogia do treinamento, em que a aprendizagem é voltada ao preparo do indivíduo, objetivando sua função no campo do trabalho.
STATUS
Neste ponto, chegamos ao último conceito weberiano que abordaremos. Para Weber, status (prestígio social) é um componente vital para os posicionamentos sociais. Desse modo, na busca por prestígio social, o que é fomentado na Educação acaba por dar base para o posicionamento na estratificação social. 
Na obra sociológica de Max Weber, a Educação é vista como instrumento de poder de grupos de status. Serve como um componente desse processo e não pertence necessariamente ao domínio da competência, mas à materialização de posições sociais. Diplomas e certificações acabam por agregar prestígio aos grupos sociais que disputam poder.
“[...] clamor universal pela criação dos certificados educacionais em todos os campos levam à formação de uma camada privilegiada nos escritórios e repartições. Esses certificados apoiam as pretensões de seus portadores, de intermatrimônios com famílias notáveis (...), as pretensões de serem admitidas em círculos que seguem “códigos de honra”, pretensões de remuneração “respeitável” ao invés da remuneração pelo trabalho realizado, pretensões de progresso garantido e pensões na velhice e, acima de tudo, pretensões de monopolizar cargos social e economicamente vantajosos. ” WEBER, 1982. 
Na sociedade do capital, existe a materialização do diploma universitário, das escolas de formação, dos cursos que ofertam notoriedade somente por possuírem aquele documento.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A partir do estudo das proposições de Emile Durkheim em relação à Sociologia, analise as seguintes afirmativas:
I. A Educação é um componente de garantia da reprodução social.
II. O fato social é um conceito que atribui a coerção social a um anseio coletivo.
As afirmativas são:
A - Complementares, uma vez que a Educação é necessariamente um fato social.
B - Dissonantes, uma vez que esses conceitos misturam as proposições de Marx na primeira e Durkheim na segunda.
(*) C - A afirmativa I pode ser entendida como um ponto de convergência da teoria de Durkheim e Marx.
D - A afirmativa II é correta por adotar um conceito de Durkheim e discorda da afirmativa I.
Comentário. Durkheim atribui à Educação um papel fundamental na conservação social. Ela em si não é um fato social, mas nela se manifestam e reafirmam fatos sociais. Apesar da interpretação de Durkheim e Marx serem discordantes em relação ao papel da Educação, ambos a compreendem como um fator de reprodução social. Para Durkheim como fundamental a conservação e, para Marx, como uma estratégia de alienação dos grupos dominantes.
2. A relação entre a Escola e a Educação não é automática. Educação é diferente de Escola, apesar de a Escola ser uma instituição plural e vital para reprodução da Educação. Karl Marx e Max Weber se debruçam sobre a Escola na formação do capitalismo, mostrando como ela passa a ter papel destacado. A afirmativa correta sobre esta questão é:
A - Para Marx, a dissonância entre capital e trabalho promovida pela burguesia é criada pela escola e passa a ser disseminada como algo natural e necessário.
B - Para Weber, a formação do carisma, criado pela sociedade burguesa, foi fundamental para consolidação do capitalismo.
C - Para Marx, a alienação promovida pela escola faz com que esta instituição deva ser combatida como uma das forças legitimadoras do domínio burguês.
(*) D - Para Weber, a valorização do status como componente de valor social assumiu condições singulares nas sociedades por ele estudadas, gerando a intensificação da busca de diplomas e certificações.
Comentário. Para Weber, o crescimento das sociedades estruturais fomentou uma característica modelar: sociedades são hierarquizadas e a busca por esse posicionamento sempre fomentou a disputa por determinados bens e conhecimento, nesse sentido, a Educação tornou-se uma necessidade para a condição de status contemporâneo e acabou por gerar uma movimentação em garantir a regulação e consolidação do papel dos diplomas e certificados.
MÓDULO 2
Relacionar a Escola e alguns conceitos fundamentais da Antropologia
Neste módulo, você perceberá como a Antropologia pode ajudar a identificar a Escola como um lugar muito mais complexo do que a maior parte da sociedade vê quando olha para essa instituição.
BREVE HISTÓRIA DA ANTROPOLOGIA
A Antropologia é a ciência que pensa e estuda o homem dos pontos de vista biológico, social e cultural. As abrangências ou os campos são diversos, mas não serão nosso objeto de estudo neste momento. Queremos destacar sua formulação como campo de saber norteado por um interesse recorrente: a relação com o outro.
O olhar para o outro buscando conhecer, entender ou negar a sua cultura é recorrente em diversas sociedades. Não é acidental que o grego Heródoto fosse chamado de filobárbaro, o amante dos bárbaros, por ter dedicado sua vida a retratar e escrever sobre os povos não gregos. Poderíamos fazer um longo passeio pela história para perceber esse processo de relações entre a construção de culturas singulares que se estruturam na negação de outras culturas, mas vamos a um momento singular: a construção da modernidade e, em especial, o colonialismo e o neocolonialismo.
Ao longo dos séculos XVI e XVII, a Europa consolidou lenta e continuamente o seu domínio no continente americano. Nesse processo, o encontro de civilizações passou a ser parte do ideário europeu. Aqueles homens eram retratados ora como sujeitos angelicais, puros, livres de pecados, ora como selvagens perigosos quecomiam carne humana (antropofagia).
O colonialismo institucionalizou uma nova literatura que teve grande sucesso na Europa, uma etnografia primitiva, contada por aventureiros que pareciam ter voltado de uma galáxia muito distante da nossa visão, de tão fantásticos eram os relatos que eles organizaram. O domínio europeu não cessou, intensificou-se e transformou-se. Nos séculos XVIII e XIX, o advento da formação do capitalismo institucionalizou novas formas de dominação. Primeiro, a Inglaterra expandindo para todos os cantos do mundo, depois Napoleão conduzindo uma nova fase de expansões, as unificações italiana e alemã, que geraram novos disputantes no modelo neocolonialista. 
A Europa domina o mundo, sua cultura está presente em toda parte, como espelho ou negação. A ideia de uma tradição correta, verdadeira, racional e civilizada é posta na mesa e torna-se o padrão.
Mas existiam as outras culturas na visão dos europeus desse período? Outras formas de enxergar, viver e experienciar o mundo?
Claro que sim!
Na Europa, essas outras culturas faziam parte do objeto de pesquisa de intelectuais que viviam em seus gabinetes e escreviam sobre esse mundo. Algumas vezes esses relatos sobre o outro chegavam à Literatura, como em Júlio Verne em A Volta ao Mundo em 80 dias, e chegavam à Arte, com as imagens reais e inventadas feitas por naturalistas.
