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GESTÃO EDUCACIONAL Joelma Guimarães Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 G963g Guimarães, Joelma. Gestão educacional / Joelma Guimarães. – Porto Alegre: SAGAH, 2017. 98 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-060-3 1. Gestão educacional. 2. Administração escolar. I. Título. CDU 37.014.5 As concepções de organização e gestão escolar Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer que a organização e a gestão escolar se de� nem a partir das concepções que as constituem. Diferenciar os sistemas racionais, naturais e abertos que constituem a organização e a gestão escolar. Identi� car a escola como uma organização social que prima pela aprendizagem dos alunos. Introdução Você sabia que a organização e a gestão escolar assumem diferentes configurações devido às concepções que adotam? As concepções são definidas por questões estruturais, políticas e sociais que se articulam, que podem ser de ordem racional, natural ou aberta. Neste capítulo, você vai conhecer como podem ser definidas a orga- nização e a gestão de uma instituição escolar. A organização e a gestão escolar estabelecidas pelos sistemas A escola é uma instituição organizada por meio dos sujeitos que a constituem. Ou seja, é composta por uma equipe diretiva, professores, funcionários, fa- mílias e alunos. Para compreender melhor essa instituição, vamos começar com o estudo sobre as concepções de organização e gestão escolar, compreendendo como estas se definem a partir do cenário social, político e cultural ao qual pertencem. Sendo a escola um espaço formal de educação, ela tem o compromisso com o ensino e com a aprendizagem dos alunos, o que se dá por meio das práticas pedagógicas e curriculares. Assim, para que a escola consiga cumprir com seu compromisso, há a necessidade de que elas sejam administradas, ou seja, geridas de acordo com seus objetivos sociais, políticos e culturais. Desta forma, encontramos posições bem diferentes (divergentes até) entre as concepções que guiam a prática da gestão de uma escola. É fundamental refletir sobre a seguinte questão: Para qual tipo de sociedade a escola está educando e ensinando seus alunos? Diante desse questionamento, vamos iniciar com o estudo sobre as três concepções, que, definidas a partir de sistemas, nos permitem compreender os tipos de organização e de gestão escolar existentes. Antes, porém, vamos saber o que são sistemas. Gestão educacional 12 Um sistema é definido como um conjunto de partes integrantes, interdependentes e interativas que formam um todo unitário com objetivo próprio e específico. Tem seu produto final e busca constantemente a adequação de seus processos por meio de ações de melhoria (COLOMBO, 2004). Os sistemas racionais, naturais e abertos Agora que você já viu o conceito de sistema, você está preparado para estudar os três tipos, cada um com suas características: o sistema racional (científi co), o sistema natural (relações humanas) e o sistema aberto (ciências sociais). Sistema racional (gestão científica) Este sistema entende a organização a partir de instrumentos formais, que são projetados para alcançar objetivos organizacionais, tendo a estrutura como sua característica primordial. Os autores que trabalham com o conceito de sistema racional são Frederick Taylor (1856-1915), Jules Henri Fayol (1841-1925), Luther Gulick (1892-1993), Lyndall Urwick (1891-1983) e Max Weber (1864-1920). Apoiado pela racionalidade, esse sistema adota um conjunto de ações para atingir metas pré-determinadas a partir de um tempo programado e com a máxima eficiência. Fundamenta-se também nas ideias do norte-americano Frederick Taylor (taylorismo), o pai da gestão científica, que buscou usar as pessoas com eficácia nas organizações industriais. Taylor compreendia que os indivíduos poderiam ser programados como máquinas para alcançar a sua máxima eficiência. Veja a seguir alguns princípios básicos da gestão científica com base em um sistema de organização racional (HOY; MISKEL; TARTER 2015): 13As concepções de organização e gestão escolar As organizações existem principalmente para realizar seus objetivos. A divisão do trabalho conduz à especialização. A especialização promete a competência, ou expertise. A padronização das tarefas produz a eficiência. A hierarquia promove conformidade disciplinada. Uma estreita abrangência de controle melhora e supervisão. O controle administrativo é essencial para a eficiência. A racionalidade na tomada de decisão promove a eficiência. A organização formal pode ser projetada para