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Capítulo 15 Desenvolvimento do sistema urogenital Fred Sinowatz O sistema urogenital pode ser funcionalmente dividido em dois componentes inteiramente diferentes, o sistema urinário e o sistema genital; mas durante o desenvolvimento embrionário os dois sistemas estão intimamente relacionados. Ambos são derivados do mesoderma intermediário não segmentado, o qual também é denominado de placa nefrogênica, a qual está próxima ao epitélio celômico do mesoderma. O início da proliferação desta porção do mesoderma leva à formação de uma elevação longitudinal — denominada placa urogenital — ao longo do aspecto dorsolateral do abdome. Desenvolvimento do sistema urinário A nefrogênese, ou formação dos rins nos mamíferos, inicia-se com o surgimento de três gerações sucessivas de primórdios renais: o pronefro, o mesonefro e o metanefro (Fig. 15-1). Estes primórdios surgem de uma onda anteroposterior de diferenciação celular no cordão nefrogênico, o qual é parte da placa urogenital. À medida que esses primórdios desenvolvem-se, seus ductos excretores tornam-se localizados paralelos ao cordão nefrogênico. O ducto associado ao segundo primórdio renal, o mesonefro, torna-se particularmente bem desenvolvido e é denominado ducto mesonéfrico ou ducto de Wolff. 380 Fig. 15-1 Subdivisão do mesoderma intermediário em áreas que formarão o pronefro (1), o mesonefro (2) e o metanefro (3). Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998). Pronefro O pronefro possui função significativa limitada aos vertebrados inferiores, peixes, por exemplo. Na maioria dos mamíferos o pronefro é rudimentar e consiste em 7 ou 8 pares de túbulos pronéfricos que aparecem brevemente no nível do sétimo até o 14° somito. No mesoderma intermediário desta região, um ducto, o ducto pronéfrico, desenvolve-se e cresce caudalmente em direção à cloaca. Nas ovelhas, os túbulos pronéfricos tornam-se bem desenvolvidos e ligam-se ao ducto pronéfrico. Mesonefro O mesonefro é completamente funcional em vertebrados inferiores, como nos anfíbios. Em mamíferos, o mesonefro é um vestígio do cordão nefrogênico e apresenta função transitória. O mesonefro e o ducto mesonéfrico são derivados do mesoderma intermediário, o qual se estende do segmento torácico superior aos segmentos lombares superiores. Em animais domésticos, 70–80 pares de túbulos mesonéfricos aparecem aproximadamente entre o nível do somito 9 ao 26. Cada túbulo conecta-se a um vaso sanguíneo de um lado e à extremidade final do ducto pronéfrico de outro. Os ductos crescem em direção à cloaca e formam o ducto mesonéfrico ou ducto de Wolff. Os túbulos mesonéfricos alongam-se rapidamente, formando uma alça em formato de S e adquirem a forma de um tufo de capilares que posteriormente formarão os glomérulos em sua extremidade medial. Os glomérulos são supridos por um rico plexo vascular, composto de numerosos troncos laterais da aorta dorsal, dentro do mesonefro. Ao redor de cada um dos glomérulos, os túbulos formam a cápsula de Bowman. Estas estruturas juntas constituem o corpúsculo renal, lateralmente os túbulos unem-se ao ducto coletor longitudinal, o ducto mesonéfrico. O mesonefro completamente desenvolvido apresenta um tamanho considerável nos animais domésticos, formando um órgão ovoide de cada lado da linha média (Figs. 15-2, 15-3). Devido ao seu tamanho, é particularmente responsável pela herniação fisiológica da alça intestinal em crescimento (Cap. 14). O tamanho do mesonefro correlaciona-se até certo ponto com o tipo de placenta e com a maneira como a placenta filtra o sangue. Assim, é maior em espécies com uma barreira placentária de seis camadas (placenta epiteliocorial; Cap. 9) tal como nos suínos e nos ovinos, e menor em carnívoros com uma barreira de quatro camadas (placenta 381 endoteliocorial). Logo após sua formação, a maioria dos túbulos mesonéfricos começam a se degenerar. A degeneração da porção cranial do mesonefro ocorre próxima à oitava e à nona semana de gestação nos equinos, e à décima semana em bovinos. Fig. 15-2 Mesonefro em um embrião suíno no dia 21 de desenvolvimento. 1: Mesonefro; 2: Fígado. Fig. 15-3 Maior magnificação do mesonefro de um embrião suíno no dia 21 de desenvolvimento. 1: Mesonefro; 2: Ducto mesonéfrico (Ducto de Wolff); 3: Glomérulo do 382 mesonefro; 4: Túbulos mesonéfricos. Metanefro O metanefro é a terceira geração dos órgãos urinários e apresenta a forma do rim permanente (Figs. 15-4, 15-5). Em bovinos, o desenvolvimento inicia-se no nível do somito 26 ao 28, quando o embrião apresenta aproximadamente 6–7 mm de comprimento. O metanefro é derivado de duas estruturas primordiais: o broto uretérico, formado do ducto mesonéfrico e o blastema metanéfrico, o qual está localizado na região sacral e origina-se da região posterior do cordão nefrogênico. Na formação do metanefro, o broto uretérico cresce em sentido anterodorsal no mesoderma intermediário posterior sobrejacente onde interage com o blastema metanéfrico localizado no aspecto lateral da aorta. A interação epitélio-mesenquimal confere uma dramática transformação do fenótipo mesenquimal para o epitelial, o qual retribui induzindo no broto uretérico ramificações e a geração de néfrons iniciais. Fig. 15-4 Estágios de desenvolvimento do túbulo metanéfrico. A: À medida que o broto terminal do ducto metanéfrico ramifica-se, as células mesenquimais circundantes dividem-se em diferentes partes. Um único agregado de células mesenquimais passa por uma série definida de etapas para formar um túbulo renal. 1: Broto uretérico com duas ampolas; 2: cobertura de tecido metanéfrico; 3: Vesícula renal. B: A vesícula renal origina pequenos túbulos em formato de S. Capilares (6) crescem para o interior da concavidade (5) em uma das extremidades em S e diferenciam-se em glomérulos. 1: Ampola; 1′: Túbulo coletor, 4: Túbulo renal. C: No ponto em que o túbulo coletor (1′) divide-se, desenvolvem-se numerosos néfrons compostos de corpúsculo renal (7) e túbulos renais (8). D: O néfron forma túbulos contorcidos proximal (9) e distal (10), que são conectados pela alça de Henle (11). E: Corpúsculo renal diferenciado. 12: Glomérulo, 13: Cápsula de Bowman. Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998). 383 Fig. 15-5 Desenvolvimento de uma unidade excretora metanefrogênica em embrião bovino com 17 mm de comprimento craniossacral. 1: Broto uretérico; 2: Cobertura de tecido metanéfrico. Sistema coletor A combinação de elongação e ramificação (até 14 ou 15 divisões dicotômicas) do broto uretérico tem um papel central no desenvolvimento do metanefro (Fig. 15-6). O crescimento do broto uretérico do ducto mesonéfrico é induzido pela secreção de fator neurotrófico derivado da glia (GDNF) produzido pelas células da glia do mesênquima não diferenciado do blastema metanefrogênico. A secreção do GDNF é controlada pelo WT-1, um fator de transcrição que faz com que o mesênquima competente responda à indução do broto uretérico. O sinal de indução GDNF liga-se ao c-Ret, um receptor membro da superfamília da tirosina quinase, o qual está localizado na membrana plasmática das células epiteliais do broto uretérico. Em resposta ao GDNF, as células epiteliais do broto uretérico produzem o fator 2 de crescimento derivado dos fibroblastos (FGF2), BMP1/BMP2 e fator de inibição de leucemia (LIF), os quais estimulam o mesênquima metanéfrico a formar os precursores dos túbulos renais. 384 Fig. 15-6 Indução e modelagem do néfron. A: O fator neurotrófico derivado da glia (GDNF) produzido pelas células mesenquimais (azul) circundando o ureter liga-se ao receptor RET na extremidade do ureter (vermelho) e induz seu crescimento e ramificação. A sinalização desencadeada pelo RET ativa o WNT11, que é necessário para formar uma alça de retroalimentação positiva que mantém a expressão do GDNF no mesênquima metanéfrico. A sinalização com ácido retinoico (RA) das células do estroma (rosa) é necessária para a manutenção da expressão do RET no broto uretérico. O SIX2 (Sine oculis homeobox homologue 2) suprime a tubulogênese em células precursoras renais (roxo),as quais localizam-se na porção externa do córtex do rim em desenvolvimento. B: O WNT9B liberado das regiões pediculares do ureter induz a sinalização clássica de β- catenina no mesênquima metanéfrico ativando a cascata molecular envolvendo o fator de crescimento 8 derivado dos fibroblastos (FGF8), a LIM1 proteína homeobox LIM (também conhecida como LHX1) e WNT4. O WNT4 leva à transição de mesênquima para epitélio e à formação da vesícula renal (marrom). C: LIM1 é necessário para induzir os estágios iniciais de modelagem da vesícula renal, pelo controle da expressão do fator de transcrição BRN1 com domínio POU e da proteína Delta-like (DLL1) no polo da vesícula localizado próximo ao ureter. A expressão do fator de transcrição do tumor de Wilms (WT1) torna-se restrita à provável camada de podócitos do corpúsculo em formato de vírgula, onde este suprime a proteína paired-box 2 (PAX2). D: O corpúsculo em formato de vírgula transforma-se em uma estrutura em formato de S. Sob o 385 controle de fatores de transcrição, os segmentos distais estendem-se e diferenciam-se nos segmentos de túbulos distais (com alta concentração de BRN1) e intermediário. O NOTCH2 controla o destino dos túbulos proximais. Podócitos maduros sob a influência de fatores de transcrição como WT1 e LMX1B (fator de transcrição LIM-homeobox 1) secretam moléculas sinalizadora (VEGF – fator de crescimento do endotélio vascular) que atraem células endoteliais (vermelhas), que por sua vez produzem fatores (p. ex., o PDGF – fator de crescimento derivado das plaquetas) que dão suporte à diferenciação das células mesangiais. E: Um néfron remodelado apresentando alça vascular (vermelho), podócitos (verde-escuro), cápsula de Bowman (verde-claro), túbulo contorcido proximal (azul), segmentos intermediários com a alça de Henle (laranja), túbulo contorcido distal (amarelo) e ducto coletor (vermelho- escuro). Modificado de Schedl (2007). A formação de néfrons funcionais