Mas, no fim, vemos o desenvolvimento de uma prática etnográfica – escrita ou descrição de outra cultura –, com grupos que registravam e detalhavam outras culturas e, novamente, na maioria das vezes, analisando relato de outros, o que foi chamado provocativamente de etnografia de gabinete. O seu sentido – que se apresentava como racional no século XVIII – buscava primeiramente o pitoresco e o estranho em suas observações.
A etnografia tem grande impulso no século XIX com a partilha da África e Ásia, e as disputas neocolonialistas. Os registros serviam para afirmar os ideais de superioridade europeia e a ideia de hierarquização de culturas – positivistas dividiam as sociedades entre civilizadas, bárbaras e selvagens – como forma de legitimar a própria dominação da cultura europeia ocidental.
O capital e as disputas, sendo fortalecidos, criaram uma ordem mundial. As trocas de uma sociedade mundial, ainda que tivessem formas próprias, estavam o tempo todo em comparação com a sociedade europeia. (Ordem mundial, nesse sentido, não é o termo histórico atual dado ao fim da Guerra Fria, mas, em vez disso, designa a ideia da formação de um sistema internacional pautado nas relações capitalistas).
Observe alguns exemplos desse tipo de comparação:
· Quando você lida com uma língua europeia, você a chama de idioma. Já quando a língua é de um grupo local, um traço não europeu, você tende a chamá-la de dialeto.
· As tradições religiosas judaico-cristãs – inclusive as muçulmanas – são tradadas como religiões. Já tradições africanas, americanas e afins costumamos reconhecer como mitologias.
Atenção. É importante ressaltar que esses termos têm finalidades próprias no campo da Antropologia, não são compostos de forma genérica como mostramos aqui, estamos apontando para suas percepções do senso comum e o regime de historicidades dessas ideias.
A chegada ao século XX trouxe uma série de mudanças à etnografia de gabinete. Uma série importante de autores passou a atuar em campo, buscando compreender a lógica da composição dessas culturas. Muitos consideram que a efetiva dinâmica de construção da Antropologia só aqui se estrutura.
Novos conflitos e o reconhecimento de outras tradições pouco a pouco impactaram os campos de pesquisa da Antropologia e houve a percepção de que a iconografia de dominação e superioridade do século anterior poderia ser superada.
GRANDES PENSADORES DA ANTROPOLOGIA
Bronisław Kasper Malinowski (1884-1942)
Antropólogo polonês, tido como um dos fundadores de uma Antropologia social, de uma etnografia funcionalista. Mais do que o detalhamento de suas teorias, o que nos interessa é perceber sua proposição do que é função da etnografia. Percebia-se a possibilidade de outra sociedade, outra forma de entender a humanidade, sem a proposição de hierarquização que fundamentava o movimento anterior. Isso levou finalmente à percepção da existência do outro.
Malinowski tem uma história pitoresca em meio aos esforços de guerra. Diante da impossibilidade de retorno à Inglaterra em um momento de conflito, acabou intensificando sua observação de campo de forma singular, experimentando e testando uma série de técnicas que modificariam a história da Antropologia.
Franz Boas (1858-1942)
Antropólogo americano que observou as profundas distinções entre grupos que, apesar de próximos do ponto de vista geográfico, culturalmente, pareciam pertencer a mundos diferentes, conforme procurou demonstrar ao comparar esquimós e índios americanos. Seu pensamento reforça e modifica a construção de Malinowski, já que, para ele, a classificação dos povos baseada na ideia de um processo evolutivo cultural unilinear era arbitrária e não bastaria para a caracterização dos diversos grupos etnográficos.
Era necessário que a Antropologia servisse à compreensão do entendimento individual dos grupos; notasse sua própria dinâmica evolutiva em termos de cultura e linguagem.
Os estudos antropológicos não deveriam construir uma composição linear da cultura, mas um espelho que permitiria a composição de quadros comparativos não hierarquizados. De certa forma, estudos antropológicos não serviriam como curiosidade no entendimento do outro, mas para que as sociedades se percebessem. A provocação é olhar o espelho para que pudessem desnaturalizar seus processos e suas hierarquias.
O pós-guerra mundial e as disputas anticolonialistas (por conflitos diretos, como na Ásia e na África, ou com a ideia de uma descolonização do pensamento, que passou a ser debatida nas Américas) fomentam a possibilidade do antropólogo ser um sujeito mais engajado, defensor de grupos que possuíssem e tivessem direito a se relacionar com suas culturas.
O objetivo é atravessar o espelho, não descrever o outro, não simplesmente perceber o outro para que possa notar suas diferenças, mas atravessar o espelho. Finalmente, reconhecer o seu direito de ser, de denunciar, de uma sociedade que possui outras formas. (Atravessar o espelho.
Conceito apresentado por Claude Lévi-Strauss para criticar a Antropologia que não via o outro, mas queria criar uma forma da sua própria sociedade ser compreendida pela comparação. Atravessar o espelho significa efetivamente ir ao encontro de entender o outro.)
Claude Lévi-Strauss (1908-2009)
O francês, famoso na música de Caetano Veloso, foi um dos importantes estudiosos das etnias indígenas, criador da Antropologia Estrutural. Em um dos seus mais famosos artigos, Raça e História, o autor apresenta os desafios da construção histórica do sujeito, apontando características que permitem perceber que, para além de uma natureza humana, o homem é composto por acúmulos culturais, próprios e inerentes àquelas comunidades. Não é um acúmulo no sentido histórico, mas uma percepção de que conseguiríamos classificar as sociedades em pontos evolutivos diversos, em uma comparação que em qualquer sentido não teria fundamento.
Você sabia. Lévi-Strauss viajou pelo Brasil entre 1935 e 1939, realizando estudos de sociedades indígenas, e foi professor de Sociologia na USP aos 26 anos de idade. Quando, em visita ao Rio de Janeiro e depois de um sobrevoo à Baía de Guanabara, perguntaram a Lévi-Strauss o que teria achado daquela beleza, ele respondeu que parecia uma boca banguela. A resposta indignou alguns brasileiros e Caetano utilizou a referência na música O Estrangeiro de 1989.
François Hartog afirma sobre o entendimento da Antropologia estrutural proposta por Lévi-Strauss:
“O mais importante é o afastamento diferencial entre as culturas. É aqui que reside sua “verdadeira contribuição” cultural a uma história milenar, e não na “lista de suas invenções particulares”. Também, agora que se entrou em uma civilização mundial, a diversidadedeveria ser preservada, mas na condição de entendê-la menos como conteúdo do que como forma: conta, sobretudo, o próprio “fato” da diversidade, e menos “o conteúdo histórico que cada época lhe deu”. HARTOG, 2006.
