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Capítulo 14 Desenvolvimento do sistema gastropulmonar Poul Hyttel Com os dobramentos craniocaudal e lateral do disco embrionário trilaminar, o saco vitelino primitivo, revestido dorsalmente pelo endoderma e lateral e ventralmente pelo hipoblasto, é dividido em um tubo intraembrionário revestido pelo endoderma e um saco vitelino extraembrionário revestido pelo hipoblasto (Fig. 14-1). Esses dois compartimentos inicialmente comunicam-se através de uma larga abertura no cordão umbilical em desenvolvimento; mais tarde, esta comunicação torna-se estreita formando um delgado ducto vitelino que persiste enquanto o saco vitelino estiver presente (Cap. 9). O tubo intraembrionário, revestido pelo endoderma e recoberto pelo mesoderma esplâncnico, é denominado intestino primitivo. 330 Fig. 14-1 Desenvolvimento do intestino primitivo ao longo dos estágios da gestação (A-D). A: O disco embrionário trilaminar composto de ectoderma (1), mesoderma (2), e endoderma (3) projeta-se na cavidade amniótica (4). As setas indicam os dobramentos craniocaudais do disco embrionário. O saco vitelino primitivo (5) é revestido dorsalmente pelo endoderma e nas demais regiões pelo hipoblasto (6). 7: Trofecdoderma; 8: Celoma extraembrionário; 9: Broto do alantoide. B: Desenvolvimento do broto do alantoide (9). C: O intestino primitivo é formado através de dobramentos craniocaudais e laterais do disco embrionário e o intestino anterior (10), intestino médio (11) e intestino posterior (12) podem ser definidos. O intestino médio comunica-se com o saco vitelino (13), o intestino posterior com o alantoide (14). D: o broto hepático (15) é visível e o alantoide (14) ocupa a maior parte do celoma extraembrionário. Modificado de Sadler (2004). O intestino primitivo é dividido em três partes. A porção cranial, o intestino anterior, possui formato de fundo de saco cego e é fechado cranialmente pela membrana orofaríngea a qual é revestida internamente pelo endoderma e externamente pelo ectoderma (Cap. 7). A porção caudal, o intestino posterior, também possui formato de fundo de saco cego, sendo fechado pela membrana cloacal, igualmente revestida internamente pelo endoderma e externamente pelo ectoderma. A porção de conexão, o intestino médio, abre-se no saco vitelino. Uma depressão ectodermal na membrana orofaríngea, o estomodeu, posteriormente 331 desenvolve-se na cavidade oral, enquanto uma depressão similar no lado da membrana cloacal, o proctodeu, desenvolve-se no ânus e na abertura do sistema urogenital. O intestino primitivo está suspenso na parede corporal dorsal e ventral pelos mesentérios formados por camadas duplas de peritônio originados do mesoderma. O mesoderma dorsal estende-se da porção mais caudal do esôfago em desenvolvimento até a região cloacal do intestino posterior e origina o omento maior e o mesentério do intestino. O mesentério ventral desenvolve-se do septo transverso, e torna-se restrito à porção caudal do intestino anterior, isto é, o esôfago caudal, o estômago e a porção inicial do duodeno. O fígado desenvolve-se em associação ao mesentério ventral e ao septo transverso, sendo que este último origina o omento menor. Uma parte do mesentério ventral, o ligamento falciforme, conecta a veia umbilical esquerda do cordão umbilical ao fígado (Cap. 12). O intestino primitivo origina vários derivados endodermais (Fig. 14-2). Do intestino anterior são derivados os arcos, bolsas e fendas faríngeas, o sistema respiratório, o esôfago, o estômago, assim como o fígado e o pâncreas. O intestino médio forma a maior parte dos intestinos, e o intestino posterior origina a parte caudal do intestino e também o alantoide (Cap. 9). Fig. 14-2 Derivados do intestino primitivo. I: Intestino anterior; II: Intestino médio; III: intestino posterior; 1: Estomodeu; 2: Primódio da glândula tireoide; 3: Membrana orofaríngea; 4: Faringe e bolsas faríngeas; 5: Divertículo respiratório. 6: Primórdio do esôfago; 7: Primórdio 332 do estômago; 8: Broto hepático; 9: Brotos pancreáticos; 10: Primórdio do intestino delgado; 11: Ducto vitelino; 12: Primórdio do ceco; 13: Primórdio do restante do intestino grosso; 14: Membrana cloacal; 14: Primórdio da bexiga urinária no úraco conectado ao alantoide. Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998). Finalmente, deve ser mencionado que o sistema gastrointestinal desenvolve um extenso suprimento nervoso denominado sistema nervoso entérico; numerosas células da crista neural invadem o revestimento do sistema gastrointestinal e formam gânglios nos plexos submucoso e mientérico (Cap. 10). Cavidades oral e nasal e palato A cavidade oral primária desenvolve-se do estomodeu à medida que a membrana orofaríngea regride para conectar o intestino primitivo revestido pelo endoderma com o estomodeu revestido pelo ectoderma (Fig. 14-2). As porções derivadas do ectoderma e do endoderma das cavidades oral e nasal não podem ser distinguidas. A cavidade oral e nasal primária As primeiras estruturas faciais reconhecíveis são a proeminência nasal e as proeminências maxilares e mandibulares. Estas se desenvolvem dorsal, lateral e ventralmente, respectivamente, à entrada do estomodeu (Fig. 14-3). As proeminências maxilares e mandibulares são derivadas dos primeiros arcos faríngeos (veja mais adiante). O ectoderma da proeminência frontonasal diferencia-se nos placódios nasal (olfatório) e placódios cristalino. Estes últimos posteriormente diferenciam-se nos cristalinos dos olhos (Cap. 11). As proeminências nasais medial e lateral desenvolvem-se em cada lado dos placódios nasais. Gradualmente, o placódio nasal invagina-se para formar a fosseta nasal a qual se desenvolve na cavidade nasal primária¸ separada da cavidade oral primária, formada do estomodeu, pela membrana oronasal (Fig. 14-4). Com a regressão das porções caudais dessa membrana, as coanas primárias conectando as cavidades nasal e oral em desenvolvimento são formadas, e a membrana oronasal forma o palato primário. 333 Fig. 14-3 Embrião suíno com 18 dias de desenvolvimento. O primeiro arco faríngeo é dividido em processos maxilar (1) e mandibular (2). I–IV: arcos faríngeos. Fig. 14-4 Desenvolvimento das cavidades oral e nasal mostrado como secções medianas em estágios sucessivos (A-D). 1: Placódio nasal; 2: Vesícula encefálica; 3: Proeminência mandibular; 4: Intestino anterior; 5: Estomodeu; 6: Fossa nasal; 7: Proeminência frontonasal; 8: Cavidade oral primária; 9: Processo maxilar; 10: Cavidade nasal primária; 11: Coana primária; 12: Membrana oronasal; 13: Língua: 14: Esôfago; 15: Broto pulmonar; 16: Cavidade nasal secundária; 17: Palato secundário; 18: Coanas; 19: Cavidade oral secundária; 20: Traqueia. Modificada de McGaedy et al. (2006). A construção das estruturas faciais ao redor da entrada das cavidades nasal e oral em desenvolvimento começa das proeminências descritas (Fig. 14-5). A 334 proeminência maxilar aumenta em tamanho, estende-se medialmente e fusiona-se com a proeminência nasal medial, formando o arcabouço para a formação dos ossos da mandíbula superior (ossos da maxila e incisivo) e lábios superior. A forma final do lábio superior depende do grau de fusão entre as proeminências nasais mediais: nos carnívoros e pequenos ruminantes, uma fusão incompleta forma um sulco medial, o filtrum; nos equinos, bovinos e suínos, a fusão é completa e resulta em um lábio superior contínuo. Fig. 14-5 Desenvolvimento das estruturas faciais relacionadas às cavidades oral e nasal (A- C). 1: Placódio nasal; 2: Proeminência maxilar; 3: Proeminência mandibular; 4: Proeminência frontonasal; 5: Placódio cristalino; 6: Sulco nasolacrimal; 7: Estomodeu; 8: Proeminência nasal lateral; 9: Proeminência nasal medial; 10: Local da fusão dependente de espécie entre as proeminências nasais mediais bilaterais. Modificado de McGaedy et al. (2006). As proeminências maxilar e nasal medial estão separadas por um sulco nasolacrimal que se estende dorsolateralmente em direção ao placódio óptico. Com o desenvolvimento, o ectoderma no fundo deste sulco forma um cordãosólido que penetra no mesênquima subjacente. Posteriormente, o cordão desenvolve um lúmen e forma o ducto nasolacrimal conectando a conjuntiva do olho em desenvolvimento à cavidade nasal. O formato da face varia de espécie para espécie, e dentro da espécie, o que é especialmente evidente nos cães (Cap. 16). Equinos, bovinos e suínos apresentam crânio relativamente longo devido ao crescimento dos ossos que definem as cavidades oral e nasal; esses animais são descritos como sendo dolicocefálicos. Em contrapartida, os primatas e humanos apresentam crânios curtos e são denominados de braquiocefálicos. Nos cães, algumas raças são dolicocefálicas, outras 335 braquiocefálicas e ainda outras raças apresentam características intermediárias; portanto, são referidas como mesocefálicas. A cavidade nasal A membrana oronasal (ou palato primário) é substituída pelo palato secundário, o qual se desenvolve dos primórdios dos processos palatinos dos ossos maxilares (Fig. 14-6). Em paralelo, o septo nasal desenvolve-se do aspecto dorsal da cavidade nasal e cresce ventralmente. Ao final, o septo nasal em desenvolvimento fusiona-se com o processo palatino, separando parcialmente as cavidades nasal e oral (Fig. 14-7). A princípio, os processos palatinos são membranosos; no entanto, uma ossificação intramembranosa no seus dois terços iniciais forma os ossos do palato duro (Cap. 16). O palato secundário fecha-se aos 32 dias do desenvolvimento em gatos, 33 dias em cães e suínos, entre os dias 49 a 56 em equinos, e entre 56 e 63 dias em bovinos. Caudalmente, o mesênquima coberto pelo ectoderma desenvolve-se no palato mole (o qual é particularmente longo nos equinos) e subsequentemente a coana secundária e o arco palatofararíngeo são formados. Rostralmente, o palato secundário funde-se com o palato primário remanescente, exceto pelo par de ductos incisivos. Esses ductos mantêm a comunicação entre as cavidades oral e nasal, com exceção do cavalo, em que a abertura oral do ducto é obliterada pela mucosa. Fig. 14-6 Desenvolvimento das cavidades secundárias oral e nasal apresentadas em secção transversal (A-C). 