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tema 3 - historia da educação

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Definição
Explicação das importantes mudanças ocorridas em âmbito mundial, pois o que foi vivido no passado ainda está presente na contemporaneidade. Esclarecimento de como a aliança entre Educação e Renascimento inaugurou a ideia de modernidade e construiu a cultura ocidental diante do embate: tradição versus pensamento moderno.
Propósito
Entender o mundo contemporâneo a partir do reconhecimento da modernidade, do pensamento renascentista e dos embates com a religião. Buscar o passado que nos identifica a fim de apontar a origem de nossa língua, de nossa história e os caminhos que marcam nossa maneira de pensar a Educação.
Objetivos
· Módulo I
Conceituar modernidade para a História
· Módulo II
Reconhecer a Educação no Renascimento
· Módulo III
Identificar o movimento da Reforma, da Contrarreforma e o modelo de educação jesuítica implantado no Brasil
· Módulo IV
Distinguir as linhas do pensamento pedagógico na modernidade
Conceituar modernidade para a História
Introdução
Quantas vezes escutamos, em nosso dia a dia, o uso da expressão moderno se referindo a algo novo ou diferente? Mas, de onde vem exatamente essa ideia sobre o que é moderno?
É importante analisarmos mais detalhadamente o conceito de moderno para compreendermos como ele interfere na Educação que conhecemos. Moderno e seu derivado, modernidade, não são apenas palavras; são conceitos e, por isso, podem ter múltiplos significados.
Invenção da sociedade ocidental
Origens
A origem da ideia de moderno como novo surge de uma construção histórica. Tradicionalmente, os historiadores convencionaram dividir a História em eras para melhor compreendê-la e ensiná-la. Essa proposta, que chamamos de linha do tempo, foi muito utilizada como método de estudo, sobretudo no século XIX, pelos positivisas.
Nesse recurso, vemos que a História começa na Idade Antiga com o aparecimento da escrita. Isso se fundamenta na premissa da tradição europeia de que povos sem escrita não teriam história, por isso, Pré-História.
Essa concepção justifica, por exemplo, o estudo dos povos indígenas e africanos ter sido relegado durante tanto tempo.
Após a Idade Antiga, surgiu a Idade Média, considerada a Idade das Trevas. Esse termo surge no período renascentista, já na Idade Moderna. Os historiadores desse período não viam um valor na Idade Média, entendendo-a simplesmente como uma fase entre a cultura clássica e a moderna. Daí a visão, equivocada, de que a Idade Média havia sido um período de estagnação e obscurantismo.
O Moderno surge em oposição ao Medieval. O Novo e o Velho. Essa ideia se populariza, e temos ainda dificuldade em compreender que o moderno é algo concebido em seu próprio tempo. Nesse caso, seguindo a convenção, entre os séculos XV e XVIII.
Moderno novo X Medieval velho
Embora ainda utilizemos o recurso da linha do tempo - que atualmente possui diversos usos, desde histórico até biográfico – é sempre importante fazê-lo de forma crítica, entendendo que representa apenas convenções.
Um período histórico não começa e termina com um único evento, por mais importante e significativo que ele seja. O conhecimento e a cultura são frutos de um acúmulo, que ocorre ao longo dos séculos. Temos, portanto, em nosso modo de viver, contemporâneo, diversos legados de períodos anteriores, dos quais alguns são notórios enquanto outros são menos evidentes.
Como exemplo, podemos citar a nossa percepção estética, que é claramente derivada da cultura clássica, greco-romana. Com certeza gostos, culturas e ideais de beleza se alteram, porém de modo lento e sempre deixando resquícios.
Qual delas chamou sua atenção de forma mais imediata?
Seu olhar provavelmente foi direcionado para a primeira imagem, enquanto na segunda é possível que tenha havido um certo estranhamento. Isso acontece porque parte significativa de nossa “educação estética” esteve voltada para os padrões europeus e não para o continente americano.
· A Pietá, esculpida por Michelangelo no século XV, é influenciada pela estética greco-romana.
· A urna marajoara feita pelos povos indígenas brasileiros é do período pré-cabralino e nela se destacam as técnicas de pintura e escultura que fariam da arte marajoara uma das mais importantes da América.
Essa construção estética que observamos foi articulada durante a Idade Moderna, período em que parte da sociedade ocidental como conhecemos se estruturou.
Veja como Deus pode ser retratado de formas diversas.
Idade Antiga
Os fenômenos do mundo e da vida humana eram explicados pela mitologia. Havia deuses que se encarregavam de manter a ordem da Terra e seu funcionamento.
Imagem de Apollo da Antiguidade.
Idade Média
Os deuses deram lugar a um único Deus cristão, em torno do qual o mundo medieval se organizava culturalmente.
A Imagem de Deus Esculpida na Igreja de Vitória em Portugal.
Idade Moderna
O saber científico começa a ganhar espaço.
Iluminura do racionalismo medieval, considerado o movimento pai da modernidade.
Idade Contemporânea
Consolida o saber científico.
O homem que produz conhecimento, aqui representado por Copérnico e a tensão entre as tradições religiosas e Deus.
Período Moderno
A Idade Moderna foi um período de intensos questionamentos e rupturas. Não que, subitamente, tudo se fez novo e tudo que era ultrapassado tenha desaparecido. Mas, aos poucos, surgem novas formas de ver o mundo, novas maneiras de explicar aquilo que se vive.
O ser humano é questionador por natureza; e esse desejo de aprender, sobre si e sobre o ambiente em que vive fortalece e consolida a criação de instituições escolar. Em cada tempo histórico, esse aprendizado teve um fundamento, uma forma de organização.
Importante
Perceba que o fato da Ciência começar a se estruturar como fonte de conhecimento na modernidade não faz, de forma alguma, com que a questão religiosa seja deixada de lado ou esquecida. A religião, em geral, e o cristianismo, em particular, assumem novos papéis na ordem social que se altera progressivamente.
Consolidação do moderno
Dois elementos foram fundamentais para que a Idade Moderna se consolidasse:
Família
A família passou, no século XX, a ser objeto privilegiado de diversos estudos por ser fundamental para a inserção e o desenvolvimento do indivíduo na sociedade.
Com a decadência do feudalismo, um processo que levou séculos, as cidades passaram a recuperar sua importância comercial, com o estabelecimento de feiras e a intensificação do comércio, e aquele que nelas vivia – o burguês – passou a ser sinônimo de comerciante. À medida que alcançava prosperidade financeira, o burguês criava para si um novo tipo de família. Seus filhos deveriam ser instruídos e educados para continuarem seu ofício e assumirem seus negócios.
