Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 FICHAMENTO DE ESBOÇO REFERÊNCIA ORTEGA Y GASSET, José. A missão do bibliotecário. São Paulo: SIMBESP, 1985. P.56 (edição reservada). Pág § Transcrição 1 1 “No entanto, na circunstância presente, a melhor forma de hospitalidade me parece ser aquela em que, ao chegar um forasteiro à minha casa, eu a deixe e me torne um pouco forasteiro”. 2 2 “Até a palavra ‘missão’, por si só, me assusta um pouco, se me vejo obrigado a empregá-la com toda a força de seu significado”. 3 2 “Missão significa, antes de tudo, aquilo que um homem deve fazer em sua vida. Pelo visto, a missão é algo exclusivo do homem. Sem homem não há missão”. 4 1 “Há algo mais elegante? O homem se vê convidado a dar sua anuência ao que é necessário”. 5 1 “De modo que cada um de nossos atos exige que o façamos brotar da antecipação total de nosso destino e o derivemos de um programa geral para nossa existência”. 6 2 “Há no homem, pelo visto, a ineludível impressão de que sua vida, portanto, seu ser, é algo que deve ser escolhido”. 6 2 “Este chamado que ouvimos rumo a um tipo de vida, esta voz ou grito imperativo que se eleva de nosso íntimo mais radical, é a vocação”. 7 1 “na vocação é proposto ao homem, não imposto, o que ele deve fazer”. 7 1 “Missão é isto: a consciência que cada homem tem de seu mais autêntico ser, daquilo que está chamado a realizar”. 7 2 “Não nos damos à vida, mas é ela que nos é dada”. 8 1 “Sim, a vida dá muito trabalho, e, o maior de todos, acertar fazer o que é preciso fazer”. 9 2 “Disse que o modo de vida e o tipo de ocupação humana que é ser bibliotecário preexistiam a cada um de vós, e que vos bastava olhar em volta para encontra-los presente na existência de muitos homens e mulheres”. 10 1 “Mas se houvésseis nascido naquele tempo, por mais que olhásseis ao vosso redor não teríeis reconhecido no trabalho desse homem aquilo que denominamos ser bibliotecário, mas na sua conduta vos teria parecido o que, com efeito, era: uma peculiaridade individual, um comportamento personalíssimo, uma inclinação intransferível inerente àquele homem, como o timbre de sua voz ou a harmonia de seus gestos”. 11 1 “As carreiras ou profissões são tipos de atividade humana de que, pelo visto, a sociedade necessita. Um deles, a cerca de dois séculos, é o do bibliotecário”. 12 2 “Originalmente – e não há dúvida a respeito – isso que hoje constitui uma profissão ou ofício foi inspiração genial e criadora de um homem que sentiu a UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO DISCIPLINA: FUNDAMENTOS DA BIBLIOTECONOMIA PROFESSORA: SUZANA QUEIROGA DA COSTA ALUNO: ERALDO ISÍDIO PEREIRA JÚNIOR 2 necessidade radical de dedicar sua vida a uma ocupação até então desconhecida, que inventou algo novo a fazer”. 13/14 1 “Terá de renunciar, então, a boa parte de sua liberdade e se verá obrigado a desindividualizar-se, a não decidir suas ações exclusivamente do ponto de vista de sua pessoa, mas do ponto de vista coletivo, sob a pena de ser um mau profissional e sofrer as consequências graves com que a sociedade, que é crudelíssima, pune os que a servem mal”. 15 1 “Officium é fazer sem vacilar, sem demora, o que urge, a tarefa que se apresenta como inescusável”. 16 “Tudo isso nos mostra que, para determinar a missão do bibliotecário, é preciso partir não do homem a exerce, de seus gostos, curiosidades ou conveniências, tampouco de um ideal abstrato que pretendesse definir de uma vez por todas o que é uma biblioteca, mas da necessidade social a que serve a vossa profissão”. 17 1 “Quando tomamos em sua realidade algo, seja o que for, mesmo o mais diminuto e subalterno, isso nos põe em contato com todas as outras realidades, situa-nos no centro do mundo e nos desvela em todas as direções as perspectivas ilimitadas e emocionantes do universo”. 18 1 “Ser guardião de livros não era algo especial. Somente no alvorecer do renascimento é que começa a delinear-se na área pública, a diferenciar-se dos outros tipos genéricos de vida, a figura do bibliotecário”. 