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QUESTIONÁRIO DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

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QUESTIONÁRIO DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES
Casamento e união estável:
1. Para Pontes de Miranda, quais as três feições assumidas pelo casamento? Explique.
A biológica, a psicológico-social e a jurídica: segundo o autor, “Fato natural, não se discute a sua natureza de contatuação sexual, a sua função de lei universal, cuja finalidade é a perpetuação da espécie: duo in carne una. Fato religioso, social, solene, conserva a unção da sua gravidade, embora se tornasse secular. Fato jurídico, sujeita-se às regras gerais de direito e toma a feição de acordo através dos tempos.”
2. Em relação ao casamento, em que inovou a Constituição Federal de 1988? Explique.
Reduziu-se o prazo para a conversão da separação em divórcio para um ano – após a EC n.º 66/2010 retirou os referidos prazos, e admitiu o divórcio direto no caso de separação de fato por mais de dois anos. Além disso, igualou os deveres da sociedade conjugal entre o homem e a mulher, e reconheceu como entidade familiar a união estável entre homem e mulher e a comunidade formada por qualquer dos pais com seus descendentes.
3. Comente as mudanças trazidas pela Emenda Constitucional n.º 66 de 2010 e o motivo das discussões doutrinárias e jurisprudenciais que dela decorreram.
Em 2010, a Emenda Constitucional n.º 66, a chamada Emenda do Divórcio, modificou o §6º do art. 226 da CF/88 colocando fim à necessidade de separação de fato por qualquer prazo. A alteração constitucional não revogou expressamente o texto do Código Civil de 2002 ou do Código de Processo Civil de 1973, o que gerou discussão relativa à continuidade de existência da separação no Direito brasileiro. A maioria absoluta da doutrina e da jurisprudência defende que o instituto foi totalmente retirado do ordenamento jurídico brasileiro. Dessa forma, o Código de Processo Civil de 2015 recebeu críticas por ter em seu conteúdo regulamentações do instituto da separação.
4. Explique a teoria que determina a natureza jurídica do casamento como mista.
Reconhece no casamento características contratuais e institucionais. A autonomia das partes se resume à liberdade de escolher o parceiro, o regime de bens e a permanência ou não da relação familiar. No entanto, seus efeitos pessoais como alteração do estado civil, surgimento dos vínculos de parentesco, alteração do nome, dever de fidelidade, coabitação, entre outros, retiram do casamento sua essência de contrato. Assim, sustenta-se que o casamento é um contrato na sua formação e uma instituição no seu curso, mostrando sua feição eclética.
5. O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo julgou uma apelação versando sobre responsabilidade civil por dano moral. Leia um trecho desse julgamento abaixo:
[...] o dano moral é, primordialmente ainda que não exclusivamente aquele que redunda em séria lesão a direito da personalidade. No caso, com as agressões se viola o direito à integridade física e, com as ofensas verbais, macula-se gravemente a honra da autora. Pior ainda se praticadas por aquele com quem convivia em união íntima. [...] Daí que o tratamento hostil implica séria lesão aos direitos em questão.
Explique qual o fundamento que enseja o suporte para o pedido de dano moral e sua ligação com a finalidade do casamento.
A violação da integridade física ou psicológica do outro gera o direito de ação com pedido de reparação pelo dano moral resultante (artigos 5º, incisos V e X, da CF; artigos 186 e 927, do CC).
O relator do julgado em questão explica: “Com efeito, ao se estabelecer uma comunhão plena de vida, era de se esperar um tratamento respeitoso, que se traduzisse em cuidado e carinho para com a companheira.1”.
Conforme Pietro Perlingieri:
O sangue e os afetos são razões autônomas de justificação para o momento constitutivo da família, mas o perfil consensual e a affectio constante e espontânea exercem cada vez mais o papel de denominador comum de qualquer núcleo familiar. O merecimento de tutela da família não diz respeito exclusivamente às relações de sangue, mas, sobretudo, àquelas afetivas que se traduzem em uma comunhão espiritual e de vida. Para tornar possível a participação também aos menores que não tenham tido ou tenham perdido a possibilidade de uma estável comunhão de afetos, o ordenamento prevê a constituição, com a mesma dignidade em relação à família iuris sanguinis, de uma formação social onde convivem pessoas ligadas por relações conjugais e/ou de filiação, origine-se esta última da geração no casamento, daquela natura, da legitimação, das adoções. Se o dado unificador é a comunhão espiritual e de vida, deve ser evidenciado como ela se manifesta em uma pluralidade de articulações, em relação aos ambientes e ao diverso grau sócio-cultural: da família nuclear sem filhos à grande família. Cada forma familiar tem uma própria relevância jurídica, dentro da comum função de serviço ao desenvolvimento da pessoa; não se pode portanto afirmar uma abstrata superioridade do modelo de família nuclear em relação às outras. 2.
Daí se retira que a affectio e, em consequência, a assistência mútua física, psicológica e espiritual são condições para se alcançar a comunhão plena de vida, de modo a atingir o escopo do atual modelo de família, a eudemonista.
6. O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo julgou apelação sobre dissolução do vínculo conjugal. Leia um trecho desse julgamento: Ao que consta dos autos o casal depois da separação judicial continuou a residir na mesma casa até a data que se deu a conversão da separação judicial em divórcio, no entanto, não há provas de que houve recomposição da vida familiar. O apelado aceitou que a ora apelante permanecesse residindo na mesma casa que antes servia de residência ao casal por questão econômica e para não prejudicar os filhos. Houve um acordo entre as partes que a autora poderia ali permanecer até a data da venda do imóvel e partilhado o valor obtido com a venda. De acordo com o estudado, verifica-se no excerto acima a moradia conjunta, a criação e a educação dos filhos. O casal em questão cumpre os fins do casamento? Explique.
O casal não cumpre a finalidade do casamento, pois, conforme ministro relator do acórdão do STJ, Ainda que a coabitação seja dado relevante para se determinar a intenção de construir uma família, não se trata de requisito essencial, devendo a analise levar em consideração um conjunto de fatores como a affectio maritalis a participação de esforços, a posse do estado de casado, a fidelidade, a continuidade da união, dentre outros1. Atualmente, a finalidade do casamento é a comunhão plena de vida. Saliente-se que esta é imprescindível ao reconhecimento jurídico daquele, e tem origem na vontade de se constituir uma família, a eudemonista, na qual o afeto e o respeito, próprios e aos outros, são sua base, e o desenvolvimento e felicidade de seus membros, seu escopo.
7. O STF, em célebre acórdão de 5 de maio de 2011 na ADI 4277, reconheceu a possibilidade de união estável entre pessoas do mesmo sexo, dando ensejo à conversão destas uniões estáveis em casamento. Nesta direção, é o acórdão do STJ cujo trecho abaixo se reproduz: In casu, duas mulheres alegavam que mantinham relacionamento estável há três anos e requereram habilitação para o casamento junto a dois cartórios de registro civil, mas o pedido foi negado pelos respectivos titulares. Posteriormente ajuizaram pleito de habilitação para o casamento perante a vara de registros públicos e de ações especiais sob o argumento de que não haveria, no ordenamento jurídico pátrio, óbice para o casamento de pessoas do mesmo sexo. Foi-lhes negado o pedido nas instâncias ordinárias. No lugar do ministro relator, quais os fundamentos para deferir o pedido das autoras?