no metanefro em desenvolvimento envolve três linhagens celulares, todas derivadas do mesoderma: células epiteliais oriundas do broto uretérico, células mesenquimais do blastema metanéfrico e células endoteliais associadas a estes. O primeiro passo para a formação dos néfrons é a agregação das células do blastema mesenquimal ao redor dos botões terminais das ramificações do broto uretérico. À medida que as células mesenquimais agregam-se, a expressão de várias proteínas tipicamente encontradas nas células mesenquimais (como colágeno I, colágeno III e fibronectina) é perdida e substituída por proteínas tipicamente epiteliais como colágeno IV, sindecan-1 e laminina, as quais contribuem para a formação da membrana basal ao redor das células tubulares. A agregação mesenquimal do blastema metanéfrico ao redor dos botões terminais dos ramos do broto uretérico geram os túbulos renais em etapas. Os agregados de células do blastema metanéfrico organizam-se em um cordão epitelial que se canaliza para formar um túbulo (Fig. 15-4). O túbulo primordial assume primeiro um formato de vírgula, com um lúmen central na sua extremidade distal e uma lamina basal na sua superfície externa. Estes eventos marcam a transformação das células mesenquimais em epitélio. Subsequentemente, um espaço como uma fenda desenvolve-se do lado externo dos precursores dos podócitos no túbulo primordial, e células precursoras do endotélio vascular migram para este espaço. Por fim, as células endoteliais vasculares formam os capilares do glomérulo, os quais conectam-se com ramos das artérias segmentares laterais que derivam da aorta. Entre as células endoteliais do glomérulo e os podócitos, uma lâmina basal espessa é formada, a qual servirá, posteriormente, como um componente importante da barreira de filtração renal. À medida que o componente glomerular do néfron toma forma, o primórdio tubular em formato de vírgula vai modificando-se para uma estrutura em formato 386 de S. Durante esse processo o restante do túbulo primordial adquire características de células epiteliais. Essas células agora passam a expressar E-caderina, a qual sela a borda lateral das células e a laminina é depositada nas superfícies basais. Um padrão característico de expressão gênica pode ser observado ao longo do comprimento dos túbulos em formato de S: próximo ao que será futuramente a extremidade do túbulo, WT-1 torna-se intensamente expresso, ao passo que Pax2 tem um declínio na sua expressão. Na outra extremidade (que futuramente será o túbulo contorcido distal) a expressão de Wnt-4 e E-Caderina permanece elevada. Na parte intermediária do túbulo em S (futuramente o túbulo contorcido proximal) a expressão de K-Caderina mantém-se alta. Posteriormente, a progressão da diferenciação do túbulo renal ocorre do túbulo contorcido proximal para o túbulo contorcido distal. A porção intermediária de cada túbulo desenvolve-se em uma alça em formato de “U”, fina e alongada, que se estende para o interior da medula renal e é conhecida como tubulus attenuatus ou alça de Henle. Durante a diferenciação, as células epiteliais tubulares adquirem características de células renais maduras, incluindo a expressão de antígenos das bordas em escova ou da proteína Tamm-Horsfall. Cada um dos néfrons maduros consistem em um corpúsculo renal localizado na porção cortical externa dos rins, e de uma porção tubular longa que se estende centralmente, contribuindo para a medula renal. O desenvolvimento dos rins envolve a formação de aproximadamente 15 gerações sucessivas de néfrons na zona cortical periférica (Figs. 15-7, 15-8, 15-9). Os primeiros corpúsculos renais a serem formados estão localizados na junção corticomedular. Muitos néfrons recém-formados sofrem apoptose precocemente durante o final do estágio fetal. Os túbulos coletores elongam-se e novas gerações de néfrons são induzidas a se formarem em níveis progressivamente mais superficiais. Assim o néfrons mais externos estão menos maduros que os localizados mais profundamente no córtex. Dependendo da espécie, a nefrogênese cessa logo após o nascimento; a nefrogênese continua nas primeiras semanas após o parto em cães e nas primeiras três semanas em suínos. O número de néfrons formados difere entre as espécies: cerca de 200.000 néfrons são formados no rim do felino, 300.000–500.000 em cães e 1,5–4 milhões em ruminantes e suínos. 387 Fig. 15-7 Metanefro e mesonefro em regressão de um feto bovino com comprimento craniossacral de 30 cm: 1: Metanefro, 2: Mesonefro. Fig. 15-8 Metanefro (1) e glândula adrenal (2) de feto bovino com comprimento craniossacral de 12,7 cm. 388 Fig. 15-9 Desenvolvimento da pelve renal, cálices e túbulos coletores do metanefro. A: Divisão do broto uretérico no blastema metanefrogênico. B: Estágio indiferenciado do metanefro: C-F: Diferenciação do metanefro em carnívoros (C), suínos (D), bovinos (E) e equinos (F). Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998). As variações no aspecto macroscópico dos rins maduros são resultado de diferenças nas ramificações do broto uretérico e dos arranjos dos néfrons associados a esses ramos (Fig. 15-9). Em bovinos, o broto uretérico do qual o ureter é derivado forma dois grandes ramos (ramo primário) que se subdivide em 12 a 25 ramos menores (secundários). Consequentemente, os rins de bovinos desenvolvem 12–25 lobos separados, cada um contendo uma papila com formato piramidal distinta. O rim bovino é, portanto, frequentemente referido como um rim multipiramidal. Cada um dos ductos papilares dos lobos drena para o cálice. O rim bovino difere de outros animais domésticos por não ter pelve renal. No suíno, embora o córtex não seja lobulado, a medula é subdividida em pirâmides renais formando papilas, sendo assim o rim do suíno é também multipiramidal. Cada uma das papilas consiste em alça néfrica e os túbulos e ductos coletores que desembocam no ramo terminal do cálice menor. A dilatação final do broto uretérico do suíno forma a pelve renal. Das duas principais divisões da pelve renal (cálice maior) até 10 cálices menores em formato de funil são originados.Apesar da aparência superficial lisa, a estrutura do rim suíno é multilobular, 389 revelando-se em duas características, a aparência multipiramidal e a separação da drenagem em cada lobo em cálices menores. Em equinos, pequenos ruminantes e carnívoros nenhum cálice é formado e o ducto papilar drena diretamente para a pelve. Em equinos, a pelve renal possui dois longos finos processos (recessos terminais), nos quais a urina é coletada. Os recessos terminais são revestidos pelo mesmo epitélio dos ductos coletores e podem ser considerados uma fusão dos ductos coletores originários dos néfrons localizados próximo aos polos dos rins. O córtex sofre uma completa fusão resultando em não lobulação, e a superfície do rim é lisa. Além disso, a fusão da região apical da pirâmide medular resulta na formação da papila em forma de cristas, a crista renal. Todos os ductos coletores abrem-se nesta crista da pelve a qual se estende no teto da pelve. O recesso lateral da pelve renal canina não coleta urina, porém segrega a região medular em pirâmides renais que possuem formato de cunha. O rim metanéfrico desenvolve-se inicialmente na região pélvica do embrião. No entanto, devido ao crescimento extenso e alongamento da porção posterior do feto, percebe-se que o rim ascende para o abdome e na maioria de espécie torna-se ventral às vértebras lombares craniais. O alongamento do ureter é consequentemente proporcional ao crescimento do feto. Vesícula urinária e uretra Durante o desenvolvimento do intestino posterior a cloaca é subdividida pelo septo urorretal em reto (dorsalmente) e seio urogenital (ventralmente). Este último compreende uma região pélvica anterior e uma região fálica posterior (Fig. 15-10). Cranialmente, o seio urogenital é conectado à cavidade alantoideana pelo úraco, o qual se continua pelo pedículo alantoideano. Após a degeneração da membrana cloacal, o pedículo alantoideano abre-se caudalmente na cavidade amniótica pelo orifício urogenital. A vesícula urinária forma-se da porção proximal do úraco e da região pélvica do seio urogenital (Figs. 15-10, 15-11). A extremidade distal do úraco oblitera-se em uma estrutura similar a um cordão, que é suspensa por uma prega peritoneal formando o ligamento umbilical médio, ligando a vesícula urinária à região umbilical. À medida que a vesícula urinária cresce, suas paredes em expansão incorporam as porções terminais dos ductos mesonéfricos e brotos uretéricos, e cada sistema de ductos forma aberturas distintas na vesícula urinária em desenvolvimento. Inicialmente os ductos mesonéfricos abrem-se anteriormente aos brotos uretéricos, mas gradualmente a posição desses orifícios modifica-se de tal modo que as extremidades dos brotos uretéricos ao final abrem-se na vesícula urinária lateral e 390 anteriormente aos ductos mesonéfricos. Uma área triangular na parede dorsal do colo da vesícula urinária e a uretra cranial representam a região de incorporação dos ductos mesonéfricos e brotos uretéricos. A base deste trígono é delimitada anteriormente pela entrada dos ureteres. O ápice está localizado no local em que os ductos mesonéfricos penetram para formar os ductos deferentes em cada lado de uma protuberância denominada crista uretral. O trígono na parede dorsal da vesícula urinária é revestido por epitélio de origem mesodermal enquanto que o restante do epitélio da vesícula urinária é derivado do endoderma. Os componentes não epiteliais da parede da vesícula urinária (tecido conjuntivo e músculo liso) são derivados do mesoderma visceral. Fig. 15-10 Diferenciação dos ductos de Wolff e de Müller e deslocamento da uretra durante o desenvolvimento dos órgãos genitais dos machos e das fêmeas. A e B: Estágio indiferenciado: 1: Mesonefro e crista genital (em realce); 2: Ducto de Wolff; 3: Broto uretérico; 4: Ducto de Müller; 5: Seio urogenital (futura vesícula urinária) com a uretra primária (5′). 