Escola
A construção de um ambiente governamental que tinha função de dar formação de maneira estruturada aos alunos é um fenômeno moderno. Ainda que existissem escolas – ou espaços que tendemos a atribuir o nome de escolas – no mundo grego, romano e na Idade Média, a ideia de um prédio fundamental, com funções públicas para formação dos sujeitos em níveis diversos é nova.
Mais ainda, se antes dependia-se de professores particulares ou iniciativas da Igreja passamos a falar de modelos previstos em lei, mantidos pelo Estado e com funções de preparar o sujeito para o Estado. Veremos mais sobre a escola – por seus aspectos práticos – no próximo módulo.
Se antes apenas as crianças de origem nobre eram alvo de alguma educação estrutural, agora também se começa a educar fora da nobreza. Um dos principais estudiosos da questão familiar, Philippe Ariès (1914-1984), afirma que:
Os pais não se contentavam mais em pôr filhos no mundo, em estabelecer apenas alguns deles, desinteressando-se dos outros. A moral da época lhes impunha proporcionar a todos os filhos (no fim do século XVII, até mesmo às meninas), e não apenas ao mais velho, uma preparação para a vida.
(ARIÈS,1986, p.277)
Essa estrutura familiar, que se tornou uma das características da modernidade, fez com que surgisse outro conceito que modificaria definitivamente as relações sociais:a infância. Retomando Ariès (1986), no medievo não havia uma grande separação entre as idades, e as crianças eram tratadas como pequenos adultos.
Até então, não houvera grande preocupação com as crianças, seu desenvolvimento, aprendizado ou bem-estar. A mortalidade infantil no medievo era acentuada, a mobilidade social, improvável. Se o destino de uma criança era repetir – se tivesse sorte – o ofício de seu pai, a educação formal, letrada, não fazia sentido.
Foram a modernidade e a retomada do letramento como algo a ser apreciado que modificaram, pouco a pouco, esse cenário. A criança deixou de ser um “adulto em miniatura” e tornou-se um indivíduo com necessidades próprias e sobre o qual ampliam-se as expectativas familiares.
A modificação da forma como a infância era entendida reflete uma alteração no comportamento social, e a escola, elaborada a partir de então, traduz essa mudança. O sentido de aprendizado passa a se estruturar em torno de uma proposta didática que, por sua vez, constitui o cerne de diversas disciplinas e saberes organizados.
Veremos, a seguir, como esses saberes se conformam a partir da perspectiva de movimentos caros à modernidade: o Renascimento, a Reforma e a Contrarreforma.
Reconhecer a Educação no Renascimento
Renascimento
O Renascimento, movimento intelectual ocorrido no final da Idade Média e durante a Idade Moderna, é um tema que tem sido exaustivamente estudado. Não só pela sua importância na concepção da história intelectual do Ocidente, mas também pelas rupturas que provocou na organização do conhecimento até então estabelecido.
Quando falamos em Renascimento, imaginamos a arte do período e seus representantes, como Michelangelo e Leonardo da Vinci.
Essa é a face mais popular do movimento e tem sido constantemente recuperada em filmes e obras literárias de ficção. Não que esse aspecto seja irrelevante; longe disso, a questão estética e cultural é um dos fundamentos da ideologia renascentista. Contudo, é preciso desfazer o equívoco de que esse é o principal aspecto de toda a movimentação intelectual gerada pelos cientistas, artistas e filósofos do período.
Dica
Assista ao filme O Mercador de Veneza, baseado na obra de William Shakespeare, que apresenta uma narrativa envolvente, instigante e ainda nos ambienta na Veneza renascentista. Quer saber mais e conhecer o texto original? Acesse o Explore+ e leia o livro digital.
Renascimento e Arte
O Renascimento não é apenas um. Por ser multifacetado, ele pode ser pensado em aspectos distintos (comercial, urbano, científico e cultural), os quais estão interligados e juntos compõem um quadro de mudanças extraordinárias e de grande movimentação intelectual que marcaria definitivamente o campo da Educação.
A dinâmica do Renascimento é expressa em um movimento de rupturas e continuidades. Por um lado, há a retomada de valores clássicos que passaram a ser discutidos e aperfeiçoados, não só do ponto de vista estético – a arte renascentista recupera em grande medida a arte clássica –, mas também do ponto de vista político e filosófico.
É necessário atentar para a ideia de retomada que tão frequentemente se utiliza ao discutir esse momento. Essa “retomada de valores” não é, sob nenhuma circunstância, uma mera transposição. Historicamente, não é possível fazer uma transposição sem alteração de um período histórico para outro.
Um bom exemplo é a transformação das tecnologias e como elas impactam o mundo. Se antes os livros eram belos e coloridos feitos nos scriptoria, com a prensa de Gutenberg sua produção foi acelerada e houve o aumento de leitores.
Saiba mais
Vamos utilizar o pensamento do filósofo Heráclito de Éfeso, que viveu no século V a.C., para compreendermos melhor essa impossibilidade. Ele afirmava que uma pessoa jamais se banharia duas vezes no mesmo rio, pois suas águas nunca são as mesmas; estão sempre fluindo. Da mesma forma, a humanidade muda todos os dias: suas ideias, concepções, gostos e opiniões são impermanentes. Em essência, o pensamento de Heráclito traduz a ideia de mutação constante.
Quando se recuperam valores ou modos de pensar que existiram no mundo clássico greco-romano, eles são adaptados ao pensamento moderno, ou seja, a um tempo diferente daquele em que foram originalmente concebidos. Portanto, por mais que o pensamento renascentista traga para a modernidade conceitos clássicos, como a ideia de cidadão, ele o faz de acordo com seu próprio tempo e não apenas reproduzindo o que se entendia como cidadão na Antiguidade.
O Renascimento foi um terreno fértil para que se discutisse a condição humana. As mudanças no modo de vida da população, a substituição progressiva do sistema feudal pela centralização política, a recuperação e dinamização do comércio trouxeram novos questionamentos ao indivíduo moderno e, dentre eles, qual era a natureza humana de fato e, sendo ela estabelecida, qual o papel do Estado no seu controle.
À medida que o Feudalismo, fundamentado na fragmentação de poder, era substituído pela centralização política, tornava-se importante compreender o Estado que derivaria dessa centralização.
Vejamos alguns pensadores que retrataram essa mudança.
Pensadores
O pensamento educacional no Renascimento e no movimento intelectual que o segue, o Iluminismo, se estrutura apoiado em diversos autores. Analisaremos dois diferentes pensadores para compreendermos suas ideias e como eles influenciaram o campo da educação.