A diferença de gênero foi outrora uma característica do casamento, mais além, foi uma de suas condições de existência. Hoje não mais encontra suporte tanto na doutrina como na jurisprudência. Baseando-se nos direitos à igualdade – e com este, a permissão e o reconhecimento da diferença –, à felicidade e à dignidade da pessoa humana, referido acórdão utiliza-sedo princípio do pluralismo familiar reconhecendo a equiparação entre a família formada pelo casamento e pela união estável, entendendo esta não apenas como entidade familiar, mas como “família” em seu poliformismo.
8. Alberto, morador de Suzano/SP, casou-se com Bianca em 23 de dezembro de 2010. Como trabalha viajando para o Rio de Janeiro todos os finais de semana desde 2000, comprou uma casa em Copacabana para facilitar suas despesas com hospedagem. Por não gostar de praia e da umidade local, Bianca nunca conheceu o imóvel, mas sabe que seu marido o usa aos finais de semana. Em 3 de outubro de 2014, Alberto iniciou uma união afetiva com Carla, que desconhece do seu estado de casado e com quem divide sua casa no Rio de Janeiro. Carla descobriu sobre o casamento do companheiro e terminou o relacionamento em 2 dezembro de 2018. Em 27 de fevereiro de 2019, Carla visita seu escritório para pedir esclarecimentos acerca da propositura de ação de reconhecimento de união estável e partilha dos bens amealhados durante a relação. Quais as orientações que você daria à sua cliente?
No parecer deve constar a possibilidade do reconhecimento criada a partir da decisão recente do STJ na qual se exige a boa-fé para o reconhecimento de união estável com homem casado não separado de fato. Deve, ainda, conter uma ressalva à cliente no sentido de que há sólida posição jurisprudencial defendendo que a convivência com a esposa impede o reconhecimento da união estável independentemente da comprovação da boa-fé. No caso, como advogado de Carla, faria uma argumentação e estabeleceria conjunto probatório para demonstrar sua intenção de constituir família, além de comprovar sua boa-fé ressaltando que ela desconhecia o casamento de seu companheiro. A ação a ser proposta deveria ser a de reconhecimento e dissolução de união estável com partilha de bens em face de Alberto, sendo competente para julgá-la o foro do último domicílio do casal, no Rio de Janeiro. Por fim, explicaria a Carla que os pedidos da ação seriam a declaração da união estável de 3 de outubro de 2014 a 2 de dezembro de 2018, a partilha dos bens amealhados a título oneroso durante a referida união e a condenação de Alberto no pagamento das despesas processuais5 e honorários advocatícios.
9. Após o período de relacionamento amoroso de dois anos, Mário Alberto, jovem com 17 anos de idade, e Cristina, com apenas 15 anos, decidem casar. A mãe de Mário, que detém a sua guarda, autoriza o casamento, apesar da discordância de seu pai. Já os pais de Cristina consentem com o casamento. Com base na situação apresentada, explique sobre a possibilidade do casamento entre Mário Alberto e Cristina e se há alguma providência judicial ou extrajudicial a ser tomada pelos jovens a fim de que se casem. Responda justificadamente, empregando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso.
O examinado deve esclarecer que não é possível o casamento, uma vez que não obstante Cristina ter o consentimento de ambos os pais, ela não possui idade núbil (capacidade matrimonial).
Apenas a título de argumentação, se Cristina tivesse idade núbil, seria importante o examinado observar que Mário Alberto necessitaria do consentimento de ambos os pais, uma vez que o consentimento para o casamento é atributo do poder familiar inerente a ambos, em igualdade de condições, e o fato de Mário estar sob a guarda da mãe não retiraria de seu pai sua autoridade parental, e não prevaleceria, portanto, a vontade materna, necessitando do suprimento judicial – baseado nos arts. 1.517, parágrafo único e 1.631, parágrafo único do CC – em caso de negativa injustificada de um dos genitores.
O suprimento necessário ensejaria a ação de suprimento de consentimento, que deveria ser endereçada ao foro do domicílio do réu, no caso, o pai de Mário Alberto (art. 46 e ss. do CPC), constando este como autor e assistido por sua mãe.
Ressalta-se, ainda, que seria necessária a participação do Ministério Público a fim de proteger o melhor atendimento dos interesses do adolescente (art. 178, I, CPC).
Os pedidos que deveriam ser feitos são o suprimento de consentimento para o casamento e a condenação do réu nas custas e honorários advocatícios. O examinado deveria ainda dar valor à causa conforme o art. 291 do CPC, que, por não haver benefício econômico, seria o mínimo.
10. Alceu e Berenice pretendem se casar. Alceu tem 17 anos e é emancipado. Berenice possui 16 anos e está sob poder familiar. Apresentaram requerimento de habilitação para o casamento que foi denegado pelo Cartório de Registro Civil pois os pais de Berenice não autorizaram o casamento. Em suas justificativas, explicaram que não queriam que sua filha casasse com Alceu, pois preferiam que ela se casasse com alguém de origem asiática. Você foi procurado por Berenice que pretende recorrer ao Poder Judiciário para se casar. Redija a peça jurídica adequada para atender às pretensões de sua cliente.
O aluno deverá redigir petição inicial de ação de suprimento de consentimento, endereçada de acordo com o art. 46 do CPC, o foro do domicílio dos réus, genitores de Berenice. O juiz deverá nomear curador especial conforme art. 72, I, do CPC, e, deverá haver participação de membro do Ministério Público como exige o art. 178, I, do CPC. A ação deve ainda ser fundamentada no artigo 1.519 do CC uma vez que a denegação do consentimento foi injusta uma vez que é amparada em preconceito racial, e, portanto, pode ser suprida pelo juiz para que a cliente possa se casar pelo regime de separação obrigatória de bens (art. 1.641, III, do CC). Nos pedidos deverá constar a procedência da ação com o consequente suprimento de consentimento em lugar dos genitores, a condenação dos réus no pagamento das custas e honorários advocatícios e a expedição de ofício ao cartório para que prossiga com a habilitação de Alceu para o casamento. Deverá ainda constar o valor da causa, conforme art. 391 do CPC, que, não havendo benefício econômico, deverá ser o mínimo.
11. Mariana tem 40 anos, sofre de esquizofrenia paranóide e resiste à ingestão regular de anticoncepcionais. Às vezes consegue fugir de sua mãe e sai para a rua. Retornou grávida por 3 vezes, mas não reconhece as crianças como seus filhos, que ficam à mercê dos parentes de Mariana. Sua mãe veio a falecer deixando-lhe o único imóvel da família. Mariana decide vendê-lo. Essa venda é possível? Explique.
Trata-se de pessoa plenamente capaz de acordo com o art. 6º do Estatuto da Pessoa com Deficiência. Dessa forma, pode realizar a venda do imóvel. No entanto, eventuais prejudicados podem tentar anular o negócio baseando-se no princípio da boa-fé (arts. 113 e 422 do CC). No entanto, seus parentes (art. 747 do CPC) podem propor ação de curatela1 (art. 1.767 do CC combinado com os arts. 747 e seguintes do CPC) para que, verificada sua alienação mental, o juiz determine a necessidade de assistência do curador para que pratique determinados atos da vida civil, como a venda do imóvel recebido por herança. Assim, a ação deverá ser proposta no foro do domicílio de Mariana (art. 46 do CPC), os pedidos serão o seu provimento com a nomeação de um curador e a condenação da ré no pagamento das custas e honorários advocatícios. O valor da causa (art. 391 do CPC) deverá ser o mínimo por não haver benefício econômico.
