Buscar

F12-Literatura-cearense

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

m
12
Vanessa Passos, Nina Rizzi e Raymundo Netto
Itinerários 
de Leitura: 
Um Passeio pela 
Literatura do Ceará
l
i
t
e
r
a
t
u
r
a
CURSO
c
e
a
r
e
n
s
e
Realização
178 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
1.
ERA UMA VEZ...
A vida do escritor da província é um drama 
pungente. Trancado no silêncio e na distância 
sem estímulo, sem recompensa, com jornais 
de circulação limitada, com edições precárias 
– os que se dão às letras têm o destino dos 
emparedados: vivem subterraneamente. O 
Brasil não é só o Rio de Janeiro. 
Mário Linhares, em História 
literária do Ceará, 1948.
sse prometido passeio pela Literatu-
ra Cearense já vem acontecendo, de 
forma breve, desde o nosso primeiro 
módulo. Você, que se abancou nesse 
curso, por sua “janela virtual” leu e 
ouviu, certamente, muita coisa que 
ainda não conhecia ou mesmo de 
que já havia ouvido falar, mas... E é 
por isso que esse curso existe!
Porém, como não é possível sintetizar 
toda a literatura produzida no Ceará em ape-
nas 12 módulos, neste derradeiro optamos 
por elencar alguns recortes (“itinerários”) que 
nunca antes foram sistematizados em ma-
nuais e/ou roteiros de estudo de Literatura 
Cearense, entre os quais a literatura infanto-
juvenil, os movimentos que nos chegam das 
periferias, em formatos nada acadêmicos ou 
tradicionais, além de um panorama do mer-
cado editorial e da sua produção, seja por 
editoras independentes ou pelas formais. 
Para começar nosso trajeto, gostaría-
mos de lembrar que já vimos aqui a afir-
mação de que Canções da Escola (1871) de 
Juvenal Galeno é o primeiro registro no 
Ceará de uma obra destinada ao públi-
co infantojuvenil. Na época, Juvenal tra-
balhara como inspetor da Instrução Públi-
ca e, contrário à palmatória, acreditava 
que para resolver todo tipo de mau com-
portamento ou mesmo para disciplinar as 
crianças, elas teriam apenas que cantar: 
“E qual meio mais eficaz do que a canção, 
a harmonia, esse doce poder que a tudo 
vence na Terra?” (GALENO, 2010, p.70) Para 
isso, criou alguns poemas para o começo e 
término das aulas, para quando um colega 
maltratasse outro ou mentisse, para aulas 
em campo, para datas célebres, em casos 
de visitas de inspetores à sua escola, para 
os finais de semana etc. Acreditava ele que 
“além de desenfadar o menino, alegrando-
-lhe o espírito e de predispô-lo para con-
tinuar o trabalho, ensina-lhes úteis pre-
ceitos, e serve-lhes de estímulo, prêmio e 
castigo, acabando por uma vez com a 
palmatória, esse brutal recurso da inépcia 
do magistério”. (GALENO, 2010, p.69)
O certo é que a obra foi impressa na Ti-
pografia do Comércio, de propriedade do 
poeta, e foi “adotada pelo Conselho de Ins-
trução Pública do Ceará para uso nas aulas 
primárias”, ou seja, uma prima-pioneira dos 
nossos atuais paradidáticos. 
om a evolução, mesmo que 
lenta e restrita, do mercado 
editorial cearense, uma certeza 
se confirmava: a necessidade 
de publicações destinadas 
a esse público infantojuve-
nil, na tentativa de conquistar 
a adoção em listas escolares e 
para a venda em compras es-
peciais dos programas governamentais 
supostamente de todas as esferas. Daí, 
não acontece apenas no Ceará, muitos au-
tores foram convidados e se arriscaram a 
enveredar pelo caminho dessa literatura 
tão peculiar. Alguns, certamente, saíram 
exitosos; outros se limitaram a emprestar 
seus pomposos (e comerciais) nomes às 
capas de obras que nem de longe refletem 
a sua competência em outros gêneros. Ao 
contrário, demonstram total inexperiência 
e inabilidade para com esse público.
Em nosso estado, boa parte dos escrito-
res e escritoras, iniciantes ou não, tiveram 
esta travessia” (ou ousadia) pelas poucas 
editoras do estado, inclusive pelas portas 
das Edições Demócrito Rocha (EDR), braço 
2. 
O BERÇO DAS NARRATIVAS 
INFANTOJUVENIS
SABATINA
CURSO literatura cearense 179
editorial desta Fundação e uma das primei-
ras editoras do estado – com 32 anos de 
exercício –, levando em consideração o mo-
delo de negócio como conhecemos (antes 
tínhamos as tipografias e até então muitas 
gráficas-editoras que não acolhem as práti-
cas editoriais básicas). Entre eles: Arievaldo 
Vianna, Kelson Oliveira, Almir Mota (que em-
bora tenha publicado pelas EDR, hoje tem 
selo próprio pela Casa da Prosa), Patativa 
do Assaré, Raymundo Netto, Sânzio de Aze-
vedo (a sua única obra no gênero, O curu-
mim pintor e outras histórias, foi uma das 
contempladas pelo Programa Nacional do 
Livro Didático - Literatura em 2019), Dimas 
Carvalho, Aline Bussons, Marcelino Câmara, 
Audifax Rios, Kelsen Bravos, Mino (cartunis-
ta e artista plástico, responsável pelo texto 
e ilustração de A luz de cada um), Arlene Ho-
landa, Demitri Túlio, Natalício Barroso, Fa-
biana Guimarães, Pedro Salgueiro, Fabiano 
dos Santos, Sáskia Brígido, Jean-Antoine, 
Guaraciara Barros Leal, Rouxinol do Rinaré, 
Ricardo Guilherme, Marcos Mairton, Tércia 
Montenegro, Stélio Torquato, Jorge Pieiro, 
Evaristo Geraldo, Ângela Escudeiro, Efigênia 
Alves, Simone Pessoa, Rosa Morena, Oswald 
Barroso, Flávio Paiva, Ana Márcia Diógenes, 
Tamara Bezerra, entre outros.
Da mesma forma, como a literatura 
infantil não é feita apenas por quem 
escreve seus textos, mas compartilha a 
sua leitura com quem as ilustra, desfilam 
pelos catálogos editoriais: Susana Paz, Gua-
biras, Carlus Campos, Karlson Gracie, Raisa 
Christina, Sérgio Melo, Rafael Limaverde, 
Ramon Cavalcante, Hemetério, Klévisson 
Viana, Glauco Sobreira, Luciene Lobo, Da-
niel Dias, Mariza Viana, Ronaldo Almeida, 
Audifax Rios, Silas Rodrigues, Jabson Si-
mões, Ingra Rabelo, Arlene Holanda, Mário 
Sanders, Descartes Gadelha e outros.
Muitos dos autores cearenses, não apenas 
da literatura infantojuvenil, na ânsia de publi-
car sua obra, e pela restrita atenção e capaci-
dade de acolhimento pelas editoras formais, 
contam apenas com dois recursos: a auto-
publicação diretamente com uma gráfica-
-editora ou a busca de algumas das editoras 
denominadas independentes que surgem. 
Estas, geralmente, apresentam soluções em 
pequenas tiragens (100, 200, 300 exemplares). 
Entretanto, muitas delas não cumprem as 
funções editoriais ou as cumprem apenas 
parcialmente, funcionando um pouco mais 
do que produtoras gráficas, podendo até dizer 
tratar-se de autopublicação assistida.
Com o consumo maior de plataformas e 
livros digitais – mesmo que ainda menor do 
que se professava –, alguns abrem mão da 
impressão gráfica e afirmam ter bons resulta-
dos ou visibilidade na circulação de obras em 
formato e-book, por exemplo, pela Amazon. 
E como o governo estadual nem o municipal 
têm um plano definido de apoio e fomento 
às editoras, seja por meio de compras ou por 
incentivo à produção, o mercado é instável, 
pouco sustentável, dependendo quase que 
inteiramente das competitivas inserções 
nas listas escolares, pareando-se contra os 
gigantes editoriais nacionais que disputam 
na mesma mesa e com pesos distintos. Isso, 
certamente, impacta na cadeia criativa, redu-
zindo os investimentos nessas publicações.
O que é uma editora? É um sistema 
de relações, que se destina a 
produzir uma certa obra. Esta 
obra, no plano editorial, não é só 
o texto do autor [...]. Um livro é 
muito mais do que um autor, 
porque incorpora um trabalho 
tremendo de uma equipe.” (Jacob 
Guinsburg, professor da Escola de 
Comunicação e Arte (ECA-USP) e 
editor da Perspectiva)
Por outro lado, o Governo do Estado do 
Ceará, por meio da Seduc, desenvolve com 
os municípios o Programa Aprendizagem 
na Idade Certa, que tem como objetivo a 
“elevação da qualidade da leitura e escrita 
de todos os alunos da rede municipal”. As-
sim, há anos promove concursos públicos 
de seleção de obras da Coleção Paic Pro-
sa e Poesia, acumulando hoje 216 títulos, 
tendo cada um a fantástica tiragem de 14 
mil exemplares – o livro já nasce best-seller 
– distribuídos para toda a rede estadual de 
ensino e alcançando os pequenos leitores 
desde a Educação Infantil, passando pelo 
1º ao 5º ano,até alcançar do 6º ao 9º ano 
nas escolas públicas cearenses. Na coleção, 
encontramos alguns nomes, entre escrito-
res e ilustradores já da área, mas a grande 
maioria é composta por autores e auto-
ras completamente desconhecidos, até 
então. Bom para esses autores, mas ruim 
para o mercado editorial que perde a opor-
tunidade de contar com esse investimento 
e essa produção para seu catálogo.