Comecemos pelo italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527), autor de uma das principais obras de política já produzidas, O Príncipe; um manual de política escrito no século XVI, que expunha suas principais ideias acerca da arte de governar.
Importante
De sua obra-prima nasceu o termo maquiavélico, que adquiriu o sentido de luta e manutenção do poder a qualquer custo.
Os estudiosos da obra de Maquiavel contestam amplamente esse sentido porque - apesar de ter afirmado que os fins justificam os meios - há ressalvas e condicionantes, como a ideia de justiça e bem comum, também trabalhadas pelo filósofo.
Quais as funções de um rei e suas obrigações com o povo?
Quais os limites impostos ao soberano, se é que deve haver limites?
Esses questionamentos estão no cerne da obra de Maquiavel e, em busca dessas respostas, o filósofo discorre extensamente sobre a natureza humana, o Estado e o papel da Educação.
Note que não é ainda a ideia de educação formal como mais tarde seria estruturada, mas uma educação prática, para a vida em sociedade.
Maquiavel e outros pensadores que o sucederam entendiam que o ser humano em estado natural tende a ser selvagem. Sem um Estado e leis que o regulem, ele é dominado por suas paixões e seus desejos, tomando para si aquilo que cobiça sem que haja consequências ou punições. Essa natureza torna impossível a vida em sociedade, pois - sem disciplina e regulamentos, além de uma figura de autoridade para impor, mesmo que com o uso da força - não haveria a ordem social.
A educação dá-se pelo exemplo. Cabe ao governante educar pelo exemplo para que se construa o sentido da cidadania e formem-se bons cidadãos. Como colocam Oliveira e Rubim (2012):
Depreende-se das reflexões de Maquiavel que ele concebe o ser humano como agente de seus atos, portanto capaz de escolher seu caminho, pelo fato de possuir livre arbítrio, mas precisa de um direcionamento que o ajude a fazer as escolhas corretas. Esse direcionamento pode ser realizado por meio do exemplo do governante, pela educação e com boas leis.
(OLIVEIRA e RUBIM, 2012)
É importante percebermos que esse sentido de educação pelo exemplo é uma das primeiras concepções de educação da modernidade. Na ausência de um formalismo, o mestre torna-se exemplo daquilo que deve ser aprendido. Essa ideia de mestre e discípulo, de aprendizado pelo exemplo, já existia na Antiguidade entre as primeiras escolas filosóficas, onde também se debatia a natureza humana e seu comportamento social. Esse é um exemplo de retomada de valores clássicos, adaptados por Maquiavel ao mundo moderno.
A Educação para Maquiavel estava, inegavelmente, vinculada à virtude. Masele não é o único pensador moderno que entendia a educação dessa maneira.
O sentido de virtude aparecia em outras propostas pedagógicas, como a do filósofo inglês John Locke (1632-1704).
Autores contratualistas
O pensamento de Locke faz parte do que chamamos de autores contratualistas.
Esses pensadores acreditavam na existência de um contrato social que seria, de forma bastante resumida, um contrato tácito entre Estado e indivíduo. Para ter direito à vida em sociedade, à manutenção da propriedade e à garantia da vida e da segurança, o indivíduo abriria mão de seu direito fundamental, a liberdade, legando ao Estado o direito de prender, julgar e punir com a privação da liberdade e, em casos extremos, da vida para garantir o bem comum.
A despeito de considerar Deus como fundamental para o desenvolvimento das sociedades, Locke condena a participação da Igreja em assuntos de Estado. Durante a Idade Média e boa parte da Idade Moderna, Igreja e Estado funcionavam como um e, não raro, a Igreja Católica possuía prerrogativas de Estado, como julgar e punir.
Podemos tomar como exemplo o processo da Inquisição, que teve início na Europa do século XII. A despeito de seu caráter religioso, os inquisidores eram dotados de amplos poderes políticos, podendo prender, conduzir julgamentos, proceder investigações, punir e até condenar à morte.
Apesar de os renascentistas questionarem e criticarem a Igreja como instituição, entendiam-na separada da fé em Deus. Os movimentos do Renascimento não eram ateus, mas colocavam em xeque as instituições e a forma como elas se relacionavam.
O racionalismo renascentista permitiu que essas discussões ocorressem. Esse princípio buscava compreender o mundo por meio da observação dos fenômenos, recusando explicações simplistas ou de caráter religioso. Mesmo os questionamentos simples, possuíam anteriormente, respostas teológicas.
A partir do momento em que o ser humano se dedica a estudar o mundo que o cerca a partir de outro olhar que não seja o religioso, diferentes explicações tornam-se possíveis, e a Ciência começa a se estruturar como fonte legítima de conhecimento.
A Física, a Química, a Medicina e a Botânica passam a oferecer novas formas de compreender o mundo. Essas ciências se baseiam no empirismo, na observação dos fenômenos.
O empirismo foi um dos pilares da modernidade e, como pensamento, está presente até nossos dias.
Locke fundamentou dinâmicas pautadas na liberdade e na condição social de formação do sujeito. A partir desses fundamentos, formulou uma série de propostas pedagógicas que acreditou serem importantes para estabelecer princípios educacionais sólidos e bem-sucedidos. Essas propostas foram reunidas em sua obra Alguns pensamentos sobre a Educação, produzida em 1693.
Para Locke, a educação possuía um caráter eminentemente moral. De nada adianta a um indivíduo dominar os princípios da Ciência se isso não o torna uma pessoa e um cidadão melhor. Vemos aí uma sofisticação da premissa maquiavélica de educação virtuosa posto que, também segundo Locke, a Educação deve servir a um propósito maior.
A preocupação com o mestre, que Locke chama de tutor, é constante:
O preceptor não deve ser somente um indivíduo bem educado; é preciso que conheça o mundo, os costumes, os gostos, as loucuras, as mentiras, as faltas do século em que o destino tem lançado, sobretudo, o país em que vive. É preciso que saiba fazer conhecer e descobrir tudo isso a seus discípulos, à medida que estes se capacitam para compreender; que os ensine a conhecer os homens e seus caracteres; que descubra a careta com que disfarçam com frequência seus títulos e suas pretensões; que faça distinguir o que está oculto no fundo dessas aparências.
Educar pelo exemplo, educação para cidadania. Esses princípios são fundamentais para compreender a Educação no Renascimento. A eles, Locke acrescenta um outro viés, herdado das concepções greco-romanas: a saúde e o desenvolvimento físico. Locke demonstra cuidado no aperfeiçoamento moral e físico do ser humano.