12. Abelardo e Isadora querem se casar. Abelardo tem 57 anos e Isadora acabou de completar 18 anos e possui trissomia do 21. Ao apresentar requerimento de habilitação para o casamento, o oficial do Cartório de Registro Civil disse para o casal que por ser a nubente pessoa com deficiência, precisaria de autorização de curador. Você foi procurado por Isadora que pretende recorrer ao Poder Judiciário para se casar. Qual deve ser o procedimento adotado para defender os interesses de Isadora?
Deve-se ingressar com pedido perante o juiz corregedor do cartório de registro civil das pessoas naturais competente para, alegando que a exigência apontada pelo registrador é ilegal pois fere norma constitucional de direitos humanos,a saber, a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, art. 23, bem como o Estatuto da Pessoa com Deficiência, art. 6º, determinar o deferimento de sua habilitação nos moldes do art. 1.525 e seguintes do CC.
13. A classificação dos impedimentos no CC/16 é correspondente à do CC/02?
Não, no CC/16 os impedimentos eram divididos em dirimentes e impedientes. Os impedimentos dirimentes eram divididos em impedimentos absolutamente dirimentes (também chamados impedimentos públicos) que geravam a nulidade do ato – podendo ser opostos por qualquer pessoa ou Ministério Público por abarcar interesse público – e os impedimentos relativamente dirimentes (também chamados impedimentos privados) que geravam a anulabilidade do ato – podendo ser opostos por determinadas pessoas que a lei permitia. No caso dos impedimentos impedientes, o casamento permanecia válido mas havia determinação de sanções para quem os infringissem. Já o CC/02 existem apenas os impedimentos definidos em rol taxativo do art. 1.521.
14. Joana, jornalista de uma conceituada revista de Moda, em função do trabalho faz constantes viagens para fora do país para acompanhar as tendências fashionistas. Em uma das viagens, seu tio John, decide acompanhá-la. Durante a semana que estiveram juntos em Paris, os dois criaram laços de intimidade e perceberam que estavam apaixonados. Após retornarem ao Brasil, decidiram assumir o relacionamento e anunciaram aos familiares a intenção do casamento. Após tal anúncio, foram informados por Matheus, advogado da família, que estariam impedidos de realizar o casamento tendo em vista o grau de parentesco. A informação de Matheus está correta? Justifique.
Não, a informação de Matheus está equivocada. O Código Civil de 2002, artigo 1.521, dispôs sobre os impedimentos para o casamento. No entanto, atenua o impedimento de casamento entre os tios e sobrinhos consagrado no artigo 1.521, inciso IV. De acordo com o Decreto n. 3.200/41, apresentado o exame pré-nupcial que afirme não existir inconveniente para o casamento, sob o ponto de vista da saúde dos cônjuges e da prole, permite-se o casamento. Sendo assim, desde que apresentem exame pré-nupcial compatível, o casal não resta óbice para a realização do casamento.
15. Felipe, médico cardiologista, prestava serviços em dois hospitais. Em um de seus plantões conheceu Marianna, enfermeira, e após alguns encontros, iniciaram um relacionamento. Alguns meses depois decidiram oficializar a união e casaram-se no civil. Após 10 anos de convivência, devido as constantes discussões, evitando maiores transtornos psicológicos, resolveram separar. Contudo, não formalizaram o divórcio. Após 2 anos, Felipe conheceu Ana Luíza e iniciou um novo relacionamento. Depois de alguns meses, Felipe foi surpreendido com a notícia da gravidez de Ana Luíza. Felizes com a chegada do herdeiro pretendem oficializar a união com o casamento civil. Após comparecem ao Cartório de Registro Civil, foram informados que estariam impedidos de realizarem o casamento. Desesperados, o casal foi até o seu escritório e pediu uma orientação jurídica. Qual a orientação jurídica cabível ao presente caso?
Os impedimentos matrimoniais são situações específicas que atingem determinadas pessoas. Previstos no artigo 1.521 do Código Civil de 2002, que dispõe que não poderão casar: os ascendentes com os descendentes seja o parentesco natural ou civil; os afins em linha reta; o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; o adotado com o filho do adotante; as pessoas casadas; e o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte. No presente caso, observa-se que o Felipe encontra-se impedido de casar, pois civilmente está casado com Marianna. Sendo assim, caso o casamento seja realizado, será considerado nulo de pleno direito, na forma do artigo 1.548, II do Código Civil, sendo certo que se trata de hipóteses de questões de ordem pública.
16. Paulo manteve relação de união estável durante treze anos com Bárbara. Da união nasceu Beatriz. Tayla é a filha mais velha de Bárbara, proveniente de outro relacionamento. Após a separação, Paulo iniciou um relacionamento amoroso com Tayla, o qual já dura dois anos e pretende casar. Nesse contexto, há impedimento para realização do casamento? Justifique.
Os impedimentos matrimoniais, previstos no artigo 1.521 do Código Civil de 2002, que dispõe que não poderão casar: os ascendentes com os descendentes seja o parentesco natural ou civil; os afins em linha reta; o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; o adotado com o filho do adotante; as pessoas casadas; e o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte. Sendo assim, por haver uma relação de afinidade em linha reta, Paulo e Tayla não podem contrair matrimônio. Caso o casal insista com o casamento, os impedimentos poderão ser opostos, até o momento da?celebração do casamento, por qualquer pessoa capaz (art. 1522).
17. Luis, aos vinte e cinco anos de idade, casou-se com Alexandra sob o regime de comunhão parcial de bens. Na constância do casamento adquiriram dois imóveis no litoral brasileiro. Após vários anos, em detrimento da ausência da affectio maritalis, consensualmente optaram pelo divórcio. Alexandra, objetivando realizar o desejo de ser mãe, decidiu dar uma chance para o amor e aceitou o pedido de namoro de seu amigo de infância, Eduardo. Não demorou muitos meses e foram ao Cartório do Registro Civil marcar o casamento. Foram surpreendidos com a notícia de que o casamento estaria impedido de ser realizado tendo em vista que ainda não tinha ocorrido a partilha dos bens do casamento anterior de Alexandra. A informação fornecida está correta? Justifique com o devido fundamento legal.
Se apontadas a tempo por quem de direito, as causas suspensivas poderão sobrestar a celebração do casamento, desde que os nubentes não queiram se submeter ao regime de separação obrigatória. Em querendo, haverá o casamento normalmente com a submissão ao citado regime de bens. O caso proposto acima encontra seu fundamento legal no art. 1523, III, do CC. Ainda, de acordo com o Código Civil de 2002, art. 1.524 do CC: "As causas suspensivas da celebração do casamento podem ser arguidas pelos parentes em linha reta de um dos nubentes, sejam consanguíneos ou afins, e pelos colaterais em segundo grau, sejam também consanguíneos ou afins". Caso ocorra o casamento, não há que se falar em nulidade ou anulabilidade. Sendo assim, a informação está equivocada, pois não há impedimento e sim causa de suspensão do casamento desde que oposta tempestivamente.