180 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
3.
LITERATURA 
PARA... 
CRIANÇAS?
Vanessa Passos
e alguma vez você já ouviu al-
guém dizer que literatura infantil 
não tem valor literário, porque é 
algo feito para crianças e, portan-
to, tem uma linguagem fácil e sem 
valor estético, ao acompanhar 
a trajetória literária desses(as) 
autores(as), vai perceber o quan-
to essa afirmação é equivocada. 
Peter Hunt, escritor e professor emérito 
em literatura infantil da Cardiff University, de-
fende que escrever literatura infantil é ain-
da mais difícil, porque é preciso manter uma 
preocupação estética mesmo quando há a 
exigência de limitação em relação à extensão 
do texto e ao emprego de vocabulário para 
que a obra seja acessível para as crianças. Dá 
muito trabalho fazer parecer ser simples. Isso, 
sem falarmos da capacidade atrativa que o 
texto deve ter, pois a criança quando se depa-
ra com um livro que não a atrai, simplesmen-
te, o abandona. Vale ressaltar que, se existem 
restrições quando um autor escreve, ele preci-
sará desenvolver muito mais sua criatividade. 
Sobre o gênero literatura infantil, concorda-
mos com CAGNETI, para quem: “A literatura 
infantil é, antes de tudo, literatura, ou melhor, 
é arte: fenômeno de criatividade que repre-
senta o Mundo, o Homem, a Vida, através da 
palavra. Funde os sonhos e a vida prática; o 
imaginário e o real; os ideais e sua possível/
impossível realização.” (CAGNETI, 1996, p.7)
Assim, entendemos que ela nos é um 
caminho lúdico presente em nossas vidas 
como representação do mundo em que vive-
mos e isto muito antes da leitura e da es-
crita. Esta representação se estabelece seja 
por meio das cantigas de ninar, das brinca-
deiras de roda ou das contações de histórias 
realizadas pelos familiares. Contudo, quan-
do as crianças chegam à escola é que a lite-
ratura passa a ter o poder de construir uma 
ligação artística entre o mundo da imagi-
nação, dos símbolos subjetivos, e o mundo 
real da escrita, dos signos convencionais, da 
cultura sistematizada. É através da literatura 
infantil que praticamos o impossível e recon-
duzimos nossa própria história. 
Escolhemos aqui, como mostra, alguns 
dos autores cearenses que têm mais obras 
destinadas às crianças e/ou jovens:
Rachel de Queiroz (1910-2003), consi-
derada uma das maiores autoras da litera-
tura cearense e brasileira, não se prendeu 
a um único gênero, publicando contos, ro-
mances, crônicas, dramaturgia, críticas lite-
rárias e três livros infantis, todos publicados 
pela Editora José Olympio: O menino mági-
co, Cafute & Pena-de-Prata e Andira.
Sua estreia na literatura infantil foi em 
grande estilo, porque seu primeiro livro, O 
menino mágico, foi vencedor do Prêmio 
Jabuti de Literatura Infantil em 1969. O 
livro conta a história de Daniel – nome de 
seu sobrinho-neto –, um menino diferen-
te que, com imaginação fértil, tinha pode-
res mágicos e conseguia viajar durante o 
sono para os mais incríveis lugares e fazer 
coisas que um menino normal nem so-
nharia. Em Cafute & Pena-de-Prata – “ca-
fute é o nome de uma pulga que se dá 
em galinhas” –, dois pintinhos, um pobre 
e nascido em granja (Cafute) e outro rico 
(Pena-de-Prata), nascido em chocadeira 
elétrica, se conhecem, tornam-se amigos 
e partem em busca de aventuras. Em An-
dira, a história de uma andorinha aban-
donada cedo e criada por uma família de 
morcegos. Andira nasceu quando uma 
amiga de Rachel disse que ouviu, durante 
uma noite, o som de morcegos, mas que 
parecia canto de andorinhas.
Maria Luiza, irmã de Rachel, afirmou 
em entrevista que o que tocava de forma 
mais direta e mais funda o coração da au-
tora era “o seu amor pelas crianças, pelos 
bichos e pelos passarinhos”.
Horácio Dídimo (1935-2018) é também 
um dos nomes mais importantes da litera-
tura infantil cearense, tanto que o Dia Esta-
dual da Literatura Infantil, no Ceará, desde 
2019 é comemorado em 23 de março, data 
de nascimento de Horácio.
Mas a sua contribuição literária foi 
além da produção de seus livros, pois 
como professor do Departamento de Li-
teratura e da Pós-Graduação em Letras 
da UFC, foi o responsável pela criação da 
disciplina de Literatura Infantil.
Com quase vinte livros publicados no 
gênero, além dos seus livros de ensaios so-
bre literatura para crianças, Horácio exalta a 
relevância da poesia para esse público lei-
tor e afirma que “No labirinto da Literatura 
Infantil, a poesia, ainda que esquecida, nun-
ca estará perdida. Mesmo quando se cala – 
amarga – da boca pra fora, na canção, ai de 
nós se não adoçar por dentro o coração”.
Assim que tiver a oportunidade de se 
debruçar sobre a literatura de Horário Dídi-
mo, o leitor descobrirá que ela é simples, e 
nunca simplória. Ele diz muito com o pouco 
e não subestima os pequenos leitores. A es-
critora Marília Lovatel diz sobre o autor ce-
arense que “ele consegue construir os tex-
tos com a profundidade necessária e com 
uma linguagem que abraça as crianças”. 
Entre as obras destinadas a esse públi-
co, encontramos: O passarinho carrancudo, 
As historinhas do mestre Jabuti, As reina-
ções do Rei, Historinhas cascudas, A escola 
dos bichos, As flores e os passarinhos, Tem-
po de sol, Exercícios de admiração, O me-
nino impossível, O menino perguntador, Os 
compadres bichos, entre outros.
Após a sua morte, a família, represen-
tada principalmente por um dos filhos, o 
também poeta Luciano Dídimo, criou o 
Instituto Horácio Dídimo, hoje, um fo-
mentador de publicações de autores cea-
renses em gêneros distintos.
Ana Miranda nasceu em 1951, em For-
taleza, Ceará. Saiu do estado ainda menina 
e seu primeiro romance, Boca do Inferno 
(1989), teve sucesso imediato, sendo depois 
traduzido para diversos países, merecendo 
o Prêmio Jabuti de Revelação em 1990. 
Ana, como Rachel de Queiroz, é mais re-
conhecida por seus romances, embora tra-
ga uma vasta seleção de obras de literatura 
infantil: Flor do cerrado: Brasília, Lig e o gato 
de rabo complicado, Tomie: cerejeiras da noi-
te, Mig: o descobridor, Carta do tesouro, Me-
nina Japinim, Como nasceu o Ceará? e Carta 
da vovó e do vovô. É relevante percebemos 
como Flor do cerrado: Brasília, a primeira obra 
infantil de Ana, já traz o tema basilar de toda 
sua produção ficcional: o exílio. Falando às 
crianças, a autora nos reconduz à sua me-
ninice através de suas memórias, relatos de 
seus familiares, descrições de fotos antigas de 
sua família no Ceará, trechos de cantigas de 
rodas, entre outros elementos lúdicos utiliza-
dos literariamente para recontar a história da 
construção da capital federal, desta vez, pelos 
olhos de uma criança. Essas lembranças de 
infância representam um dado inusitado em 
nossa Literatura Brasileira, uma vez que mui-
tos autores nacionais escreveram suas remi-
niscências infantis, ao contrário, voltadas para 
leitores adultos, a exemplo de Manuel Ban-
deira, Graciliano Ramos, Carlos Drummond 
de Andrade, Rachel de Queiroz, entre outros.
Destaco ainda aqui o livro Como nasceu 
o Ceará?. Nele, poesia e teatro se unem para 
propor uma brincadeira poética e lúdica para 
as crianças. Nele, a autora conta a história do 
nascimento do Ceará com suas próprias ilus-
trações. Aliás, muitas das obras infantis de Ana 
Miranda são totalmente ilustradas por ela. O 
livro é ótimo para propor brincadeiras em fa-
mília ou atividades lúdicas escolares, como, 
saraus poéticos, jograis ou peças teatrais.
Elvira Drummond nasceu em Fortaleza, 
Ceará. Além de escritora é também musicis-
ta. Atua em várias cidades brasileiras, minis-
trando cursos, oficinas, especializações, se-
mináriose conferências. Seus livros infantis 
são marcados pela intrínseca relação en-
tre literatura e música. Assim, é autora de 
dezenas de livros destinados não apenas à 
literatura infantil, mas à musicalização, edu-
cação musical e prática coral e instrumental. 