19 1 “O desejo pelo livro e a esperança no livro não estavam presentes numa ou noutra vida individual, mas possuíam caráter anônimo e impessoal próprio de toda vigência coletiva”. 20 “Neste sentido, digo que até o Renascimento a necessidade do livro não foi vigência social.”. 21 “Não parece um mero acaso que, precisamente nessa época em que é sentida, tão vivamente, a necessidade de que haja mais livros, aconteça o nascimento da imprensa”. 22 2 “Vossa profissão, como ofício do estado, não é, pois, nada antiga, a este detalhe da idade de vossa profissão é de enorme importância, porque a história e tudo que é histórico, quer dizer, o humano, é tempo vivente, e o tempo vivente é sempre idade. Portanto, tudo que é humano está sempre ou em sua infância ou em juventude, em sua madureza ou em sua velhice”. 23 1 “O incidente mais importante – certamente pensareis comigo – que pode acontecer a uma profissão é passar de ocupação espontaneamente fomentada pela sociedade a burocracia do Estado”. 24 2 “A sociedade democrática é filha do livro, é o triunfo escrito pelo homem escritor sobre o livro revelado por Deus e sobre o livro das leis ditadas pela autocracia”. 25 2 “È preciso, pois, agarrar-se a ele como a uma tabua de salvação. O livro torna-se socialmente imprescindível”. 26/27 2 “viu perfeitamente o que era preciso fazer – relede Sanit-Simom, Auguste comte, Tocqueville, Macaulay -, e tentou fazê-lo. No entanto é esforçoso reconhecer que primeiro com tibieza e depois com frivolidade”. 28 “È preciso que a memoria se esforce por conserva-la. Mas a memoria não é se quer capaz de conservar todas as nossas próprias ideias, e é muito importante que possamos conservar as de outros homens”. 29 1 “Em face de qualquer problema, o homem não se encontra sozinho com sua reação pessoal, com o que lhe ocorre voluntariamente, mas com todas ou muitas das reações, ideias e invenções de seus antepassados”. 30 “Eis por que nossas sociedades sentiram o livro como necessidade: a necessidade de uma facilidade, de um instrumento benéfico”. 31 “Pois bem, senhores, este caso não é hipotético. Tudo o que o homem inventa 3 e cria para facilitar-lhe a vida, tudo o que chamamos de civilização e cultura, chega a um ponto que se rebela contra ele”. 32 2 “As ciências, ao crescer espetacularmente, multiplicar-se e se especializar, ultrapassam as capacidades de aquisição que o homem possui e o afligem e oprimem como praga da natureza. O homem corre risco de converter-se a escravo de suas ciências”. 33 1 “O homem, ao invés de estudar para viver, terá que viver para estudar”. 33 2 “O homem não pode ser demasiadamente rico: se um excesso de capacidades e possibilidades se oferece à sua escolha, naufraga nelas e, confundido pelas possibilidades, perde o sentido do necessário”. 34 “Mas não tenhamos ilusões: um exagero é sempre o exagero de algo que não o é”. 35 1 “Pode-se dizer que uma necessidade humana deixa de ser puramente positiva e começa a carregar-se de negatividade no momento em que começa a parecer imprescindível”. 36 3 “Se a vida é trabalho, quer dizer que cada idade dela se diferencia pelo estilo predominante na atividade do homem”. 37 “O jovem somente embarca com entusiasmo naquelas ocupações que se lhe apresentam com o aspecto de revogáveis, isto é, que não são compulsórias, que poderiam perfeitamente a ser substituídas por outras, nem mais nem menos oportunas e recomendáveis”. 38 1 “È inútil tentar negar: o jovem é por essência pouco leal consigo mesmo e se esquiva de sua missão”. 39 2 “Se transferirmos esta diferença entre as idades da vida pessoal para a ‘vida’ coletiva e as profissões, descobriremos como vossa profissão chega ao momento de ter que se haver com o livro na condição de conflito”. 40 2 “Secada nova geração continuar acumulando papel impresso na mesma proporção em que fizeram as últimas gerações, o problema que o excesso de livro causará será aterrador”. 41 1 “Sob a superfície de nosso tempo está germinando, sem que os indivíduos o percebam, um novo e radical imperativo da inteligência: o imperativo da consciência histórica”. 