18. Sueli casou-se com Edson sob o regime da comunhão parcial de bens. Na constância do casamento adquiriram diversos bens imóveis. Após 25 anos de casados, seu esposo Edson veio a falecer em um trágico acidente. Passado o período do luto, ela reencontrou Anderson, seu primeiro namorado, no Facebook e retomaram o contato. Alguns meses depois, Sueli contou sobre o novo romance à Melissa e Saulo, seus filhos, frutos de seu relacionamento com Edson. Com a finalidade de ajudar a mãe no novo relacionamento, os filhos marcaram diversos almoços entre os dois. Após dois meses, encorajaram Sueli a oficializar a união com o casamento civil. Embora estivesse feliz e apaixonada, ela tinha dúvidas em relações aos bens deixados por Edson e procurou um advogado para esclarecimento. Nessa situação, qual o esclarecimento que seria dado pelo advogado de Sueli? Justifique.
Inicialmente, cumpre verificar se os bens já foram partilhados aos herdeiros. Caso isto tenha ocorrido, não há óbice algum para a realização do casamento. Se a partilha dos bens não se verificou, trata-se de uma causa suspensiva do casamento. Em relação às causas suspensivas de casamento, o artigo 1.523,I, do Código Civil dispõe que não devem casar a viúva que tiver filho do cônjuge falecido enquanto não fizer inventário dos bens do casal e der a partilha ao herdeiro. Ainda que não tenha sido realizada a partilha, e não devam casar, caso ocorra o enlace, o regime de bens adotado deverá ser o regime obrigatório de separação de bens para que não venha ocorrer a confusão patrimonial.
19. Antonella, comissária de bordo, casou-se com Paolo, piloto civil, sob regime da comunhão parcial de bens. Na constância do casamento não adquiriram bens imóveis. Após 5 anos de casamento, Paolo faleceu em um trágico acidente de avião. Após 2 meses, Antonella encantou-se por Pablo, um jornalista que conheceu em uma de suas viagens, e resolveu deixar a aviação. Decidiu, então, aceitar o convite de lecionar em curso preparatório para comissários, pois estava convicta de que Pablo era o amor de sua vida. Estava planejando o casamento para quando completassem 6 meses de namoro. Mary, irmã de Antonella, ao saber da pretensão de sua irmã, aconselhou-a a procurar um advogado, pois ainda não completara um ano da morte de Paolo. Nessa situação, qual o esclarecimento que seria dado pelo advogado de Antonella? Justifique.
Em relação às causas suspensivas de casamento, o artigo 1.523, III, do Código Civil dispõe que não devem casar a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal. Entretanto, há uma atenuante apresentada no parágrafo único. O casal poderá solicitar que não sejam aplicadas as causas suspensivas comprovando, com exames médicos, a inexistência de gravidez. Sendo assim, caso queiram realizar o matrimônio, deverão apresentar prova de que não está grávida perante o Cartório de Registro Civil das pessoas naturais. Se esta prova não for feita, os nubentes deverão suportar o regime de separação obrigatória de bens (art. 1.641,I, CC).
20. Viviane, médica, casou-se com Anderson, engenheiro, sob regime de comunhão parcial de bens. Na constância do casamento não adquiriram bens imóveis. Após 9 anos de casamento, ausente a affectio maritalis, optaram pelo divórcio. Após 1 ano, Viviane apaixonou-se por seu primo Juan e, após 2 anos de relacionamento, decidiram oficializar a união com o casamento civil. Contudo, ao se dirigirem ao Cartório de Registro Civil, foram informados de que o casamento não poderia ocorrer pois ainda não havia transcorrido o lapso temporal de 5 anos desde divórcio de Viviane. Inconformados, resolveram procurar um advogado para maiores esclarecimentos. Nessa situação, quais as informações dadas pelo advogado do casal? Justifique.
Em relação às causas suspensivas de casamento, o artigo 1.523, do Código Civil dispõe. Não devem casar “I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros;II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal; III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal; IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as respectivas contas.” Na presente situação, não se verifica nenhuma causa suspensiva. Sendo assim, o esclarecimento dado ao casal pelo Registro Civil, encontra-se equivocado. Só ocorreria causa suspensiva em relação ao divórcio de Viviane caso não tivesse sido homologado ou decidido sobre a partilha de bens.
21. João e Maria desejam se casar. João reside no estado da Bahia e Maria reside em São Paulo. Ocorre que, surgiu uma oportunidade muito importante de emprego para João justamente no dia do casamento. Você, como advogado das partes pode sugerir que estas façam uma procuração? Explique
O casamento poderá ser celebrado por procuração, desde que haja instrumento público com poderes especiais para tanto, e a eficácia do mandato não ultrapassará 90 dias da sua celebração (art. 1.542, § 3.º do Código Civil de 2002). Eventualmente, se o mandante quiser revogar o mandato, a revogação não necessita chegar ao conhecimento do mandatário (art. 1.542, § 1.º, do CC). Ressalte-se que somente é possível revogar o mandato para o casamento por meio de instrumento público (art. 1.542, § 4.º).
22. Renata e Bruno vão se casar. Bruno é parte em um processo criminal sob pena de prisão em regime fechado. Ambos possuem urgência na realização do casamento tendo em vista a situação de Bruno. É possível a dispensa da publicação dos editais neste caso?
Sim, a dispensa de proclamas pode ser requerida em petição dirigida ao juiz quando houver urgência, já indicadas as devidas provas. Também é necessária a ciência do Ministério Público que poderá se manifestar em até 24 horas. É o que dispõe o Art. 69 da Lei 6.015/73. Neste caso em questão, o jurista Caio Mário é favorável quanto a dispensa de publicação por considerar uma situação de extrema urgência.
23. Joana e Carlos estão com o casamento marcado para daqui um mês. Joana não deseja se casar no cartório, pois prefere o salão de festas de seu condomínio. A futura mulher de Carlos afirma que deixará as portas abertas, respeitando, assim, a lei. Sua conduta é correta? O casamento poderá ocorrer desta maneira?
A conduta de Joana é correta. De acordo com o art. 1.534, § 1º, do CC, é possível o casamento em local privado desde que as portas fiquem abertas.
24. Tania e Vitor estão com o casamento marcado. Este é o segundo casamento de Tania, que possui filhos de seu primeiro enlace. Ela possui grande patrimônio. Ocorre que, enquanto estavam realizando uma viagem de carro, ambos sofrem um acidente. Tania está em iminente risco de vida e por isso, resolvem se casar naquele momento. As partes se casam e logo em seguida Tania vem a falecer. Os filhos da de cujus te procuram em seu escritório afirmando que o viúvo de Tania possuía apenas interesse no patrimônio da falecida. As alegações dos filhos da autora da herança possuem algum sentido? Há críticos ao casamento nuncupativo?
Se presentes as seis testemunhas não parentes das partes, estando Tania consciente, o casamento é válido e as alegações dos filhos não encontram guarida. As críticas que podem ser feitas são: a maioria da doutrina acredita que deve ser respeitada toda a solenidade da celebração do casamento presente nos artigos do Código Civil. Ainda, a presente exceção pode ser forjada por interessados na herança do enfermo e assim despojar os sucessores do enfermo de seus legítimos direitos hereditários, conforme explicita Washington de Barros Monteiro.