6: Cloaca; 7: Reto; 8: Septo urorretal. C: Órgãos genitais femininos: 1: Ovário; 2: Ducto de Gardner (remanescentes do ducto mesonéfrico); 3: Metanefro com ureter (3′); 4: Útero; 5: Vesícula urinária com uretra (5′) e vestíbulo (5″); 6: Períneo; 7: Reto; 8: Septo urorretal; 9: Clitóris. D: Órgãos genitais masculinos: 1: Testículos; 2: Epidídimo; 2′: Ducto deferente; 3: Metanefro com ureter (3′); 5: Vesícula urinária com uretra (5′); 6: Períneo; 7: Reto; 8: Septo urorretal; 9: Pênis. 391 Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998). Fig. 15-11 Vista dorsal da vesícula urinária demonstrando a relação dos ureteres e dos ductos mesonéfricos durante o desenvolvimento. A: Inicialmente os ureteres são formados pelo crescimento do ducto mesonéfrico, mas com o tempo formam uma abertura independente na vesícula urinária (B-D). 1: Ducto mesonéfrico; 2: Broto uretérico; 3: Vesícula urinária; 4: Trígono da vesícula urinária (trígono vesical); 5: Uretra. Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998). Nas fêmeas, a uretra desenvolve-se da porção anterior pélvica do seio urogenital e o remanescente do seio forma o vestíbulo. Nos machos, o seio urogenital caudal origina a uretra peniana. Desenvolvimento dos órgãos genitais do macho e da fêmea Determinação do sexo O sexo cromossômico é estabelecido na fertilização, quando um espermatozoide 392 transportando o cromossomo Y ou X funde-se com o ovócito para determinar o sexo genético do zigoto. O gene da região determinadora do sexo do cromossomo Y (Sry), um membro da família de fatores de transcrição Sox, é o gene determinador da formação dos testículos. Está localizado em uma região de 35 quilodaltons no braço curto do cromossomo Y. Em camundongos, o Sry codifica uma proteína de 223 aminoácidos que se liga ao DNA e pertence à classe das proteínas de alta mobilidade (High Mobility Group – HMG). Esta proteína provavelmente regula a expressão de outros genes, o que confere o fenótipo celular. Evidências adicionais de que o Sry é o gene determinador dos testículos codificado pelo cromossomo Y surgiram de experimentos com camundongos transgênicos a reversão sexual de fêmea para macho foi observada depois que um fragmento pequeno do genoma transportando o gene Sry de camundongo foi induzido como transgene em embriões XX. Estes resultados demonstram não somente que o Sry está envolvido na determinação dos testículos, mas que é o único gene do cromossomo Y necessário para esse processo. Embora o sexo genético do embrião seja determinado na fertilização, o fenótipo não é aparente antes de 4 a 7 semanas de desenvolvimento, dependendo da espécie. No entanto, diferenças sutis são expressas muito cedo, como a demonstração de que a velocidade de desenvolvimento até a etapa de blastocisto é mais rápida em machos do que em fêmeas. Células germinativas primordiais e o estágio indiferenciado de desenvolvimento gonadal Durante o estágio de desenvolvimento indiferenciado das gônadas, células germinativas primordiais (CGPs) migram do saco vitelino até as gônadas primordiais (Cap. 4). As CGPs são a fonte de células germinativas nas gônadas adultas. Inicialmente as CGPs são identificadas no epiblasto, cuja formação, pelo menos em camundongos, depende da expressão de BMP4 pelo ectoderma extraembrionário (Cap. 20). O ectoderma extraembrionário é formado durante o desenvolvimento do âmnio em camundongos, e devido à amniogênese ser diferente nos animais domésticos e no camundongo, é incerta a semelhança deste mecanismo nas espécies domésticas. As CGPs podem ser identificadas histoquimicamente pela sua alta atividade de fosfatase alcalina e pela expressão dos fatores de transcrição de pluripotência como o Oct4. Estas células passam pelo sulco primitivo inicial e tornam-se um grupo pequeno de células no mesoderma extraembrionário, perto da base do alantoide. Posteriormente são incorporadas ao endoderma da parede posterior do saco vitelino, onde aparentemente são deslocadas do disco embrionário. Subsequentemente, as CGPs mudam para um local ao longo dos pedículos do saco vitelino e do alantoide. Desse local migram através da parede do intestino posterior e 393do mesentério dorsal até a crista genital recém-formada (Fig. 15-12). Fig. 15-12 Secção transversal de embrião de ovelha com 17 mm de comprimento craniossacral. 1: Crista genital; 2: Mesonefro; 3: Aorta; 4: Ducto de Wolff. Estudos em camundongos mutantes demonstraram que a passagem das CGPs pelo mesentério dorsal e pelas cristas genitais provavelmente requer locomoção ativa. Isto, especialmente nos estágios iniciais de migração, é conseguido por movimentos ameboides das células em resposta a estímulos moleculares originados da matriz extracelular. Em aves, CGPs alcançam a crista genital pela corrente sanguínea. As CGPs dividem-se durante a migração para as gônadas primordiais, em resposta a fatores mitogênicos como LIF e Steel, e muitas delas permanecem ligadas entre si por meio de longos processos citoplasmáticos. Elas também expressam o fator de transcrição Oct4, o qual está envolvido na manutenção da sua condição de pluripotência (Cap. 4), este o mesmo gene que mantém indiferenciados os blastômeros e a MCI em embriões em desenvolvimento (Cap. 6). As CGPs podem ser encontradas na crista genital no dia 16 em suínos, no dia 21 em cães, no dia 22 em ovelhas, no dia 25 em bovinos e no dia 28 em humanos. Aproximadamente 1.000 a 2.000 CGPs chegam à crista genital. Poucos dias após a colonização da crista genital, as CGPs sofrem bloqueio mitótico. No testículo primordial as CGPs não entram em meiose até a puberdade, ao passo que a meiose é iniciada durante o desenvolvimento fetal no ovário primordial. As gônadas desenvolvem-se de uma região alongada do mesoderma esteroidogênico ao longo da borda ventromedial do mesonefro. Como descrito anteriormente, o mesonefro é o rim primitivo em desenvolvimento do mesoderma intermediário não segmentado. A crista genital consiste em 3 populações celulares 394 principais: células mesenquimais locais, células derivadas do epitélio celômico e células originárias dos túbulos mesonéfricos em regressão que invadem o tecido gonadal. Recentemente, alguns dos mecanismos moleculares da diferenciação gonadal foram estabelecidos. Um dos primeiros genes necessários para a formação das gônadas é o WT-1, que é expresso por todo o mesoderma intermediário e também apresenta um papel importante na formação dos rins. Lim-1 é outro gene principal envolvido nas primeiras fases de desenvolvimento gonadal e na sua ausência as gônadas não são formadas. Outro gene, o fator esteroidogênico 1 é expresso tanto nas gônadas indiferenciadas, como na medula adrenal em desenvolvimento, formado de células da parte cranial do mesoderma esteroidogênico. Embora o sexo dos embriões mamíferos seja determinado geneticamente no momento da fertilização, a região genital mantém-se morfologicamente indiferenciada durante as primeiras semanas de gestação. Quando as CGPs chegam na crista gonadal, as células mesenquimais residentes e o epitélio celômico proliferam, e, consequentemente, há o desenvolvimento da crista gonadal projetando-se na cavidade celômica (Figs. 15-12, 15-13). Esta região forma-se nos embriões de aproximadamente 9–10 mm de comprimento craniossacral e crescem rapidamente após a chegada das CGPs. Cordões de células epiteliais dos túbulos mesonéfricos e da cápsula glomerular em regressão penetram no mesênquima da crista genital e formam numerosos cordões irregulares – os cordões sexuais primitivos ou cordões gonadais, os quais incorporam as CGPs. Em ambos os sexos estes cordões são temporariamente conectados ao epitélio superficial. Neste momento é impossível diferenciar morfologicamente a gônada feminina da masculina e portanto são denominadas gônadas indiferenciadas. 395 Fig. 15-13 Secção transversal de feto de bovino com 11,3 mm de comprimento craniossacral. 1: Gônada; 2: Mesonefro. Diferenciação dos testículos A diferenciação dos testículos (Figs. 15-14, 15-15) ocorre sob a influência do gene Sry (fator determinante do testículo) presente no cromossomo Y. Sem a expressão dos produtos deste gene, a gônada indiferenciada desenvolve-se posteriormente em um ovário. Em embriões machos, transcritos do gene Sry somente tornam-se detectáveis na crista genital após o início da diferenciação testicular. Nem a expressão do gene Sry no testículo primordial, nem o subsequente desenvolvimento testicular, é dependente da presença das células germinativas. O Sry desencadeia a formação dos testículos inibindo a Dax-1, um membro da família de receptores nucleares, que também é expresso nas gônadas indiferenciadas ao mesmo tempo. A inibição de Dax- 1 é necessária para que a gônada geneticamente masculina expresse seu sexo fenotípico e desenvolva-se em um testículo. Fig. 15-14 Esquema demonstrando a topografia do sistema urogenital após a diferenciação das gônadas. 1: Gônadas; 2: Glomérulo gigante; 3: Túbulos do mesonefro; 4: Mesonefro (Ducto de Wolff); 5: Ducto paramesonéfrico (Ducto de Müller); 6: Seio urogenital; 7: Gubernáculo testicular; 8: Metanefro; 9: Glândula adrenal. Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998). 396 Fig. 15-15 Testículo (1) e epidídimo (2) de feto bovino com 12 cm de comprimento craniossacral. 3: Plexo pampiniforme. Sob a influência do gene Sry, as células dos cordões sexuais primitivos continuam a proliferação e penetram profundamente na medula para formar os cordões testiculares ou cordões medulares (Figs. 15-16, 15-17). O desenvolvimento subsequente da gônada indiferenciada em testículos é iniciado na região medular da crista gonadal. Os cordões testiculares transformam-se em túbulos sólidos compostos por células germinativas primitivas e perifericamente em células de sustentação ou células de Sertoli. Estes túbulos organizam-se em alças com formato de ferradura conectadas em ambos os lados a uma rede de cordões celulares menores, a rede testis. Os túbulos testiculares desenvolvem um lúmen durante a puberdade e transformam-se nos túbulos seminíferos. A rede testis une-se com os ductos eferentes, os quais são derivados dos remanescentes dos túbulos mesonéfricos. Eles unem a rede testis ao túbulo mesonéfrico ou ducto de Wolff, o qual transforma-se no ducto epididimário e ducto deferente. 