 
A existência de culturas é própria de sociedades humanas e não são comparáveis, são estruturadas e fundamentadas em códigos, demandas, fenômenos e escolhas. A maneira mais tradicional de conduzir e pensar a história, como um fenômeno unificador da linha temporal da humanidade e classificador, é absolutamente sem sentido. Por isso, o que conta são os fatos, os eventos, as trocas, e não a concepção de que evoluíram a um ponto A, B ou C.
A questão é como conviver em sociedades tão complexas, aproximar-se sem negar ou segregar, mas compreendendo que elas que existem e essa existência em si já é um evento que deve ser respeitado.
As culturas são necessariamente diversas. Culturas ágrafas ou com graus de dificuldade de entendimento sobre a função de seus agentes não podem servir como justificativa de negação, exclusão ou violência. (Culturas ágrafas. Culturas que não mantêm sistemas de escritas regulares, apesar de muitas delas terem simbolismo, ícones e até caracteres que remetem a fonemas). 
Atenção. O relativismo cultural proposto por Geertz e pelos demais não significa aceitação e naturalização de fenômenos de exploração e violência, mas o exercício de observação de como funciona aquela cultura, ainda que o posicionamento seja de não aceitação em nossa ou em outra sociedade. 
Clifford Geertz (1926-2006)
Antropólogo norte-americano conhecido como o fundador da Antropologia interpretativa, Geertz colocou a cultura e o debate da cultura como elemento fundamental e abordou os fenômenos culturais escritos e conflituosos no seio de uma mesma sociedade. 
“A análise cultural é (ou deveria ser) uma adivinhação dos significados, uma avaliação das conjecturas, um traçar de conclusões explanatórias a partir das melhores conjecturas e não a descoberta do continente dos significados e o mapeamento da sua paisagem incorpórea.” GEERTZ, 1989. 
Cultura é fruto de uma concepção das teias culturais. Sociedades são complexas e constroem e reconstroem sentidos culturais constantemente. O estudo dessas interpretações de mundo, de construções de sentido (ainda que sejam constantemente rediscutidos e remodelados), é o processo de entendimento antropológico. 
Geertz, de alguma forma, quebra o espelho. Sociedades são complexas e a todo momento se reestruturam e se reinventam quando se encontram e realizam trocas, pois os símbolos que as compõem são redimensionados, reinventados. 
O estudo da Antropologia não é o de um conjunto constituído que vai analisar outro conjunto constituído. É uma teia de relações enormes em que o antropólogo recorta, em sua análise, um processo de redes de trocas infinitas.
Toda sociedade é múltipla em símbolos e em trocas. Por isso, não devem ser entendidas como culturas puras ou isoladas a serem preservadas a qualquer custo. Cultura não é algo limitado a grandes conjuntos isolados. Esses conjuntos não existem. Os grupos sociais, as diversas culturas estão sempre vivas trocando e se reinventando.
Vamos entender melhor?
Sabe quando uma pessoa faz uma crítica ao indígena que tem um celular de última geração dizendo que se ele tem aquele aparelho não é um índio de verdade? É esse preconceito que Geertz explica. Não é porque há uma identificação com uma cultura singular, com a defesa de sua existência e sua luta, que ela estará isolada e cristalizada. 
A cultura está sempre em movimento.
Claro que o contexto influencia na mudança trazida por Geertz. Se Lévi-Strauss produziu no período de Guerra Fria e descolonização, Geertz convive com a sociedade das décadas de 1980 em diante, vivencia a formação de sociedades em rede e a globalização. Vê a multiplicação de conceitos antropológicos, que põem em xeque as noções clássicas de pureza.
Vivemos um amadurecimento dos conceitos construídos por esses autores e não são escritos em livros de Antropologia para dificultar a compreensão dos que iniciam seus estudos. Eles estão nos livros, mas é diante de nós que esses conceitos se materializam. Cada vez que usamos um celular ou computador; cada vez que saímos à rua, que conversamos, esses conceitos aparecem.
A Antropologia, como campo do conhecimento, provocou, ao longo do século XX, uma mudança de entendimento, levando-nos a debater as fórmulas e noções supremacistas – provocou o pensar, o entender e, principalmente, o descobrir formas de convivência.
Então, agora que você absorveu o entendimento da Antropologia, buscamos mostrar como essas ideias se materializam em conceitos importantes. Todos aqueles que pretendem pensar na docência, em qualquer campo, precisam instrumentalizar seu olhar com conhecimentos antropológicos para ter mais possibilidades de enfrentar esse desafio. Vamos, então, conhecer alguns desses conceitos.
CONCEITOS DE CULTURA
Não se pode definir cultura
O antropólogo sul-africano Adam Kuper conclui em seu livro Cultura, que não podemos definir o conceito de cultura. Isso mostra como a Antropologia debateu o conceito de cultura e o associou de formas diversas ao longo do tempo, chamando a nossa atenção para esse ponto.
Kuper afirma que a cultura foi trabalhada durante muitos anos como algo material, a posse que definia um grupo, um conjunto de práticas, hábitos, formas de explicar o mundo. E essa visão chega ao senso comum, é a maneira mais recorrente dos homens definirem cultura: um conjunto de práticas e pensamentos que os constituem como pertencentes a uma cultura A ou B.
Cultura como produção
Cultura seria tudo aquilo que o homem produz. Identificados com uma leitura estruturalista de mundo que associa cultura à ação efetiva do homem na sociedade. Ainda que não fosse mais algo que pudesse ser possuído, passava a ser algo que constituía o meio. Pensando nessa leitura no contexto da Escola, a cultura passava a ser um exercício de consciência dos alunos sobre as condições de trabalho, as formas de exploração, as classes sociais a que pertencem, os modelos de produção, consumo e identidade dos quais eles fazem parte.
Cultura como identidade e múltiplas formas
É a percepção de que cultura é um direito, uma prática, uma identidade e que cada um tem necessidade de ostentar em um mundo complexo, ou seja, o conceito de multiculturalismo, criado nos anos de 1980.
No auge da noção de Aldeia Global e de um amálgama de culturas em um mundo mais integrado, emerge a defesa de que as sociedades eram constituídas por culturas múltiplas. A luta contra o apagamento acabou por reforçar sentimentos separatistas, guerras étnicas e movimentos de negação. Desse modo, a noção de multiculturalismo – sociedades complexas em que diversas culturas participam – passou a sofrer severas críticas.