25. Acerca dos defeitos do negócio jurídico, quais seus conceitos, naturezas, afinidades, diferenças, modos (vícios do consentimento e vícios sociais) e consequências jurídicas?
Em consonância com a doutrina brasileira, o negócio jurídico consiste em ato jurídico por meio do qual as partes manifestam a sua vontade na busca de um efeito jurídico, respeitados os pressupostos de existência, validade e eficácia (Escada Ponteana), como forma de exercício da autonomia privada. Destarte, os vícios do negócio jurídico podem atingir a manifestação de vontade ou acarretar repercussão social. Com base nas referidas espécies de vícios ou defeitos, a doutrina subdivide em: vícios da vontade ou do consentimento (erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão) e vícios sociais (fraude contra credores e simulação). O primeiro vício de consentimento ou vontade consiste no erro. Este vício pode ser conceituado como engano fático ou uma falsa percepção da realidade em relação a uma pessoa, a um objeto do negócio ou a um direito, que afeta a vontade de uma das partes do negócio jurídico (art. 139 do Código Civil). O artigo 138 do Código Civil (CC) estabelece que os negócios jurídicos celebrados com erro são anuláveis, desde que o referido erro seja substancial, perceptívelpor pessoa de diligência normal, nas circunstâncias da celebração do negócio. A análise do dispositivo em comento revela que não constitui mais requisito do erro a escusabilidade (erro escusável ou justificável), pois inexiste previsão expressa nesse sentido. Corrobora este entendimento o Enunciado 12 da 1 Jornada de Direito Civil ("na sistemática do art. 138, é irrelevante ser ou não escusável o erro, porque o dispositivo adota o princípio da confiança"). Para esta corrente doutrinária (Gustavo Tepedino, Sílvio de Salvo Venosa, Flávio Tartuce, Marcia Celina Bodin de Moraes), o erro não precisa ser escusável, bastando a cognoscibilidade (conhecimento do vício do erro pelo destinatário da declaração de vontade), em prestígio ao princípio da boa-fé objetiva. Dessa forma,o instituto do erro se aproximaria do dolo. No entanto, é importante esclarecer que existe corrente doutrinária sustentando a necessidade do erro ser escusável ou justificável para se admitir a anulação do negócio jurídico (Maria Helena Diniz, Sílvio Rodrigues, Carlos Roberto Gonçalves, Álvaro Viliaça Azevedo, Francisco Amaral). Outrossim, a doutrina subdivide o erro em: erro substancial e erro acidental. No caso de erro substancial, corno foi explanado anteriormente, implica anulação do negócio jurídico, enquanto no erro acidental, consoante o artigo 142 do CC, não atinge o plano da validade do negócio jurídico. O segundo vício de consentimento consiste no dolo. De acordo com a doutrina, o dolo pode ser conceituado como artifício ardiloso utilizado para enganar alguém, em benefício próprio. Em caso de dolo, a consequência jurídica é a anulação do negócio jurídico. Ressalte-se que somente nas hipóteses de dolo essencial, substancial ou principal haverá anulação (art. 145 do CC), sendo certo que, nos casos de dolo acidental, importará em perdas e danos a favor do prejudicado (art. 146 do CC). Não se pode olvidar que o dolo pode ser praticado por um terceiro, como prescreve o artigo 148 do CC, acarretando a anulação ou perdas e danos a depender da ciência da parte do negócio jurídico. Além disso, o direito positivo diferencia as consequências jurídicas se o dolo for do representante legal ou convencional (art. 149 do CC). O terceiro vício de consentimento consiste na coação. A doutrina conceitua como pressão física ou moral exercida em face de uma das partes do negócio jurídico, com o objetivo de obrigar a assumir uma obrigação que não quer. O artigo 151 do CC dispõe que a anulação do negócio jurídico só ocorrerá se a coação moral ou psicológica (vis compulsiva) for relevante, causando fundado temor de dano iminente e considerável à parte do negócio, à sua família ou aos seus bens. Por outro lado, em caso de coação física (vis absoluta), existe divergência na doutrina, tendo em vista que a primeira corrente sustenta a nulidade absoluta do negócio jurídico (Maria Helena Diniz), enquanto a segunda corrente aduz a inexistência do negócio jurídico (Renan Lotufo). Importante mencionar que a coação moral deve ser analisada à luz do caso concreto, levando em consideração o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias, como se depreende do parágrafo único do artigo 152 do CC. Ademais, a coação pode ser exercida por um terceiro, implicando anulação do negócio jurídico se o negociante beneficiado dela tiver ou devesse ter conhecimento. Diversamente, se o negociante beneficiado pela coação dela não tiver ou não devesse ter conhecimento, haverá manutenção do negócio jurídico e o coator responderá por perdas e danos. O quarto vício de consentimento consiste no estado de perigo. Consoante o artigo 156 do CC, o estado de perigo se constata quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. Para a configuração do estado de perigo, o dispositivo em questão exige a presença de elemento objetivo (onerosidade excessiva da parte que manifesta a vontade) e elemento subjetivo (uma parte do negócio tem conhecimento da situação de risco da outra parte). É justamente este elemento subjetivo que diferencia do instituto da lesão. A consequência jurídica do estado de perigo consiste na anulação do negócio jurídico (art. 171, inciso li, do CC). Todavia, esta consequência poderá ser evitada mediante a aplicação analógica do artigo 157, parágrafo 2º, do CC. Nesse sentido é o Enunciado 148 da Jornada de Direito Civil ("Ao 'estado de perigo' aplica-se, por analogia, o disposto no 2° do art. 157"), em virtude do princípio da conservação contratual e do princípio da função social do contrato. Por fim, o quinto vício de consentimento consiste na lesão. De acordo com o artigo 157 do CC,"ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta". O instituto da lesão acarreta a anulação do negócio jurídico (art. 178, inciso 11, do CC), pois configura um vício de formação,o que distingue do desequilíbrio negocial por fato posterior. Entretanto, a anulação poderá ser afastada se ocorrer o reequilíbrio das prestações, nos termos do artigo 157, parágrafo 2°, do CC. Em relação ao assunto, existe o Enunciado 149 das Jornadas de Direito Civil ("Em atenção ao princípio da conservação dos contratos, a verificação da lesão deverá conduzir, sempre que possível, à revisão judicial do negócio jurídico e não à sua anulação, sendo dever do magistrado incitar os contratantes a seguir as regras do art. 157 § 2°, do Código Civil. de 2002"). Frise-se, ainda, que a lesão não se confunde com o dolo, pois a caracterização da lesão exige apenas a premente necessidade ou inexperiência e a onerosidade excessiva. No dolo há o emprego de artifício ardiloso. O Enunciado 150 da Jornada de Direito Civil confirma este entendimento ("a lesão que trata o art. 157 do Código Civil não exige dolo de aproveitamento"). Nos vícios sociais, o primeiro vício consiste na simulação. O novo Código Civil conferiu um novo tratamento a este instituto, haja vista que tem como consequência jurídica a nulidade (art. 167 do CC). Para parte da doutrina (Francisco Amaral, Paulo Lôbo), a simulação não constitui mais um vício social do negócio jurídico, pois atinge a causa negocial. A simulação pode ser definida como incompatibilidade entre a vontade e a declaração em razão das partes do negócio jurídico objetivarem iludir terceiros. Com a nova sistemática introduzida pelo CC, a doutrina sustenta que a simulação inocente também importa em nulidade absoluta, como se percebe do Enunciado 152 da Jornada de Direito Civil ("toda simulação, inclusive a inocente,é invalidante"), uma vez que se trata de matéria de ordem pública. Apesar de a simulação gerar a nulidade absoluta, o artigo 167 do CC autoriza a subsistência do negócio jurídico dissimulado, se for válido na substância e na forma. No mesmo sentido é o Enunciado 153 da Jornada de Direito Civil (na simulação relativa, o negócio simulado - aparente - é nulo, mas o dissimulado será válido se não ofender a lei nem causar prejuízos a terceiros"). Com efeito, a simulação pode ser classificada em: simulação absoluta e simulação relativa (subjetiva e