As obras para crianças – muitas delas em 
forma de “narrativas cantadas”, como deno-
mina a autora, histórias em versos, poemas 
cantados, parlendas, canções e cantigas 
tradicionais, adaptações do folclore, entre 
outros – associam a linguagem literária com 
a musical e são também distribuídas por ela 
em coleções, como: Contos encantados, Can-
tigas quase sem fim, Tradição & diversão, Pa-
lavra também é brinquedo, Passinhos firmes, 
Histórias para contar e tocar, Cantos e contos 
pra Tom e Bia. Entre suas obras publicadas, 
destacam-se: A lenda da carimbamba (um 
conto cantado, no qual uma voz insistente – 
“amanhã eu vou...” –, que vem da lagoa em 
noites de lua cheia, atrai as pessoas), Ciran-
das entrameladas (cantigas de roda em con-
texto de narrativa), De fio em fio a história se 
desfia (história do encontro de duas famosas 
tecelãs – a aranha e a rendeira. Uma leitura 
rica em efeitos sonoros) e O capim encantado.
O capim encantado, por exemplo, é ba-
seado em um conto europeu que Câmara 
Cascudo classifica como conto denuncian-
te, pois através da ação de cantar, a menina 
enterrada denuncia a crueldade da madras-
ta. Da mesma maneira, são muitos os seus li-
vros baseados em contos folclóricos: A flauta 
do jabuti, Bonequinho de mel, O macaco 
e a viola, A velha Maricota e o macaco 
Juvenal, O velho, o menino e o burro etc. 
Marília Lovatel, fortalezense, nas-
cida em 1971, traz suas obras, na maio-
ria, dedicadas ao público infantil, mas 
também atua com o público juvenil. 
Duas vezes integrou o Catálogo 
Brasileiro da Feira de Bolonha, na 
Itália. Entre suas obras: Fábulas 
e contos em versos (competente 
adaptação das fábulas de Esopo 
em versos), O pequeno inventor de soluções 
(repleto de saborosos neologismos, a obra 
conta a história do menino Juliano e seus 
amigos em corações “espremoídos” de tan-
ta tristeza...), Entre selos e sonhos (por meio 
de cartas, o garoto Ricardo descobre o uni-
verso das palavras e dos selos, além de ines-
quecíveis memórias), Menina dos sonhos 
de renda (narrativa em versos em torno da 
tradicional renda nordestina e dos valores, 
como a família, amizade, fé, perseverança 
e coragem, finalista do Prêmio Jabuti em 
2017). Entre as suas obras destinadas ao 
público juvenil: A memória das coisas (a his-
tória de objetos contada pelos próprios, em 
uma memória enredada) e Coração de mo-
saico (uma novela infantojuvenil que conta 
uma história de amor permeada por refe-
rências ao arquiteto modernista catalão An-
toni Gaudi, e que, não por acaso, tem nela 
uma pequena fábrica de azulejos).
182 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
Segundo Lovatel: “A escrita é o meu ele-
mento. O ar que respiro, a terra que eu piso, 
o fogo que me acende, a água que me mata a 
sede de tudo. Cada pessoa precisa encontrar 
o seu elemento, para não vagar sem direção.” 
Klévisson Viana cartunista, ilustra-
dor, poeta cordelista, quadrinista, editor e 
membro da Academia Brasileira de Litera-
tura de Cordel, nasceu em Quixeramobim-
-CE, em 1972. Importante destacar o reco-
nhecimento de seu talento nas distintas 
facetas em que atua, seja pelos prêmios, 
como o Troféu Jabuti (literatura), HQMIX 
(quadrinhos) e Luiz Sá/Secult (quadri-
nhos), pela adoção de suas obras pelas es-
colas e nas compras de programas gover-
namentais, seja pela qualidade e renome 
de seus parceiros (como Júlio Shimamoto 
e Flávio Colin, mestres dos quadrinhos, 
com ele e Wellington Srbek em Mirabi-
lia), assim como pela adaptação de suas 
obras, como para a série “Brava Gente” da 
Rede Globo. Entre as suas obras infantis, 
aqui citamos: Dom Quixote: em versos de 
cordel (saborosa e fluente adaptação do 
clássico, escrita e ilustrada pelo autor), O 
tesouro da felicidade (o menino pobre que 
sonha com um baú de tesouro e decide 
sair de casa em sua busca), ABC da Natu-
reza (educação ambiental para as crianças 
a partir das letras do alfabeto), Abecedário 
dos bichos (na mesma trilha do anterior, 
explora divertidamente o alfabeto por 
meio dos versos em cordel para falar da 
fauna brasileira), João e o Pé de Feijão 
(adaptação em cordel do famoso conto 
de fadas popularizado pelo inglês Joseph 
Jacobs) e A princesa encantada de Jerico-
acoara (como em um universo paralelo, o 
reino encantado surge em meio da idílica 
praia cearense), entre outros, a maioria 
em cordel e com muito humor, agradando 
a crianças, jovens e adultos.
Socorro Acioli nasceu em Fortaleza, em 
1975, escreveu seu primeiro livro O pipoquei-
ro João quando tinha oito anos de idade. A 
partir de 2004, começou a escrever e publicar 
livros infantojuvenis, sendo muito bem-suce-
dida e bem recebida pelo público, chegando 
a receber o selo “Altamente Recomendável” 
pela Fundação Nacional do Livro Infantil e 
Juvenil (FNLIJ) e a ter obras compondo o Ca-
tálogo Brasileiro da Feira de Bolonha e con-
templados em programas governamentais. 
Bia que tanto lia: uma história do livro 
para crianças e É pra ler ou pra comer: a his-
tória da padaria espiritual para as crianças 
são obras que trazem um conteúdo espe-
cífico e didático adaptado para as crianças 
numa linguagem literária e lúdica. Ela tem 
olhos de céu é um texto poético no qual te-
mos um imaginário fantasioso de uma ga-
rota que faz chover no sertão sempre que 
chora – a obra ganhou o Prêmio Jabuti de 
Literatura Infantil em 2013. O mistério da 
professora Julieta conta a história de uma 
singular professora que chega para resol-
ver um mistério em uma escola e fazer com 
que seus alunos se apaixonem pela leitura. 
A quarta-feira de Jonas traz a tônica da pre-
servação do meio-ambiente, por meio de 
histórias paralelas, no sentido do “e se...”, 
na qual o fato de Jonas jogar ou não jogar 
um saco plástico no meio da rua faz toda a 
diferença. Em O peixinho de pedra, um velho 
sertanejo que nunca viu o mar guarda com 
ele um fóssil, o tal peixinho, que vai levá-lo a 
realizar desejos. Uma oportunidade de dis-
cutir paleontologia com a criançada.
Socorro também atua na literatura 
juvenil, com A bailarina fantasma, In-
ventário de segredos, Vende-se uma 
família e Diga Astragud (contos).
Finalizo este tópico de nosso 
módulo, com a reflexão de Horário 
Dídimo sobre as sete finalidades 
da literatura infantil discutidas em sua 
obra ensaística As funções da Literatura In-
fantil. São elas: divertir, emocionar, educar, 
conscientizar, instruir, integrar e libertar. 
Acreditamos que quando uma criança 
ou qualquer pessoa lê um livro, é um mun-
do que se abre, pois não há nada mais li-
vre do que um livro. 
De fato, a literatura infantil cearense é 
muito vasta e rica, provando o que nos afir-
ma Peter Hunt: “Não há bons livros que se-
jam apenas para crianças.” 
E quem quiser, que conte outra.
BOLACHINHAS
CURSO literatura cearense 183
4.
PERIFERIA, 
PRESENTE! 
(O SARAU É SAL)
Nina Rizzi
gora que cumprimos a 
primeira parte desse iti-
nerário, voltemo-nos às 
vozes poéticas das ruas, 
recordando: a história 
nos conta que quan-
do a corte de d. João 
VI chegou ao Brasil em 
1808, entre as inúmeras 
mudanças culturais es-
tabelecidas pela família real, uma delas foi 
a instituição de saraus, com seus pianos 
de cauda, violinos, poetas eruditos, trajes 
de gala, champanhes e vinhos caros para 
uma elite privilegiada e sedenta por fazer 
do Brasil uma pequena Europa. Logo essas 
reuniões elegantes se estenderam pelo país 
afora, ganhando as graças de latifundiários, 
de prósperos comerciantes e pessoas in-
fluentes que começaram a organizar salões 
e a bancar movimentos artísticos, como os 
da Semana de Arte Moderna, patrocinada 
por cafeicultores, especialmente, paulistas.
Sabemos que a história sempre nos foi 
contada pela voz dos vencedores. Pouco 
se conta, por exemplo, quenesses saraus do 
início do século XIX, os músicos, em geral, 
eram negros e indígenas escravizados.
A verdade é que tal como é intrínseco 
aos humanos fazer arte, nos é comum com-
partilhá-la, desde as pinturas rupestres da 
Serra da Capivara, às danças circulares indí-
genas e as rodas em volta do fogo de contar 
histórias que faziam as pessoas escraviza-
das em senzalas ou quilombos. Ninguém 
poderá dizer que isso não seja um sarau, 
ou seja, uma reunião para compartilhar 
experiências e vivências culturais.