Renascimento ou Iluminismo?
Você já deve ter notado que é muito comum confundir o pensamento Renascentista com o Iluminista. Embora o primeiro tenha acontecido nos séculos XV e XVI e o segundo no século XVIII, parece que são a mesma coisa. Não são! Contudo, são inegáveis as influências e continuidades na ruptura desses pensamentos.
A razão e a empiria renascentista eram alguns dos pilares do movimento iluminista, que ocorreu no século XVIII. Esse período ficou conhecido como Século das Luzes, em oposição às trevas que obscureciam a razão. Cada vez mais razão e ciência passaram a ser vistas como fontes de conhecimento, e aumentava a necessidade de se educar com base nos princípios da empiria e da razão.
Um de seus principais representantes, no que toca ao debate acerca do conhecimento e do aprendizado, foi Immanuel Kant (1724-1804).
Sua proposta fundamentava-se na seguinte ideia:
Todo conhecimento deve ser questionado afastando, cada vez mais, o conhecimento científico do teológico.
Partindo desse princípio, Kant foi além; defendia que devemos criticar a própria razão e que nem mesmo ela é imune a erros. Sobre a pedagogia kantiana, Silva (2007) afirma que:
A pedagogia expressa na filosofia kantiana, embora fiel aos ideais iluministas, é, ao mesmo tempo, uma crítica a esses mesmos ideais. Para Kant, a razão jamais deve prescindir de uma crítica de sua própria capacidade. A preocupação essencial do filósofo com a educação insere-se no campo da moral, posto que o ser humano não nasce moral, mas torna-se por meio da educação, cuja função primordial consiste em fazer despertar a reflexão crítica no aluno. A formação do caráter na pedagogia kantiana assenta-se no cultivo da boa vontade, cujo fundamento é o imperativo categórico que, por meio do exercício crítico da razão, une o subjetivo e o objetivo, o individual e o coletivo numa mesma ordem.
(SILVA, 2007)
· Vamos analisar a proposta kantiana, relacionando o que estudamos neste módulo. Construa seu próprio texto.
Resposta - O pensamento kantiano pauta-se na crítica à razão pura; a ideia de uma razão divina como a religiosa não interessa. A razão é uma faculdade, um exercício, capacidade que todos os sujeitos possuem, mas que, para ser plena, precisa ser prática, vivenciada. A relação do pensamento kantiano com o Renascimento vem da percepção de ruptura do entendimento de mundo. É fácil fazer a velha dicotomia entre teocentrismo × antropocentrismo, mas só tem lógica se percebermos que tudo o que se refere ao mundo, suas transformações, deve-se à capacidade humana de produzir, pensar, destruir e reelaborar. A Educação, portanto, seria o fiel dessa balança; é o que transforma algo que é basicamente do coletivo em práticas e construções diversas, não cabendo a ideia de orar para obter uma revelação ou a salvação, mas competindo ao ser humano tornar-se o efetivo agente de transformação do mundo.
Identificar o movimento da Reforma, da Contrarreforma e o modelo de educação jesuítica implantado no Brasil
Religião no Renascimento
Apesar da Idade Moderna ter sido marcada pelo enaltecimento da razão, o quesito religioso não deixou de ser importante. Seria um equívoco enorme imaginar que suas manifestações não estavam em meio à religião.
Se na Idade Média a religião era o centro do conhecimento e da vida em sociedade, na Idade Moderna ela se modificou e adquiriu novo sentido.
Isso ocorre, em parte, devido às transformações, como os movimentos renascentistas, e pelo movimento de Reforma Religiosa. As obras de Michelangelo são encontradas no Vaticano e não chegaram lá por acidente!
Veja: se as ideias mudaram, a vida social mudou, tornando-se mais individualista, e o próprio conceito de Ciência se alterou; certamente a religião, parte tão importante da cultura ocidental, também sofreu mudanças.
No caso da Igreja Católica, as propostas de mudança remontam ainda à Idade Média. Ao longo do tempo, a Igreja se tornara uma grande proprietária de terras, acumulando imensa riqueza e poder. Sua soberania e influência política na maiorparte dos reinos europeus entrava em contradição com aquilo que era pregado pela Bíblia, sobretudo no que diz respeito ao Novo Testamento.
O papel primeiro da Igreja, salvar almas, foi, na visão de seus críticos, sendo deixado de lado.
A Arte é um bom relevo do poderio da Igreja e da contradição de sua força social. Essa representação foi feita de muitas formas, contudo uma das melhores é absorver toda a dor e a contradição nos detalhes das obras de Caravaggio. A perspectiva, a Arte, a serviço da crença.
À medida que a instituição enriquecia, afastava-se das questões espirituais e se aproximava do campo da política.
Reforma Religiosa
Não havia uma separação entre Igreja e Estado. Isso significa que a Igreja podia prender e julgar aqueles que, segundo seu entendimento, cometessem crimes de fé, como renegar princípios católicos. A despeito do temor que as punições provocavam, diversos pensadores, chamados de reformistas, questionavam a conduta da Igreja Católica, o que desencadeou, na Idade Moderna, na chamada Reforma Religiosa.
Um dos primeiros pensadores a questionar a doutrina e a conduta da Igreja Católica foi Jan Hus (1369-1415), ainda no século XIV. Para Hus, a Igreja devia se aproximar de seus fiéis e, por essa razão, defendia que as missas deviam ser celebradas na língua de cada povo.
A modificação do idioma para facilitar a compreensão da missa (naquela época, as missas eram rezadas somente em latim, idioma que a população não compreendia) tornou-se um tema constante para os reformistas, os quais acreditavam que dessa maneira poderiam aproximar os fiéis da prática religiosa.
Embora houvesse punições severas, elas não impediram o movimento reformista. Diversas contradições eram apontadas pelos críticos da Igreja:
Comércio de relíquias
Enriquecimento ao invés da caridade
Venda de indulgências
Adoração de santos
Celibato
Importante
A condenação da usura, do enriquecimento pelo lucro, incomodava particularmente a burguesia, que tinha aí sua fonte de riqueza. Além disso, era visto como contraditório a Igreja ser uma instituição rica, mas não permitir que a população também o fosse. À medida que essas contradições se tornavam mais evidentes, os reformistas foram ganhando apoio não só das classes burguesas, mas também de alguns governantes, reis e príncipes, cujo poder era cerceado pela interferência eclesiástica.
Atuação de Lutero
É nesse contexto que as reformas de Martinho Lutero (1483-1546), considerado o Pai da Reforma Protestante, ganham força. Daquilo que via como contradição, era a venda de indulgências um dos principais alvos de suas críticas.