objetiva). Para parte da doutrina, a simulação se assemelha com a reserva mental, pois a reserva mental conhecida pelo destinatário configura simulação (Álvaro Vitiaça Azevedo). O último vício social consiste na fraude contra credores. A doutrina define como atuação maliciosa do devedor,em estado de insolvência ou na sua iminência, mediante disposição gratuita ou onerosa do seu patrimônio, para inviabilizar a responsabilização de seus bens por obrigações assumidas em momento anterior à transmissão. Assim, para a caracterização da fraude contra credores, em regra, exige-se elemento objetivo (eventos damni/evento danoso) e elemento subjetivo (consilium fraudis/intenção de prejudicar os credores). No tocante à consequência jurídica, vigora divergência na doutrina e na jurisprudência.A primeira corrente aduz a anulabilidade do ato praticado em fraude contra credores, com fulcro nos artigos 158 e 159 do CC. Diversamente, a segunda corrente defende que a consequência da fraude contra credores consiste na ineficácia do negócio jurídico. Com o advento do novo Código de Processo Civil (art. 790, inciso VI), no âmbito do direito positivo, pode-se afirmar que foi adotada a primeira posição (anulação do negócio), exercida por meio de ação pauliana ou revocatória. Por fim, é mister esclarecer que a fraude contra credores não se confunde com a fraude à execução, pois a primeira consiste em instituto de direito material, enquanto a segunda, instituto de direito processual.
26. Sintetise a escada ponteana explicando-a. No plano das nulidades, como resolver as obrigações contraídas por menores absolutamente incapazes e relativamente incapazes?
O jurista Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda criou a teoria da Escada Ponteana, analisando o negócio jurídico em três planos: plano da existência, plano da validade e plano da eficácia. Com base nessa construção, de acordo com a doutrina civilista, no que tange ao tema da nulidade dos atos jurídicos, a validade dos atos exige como requisitos: agente capaz; vontade livre, sem vícios; objeto lícito, possível, determinado ou determinável; forma prescrita ou não defesa em lei. Na esfera do direito positivo, corrobora este entendimento a interpretação do disposto no artigo 104 do Código Civil (CC), pois a vontade livre encontra-se inserida na capacidade do agente ou na licitude do objeto do negócio. Por outro lado, no tocante ao plano da existência, em razão da ausência de previsão legal para regulamentar o assunto, existe divergência na doutrina acerca do tema. A primeira corrente sustenta que o negócio jurídico inexistente, por não gerar nenhum efeito jurídico, em decorrência da ausência de pressupostos jurídicos (partes, vontade, objeto e forma), prescinde de declaração de invalidade por via judicial (não se invalida o que não existe). Diversamente, a segunda corrente aduz que o Código Civil não tratou do plano da existência, motivo pelo qual essas hipóteses devem ser regidas pelas regras de nulidade, o que leva a concluir que o plano da existência estaria embutido no plano da validade. Nesse contexto, com base no direito positivo (artigos 166 a 184 do CC), a expressão invalidade constitui o gênero das espécies nulidade e anulabilidade. Destarte, o instituto da nulidade pode ser conceituado como a sanção imposta pelo ordenamento jurídico aos atos e negócios jurídicos realizados com inobservância dos requisitos legais, qualificados como essenciais, que impede a produção dos efeitos jurídicos. Para facilitar a compreensão da nulidade, a doutrina propõe classificação para o estudo das diversas facetas do instituto em questão. Com efeito, classifica em: nulidade absoluta e relativa; nulidade total e parcial; nulidade textual e virtual. A nulidade absoluta, além do interesse individual, tem por finalidade proteger um interesse social, uma vez que há ofensa a preceito de ordem pública. Dessa forma, o artigo 168 e o parágrafo único do CC prescrevem que a questão sobre nulidade absoluta pode ser alegada por qualquer interessado, devendo ser pronunciada de ofício pelo juiz. Diferentemente, a nulidade relativa, denominada de anulabilidade, viola interesse individual das partes interessadas, motivo pelo qual se admite o afastamento ou saneamento do vício de invalidade. A segunda classificação subdivide em nulidade total e parcial. A nulidade total consiste no vício que atinge todo o negócio jurídico. De outro lado, a nulidade parcial consiste no vício que afeta somente parte do negócio jurídico. Nesta hipótese, consoante o disposto no artigo 184 do CC (princípio utile per inutile non vitiatur), a nulidade parcial do negócio não prejudicará a parte válida, desde que seja possível cindir a parte válida da inválida, em prestígio ao princípio da conservação do ato ou negócio jurídico. Por fim, a última classificação prevista na doutrina subdivide em nulidade textual e virtual (ou implícita). A anulabilidade textual consiste naquelas hipóteses que têm previsão expressa na lei. Diversamente, a anulabilidade virtual (ou implícita) consiste naqueles casos que não possuem previsão expressa, mas a nulidade pode ser deduzida com base nas expressões utilizadas pelo legislador (exemplo: artigo 1.521 do CC). Quanto às diferenças entre nulidade absoluta e nulidade relativa (anulabilidade), conforme a doutrina, podem ser apontadas: a) A nulidade relativa é decretada no interesse privado da pessoa prejudicada, pois não se constata a presença do interesse público, somente a conveniência das partes. Na nulidade absoluta, há matéria de ordem pública, motive pelo qual é decretada no interesse da própria coletividade; b) A anulabilidade pode ser suprida pelo juiz se as partes requererem (art. 168, parágrafo único, do CC, a contrario sensu), ou sanada, expressa ou tacitamente, pela confirmação (art. 172 do CC). No caso da anulabilidade por ausência de autorização de terceiro, o ato poderá ser validado com a autorização posterior (art. 176 do CC). Por outro lado, a nulidade não pode ser sanada pela confirmação, nem suprida pelo juiz; c) A anulabilidade não pode ser pronunciada de ofício, dependendo de provocação dos interessados (art. 177 do CC), e somente produz efeitos após a sentença judicial (sentença desconstitutiva/efeito ex nunc). Ao contrário, a nulidade deve ser pronunciada de ofício pelo juiz (art. 168, parágrafo único, do CC), produzindo efeito ex tunc (sentença declaratória); d) A anulabilidade só pode ser alegada pelos interessados (o relativamente incapaz ou a pessoa que manifestou a vontade viciada) e os seus efeitos aproveitam exclusivamente aos que alegaram, salvo o caso de solidariedade ou indivisibilidade (art. 177 do CC). Diferentemente, a nulidade pode ser alegada por qualquer interessado ou pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir (art. 168, caput, do CC). Não se pode olvidar que o menor, entre 16 e 18 anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, espontaneamente declarou-se maior (art. 180 do CC/ninguém pode se beneficiar da própria torpeza); e) A anulabilidade é regida por prazo decadencial, por se tratar de um direito potestativo (lições do professor Agnelo Amorim Filho). Ao contrário, o ato nulo não se valida com o decurso do tempo, nem é suscetível de confirmação (art. 169 do CC); f) Nos casos de anulabilidade, o ato anulável produz efeitos até a decretação de sua invalidade (ex nunc/natureza desconstitutiva/direito postestativo/prazo decadencial). Nos casos de ato nulo, não há produção de nenhum efeito (quod nulium est nulium producit effectum/efeito ex tunc/natureza declaratória/sem prazo). Por todo o exposto, percebe-se nitidamente que quando a ofensa atinge o interesse particular das pessoas, sem envolver interesses sociais, os interessados podem promover a anulação do ato (o negócio jurídico permanence válido e produz efeitos enquanto não ocorrer a anulação por meio judicial). Nesse contexto, revela-se imprescindível esclarecer que o legislador protegeu o relativamente incapaz por intermédio do instituto da anulabilidade ou nulidade relativa, como se depreende do disposto no artigo 171, inciso 1, do CC. Todavia, nos casos de absolutamente incapaz, como envolve interesse coletivo, o legislador optou pelo instituto da nulidade absoluta, nos termos do disposto no artigo 166, inciso 1, do CC.