Contudo, os saraus contemporâneos 
que acontecem nas periferias, tema deste 
tópico, diferente dos saraus que aconteciam 
no Império e dos que acontecem em áreas 
nobres e/ou ambientes tradicionais, não 
são apenas saraus de compartilhamen-
to. Mais do que apenas um amontoado de 
gente divertindo-se e fruindo da arte, essas 
pessoas pensam e revelam seus problemas, 
confraternizando-se em suas conquistas. Es-
ses espaços são de arte, educação e cultura 
e as palavras de ordem são luta e resistên-
cia, na tentativa de fazer do mundo um lugar 
melhor, menos injusto e desigual.
O sarau é uma reunião com o objetivo 
de compartilhar experiências culturais 
e o convívio social. É composto por 
um grupo de pessoas que se reúnem 
com o propósito de fazer atividades 
lúdicas e recreativas, como dançar, ouvir 
músicas, recitar poesias, conversar, ler 
livros e demais atividades culturais. 
A origem da palavra sarau deriva do 
latim seranus / serum, termos que fazem 
referência ao “entardecer” ou ao “pôr 
do sol”. Justamente pela etimologia, 
convencionou-se realizar os saraus 
durante o final da tarde ou à noite.
BOLACHINHAS
MALACA
CHETAS
184 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
5.
QUEM TÁ 
NA RUA É PARA 
OCUPAR!
ntão, embora os saraus já aconte-
cessem no “Siará” entre os povos 
indígenas (Anacê, Gavião, Jenipa-
po-Kanindé, Kalabaça, Kanindé, 
Kariri, Pitaguary, Potiguara, Tabaja-
ra, Tapeba, Tapuba Kariri, Tremem-
bé e Tubiba Tapuia), é no fim dos 
anos 2000 que surge em Fortaleza 
o movimento dos saraus, culmi-
nando com a efervescência cultural que ve-
mos hoje nas periferias.
É difícil falar em uma origem para este mo-
vimento, já que os jovens sempre se reuniram 
para fazer e compartilhar arte. Naquele mo-
mento, eram várias as experiências isoladas 
em diversos pontos da cidade. No entanto, 
destaco algumas que tiveram maior solidez, 
por terem inspirado outros saraus, ou por 
continuarem e se mobilizarem ainda hoje.
No ano de 2007, um grupo formado por 
Ana Lourdes, Carlos Amaro, Carlos Arruda, 
Emiliana Paiva, Gervana Gurgel, Ítalo Rovere, 
Luana Oliveira, Manoel César, Nilze Costa e 
Silva, Reginaldo Figueiredo, Rita Carvalho e 
Talles Azigon se reuniram e fundaram o Tem-
plo da Poesia, que ficava em um galpão 
no centro da cidade, e onde duas vezes por 
mês acontecia o Palco Aberto, um formato 
similar aos dos saraus que acontecem hoje 
nas periferias da cidade: ninguém precisa ter 
posses nem prestígio, ser amigo de alguém 
ou mesmo se inscrever para mostrar sua 
arte, seja ela poesia, dança, performance, te-
atro, bambulim, protesto ou o que quiser, é 
só chegar! Por volta de 2015, o grupo deixou 
de acontecer no centro de Fortaleza e fundou 
a Vila de Poetas, residência comunitária-ar-
fazendo, e que o local não deveria ser fecha-
do como aqueles que os rechaçavam, mas 
ali mesmo, na rua! E assim nasceu o Sarau 
da B1, que desde então acontece a cada 
primeiro sábado do mês na mesma praça 
dessa avenida, onde a cada edição uma 
pessoa (viva) da quebrada é homenageada, 
rompendo com a ideia de que para ser ho-
menageado tem que ser rico ou prestigiado, 
branco, heterocisnormativo ou estar morto. 
Cada presença é importante ali. Com lança-
mentos e sorteios de livros, apresentações 
e performances diversas, de pessoas não só 
do Jangurussu, o sarau agrega várias outras 
periferias e centros (!) de Fortaleza, inspi-
rando outros a fazerem saraus em suas pró-
prias quebradas. Entre outras realizações: 
lançou um livro com poemas de 32 poetas 
que participam do sarau, feito e publicado 
totalmente de forma independente; produ-
ziu as zines Jangu Livre – o título faz referên-
cia ao bairro Jangurussu e ao filme Django 
Livre; e o lançamento do documentário Sa-
rau da B1: a poesia em Transe!, contando 
a história do sarau. A principal característica 
desse Sarau, como de vários outros saraus 
de periferias, é o microfone aberto, onde 
quem quiser, chega e bota o teu!
tística em Maranguape, cidade vizinha, onde 
vigoram os versos de Ítalo Rovere: “O amor 
de todo mundo para mudar o mundo/ pra 
mudar o mundo o amor de todo mundo.”
O Sarau da B1 surgiu do desejo de qua-
tro amigos, Aglailson Di Almeida, Carllos 
Preto, Jair Xavier e Samuel Em Transe, de 
compartilhar poesia na sua própria que-
brada (“território”), o bairro do Jangurussu, 
já que o movimento de poesia de que eles 
tinham conhecimento aconteciam no cen-
tro da cidade e nem sempre podiam se des-
locar, como no Centro Dragão do Mar de 
Arte e Cultura, de onde haviam sido recha-
çados por não estarem inscritos e insistirem 
em dizer seus poemas, e, portanto, não 
poderem se apresentar em determinado 
evento. Foi quando, em 2010, se juntaram à 
Associação de Moradores do Conjunto São 
Cristóvão e formaram Os Poetas de Lugar 
Nenhum, ironizando o fato de não partici-
parem das “panelinhas” literárias do centro 
cultural da cidade. O sarau teve um hiato 
de cinco anos, quando em 2015, enquanto 
bebiam, conversavam e diziam poemas em 
uma das praças da avenida Bulevar 1 (daí, 
“B1”), no Conjunto São Cristóvão, onde eles 
moram, o desejo de fazer o sarau se reavi-
vou. Perceberam, então, que já o estavam 
Também em 2007, surgiria no outro 
extremo da cidade, no Conjunto 
Palmeiras, a Cia Bate Palmas, formada 
pelo cantor e compositor Parahyba de 
Medeiros, pela produtora Bete Augusta 
e banda formada por Amanda Fideles, 
Ana Kássia, Cícero Peixoto, Danilo Duarte, 
Diones Mendes, Elane Fideles, José 
George e Rairton Lima. Embora a poesia 
esteja presente nos saraus da Cia Bate 
Palmas, a música tem protagonismo, 
com letras que contam as histórias do 
bairro e da cultura popular brasileira.
Audre Lorde (LORDE, 2019, p.51, 53), diz 
que “o que me é mais importante deve ser 
dito, verbalizado e compartilhado, mesmo 
que eu corra o risco de ser magoada 
e incompreendida. [...] você jamais é 
realmente inteira se mantiver o silêncio, 
porque sempre há aquele pedacinho 
dentro de você que quer ser posto para 
fora, e quanto mais você o ignora, mais 
ele se irrita e enlouquece, e se você não 
desembuchar, um dia ele se revolta e dá 
um soco na sua cara, por dentro. [...] há 
muitos silêncios há serem quebrados”
CURSO literatura cearense 185
editora independente cearense que se 
destaca, publica jovens autores, tradu-
ções e uma revista, e iniciou a Livro Livre 
Curió Biblioteca Comunitária, fazendo a 
diferença na vida de centenas de crianças 
e jovens de sua quebrada – o bairro Curió. 
Além disso, foi indicado pelo atual secretá-
rio da Cultura do Ceará, em 2019, para ser 
um dos curadores da próxima Bienal Inter-
nacional do Livro do Ceará.
cada orgasmo teu é menos uma bomba no 
mundo/ tu corpo, tu carne/ anti-guerra// 
menos uma bala de fuzil/quando suspiras 
fundo/ menos um insulto diplomático/ quan-
do tua boca está/ concentrada em outros 
assuntos// cada orgasmo teu/ menos um he-
licóptero/ um torpedo submarino a menos/ 
toda vez que viaja por debaixo/ dos mares de 
lençóis as tuas mãos (Talles Azigon)
Outro destaque dazárea é o multiartista 
Jardson Remido. Remido foi preso ainda 
adolescente por tráfico de drogas. Ele conta 
que no regime socioeducativo leu um livro 
de Malcolm X que mudou sua visão de mun-
do, levando-o a buscar outras leituras. Já 
6.
FAZ TEU NOME!
lguns dos poetas, es-
critores, intelectuais e 
artistas visuais que co-
meçaram sua história 
artística nos saraus das 
periferias, hoje têm li-
vros publicados, fazem 
exposições em galerias, 
apresentam-se em even-tos importantes e des-
pontam como grandes nomes das artes 
no Brasil. Talles Azigon, que começou no 
Palco Aberto, hoje é um dos poetas mais 
respeitados do país, tendo quatro livros 
publicados. Participou de diversas anto-
logias, é um dos editores da Substânsia, 
em liberdade, conheceu o Sarau da B1, que 
é na mermazária que ele mora. Paralela-
mente, fez amizade com Dali, poeta, rapper 
e então estudante de Ciências Sociais. Ver 
diversos colegas dizerem seus poemas no 
sarau e a amizade com Dali levaram Remido 
a se expressar por seus próprios poemas, 
performances e também no rap, primeira-
mente no grupo DuFront Mc’s e, atualmente, 
no grupo A Quebra, e depois também nas 
artes visuais. É impossível não se impactar 
com as apresentações do artista. Cobrindo 
o rosto com uma camisa, como diz Rômulo 
Silva “performando a invisibilidade e o silen-
ciamento histórico e social de suas próprias 
histórias de vida e as de seus semelhantes” 
(SILVA, 2019, p.125), como um zapatista ou 
como as pessoas pensam ser um bandido, 
olhos vidrados, pega uma refém portando 
um objeto na cintura, a respiração de todo 
mundo para... era só um livro! E então dis-
para seus poemas cortantes que gritam a 
realidade das periferias. 