maximizar a eficiência. Veja na ilustração a seguir alguns dos princípios descritos anteriormente quando o operário passa a sua vida inteira de trabalho (re)produzindo a mesma tarefa de forma repetitiva, sem ter noção de todo o processo. Figura 1. Fonte: Administração para Administradores (2012). Não podemos considerar como modismo as ideias de Taylor, cunhadas no final do século XIX, em relação ao tempo, à ordem, à produtividade e à eficácia, pois essas se traduzem ainda hoje em nosso fascínio por organizadores eletrônicos, smartphones, correio de voz, correio eletrônico, torpedos e tablets, tudo para nos manter produtivos e eficientes. Sendo assim, o taylorismo pode estar intelectualmente fora de moda, mas poucos negam seu impacto duradouro na sociedade norte-americana (e, por que não, mundial). Para o bem ou para o mal, o taylorismo perdura. Gestão educacional 14 Sistema natural (relações humanas) Este tipo de sistema contrasta com o racional, pois fornece outra visão da organização. Os autores que trabalham com a perspectiva do sistema natural são Mary Follett (1868-1933), Elton Mayo (1880-1949), Fritz Roethlisberger (1898-1974) e Douglas McGregor (1906-1964). A perspectiva de sistemas naturais encara as organizações como mais semelhantes a organismos do que a máquinas. Ou seja, a abordagem de relações humanas suavizou o foco dos gestores científicos na estrutura organizacional com uma ênfase na motivação e na satisfação dos funcionários e na moral do grupo. Porém, tanto a abordagem da gestão científica quanto a das relações hu- manas desconsideram o ambiente externo, ou seja, tratam as organizações como sistemas fechados. Veja a seguir alguns princípios básicos da gestão científica com base em um sistema de organização natural (HOY; MISKEL; TARTER, 2015): As organizações são primordialmente grupos sociais tentando se adaptar e sobreviver. As necessidades individuais são os motivadores principais do desem- penho organizacional. Os indivíduos são mais importantes do que a estrutura para atingir a eficácia. Os indivíduos organizam-se informalmente com base em seus interesses. Normas e procedimentos não oficiais muitas vezes são mais importantes do que os formais. A tomada de decisão compartilhada promove a eficácia. Uma ampla abrangência de controle aumenta a eficácia e a autonomia do professor. A cultura organizacional faz a mediação dos efeitos da estrutura. O trabalho em equipe é a chave para o sucesso organizacional. As estruturas informais são mais importantes do que as formais. 15As concepções de organização e gestão escolar Sistemas abertos (ciências sociais) Este sistema apresenta como característica principal uma organização que não só é infl uenciada pelo ambiente, mas também é dependente dele. Nesse sentido, as escolas são sistemas sociais que retiram do ambiente recursos, como mão de obra, alunos e dinheiro, e submetem essas entradas a um processo de transformação educacional para produzir alunos e graduados letrados e instruídos. Os autores que trabalham com o conceito de sistema aberto são Max Weber (1864-1920), Chester Barnard (1886-1961), Saint Simon (1760-1825), Talcott Parsons (1902-1979), Karl Weick (1936-), Daniel Katz (1903-1998) e Robert Kahn (1908-).Como a abordagem de sistemas racionais (particularmente os gestores científicos) ignorava o impacto das necessidades individuais e das relações sociais, e como os sistemas naturais (especialmente os defensores de relações humanas) não levavam em conta a estrutura formal, essas duas perspectivas de sistemas acabam sendo limitadas e incompletas. Certamente que os aspectos formais e informais, bem como a estrutura e as pessoas, são cruciais para entender as organizações. Os sistemas abertos escolares estão preocupados igualmente com a estrutura e com o processo. Esse sistema é dinâmico: com estabilidade e ao mesmo tempo flexibilidade, com relações estruturais firmes e também frouxas. A organização não é um arranjo estático de relações e cargos. Para sobreviver, a organização deve se adaptar e, para se adaptar, ela precisa mudar. Assim, a interdependência da organização com o ambiente é fundamental. Veja a seguir alguns princípios básicos de um sistema de organização aberto (HOYK & MISKEL, 2015): Todas as organizações são sistemas abertos que interagem com seu ambiente. O comportamento organizacional depende da interação da estrutura organizacional com as necessidades individuais. Todas as organizações têm características racionais e naturais. As organizações precisam tanto de vinculações frouxas quanto firmes para ter sucesso. A política permeia