Cultura como ressignificação
O historiador italiano Carlo Ginzburg oferece uma importante contribuição ao debate sobre a noção de cultura, exemplificando em seu célebre livro O Queijo e os Vermes que cultura não deve ser interpretada como um campo de exclusão ou segmentação, mas que culturas circulam, reinventam-se, recriam-se. Um grupo pode transformar sua negação em elemento identitário.
Exemplo
Para entender, vamos falar sobre futebol!
Durante anos, os chamados clubes de massa (Corinthians em São Paulo, Flamengo no Rio de Janeiro e Bahia em Salvador, por exemplo) eram agredidos verbalmente pelos seus adversários com a acusação de serem torcidas de marginais, maloqueiros, ladrões, favelados etc. As torcidas desses times de massa, no entanto, passaram a utilizar essa agressão como marca de identidade, com comemorações que exaltavam a condição de loucos, favelados e afins. Aquilo que era negação tornou-se uma forma de diferenciação e identidade.
São muitos os exemplos do mesmo tipo: a identificação do outro, em função da cor da pele, como “negro”, que acaba depois se autodenominando “preto”, revelando duas formasde reconhecer o outro pela cor e não como pessoa, como ocorria durante o período da escravidão. Diante da desnaturação, da negação e da violência, o grupo se reinventa, afirma-se pelas características de superação, criando, redesenhando e inventando uma nova dinâmica cultural afirmativa.
Cultura como representação
Outras formas de conceito de cultura têm sido adotadas, como as lentes pelas quais os homens veem o mundo. Essa ideia vem de cultura como um discurso, uma representação, uma simbologia.
São muitos conceitos possíveis, mas todos com o propósito de tirar do sentido de cultura algo material, palpável, e transformá-la em uma construção, torná-la parte da maneira como uma sociedade se vê, pensa a si mesma e se relaciona. Ao mesmo tempo que define interpretações de mundo, ao ser debatida, a cultura faz com que as lentes se transformem e se modifiquem. É uma estrutura estruturante.
Exemplo
A Escola é um excelente exemplo!
1.Já foi considerada um espaço atípico, um espaço de elite.
2.Tornou-se uma exigência, com a noção de que se você deseja ser alguém na vida, você precisa da escola. Era necessário obedecer e cumprir.
3.Depois, deveria ser um espaço de construção, o aluno deveria ser estimulado a ir à escola, a se integrar em seu ambiente.
A Escola não é o espaço em que se ensina a ser alguém, mas é o espaço do aprender. Segundo a Base Nacional Comum Curricular, a Escola é o local onde o aluno desenvolve habilidades e competências necessárias ao seu desenvolvimento. É uma Escola que deve reproduzir menos e produzir – construir efetivamente – mais.
A Escola tem um forte grau de integração social, os problemas do cotidiano são lá vivenciados e, assim, cada professor, cada aluno, cada transformação do bairro, da cidade, do país, e do mundo influenciam no conjunto de relações culturais. As visões comuns aproximam pessoas, as antagônicas as afastam.
Vivemos num tempo em que transformamos diferenças em campos diários de conflitos. Estudar cultura nunca foi tão importante.
Conceito de Etnocentrismo
Um dos conceitos amplamente debatidos e transformados pela Antropologia é o de etnocentrismo. Durante o século XIX, o principal conceito que distinguia sujeitos humanos era o de raça. A percepção de que homens pertenciam a raças diferentes e, por causa disso, tinham diferenças marcantes era utilizada amplamente. O conceito de raça foi utilizado cientificamente durante o século XIX para justificar a hierarquia entre os seres humanos. (Raça. A lógica de ciência não significa um discurso de verdade, mas a investigação. No século XIX, pesquisas como a de Cesare Lombroso tentavam comprovar cientificamente quais raças eram predispostas ao crime).
Exemplo. Conhece a história da Maldição de Cam? É uma história bíblica (Gênesis 9:18 - 10:32) que ocorre depois do episódio da arca de Noé e do dilúvio. Cam vê Noé, seu pai, embriagado e, em vez de ajudá-lo, debocha dele. Isso teria gerado uma maldição para os descendentes de Cam, que ficaram para sempre marcados.
Não há referência à cor negra, mas é esta a associação construída por certa tradição religiosa, adotada pela ciência do século XIX, que justificava que homens de cor preta eram inferiores ou amaldiçoados. Os estudos científicos da época apontavam que qualquer mistura representava a fragilização das raças puras, como aconteceria com animais de espécies diferentes. Então, não haveria nada pior do que um mestiço de raças humanas diferentes.
Assim, havia ideias políticas que defendiam que o Brasil precisava romper com a maldição de Cam, escolher uma raça e ir direcionando toda a população nesse sentido. Nesse contexto, políticas públicas foram então pensadas buscando o branqueamento da sociedade brasileira. Imigrantes brancos de todo o mundo eram estimulados a vir para o Brasil.
Saiba mais
Veja o quadro de Modesto Barroso A Redenção de Cam. O quadro demonstrava o espírito brasileiro de branquear, de eliminar a marca do que era chamado de mestiçagem na história brasileira.
Essa não é uma exceção; no século XX, personalidades importantes como Rui Barbosa diziam que os traços de mistura da cultura brasileira era um sinal de atraso, de um Brasil não civilizado.
A Antropologia do século XX começava a mudar e, em vez do conceito de raça, que ainda demoraria a ser vencido, passava a ser pensado o conceito de etnia.
Etnia é um conceito antropológico que não lidava somente com a identificação biológica dos sujeitos, mas com sua composição social, cultural, suas práticas e relações pessoais e coletivas para definir uma sociedade. No entanto, não abandonava a noção de raça ou da composição de superioridade, agora cultural.
A oposição entre civilizado versus selvagem demorou a ser vencida. Entretanto, o senso comum ainda é fortemente marcado pela composição de um etnocentrismo vital: existem hábitos e comportamentos aceitáveis e aqueles que devem ser corrigidos.
Etnocentrismo é uma marca de negação, um conceito que define padrões sociais e de comportamentos como corretos e, por consequência, aqueles que devem ser negados, destruídos ou persuadidos a serem modificados.
Gilberto Freyre, famoso por estudar as relações étnicas brasileiras, ainda entendidas como raciais, identificou na afetividade entre colonizados e escravizados (índios e africanos) a construção de uma estrutura singular.