397 Fig. 15-16 Testículo de embrião bovino com 10 semanas de gestação. Os cordões testiculares consistem em células germinativas primordiais (1) e presumíveis células de Sertoli (2). Entre os cordões células mesenquimais formam a primeira geração de células de Leydig secretoras de andrógenos (3). Fig. 15-17 Testículo e epidídimo de um bezerro neonato. 1: Parênquima testicular; 2: Mediastino testicular com rede testis; 3: Túnica albugínea; 4: Corpo do epidídimo; 5: Cauda do epidídimo. A gônada masculina em desenvolvimento produz uma substância quimiotática que estimula a migração das células mesonéfricas para as gônadas, onde elas circundam os cordões testiculares e diferenciam-se em células mioides contráteis. À medida que os cordões testiculares diferenciam-se, uma densa camada de tecido fibroso conjuntivo, a túnica albugínea, forma-se como uma cápsula ao redor dos 398 cordões testiculares abaixo da superfície epitelial da gônada. A túnica albugínea é a primeira vista em bovinos no dia 41 (comprimento craniossacral – 20 mm), em ovinos no dia 31 (comprimento craniossacral –17 mm), em equinos no dia 30 (comprimento craniossacral – 16 a 17 mm) e no cão no dia 29 (comprimento craniossacral – 19 a 20 mm). No mesênquima entre os cordões testiculares, a primeira geração de células de Leydig produtoras de andrógeno desenvolvem-se em bovinos com comprimento craniossacral de 30 mm (dia 42) e em suínos com 33 mm. Durante os próximos dois dias, estas células iniciam uma produção crescente de testosterona e androsterona. A atividade endócrina é importante para a diferenciação do sistema de ductos sexuais masculino, para o desenvolvimento da genitália masculina externa e para a diferenciação dos centros sexuais no cérebro, os quais são importantes para o desenvolvimento do comportamento masculino. Depois de várias semanas a meses (7 meses de gestação nos bovinos), a primeira geração(fetal) de células de Leydig gradualmente involui, para ser substituída por uma segunda geração de células de Leydig antes da puberdade. Esta segunda geração de células são diferenciadas das células do tecido conjuntivo e são responsáveis pelo início e subsequente estimulação da espermatogênese. Descida dos testículos A descida testicular refere-se à migração dos testículos da sua região de formação intra-abdominal para o escroto, usualmente localizado na região inguinal (Fig. 15- 18). Em mamíferos este processo é sujeito à variação entre as espécies. Por exemplo, em mamíferos aquáticos, elefantes e tatus os testículos permanecem dentro da cavidade abdominal e a descida não ocorre. Entretanto, na maioria dos mamíferos, incluindo todos os animais domésticos, os testículos migram para localização extra- abdominal, e nestas espécies a temperatura de 2°–4 °C abaixo da temperatura corpórea é exigida para que haja uma espermatogênese normal. 399 Fig. 15-18 Descida dos testículos em bovinos. A: O testículo está localizado na cavidade abdominal. B: Testículo passando pelo canal inguinal. C: Testículo no interior do escroto. 1: Testículo; 2: Gubernáculo testicular; 2′: Ligamento próprio do testículo e ligamento caudal do epidídimo; 2″: Ligamento testicular inguinal; 3: Ducto de Wolff; 3′: Epidídimo; 3″: Ducto deferente; 4: Ampola do ducto deferente; 5: Vesícula seminal; 6: Próstata; 7: Glândula bulbouretral; 8: Úraco; 9: Vesícula urinária; 10: Uretra; 11: Músculo retrator do pênis. Cortesia de Sinowatz e Rüsse (2007). Como os rins, os testículos desenvolvem-se em posição retroperitoneal. Antes da descida, os testículos são ancorados cranialmente pelo ligamento suspensório derivado do ligamento diafragmático do mesonefro, e caudalmente pelo ligamento inguinal do mesonefro, o que posteriormente torna-se o gubernáculo testicular. À medida que ocorre a degeneração do mesonefro, os ligamentos que ancoram as 400 gônadas e os ductos permanecem presos à parede da cavidade peritoneal. O local de inserção desses ligamentos modifica-se de dorsolateral para ventrolateral à medida que os ductos movem-se caudalmente. A descida testicular ocorre em três fases. A primeira está associada ao aumento de tamanho dos testículos e concomitantemente regressão do mesonefro. Sob a influência dos andrógenos, o ligamento suspensório anterior regride e os testículos são liberados do seu local de formação próximo ao diafragma. Durante a segunda fase, usualmente chamada de descida transabdominal, os testículos movem-se caudalmente até o nível da abertura interna do canal de inguinal, principalmente em consequência do crescimento e alongamento do corpo enquanto que os testículos permanecem em uma distância aproximadamente constante do seio urogenital. Dados recentes mostram que, ao menos em camundongos, a fase de descida testicular depende da expressão do Insl-3 nos testículos. Na ausência deInsl-3 os testículos permanecem localizados cranialmente. A terceira fase é denominada descida transinguinal, na qual o testículo move-se para o escroto. Esta fase é dependente de andrógeno e envolve a orientação do gubernáculo testicular. Todavia não se sabe se o gubernáculo ativamente traciona os testículos para o escroto, ou somente atua como uma estrutura norteadora, porém muitos dados indicam que a descida é um processo passivo e nenhum tecido de contração pode ser demonstrado no gubernáculo. Embora o mecanismo de migração testicular para o escroto não esteja claro, o momento em que o evento ocorre está bem estabelecido. Os testículos estão localizados na abertura interna do canal inguinal em cães no dia 50, em bovinos no dia 90, em suínos no dia 70 e em equinos no dia 240. Com a aproximação dos testículos à abertura do canal inguinal, a cauda do epidídimo penetra no canal inguinal. A partir do momento em que os testículos estão em posição adjacente ao canal inguinal, mudanças ocorrem para reduzir a disparidade de tamanho entre a gônada e o canal; um aumento no fluido intercelular leva a um edema no gubernáculo no nível do canal, assim facilitando a entrada do testículo no canal. Uma vez que os testículos adentraram o canal inguinal, contração da abertura interna concomitantemente com contrações dos músculos abdominais forçam os testículos ao longo do canal e pela abertura inguinal externa. O tempo para a passagem pelo canal é espécie-dependente – rápida em bovinos e suínos, porém lenta em equinos. À medida que os testículos deixam o canal inguinal, o gubernáculo testicular regride, facilitando a descida final dos testículos ao escroto. A descida transinguinal é andrógeno dependente e o tempo aproximado de descida testicular é demonstrado na Tabela 15-1. 401 Tabela 15-1 Descida dos testículos A falha na descida testicular gera uma condição denominada criptorquidismo, a qual é vista mais frequentemente em equinos, suínos e em alguns cães miniatura. Muitas condições patológicas, como desenvolvimento de testículos anormais, desenvolvimento de processos vaginais anormais, desenvolvimento de gubernáculo testicular anormal ou doenças endócrinas podem estar associadas a criptorquidismo, porém a etiologia não está bem esclarecida. Existem muitos indícios que criptorquidismo é uma condição herdada. Criptorquidismo bilateral causa infertilidade, porém as células de Leydig não são afetadas pelas altas temperaturas do corpo e os animais usualmente têm um fenótipo e comportamento típicos de machos. Em cães há também um aumento na chance de neoplasias em testículos abdominais quando comparadas com testículos no escroto. Diferenciação pós-natal das células de Sertoli e formação da barreira hematotesticular Durante a diferenciação pós-natal as células de Sertoli primordiais sofrem extensas diferenciações morfológicas e bioquímicas para originar células de Sertoli maduras. Estas mudanças no desenvolvimento são mediadas em grande parte pelo FSH e são acompanhadas por uma estimulação marcante na síntese proteica nas células de Sertoli. Transplantes experimentais de tecido testicular para camundongos normais e hipofisectomizados têm demonstrado que a glândula pituitária influencia fortemente a maturação das células de Sertoli com efeitos específicos na diferenciação nucleolar e na formação de junções firmes intercelulares. Entre as mudanças morfológicas que ocorrem durante a diferenciação pós-natal das células de Sertoli, a formação de junções firmes oclusivas entre elas é de grande importância funcional. Estudos com testículos adultos de numerosas espécies têm mostrado que as junções das células de Sertoli são os principais componentes para a barreira hematotesticular – a barreira que divide o epitélio seminífero em um 402 compartimento basal contendo espermatogônias e espermatócitos pré-leptótenos e um compartimento adluminal contendo os estágios mais avançados das células espermatogênicas (Cap. 4). Nos animais domésticos, a formação das junções firmes oclusivas entre as células de Sertoli adjacentes e o estabelecimento da barreira hematotesticular ocorre próximo à puberdade. A barreira hematotesticular tem efeitos importantes na espermatogênese. Existem diferenças imunológicas entre as espermatogônias e espermatócitos pré-leptótenos (encontrados abaixo da barreira hematotesticular) e os espermatócitos mais adiantados e espermátides do compartimento adluminal. Estas diferenças são estabelecidas no início do ciclo espermatogênico, e somente após a passagem dos espermatócitos para o compartimento adluminal é que as moléculas autoantigênicas são sintetizadas e/ou inseridas na membrana plasmática do espermatócito. Principais características do testículo adulto Os testículos são cobertos por uma cápsula fibrosa, a túnica albugínea, a qual emite pequenas trabéculas de tecido conjuntivo para o interior da gônada. Os dois principais compartimentos do testículo são o interstício ou compartimento intertubular e o compartimento dos túbulos seminíferos. O compartimento intersticial contém as células de Leydig