Sua recusa em retroceder em suas críticas o fez ser excomungado em 1521. Sua defesa da salvação somente pela fé, no entanto, o fez ser acolhido em principados dos quais se tornou protegido.
As propostas teológicas de Lutero logo se espalharam, em parte, devido a uma invenção que modificou o mundo intelectual: a imprensa. A impressão de livros permitiu que a Educação ganhasse corpo e que a leitura, antes restrita, começasse a ser popularizada. O reformista traduziu a Bíblia para o alemão, aumentando assim o número de pessoas com acesso à sua doutrina.
Martinho Lutero e a Reforma Protestante provocaram uma enorme mudança na Educação, posto que na Idade Média cabia apenas à Igreja Católica o papel de ensinar, além de ela monopolizar a produção de livros.
Dica
Assista ao filme O Nome da Rosa, de 1986, baseado no romance homônimo do crítico literário italiano Umberto Eco; No filme, é possível ver o scriptorium de um mosteiro medieval, onde os monges se dedicavam à cópia dos livros permitidos pela Igreja.
Lutero estimulava o desenvolvimento da Educação a fim de que não fosse restrita à elite e à nobreza, mas alcançasse a população para que esta pudesse ler a Bíblia livremente, permitindo-lhe se aproximar de Deus e de sua própria salvação.
Contrarreforma
A Reforma Protestante provocou a resposta da Igreja Católica, conhecida como Contrarreforma Católica. Foi realizado então o Concílio de Trento, que começou em 1545, cujas competências eram:
· Reforçar a autoridade do Tribunal da Inquisição (que existia desde o século XIII)
· Estabelecer o Index Librorum Prohibitorum (uma lista de livros que deveriam ser abolidos e cuja leitura era proibida)
· Enfatizar a autoridade papal (segundo a doutrina, o papa era infalível, o que era criticado pelos reformistas)
· Constituir os seminários para promover e controlar a formação do corpo eclesiástico
Importante
Não podemos esquecer que o século XVI foi o século da Expansão Marítima. Os reinos europeus se lançaram ao mar a fim de conquistar novas terras e chegaram ao continente americano, habitado por povos que desconheciam o cristianismo. Para a Igreja, a conversão dos povos nativos da América era fundamental para manter seu corpo de fiéis e consolidar sua influência no novo continente.
É importante explicar que uma historiografia vista mais de perto observa que não podemos considerar a Contrarreforma como uma resposta pura e simples, mas sim como a consolidação de um processo que a Igreja já experimentava: retomar seus preceitos conservadores, rompendo ciclos de “devassidão” muito atribuídos a papas como Rodrigo Borgia, recuperando os mandamentos que marcam a Igreja.
A fundamentação teológica da Igreja é que, se houve perda de fiéis, foi porque alguns fundamentos, caminhos, precisavam ser recuperados, os desvios combativos.
A fé precisava ser quente, pregada; ainda que o ideal das missões militares do período das cruzadas não devesse mais existir, seu sentido missionário – cumprir e atender uma missão – deveria ser alcançado.
Reforma e Contrarrefoma
Neste vídeo, Rodrigo Rainha e Flavia Miguel debatem a Reforma e a 
Os jesuítas
Santo Inácio de Loyola (1491-1556) deixou a Autobiografia com a qual podemos conhecer um pouco mais de suas inspirações. Na obra, sobre a Educação, ele afirma:
“exercitava-se em dar exercícios espirituais e a declarar a doutrina cristã, e com isso fazia-se fruto para a glória de Deus. E houve muitas pessoas que chegaram a grande conhecimento e gosto de coisas espirituais.”
(AUTOBIOGRAFIA, Santo Inácio de Loyola)
O exercício do ensinar e do aprender não podia ser para si, mas para conduzir, para levar os outros à divindade, à salvação. O princípio máximo jesuítico era ensinar o caminho da salvação e, para isso, era necessário ser educado, direcionado.
Os jesuítas eram considerados uma ordem militar. Sua missão era converter os povos não cristãos e desde sua origem aproximaram-se da Educação, seguindo o que ficou conhecido como metodologia inaciana, em referência ao fundador da ordem, Inácio de Loyola. Sua pedagogia estava fundamentada no Ratio Studiorum, publicado em 1599.
Saiba mais
Os jesuítas chegaram ao Brasil com o Governo Geral, em 1549, portanto, antes da publicação do Ratio Studiorum. Nos primeiros anos da presença jesuíta, destaca-se a atuação do padre Manoel da Nóbrega (1517-1570), que criou os aldeamentos, locais onde os índios de diferentes etnias eram agrupados a fim de serem catequizados.
Não podemos esquecer que a prática pedagógica jesuíta possuía um objetivo: converter os não cristãos. Além disso, a visão do europeu sobre o indígena era extremamente etnocêntrica, desconsiderando que esses povos tinham sua própria cultura e formas diversas de organização.
Os primeiros ensinamentos jesuítas focavam o domínio da língua portuguesa pelos indígenas, o estudo da doutrina católica e, posteriormente, o aprendizado de um ofício. Os jesuítas viviam junto aos índios, nos aldeamentos, para coordenar e manter o processo de catequese. Surgem então os chamados colégios jesuítas, aos quais se deve a fundação de cidades como São Paulo, cujo núcleo de povoamento inicial se deu através do colégio fundado por Manoel da Nóbrega e José de Anchieta, denominado Colégio de São Paulo de Piratininga.
Com o estabelecimento do Ratio Studiorum, os jesuítas ganharam uma importante ferramenta pedagógica. Esse manual determinava não só os conteúdos e as disciplinas que deveriam ser ministrados, mas se detinha deforma detalhada na própria prática docente que seria aplicada pelos membros da ordem.
José de Anchieta e a Educação no Brasil
Anchieta foi um dos precursores do processo de educação no Brasil, estando no entorno da fundação de algumas das principais cidades, como Rio de Janeiro, e ativo em Salvador e São Vicente. Organizou missões entre os Tapuias e coordenava as terras e ações jesuíticas no Brasil.
O modelo de constituir missões e colégios nos quais os membros do corpo jesuítico se organizavam e estruturavam a sua presença foi outra marca importante, sendo Anchieta figura vital para entender a fundação da cidade de São Paulo (ainda chamada de marco zero), com o estabelecimento do colégio jesuíta na cidade.
No Rio de Janeiro, os jesuítas ocupavam o Morro do Castelo e possuíam algumas grandes propriedades de terra, nas quais mantinham um sistema econômico e sua busca de troca e catequização dos indígenas. Chama a atenção a variedade dessas atuações ao longo de todo litoral, sendo considerados salvadores e inimigos, aliados do governo e grupos perigosos ao longo de nosso período colonial. Por quê? Onde existia interesse na escravização de indígenas, como nas fronteiras do Norte e de São Paulo, sua atuação era vista como um problema, um empecilho econômico. Em áreas de conflito, o seu uso como interlocutores era visto como uma possibilidade de ocupação e dinamização com o território.