Remido já se apresentou na abertura da 
palestra de David Harvey no Cineteatro São 
Luiz em Fortaleza em 2018, no palco princi-
pal da Bienal Internacional do Livro do Ce-
ará em 2019 e no 2º Seminário Arte, Palavra 
e Leitura, em São Paulo, onde recebeu uma 
proposta para publicação de um livro por 
uma das maiores casas editoriais do país, 
a Companhia das Letras, e já deu entrevis-
ta para o programa “Profissão Repórter” da 
Rede Globo. E assim como outras e outros 
poetas de periferia, se orgulha de fazer os 
corre com a poesia de busão.
Avisa lá pro playboy que quem tomou a vaga 
dele na faculdade federal fomos nós/ Aprovei-
ta também e avisa lá pro filhin de papai/Que se 
ele não aproveitar a faculdade/ A favela toma 
a vaga dele e valoriza bem mais. // Avisa lá pro 
Águia Dourada que nós tamos na faculdade 
federal e não no programa policial do Barra 
Pesada/ Avisa lá pro PM que me chamou de 
marginal, que qualquer dia eu esfrego na cara 
dele meu diploma da faculdade federal,/ pra 
ele aprender a respeitar as cara e saber que fa-
velado é intelectual [...] (Jardson Remido)
186 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
Outro artista que começou a fazer versos 
em saraus foi Renato Pessoa, por volta de 
2005, quando ainda cursava a faculdade de 
Filosofia na Uece, ao lado dos amigos Die-
go Silvero e Jam’s Willame. Em 2015, com 
iniciativa dos mesmos amigos mais a poeta 
Pamella Souto, surge no Conjunto Ceará o 
Corpo Sem Órgãos: Sarau Rizoma, que 
acontecia na Casa Arcadiana, e mais tarde 
no Polo de Lazer daquele bairro.
A palavra intelectual muitas vezes vem 
carregada de ranço, isso porque fomos le-
vados a acreditar que só às elites é dado 
pensar. Renato Pessoa é um intelectual, 
além de ativista cultural. Participou e par-
ticipa de diversos eventos literários e aca-
dêmicos no Ceará e até em Portugal, onde 
palestrou e lançou livros ao lado de outros 
poetas cearenses, como Dércio Braúna 
(poeta e ensaísta de Limoeiro do Norte), 
Bruno Paulino (poeta, cronista, contista e 
ensaísta de Quixeramobim) e Mailson Fur-
tado (poeta de Varjota, ganhador do Prê-
mio Jabuti nas categorias Poesia e Livro do 
Ano, ambos em 2018, sendo o primeiro au-
tor independente, em 60 anos do Prêmio, 
a ganhar a categoria Livro do Ano) no 
Encontro Interdisciplinar de Estudos sobre 
Literatura: novos olhares entre o Ceará e o 
Alentejo, na Universidade de Évora. O poeta 
publicou cinco livros de poemas e tem um 
livro de ensaios sobre filosofia no prelo. Os 
poemas de Renato unem cotidiano e filoso-
fia, materialismo e metafísica. E como todo 
poeta vindo dos saraus, Renato tem olhar 
crítico e voz poética afiada.
Escrevo teu nome como visto uma orla,/ 
Em algum lugar uma estrela se apaga./ 
Moças carentes rezam simpatias./ Estou fa-
minto. Tenho os pulsos leves,/Abertos para 
o alimento impreciso./ As coisas sem nome 
persistem./Fui batizado, sem soleiras, no-
minal./Tenho mãe, pai, tenho raízes sono-
ras./ Me sinto órfão. (Renato Pessoa)
Quando se fala de movimento de sa-
raus, um nome, em geral, vem à mente: 
Baticum! Poeta, arte-educador, ator, batu-
queiro e ocupador, Baticum iniciou na rua 
do Amor, no bairro Antônio Bezerra, o Sa-
rau Okupação, que também compreende 
a Biblioteca Comunitária Okupação, a 
doação de mudas de plantas e, a partir de 
2018, o Slam da Okupa.
O Sarau Okupação tem um caráter ex-
tremamente anárquico, seus participantes 
não têm qualquer crença no poder público 
e encorajam a galera para autogestão, não 
só com a poesia, mas com suas atitudes ao 
fazer oficinas de percussão, poesia e teatro 
em escolas públicas, comunidades e biblio-
tecas comunitárias.
Atuante nas periferias da cidade e forta-
lecendo outros saraus, Baticum idealizou a 
Bienal Itinerante de Poesia (BIP), que cir-
culou pela Barra do Ceará, Conjunto Ceará, 
Conjunto São Cristóvão, Curió, Dragão do 
Mar, Granja Lisboa, José Walter, Paname-
ricano, Praça do Ferreira e Serviluz em um 
percurso com duração de dois meses. 
Privilegiado no congresso discursa/lugar 
de pobre e favelado é no tráfico/e ter a 
vida curta/mas nós somos resistentes/
nosso close é de luta/então luta/luta luta 
luta/tá cheio de close errado/quer nos re-
presentar/não tem choro nem mimimi/se 
não quer ajudar não atrapalha/[...] falar de 
democracia é fácil/quero ver sem poder ir 
com povo/burocratiza a participação/faz 
promessa, rouba de novo/e quem tá na 
rua é pra ocupar/quem tá na praça é pra 
ocupar [...] (Baticum)
Uma poeta fundamental para a cena 
da sua quebrada é Argentina Castro que, 
desde 2016, junto com sua mãe e irmãs, 
toca a Biblioteca Comunitária Papoco de 
Ideias lá no bairro Panamericano ao lado 
da favela do Papoco. Em entrevista para a 
Revista Berro (ERNESTO, 2019), Argentina 
conta que a ideia da Biblioteca surge como 
“uma história de amor à literatura e à comu-
nidade onde cresceu [...] e uma tentativa de 
reparação perante a violência”.
A Papoco de Ideias é visitada fundamen-
talmente por crianças. Como suas famílias 
muitas vezes não podem estar presentes 
porque trabalham, o espaço é um bálsamo 
na vida da comunidade desassistida pelo 
Estado. Além de ser uma biblioteca comuni-
tária, a Papoco desenvolve inúmeros outros 
projetos, como debates com escritores, exi-
bições de filmes, leva as crianças para expo-
sições, cinema, festivais, as inscreve em for-
mações em equipamentos culturais, como 
na dança da Vila das Artes, configurando-
-se assim em mais um espaço de educação. 
Argentina é cientista social, arte-colagista 
e poeta. Como uma mulher do seu tempo e 
da sua quebrada, seus poemas gritam liber-
dade, empoderamento feminino, amor e luta.
Quem dera o sangue fosse só da menstrua-
ção e não da minha boca cortada/ e de mi-
nh’alma partida/ quem dera não existisse 
noite e nem ruas vazias/ nem ônibus lota-
dos./ Quem dera entrar e sair de qualquer 
lugar e não ser bulinada/ Coagida por olha-
res e palavras cortantes./ Quem dera não 
temer que nossos corpos podem ser inva-
didos/ Por qualquer um, a qualquer hora e 
em qualquer lugar./[...] Quantas vezes, de 
quantas mulheres mais ainda vamos ouvir 
que ser mulher é tão difícil?/ Somos as lou-
cas quando deixamos de ser as gostosas/ 
[...] Quem quer mesmo amar com tanta dor 
no peito? (Argentina Castro)
Foi em 2017 que aconteceu o primeiro 
Sarau da Papoco de Ideias, com a colabo-
ração de diversos poetas de outros saraus da 
cidade, como o Sarau da B1, o Corpo Sem 
Órgãos: Sarau Rizoma e o Sarau Okupação. 
CURSO literatura cearense 187
7.
MERMAZÁRIA
articulação e a visitação 
entre os saraus se torna 
uma tônica no movimen-
to: pessoas de todos os 
lugares e saraus passam 
a ocupar um a quebrada 
do outro, formando as-
sim uma grande teia de 
poetas, afetos e gente 
disposta a transfor-
mar a realidade.É justamente no ano de 2017 que acon-
tece o I Encontro de Saraus do Ceará, no 
Centro Cultural Patativa do Assaré, Conjun-
to Ceará. Autogerido, contou com a partici-
pação de seis saraus de Fortaleza, mais o 
Slam da Quentura de Sobral. 
O movimento de saraus se fortaleceu e o 
Encontro de Saraus continuou acontecendo 
no mesmo modelo, com oficinas pela ma-
nhã, rodas de conversa e cortejos pelo bairro 
à tarde e um grande sarau à noite. Teve ain-
da outras edições: a segunda, no bairro do 
Curió, na Biblioteca Livro Livre Curió, Floresta 
do Curió e na sede da Arte de Amar, com 
mais de dez saraus presentes e a terceira, na 
8.