Freyre representou um avanço na leitura da Antropologia brasileira em relação ao rompimento com a hierarquização racial (a valorização do branqueamento), entendendo de outro modo a composição complexa da etnia brasileira. No entanto, seus estudos geraram entendimentos bastante equivocados, como os que defendiam que o Brasil teria conseguido de forma única mediar os conflitos históricos entre raças diversas e constituído uma democracia racial.
Gilberto Freyre nunca propôs esse conceito. Em seu livro Casa Grande e Senzala, ele não reduz a violência do colonizador, mas defende que na condição da colonização uma relação afetiva acabou sendo constituída.
O conceito de raça biológica foi derrubado pelos estudos modernos de Biologia, que acabaram ratificando que homens contemporâneos pertencem a uma mesma espécie, independentemente de suas variações físicas, oriundas de processos diversos, e que estão em constante modificação.
Esse conceito ganhou outra composição sociológica, como forma de identificação étnica. As “tribos” que compõem a diversidade social dentro de um mesmo espaço, marcam traços identitários múltiplos, e a composição histórica de raça – como forma de negação – passou a ganhar força de identidade do grupo. Um grande exemplo é a construção nazista de superioridade de uma raça, como os arianos e sua origem caucasiana. (Identidade de grupo
Um dos ícones dessa relação uma vez mais são os chamados movimentos negros e indígenas. Traços de negação reconfigurados para uma identidade de luta pelos seus direitos.)
Com essas novas configurações, o conceito de etnocentrismo passou a ser entendido como um exercício a ser negado, considerado uma forma de violência.
Mas, qual a relação disso com a Escola? Um professor não é etnocêntrico. Ele é cuidadoso. Será?
Nós tendemos ao binarismo da ação. Tendemos a identificar automaticamente o que é certo e errado, como se não houvesse outra forma. Temos padrões históricos constituídos e apresentados como corretos e dificuldade para rompê-los. Quando um professor entra em sala de aula, tenta falar o que se programou para falar, tenta “levar” seu conhecimento aos alunos e eles não o escutam, não o compreendem, não desejam sua voz, a reação do professor tende a ser: “Que desperdício” ou “estou atirando pérolas aos porcos”.
Conceito de Identidade
Qual a sua identidade? Podemos imaginar a multiplicidade de respostas que essa pergunta pode causar: brasileiro, pai de família, mulher, negro, engenheiro. Não precisaria ter dúvida, bastaria olhar sua carteira de identidade e lá estaria escrita a resposta.
Mas, será que a determinação geográfica é capaz de determinar a identidade de um sujeito?
Identidade é outro conceito antropológico fundamental. Tambémfoi construído e modificado ao longo do tempo. Seus primeiros debates e formas – novamente o movimento positivista – associavam identidade à identificação. A identidade de um sujeito era associada à sua configuração, à sua proximidade com o ordenamento social. A maior marca identitária era a de ser civilizado, bárbaro ou selvagem.
O século XX trouxe com força uma nova noção de identidade: a ideia de nacionalismo. Sua identidade era a sua nação, a fidelidade à sua terra, a seus familiares e às pessoas que conviviam diretamente com você. Por elas, você deveria viver, por elas você deveria morrer. Se durante o século XIX isso aparecera nos campos de batalha, no século XX eram elementos do cotidiano, como rádios, festividades e governos defendendo a ideia de civismo e luta por sua identidade.
A definição de fronteiras, as composições dos Estados-Nação, a reafirmação de novas mídias, o fortalecimento de discursos que defendiam o seu espaço vital, foram os responsáveis por grandes conflitos do fim do século XIX até a metade do século XX. As Guerras Mundiais são ícones da força da identidade nacional da primeira metade do século XX, mas não são únicas. As disputas pela descolonização e a consolidação da influência do republicanismo, da democracia representativa, acabam fortalecendo a nação, que era a principal marca identitária.
Esse movimento aparece não só no sangue e na batalha. Ganha contornos em feiras de ciência no mundo inteiro – disputando por serem maiores, mais importantes, mais avançadas – e contornos esportivos, como acontece em eventos esportivos como o das Olimpíadas.
Saiba mais
Olimpíadas de Berlim, 1936
Adolf Hitler era o comandante da Alemanha e seu objetivo era exibir o poderio da raça ariana, mas também mostrar ao mundo como a Alemanha era um lugar especial, civilizado, o futuro da humanidade.
Os Estados Unidos, interessados na mesma coisa, não por uma afirmação ariana, mas pelos seus princípios de capitalismo e liberalismo, veem no envio de seus atletas uma ameaça nacional, a possiblidade de legitimar o discurso do alemão.
Mas, a participação dos atletas seria a chance de disputar a “superioridade” e vencer. Assim, todos os atletas são enviados para defender os princípios norte-americanos.
O maior nome é Jesse Owens, do atletismo, jovem negro que sofre, como toda sua comunidade, com o sistema de segregação racial, e, por causa disso, às vésperas do evento decide não ir, pois não se via respeitado em sua identidade como cidadão americano, tampouco gostaria de dar legitimidade ao regime de Hitler. No entanto, ele acaba indo, vence, mas mantém o discurso crítico de que nunca se sentiu verdadeiramente americano.
Exemplo
Muhammad Ali (1942-2016)
Nascido Cassius Clay, é outro exemplo dessa crise de identidade – princípio do nacionalismo e a negação étnica. O pugilista, negro, campeão olímpico, americano, uma vez convocado para Guerra do Vietnã decide não ir. Influenciado por movimentos negros norte-americanos importantes, Ali diz que não via sentido em matar vietnamitas por um país que os segregava, negava, maltratava. Foi processado. Teve a licença para lutar caçada.
Desafios docentes
As transformações da apreensão de cultura, a formação de movimentos de grupos que lutavam por direitos e reconhecimento (movimento negro, LGBTQ+, feminista, religiosos), entre outros fatores, repensam o sentido das identidades. A ideia de que somos socialmente múltiplos e não simplesmente oposições genéricas ou binárias acaba por multiplicar as formas de se identificar, gerando intensos debates sobre o que isso significa socialmente.
Muitos professores entram em crise ao enfrentar o cotidiano das escolas. Descobrem identidades nunca imaginadas. Professores que têm dificuldade de lidar com diversidade de culturas, com os discursos dissonantes, com o preconceito racial, político e religioso. Muitos acabam defendendo que a Escola não é lugar para esse debate, que na Escola todos são iguais e que a condição diferente acaba ali. Nada mais falso!
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. (ENADE 2014 – ADAPTADA) Observe a figura abaixo, adaptada do livro Cuidado, Escola!, de Paulo Freire.