Anchieta é notório pelas práticas empreendidas. O volume de cartas trocadas entre ele e a sede da ordem na França, permite-nos perceber o cotidiano. Anchieta é precursor também do estudo do vocabulário Tupi, criando um dicionário, o que demonstra a tentativa que somente muitos anos depois veríamos ser defendida em nossa República. A catequese e a tentativa de levar o texto de forma didática é outro elemento importante, com a adoção do teatro e das dinâmicas do lúdico para entendimento.
Importante
É importante frisar que o Ratio Studiorum foi um dos primeiros planejamentos pedagógicos e escolares da educação ocidental, tendo influenciado a Pedagogia séculos depois de sua elaboração. Constitui-se de uma sistematização inédita de métodos, teorias, procedimentos curriculares que se tornaram um dos pilares da pedagogia moderna.
A despeito do objetivo catequético, o Ratio Studiorum teve como fundamento a formação do indivíduo, considerando aspectos como virtude e caráter, aliando as Artes Liberais e as Letras, unindo campos como Retórica e Gramática, além da Teologia. Coube, portanto, aos jesuítas, o primeiro modelo educacional brasileiro, que influenciou, de uma forma ou de outra, todos os demais que o seguiram.
Distinguir as linhas do pensamento pedagógico na modernidade
A Pedagogia na modernidade
A Idade Moderna trouxe uma preocupação com a natureza do conhecimento, o que levantou alguns questionamentos:
Qual o método de aprendizagem mais eficiente?
Como acontece o aprendizado?
O aprendizado se dá somente por aquilo que aprendemos ao longo da vida?
Nascemos com algum conhecimento?
Nascemos como telas em branco?
Apesar de terem sido formulados há séculos, alguns desses questionamentos ainda não possuem uma resposta consensual. É o caso do conhecimento inato. Nascemos com algum tipo de conhecimento ou somos uma tabula rasa como dizia John Locke?
Saiba mais
A expressão em latim tabula rasa tem o sentido de “folha de papel em branco”. Busque saber mais sobre esse conceito de Locke e aprofunde seus conhecimentos!
Você consegue reparar que nossa forma de ver, pensar e discutir a Educação tem muita influência desse momento?
Essa época trouxe modelos que ainda nos guiam e ofertam possibilidades de vivenciar a Educação.
Vamos conhecer essa herança!
Como educar
Se, na Idade Média, não houve uma grande preocupação em sistematizar a Educação para todos, de modo geral, a partir de então se começa a pensar qual a melhor e mais eficiente forma de educar.
O pensamento moderno foi muito importante para se debater a natureza do conhecimento. A disciplina, tão importante na Idade Média e na educação religiosa, seria rediscutida, sendo revista como o principal fator do aprendizado.
Importante
Não houve uma ruptura definitiva. Os projetos pelo racionalismo e pela empiria influenciaram o processo iluminista, passaram a se digladiar e acabaram se unindo.
Autores
Para entender esse projeto, precisamos conhecer um autor muito importante: Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827). Ele escreveu depois do início do movimento que marcou a modernidade, porém tornou-se um ícone desse movimento por não estar preso à dinâmica do pensamento iluminista francês, mas às demais correntes filosóficas presentes na sociedade.
Saiba mais
No final do século XVIII, a Suíça foi invadida pela França durante as chamadas Guerras Napoleônicas. Essa invasão provocou um aumento no número de crianças órfãs. Pestalozzi reuniu as crianças para que fossem cuidadas e educadas, desenvolvendo algumas de suas ideias mais significativas a partir de então.
Para Pestalozzi, o afeto seria um dos principais componentes do processo educacional. É o amor que estimula a criança a aprender, preenchendo-a de dentro para fora. Sua teoria comparava a escola a uma casa. Uma casa bem organizada funciona a partir do amor e da disciplina.
A disciplina não seria o principal fator do aprendizado, mas sim o afeto. O que não quer dizer que ela fosse deixada de lado, apenas não seria obtida a partir de castigos e punições.
Antes de se dedicar à Educação, Pestalozzi tentou ser agricultor, tarefa na qual não obteve sucesso. Essa curta experiência permitiu que ele comparasse a criança à semente, referindo-se ao potencial que esta teria se bem cuidada.
Os valores e o desenvolvimento moral seriam, em sua perspectiva, mais importantes do que somente o conteúdo que pudesse ser aprendido. O aprendizado se dá pela prática e pelo exemplo dos mestres. Pestalozzi entendia que alunos e mestres deveriam compartilhar todos os aspectos da vida, frequentemente vivendo no mesmo lugar e estimulando o pensamento autônomo, o que faria da criança um indivíduo racional e moral.
Suas ideias, extremamente avançadas, encontraram eco e se tornaram o fundamento de práticas educacionais que aboliram, progressivamente, a disciplina de forma repressora e violenta, buscando uma educação mais autônoma e harmônica.
Se a afetividade de Pestalozzi se afastava do caráter científico proposto pela Idade Moderna, não podemos dizer o mesmo das teorias de Johann Friedrich Herbart (1776-1841). Ao compartilhar a ideia de Locke sobre a tabula rasa, entendendo que nascemos desprovidos de conhecimento e o vamos adquirindo ao longo da vida, Herbart via a Educação como uma ciência.
Coube a Herbart a tarefa de cientificizar a Pedagogia, dotando-a de métodos, formas de medir e de avaliar o conhecimento obtido. Um aspecto fundamental – e revolucionário – em sua obra foi a aproximação com a Psicologia, ciência que, no início do século XIX, ainda engatinhava.
Assim como Pestalozzi, Herbart também defendia que o objetivo final do processo educativo era a formação moral e não meramente conteudista, mas entendia que a forma para chegar a esse objetivo era distinta da afetividade proposta por Pestalozzi. Sua proposta se dividia em três procedimentos fundamentais:
Governo
Controle comportamental.
A criança deveria educar seu comportamento. Os primeiros educadores, neste caso, eram os pais e depois os professores.
Instrução
O processo de aprendizado era baseado nos interesses e nas aptidões do educando.
Para Herbart, a instrução moral e intelectual eram parte de um único processo, formando um indivíduo pleno.
Disciplina
Fundamentada na autonomia. Cabia ao próprio aluno manter-se fiel aos princípios aprendidos e focar na aquisição do conhecimento.
A disciplina era vista como uma virtude a ser desenvolvida.
Dos três processos, a instrução - o processo de aprendizado propriamente dito - seria o mais importante. Não podemos desvincular a pedagogia científica de Herbart do seu contexto de produção.