VOCÊS 
QUERENDO OU 
NÃO, ISTO É 
LITERATURA!
s artistas que participam 
dos saraus e demais movi-
mentos nas periferias es-
crevem e performam sobre 
tudo: amor, erotismo, me-
mórias de infância e tudo 
o que quiserem, porque 
são produtores culturais e, 
como tais, as possibilida-
des são infinitas. É inegável, 
contudo, que a grande tônica no palco e no 
microfone seja a violência policial e esta-
tal, o racismo, a homofobia, a misoginia, 
os traumas coloniais, ou seja, a denúncia. 
Em razão disso, uma pseudocrítica tende a 
querer apagar o caráter literário-artístico do 
movimento. Então, se no passado o apaga-
mento das vozes periféricas se dava através 
do silenciamento e da sua ocultação, 
hoje usa-se da negação, por meio do dis-
curso de que esta é uma literatura menor 
ou até mesmo de que não é literatura. 
Em uma live em seu Instagram, no dia 14 
de abril de 2020, a escritora Conceição Eva-
risto fez uma oposição entre o espelho de 
Narciso e o espelho de Oxum, a partir da filo-
sofia Ubuntu, refletindo sobre a escrita de si e 
ao que chama de escrevivência. No espelho 
de Narciso (uma escrita ególatra), a escrita se 
esgota de si e em si mesma, já a escrevivên-
cia se distancia do “eu” para traçar uma cami-
nhada filosófica sobre o “nós”. Assim, segundo 
Conceição, a escrevivência acaba por ser uma 
escrita que representa o coletivo, e embo-
ra o eu lírico seja um eu, tem uma ressonância 
em grupo, já que são vivências comuns dos 
corpos negros na sociedade, experiências co-
muns à comunidade; um olhar-se no espelho 
de Oxum, um encontro com a própria beleza, 
dignidade e que acolhe o coletivo.
Repetimos: a história sempre foi con-
tada pelos vencedores. Numa narrativa que 
coloca os corpos periféricos como violentos 
e que só são filmados para passar em no-
ticiários sensacionalistas, a contrarrevolta é 
ver esses corpos produzindo cultura: hortas, 
batuques, bibliotecas, filmes, dança, poesia 
e tudo o que quiserem. Dieguim, poeta da 
Serrinha, diz bem: “Quero ver filmar um sa-
rau e botar em rede nacional.” 
Hoje, acreditamos não ser mais possí-
vel parar o movimento dos saraus, que tem 
ocupado cada vez mais espaços e trans-
formado a vida de muita gente, desde os 
moleques e as meninas que passam, vêm 
aos saraus e começam a participar e a ter 
um outro repertório em que se inspirar, aos 
próprios participantes que passam a narrar 
Granja Portugal, com apoio do Espaço Gera-
ção Cidadã e do Grupo Nóis de Teatro, com 
representantes de saraus de outras cidades 
do estado, como Caucaia, Maracanaú, So-
bral e Taíba. O próximo Encontro de Saraus 
acontecerá no Jangurussu, e espera-se pelo 
menos vinte saraus do estado. 
O movimento publicou Ruma: poemas 
de saraus, em 2019, uma realização dos co-
letivos de saraus e da Biblioteca Livro Livre 
Curió, através de edital da Secult-CE. Com a 
organização de Talles Azigon, o livro conta 
com poemas e colagens de artistas de di-
versos saraus do estado e foi publicado na 
XIII Bienal Internacional do Livro do Ceará, 
em tiragem de mil exemplares.
188 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
e transformar sua própria história, até aque-
les que passam a enxergar e ouvir o que pa-
recia ser invisível ou não ter voz. 
Como uma rede que se afeta com as 
experiências de resistência e re-existência, 
cada vez mais saraus têm surgido, como a 
Pretarau: sarau das pretas, um coletivo 
de artistas mulheres negras da cidade, espe-
cialmente as que vivem e resistem na perife-
ria, e a coletiva BaRRósas, surgida nos bair-
ros Barroso e Violeta, a partir de ações de 
pessoas que somam com a Biblioteca Viva 
Barroso, onde perceberam que, apesar de 
as mulheres serem a maioria entre os leito-
res, tinham pouca participação nos saraus e 
slams do bairro. Em Sobral, uma outra ini-
ciativa só de mulheres é o Slam das Cuma-
dis, batalha de rima que surgiu no bairro 
Terrenos Novos. E o movimento de saraus 
está cada vez mais firmão. Nas universida-
9.
E PARA 
ONDE VAI A 
LITERATURA 
CEARENSE?
thon Costa, da Academia 
Carioca de Letras na Fe-
deração das Academias 
de Letras do Brasil, nas 
“Notas Preliminares” de 
História literária do Ceará 
(1948), de Mário Linha-
res, já pontuava: 
[...] somente se consagram 
[os escritores das províncias] 
de todo quando emigram para o Rio de 
Janeiro. As exceções são poucas e quase 
nulas, pela incontrastável influência que os 
grandes centros de cultura exercem [...] so-
bre quantos mantenham [...] o seu contato. 
A literatura brasileira, de que geralmente se 
cogita nos trabalhos dessa natureza, nada 
mais tem sido que o estudo crítico ou sim-
ples registro nominal desses escritores que 
os poucos centros de cultura do país con-
sagram e põem em evidência. Mas quantos 
grandes espíritos permanecem esquecidos 
ou desconhecidos na costumeira estagna-
ção social das mais longínquas regiões bra-
des, artistas são convidados para falar em 
aulas, centros culturais e eventos. Cresce o 
número de monografias, dissertações e te-
ses sobre o tema. E vem uma ruma de gente 
que nem é da periferia para curtir os saraus. 
Aliás, o que é periferia? SE INTERA!
A nossa cultura é baseada na busca por 
sobreviver. Com a nossa arte a gente 
afirma, todos os dias, o nosso direito de 
existir, sendo não apenas “periferia”. Nós 
também somos o Centro. Cada periferia 
é um centro. (Baticum)
sileiras? E tudo isso representa um enorme 
e precioso patrimônio perdido, sem em-
bargo de se tratar, muitas vezes, de uma lite-
ratura genuinamente nacional, como reflexo 
de nossos mais puros sentimentos nativos.
O sentimento do autor dessas “Notas”, 
para aqueles que acompanham atenta-
mente o curso, reforçam o que dissemos 
desde o primeiro módulo: que tudo aqui-
lo que por nós é esquecido, abandonado, 
é tão importante quanto aquilo que é 
consagrado e reconhecido. A diferença é 
que esse “todo esquecido” para nós é um 
desafio, algo a ser redescoberto, pesquisa-
do, lido, estudado e publicado. Já pensou 
que grande serviço nós prestaríamos às 
letras de nosso estado e país? Não restrito 
ao Ceará, mas àqueles estados distantes 
– não apenas geograficamente – de tais 
centros, que por uma questão hegemônica 
histórica detiveram o poder de consagrar, 
mas também o de invisibilizar muitos de 
nossos autores e obras.
Para nós cearenses, por exemplo, não 
é compreensível que alguns autores, pela 
qualidade de suas obras, e até com certo 
reconhecimento em outros estados brasi-
leiros, não tenham sido alvos de publicação 
no mercado editorial – nem cearense, nem 
nacional – mesmo após a sua morte, como 
José Alcides Pinto, Moreira Campos, Francis-
co Carvalho, Audifax Rios, Nilto Maciel, Mário 
Gomes, Airton Monte, Milton Dias, Gerardo 
Mello Mourão, Gustavo Barroso, Eduardo 
Campos, Moacir C. Lopes, Jáder de Carvalho, 
Barros Pinho, Juarez Barroso, Caio Porfírio 
Carneiro, para citar apenas alguns. 
Além disso, perguntamo-nos o porquê 
de a Padaria Espiritual, que em seu tem-
po teve algum destaque até nesses “gran-
des centros”, mesmo pela sua originalida-
de e atitude diante do cenário da época, 
não constar em nenhum desses compên-
dios de Literatura Brasileira, mesmo sendo 
ela, inclusive, bem próxima do espírito mo-
tivador da badalada e polêmica Semana 
da Arte Moderna de 22.
CURSO literatura cearense 189
Da mesma forma, as universidades que, 
a nosso ver, são as responsáveispela produ-
ção desse saber, também negligenciam esse 
conhecimento, com produções que não 
exploram a busca desses autores de outras 
épocas – uma tarefa que ainda tem muito 
pano para mangas –, e muito menos desta. 
Ora, se em nossos centros não há interesse 
por esse estudo da literatura produzida em 
nosso estado, de onde virá essa iniciativa? 
Felizmente, durante o curso e mesmo antes 
dele, tomamos o conhecimento de paulis-
tas, cariocas, mineiros, alagoanos, pernam-
bucanos, entre outros, que se determinaram 
a estudar essa produção cearense. Agora, 
esses estados também se voltam para reco-
nhecer as suas próprias produções. 
O Exame Nacional do Ensino Médio 
(Enem), nesse ponto, não nos foi favorável. 