27. Toncilana descobriu que seu marido havia cometido um assassinato dois anos antes do casamento. A ciência desse fato tornou a convivência com o marido insuportável. Ela deseja romper todos os vínculos com o marido. Como você a orientaria?
O cometimento de crime anterior ao casamento configura erro essencial quanto a pessoa (art. 1557, II, CC), e tal é fundamento para anulação do casamento (art. 1550, III, CC). A condição é anterior ao casamento(crime cometido dois anos antes do casamento), o outro cônjuge desconhecia tal situação e a sua descoberta tornou a vida em comum insuportável. Assim, você enquanto advogado, pode orientar Toncilana a ajuizar a ação de anulação de casamento por erro essencial, desde que dentro do prazo de três anos (art. 1.560, III, CC) a contar da celebração. Como os efeitos da sentença são retroativos, todo e qualquer vínculo com o ex-marido criminoso será apagado, voltando inclusive, à condição de solteira. A referida ação de anulação de casamento deverá ser proposta no foro do ultimo domicílio do casal (art. 53, I, ”b” do CPC), contendo pedido de provimento da ação, a saber: a anulação do casamento, bem como o regresso do nome de solteira se for o caso, a partilha dos bens, a expedição de ofício para o Cartório de Registro de Pessoas Naturais e por fim, a condenação do réu no pagamento das custas e honorários advocatícios. O Ministério Público deverá participar do processo como fiscal da lei (art. 129 da CF e art. 178, I, CPC), apesar de haver grande parte da doutrina inclusive do MP que defende a sua não participação em virtude de não haver interesse de incapaz. O valor da causa (art. 391 do CPC), por não haver benefício monetário, deverá ser o mínimo.
28. Suzana tem uma filha, chamada Lea, de seu primeiro casamento. Eduardo tem dois filhos, Paulo e Sávio, também de um casamento anterior. Suzana e Eduardo se casaram e, durante a convivência, que já conta com muitos anos, Lea se apaixona por Sávio e decidem se casar, sendo ambos maiores e capazes. Pergunta-se: tal casamento é válido, nulo, anulável ou inexistente? Por quê?
Ao casar com Eduardo, Suzana passa a ter parentesco por afinidade com Paulo e Sávio. Por sua vez, Eduardo passa a ter parentesco por afinidade com Lea. Entre os respectivos filhos, entretanto, não é configurado parentesco algum, não havendo impedimentos a que eles se casem, pois eles não são irmãos por afinidade. Assim o casamento entre Lea e Sávio é válido. A despeito do acima exposto, entendemos que é hora de se travar a discussão a respeito do alcance do parentesco em virtude do recente posicionamento doutrinário e jurisprudencial sobre a socioafetividade porque nas famílias mosaico ou recompostas os filhos de cada um dos cônjuges convivem estreitamente como irmãos durante muitos anos, razão pela qual é importante que se traga esta realidade à baila.
29. Antonio, casou-se com Maria em 24 dezembro de 1974. Após anos de casamento, em uma de suas viagens, encantou-se por Viviane e resolveu viver com sua nova paixão. Após várias conversas com sua esposa, alegando a ausência da affectio maritalis entre eles, optaram pelo divórcio. Contudo, ao se dirigirem ao Cartório de Registro Civil, foram informados que não seria possível a realização do divórcio pois o casamento teria sido realizado antes da promulgação da Lei 6.515/77 e que apenas poderiam realizar o divórcio os casados após o ano de 1977. Inconformados, resolveram procurar um advogado para maiores esclarecimentos. Nessa situação, qual o esclarecimento que seria dado pelo advogado do casal? Justifique.
Até o ano de 1977, quem casava, permanecia com um vínculo jurídico para o resto da vida. Caso a convivência fosse insuportável, poderia ser pedido o 'desquite', que interrompia com os deveres conjugais e terminava com a sociedade conjugal.? Contudo, após a EC n.º 9/77 e a promulgação da Lei 6.515/77, a Lei do Divórcio, concedeu a possibilidade de um novo casamento, mas somente por uma vez. O 'desquite' passou a ser chamado de 'separação' e permanecia, como um estágio intermediário até a obtenção do divórcio. Após a Constituição?de 1988 passou-se a permitir o divórcio ilimitadamente. No caso proposto, ainda que o casamento tenha sido realizado anteriormente ao ano 1977, é garantia constitucional o divórcio não podendo o Registro Civil deixar de realizar tal ato (art. 226, §6º da CF).
30. Joana casou-se com Pedro na Bahia. Tiveram uma filha que nasceu após a separação de fato do casal, não tendo sido registrada pelo pai. Em São Paulo, Joana apaixonou-se por Paulo e com ele se casou apesar de não ter se divorciado de Pedro. Joana separou-se de fato de Paulo e, agora, encontra-se apaixonada por Antonio e com ele quer se casar. É possível Joana convolar núpcias com Antonio diante das situações jurídicas em aberto com Pedro e Paulo? Responda fundamentadamente.
Joana cometeu bigamia ao se casar com Paulo. De acordo com o art. 1.521, VI, do CC, ela não poderia ter se casado. Responderá criminalmente pelo ato praticado. Sob o ponto de vista cível, se ela não desejava ou podia se divorciar de Pedro, deveria ter estabelecido com Paulo união estável, que seria válida em virtude do art. 1.723, §1º, parte final, do CC. O primeiro casamento é válido e deverá ser dissolvido pelo divórcio e o segundo deverá ser objeto de ação de nulidade absoluta. Neste caso, se a ação for proposta por Paulo, este poderá requerer o reconhecimento de sua putatividade.