Relacionando-a às frases abaixo e com a história da Antropologia, você diria que a sua melhor interpretação é:
A - A Educação que ocorre na Escola incorpora sempre uma perspectiva de gerar e promover a igualdade; nesse ponto, os conceitos antropológicos ajudam a perceber o que o aluno traz da sua vida.
B - A educação sistemática e a educação assistemática são a mesma coisa que acontece, apenas, em lugares diferentes.
C - A educação sistemática e a escola regular têm os mesmos conteúdos, mas cada uma deve preservar seus espaços de atuação.
(*) D - A educação sistemática, muitas vezes, desconsidera as contribuições da diversidade cultural e das demandas sociais, gerando problemas nessa relação.
Comentário. Um aspecto importante de nossos estudos é diferenciar a Escola e a Educação, depois demonstrar como a Escola é um corpo imerso na sociedade e, por causa disso, reproduz as dinâmicas sociais em seu interior. Uma sociedade marcada pela pluralidade terá escolas marcadas pela diversidade cultural. A Antropologia nos ensina a não sermos inocentes em imaginar que é possível uma instituição imersa em uma sociedade sem que dialogue com suas demandas.
2. (ENADE de 2011 – ADAPTADA) Durante os encontros para a preparação do ano letivo em uma escola, alguns tópicos foram considerados como os mais importantes. Dentre eles, destaca-se o conhecimento da realidade dos estudantes e, por isso, no planejamento das atividades, foi preciso levar em conta:
A - A realidade expressa nos programas escolares estabelecidos.
B - A vivência limitada das pessoas de grupos sociais minoritários.
C - O meio ambiente das classes mais favorecidas daquela região.
(*) D - O contexto sociocultural específico da realidade dos alunos.
Comentário. Essa questão trata da instrumentalização ofertada aos docentes ao discutir a relação entre Antropologia e Educação. Não basta reconhecer um grupo, perceber suas relações econômicas, tampouco imaginar que a função da Escola é transmitir conteúdo. A Escola é uma instituição, é social, é palco de dinâmicas diversas e se quiser ser mais eficiente no aprendizado precisará lidar com a dinâmica sociocultural da realidade dos alunos.
MÓDULO 3
Caracterizar a relação entre Educação e Ciências Sociais no cotidiano escolar
O ENCONTRO ENTRE A EDUCAÇÃO E A SOCIEDADE
Sociedades humanas educam. Sempre existem responsáveis por passar as regras, incutir valores, treinar e desenvolver habilidades. Os métodos variam, historicamente, de coerção a interesses. Sem entrar em paradigmas biológicos, essa é uma característica que reproduzimos como espécie.
No entanto, outra característica que herdamos é a de consolidar relações complexas entre nossos pares. Nós não reproduzimos meramente um comando instintivo. Pensamos, relacionamo-nos, recebemos regras e nos ligamos a elas. Defendemos, negamos, lutamos a favor ou contra elas, mas é certo que sempre há um sentido relacional nessa construção.
Temos uma fantástica capacidade de acumular conhecimentos e transformá-los ao longo do tempo. Adaptamos os conhecimentos às novas condições e saímos de um modo de vida caracterizado por grupos de caçadores e coletores para sermos sujeitos de identidade documentada e lidarmos com sistemas simbólicos de representações absolutamente complexos.
Imagine a seguinte situação: Eu tenho algo e você tem outra coisa, temos o interesse em trocar, trocamos. Em outra situação, eu tenho algo e você entende que aquilo deveria ser seu, mas eu tenho uma força que não permite que você tome, ou então você cria estratégias e adquire forças que podem levar o que tenho.
Atualmente, todos temos alguma coisa e há sistemas monetários que garantem um valor para tudo, sistemas jurídicos que ajudam a definir quais são os direitos de quem, configurando processos bem diversos. Saímos da condição do mundo natural e criamos complexos conjuntos sociais que podem se diversificar a cada momento.
Comofunciona essa formação? Como ocorre essa relação em meio à sociedade? Essas perguntas apontam para o objeto das Ciências Sociais.
Onde entra a Educação? Ora, faz parte da nossa condição o acúmulo e a transformação das experiências e do conhecimento, essa dinâmica é transmitida, repetida, ensinada e finalmente aprendida geração após geração.
A Educação é um fenômeno muito presente na análise de qualquer formulação de sociedade. A Escola, essa instituição desenvolvida para criar um espaço próprio para formar o sujeito a fim de reproduzir as dinâmicas da sociedade, é uma das invenções mais interessantes para notar como acontecem esses processos.
Mas, a compreensão não ocorre de um momento para o outro. Esse é o primeiro passo de outros que podem solidificar sua caminhada na formação de professores. Uma vez que isso está claro, passamos agora a conhecer os principais campos das chamadas Ciências Sociais.
Importante. Aquele que almeja assumir a condição de docente, de se relacionar com a Educação, nunca poderá desistir de observar como se relacionam os homens e como eles constituem a sociedade.
VAMOS PENSAR NA RELAÇÃO ENTRE ESCOLA E CIÊNCIAS SOCIAIS
O campo das Ciências Sociais tem muitos caminhos e agora nossa conversa é sobre você! Sujeito cheio de anseios, tradições e culturas, certamente tem hábitos e já se viu em situações em que se reconheceu com outra cultura, estranhando-a bastante. Imagine-se na Escola, experimentando uma multiplicidade de histórias, vivências e culturas. Você precisará de instrumentos para lidar adequadamente com essa realidade. Por isso, precisamos refletir sobre esse ponto. Vamos lá?
Imagine que você é um peixe que nasceu no aquário. Para você, tudo o que existe é o aquário. Você é capaz de elaborar teorias para o funcionamento do aquário e do mundo no entorno dele. Mas, suas verdades são postas em xeque quando outros peixes chegam ao seu ambiente. Eles falam de rios e natureza. Sua construção pessoal, sua forma de pensar, poderá ser influenciada pelos relatos recebidos, afinal o aquário é o mundo que você conhece, mas, ao menos em hipótese, existem outras culturas e outras sociedades. Você poderá falar sobre rios, comparar o que ouviu sobre eles e a natureza que outros vivenciaram, mas sua relação diária é com seu lugar, seu espaço, suas relações pessoais. Mesmo tendo conhecido outros peixes, acreditado no relato deles, seu olhar sempre será marcado pelas suas experiências.
As Ciências Sociais são os exercícios para que os membros do aquário pensem sobre como funcionam o seu mundo e, em especial, percebam que o seu mundo está imerso em outro muito mais complexo do que o das suas relações afetivas e sensoriais.