1: Proeminência mandibular; 2: Proeminência maxilar; 3: Cavidade nasal primária; 4: Septo nasal em desenvolvimento; 5: Língua; 6: Processo palatino; 7: Conchas em desenvolvimento; 8: Órgão vomeronasal em desenvolvimento. Modificado de McGaedy et al. (2006). 336 Fig. 14-7 Secção transversal da cabeça de um feto felino. 1: Olho, 2: Cavidade nasal secundária; 3: Septo nasal em desenvolvimento; 4: Conchas em desenvolvimento; 5: Processo palatino; 6: Cavidade oral secundária; 7: Língua; 8: Primórdio dentário na maxila; 9: Primórdio dentário na mandíbula. Conchas As conchas são formadas de processos que se estendem dos aspectos laterais da cavidade nasal em desenvolvimento (Cap. 16). Inicialmente elas consistem em um mesênquima central coberto com epitélio ectodermal; posteriormente, uma ossificação endocondral transforma as conchas em estruturas semelhantes a um rolo de pergaminho. As conchas formadas do osso etmoide na região caudal da cavidade nasal formam um labirinto. A mais dorsal destas, a concha nasal dorsal, é prolongada por um processo conchal do osso nasal e estende-se rostralmente ao longo da cavidade nasal. A concha nasal ventral desenvolve-se do processo conchal do osso maxilar e não apresenta conexão com o osso etmoide. A maioria do epitélio ectodermal da cavidade nasal forma um epitélio pseudoestratificado cilíndrico ciliado com células caliciformes para formar a região respiratória. Entretanto, em uma região mais caudal, o epitélio desenvolve uma porção de células olfatórias sensoriais (neurônios bipolar) de região olfatória. Em ambas as regiões, o epitélio ectodermal também dá origem às glândulas nasais. 337 Órgão vomeronasal Como mencionado, a fusão do palato secundário é incompleta e preserva o ducto incisivo como uma abertura entre a cavidade oral e nasal. Um ducto secundário desenvolve-se na mucosa ventral da cavidade nasal e forma um órgão par, o órgão vomeronasal (Fig. 14-6). O ducto é revestido por um epitélio ectodermal diferenciado em células da região respiratória assim como em células da região olfatória. Seios paranasais O epitélio ectodermal da cavidade nasal forma sólidas projeções que penetram os ossos do crânio. Subsequentemente as projeções desenvolvem um lúmen e gradualmente formam os seios paranasais, os quais permanecem conectados à cavidade nasal (Cap. 16). Os seios paranasais são pouco desenvolvidos ao nascimento e são dificilmente reconhecíveis. A anatomia final dos seios paranasais é particular para cada espécie e estas diferenças possuem significado clínico. Por exemplo, no equino, o seio maxilar está intimamente associado às raízes dos pré- molares e molares; nos bovinos, os seios frontais estendem-se para o interior do processo cornual. A cavidade oral Com a formação do palato secundário das coanas, as cavidades nasal e oral, bem como a faringe, são estabelecidas. O espessamento ectodermal da mandíbula forma as lâminas labiogengivais superior e inferior. Subsequentemente, uma perda de células e tecidos na porção intermediária dessas lâminas resulta na formação dos lábios, gengivas e vestíbulo oral. A fusão lateral entre as lâminas labiogengivais superior e inferior resulta no desenvolvimento das bochechas, definindo a abertura da boca. Cauldamente, a cavidade oral é demarcada em cada lado pelos arcos palatoglossais que se estendem das bordas dos palatos duro e mole até a raiz da língua. Língua A língua desenvolve-se no fundo da cavidade oral dos primeiros arcos faríngeos (veja mais adiante) e dos mioblastos que invadem o primórdio lingual provenientes dos miótomos occipitais. O primeiro sinal do desenvolvimento da língua é uma proeminência medial conhecida com tubérculo ímpar, derivado do primeiro arco faríngeo (Fig. 14-8). O indício da origem da glândula tireoide está localizado imediatamente caudal a essa proeminência (veja adiante). Rostral e lateralmente ao 338 tubérculo impar tumefações linguais laterais pareadas desenvolvem-se dos primeiros arcos faríngeos. Cada tumefação lingual lateral fusiona-se entre si e também com o tubérculo ímpar. A fusão medial das tumefações laterais origina o septo lingual e a lissa nos carnívoros ou cartilagem do dorso da língua no cavalo. As bordas entre o tubérculo ímpar e as tumefações linguais laterais são gradualmente perdidas e a combinação das duas estruturas dá origem ao terço rostral da língua incluindo seu ápice e corpo. A base (raiz) da língua desenvolve-se de uma proeminência mediana, a cópula, originando-se do segundo arco faríngeo e da eminência hipobranquial do terceiro e quarto arcos faríngeos. A cópula atrofia-se e é substituída por um material da porção rostral da eminência hipobranquial que forma a raiz da língua. O músculo da língua é derivado dos miótomos occiptal e é inervado pelo nervo hipoglosso (XII). 339 Fig. 14-8 Desenvolvimento da língua e da laringe. Vermelho: Componentes derivados do primeiro arco faríngeo. A: I-VI: arcos faríngeos I-VI, 1: Tubérculo impar; 2: Tumefações linguais laterais; 3: Primórdio da glândula tireoide; 4: Cópula: 5: Eminência hipobranquial; 6: Tumefação aritenoide. B: Estágios posteriores de desenvolvimento das estruturas definidas em A. 7: Orifício laríngeo. C: Língua de cão. 1: Ápice da língua; 2: Corpo da língua; 3: Raiz da língua; 4: Epiglote; 5: Aritenoide; a: Papila fungiforme; b: Papila valada; c: Papila filiforme. Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998). A maioria do epitélio estratificado pavimentoso da língua é de origem endodermal; somente o ápice da língua é coberto por epitélio derivado do ectoderma. Axônios de neurônios aferentes viscerais induzem o desenvolvimento de papilas gustatórias. As primeiras a se formarem são as papilas fungiformes, induzidas pelos axônios da corda timpânica do nervo facial (VII). Mais tarde, os axônios do nervo 340 glossofaríngeo (IX) induzem o desenvolvimento das papilas valadas e papilas foliáceas. Glândulas gustatóriasserosas desenvolvem-se do epitélio endodermal em conexão com os dois últimos tipos de papilas. As papilas gustatórias são formadas em outros lugares na língua e bochechas, entretanto seus primórdios atrofiam-se antes do nascimento. As papilas mecânicas da língua desenvolvem-se após as gustatórias terem se formado. A inervação aferente somática geral da língua é derivada de vários arcos faríngeos. Assim, os dois terços rostrais da língua (desenvolvido do tubérculo ímpar e tumefações linguais laterais dos primeiros arcos faríngeos) são inervados pelo nervo trigêmeo (V; o nervo deste arco); o terço caudal (desenvolvido da eminência hipobranquial) é inervado pelo nervo glossofaríngeo (IX; o nervo do terceiro arco) e o nervo vago (X; nervo do quarto arco). Glândulas salivares As glândulas salivares menores e maiores desenvolvem-se de um cordão epitelial sólido, o qual cresce no mesênquima subjacente do epitélio ectodermal da cavidade oral. Os ramos cordonais desenvolvem um lúmen e originam as unidades secretórias, os ácinos. As glândulas salivares mandibulares e as sublinguais monostomáticas são as primeiras a se desenvolverem em embriões bovinos e suínos com 21 cm de comprimento. Essas duas glândulas possuem longos ductos excretórios, os quais se abrem nas carúnculas sublinguais pareadas. As glândulas salivares parótidas e as glândulas salivares sublinguais polistomáticas desenvolvem-se logo em sequência. Dentes Os dentes desenvolvem-se de componentes ectodermais e mesenquimais (na região da cabeça, o mesênquima, sendo originado da crista neural, é também derivado do ectoderma). Os componentes básicos do dente são o esmalte, a dentina e o cemento. O esmalte é produzido pelas células originadas do epitélio gengival ectodermal, enquanto o restante do dente é produzido por células do mesênquima subjacente. Há dois tipos principais de dentes nos animais domésticos, braquiodontes e hipsodontes; apesar de suas diferenças morfológicas e histológicas, sua embriologia não é diferente. O primeiro passo no desenvolvimento do dente é a formação de uma lâmina ectodermal, a lâmina dentária, do epitélio gengival (Fig. 14-9). Um pequeno broto dentário em forma de capuz desenvolve-se ao lado da lâmina e, com o desenvolvimento, encerra uma massa de mesênquima conhecida como papila dentária. Cada broto dentário em forma de capuz tem em epitélio externo e 341 interno do esmalte e forma uma estrutura conhecida como órgão do esmalte (Fig. 14-10). O mesênquima entre o epitélio externo do esmalte e o interno é conhecido como retículo estrelado. O formato do epitélio interno do esmalte determina a forma da coroa do dente. Fig. 14-9 Desenvolvimento do dente braquiodonte. A: Localização da gengiva (seta) com dentes em desenvolvimento em feto felino. B: 1: Epitélio ectodermal da gengiva; 2: Lâmina dentária. C: 1: Epitélio; 2: Lâmina dentária; 3: Broto dental em forma de capuz. D: 1: Epitélio; 2: Remanescente da lâmina dentária; 3: Epitélio interno do esmalte; 4: Epitélio externo do esmalte; 5: Retículo estrelado; E: 6: Primórdio do dente permanente; 7: Mandíbula em desenvolvimento. F: 1: Polpa dentária; 2: Odotonblatos; 3: Pré-dentina; 4: Dentina; 5: Esmalte; 6: Ameloblasto; 7: Retículo estrelado; 8: Epitélio externo do esmalte; 9: Saco dentário. G: 1: Esmalte; 2: Dentina; 3: Polpa; 4: Epitélio gengival; 5: Mandibula; 6: Primórdio do dente permanente. Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998). 