42 2 “Essa enorme tarefa jamais poderá ser concretizada, a não ser que o bibliotecário trate de reduzir sua dificuldade, na medida que seja de sua competência, liberando de esforços inúteis a pessoas cuja triste missão é e deve ser ler muitos livros, tanto quanto for possível: o naturalista, o médico, o filosofo, o historiador”. 43 1 “È, preciso, pois, criar uma nova técnica bibliográfica de um automatismo rigoroso. Nela alcançará sua potência máxima o que o vosso ofício iniciou há séculos com a figura da catalogação”. 43 2 “O excesso e a escassez de livros têm a mesma origem: a produção se faz sem governo, abandonada quase totalmente à espontaneidade do acaso”. 43/44 3 “Será demasiadamente utópico imaginar que em futuro não longínquo que vossa profissão será incumbida pela sociedade de regular a produção de livros, a fim de evitar que se publiquem os que forem desnecessários, e que, em compensação, não faltem aqueles que são exigidos pelo conjunto de problemas vivos de cada época?”. 45 2 “Hoje em dia, lê-se demais: a comodidade de poder receber com pouco ou nenhum esforço inumeráveis ideias armazenadas nos livros e periódicos vai habituando o homem, já acostumou o homem, a não pensar por sua conta e a não repensar o que lê, única maneira de se apropriar verdadeiramente do que leu”. 46 2 “Em suma, senhores, em minha opinião, a missão do bibliotecário deverá ser, não como até hoje, a mera administração da coisa chamada livro, mas o 4 ajustamento, a mise au point da função vital que é o livro”. 47 2 “Em muitas esferas intelectuais isso acontece sem parar: que infinitas vezes damos como ‘certo sabido’ o que essencial, o substantivo”. 48 3 “Os livros são ‘dizeres escritos’ - ּג ớּגọὑکớ-µµµىعαέớ ,275c- e dizer, é claro, constitui apenas uma das coisas que o homem faz”. 49 1 “O próprio pensar e o próprio querer, como estritas funções psíquicas, são atividades, mas não são ‘fazer’. Quando mobilizamos para algo o por algo nossa atividade de pensar ou a atividade de nossos músculos, então ‘fazemos’ propriamente algo”. 50 1 “O poeta faz o soneto, que é um dizer, precisamente por fazê-lo, para que o soneto exista, para seu poético dizer seja”. 51 2 “O livro é, pois, o dizer exemplar que, por isso mesmo, traz em si essencialmente o requisito de ser escrito, fixado, pois, ao ser escrito, fixado, é como é como se virtualmente uma voz anônima o estivesse dizendo sempre, assim como os ‘moinhos de orações’ no Tibete, incumbem ao vento orar perpetuamente”. 52 2 “O dizer, como tudo que vive, é fungível. Nele, nascer já começa a morrer. O dizer é tempo e o tempo é grande suicida”. 53 2 “O livro, ao objetivar a memória, materializando-a, torna-a, em princípio, ilimitada e coloca os dizeres dos séculos à disposição de todo mundo”. 54 1 “Tudo que o homem faz o faz em vista das circunstâncias. Principalmente quando o que faz é dizer. O dizer sempre brota de uma situação e se refere a ela. Mas, por isso mesmo, ele não diz essa situação: deixa a tática, pressuposta. O que significa que todo dizer é incompleto, é fragmento de si mesmo e tem , no palco da vida, onde nasce, a maior parte do seu próprio sentido”. 55 2 “A escrita, pois, ao fixar um dizer, somente pode conservar as palavras, mas não as intuições vivas que integram seu sentido. A situação vital onde brotam se volatiliza inexoravelmente; o tempo, em seu galope incessante, leva-a na garupa. O livro, pois, ao conservar apenas as palavras, conserva somente as cinzas do pensamento efetivo”. 56 2 “Quando não se faz isso, quando se lê muito e se pensa pouco, o livro é instrumento terrivelmente eficaz para a falsificação da vida humana: ‘confiando os homens por escrito, acreditarão compreender as ideias, e assim tomam por sua aparência, graças a indícios exteriores, e não a partir de dentro por si mesmos’”. Resumo O autor descreve a complexa a missão do bibliotecário comparando-a com a do ser humano, pois a cada instante trilhamos um caminho, seja ele para o nosso beneficio como para nos fazer mal, sendo essa missão uma vocação a ser cumprida por ambos com toda a autenticidade de seu ser já que não lhe imposto nada, mas proposto. Fonte: Biblioteca setorial departamento de ciência da informação
Compartilhar