Herdeira da tradição iniciada por Kant acerca da racionalidade e darazão, essa pedagogia é fruto das transformações intelectuais ocorridas entre os séculos XVIII e XIX. A Idade Moderna era baseada no individualismo enquanto a Pedagogia, progressivamente, voltava-se para uma concepção mais coletiva, o aprender como prática social.
Importante
Tanto Herbart quanto Pestalozzi trabalharam o aprendizado como algo individual, particular, o que a Pedagogia contemporânea tende a rejeitar como objetivo final do processo educativo.
A criança saiu do adulto em miniatura, na Idade Média, para o sujeito do pensamento pedagógico nos séculos XVIII e XIX. Essa premissa se torna mais evidente ao estudarmos o pensamento de um dos mais notáveis discípulos de Pestalozzi, o alemão Friedrich Wilhelm August Fröbel (1782-1852).
Assim como Pestalozzi, Fröebel foi criado na doutrina protestante, o que influenciou sobremaneira seu pensamento. Desenvolveu várias ideias de Pestalozzi, criando o primeiro segmento educacional voltado totalmente para a criança, o que chamamos de jardim de infância.
A ideia de jardim vem do princípio de a prática do educador ser semelhante à do jardineiro, que cuida de suas plantas até que alcancem seu total desenvolvimento. A expansão das potencialidades da criança seria alcançada não somente pelo aprendizado rígido, mas por uma proposta lúdica.
Fröebel foi quem primeiro entendeu o brincar como uma forma de aprender e desenvolveu a ludicidade como ferramenta pedagógica. Ainda preso ao individualismo da modernidade, Fröebel propôs o desenvolvimento autônomo, não vinculado a uma prática coletiva, embora focasse também na moralidade como objetivo do processo de aprendizagem.
É interessante notar que esses pensadores têm em comum a ideia de uma educação prática.
Que o aprendizado só ocorre através do fazer e que a teoria, sozinha, é algo vazio. Essa característica está muito ligada à modernidade, em que a ideia do “saber fazer” se desenvolve dotando a Educação de seu caráter prático.
Evolução não linear da Educação
Os fatores culturais renascentistas contribuíram para a busca de uma melhor forma de educar. Embora os desdobramentos históricos desse movimento não tenham seguido uma linearidade, ora sendo influenciados pela Ciência, ora pela religião, também não se pode dizer que sofreram um ruptura definitiva; ainda somos guiados por alguns desses modelos quando vivenciamos a Educação.
Para ajudá-lo a entender melhor como o modo de ver a Educação foi influenciado ao longo da História pelo contexto de cada época, faça o download do esquema.
Verificando o Aprendizado
Atenção!
Para desbloquear o próximo módulo, é necessário que você responda corretamente a uma das questões a seguir.
Conclusão
Considerações finais
Falamos sobre Renascimento ou de modernidade? De ambos! Modernidade é um termo genérico criado para definir o momento de ruptura e afirmação do poderio Europeu.
Apesar de sua construção, ele é cheio de contradições, que você acompanhou ao longo deste tema. Então, uma vez que, no século XV – XVI, a Europa inaugura uma ruptura do pensamento, conhecida como Renascimento, descortina-se um conjunto enorme de possibilidades. Ao mesmo tempo, o campo religioso se coloca em disputa na Reforma × Contrarreforma, chegando até o Brasil e marcando a questão jesuítica.
A Educação é influenciada e passa a ser uma métrica ocidental, valorizada, que aponta para o entendimento do nosso mundo. O Renascimento foi a pedra angular que inaugurou uma profunda mudança de nosso mundo.
Conquistas
 Conquistou a habilidade de conceituar modernidade para a História
 Reconheceu a Educação no Renascimento
 Identificou o movimento da Reforma, da Contrarreforma e o modelo de educação jesuítica implantado no Brasil
 Distinguiu as linhas do pensamento pedagógico na modernidade
Conteudista
Flavia Miguel de Souza - Currículo Lattes
Referências
AUTOBIOGRAFIA de Santo Inácio de Loiola. Braga, Portugal: Editorial A.O., 2005.
ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 2012.
ALBUQUERQUE, C. Preparados para atuação docente? Curitiba: APPRIS, 2016.
AMES, J. L. Maquiavel e a educação: a formação do bom cidadão. Trans/Form/Ação, São Paulo, 31(2): 137-152, 2008
Disponível em:http ://www2 .marilia .unesp .br /revistas /index .php /transformacao /article /view /986 /889. Acesso em: 31 jan. 2020.
ARIÈS, P. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.
BALABAN, J. P. Concepção de Educação no Pensamento de John Locke.
Disponível em: https ://egov .ufsc .br /portal /conteudo /concep %C3 %A7 %C3 %A3o -de -educa %C3 %A7 %C3 %A3o -no -pensamento -de -john -Locke. Acesso em: 31 jan. 2020.
CAMBI, F. História da pedagogia. São Paulo: UNESP, 1999.
COMBY, J. Para ler a História da Igreja. Tomo 1. São Paulo: Edições Loyola, 2001.
LOCKE, J. Alguns pensamentos sobre a Educação. Lisboa: Edições 70, 2019.
MAQUIAVEL, N. Discursos sobre a primeira Década de Tito Lívio. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
NASCIMENTO, C. T. et al. A construção social do conceito de infância: uma tentativa de reconstrução historiográfica. In: LINHAS, Florianópolis, v. 9, n. 1, p. 4, n. 18, jan. / jun. 2008.
Disponível em: http ://www .periodicos .udesc .br /index .php /linhas /article /viewFile /1394 /1191. Acesso em: 31 jan. 2020.
NISKIER, A. Filosofia da educação: uma visão crítica. São Paulo: Loyola, 2001.
OLIVEIRA, T.; RUBIM, S. R. F. Reflexões sobre a influência de Maquiavel na educação e na formação do Estado Moderno. In: Educação em Revista. Belo Horizonte, v. 28, n. 1, p. 131-156, mar. 2012.
SILVA, L. Kant e a Pedagogia. In: Revista Inter Ação, 32(1), 33-45. 2007.
TODOROV, T. O espírito das luzes. São Paulo: Barcarolla, 2008.
Explore+
1. Acesse o site do museu do Vaticano e faça um tour virtual. Perceba como a cultura renascentista – crítica ao pensamento religioso – manifesta-se fortemente nos espaços da cultura religiosa.
2. Pesquise na internet sobre a cidade de Ouro Preto-MG, capital do Barroco, e veja a Arte misturando os elementos renascentistas, a tradição colonial brasileira e a influência da Igreja; projetos concorrentes que se criam e acabam impactando a Educação.
3. Para aprofundar seu conhecimento, leia os artigos a seguir:
· O jogo e o desenvolvimento infantil na teoria da atividade e no pensamento educacional de Friedrich Fröebel, de Alessandra Arce.
· Uma leitura não tradicional de Johann Friedrich Herbart: autogoverno pedagógico e posição ativa do educando, de Claudio A. Dalbosco.
· A noção de tabula rasa em Locke (p. 251-256), de Giorlando Madureira de Lima.
4. Procure assistir ao vídeo: Os Primeiros Tempos: A Educação pelos Jesuítas, da UNIVESP.
5. Inspirado pelo contexto da época? Viva um pouco dessa experiência por meio da obra O mercador de Veneza, de William Shakespeare.
 