342 Fig. 14-10 Desenvolvimento do dente em feto felino nos estágios inicial (A) e tardio (B) da gestação. O quadro ‘C’ está ampliado em C. 1: Epitélio externo do esmalte; 2: Retículo estrelado; 3: Epitélio interno do esmalte; 4: Papila dentária; 5: Epitélio da superfície gengival; 6: Saco dentário; 7: Ameloblastos; 8: Pré-dentina; 9: Odontoblastos. Embora a formação do órgão do esmalte seja o primeiro passo no desenvolvimento do dente, o primeiro componente dentário a ser produzido é a dentina. O mesênquima adjacente ao epitélio interno do esmalte organiza-se em um epitélio colunar constituído de odontoblastos. Essas células produzem pré-dentina, a qual é depositada entre os odontoblastos e o epitélio interno do esmalte. A pré- dentina é subsequentemente mineralizada e convertida em uma substância semelhante ao osso, a dentina. Contudo, enquanto na formação dos ossos os osteócitos tornam-se encapsulados pela matriz extracapsular, na formação do dente, os odontoblastos retiram-se do epitélio interno do esmalte à medida que quantidades crescentes de pré-dentina e dentina são depositadas; apenas longas projeções citoplasmáticas delgadas dos odontoblastos permanecem em contato com o epitélio interno do esmalte e tornam-se embebidas na dentina, que é depositada concentricamente ao redor das projeções citoplasmáticas. A produção da dentina começa no topo da polpa dentária. Os odontoblastos permanecem ativos por toda a vida e sua produção contínua de pré-dentina e dentina reduz o tamanho da polpa dentária, a qual carreia vasos sanguíneos e nervos. Pouco após o início da produção de dentina, a produção de esmalte também tem início. Estimulado pela dentina, o epitélio interno do esmalte diferencia-se em um epitélio colunar constituído de ameloblastos. Estas células produzem esmalte (novamente começando do topo do dente em desenvolvimento) o qual é depositado externamente à dentina. À medida que o esmalte é depositado, os ameloblastos são 343 deslocados perifericamente, e desse modo reduzem a espessura do retículo estrelado. Na base do órgão de esmalte em forma de capuz, os epitélios externo e interno do esmalte encontram-se. De suas junções, o epitélio prolifera-se e estende-se profundamente no mesênquima como a bainha radicular, a qual é responsável pela arquitetura da raiz (o número e a forma das projeções da raiz). A bainha radicular induz o mesênquima subjacente a diferenciar-se em odontoblastos que produzem a dentina da raiz do dente. Não há retículo estrelado neste local e deste modo o epitélio interno do esmalte nunca se diferencia em ameloblastos. Consequentemente, a raiz dos dentes braquiodontes não é coberta com esmalte. Com o aumento da produção de dentina na raiz, a polpa é gradualmente reduzida em tamanho e o estreito canal da raiz é formado. Nos dentes anelodontes (aqueles no qual o crescimento cessa) a bainha radicular atrofia; nos dentes elodontes (no qual o crescimento é contínuo - p. ex., as presas dos suínos) não há atrofia e o dente não possui raiz. O mesênquima ao redor do órgão do esmalte em forma de capuz condensa-se para formar o saco dentário. Próximo da raiz do dente, o mesênquima do saco dentário diferencia-se em cementoblastos, que produzem cemento, outra substância semelhante a osso e à dentina. Os cementoblastos, ao contrário dos odontoblastos, tornam-se embebidos na substância intercelular, como no osso. A porção mais periférica do saco dentário ao redor da raiz em desenvolvimento forma as fibras ricas em colágenos rígidos que se organizam para formar o ligamento periodontal, o qual fixa o dente ao osso da mandíbula. A formação do dente hipsodonte segue basicamente o mesmo padrão. Entretanto, o formato da coroa é mais complexo, e uma vez que o órgão do esmalte não é restrito à coroa do dente, a maior parte do dente torna-se coberta por esmalte. Além disso, como o saco dentário diferencia-se em cementoblastos ao redor de todo o dente (e não apenas na raiz), o esmalte é recoberto por uma camada de cemento. Consequentemente, o dente hipsodonte irrompido é substituído por um dente que emerge da gengiva. Portanto, em vez de ter uma coroa fixa, diz-se que o dente hipsodonte tem uma coroa clínica – aquela porção do dente que é exposta em qualquer tempo. Um primeiro conjunto de órgãos do esmalte é responsável pela formação dos dentes decíduos enquanto um conjunto secundário forma os dentes permanentes (Fig. 14-9). O intestino anterior A porção mais cranial do intestino anterior dá origem à faringe incluindo os arcos e 344 bolsas faríngeas e seus derivados. Caudalmente à faringe, o intestino anteriordesenvolve-se na laringe, traqueia, brônquios, pulmões, esôfago, estômago e a porção oral do intestino até o ponto em que o fígado e o pâncreas (também derivados do intestino primitivo) surgem. A faringe Na região faríngea, o intestino anterior torna-se envolvido na formação dos arcos faríngeos, também referidos como arcos branquiais, do grego “branchia” que significa brânquia. Em princípio, seis arcos faríngeos são formados. Entretanto, o quinto arco é rudimentar e nunca se desenvolve, e o sexto permanece como parte do pescoço e não se torna distinto. Consequentemente, somente quatro arcos faríngeos são claramente visíveis. Imediatamente caudal a cada arco desenvolvem-se as bolsas internas (Figs. 14-11, 14-12) e uma fenda faríngea externa correspondente a cada bolsa. Devido à perda do quinto arco, a quinta bolsa incorpora-se à quarta bolsa. Desta maneira, somente quatro bolsas e quatro fendas são descritas durante o desenvolvimento. Os arcos faríngeos e as fendas/bolsas são revestidos internamente por um epitélio endodermal e externamente por um epitélio ectodermal. O mesênquima, o qual é derivado das células da crista neural, é espesso nos arcos e delgado na região das fendas/bolsas. Entretanto, as fendas e bolsas de mamíferos, ao contrário das dos peixes, não se fundem para formar as seis fendas brânquiais, ao menos em condições de normalidade. Os arcos e as fendas/bolsas faríngeas dão origem a vários órgãos (Tabela 14-1). 345 Fig. 14-11 Desenvolvimento dos arcos, bolsas e fendas faríngeas. A: Embrião com indicação do plano de secção em ‘B’. B: I-VI: Arcos faríngeos, cada um com suas cartilagens e componentes arteriais e nervos. 1-4: Bolsas faríngeas. A primeira fenda faríngea, a qual formará o meato acústico externo (seta) associada à primeira bolsa. C: o seio cervical (5) é definido por uma extensão caudal (6) do segundo arco faríngeo. 7: Primórdio da glândula tireoide. D-F: As bolsas faríngeas diferenciadas. 2: Tonsila palatina. 8: Primórdio do timo; 9: Primórdio da glândula paratireoide externa; 9’: Primórdio da glândula paratireoide interna; 10: Corpo ultimobranquial. Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998). 346 Fig. 14-12 Embrião ovino aos 19 dias do desenvolvimento. I-VI: Arcos faríngeos. Tabela 14-1 Estruturas derivadas dos arcos, bolsas e fendas faríngeas e seus nervos associados. 347 As fendas faríngeas A primeira fenda faríngea desenvolve-se no meato acústico externo (Fig. 14-11). A segunda, terceira e quarta fendas são recobertas por uma projeção caudal do segundo 348 arco faríngeo. O seio cervical é formado como resultado do desenvolvimento inicial, mas é posteriormente fechado. Os arcos faríngeos Os arcos faríngeos consistem em mesênquima originado da crista neural. Em cada arco, o mesênquima origina derivados de cartilagens ou ossos específicos, músculos e arco aórtico (artéria) tornando-se associados a nervos particulares (Fig. 14-11). As artérias são descritas no Capítulo 12. Primeiro arco faríngeo (mandibular) Este arco consiste em uma porção dorsal, o processo maxilar, e uma porção ventral conhecida como processo mandibular (Fig. 14-3). Do processo maxilar surgem os ossos maxilar e zigomático, e uma porção do osso temporal assim como o palato secundário por ossificação intramembranosa. O processo mandibular contém uma placa de cartilagem denominada cartilagem de Meckel. A maior parte desta estrutura desaparece, mas sua porção mais dorsal origina a bigorna e o martelo do ouvido médio. O processo mandibular também origina a mandíbula por ossificação intramembranosa. Os derivados musculares dos primeiros arcos faríngeos incluem os músculos da mastigação (temporal, masseter e pterigoide) assim como os músculos milo-hioide, ventre rostral do digástrico, tensor timpânico e tensor do véu palatino. O primeiro arco faríngeo e seus derivados são inervados pelo nervo trigêmeo (V). Segundo arco faríngeo (hioide) Este arco é menor que o primeiro e contém a cartilagem de Reichert, cujo remanescente dá origem ao estribo do ouvido médio. O mesênquima do segundo arco também se diferencia no corno menor e porção superior do corpo do osso hioide, e no processo estiloide do osso temporal. Os músculos que se desenvolvem do segundo arco faríngeo incluem músculos da expressão facial bem como os músculos estapédio, estilo-hioide, ventre caudal do digástrico e auricular. O segundo arco faríngeo e seus derivados são inervados pelo nervo facial (VII). Terceiro arco faríngeo A cartilagem deste arco origina o corno maior e a parte inferior do corpo do osso hioide; os derivados musculares incluem o músculo estilofaríngeo; o arco e seus derivados são supridos pelo nervo glossofaríngeo (IX). Quarto e sexto arcos faríngeos As porções principais da laringe incluindo as cartilagens epiglote, tireoide, cricoide 349 e aritenoide (a última incluindo os processos corniculado e cuneiforme) são formadas pelas cartilagens destes dois arcos. Os derivados musculares incluem os seguintes músculos: cricotireoide, levantador palatino e constritor da faringe além do músculo intrínseco da laringe. Os arcos são supridos pelo nervo vago (X) do qual o nervo laríngeo recorrente supre toda a musculatura intrínseca da laringe com exceção do músculo cricotireoide, o qual é suprido pelo nervo laríngeo cranial. O nervo laríngeo cranial toma um curso direto à laringe no ponto em que o nervo vago passa esta estrutura. O nervo laríngeo recorrente, por sua vez, separa-se do nervo vago bem posteriormente e se enrola ao redor do sexto arco faríngeo em cada lado perfazendo seu caminho de volta cranialmente à laringe (Cap. 12, Fig. 12- 15). No lado direito, o sexto arco faríngeo é obliterado, e o nervo recorrente é liberado e se associa ao quarto arco aórtico (o quinto é rudimentar). No lado esquerdo, entretanto, o sexto arco aórtico é mantido como ducto arterioso (que se desenvolve após o nascimento no ligamento arterioso) e nervo laríngeo recorrente permanece associado ao sexto arco aórtico. Nos equinos, este longo curso