a vida organizacional. As organizações têm duas faces interativas: uma formal e outra informal. Não há melhor maneira de organizar, motivar, decidir, liderar, ou se comunicar: a eficácia desses processos depende de uma série de contingências. Gestão educacional 16 A escola, o ensino e a aprendizagem Podemos pensar na escola como um conjunto de elementos – individuais, estruturais, culturais e políticos. No entanto, o comportamento nas organizações não depende apenas dos seus elementos e de suas forças ambientais, mas também da interação dos elementos. Assim, o comportamento organizacional é o resultado da relação dinâmica entre seus elementos. Mais especificamente, o comportamento é uma função da interação de estrutura, indivíduo, cultura e política, interação essa limitada pelas forças ambientais. As escolas são organizações de serviço comprometidas com o ensino e a aprendiza- gem. A qualidade do ensino e da aprendizagem está no cerne da melhoria da escola, e a mudança real e duradoura só pode vir daquilo que os professores e a equipe de apoio fazem consistentemente nas salas de aula e em outras áreas de aprendizagem da escola (BRIGHOUSE; WOODS, 2010). Em última análise, o objetivo da escola é a aprendizagem do aluno. Na verdade, sua própria existência baseia-se nessa atividade. As escolas, mais do que qualquer outro tipo de organização, devem ser organizações de aprendizagem, ou seja, locais onde os participantes continuamente expandam suas capacidades de criar e realizar, onde novos padrões de pensamento sejam incentivados, onde aspirações coletivas sejam acalentadas, onde os participantes aprendam a como aprender juntos, e onde a organização amplie sua capacidade de inovação e de resolução de problemas. Acesse o link: <https://goo.gl/2NoMi8> e assista ao vídeo que apresenta uma impor- tante reflexão sobre a organização e a gestão escolar. Contextualize com os estudos realizados na disciplina e/ou com a sua prática pedagógica. 17As concepções de organização e gestão escolar 1. A concepção da organização e da gestão escolar são definidas por dimensões básicas. Quais são elas? a) Apenas as dimensões culturais e sociais definem a concepção de organização e gestão da escola. b) As dimensões sociais, políticas e culturais definem a concepção da organização, mas não têm relação com a gestão escolar. c) As dimensões administrativas e gerenciais definem a concepção de organização e gestão da escola. d) A organização e a gestão da escola acontecem aleatoriamente, sem a necessidade de concepções que a definem. e) As dimensões básicas que definem a concepção de organização e gestão escolar são aquelas que dizem respeito às questões sociais, políticas e culturais. 2. “A racionalidade na tomada de decisão promove a eficiência”: este é um princípio básico do: a) Sistema natural b) Sistema racional c) Sistema aberto d) Sistema natural e racional e) Sistema natural e aberto 3. Quem é considerado o pai da gestão científica? a) Sigmund Freud b) Jean Piaget c) Lev Vygotsky d) Frederick Taylor e) Jerome Bruner 4. Complete a lacuna: _________________, um dos precursores dos sistemas abertos (ciências sociais), é também conhecido como um dos principais pensadores para a construção da sociologia. a) Émile Durkheim b) Rudolf Steiner c) Paulo Freire d) Henri Wallon e) Max Weber 5. Qual é o principal objetivo da escola? a) Transmitir conteúdos b) Apenas educar os alunos c) A aprendizagem d) Continuar a educação da família. e) Ensinar os alunos que estão dispostos a aprender. Gestão educacional 18 ADMINISTRAÇÃO PARA ADMINISTRADORES. Site. [S.l.]: Administração para Administra- dores, 2012. Disponível em: <https://administer33.files.wordpress.com/ 2012/05/80_ hist_fig_01_ opt1.jpeg>. Acesso em: 28 fev. 2017. BRIGHOUSE, T.; WOOD, D. Como fazer uma boa escola? Porto Alegre: Artmed, 2010. COLOMBO, S. S. (Org.). Gestão educacional: uma nova visão. Porto Alegre: Artmed, 2004. HOY, W. K.; MISKEL, C. G.; TARTER, C. J. Administração educacional: teoria, pesquisa e prática. 9. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. Leituras recomendadas LIBÂNEO, J. C. O sistema de organização e gestão da escola. In: LIBÂNEO, J. C. Organi- zação e gestão da escola: teoria e prática. 4. ed. Goiânia: Alternativa, 2001. PITAGORAS. A gestão da escola. Porto Alegre: Artmed, 2003. (Coleção Escola em Ação, v. 4). THURLER, M. G.; MAULINI, O. A organização do trabalho escolar: uma oportunidade para repensar a escola. Porto Alegre: Penso, 2012. 19As concepções de organização e gestão escolar Conteúdo:
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