produtoras de andrógenos, vasos sanguíneos,vasos linfáticos, fibras nervosas e macrófagos. O endotélio dos capilares testiculares é contínuo e não fenestrado. Os vasos linfáticos são irregulares e incompletamente revestidos pelo endotélio. As células de Leydig possuem núcleos arredondados e citoplasma abundante em retículo endoplasmático liso e mitocôndrias com crista tubular, na qual estão associadas enzimas relacionadas à síntese de esteroides. O epitélio seminífero do convoluto túbulo seminífero contém células de Sertoli e diferentes gerações de células germinativas. As células de Sertoli são células colunares altas, as quais se estendem da lâmina basal ao lúmen tubular, e formam o arcabouço estrutural do epitélio seminífero. Elas apresentam numerosas e importantes interrelações com as células germinativas (Cap. 4). O compartimento do túbulo seminífero é unido por um tecido conjuntivo composto de uma membrana basal, células mioides contráteis e de endotélio linfático. As contrações das células mioides fornecem as forças de propulsão que transportam os espermatozoides e os fluidos tubulares em direção ao ducto do sistema excretor. Diferenciação dos ovários Nas fêmeas, a expressão do Dax-1, na ausência de Sry, suprime a formação dos testículos e permite que as gônadas indiferenciadas desenvolvam-se em ovários (Fig. 15-19). Ao contrário do desenvolvimento testicular, a presença de células 403 germinativas viáveis é necessária para a diferenciação ovariana; se as CGPs não colonizarem a crista genital, há uma regressão das gônadas que resulta na formação de ovários rudimentares. Depois que as CGPs alcançam a crista genital, elas permanecem concentradas na região exterior (cortical) do futuro ovário (Figs. 15-19, 15-20, 15-21). A região medular também contém algumas CGPs que tornam-se associadas aos cordões sexuais primitivos, porém de um modo bem menos desenvolvido que nos testículos. As abundantes CGPs presentes no córtex associam-se a células somáticas denominadas células foliculares, porém a origem destas ainda é discutida. Três locais de origem foram propostos: (1) células do epitélio celômico, (2) cordões sexuais primitivos de origem mesonéfrica e (3) a combinação de ambos. Fig. 15-19 Ovário (1), oviduo (2) e útero (3) de feto bovino com 18,6 cm de comprimento craniossacral. O lado esquerdo corresponde ao lado cranial. 404 Fig. 15-20 Secção longitudinal do ovário de feto de ovelha com 30 cm de comprimento craniossacral. Podemos visualizar no córtex numerosos cordões corticais penetrando no mesênquima subjacente. 1: Córtex do ovário; 2: Medula do ovário; 3: Epitélio superficial do ovário; 4: Hilo do ovário; 5: Mesovário. Fig. 15-21 Ovário de uma gata adulta demonstrando as diferentes gerações de folículos e corpo lúteo. 1: Epitélio superficial; 2: Folículos primordiais; 3: Folículos secundários; 4: Folículo antral (terciário); 5: Corpo lúteo; 6: Estroma ovariano. As células germinativas primárias que estão cercadas por células foliculares são denominadas ovogônia. Elas se proliferam por mitose por algum tempo e posteriormente entram na fase de prófase da meiose, possivelmente pela influência 405 do fator estimulador de meiose do mesonefro. Com o início da prófase da primeira divisão meiótica, as células germinativas passam a ser chamadas de ovócitos primários e juntamente com as células foliculares formam os folículos primordiais. Ovogônia e ovócitos são conectados por pontes citoplasmáticas intercelulares que apresentam um papel de sincronização do seu desenvolvimento. Os ovócitos primários continuam a primeira divisão meiótica até atingirem o estágio de diplóteno, quando o processo divisão é bloqueado. Os ovócitos primários permanecem nesta etapa até que o bloqueio seja removido como resultado da seleção do folículo para ovulação durante a foliculogênese pós-natal (Cap. 4). Portanto, muitos meses ou anos podem transcorrer entre a imposição do bloqueio meiótico pré- natal durante a vida embrionária e seu desbloqueio próximo do momento da ovulação. Na junção córticomedular do ovário fetal, uma discreta túnica albugínea é formada, separando o córtex da medula. O córtex contém a maioria dos ovócitos, e na parte central do ovário as células germinativas desaparecem, substituídas pelo estroma vascular que forma a medula ovariana. O tecido conjuntivo e os vasos sanguíneos da medula do ovário são derivados do mesonefro. O ovário em desenvolvimento não mantém relação com o mesonefro e, exceto por alguns poucos remanescentes, todos os túbulos mesonéfricos degeneram-se no embrião feminino. Na superfície do ovário, a forma cuboidal do epitélio superficial é mantida. Como este epitélio superficial não é revertido em mesotélio, o ovário não é revestido com o peritônio típico do indivíduo adulto. Nos ovários de cadelas e gatas, estreitos canais revestidos pelo epitélio superficial salientam-se no córtex ovariano. Nos ovários de éguas, o desenvolvimento dos folículos é confinado a apenas uma área central, a qual corresponde à medula ovariana nas outras espécies; sendo a área não folicular localizada perifericamente. Durante o desenvolvimento pré-natal, a superfície independente do ovário torna-se côncava e o epitélio celômico é retido neste ponto. Portanto a ovulação nos equinos ocorre somente neste local, chamado de fossa ovulatória. Descida dos ovários Os ovários também sofrem um discreto deslocamento posterior, podendo variar de acordo com a espécie. À medida que eles se desenvolvem e trasladam sobre os ductos de Müller, eles se movem posterior e lateralmente. Em cadelas e gatas, a migração não é tão pronunciada e os ovários ocupam uma posição na região sublombar caudal aos rins. Nas éguas, os ovários posicionam-se entre os rins e a entrada pélvica. Nas porcas e nas vacas a descida é mais pronunciada e os ovários ocupam uma posição próxima da entrada pélvica. A posição final dos ovários é estabilizada por 406 ligamentos, os quais são resquícios de estruturas associadas ao mesonefro. Cranialmente, o ligamento diafragmático do mesonefro torna-se o ligamento suspensório do ovário. Como descrito anteriormente, o ligamento inguinal do mesonefro é posteriormente chamado de gubernáculo. Na porção cranial, localizada entre o ovário e o ducto de Müller forma-se o ligamento próprio do ovário, localizado entre o ovário e a ponta do corno uterino. O remanescente do gubernáculo dá origem ao ligamento redondo do útero. Nas cadelas, as extremidades mais caudais dos ligamentos redondos continuam por meio do canal inguinal e podem ser identificadas externamente ao canal. Isso predispõe as cadelas à ocorrência de hérnia inguinal. Desenvolvimento do sistema de ductos sexuais Estágio indiferenciado Durante o estágio sexual indiferenciado, os embriões possuem os tratos reprodutivos primordiais tanto de machos como de fêmeas. O sistema de ductos sexuais indiferenciados consiste em um par de ductos mesonéfricos (ductos de Wolff) e um par de ductos paramesonéfricos (ductos de Müller; Fig. 15-22). O desenvolvimento dos ductos mesonéfricos foi descrito nos parágrafos anteriores na formação do mesonefro. Os ductos paramesonéfricos formam-se bilateralmente tanto nos embriões do sexo masculino como no feminino, lateralmente ao mesonefro, próximo ao ducto mesonéfrico (Fig. 15-23). Inicialmente uma invaginação longitudinal paramesonéfrica desenvolve-se no mesotélio celômico. Esta aprofunda- se, e finalmente, separa-se do revestimento peritoneal para formar um cordão sólido de células, as quais crescem caudalmente ao longo da parede lateral e posteriormente ventral do mesonefro. Subsequentemente, um lúmen é formado no cordão. Em sentido anterior, o ducto paramesonéfrico abre-se na cavidade abdominal em uma estrutura com formato de funil. Em sentido posterior, ele corre lateralmente ao ducto mesonéfrico, depois cruza-o ventralmente e desenvolve-se posteromedialmente até encontrar o ducto paramesonéfrico do lado oposto. Os dois tubos fundem-se e desenvolvem-se posteriormente. A extremidade posterior dos ductos combinados projeta-se na parede posteriordo seio urogenital, onde causa um pequeno aumento de tamanho, o tubérculo paramesonéfrico ou mülleriano. O ducto mesonéfrico abre-se no seio urogenital em cada um dos lados do tubérculo paramesonéfrico; o destino dos ductos genitais indiferenciados depende do sexo gonadal. 407 Fig. 15-22 Esquema demonstrando as posições relativas dos ductos de Wolff e de Müller durante o estágio indiferenciado de desenvolvimento genital. 1: Crista genital (vermelho); 2: Glomérulo gigante (visto em bovino); 3: Túbulos mesonéfricos; 4: Ducto de Wolff (mesonéfrico); 5: Ducto de Müller (paramesonéfrico); 6: Seio urogenital; 6′: Vesícula urinária. Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998). Fig. 15-23 Embrião bovino com 18 mm de comprimento craniossacral. M: Mesonefro; DM: 408 Ducto de Müller; DW: Ducto de Wolff. Sistema de ductos sexuais dos machos Como mencionado anteriormente, o desenvolvimento do sistema de ductos genitais nos machos depende dos hormônios produzidos nos testículos. A substância inibidora mülleriana (MIS), produzida pelas células de Sertoli embrionárias, suprime o desenvolvimento dos ductos de Müller (ductos paramesonéfricos), restando apenas os remanescentes nas suas extremidades anterior e posterior (apêndice testicular e parte do utrículo prostático). A MIS é uma glicoproteína da família do fator de crescimento transformador β (TGF-β), que primeiro atua nas células mesenquimais ao redor dos ductos paramesonéfricos, estas células expressam o gene que codifica um receptor de membrana com atividade serina/treonina quinase que se liga ao MIS. Sob sua influência, as células mesenquimais adjacentes levam à regressão das células epiteliais do ducto paramesonéfrico. À medida que o mesonefro regride, alguns túbulos excretores (túbulos epigenitais) fazem contato com os cordões da rede testis e transformam-se nos ductos eferentes. Os túbulos excretores ao longo do polo posterior dos testículos (túbulos paragenitais) não se unem à rede testis e seus vestígios são chamados coletivamente de paradídimo. Sob a influência da testosterona das células de Leydig embrionárias, o ducto mesonéfrico continua a se desenvolver, tornando-se o sistema principal de drenagem dos testículos. A testosterona adentra as células dos tecidos-alvo onde é convertida pela 5α-redutase em diidrostestosterona. A testosterona e a diidrostestosterona ligam-se a um receptor intracelular andrógeno específico e o complexo receptor-hormônio é translocado ao núcleo, onde se liga ao DNA para regular a transcrição de genes tecido-específicos. A testosterona e seu principal metabólito, a 5α-diidrostestosterona, medeiam a diferenciação dos ductos mesonéfricos para formarem os epidídimos, os ductos deferentes, os ductos ejaculatórios e as vesículas seminais. Imediatamente abaixo da entrada dos ductos eferentes, o ducto mesonéfrico torna-se altamente enovelado, formando o ducto epididimário. Do epidídimo até a entrada da vesícula seminal, o ducto mesonéfrico é revestido por uma camada espessa de músculo liso formando os ductos deferentes. A região do ducto mesonéfrico posterior à vesícula seminal torna-se o ducto ejaculatório. A extremidade anterior obliterada do ducto mesonéfrico persiste sob a forma do apêndice testicular. O desenvolvimento regional dos ductos genitais do macho é influenciado pelos genes Hox. O Hoxa-10, por exemplo, é expresso ao longo do ducto mesonéfrico da 409 cauda do epidídimo até o ponto em que os ductos deferentes unem-se à uretra. Camundongos com mutação no gene Hoxa-10 e Hoxa-11 exibem uma transformação homeótica, resultando em uma parcial transformação dos ductos deferentes em epidídimos. Glândulas sexuais acessórias dos machos Em associação ao desenvolvimento do sistema de ductos sexuais masculinos ocorre a formação das glândulas sexuais acessórias do macho (vesícula seminal, ampola do ducto deferente, próstata e glândula bulbouretral). Os touros, carneiros, cachaços, garanhões e a maioria dos animais de laboratório possuem próstata, glândula bulbouretral e vesícula seminal assim como a ampola do ducto deferente. Os gatos não possuem a vesícula seminal e, nos cães, somente a glândula prostática é encontrada. As glândulas acessórias dos machos desenvolvem-se como invaginações epiteliais oriundas do epitélio do ducto mesonéfrico (vesícula seminal e ampola do ducto deferente) e do seio urogenital (próstata e glândula bulbouretral). Sua formação requer estimulação andrógena e interações epitélio-mesenquimais. Os andrógenos estimulam as células mesenquimais levando os epitélios que estão associados a desenvolverem características glandulares. O desenvolvimento da próstata é controlado pelos andrógenos, fatores de crescimentos e interações epitélio-mesenquimais. Subjacente a todos os mecanismos moleculares está a expressão do fator de transcrição Hoxa-13 e Hoxd-13. Eles determinam, ao menos no camundongo, em qual local do seio urogenital a próstata será formada. O parênquima do complexo prostático é derivado dos brotos prostáticos. Estes são brotamentos sólidos do epitélio que emergem do endoderma do seio urogenital imediatamente abaixo da vesícula urinária em desenvolvimento e crescem no interior do mesênquima adjacente. A diidrostestosterona, atuando por meio de receptores nas células mesenquimais, induz a secreção de fatores do crescimento (FGF10 e TGFβ1) pelas células mesenquimais, e os fatores de crescimento regulam a expressão do gene sonic hedgehog (Shh) no epitélio do seio urogenital. Em resposta à sinalização do Shh, o broto epitelial prostático evagina do seio urogenital para o mesênquima adjacente e a extensão do broto é controlada pela ação inibitória do BMP4. O desenvolvimento do epitélio prostático induz algumas células somáticas do mesênquima adjacente a diferenciar-se em células musculares lisas. Sistema de ductos sexuais das fêmeas O trato reprodutivo da fêmea nos mamíferos é constituído de oviduto, útero, cérvix 410 e vagina. Se os ovários estão presentes, ou se as gônadas estão ausentes, o sistema sexual diferencia-se em um fenótipo feminino e a ausência da substância inibidora mülleriana (MIS) permite que o ducto de Müller desenvolva-se nas principais estruturas do trato reprodutivo feminino. Inicialmente três partes podem ser reconhecidas em cada ducto: (a) uma porção anterior que se abre na cavidade abdominal, (b) uma parte transversa que cruza o ducto mesonéfrico e (c) uma porção posterior que se funde com a parte correspondente do ducto paramesonéfrico do lado contralateral. Com a descida do ovário, as duas primeiras porções desenvolvem-se no oviduto e a terceira porção forma o útero e a porção cranial da vagina. O ducto mesonéfrico regride, permanecendo somente estruturas rudimentares. Um grande número de genes aparentemente essenciais para o desenvolvimento do trato reprodutivo feminino foi identificado recentemente, entre eles, Lim1, Pax2, EMx2, Wnt-4 e Wnt-7 são indispensáveis para o desenvolvimento do ducto paramesonéfrico. Em particular, o Lim1, que codifica um fator de transcrição contendo um domínio LIM, mostrou-se crucial para a formação inicial do ducto. Pax2, um membro da família gênica Pax, possui um domínio pareado altamente conservado que codifica uma proteína ligadora de DNA de 128 aminoácidos – o domínio pareado – na extremidade N-terminal. A deleção do gene Pax2 em camundongos resulta em defeitos de formação dos rins, ureteres e trato genital, além de defeitos no desenvolvimento dos ouvidos e do cérebro. Em contraste com o que ocorre em embriões com ausência de Lim1, ambos os ductos mesonéfricos e paramesonéfricos iniciam a sua formação em mutantes com deleção de Pax2, porém ambos degeneram-se logo após. O Emx2 é expresso no mesoderma intermediário. Em camundongos mutantes a ausência do Emx2 causa a não formação completa do sistema urogenital; e os ductos paramesonéfricos jamais se formam. O Emx2 é somente expresso nos estágios iniciais de formação dos ductos mesonéfricos e paramesonéfricos. Estes resultados sugerem que este gene é somente necessário em um momentobastante específico durante o desenvolvimento do mesoderma intermediário, possivelmente fornecendo um sinal para sua manutenção. Os genes Wnt codificados em mamíferos secretam glicoproteínas sinalizadoras que influenciam múltiplos processos durante o desenvolvimento. Fêmeas com ausência de Wnt4 exibem completa ausência de trato reprodutor feminino, enquanto que machos mutantes apresentam-se normais. Este fenômeno é devido à deficiência da formação do ducto paramesonéfrico em ambos os sexos; na ausência de Wnt-4 os ductos paramesonéfricos simplesmente não se formam. O Wnt-7, que tem um papel importante no estabelecimento do eixo axial dorsoventral durante o desenvolvimento do membro, é expresso no epitélio dos ductos paramesonéfricos e é necessário para o 411 seu desenvolvimento normal; este gene parece estar envolvido com a manutenção da expressão de alguns genes Hox (Hoxd-10 até o Hoxd-13) bem como os parálogos do Hoxa que estão presentes ao longo do trato reprodutor feminino. Isto é bem evidenciado em camundongos que expressam Hoxa-9 no oviduto, e Hoxa-10 no útero e na cérvix, assim como na parte superior vagina; mutações do gene Hox causam transformações homeóticas. Como descrito anteriormente em fêmeas, o ducto mesonéfrico regressa devido à ausência de hormônios masculinos, as células do ducto paramesonéfrico proliferam e diferenciam-se rostrocaudalmente formando o oviduto, útero, cérvix e a porção cranial da vagina. Concomitantemente, o epitélio simples do ducto de Müller diferencia-se e dá origem a distintas estruturas que caracterizam as diferentes regiões do trato reprodutor feminino. Experimentos clássicos com recombinação dos tecidos têm demonstrado que a formação de diferentes estruturas ao longo da região axial anteroposterior exige interações recíprocas entre o epitélio do ducto paramesonéfrico e o mesênquima subjacente. As porções anteriores dos ductos de Müller tornam-se o oviduto (Figs. 15-24, 15- 25), a porção anterior de cada ducto paramesonéfrico é denominada funil e desenvolve-se no infundíbulo do oviduto, no qual formam-se fímbrias e que se abre na cavidade celômica. Na sua extremidade posterior, o ducto paramesonéfrico aproxima-se da linha média e cruza ventralmente os ductos mesonéfricos. Essa passagem e fusão final das porções posteriores dos ductos paramesonéfricos é causada pela movimentação das cristas urogenitais de ambos os lados, que se movem medial e gradualmente posicionam-se no plano transversal. Após a fusão dos ductos paramesonéfricos na linha média, uma ampla dobra pélvica transversa é estabelecida. Esta dobra, a qual se estende do lado lateral dos ductos fusionados em direção à parede da pelve, forma o ligamento largo do útero. 412 Fig. 15-24 Oviduto (1) e útero (2) de um feto de ovelha com 30 semanas de gestação. Nenhuma glândula é encontrada no útero neste estágio de desenvolvimento e nenhuma prega é encontrada no oviduto. Fig. 15-25 Secção transversal do oviduto de feto bovino com 74 cm de comprimento craniossacral. Notar que as dobras mucosas primárias e secundárias estão bem desenvolvidas. 413 A morfologia do útero varia consideravelmente entre mamíferos e reflete a extensão da fusão entre dois ductos paramesonéfricos (Fig. 15-26). A maioria dos roedores e lagomorfos (p. ex., as coelhas) tem útero duplo, o que significa que as duas cérvix dos úteros abrem-se separadamente em uma vagina comum. Em contraste, primatas, incluindo os humanos, exibem fusão extensa dos ductos paramesonéfricos resultando em um útero simples, com os ovidutos abrindo-se na cavidade uterina comum. Nas espécies domésticas, a extremidade posterior dos ductos paramesonéfricos fundem-se em variadas extensões. Todos os animais domésticos têm o útero bicornual, no qual os cornos uterinos unem-se para formar o corpo uterino, que se abre na vagina por uma cérvix simples (Fig. 15-27). A abertura dos dois cornos no corpo pode ser em grande parte (como na vaca) ou parcialmente separada internamente por um septo intercornual. As porções craniais à essa região fundida permanecem separadas e são os primórdios dos cornos uterinos e ovidutos. Fig. 15-26 Diferentes formatos do útero nas várias espécies resultando de diferentes graus de fusão dos ductos de Müller. A: coelha (útero duplo, vagina simples); B: carnívoros; C: porca; D: vaca e ovelha; E: égua (útero bicornual); F: mulher (útero simples). Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998). 414 Fig. 15-27 Embrião bovino com 58 cm de comprimento craniossacral. 1: Ovário; 2: Oviduto; 3: Útero bicornual. Ao contrário dos ovidutos, o útero de todos os mamíferos possui glândulas. Na maioria dos mamíferos estudados até o momento, o desenvolvimento das glândulas uterinas ocorre no período pós-natal. O momento da formação das glândulas uterinas é altamente específico de cada espécie. Em roedores, invaginações epiteliais são vistas no dia 5 após o nascimento, e glândulas maduras podem ser detectadas no dia 15. Em ungulados, o desenvolvimento das glândulas começa logo após o nascimento e está completo no dia 12 e no dia 56 em porcas e ovelhas, respectivamente. Em primatas, incluindo os humanos, a formação das glândulas uterinas começa no útero, continua após o nascimento e alcança a maturidade histológica na puberdade. A formação das glândulas uterinas inclui a invaginação epitelial, formação do broto, ramificação e enovelamento. Os mecanismos celulares e moleculares de controle da formação da glândula uterina não estão totalmente compreendidos; porém novos dados indicam que interações epitélio-mesenquimais, fatores de remodelação tecidual, hormônios esteroides e seus receptores e a prolactina estão todos envolvidos neste processo. Como exemplo, foi demonstrado que a sinalização do Wnt é importante para a formação da glândula uterina; Wnt7a é exclusivamente expresso no epitélio luminal uterino e não no epitélio glandular; em contraste, Wnt5a é principalmente expresso no estroma uterino durante o desenvolvimento pós-natal. Em úteros de mutantes para Wnt7a e Wnt5a ocorre falha na formação das glândulas uterinas, indicando que a sinalização dos Wnt é essencial para sua formação. O desenvolvimento da glândula uterina também envolve a remodelação das glândulas 415 endometriais; metaloproteinases de matriz (MMPs) e seus inibidores (TIMPS) são reguladores-chave na remodelação glandular, incluindo as glândulas uterinas. Desenvolvimento da vagina Geralmente é consenso que ao menos a porção anterior da vagina origina-se da porção posterior dos ductos paramesonéfricos fundidos, porém a extensão da contribuição do seio urogenital na formação do resto da vagina ainda é discutida. No ponto em que os ductos paramesonéfricos unem-se ao seio urogenital, as extremidades dos ductos paramesonéfricos fundem-se com o epitélio que reveste o seio urogenital, formando a placa vaginal epitelial. A proliferação continua na extremidade anterior da placa aumentando a distância entre o útero e o seio de urogenital. Subsequentemente à formação de uma luz nas estruturas sólidas leva à formação do lúmen da vagina. Assim a vagina apresenta duas origens: a porção anterior derivada dos ductos paramesonéfricos e a porção posterior oriunda do seio urogenital. A porção caudal do seio urogenital também forma o vestíbulo. O lúmen da vagina é separado do seio urogenital por uma fina membrana, o hímen, o qual consiste no revestimento epitelial do seio e uma fina camada de revestimento de células vaginais. Em animais domésticos, o hímen rompe-se durante o desenvolvimento subsequente e a persistência de seus remanescentes é bastante rara. Desenvolvimento da genitália externa A genitália externa é derivada de três complexos de tecido mesodermal localizados ao redor da cloaca (Figs. 15-28, 15-29). Na extremidade anteroventral da membrana cloacal, o tubérculo genital é formado. Lateral à membrana da cloaca, ao longo de quase todo o seu comprimento, estão as pregas cloacais (urogenitais), as quais subdividem-se em pregas uretrais anteriormente e pregas anais posteriormente. Adistância entre o ânus e a base do tubérculo genital é comumente utilizada em fetos para diferenciar machos de fêmeas; a disparidade é inicialmente detectada no dia 30 em cães e no dia 42 em embriões bovinos. Após este período, a distância anogenital mantém-se constante nas fêmeas e aumenta nos machos. Na periferia da dobra urogenital e posterolateralmente à membrana cloacal, encontram-se as tumefações labioescrotal e genital, as quais estão presentes e são similares em ambos os sexos antes da diferenciação sexual. 416 Fig. 15-28 Estágio indiferenciado da genitália externa do embrião bovino com 19 mm de comprimento craniossacral. 1: Falo; 2: Uretra; 3: Vesícula urinária. 417 Fig. 15-29 Desenvolvimento da genitália externa e da uretra (ovino). A: Embrião fêmea, 14 mm de comprimento craniossacral; B: Embrião fêmea, 36 mm de comprimento craniossacral; C: Embrião macho, 19 mm de comprimento craniossacral; D: Embrião macho, 39 mm de comprimento craniossacral; E: Corte transversal do pênis demonstrando a formação da uretra: a: placa urogenital; b: sulco urogenital; c: uretra. 1: Tubérculo genital; 1′: Pênis; 1″: Clitóris; 2: Seio urogenital; 2′: Placa uretral; 2″: Uretra; 2″′: Vesícula urinária; 2″″: Vestíbulo vaginal; 3: Cloaca; 4: Intestino posterior; 5: Celoma; 6: Funículo umbilical; 7: Escroto. Cortesia de Rüsse e Sinowatz (1998). Imediatamente após o aparecimento do tubérculo genital e antes da conclusão do desenvolvimento do septo urorretal, o revestimento epitelial do assoalho do seio urogenital expande-se anteroventralmente ao longo da margem ventral do tubérculo genital em elongação. Estas células endodermais oriundas da placa uretral formam um sólido cordão de células que se estende para dentro da superfície ventral do tubérculo. Posteriormente, a placa uretral torna-se oca formando um canal: as pregas 418 urogenitais ampliam-se pela proliferação das células mesenquimais de ambos os lados da placa uretral e um sulco uretral mediano forma-se na superfície ventral do tubérculo genital. Órgãos genitais externos das fêmeas Nas fêmeas, as pregas urogenitais que estão na borda do orifício urogenital fundem- se somente nas extremidades dorsal e ventral, formando os lábios (menores) da vulva. Estes sobressaem-se ao tubérculo genital, o qual torna-se internalizado e é incorporado no assoalho do vestíbulo. Outra consequência da incompleta fusão das pregas urogenitais é que a abertura do seio urogenital não é incorporada ao falo e o tubérculo genital não se desenvolve em uma estrutura peniana, como nos machos. Em vez disso, dá origem ao clitóris, o qual é apenas vestigial na maioria das espécies animais domésticas. Entretanto, o tubérculo genital forma uma glande, sendo assim o pequeno clitóris apresenta tanto um corpo como uma glande. As tumefações genitais movem-se cranialmente para os tubérculos genitais e desaparecem durante o desenvolvimento fetal. Portanto (com algumas exceções) não há a formação dos lábios maiores em animais domésticos como ocorre nos seres humanos. O seio urogenital permanece como o vestíbulo, com aberturas tanto da vagina como da uretra. A uretra feminina, a qual se desenvolveu da parte mais cranial do seio urogenital, é homóloga à uretra prostática dos machos, as quais tem origem similar. Órgãos genitais externos dos machos O desenvolvimento da genitália externa nos machos é controlado por andrógenos oriundos dos testículos fetais. Sob a influência da diidrotestosterona ocorre um rápido alongamento do tubérculo genital, tornando-se um falo. À medida que este desenvolve-se, a uretra peniana toma forma de um dobramento ventral e fusão mediana das dobras urogenitais. Este processo ocorre na direção proximodistal e leva à formação de um cordão epitelial mediano localizado no sulco uretral na face ventral do falo em elongação. O cordão mediano destaca-se da superfície ventral do epitélio e torna-se canalizado formando o epitélio da uretra. O local da fusão das pregas urogenitais é indicado pela rafe genital. A glande do pênis tem sua origem no ápice do tubérculo genital. De uma invaginação superficial no ápice do tubérculo genital, um cordão de células epiteliais cresce no interior do tubérculo e em seguida funde-se com o sulco uretral. Subsequentemente, esse cordão torna-se canalizado e forma a porção distal da uretra peniana. Na maioria dos mamíferos domésticos (com exceção dos gatos), o corpo do pênis 419 permanece extensamente anexado à parede abdominal de corpo. Assim, seu crescimento é dirigido anteriormente sob a pele ao longo da superfície ventral da parede do corpo, a qual define a posição do pênis. Em fetos ungulados um grupo de músculos (o esfíncter umbilical) forma uma faixa que traciona o pênis contra a parede de corpo. A separação da parte distal do corpo do pênis do anel de pele superficial ocorre secundariamente. Uma placa circular de células do ectoderma forma-se na ponta distal do falo e invagina-se no mesênquima do tubérculo. Essa lâmina epitelial posteriormente separa-se, originando uma fenda, a cavidade prepucial. As dobras são transformadas em abas de pele que cobrem a glande, o prepúcio. A abertura formada pelas bordas dessas abas (a abertura prepucial) permite que a glande sofra protrusão. Nos bovinos a cavidade prepucial não está completa até a 4–9 meses após o nascimento. A placa ectodermal não forma inicialmente um anel completo, mas deixa uma conexão ventral entre o corpo do pênis e o prepúcio, o frênulo. Normalmente esta é a última estrutura a degenerar-se para formar uma cavidade prepucial completa. A perda da maior parte do frênulo é necessária para que haja a protrusão normal do pênis. Em touros castrados muito cedo, logo após o nascimento, a formação do prepúcio é incompleta e há persistência do frênulo. Em equinos e ruminantes, a proliferação do tecido do mesenquimal ao redor do orifício da uretra prolonga a abertura uretral para além da glande do pênis. Este processo uretral é curto em garanhões, porém pode alcançar um comprimento de vários centímetros nos carneiros. O mesênquima da glande e do corpo do pênis dos cães ossifica-se e forma o osso peniano. As tumefações genitais formam o escroto. Em várias espécies (em cães, equinos e bovinos) há um deslocamento anterior do escroto, o qual permanece intimamente justaposto ao tubérculo genital. Entretanto em gatos e suínos as tumefações permanecem abaixo do ânus. Resumo O sistema urogenital pode ser funcionalmente dividido em dois componentes distintos, o sistema urinário e o sistema genital, porém durante o desenvolvimento embrionário eles estão intimamente interligados. Rins A formação dos rins de mamíferos, a nefrogênese, inicia-se com o aparecimento sucessivo de três gerações de rins primordiais: o pronefro, o mesonefro e o metanefro. Esses primórdios surgem consecutivamente em sentido anteroposterior. 