do nervo no lado esquerdo pode resultar na hemiplegia da musculatura intrínseca da laringe causando uma condição conhecida como “roncador” na qual as cordas vocais esquerdas são paralisadas no trato respiratório. O nervo laríngeo recorrente esquerdo da girafa é reconhecido como a maior célula em qualquer mamífero (terrestre)! As bolsas faríngeas Os órgãos que se desenvolvem das bolsas são coletivamente chamados de órgãos branquiogênicos (Fig. 14-11). Primeira bolsa faríngea Esta bolsa inicialmente forma um divertículo conhecido como recesso tubotimpânico, o qual se estende e torna-se estreitamente oposto à primeira fenda faríngea. Essa fenda, como já mencionado, forma o meato acústico externo e, de modo correspondente, o recesso tubotimpânico origina a cavidade da orelha média e tuba auditiva (Eustáquio). Nos equinos, as tubas auditivas formam volumosas dilatações, as bolsas guturais. A parede entre a fenda e bolsa desenvolve a membrana timpânica recoberta pelo epitélio ectodermal externamente e pelo epitélio endodermal internamente. Segunda bolsa faríngea Esta bolsa persiste somente nos carnívoros e nos bovinos, nos quais forma a fossa tonsilar e o seio, respectivamente. O epitélio endodermal das bolsas forma o estroma reticulado da tonsila palatina. Estas estruturas são posteriormente 350 invadidas por células imunocompetentes. Terceira bolsa faríngea Primórdios dorsal e ventral desenvolvem-se desta bolsa. O primórdio dorsal dá origem à glândula paratireoide externa, enquanto o primórdio ventral forma um estroma reticular, a base estrutural do timo, posteriormente invadida por células da linhagem linfocitária destinadas a se tornarem linfócitos T (Cap. 13). A glândula paratireoide externa mantém suas relações com o timo, e com ele, migra caudalmente para atingir uma localização lateral à cartilagem tireoide (nos equinos e carnívoros) ou na divisão da artéria carótida comum (em ruminantes e suínos). Durante o crescimento caudal e migração do timo, uma porção cervical delgadae uma porção torácica arredondada são formadas. Nos equinos e carnívoros, a conexão inicial à região faríngea é rapidamente perdida. Nos ruminantes e suínos, a porção cervical do timo persiste. A abertura direta do timo com a bolsa faríngea é perdida em todas as espécies. A parte caudal da porção cervical e a porção torácica fusionam-se bilateralmente formando uma única estrutura. A porção torácica localiza- se no mediastino cranial. A localização final do timo no recém-nascido varia com a espécie: nos ruminantes e suínos, porções cervicais e torácicas distintas são visualizadas; nos equinos a porção cervical é reduzida em tamanho; e nos carnívoros, a porção cervical é completamente ausente. O timo torna-se povoado por linfócitos derivados da medula óssea. Após a chegada via sistema vascular, os linfócitos proliferam-se vigorosamente na estrutura reticular formada pelas células reticulares desenvolvidas do primórdio endodermal original e estabelecem a população de linfócitos T do corpo. Os linfócitos T posteriormente migram para outros locais, particularmente linfonodos, a fim de estabelecer as zonas T dependentes. Ao nascimento, o timo está completamente desenvolvido e começa a involuir rapidamente. A involução é marcante durante a puberdade. Quarta bolsa faríngea Como a terceira, esta bolsa desenvolve primórdios dorsal e ventral. O primórdio dorsal desenvolve a glândula paratireoide interna, a qual, da mesma forma que a glândula paratireoide externa, também migra caudalmente com o timo e torna-se localizada lateralmente à cartilagem tireoide, envolvida pela glândula tireoide. Embora considerado de menor importância, o primórdio ventral, dependendo da espécie, pode estar envolvido na formação do timo. Quinta bolsa faríngea Esta bolsa, frequentemente considerada incorporada à quarta bolsa, origina o corpo ultimobranquial, que mais tarde é incorporado à glândula tireoide onde origina as 351 células parafoliculares, ou seja, as células C. Glândula tireoide A glândula tireoide desenvolve-se de um espessamento ventral do epitélio na porção faríngea do intestino anterior. Por esta razão, faz sentido descrevê-la como órgão branquiogênico (Fig. 14-11). O espessamento desenvolve-se para o interior do mesênquima subjacente formando um longo e delgado ducto tiroglossal, o qual, na sua extremidade distal, forma uma estrutura bilobada em forma de ferradura. A porção delgada do ducto é perdida e a parte bilobada move-se caudalmente para a extremidade caudal da traqueia, onde os dois lobos da glândula tireoide desenvolvem-se do primórdio. Nos suínos, os dois lobos mantêm uma conexão física através de um istmo que é menos desenvolvido ou ausente nas outras espécies. Inicialmente, o timo consiste em filamentos epiteliais sólidos que mais tarde desenvolvem-se em folículos tireoideanos. Laringe Na porção cranial do intestino anterior, caudalmente à faringe em desenvolvimento, forma-se um sulco laringotraqueal interno que se torna mais profundo, ao passo que, externamente, o esôfago separa-se da laringe e da traqueia pelo sulco traqueoesofageal (Fig. 14-13). Internamente, o sulco externo resulta na formação do septo traqueoesofageal definindo o divertículo respiratório. Fig. 14-13 Desenvolvimento do divertículo respiratório. 1: Intestino anterior; 2: Sulco laringotraqueal; 3: Sulco traqueoesofágico; 4: Divertículo respiratório; 5: Faringe; 6: Primórdio do esôfago; 7: Primórdio da traqueia; 8: Primórdio dos brônquios principais; 9: Septo traqueobrônquico. Modificado de McGaedy et al. (2006). 352 Inicialmente, a abertura da laringe na faringe apresenta a forma de uma fenda; posteriormente, a fenda transforma-se em uma abertura em forma de T circundada por três tumefações (Fig. 14-8). Cranialmente à abertura, a tumefação epiglotal desenvolve-se da eminência hipobranquial originada do terceiro e quarto arcos faríngeos, e caudolateralmente as duas tumefações aritenoides originam-se do sexto arco (o quinto arco é rudimentar). O mesênquima nessas tumefações, o qual é de origem das células da crista neural, formam as cartilagens epiglote e aritenoide (Tabela 14-1). O mesênquima do quarto e sexto arcos faríngeos caudolaterais às cartilagens aritenoide consolidam-se para formar a cartilagem tireoide. Mais caudalmente, o mesênquima do sexto arco forma a cartilagem cricoide. Os músculos intrínsecos da laringe são também desenvolvidos do mesênquima dos arcos faríngeos: o músculo cricotireoideo do quarto arco é inervado pelo nervo laríngeo cranial do vago, os músculos intrínsecos remanescentes do sexto arco faríngeo são inervados pelo nervo laríngeo caudal do nervo laríngeo recorrente, uma ramificação do nervo vago. Enquanto as cartilagens e os músculos da laringe desenvolvem-se, as cordas vocais são formadas. Nos equinos e no cão, e em menor proporção em suínos, o epitélio endodermal forma uma bolsa externa resultando nos ventrículos da laringe. Neste processo, as pregas vestibulares bem-definidas são formadas rostralmente às cordas vocais nos equinos e no cão. Traqueia A laringe em desenvolvimento abre-se na traqueia primitiva a qual rapidamente cresce em uma direção caudal. O mesênquima ao redor do revestimento endodermal é de origem da crista neural, pelo menos na região cervical, e origina os anéis traqueais cartilaginosos em sentido craniocaudal. É o mesênquima que também forma o músculo traqueal liso, ao passo que o epitélio endodermal especializa-se em um epitélio respiratório ciliado, pseudoestratificado, rico em células caliciformes. As glândulas traqueais estão associadas ao epitélio. Brônquios e pulmões O desenvolvimento dos brônquios e pulmões pode ser divido em períodos sequencias: o período embrionário, quando o primórdio dos brônquios e pulmões é formado; o período fetal, quando as ramificações brônquicas são formadas e as estruturas preliminares para trocas de gases são estabelecidas; e o período pós-natal, quando as estruturas definitivas para trocas e gases, os alvéolos, são desenvolvidos e os pulmões assumem a forma adulta. O período fetal pode ser subdividido em períodos 353 pseudoglandular, canalicular, sacular e alveolar. Período embrionário Após seu crescimento caudal inicial, a traqueia primitiva forma os brotos pulmonares que bifurcam-se caudolateralmente formando o brônquio principal (Fig. 14-14). O broto esquerdo menor cresce em uma direção mais lateral que o broto direito maior. O brônquio principal, por sua vez, origina o broto do brônquio lobar definindo como os pulmões serão divididos em lobos – padrões particulares das espécies tornam-se discerníveis ao final do período embrionário. Os lobos projetam-se na cavidade pleural em desenvolvimento e tornam-se circundados externamente pelo mesênquima que forma a pleura. Nos bovinos e suínos, um brônquio traqueal particular desenvolve-se diretamente da traqueia e supre o lobo cranial direito. Com o brônquio lobar formado, a ramificação subsequente em brônquios segmentares tem início. As artérias pulmonares (desenvolvidas dos sextos arcos aórticos, Cap. 12) e as veias desenvolvem-se em paralelo com as ramificações da árvore brônquica. Fig. 14-14 Aspecto ventral do desenvolvimento da árvore brônquica em embrião suíno com comprimento craniossacral de 7,5 mm (A); 10 mm (B), 12 mm (C), 13,5 mm (D), 15 mm (E) e 354 18,5 mm (F). Preto: artérias; Branco: veias; 1: Traqueia; 2: Lobo cranial direito; 3: Lobo médio; 4: Lobo caudal direito; 5: Lobo acessório; 6: Lobo cranial esquerdo, 7: Lobo caudal esquerdo; 8: Brônquio lobar; 9: Brônquio traqueal. Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998). Período pseudoglandular Este período de desenvolvimento dos pulmões é nomeado devido à ramificação similar a uma glândula que é vista na árvore brônquica. O brônquio lobar origina o brônquio segmentar que sofre mais de 20 bifurcações dependendo da espécie. Nesta fase, os brônquios apresentam-se como túbulos revestidos por um epitélio colunar endodermal. A ramificação brônquica no mesênquima circundante dá origem aos bronquíolos terminais. Períodocanalicular Este período é caracterizado pela formação dos primórdios das porções dos pulmões que serão responsáveis pelas trocas de gases. Os bronquíolos terminais, formados durante o período pseudoglandular, sofrem novas ramificações por bifurcação e cada bronquíolo terminal dá origem a um sistema de túbulos no interior dos lóbulos pulmonares. Assim, através de duas ou três bifurcações, os bronquíolos terminais dão origem aos bronquíolos respiratórios, sendo que cada um deles sofre três ou mais bifurcações adicionais formando os túbulos secundários, os canalículos, que dão nome a este período. As extremidades dos canalículos formam um conjunto de pequenos sáculos terminais, também conhecidos como alvéolos primitivos. Os canalículos são revestidos por um epitélio colunar circundado por uma rede de capilares. A altura do epitélio é reduzida nos locais em que os capilares aproximam- se do epitélio. Período sacular Durante este período as ramificações terminais do sistema condutor de ar resultam de três ou quatro bifurcações adicionais dos sáculos terminais. Com a última bifurcação formam-se sáculos cegos. Período alveolar Este é o período no qual os compartimentos finais para a troca de gases, os alvéolos, são formados. A formação dos alvéolos ocorre em uma direção centrípeta; os mais distais formam-se primeiro. Nos bovinos, este processo começa com cerca de 240 dias de gestação. O epitélio endodermal dos alvéolos em desenvolvimento diferencia-se 355 em células alveolares tipo I, que são pavimentosas e recobrem a maior parte da superfície alveolar, e células alveolares tipo II, que são cuboidais e especializadas na produção de surfactante, um fosfolipídio que reduz a tensão superficial nos alvéolos. As primeiras células produtoras de fosfolipídios são formadas anteriormente, durante o período canalicular. As células alveolares tipo II são também células-tronco para a regeneração de células alveolar tipo I. Durante o período fetal, o lúmen do sistema respiratório é preenchido com fluidos secretados das glândulas em desenvolvimento, adicionado de fluido amniótico aspirado como resultado dos movimentos respiratórios pré-natais. Período pós-natal Embora o período alveolar forneça alvéolos primitivos que permitem ao recém- nascido respirar, alvéolos maduros não são formados até os pulmões tornarem-se funcionais após o nascimento. No período pós-natal inicial há um marcante crescimento longitudinal dos bronquíolos respiratórios e sáculos alveolares, assim como desenvolvimento de alvéolos adicionais das paredes dessas estruturas. No nascimento, a maioria dos fluidos do sistema respiratório é expelida através da boca e do nariz. A primeira inspiração enche o sistema de ar; o fluido remanescente é removido por absorção das células epiteliais e transportadas para o sangue e sistema linfático. Esôfago O esôfago estende-se da faringe em desenvolvimento, na qual se abre dorsal à laringe, até o primórdio do estômago em formato fusiforme. Inicialmente o esôfago é largo e curto; com o crescimento do tórax e desenvolvimento do coração e pulmões, ele se torna mais extenso e estreito e envolvido pelo mediastino. O epitélio endodermal do esôfago é um epitélio estratificado pavimentoso com glândulas distribuídas na submucosa. A distribuição das glândulas esofágicas é específica para a espécie. O mesoderma subjacente ao epitélio endodermal origina o revestimento do esôfago: a lâmina própria, a lâmina muscular da mucosa, a submucosa, a túnica muscular e a túnica adventícia ou serosa. A estrutura da túnica muscular também apresenta diferenças importantes entre as espécies. Nos ruminantes e nos cães, ela é composta de músculo estriado; no suíno, a porção mais caudal tem músculo liso; e nos equinos e nos gatos, o músculo do primeiro terço caudal é liso. Enquanto as células musculares lisas desenvolvem-se do mesênquima subjacente ao endoderma, as células musculares estriadas aparentemente migram dos arcos faríngeos. Estômago 356 O estômago desenvolve-se como uma dilatação fusiforme da porção mais caudal do intestino anterior. Torna-se evidente a partir da terceira semana da gestação em suínos. O desenvolvimento do estômago difere entre as espécies; a seguir, os estômagos simples e os estômagos de ruminantes serão descrito separadamente. Estômago simples A porção dorsal do primórdio fusiforme do estômago cresce mais rapidamente que a parte ventral, resultando na formação de uma curvatura dorsal convexa e uma curvatura ventral côncava. A curvatura dorsal irá desenvolver-se na curvatura maior e a ventral na curvatura menor do estômago. A fim de assumir sua posição transversal na cavidade abdominal, o estômago realiza duas rotações: uma ao longo do seu eixo craniocaudal e outra no eixo dorsoventral (Fig. 14-15). A primeira rotação (90° em sentido anti-horário ao redor do eixo caudocranial) traz a porção dorsal do estômago para a esquerda, e a porção ventral para a direita. Como resultado, o nervo vago esquerdo assume uma posição ventral e o vago direito uma posição dorsal. Na segunda rotação, o estômago gira em torno de 45° em sentido anti-horário ao longo do eixo dorsoventral posicionando-se transversalmente na cavidade abdominal com a porção caudal para a direita e a parte cranial para a esquerda (Fig. 14-16). A porção do lado esquerdo (cranial) desenvolve-se no cárdia e fundo, a parte medial no corpo, e a porção do lado direito (caudal) no piloro. O cárdia e o fundo tornam-se volumosos, especialmente nos equinos, formando o saco cego ventricular. 357 Fig. 14-15 Rotação do primórdio do estômago e formação do omento menor e maior. A primeira rotação é de 90° no sentido horário ao longo do eixo craniocaudal (B-C). A segunda rotação é de 45° em sentido horário ao longo do eixo dorsoventral (D). 1: Primórdio do baço; 2: Mesogastro dorsal; 3: Mesogastro ventral; 4: Primórdio do fígado; 5: Ligamento falciforme; 6: Ducto vitelino; 7: Primórdio do estômago; 8: Parede dorsal do corpo; 9: Broto pancreático dorsal; 10: Mesentério dorsal; 11: Alça do intestino médio; 12: Primórdio do ligamento medial da bexiga; 13: Cloaca; 14: Úraco; 15: Primórdio do esôfago; 16: Primórdio do duodeno; 17: Omento maior; 18: Bolsa omental; 19: Forame omental. Modificado de McGaedy et al. (2006). 358 Fig. 14-16 Aspecto ventral da cavidade abdominal de um feto suíno aos 44 dias de desenvolvimento. O primórdio maior do fígado foi removido. O estômago (1) assumiu sua localização aproximadamente transversa. Cran: Cranial; Caud: Caudal; 1′: Fundo; 1′′: Piloro; 2: Baço; 3: Jejuno; 4: Colón ascendente formando uma alça espiral; 5: Mesonefro. As partes do mesentério dorsal e ventral que estão fixadas ao estômago são denominadas mesogastro dorsal e ventral (Fig. 14-15). O mesogastro dorsal é inicialmente largo, e cavidades desenvolvem-se no seu mesênquima. Posteriormente, essas cavidades coalescem para um espaço único denominado recesso pneumoentérico, que conectar-se-á à cavidade peritoneal. Com o desenvolvimento do septo transverso no centro tendíneo do diafragma, uma porção dessa cavidade ficará restrita à cavidade torácica adjacente ao esôfago formando a bolsa infracardíaca. A porção do recesso pneumoentérico que permanece na cavidade abdominal forma a bolsa omental. Com a primeira rotação do estômago, a inserção do mesogastro dorsal move-se da porção dorsal para a esquerda (incluindo a porção abdominal do recesso pneumoentérico) formando gradualmente um saco que formará a bolsa omental. O baço desenvolve-se no mesogastro dorsal que também acomoda o lobo esquerdo do pâncreas. Com a segunda rotação, a inserção do mesogastro dorsal no estômago assume uma posição mais ou menos caudal e o desenvolvimento posterior do próprio mesogastro resulta na formação do omento maior, o qual compreende uma camada superficial e uma profunda com a bolsa omental entre elas. 359 O acesso para a bolsa omental da cavidade peritoneal persiste no lado direito com o forame omental. Esta abertura é encontrada na margem livre do mesogastro ventral (omentomenor) rodeada pela veia porta e veia cava caudal. O crescimento do omento maior varia com a espécie: nos carnívoros estende-se longamente em sentido caudal recobrindo todo o intestino; nos suínos e equinos o crescimento é menor. A primeira rotação do estômago leva a inserção ventral do mesogastro para a direita aproximando o estômago à parede ventral do corpo e ao septo transverso. O broto hepático cresce no mesogastro ventral e septo transverso. Com a segunda rotação do estômago, o mesogastro ventral torna-se mais cranialmente direcionado para o septo transverso. Posteriormente, o fígado é liberado do septo transverso novamente à medida que o mesogastro ventral transforma-se no omento menor e enquanto os ligamentos coronários, triangular e facilforme do fígado são formados do septo. A diferenciação da mucosa do estômago varia entre as espécies. Nos carnívoros, a mucosa é inteiramente revestida de glândulas, nos suínos e particularmente nos equinos uma região aglandular, caracterizada por epitélio estratificado pavimentoso, é formada. A mucosa glandular desenvolve-se em regiões especializadas e com características típicas de secreções: as glândulas cárdicas e pilóricas são caracterizadas por secreção mucosa; as glândulas gástricas propriamente ditas secretam substâncias para a digestão como o HCl e pepsinogênio. Nos suínos, as glândulas gástricas são identificáveis aos dois meses de gestação quando as células secretoras de muco desenvolvem-se. Em seguida, as células parietais começam a aparecer, seguidas, ao redor dos três meses de gestação, pelas células principais. Estômago dos ruminantes Da mesma forma que o estômago simples, o crescimento acelerado da porção dorsal do estômago dos ruminantes resulta na formação de uma curvatura dorsal convexa e uma curvatura ventral convexa menos evidente nos embriões bovinos aos 30 dias da gestação (Figs. 14-17, 14-18). Na parte cranial da curvatura dorsal desenvolve-se um broto ruminal direito maior e um esquerdo menor. Ao mesmo tempo, imediatamente caudal a esses brotos ruminais, o broto primordial do retículo surge da curvatura dorsal em direção cranial. Caudal e mais ventral ao primórdio do retículo, os primórdios do omaso e abomaso são estabelecidos, e ao redor dos 40 dias de gestação todos os quatros compartimentos são visíveis no embrião bovino. Sulcos e pilares que dividem o rúmen em sacos dorsais e ventrais também aparecem neste estágio. 