Se por um lado democratizamos o acesso às 
universidades públicas, por outro, com seu 
advento, os vestibulares regionais, com te-
mas da região, como a história e a literatura, 
foram abolidos, de maneira que caímos nas 
mãos do cânone literário nacional. Pelo me-
nos no curso de História, a disciplina História 
do Ceará é obrigatória, enquanto no curso 
de Letras da Universidade criada pelo acadê-
mico e membro do CLÃ Martins Filho, a dis-
ciplina Literatura Cearense é optativa e parte 
dela não é ofertada há anos. Na Universidade 
Estadual do Ceará, em Fortaleza, ela também 
é optativa. Em Limoeiro do Norte, entretanto, 
a Fafidam traz em seu Plano Político-Peda-
gógico (PPP) a disciplina Literatura Cearense 
como obrigatória, um exemplo, cremos, a 
ser seguido, sobretudo, por aqueles que de-
fendem o PPP como algo estático e cristaliza-
do dentro das instituições de ensino.
Antes do Enem, a UFC, em seu Vestibular, 
acolhia a literatura produzida no estado e, por 
meio de sua Imprensa Universitária, lançava 
uma seleção de obras que era fartamente es-
tudada pelos candidatos. Ali, entre os jovens, 
uma grande descoberta: era possível ler 
autores cearenses e gostar! Na lista, Ange-
la Gutièrrez (O mundo de Flora), Antônio Gi-
rão Barroso (Poesias incompletas), Pedro Sal-
gueiro (Dos valores do inimigo), Airton Monte 
(Moça com a flor na boca), Eduardo Campos 
(Três peças escolhidas), Natércia Campos (A 
casa), Patativa do Assaré (Cordéis e outros 
poemas), Moreira Campos (Dizem que os cães 
veem as coisas), José de Alencar (O Guarani), 
Antônio Sales (Aves de arribação), Caio Porfí-
rio Carneiro (Trapiá), Milton Dias (Entre a boca 
da noite e a madrugada), José Alcides Pinto 
(Os verdes abutres da colina), João Clímaco 
Bezerra (A vinha dos esquecidos) etc.
Também as editoras universitárias não 
têm hoje mais fôlego financeiro nem equipe 
suficiente para publicar sistematicamente 
obras de relevância histórica e/ou literária. 
E, infelizmente, muitos editores também 
atestam que essas obras não encontram 
público, por isso o desinteresse editorial.
A política de editais públicos estadual e 
municipais para autores e publicações, des-
de 2004, independentemente de qualquer 
crítica, tem sido, se não uma porta, mais uma 
janela que permite o lançamento de novos 
talentos que hoje permanecem no circuito 
cultural. Da mesma forma, destacamos ou-
tros prêmios literários, como o tradicional 
Osmundo Pontes da Academia Cearense 
de Letras e do Ideal Clube, e o surgimento 
constante de novos grupos e instituições que 
abrigam e estimulam a troca de ideias e a 
convivência entre esses autores, sejam as as-
sociações, como a Associação Cearense de 
Escritores (ACE), as Academias de Letras mu-
nicipais, os coletivos e os diversos clubes de 
leitura e projetos de bibliotecas comunitárias 
que polvilham e encantam novos leitores.
que chamamos de socie-
dade moderna ou socie-
dade da informação, há 
décadas vem passando 
por grandes e rotineiras 
transformações, inclusi-
ve de valores, exigindo 
de todos, cada vez mais, 
a capacidade de estar 
atentos e informados, 
ser flexíveis e ter uma boa dose de criati-
vidade e superação – às vezes, um pouco 
também de sangue de barata. 
Em todo mundo, encontramos um vigoro-
so processo de massificação, da propagação 
do consumo, que atinge a todas as popula-
ções, incluindo, claro, os artistas e a sua pro-
dução. Em parte, enquanto alguns se rendem 
a ela, vestindo-se do mais absoluto individua-
lismo, outros se unem em sua contramão.
As grandes editoras (falamos “editoras”, 
mas há uma grande cadeia que compõe 
essa “indústria”) por todos os meios identi-
ficam e estudam esse público consumidor e 
investem pesado na busca e na “construção” 
de novos autores e obras, no afã de lançar 
10. 
A CENA LITERÁRIA
SABATINA
190 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
best-sellers, livros da moda, as “tendências”, 
como chama o mercado. Aliadas a essas edi-
toras, de forma espontânea ou não, as revis-
tas, os jornais, a TV, ditam ao público os livros 
mais vendidos, a “isca perfeita” para aqueles 
que buscam a inalcançável inclusão ou mes-
mo outros que, sem muita crítica pessoal, 
necessitam dessa tutela da curadoria anôni-
ma – reforçando o apelo do consumo, inde-
pendentemente da qualidade literária. Isso, 
claro, quando não são influenciadas pelas 
séries de TV ou filmes de cinema que vêm 
junto ao “combo” promocional dos maiores 
investimentos, normalmente, externos ao 
país, mas que “copulam” com ele.
Por outro lado, a democratização cada 
vez mais crescente da internet e das re-
des sociais criou um novo paradigma que 
permite que autores completamente sem 
acesso às editoras possam, por meio de 
estratégias insistentes e criativas (leia-se 
“heroicas”), conseguir alcançar e formar um 
público leitor. Isso nos faz lembrar uma con-
versa entre dois editores, quando um deles 
afirmou: “Antes, para ser conhecido, você 
tinha que ser autor; hoje, para ser autor, an-
tes você tem que ser conhecido.” Razão esta 
pela qual muitas são a obras assinadas por 
celebridades, youtubers, colecionadores de 
“likes”, porém, escritas por ghostwriters.
Para combater essa “marginalidade”, sur-
gem as revistas literárias, que cientes dessa 
oficial invisibilização tentam divulgar esses 
autores e obras que não fazem parte do “câ-
none comercial da indústria de arrastão”. 
Naturalmente, como sempre aconteceu – e 
vocês cursistas já sabem disso –, essas revis-
tas têm vida curta, como a das moscas. Entre 
as revistas cearenses, a partir de 2000: CAOS 
Portátil: um almanaque de contos, Literatura: 
revista do escritor brasileiro, Corsário, Gazua, 
Mambembe, Literapia, V.o.l.a.n.t.e, Para Ma-
míferos, Mutirão, Berro, Pindaíba e a caçuli-
nha, com 90 anos, a Maracajá. Hoje, existe 
um mundo de revistas eletrônicas, muitas 
delas também de curta duração, apesar de 
não exigir maior investimento, como edito-
ração gráfica e impressão.
Deixando de lado os aspectos comerciais 
mais agressivos desse mercado e a promo-
ção de ilusões que ele cria e envelopa para 
seus consumidores (às vezes leitores), falare-
mos brevemente sobre os gêneros literários 
que grassam pelo solo e imaginação cearen-
ses, compreendendo que entre todos os nos-
sos autores contemporâneos, pouco mais 
dos dedos de uma mão, talvez, possam se 
dedicar inteira e somente ao ato de escrever.
Como você deve ter percebido, no de-
correr do curso, o conto sempre foi um gê-
nero de preferência no Ceará. Especialmen-
te nos dias de hoje, nos quais o tempo exige 
economia, as narrativas curtas caem bem, 
garantindo breves leituras àqueles que não 
querem se distanciar da literatura. Fator 
também favorável aos contistas, pois devi-
do ao pouco espaço da agenda, podem bu-
rilar aquele conto com o apreço necessário 
a uma boa peça literária, geralmente muito 
afeita a tratar das violências, desigualdades 
sociais, entre outros elementos cotidianos 
urbanos, seja pela secura da escrita ou utili-
zando do erotismo, sarcasmo e humor. Sem 
nunca ter saído da raia, o fantástico e os 
demais gêneros fronteiriços, com o advento 
comercial da fantasia, especialmente entre 
os jovens, voltaram a integrar a produção 
de contos e esparsos romances no Ceará.
Deixamos o registro aqui do surgimento,em 1997, do Almanaque de Contos Cearen-
ses, organizado por Pedro Salgueiro, Tércia 
Montenegro e Elisângela Matos, que mar-
cou, reuniu e lançou uma geração de contis-
tas na referida década. Em 2005, seria cria-
da a revista CAOS Portátil: um almanaque 
de contos, idealizada por Pedro Salgueiro e 
Jorge Pieiro, com a colaboração de Geral-
do Jesuíno e Raymundo Netto, que chegou 
a publicar 5 edições, e foi responsável por 
lançar uma série de novos contistas. 
As crônicas, gênero que permite muita 
liberdade, sempre foram muito populares e 
tiveram diversos adeptos no Ceará. Sua popu-
laridade se deve, cremos, principalmente pela 
sua extensão curta, sua linguagem simples e 
por tratar de assuntos corriqueiros do dia a 
dia, muitas vezes de forma bem-humorada, 
memorialística, reflexiva e/ou lírica, além de ser 
encontrada facilmente em páginas de jornais. 
Mesmo com a redução desses periódicos e a 
consequente redução da leitura de seus im-
pressos, com o advento dos portais de notícias 
virtuais, as crônicas continuam no gosto dos 
atuais leitores, exigindo, contudo, uma diversi-
dade acrobática de temas pela pluralidade de 
motivos e de anseios das suas preferências. 