420 Na maioria dos mamíferos, o pronefro é rudimentar e consiste em sete a oito pares de túbulos pronéfricos. O surgimento do mesonefro é também transitório. Nos animais domésticos, 70–80 pares de túbulos mesonéfricos são formados. Estes alongam-se rapidamente, formam uma alça em formato de S, e adquirem um tufo de capilares na sua extremidade medial que posteriormente formará o glomérulo. Lateralmente, os túbulos unem-se aos ductos coletores longitudinais, o ducto mesonéfrico. Esta é a terceira geração de órgãos urinários, o metanefro, que ao final forma os rins permanentes. O metanefro é derivado de duas estruturas primordiais, o broto uretérico, um brotamento do ducto mesonéfrico, e o blastema metanéfrico, que se localiza na região sacral e origina-se da extremidade posterior da crista néfrica. A formação de néfrons funcionais no metanefro em desenvolvimento envolve três linhagens celulares, todas derivadas do mesoderma: células epiteliais do broto uretérico, células mesenquimais do blastema metanéfrico e células endoteliais associadas. Os agregados mesenquimais do blastema metanéfrico localizados ao redor dos brotos terminais passam por uma série de modificaçõesao longo do desenvolvimento para formar os túbulos renais que compõem os néfrons. As variações no aspecto macroscópico do rim maduro é resultado das diferenças na ramificação do broto uretérico e do arranjo de néfrons associados a essas ramificações. Vesícula urinária e uretra Durante o desenvolvimento do intestino posterior, a cloaca é subdividida pelo septo urorretal formando o reto (dorsalmente) e o seio urogenital (ventralmente). Este último inclui uma região pélvica anterior e uma região fálica posterior. O seio urogenital conecta-se cranialmente com a cavidade alantoideana por meio do úraco, que está em continuidade com o pedículo alantoideano. A vesícula urinária desenvolve-se da porção proximal do úraco e da região pélvica do seio urogenital. À medida que a vesícula urinária desenvolve-se, suas paredes em expansão incorporam as porções terminais dos ductos mesonéfricos e dos brotos uretéricos, e cada um dos sistemas de ductos desenvolve aberturas próprias na vesícula urinária. Desenvolvimento dos órgãos genitais masculinos O sexo cromossômico é estabelecido na fertilização, quando um espermatozoide carregando um cromossomo X ou Y funde-se ao ovócito. Existem diversas evidências que o gene conhecido como região do Y determinadora do sexo (Sry) é o gene que determina o desenvolvimento testicular. As gônadas desenvolvem-se de uma região elongada do mesoderma que se estende ao longo da borda ventromedial do 421 mesonefro, conhecida como crista genital. Durante o estágio indiferencidado do desenvolvimento gonadal, células germinativas primordiais (CGPs) migram do saco vitelino para a crista genital. Durante sua migração, muitas CGPs estão ligadas umas às outras por longos processos citoplasmáticos. Quando as CGPs atingem as cristas gonadais, as células mesenquimais residentes e o epitélio celômico proliferam- se, projetando as cristas para a cavidade celômica. Cordões de células epiteliais dos túbulos mesonéfricos e cápsulas glomerulares em regressão penetram no mesênquima das cristas genitais e formam numerosos cordões irregulares, os cordões sexuais primitivos, os quais incorporam as CGPs. A diferenciação dos testículos ocorre sob a influência do gene Sry (fator determinador dos testículos) do cromossomo Y. As células dos cordões sexuais primitivos continuam a se proliferar e penetram profundamente na região medular para formar os cordões testiculares ou cordões medulares. Os cordões celulares transformam-se em túbulos sólidos compostos de células germinativas primordiais localizadas centralmente e presumíveis células de sustentação ou células de Sertoli localizadas perifericamente. Esses túbulos estão organizados em alças com forma de ferradura que estão conectadas em ambas as extremidades com uma rede de delgados filamentos celulares, que posteriormente formarão a rede testis. Na puberdade, os túbulos testiculares desenvolverão um lúmen e se transformarão nos túbulos seminíferos. A rede testis juntar-se-á aos ductos eferentes, os quais são derivados dos remanescentes dos ductos mesonéfricos. Estes conectam a rede testis aos ductos mesonéfricos, os quais dão origem aos ductos epididimários e aos ductos deferentes. Células mesonéfricas migram para o interior da gônada, onde circundam os cordões testiculares e diferenciam-se em células contráteis mioides. No mesênquima ao redor dos cordões testiculares, células de Leydig produtoras de andrógenos desenvolvem-se. As células de Leydig fetais são posteriormente substituídas por uma segunda geração de células de Leydig antes da puberdade. Os andrógenos produzidos pelas células de Leydig são importantes para a diferenciação do sistema de ductos sexuais masculinos e para o desenvolvimento da genitália externa masculina. Desenvolvimento dos órgãos genitais femininos Nas fêmeas, a expressão do Dax-1 na ausência do Sry suprime a formação dos testículos e permite que as gônadas indiferenciadas desenvolvam-se em ovários. Após a chegada das CGPs na crista genital, estas permanecem concentradas na região externa (cortical) do futuro ovário. As CGPs associam-se a células somáticas denominadas células foliculares, mas a origem destas células ainda é discutida. Três locais de origem das células foliculares têm sido propostos: (1) o epitélio celômico, (2) os cordões sexuais primitivos de origem mesonéfrica, e (3) a combinação de 422 ambos. As células germinativas primordiais que estão circundadas pelas presumíveis células foliculares são chamadas ovogônias. Estas se proliferam por mitoses por algum tempo e posteriormente entram na fase de prófase da primeira divisão meiótica, quando as células germinativas passam a ser chamadas de ovócitos primários e, juntamente com as células foliculares, formam os folículos primordiais. Nas fêmeas, os ductos mesonéfricos regridem devido à ausência de hormônios masculinos. As células dos ductos paramesonéfricos paralelos proliferam-se e diferenciam-se rostrocaudalmente, formando os ovidutos, o útero, a cérvix e a porção cranial da vagina. Durante esta fase, o epitélio simples do ducto mülleriano diferencia-se e dá origem a distintas partes do trato reprodutivo feminino. As porções anteriores dos dois ductos müllerianos tornam-se os ovidutos. Nas espécies domésticas, as extremidades posteriores dos ductos paramesonéfricos fundem-se em extensões variadas resultando em um útero bicornual, no qual os cornos uterinos unem-se para formar o corpo uterino que se abre na vagina por meio de uma única cérvix. A vagina possui dupla origem: sua porção anterior é derivada dos ductos paramesonéfricos, enquanto que a porção posterior origina-se do seio urogenital. A porção caudal do seio urogenital também forma o vestíbulo. Desenvolvimento da genitália externa A genitália externa é derivada de três grupos de tecido mesodérmico localizados ao redor da cloaca. O tubérculo genital é formado na extremidade anteroventral da membrana cloacal. Lateralmente à membrana cloacal, ao longo de quase todo o seu comprimento, localizam-se as pregas cloacais (urogenitais). Estas são rapidamente subdivididas em pregas uretrais, anteriormente, e prega anal, posteriormente. Perifericamente às pregas urogenitais e posterolateralmente à membrana cloacal, localizam-se as tumefações genitais e labioescrotais. Anteriormente à diferenciação sexual, estas estruturas estão presentes e são similares nos dois sexos. Na fêmea, as pregas urogenitais que margeiam o orifício urogenital fundem-se nas suas extremidades dorsal e ventral formando os lábios (menores) da vulva. As tumefações genitais movem-se para uma posição cranial ao tubérculo genital e desaparecem durante o desenvolvimento. Portanto (com algumas exceções) não há formação de lábios maiores nos animais domésticos. O desenvolvimento da genitália externa no macho é controlado por andrógenos derivados do testículo fetal. Ocorre uma rápida elongação do tubérculo genital, transformando-o no falo. À medida que o seu crescimento ocorre, a uretra peniana forma-se por meio do dobramento ventral e fusão mediana das pregas urogenitais. A glande do pênis origina-se do ápice do 423 tubérculo genital. As tumefações genitais formam o escroto. Quadro 15-1 Regulação molecular do desenvolvimento urogenital Regulação molecular do desenvolvimento dos rins A indução da formação dos rins ocorre por meio de interações recíprocas entre um componente epitelial (do ducto de Wolff ou ducto mesonéfrico) e o mesênquima metanéfrico (ou blastema). O primórdio do rim (ou mesênquima metanefrogênico) é formado na extremidade caudal do cordão nefrogênico em um processo que envolve a ativação de genes dos fatores de transcrição ODD1 (odd skipped-related), EYA1 (eyes absent homologue 1) e membros da família gênica Pax (paired-box). Um dos eventos mais cruciais na formação dos rins é o primeiro processo de sinalização que induz o crescimento do ureter do broto mesonéfrico. O WT1, expresso pelas células mesenquimais do metanefro torna o blastema metanefrogênico responsivo à indução pelo broto uretérico. A molécula sinalizadora
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