360 Fig. 14-17 Desenvolvimento do estômago em embriões/fetos bovinos com um comprimento craniossacral de 10 mm (A), 22 mm (B), 80 mm (C) e 110 mm (D). A: 1: Primórdio do esôfago; 2: Primórdio do estômago; 3: Primórdio do intestino; 4: Primórdio do coração; 5: Mesonefro; 6: Mesogastro dorsal; 7: Mesogastro ventral; 8: Primórdio do fígado. B-C: 1: Esôfago; 2; Rúmen; 3; Retículo; 4; Omaso; 5: Abomaso; 6: Intestino; 7: Pulmão; 8: Fígado; 9: Diafragma. Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998). 361 Fig. 14-18 Desenvolvimento do estômago de ruminantes. A linha vermelha indica a inserção do omento maior. Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998). Com a primeira rotação dos estômagos (90° no sentido horário ao longo do eixo craniocaudal), o broto ruminal e o primórdio do retículo são levados para a esquerda e o primórdio do omaso e do abomaso para a direita. Como um componente adicional da primeira rotação o broto ruminal gira cerca de 150°, mudando sua orientação craniodorsal para a localização final com o saco dorsal e ventral posicionados caudalmente. Durante esta rotação o retículo é trazido para uma localização cranial em direção ao diafragma, o omaso para uma posição à direita, e o abomaso para uma posição ventral no lado direito da cavidade abdominal. Somente o abomaso participa da segunda rotação do estômago que resulta em uma localização ventral de sua curvatura maior e uma localização dorsal de sua curvatura menor. 362 Durante o terceiro mês de gestação, o tamanho relativo dos quatro compartimentos do estômago bovino são comparáveis àqueles vistos em um animal adulto. Nos períodos subsequentes, o abomaso desenvolve-se mais rapidamente e no nascimento representa a metade do volume total dos estômagos. Isso ocorre porque o abomaso necessita acomodar uma dieta líquida durante as primeiras semanas após o nascimento; o líquido em maior ou menor quantidade passa diretamente pelo rúmen, retículo e omaso através do sulco reticular e sulco omasal para obter um acesso direto ao abomaso. Na mudança da dieta líquida para sólida, o rúmen, o retículo e omaso tornam-se funcionais e aumentam de tamanho. A fixação do mesogastro dorsal e ventral ao estômago reorganiza-se de forma complexa com o desenvolvimento do estômago dos ruminantes. Em resumo, como os brotos ruminais desenvolvem-se da porção dorsal do primórdio estomacal fusiforme, o mesogastro dorsal, o qual forma o omento maior, insere-se no rúmen. A linha de inserção estende-se do esôfago, passando pelo sulco longitudinal direito, ao redor do sulco caudal e pelo sulco longitudinal esquerdo até a curvatura maior do abomaso (Fig. 14-18). Por sua vez, o mesogastro ventral, que forma o omento menor, tem uma linha de inserção iniciada no esôfago passando sobre o omaso e ao longo da curvatura menor do abomaso. Inicialmente, todos os quatros compartimentos do estômago dos ruminantes são revestidos por um epitélio endodermal colunar. Entretanto, os revestimentos do rúmen retículo e omaso são gradualmente modificados para epitélio estratificado pavimentoso, ao passo que o abomaso retém seu epitélio colunar. Na metade do segundo mês gestacional, as pregas do omaso são formadas; ao final do segundo mês, as dobras espirais da mucosa do abomaso são formadas; já no início do terceiro mês, as cristas do retículo formam-se; e no final do terceiro mês, as papilas ruminais são formadas e a diferenciação das regiões típicas da mucosa glandular é observada. Fígado O fígado e o pâncreas desenvolvem-se de brotos endodermais dorsal e ventral que surgem na região mais caudal do intestino anterior, o qual na sua porção final forma a porção oral do duodeno. O fígado e uma porção menor do pâncreas desenvolvem-se do broto ventral; a maior parte do pâncreas desenvolve-se do broto dorsal (Fig. 14- 19). 363 Fig. 14-19 Desenvolvimento do fígado e pâncreas no cão. 1: Primórdio do estômago; 2; Primórdio do duodeno; 3: Primórdio do fígado; 4: Primórdio da vesícula biliar; 5: Primórdio pancreático ventral; 6; Primórdio pancreático dorsal; 7: Ducto hepatopancreático; 8: Ducto pancreático; 9: Ducto pancreático acessório; 10: Ducto hepático; 11: Ducto cístico; 12: Ducto biliar comum. Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998). A parte hepatogênica do broto endodermal ventral desenvolve-se em uma porção cranial maior e uma porção caudal menor. A porção caudal ou cística origina a vesícula biliar e o ducto cístico. A porção cística não se desenvolve em certas espécies, tais como no cavalo, rato e baleia, as quais não possuem vesícula biliar. A porção cranial ou hepática origina o tecido hepático e o restante dos ductos biliares. As células endodérmicas do broto hepático crescem, através do mesogastro ventral, no septo transverso, onde elas interagem com o mesênquima subjacente para formar outros componentes celulares do fígado, incluindo o tecido conjuntivo, as células endoteliais, as células de Kupffer e as células hematogênicas características do fígado embrionário e fetal. As células endodermais grandes diferenciam-se em hepatócitos arranjados em cordões ou placas entremeadas por sinusoides. Os sinusoides desenvolvem-se de porções das veias vitelina esquerda e direita e da anastomose mais cranial entre elas (Cap. 12). Posteriormente, as placas de hepatócitos tornam-se orientadas em uma disposição radial em torno da veia central. Em seguida, o tecido conjuntivo organiza-se ao redor dos lóbulos. Nos suínos, este é um fenômeno posterior e não é 364 finalizado antes do início do período pós-natal. O fígado cresce rápido e expande-se ocupando a maior parte da cavidade abdominal, criando o que é conhecidocomo fígado proeminente projetado externamente ao embrião (Fig. 14-20). O mesênquima do septo transverso origina a cápsula do fígado e o ligamento hepático. Portanto, com o crescimento em sentido caudal do fígado, o órgão gradualmente desprende-se do septo transverso, mas permanece fixado ao diafragma pelos ligamentos coronário¸ triangular e falciforme. Inicialmente, o fígado desenvolve um lobo esquerdo e um lobo direito, mas subsequentemente protrusões crescem do lobo direito para formar os lobos quadrado e caudado. Isso, por sua vez, é seguido por divisões específicas dos lobos particulares de cada espécie. A posição e orientação final do fígado na cavidade abdominal são influenciadas pela posição dos outros órgãos de modo particular para cada espécie: em carnívoros e suínos, o fígado permanece na região mediana horizontalmente associado ao diafragma; nos equinos as alças intestinais deslocam o fígado 45° à direita, e nos ruminantes os estômagos deslocam o fígado 90° à direita. Fig. 14-20 Desenvolvimento do fígado em embriões suínos de 21 dias (A) e 31 (B) de gestação. Note o marcante crescimento dos órgãos. 1: Ventrículo do coração; 2: Átrio; 3: Primórdio do fígado; 4: Mesonefro. Durante o seu crescimento, o fígado é importante como estrutura formadora de sangue; células-tronco hematopoéticas derivadas do mesênquima do septo transverso 365 estabelecem ilhas hematopoéticas no fígado. Com a formação dessas ilhas, o primeiro período de formação de sangue (no saco vitelino, o período meroblástico) chega ao fim e o segundo período, conhecido como período hepatoesplênico, inicia- se. Esse período, por sua vez, é substituído por um terceiro período, o período medular, no qual a medula óssea transforma-se no principal órgão formador de sangue. A pequena porção caudal do broto hepático, a porção cística, origina a vesícula biliar e o ducto cístico (Fig. 14-19). A porção restante do sistema de ductos biliares desenvolve-se do ducto hepático. Cada sistema de ductos surge como um cordão sólido de células que, posteriormente, desenvolvem um lúmen. Pâncreas O pâncreas origina-se dos brotos endodermais dorsal e ventral na porção terminal do intestino anterior (Fig. 14-19). Os dois brotos são facilmente reconhecíveis aos 19 dias da gestação de suínos (Fig. 14-21) e aos 26 dias da gestação de bovinos. Na primeira rotação do estômago ao longo do eixo longitudinal, o broto pancreático ventral é movido dorsalmente, próximo ao broto dorsal e em seguida os dois brutos fundem-se para formar um órgão único. 366 Fig. 14-21 Coloração de imuno-histoquímica para glucagon (Glu) e insulina (Ins) em embriões suínos de 19 dias de gestação (A). A Linha tracejada representa a posição da secção transversal mostrada em ‘B’ e ‘C’. (B) Primórdio pancreático dorsal e ventral (caixa) com células marcadas para glugacon. (C) Primórdio pancreático dorsal e ventral com células marcadas para insulina. (D) Quadro superior da figura ‘B’, mostrando células dispersas do primórdio pancreático dorsal marcadas para glucacon. (E) Quadro superior da figura ‘C’ mostrando células do primórdio pancreático dorsal marcadas para insulina. (F) Quadro inferior da figura ‘B’ mostrando o primórdio pancreático ventral com células marcadas para glucacon. (G) Quadro inferior da figura ‘C’ mostrando o primórdio pancreático ventral com células marcadas para insulina. Cortesia de Sinowatz e Rüsse (2007). 