Definição
 
Explicação das importantes mudanças ocorridas em âmbito mundial, pois o que 
foi vivido no passado ainda está presente na contemporaneidade. 
Esclarecimento de como a aliança entre Educação e Renascimento inaugurou 
a ideia de 
modernidade e construiu a cultura ocidental diante do embate: 
tradição versus pensamento moderno.
 
Propósito
 
Entender o mundo contemporâneo a partir do reconhecimento da modernidade, 
do pensamento renascentista e dos embates com a religião. Buscar o passado
 
que nos identifica a fim de apontar a origem de nossa língua, de nossa história 
e os caminhos que marcam nossa maneira de pensar a Educação.
 
Objetivos
 
·
 
Módulo I
 
Conceituar modernidade para a História
 
·
 
Módulo II
 
Reconhecer a Educação no Renascimento
 
·
 
Módulo I
II
 
Identificar o movimento da Reforma, da Contrarreforma e o modelo de 
educação jesuítica implantado no Brasil
 
·
 
Módulo IV
 
Distinguir as linhas do pensamento pedagógico na modernidade
 
Conceituar modernidade para a História
 
Introdução
 
 
Definição 
Explicação das importantes mudanças ocorridas em âmbito mundial, pois o que 
foi vivido no passado ainda está presente na contemporaneidade. 
Esclarecimento de como a aliança entre Educação e Renascimento inaugurou 
aideia de modernidade e construiu a cultura ocidental diante do embate: 
tradição versus pensamento moderno. 
Propósito 
Entender o mundo contemporâneo a partir do reconhecimento da modernidade, 
do pensamento renascentista e dos embates com a religião. Buscar o passado 
que nos identifica a fim de apontar a origem de nossa língua, de nossa história 
e os caminhos que marcam nossa maneira de pensar a Educação. 
Objetivos 
 Módulo I 
Conceituar modernidade para a História 
 Módulo II 
Reconhecer a Educação no Renascimento 
 Módulo III 
Identificar o movimento da Reforma, da Contrarreforma e o modelo de 
educação jesuítica implantado no Brasil 
 Módulo IV 
Distinguir as linhas do pensamento pedagógico na modernidade 
Conceituar modernidade para a História 
Introdução

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