Neste ponto, a provocação de um elemento é vital, a reflexão sobre quem você é, qual a função do aquário, o que pode ser apreendido sobre a natureza e os rios não é algo efetivo, material, indiscutível, mas sim uma construção discursiva. Mesmo que exista verdadeiramente o aquário, os rios ou a natureza, quando pensamos e refletimos sobre eles o que criamos são conjecturas, vitais, mas ainda assim discursos sobre uma realidade complexa e inatingível. Um dos aquários mais importantes das sociedades urbanas ocidentais é a Escola.
Escola não é um prédio, é uma ideia, é um símbolo da modernidade contemporânea. É meta em todo mundo conhecido como civilizado. É uma estrutura que, no século XXI, qualquer pessoa é capaz de reconhecer. Pode ser ultratecnológica ou um conjunto de cadeiras voltadas para um quadro velho, mas o coletivo reconhecerá: aquilo é uma Escola. É uma sala de aula. É um professor. Todos nós, cursando uma graduação, já passamos por “bancos” escolares.
A Escola fez parte de nosso cotidiano, antes mesmo de termos uma opinião sobre ela. Todos se acham especialista em Escola, como ela funciona bem, o que é uma Escola boa e uma Escola ruim. Poucos são os peixes que percebem que são peixes, que estão em um aquário. Poucos refletem a Escola como um espaço cultural, marcado por interações humanas, com convivências muitas vezes inimagináveis. Poucos reconhecem a importância singular de sujeitos que se atrevem a conviver com a juventude e os desafios que ela enfrenta.
CARACTERIZAÇÃO: EDUCAÇÃO E ESCOLA
Depois de conhecermos uma ampla gama de ciências sociais e entender sua relação com a Educação, o convite é para que você assuma a condição de educador, de professor, usando a velha característica histórica.
Importante. É preciso que você faça um esforço a mais: tente desnaturalizar sua visão mais recorrente e pense sobre como as relações do cotidiano escolar são ricas de possibilidades.
EDUCAÇÃO PARA ALÉM DOS MUROS DA ESCOLA
Modernamente tão discutida, a Educação assume caráter próprio na abordagem das chamadas ciências humanas. As reflexões teóricas sobre o assunto, pela visão de autores diversos, apresentam em comum a característica de identificar a Educação como um componente dos espaços de poder, e dessa forma a tratamos.
A professora Nilda Alves desenvolve seus trabalhos demarcando o trinômio cultura, Educação e cotidiano. Sua proposta é compreender como elementos formais são reproduzidos no cotidiano e de que maneira reconstroem elementos culturais com o objetivo de ensinar suas benesses e restrições no meio social.
A Escola visa a atender as demandas sociais, gerar conhecimentos, possibilidades, habilidades que os indivíduos ou o coletivo entendem como necessários. Assim, ela cria o seu espaço de uma educação formal, curricular. Essa educação formal, no entanto, muitas vezes acaba se distanciando do cotidiano social.
Você se lembra das discussões sobre a necessidade de aprender raiz quadrada ou por que estudar História? Isso é o que chamamos de distanciamento, as pessoas passam a não entender por que a Escola trata de determinado assunto. Mas é ilusório achar que essa educação formal fica fora da sociedade. Ela acaba chegando aos espaços assimétricos de educação, reformulados e adaptados. Também é falso que a Escola se isole em seus conhecimentos, pois a tradição e as trocas sociais sempre chegam a ela, ainda que de forma adaptada.
Nilda Alves traz o conceito de Educação em múltiplos espaços, constituindo um sistema de interações em que elementos escolares influenciam e são influenciados por um discurso que apresenta, inclusive, características próximas, mas para espaços e fins diversos. Sua exposição permite que compreendamos os espaços escolares como imersos na sociedade em que convivem, são transformados e transformam as discussões.
As escolas foram espaços de defesa da tradição e de discussão dos fundamentos necessários à civilidade. Essas características estiveram presentes em discursos não escolares e nas relações dos profissionais da Educação.
“(...) é evidente que a história da Educação não se poderia reduzir à das formas escolares (...). Porque as fontes não escolares são menos seriais e mais dispersas, sem dúvida o historiador percorreu com menos facilidade esse vasto campo de investigação.” JULIA, 1993.
A Sociologia trabalha com a Educação de forma ampla, independentemente de sua restrição institucional, no entanto considera que existem fenômenos diversos:
Educação formal - Tem forte tentativa de controle de forma, objetivos e processos – independe do grau de institucionalização.
Educação informal - As relações não são ordenadas, mas estabelecidas por interesses diversos, fruto das relações sociais do indivíduo, das afetividades.
Importante. Não crie o sinônimo organizado versus desorganizado. As duas têm ordenamento, só que diversos. Ambas são objetos da Sociologia e o educador precisa saber que seu cotidiano formal, necessariamente se relaciona a conceitos informais, gerando o já sinalizado movimento de troca das escolas.
O desafio é entender a Educação como um processo que ganha aspectos de discurso e se apresenta nas relações de poder de uma sociedade.
“(...) a Educação nunca se restringiu à Escola. Práticas educativas têm ocorrido, ao longo do tempo, fora dessa instituição e, às vezes, com maior força do que se considera,principalmente em determinados grupos sociais e em determinadas épocas.” LOPES e GALVÃO, 2001.
CARACTERIZANDO EDUCAÇÃO
Avançando sobre a construção dessa possibilidade, podemos formular que educar é um processo que pressupõe como base a intencionalidade do educador. Assim, educar significa:
ENSINAR - No sentido de transmitir conteúdo, conduta que o outro deve seguir.
QUALIFICAR - Para que o outro possa ter acesso a locais específicos, aos quais só os que alçam essa nova posição podem ser considerados de alguma forma aptos.
ESCLARECER- Como forma de desfazer dúvidas e iluminar questões obscuras.
VIGIAR - À medida que o educador fornece ao educando pressupostos de comportamento, permite ao grupo dos primeiros o controle frente ao não cumprimento dos comportamentos recebidos.
DISCIPLINAR - Uma vez que o detentor do conhecimento passa a ser o delimitador das regras, permitindo-lhe, portanto, aplicar punição quando do não cumprimento.
Essas dinâmicas têm ganhado novas possibilidades de análise, por exemplo, com a ideia de mediação, em que o professor atua como um facilitador para o processo de despertar do aluno. Necessário, mas em processo de consolidação.