367 O broto dorsal origina a maior porção do pâncreas incluindo os lobos esquerdo e direito, assim como o corpo do pâncreas; o broto ventral desenvolve-se em uma porção do corpo do pâncreas e também no fígado (como descrito anteriormente). O broto dorsal gradualmente cresce no mesoduodeno e arboriza-se como cordões celulares endodermais que posteriormente formam um lúmen. O ducto principal do broto dorsal origina o ducto pancreático acessório que é posteriormente obliterado nos pequenos ruminantes e nos gatos. O ducto principal do broto ventral menor, o qual origina uma parte do corpo do pâncreas, desenvolve-se no ducto pancreático, que é posteriormente obliterado nos suínos e bovinos. O endoderma dos brotos origina tanto os acinos exócrinos como as ilhotas endócrinas de Langer-hans. As últimas são formadas de grupos de células endodermais que gradualmente perdem suas conexões com o sistema exócrino. Nos suínos, células produtoras de glugacon e insulina isoladas podem ser encontradas aos 19 dias da gestação (Fig. 14-21); em bovinos, as células produtoras de glucacon podem ser encontradas aos 26 dias da gestação e no dia seguinte podem ser encontradas células produtoras de insulina. Inicialmente, algumas células podem produzir ambos os hormônios, mas esta capacidade é perdida com o avanço do período gestacional. As células produtoras de somatostatina aparecem pouco depois, aos 31 e 45 dias da gestação em suínos e bovinos, respectivamente. Intestino médio O intestino médio está inicialmente em conexão com o saco vitelino. Entretanto, o dobramento do corpo gradualmente estreita esta conexão com o ducto vitelino, que será subsequentemente obliterado com a regressão do saco vitelino. O intestino médio cresce mais rapidamente que o corpo em geral, e em pouco tempo forma uma alça suspensa pelo mesentério dorsal (Fig. 14-22) consistindo em um segmento descendente cranial e um ascendente caudal. 368 Fig. 14-22 Rotação do intestino e sua posição final em diferentes espécies. Vista esquerda. A: Alça do intestino primitivo. B: Rotação em sentido horário se 180° ao longo do eixo dorsoventral. C: Rotação de 270°. D: Localizção final do intestino em cães após rotação em sentido horário de 360°. E: Localização final do intestino em ruminantes. F: Localização final do intestino em suínos. G: Localização do intestino após a rotação em sentido horário de 270° em equinos. H: Localização final do intestino em equinos após a rotação de 360°. Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998). A parte caudal do intestino anterior, já mencionada anteriormente, desenvolve a porção oral do duodeno, está posicionada em orientação horizontal e conecta-se ao segmento descendente da alça intestinal. A primeira porção da alça descendente origina a porção aboral do duodeno; a porção subsequente origina o jejuno; e o topo da alça, que se conecta ao saco vitelino, o íleo. O segmento ascendente desenvolve- se no ceco, assim como em parte do cólon transverso. A maior parte do intestino posterior horizontal desenvolve a porção restante do cólon transverso, cólon descendente, e o reto; assim como o alantoide e seus derivados. O segmento descendente do intestino médio cresce mais rapidamente que o membro ascendente. Durante esta fase do desenvolvimento, o fígado hematopoético ocupa a maior parte da cavidade abdominal, e com o crescimento das alças 369 intestinais estas são deslocadas para fora da cavidade abdominal no celoma extraembrionário. Este processo é conhecido como herniação umbilical fisiológica (Fig. 14-23). Mais tarde, quando o terceiro período de hematopoese na medula óssea inicia-se, o fígado diminui em tamanho e o intestino retorna à cavidade abdominal. Fig. 14-23 Aspecto oblíquo da cavidade abdominal de um embrião de suíno aos 31 dias do desenvolvimento mostrando a herniação umbilical fisiológica (seta). O fígado foi parcialmente removido. 1: Ventrículo do coração; 2: Átrio; 3: Fígado; 4: Mesonefro; 5: Broto do membro. A artéria vitelina direita origina, entre outros, a artéria mesentérica cranial (Cap. 12) que se localiza no mesentério da alça intestinal (Fig. 14-22). Durante a herniação umbilical fisiológica, essa alça rotaciona-se no sentido horário ao longo do eixo dorsoventral com a artéria mesentérica cranial localizada no eixo. A primeira fase da rotação, a qual ocorre quando a alça intestinal forma a hérnia, ocorre em 180°. Assim, o outrora segmento descendente caudal é levado para uma localização mais cranial ao segmento descendente. Posteriormente, durante a redução da hérnia, uma rotação adicional aumenta para 270°. No retorno da alça intestinal à cavidadeabdominal, o posicionamento específico dos intestinos em cada espécie será estabelecido; em um processo que inclui ainda mais rotações levando a uma rotação total de 360° (Fig. 14-22). Talvez devido ao tamanho adicional do ceco, o segmento ascendente é o último a retornar para cavidade abdominal. Assim, a alça descendente localizada caudalmente retorna primeiro, a porção ascendente do duodeno e jejuno torna-se posicionada à esquerda do plano mediano e a artéria mesentérica cranial que se conecta ao cólon descendente (do intestino posterior) fica posicionada ainda mais para a esquerda. A 370 longa alça espiralada de jejuno ocupa a maior parte da cavidade abdominal ventral. Com o retorno do segmento ascendente para a cavidade abdominal, o ceco e o íleo posicionam-se do lado direito do plano mediano. O íleo abre-se na junção entre o ceco e o cólon ascendente. Esta característica é modificada nos carnívoros (nos quais o íleo abre-se diretamente no cólon ascendente) e no cavalo (nos quais o íleo abre-se na base do ceco; veja mais adiante). O cólon ascendente também se torna localizado no lado direito do plano mediano, mas, exceto nos carnívoros, esta porção do intestino sofre crescimento e realocação distintamente em cada espécie. O cólon transverso, do qual a porção oral é derivada do intestino médio e a aboral do intestino posterior, sempre se localiza em uma orientação da direita para esquerda imediatamente cranial à artéria mesentérica cranial. Este se continua com o cólon descendente, estendendo-se caudalmente à esquerda. Nos equinos, suínos e ruminantes ocorre crescimento e mudança de posicionamento do cólon ascendente e do ceco. Nos suínos, um crescimento rápido do cólon ascendente origina uma porção extensa em espiral que, com o retorno à cavidade abdominal, forma um cone com sua base voltada para a direita e o seu ápice à esquerda (Fig. 14-16). Estes rearranjos ocorrem durante o segundo mês de gestação, levando o ceco a se posicionar no lado esquerdo com o ápice apontado caudalmente para a cavidade pélvica. Uma faixa muscular externa longitudinal condensada forma as tênias. Nos ruminantes, o cólon ascendente em espiral também tem uma alta taxa de crescimento. Como nos suínos, o intestino em espiral forma inicialmente um cone, que posteriormente se desenvolve em um espiral mais bidimensional, e o mesocólon funde-se com o mesojejuno. Assim, o cólon ascendente torna-se localizado centralmente no mesmo mesentério que congrega o jejuno na sua periferia. Finalmente, as alças proximal e distal são formadas oral e aboralmente à alça intestinal em espiral, respectivamente. Devido ao crescimento do rúmem, o intestino localiza-se no recesso supraomental à direita na cavidade abdominal. Nos equinos, o cólon ascendente exibe uma taxa de crescimento alta, mas em vez de formar espirais ele forma uma longa e estreita alça em forma de U na qual os dois segmentos são mantidos justapostos por um mesocólon estreito. A alça cresce cranialmente no lado direito da cavidade abdominal, dobra-se no diafragma e continua caudalmente no lado esquerdo até a entrada da pelve. Assim, porções dorsais e ventrais direita e esquerda são formadas. O ceco equino é formado do cólon ascendente. Como resultado, uma porção oral do cólon ascendente forma a base do ceco, e o íleo, o qual, de acordo com sua origem embriológica deveria abrir-se na junção entre o ceco e o cólon ascendente, abre-se na base do ceco. O ceco apresenta um crescimento contínuo, e devido à alta taxa de crescimento caudoventral, uma 371 curvatura craniodorsal menor e uma curvatura caudoventral maior com o ápice voltado cranioventralmente são formadas. Consequentemente, o corpo e o ápice do ceco posicionam-se entre os segmentos direito e esquerdo do colón ascendente. O cólon descendente alonga-se, acompanhado da extensão do seu mesentério e assume uma localização bastante móvel permitindo a palpação retal. Como nos suínos, as camadas musculares longitudinais condensam-se para formar as tênias. Intestino posterior Como já descrito, a porção oral do intestino posterior dá origem à porção aboral do cólon transverso e do cólon descendente. A porção mais aboral do intestino posterior dá origem ao reto e ao alantoide e seus derivados. Na terceira semana da gestação, o alantoide é visível como um extenso broto do intestino posterior estendendo-se no celoma extraembrionário. Inicialmente é observado como uma extensão em forma de âncora caudal ao próprio embrião (Fig. 14-24). O ducto do alantoide amplia-se como o seio urogenital primitivo o qual formará os primórdios da vesícula urinária. Esses derivados do alantoide serão descritos em conjunto com o sistema urogenital (Cap. 15). Fig. 14-24 Desenvolvimento do alantoide (1) do intestino posterior em ovinos aos 17 (A) e aos 19 (B) dias de gestação. Observe que o saco vitelino (2) é rudimentar aos 19 dias. O intestino posterior termina na cloaca, uma cavidade caudal revestida por endoderma e selada da cavidade amniótica pela membrana cloacal, a qual é revestida pelo endoderma e coberto pelo ectoderma externamente (Fig. 14-25). O ducto do alantoide e o intestino posterior são separados por uma camada de mesoderma denominado de septo urorretal. Com o dobramento craniocaudal do 372 embrião, esse septo aproxima-se da membrana cloacal. Ao final, essa membrana é dividida em uma membrana anal e uma membrana urogenital. Ambas as membranas rompem-se, conectando o intestino posterior à cavidade amniótica através do futuro ânus, e abrindo uma abertura do seio urogenital para a cavidade amniótica. O septo urorretal desenvolve-se no corpo perineal. Fig. 14-25 Desenvolvimento do intestino posterior. 