Entre os gêneros ficcionais em atividade 
no Ceará, os romances nos são os mais raros, 
justamente por exigir um maior tempo de de-
dicação e de criação e, por vezes, investimen-
tos. Claro, referimo-nos aos bons romances. 
Com poucas exceções, apenas os autores pro-
fissionais – refiro-me àqueles que não têm ou-
tra ocupação que não seja a literária – é quem 
tem mais extensa bibliografia. Encontramos 
outros autores cearenses de crônicas e ro-
Em 2004, Túlio Monteiro organizaria 
Antologia de Contos Cearenses, na 
Coleção Terra da Luz, das Edições 
UFC, reunindo alguns contos de 
origem realista até contemporâneos.
REFERÊNCIAS 
BIBLIOGRÁFICAS
BESSA, Flávia; MELO, Igor de. Ao som das 
margens cearenses, o batuque provocativo 
de Baticum. Revista Vós in: http://www.
somosvos.com.br/ao-som-das-margens-
cearenses-o-batuque-provocativo-de-
baticum/ [acesso em 19/04/2020]
ERNESTO, João. Toda periferia é um centro: 
uma história do movimento de saraus na 
periferia de Fortaleza. Revista Berro, in: 
https://revistaberro.com/reportagem/
toda-periferia-e-um-centro-uma-historia-
do-movimento-de-saraus-nas-periferias-de-
fortaleza/[acesso em 19/04/2020]
EVARISTO, Conceição. Becos da Memória. 
3. ed. Rio de Janeiro: Pallas, 2017.
FREIRE, Paulo. Ação cultural para 
liberdade. 5 ed. Vol. 10. Coleção O Mundo, 
Hoje, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.
LINHARES, Mário. História Literária do 
Ceará, Jornal do Commercio, Rodrigues & 
Cia, Rio de Janeiro, 1948. 
LORDE, Audre. Irmã Outsider. Tradução 
de Stephanie Borges. 1. ed. Belo Horizonte: 
Autêntica Editora, 2019.
SEVERO, Luana. A ocupação Gregório 
Bezerra e as violações de direitos. Jornal 
O POVO in: https://www.opovo.com.br/
jornal/reportagem/2018/06/a-ocupacao-
gregorio-bezerra-e-as-violacoes-de-
direitos.html [acesso em 19/04/2020]
SILVA, Francisco Rômulo do Nascimento. 
Rede de Afetos: práticas de re-existências 
poéticas na cidade de Fortaleza (CE). 
Dissertação (Mestrado em Sociologia) - 
Programa de Pós-Graduação em Sociologia, 
Universidade Estadual do Ceará. 2019. 
212 f. Disponível em: http://www.uece.br/
ppgsociologia/index.php/arquivos/doc_
view/847-?tmpl=component&format=raw 
[acesso em: 19/04/2020]
CURSO literatura cearense 191
mances que não mais publicam ou que não 
residem no Ceará há muito tempo. Atualmen-
te, a maioria dos romances que nos chegam 
são escritos por mulheres. Aliás, no Ceará, não 
apenas no romance, a literatura de autoria 
feminina é a mais celebrada, tendo represen-
tações, engajamentos e ampla participação 
nos veículos e redes de comunicação. 
Na poesia, então, temos poetas para to-
dos os gostos: dos mais clássicos aos experi-
mentalistas; dos profusos aos minimalistas 
etc. Como os demais, estão nas ruas (como 
vimos neste módulo), nos muros, nas redes 
sociais, nos blogs, nas páginas impressas e/
ou digitais dos jornais e mesmo em publi-
cações, geralmente independentes – as edi-
toras formais cada vez menos investem em 
poesia. Reúnem-se em coletivos, em mesas 
de bar ou em restaurantes de clubes (ou em 
ambos), e publicam em conjunto, fazem 
uma zoada danada e acabam chegando aos 
ouvidos e aos olhos de seus leitores.
Fica a dica: “Toda bibliografia deve re-
fletir uma intenção fundamental de quem a 
elabora: a de atender ou a de despertar o de-
sejo de aprofundar conhecimentos naqueles 
ou naquelas a quem é proposta. Se falta, 
nos que a recebem, o ânimo de usá-la, ou 
se a bibliografia, em si mesma, não é capaz 
de desafiá-los, se frustra, então, a intenção 
fundamental referida. A bibliografia se torna 
um papel inútil, entre outros, perdido nas ga-
vetas das escrivaninhas.” (FREIRE, 1981)
Aqui, a nossa gratidão a todos aqueles 
que nos deixaram como legado a sua pes-
quisa, que resultou nesse curso. Não fos-
sem eles, diríamos hoje que nunca existiu 
produção literária no estado, assim como 
dizem que por aqui não havia negros, 
nem índios, nem chuvas... 
Sânzio de Azevedo, um desses mestres, 
ao fechar das luzes de sua Literatura Cearense 
(1976), nos conta que o escritor Valentim Ma-
galhães, em 1895, no A Notícia (RJ), por tanto 
que recebia livros originários do Ceará, escre-
veu: “O Ceará não para, o Ceará não cansa.” 
Cremos que 125 anos depois, o Ceará ainda 
não parou e jamais cansará, contribuindo a 
seu modo, a seu jeito, na composição des-
se imenso mosaico polifônico denominado 
Literatura Brasileira. E nessa direção, luta 
aguerridamente, como dizia o jornalista e po-
eta Demócrito Rocha: “resistindo e morren-
do... morrendo e [sempre] resistindo.”
11.
SAINDO DE CENA
oderíamos agora encerrar o 
nosso estudo sobre a Lite-
ratura Cearense, mas seria 
um absurdo: pois agora é 
que nós começaremos! O 
que vocês viram até aqui foi 
só um arrazoado provoca-
tivo do muito que temos a 
aprofundar-nos, a conhecer 
e a compartilhar. O curso básico, este sim, 
se encerra agora, com a esperança de ter 
contaminado (numa “pandemia do bem”) 
o gosto pelo ainda muito ignorado univer-
so literário cearense, por suas obras e por 
seus autores. Entendendo por Literatura 
Cearense essa forma particular como e por 
meio de quem a Literatura Brasileira se ma-
nifestou e se manifesta no Ceará.
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR)
João Dummar Neto Presidente
André Avelino de Azevedo Diretor Administrativo-Financeiro
Marcos Tardin Gerente Geral
Raymundo Netto Gerente Editorial e de Projetos
Aurelino Freitas, Emanuela Fernandes 
e Fabrícia Góis Analistas de Projetos
UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE)
Viviane Pereira Gerente Pedagógica
Marisa Ferreira Coordenadora de Cursos
Joel Bruno Designer Educacional
CURSO LITERATURA CEARENSE
Raymundo Netto Coordenador Geral, 
Editorial e Estabelecimento de Texto
Lílian Martins Coordenadora de Conteúdo
Emanuela Fernandes Assistente Editorial
Amaurício Cortez Editor de Design e Projeto Gráfico
Miqueias Mesquita Diagramador
Carlus Campos Ilustrador
Luísa Duavy Produtora
ISBN: 978-65-86094-22-0 (Coleção)
ISBN: 978-65-86094-25-1 (Fascículo 12)
Este curso é parte integrante do programa 
Circuito de Artes e Juventudes 2019, Pronac nº 190198, 
processo nº 01400.000464/2019-94, em parceria com a 
Secretaria Especial da Cultura do Ministério da Cidadania.
Todos os direitos desta edição reservados à:
Fundação Demócrito Rocha
Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora 
CEP: 60.055-402 - Fortaleza-Ceará 
Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148
fdr.org.br 
fundacao@fdr.org.br
Realização
Apoio
Patrocínio
AUTOR
Vanessa Passos
É escritora, professora de escrita criativa, consultora 
literária, pesquisadora, produtora cultural e mediadora 
de leitura. Doutoranda em Literatura Comparada pela 
Universidade Federal do Ceará (UFC). Idealizadora do 
Clube de Leitura de Escrita Literária (Clel). Atualmente, 
dedica-se ao Pintura das Palavras, projeto literário 
on-line e presencial, no qual é fundadora e ministraoficinas de Escrita Criativa.
Nina Rizzi
É historiadora, pela Universidade Estadual de São Paulo 
(Unesp), mestre em Literatura comparada (UFC), poeta, 
tradutora, pesquisadora, professora e editora. Promove 
o “Escreva como uma mulher”: laboratório de escrita 
criativa com mulheres. Integra a coletiva “Pretarau”: sarau 
das pretas e é uma das articuladoras do Sarau da B1.
Raymundo Netto
Jornalista, escritor, editor e produtor cultural. 
Autor de obras literárias em diversos gêneros. 
É militante da literatura cearense e desde 2009 
mantém o blog AlmanaCULTURA.
ILUSTRADOR
Carlus Campos 
Artista gráfico, pintor e gravador, começou 
a carreira em 1987 como ilustrador no jornal O POVO. 
Na construção do seu trabalho, aborda várias técnicas 
como: xilogravura, pintura, infogravura, aquarelas e 
desenho. Ilustrou revistas nacionais importantes como 
a Caros Amigos e a Bravo. Dentro da produção gráfica 
ganhou prêmios em salões de Recife, São Paulo, Rio de 
Janeiro e Rio Grande do Sul.

Continue navegando