A Educação implica intencionalidade e coerção em consonância com os objetivos do grupo que comanda o sistema educacional. Nesse ponto, aproximamo-nos do sociólogo Pierre Bourdieu, na medida em que afirma que a Educação não é um fator transformador, mas, sim, um espaço que introjeta a ordem, estabelece hierarquias e garante o reconhecimento do poder, não necessariamente modificando-o.
Um conceito muito importante é o da ação pedagógica. Esta ocorre dentro de uma dinâmica em que necessariamente o autor precisa estar imbuído da preocupação de ensinar. São três passos para a ação pedagógica:
· Identificar aquele que se predisporá a educar alguém.
· Detectar as necessidades de quem que será ensinado, entendendo o que ele precisa naquele momento: conteúdos e metodologia adequados.
· Definir a forma e os teores que serão ensinados, demarcando as vantagens para que o proposto seja alcançado e, dependendo da situação, os recursos a serem adotados, caso aquele processo falhe.
A TEORIA DA AÇÃO
Ao tratarmos de Educação, devemos considerar um conjunto de valores e hábitos próprios, especificamente os valores da cultura cristã. Pierre Bourdieu ressalta que a Educação tem o papel de estabelecer ordem, não necessariamente transformar, mas, sim, introjetar práticas que permitam aos educandos se posicionarem na sociedade a que pertencem.
Assim, fundamentados nas proposições bourdianas, interessam-nos, particularmente, os conceitos de habitus, de campo e de capital simbólico, sobre os quais discorreremos brevemente.
Habitus
Ressalta que um grupo é regido por práticas comuns que têm o papel de integrar, fundamentar e legitimar determinados interesses. Podemos verificar esse conceito como o elo integrador, que aproxima esses elementos em torno de um conhecimento comum, suas práticas e formas de obtê-las.
Campo
É um espaço que agrupa os membros que compartilham do mesmo habitus, mas que são marcados por disputas entre dominantes e dominados. É importante salientar que os campos são caracterizados pela disputa em todos os seus segmentos, não existindo a visão dualista de dominantes e dominados. Pelo contrário, o campo sobrevive e se modifica pela constante ação dos seus membros, por meio dos confrontos entre os diversos dominantes e dominados.
Capital simbólico
É um conjunto de bens válidos no mercado interno de cada campo disputado por seus membros como forma de ascensão na estrutura social. Esse capital se reflete como um todo no campo. Um grupo terá mais legitimidade junto à sociedade a partir do momento em que os seus bens simbólicos sejam conhecidos e reconhecidos pelos demais campos, constituindo nesse reconhecimento o poder simbólico.
Bourdieu identifica a Educação como um conjunto de práticas, inscrito no habitus, e pelo qual a intenção dos dominantes no campo é vender aos demais participantes seu olhar e sua forma de ver o mundo. O autor rompe com a ideia de a Educação ser um instrumento inovador, mas, sim, uma prática que garante a reprodução, algo que oferece regras e lógicas às disputas sociais.
Assim, podemos identificar como Educação processos inerentes a diversos espaços da sociedade. Bourdieu a relaciona com um sistema de legitimidades no interior dos campos de poder.
A Educação tem um compromisso com a reprodução da realidade, afastando-se do caráter transformador que esta poderia assumir, por exemplo, na teoria marxista. Esse conceito pressupõe o reconhecimento do poder e do prestígio de determinado campo, quando seu habitus é reconhecido e assimilado pelos demais campos da sociedade. Esse tipo de concepção aplicado à Idade Média nos permite, em especial, entender a dinâmica de fortalecimento e afirmação da própria Igreja.
A CIDADANIA
Depois da caracterização, do entendimento da relação entre Educação e Escola, falta um conceito muito antigo e também bastante atualizado, mas que precisa estar presente no olhar de cada professor: cidadania.
O conceito de cidadania é ocidental, inspirado em relações greco-romanas e visava constituir os sujeitos que tinham direitos políticos e, por causa disso, identificavam-se com aquela cultura e a defendiam. Esse conceito foi muitas vezes reinventado e ressignificado, mas nunca perdeu sua importância. Em sociedades contemporâneas, a noção de cidadania ganhou força após os conflitos das guerras mundiais, em especial quando denunciadas as atrocidades promovidas na guerra e pelo domínio neocolonialista.
A partir do pós-guerra, surge uma perspectiva de mudança da Educação e de seu papel com a defesa da sua função de fortalecer a autonomia do sujeito e não a naturalização de sua dominação. Formar um cidadão deixa de ser formar alguém para o coletivo social, para fomentar a capacidade do sujeito de exercer sua cidadania.
A atualização do conceito, de certa forma, deixa-o móvel, passando o sentido de que formar o cidadão não é mais instrumentalizá-lo daquilo que seria pressuposto socialmente como verdade, mas, sim, fomentar a capacidade de formação. A Escola não tem, ou não deveria ter mais, a função de ser um espaço de “adestramento” dos sujeitos, mas de promover sua autonomia.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. Considerando que a sociologia da educação estuda dinâmicas entre a Escola e a sociedade, analise as afirmativas a seguir:
I. A Educação, como processo social global que ocorre em toda a sociedade, deve ser compreendida como um fenômeno escolar.
II. Os sistemas escolares, ou seja, o conjunto de uma rede de escolas e sua estrutura de sustentação como partes do sistema social mais global é um objeto possível da sociologia da educação.
III. A Escola como unidade sociológica e a sala de aula como subgrupo de ensino antropológico, assim, a Escola é entendida como um espaço em que é possível a formalização de pesquisas de ciências sociais.
IV. A sociologia da educação, ainda que compreenda Educação e Escola como fenômenos diversos, analisa que é fundamental compreender essa relação na diversidade social.
Devem ser consideradas corretas:
(*) A - Somente as sentenças II e IV.
B - Somente as sentenças I e II.
C - Somente as sentenças II e III.
D - Somente as sentenças I e III.
Comentário. Educação e Escola na sua relação com os aspectos sociais são estudadas pela sociologia da educação. A afirmativa I falha em generalizar Educação e Escola como algo indissociável. Já a terceira tenta criar uma classificação em modelo de etiquetas que não tem sentido nas ciências humanas. As afirmativas II, que define bem Escola, e IV, que demonstra a relação entre os dois fenômenos de forma correta, fazem com que a resposta seja a letra A.
2. Das afirmativas abaixo, a única que corresponde às contribuições da relação entre a Escola e a Educação é:
A - Ajuda os alunos de menor rendimento e inadaptação escolar a terem melhores resultados.
B - Esclarece o processo educativo e as relações entre a Escola e a sociedade como um

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