1: Abertura do ducto alantoide no alantoide; 2: Cloaca; 3: Membrana cloacal; 4: Intestino posterior; 5: Septo urorretal; 6: Seio urogenital primitivo; 7: Primórdio da bexiga urinária; 8: Membrana urogenital; 9: Corpo perineal; 10: Membrana anal; 11: Reto. Modificado de Sadler (2004). O canal anal é formado pela proliferação do ectoderma. O endoderma, formando um epitélio colunar que reveste o reto, e o canal anal, revestido por um epitélio estratificado pavimentoso, encontram-se se na linha anorretal, local em que o canal anal inicia-se. Resumo O epitélio do sistema gastrointestinal assim como o parênquima de seus derivados, tais como o fígado e pâncreas, são derivados do endoderma, enquanto o tecido conjuntivo, os componentes musculares, a cobertura serosa e os mesentérios são todos derivados do mesoderma. Os componentes nervosos são derivados da crista neural. A boca primitiva, o estomodeu e a cavidade nasal primitiva são revestidas por epitélio de origem ectodermal e tornam-se separadas pelo palato primário e subsequentemente pelo palato secundário. Elas comunicam-se por meio das coanas primárias e, posteriormente, secundárias. Da cavidade nasal primitiva, as conchas, o órgão vomeronasal e os seios paranasais desenvolvem-se. Em relação à cavidade oral, as glândulas salivares desenvolvem-se de cordões epiteliais ectodermais; a língua desenvolve-se de tumefações dos arcos faríngeos recobertos pelo epitélio endodermal; e os dentes desenvolvem-se dos órgãos do esmalte derivados do epitélio ectodermal da cavidade oral, e dos ameloblastos e odontoblastos que se originam do 373 mesênquima da crista neural. O trato gastrointestinal estende-se da membrana orofaríngea até a membrana cloacal e compreende o intestino anterior, intestino médio e intestino posterior. O intestino anterior origina a faringe e seus derivados, o sistema respiratório, o esôfago, estômago e a porção oral do duodeno, assim como os derivados do endoderma duodenal, o fígado e o pâncreas. Os dois últimos órgãos desenvolvem-se de um broto dorsal que forma a maior parte do pâncreas e de um broto ventral que dá origem a uma porção menor do pâncreas, assim como ao fígado e ao sistema de ductos biliares. O intestino médio forma uma alça intestinal que, durante um certo período do desenvolvimento, projeta-se externamente ao umbigo do embrião para o celomaextraembrionário como uma herniação umbilical fisiológica. A alça intestinal rotaciona 360° no sentido horário em torno do seu eixo dorsoventral. Uma vez que a alça intestinal é reposicionada na cavidade abdominal, a alça descendente forma a porção aboral do duodeno, jejuno e a porção oral do íleo, enquanto a alça ascendente dá origem à porção aboral do íleo, ao ceco, ao cólon ascendente e uma parte do cólon transverso. Particularmente, o cólon ascendente e o ceco assumem orientações específicas nas diferentes espécies. O intestino posterior dá origem a uma parte do cólon transverso, ao cólon descendente e ao reto. O intestino posterior inicialmente se abre na cloaca endodermal, da qual o ducto alantoideano estende-se até o alantoide. A cloaca é fechada pela membrana cloacal. Um septo urorretal posteriormente separa o reto do ducto alantoideano, e, com a ruptura da membrana cloacal, são formadas aberturas do intestino posterior, formando o ânus e o seio urogenital. O canal anal é desenvolvido do ectoderma. Quadro 14-1 Regulação molecular do desenvolvimento do intestino primitivo e seus derivados O endoderma forma o revestimento dos tratos respiratório e digestório e é o principal componente de muitas glândulas, incluindo a tireoide, o timo, o pâncreas e o fígado. O desenvolvimento envolve estágios de formação do tubo, formação do broto e citodiferenciação específica para cada órgão. Os tecidos muscular e conjuntivo associados ao endoderma são formados do mesoderma visceral adjacente a eles, exceto para a região da faringe na qual esses componentes são derivados da crista neural. A regulação molecular da diferenciação do endoderma é altamente determinada por padrões sobrepostos de expressão gênica; os genes Hox (Cap. 2) e genes relacionados são de particular importância (Fig. 14-26). Os genes Hox, incluindo os genes Nkx e Pax, são expressos em um padrão bem organizado ao longo do intestino em desenvolvimento e, em 374 certas regiões de sobreposição da expressão, esfíncteres são formados no mesoderma associado. Os genes Hox são considerados genes mestres dentro de certas regiões do intestino em desenvolvimento, regulando a ativação em cascata de genes que coordenam a diferenciação de vários componentes. Os genes Cdx2 e Pdx1 são proximamente relacionados aos genes Hox, e pertencem ao grupo denominado de Parahox. O Cdx2 está envolvido na formação de estruturas posteriores. O Pdx1 é inicialmente expresso no intestino anterior, mas, posteriormente ele se torna importante para o desenvolvimento do pâncreas (veja mais adiante). Na sequência, a regulação do desenvolvimento será exemplificada pelo desenvolvimento do intestino anterior no camundongo na região faríngea, na região ao redor do divertículo respiratório e na região caudal formadora do estômago e dos primórdios do fígado e pâncreas. A região faríngea A região faríngea estende-se da membrana bucofaríngea até o divertículo respiratório. Na faringe em desenvolvimento, os tecidos musculares e conjuntivos são formados primariamente pelas células da crista neural. Essas células migram para os arcos faríngeos do rombencéfalo levando código Hox com eles. Como exemplo, os genes Hox-a2/Hox-b2, Hox- a3/Hox-b3 e Hox-a4/Hoxb-4 são expressos no mesênquima derivado da crista neural do segundo, terceiro e quarto arcos faríngeos, respectivamente. Agindo de acordo com este código, o endoderma da bolsa faríngea controla a diferenciação de vários componentes de cada arco faríngeo por intermédio da expressão de BMP7 caudalmente, FGF8 cranialmente e Pax1 dorsalmente em cada bolsa. Além disso, o Sonic hegdehog (Shh) é expresso caudalmente no endoderma das bolsas faríngeas 2 e 3. A região ao redor do divertículo respiratório Entre muitos outros, os fatores de transcrição Foxa1, Foxa2, Gata4 e Gata6 mostraram-se importantes para o desenvolvimento inicial do intestino anterior. A expressão do HNF3α e β é também encontrada no endoderma do intestino anterior e é mantida no epitélio do pulmão durante a vida embrionária, fetal e adulta. Vários estudos demonstraram que o HNF3β é importante na diferenciação e regulação dos genes dos surfactantes proteicos expressos nos pulmões. De modo interessante, uma vez que os pulmões são formados, o Gata6, mas não o Gata4, continua a ser expresso no epitélio pulmonar. Em particular, o Gata6 aparenta ser um fator de transcrição importante para o desenvolvimento pulmonar e pode ser necessário para a ativação do programa de desenvolvimento pulmonar do endoderma do intestino anterior. O programa genético que determinam o eixo e o padrão de ramificação dos brônquios é definido em um estágio inicial do desenvolvimento. Por exemplo, o eixo esquerdo-direito do pulmão parece ser especificado bem antes de qualquer sinal no órgão. As diferenças de modelagem entre a esquerda e a direita são primeiramente vistas quando os brotos secundários são formados. Essas diferenças continuam a se desenvolver à medida que as vias 375 aéreas sofrem novas ramificações e são congregadas em lobos pela pleura visceral (lobação), que resulta em mais lobos no pulmão direito. A base para a assimetria esquerda-direita nos pulmões e outras vísceras são os genes como o Lefty-1 e 2, o nodal e o Pitx-2. Embora somente poucos aspectos da regulação molecular do desenvolvimento inicial dos pulmões dos mamíferos estejam claros, especificações do tecido pulmonar provavelmente dependem de sinalizações de FGF do mesoderma cardíaco assim como descrito para o desenvolvimento do fígado (veja mais adiante). Coletivamente, os dados são compatíveis com a ideia de que o FGF-10 localmente induza e direcione o crescimento dos brotos pulmonares para a posição própria durante a morfogênese da ramificação pulmonar. Há também evidências genéticas de que respostas quimiotáticas e a indução do broto pulmonar, geradas no epitélio pelo FGF-10, resultem da ativação local do FGFR-2. O processo pelo qual os sáculos transformam-se em unidades alveolares envolve a formação de septos secundários das paredes preexistentes e representam o evento morfogenético final do desenvolvimento do pulmão. Recentes dados sugerem que a sinalização do ácido retinoico está envolvida na alveolização do pulmão. A região caudal do intestino anterior O endoderma do intestino anterior tem a habilidade inerente de diferenciar-se em tecido hepático ao menos que ocorra alguma inibição. Moléculas inibitórias (incluindo a ativina, membro da família TGF-β) são secretadas pelo mesoderma e ectoderma circunvizinhos e pela notocorda externa ao campo hepático. Cranial ao campo hepático, o Sox2, fator de transcrição HMG semelhante ao Sry, é expresso no endoderma formador do esôfago e do ventrículo. Ao redor do campo hepático, o desenvolvimento do fígado é estimulado pelo FGF2 e pelas proteínas morfogenéticas ósseas (BMPs) do mesoderma cardíaco e septo transverso, respectivamente (Fig. 14-27). Para o desenvolvimento das linhagens dos hepatócitos e das células biliares, a expressão de fatores de transcrição nuclear de hepatócitos (HNF3 e 4) é necessária. A expressão de genes específicos do fígado, tais como os genes para albumina ou alfaproteina, podem em princípio ocorrer em qualquer região do tubo intestinal exposta à influência indutora do mesoderma cardiogênico que secreta FGFs. As células do coração em desenvolvimento não são os únicos derivados mesodermais necessários para formar o fígado; as células endoteliais dos vasos sanguíneos que secretam FGFs estão também envolvidas. Se as células endoteliais não estiverem presentes ao redor do campo hepático do tubo intestinal, o broto hepático não se desenvolverá. A fim de responder aos sinais do FGF, o epitélio do intestino primitivo torna-se competente. Essa competência é alcançada pela expressão de fatores de transcrição ‘forkhead’ no endoderma. Embriões de camundongos com ausência de expressão de Foxa1 e Foxa2 no endoderma falham em desenvolver um broto hepático. Posteriormente no desenvolvimento do fígado, outros fatores de transcrição ‘forkhead’, tais como os HNFs
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