31. Antônio, com 25 anos de idade, casou-se com Carla, que possuía 17 anos e estava grávida. Carla obteve o consentimento de seus pais para o casamento. Após alguns meses, Antônio, cansado da vida de casado, decide pleitear anulação do casamento alegando que casou com Carla tão somente em razão da gravidez. Nessa situação, é possível a anulação do casamento de Antônio e Carla em razão de gravidez? Justifique.
O casamento de Antônio e Carla é considerado válido e Antônio deverá requerer o divórcio e não a anulação do casamento, porque as hipóteses são taxativas para os casos de invalidade, elencados no art.1.548 e no art. 1.550 do CC.
32. João, médico oftalmologista, em um de seus atendimentos conheceu Maria Alice. Dias após o atendimento, em uma cafeteria no bairro do hospital, reencontrou Maria Alice e iniciaram uma amizade. Após dois anos, assumiram um relacionamento amoroso. Em uma festa junina realizada na residência do amigo do casal, João foi convidado para ser o noivo com Ellen, uma senhora amiga do dono da festa. Nessa situação, o casamento de João e Ellen poderá ser considerado putativo? Justifique.
Não, no caso trata-se de casamento inexistente. Previsto no art. 1.561 do Código Civil, o casamento putativo ocorre nos casos em que é celebrado indevidamente de boa-fé, ou seja, se imaginava ser verdadeiro, por ter preenchido todos os requisitos de existência, validade e produzidos seus efeitos. Não há que se falar em putatividade porque numa festa junina, não há que se falar em consentimento válido e nem celebração por autoridade competente na forma da lei, requisitos para a existência do casamento. Ausentes os requisitos do primeiro plano da escada ponteana, não há que se falar em validade porque nem o primeiro plano foi atingido.
33. Maria Carla, com síndrome de Down, em viagem a Minas Gerais para casamento de sua prima Heloísa, conheceu Orlando, amigo de sua prima. Trocaram telefones e após meses de conversas, Orlando pediu para namorar com Maria Carla. O namoro foi muito criticado, pois alguns amigos não conseguiam entender como Maria Carla poderia se relacionar com Orlando. Contudo, Orlando não se deixou levar por tais comentários e como prova real de seu amor, planejou um noivado surpresa. Convictos do que queriam, o casal foi até o Registro Civil, com intuito de oficializar o casamento civil. Contudo, foram informados que Maria Carla, jamais poderia realizar tal ato. Nessa situação, está correta a informação? Justifique.
O art.?1.548?do?CC?consagra as hipóteses de nulidade absoluta do casamento. Ressalta-se que a primeira delas foi REVOGADA pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei?13.146/2015). Anteriormente, o?art. 1.548?considerava?nulo o casamento contraído: I - pelo enfermo mental sem o necessário discernimento para os atos da vida civil; Desta forma, objetivando à plena inclusão das pessoas com deficiência, esse dispositivo foi revogado expressamente pelo art.?114?da Lei?13.146/2015. Desse modo, de acordo com o novo art.?1.550,?§ 2o?do?CC/2002?(com?Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015),a pessoa com deficiência mental ou intelectual em idade núbil poderá contrair matrimônio, expressando sua vontade diretamente ou por meio de seu responsável ou curador.
34. Antonio Carlos, 18 anos, em uma viagem à São Paulo, conheceu Ana Beatriz, de 16 anos. Após alguns meses, iniciaram um relacionamento. Como Antonio Carlos foi aprovado no vestibular de Medicina na Argentina, temendo que o relacionamento à distancia viesse a atrapalhar os seus estudos, conversou com Ana Beatriz e avisaram os familiares que se casariam em 6 meses. Os pais de Ana Beatriz, temerosos com o pouco tempo de relacionamento entre os jovens, não autorizaram o matrimônio. Já os pais de Antonio Carlos, felizes com a recente aprovação e torcendo pela felicidade pessoal do filho, juntaram as economias e prepararam uma festa para o jovem casal após a cerimônia no Registro Civil. No dia previsto, ambos os pais estavam no casamento no civil e na festa, inclusive, os pais de Ana Beatriz, impulsionavam os convidados a postarem fotos no instagram com os dizeres: #melhorcasamentodoano #BeCarlosparasempre e não escondiam a felicidade de estarem presenciando aquele momento. Após a partida do jovem casal para Argentina, os pais de Ana Beatriz, desejaram anular o casamento dos jovens. Nesse caso, é possível a anulação do casamento? Justifique.
Não, embora Ana Beatriz tenha atingido a idade núbil, necessitaria da autorização de seus pais para o casamento, conforme art. 1.517 do CC. No presente caso, observa-se que os pais da jovem assistiram a cerimônia no cartório bem como estiveram presente na festa. Assim sendo, dispõe o Código Civil, art.. 1.555, §2º,?que?não se anulará o casamento quando à sua celebração houverem assistido os representantes legais do incapaz, ou tiverem, por qualquer modo, manifestado sua aprovação.
35. Após quatro meses de duração de uma relação amorosa com Flávio, Suzana contraiu matrimônio. Após três meses da celebração do casamento, Suzana, grávida, tomou conhecimento de que Flávio era pedófilo, tendo sido o autor de pelo menos quatro casos de abuso sexual e estupro com vítimas menores, o que resultou em prisão e condenação criminal, com trânsito em julgado após dois anos e dois meses. É correto afirmar que Suzana, não mais querendo manter a relação conjugal por ter tornado a vida conjugal insuportável e considerando o decurso do prazo de dois anos e cinco meses da celebração do casamento, pode intentar a ação de anulação do casamento? Justifique.
Sim, Suzana poderá pleitear a anulação do casamento por erro essencial de pessoa. De acordo com o Código Civil em seu artigo Art. 1.556, o casamento poderá ser anulado por vício da vontade, se houve por parte de um dos nubentes, ao consentir, erro essencial quanto à pessoa do outro. Neste caso, considera-se erro essencial a ignorância de crime, realizado anteriormente ao casamento. De modo que ao ter conhecimento do ocorrido tornou-se insuportável a vida conjugal. Ainda, em relação ao prazo para intentar a ação de anulação do casamento, a contar da data da celebração, é de três anos. Sendo assim, é possível a realização da anulação do casamento em virtude de erro essencial de pessoa.
36. Giovani e Chiara resolveram se casar. Giovani, interessado nos dotes físicos da moça, que era extremamente ingênua e sem estudos, iludiu-a a firmando que seria o casamento do ano, mas importante e válido do que qualquer outro porque se realizaria perante o juiz de direito da cidade. Por sua vez, ao juiz de direito, seu amigo, pediu para celebrar a cerimônia como cerimonialista, sem qualquer implicação jurídica. No dia do casamento, a cerimônia foi realizada, porém, perante autoridade incompetente em razão da matéria, ensejando nulidade absoluta. No entanto, Chiara estava de boa-fé. Qual providência jurídica deverá ser tomada? Por quem? Qual a competência?
Trata-se de ação declaratória de nulidade absoluta com reconhecimento de putatividade em favor de Chiara, em virtude de sua boa-fé. A competência está prevista no art. 53, I do CPC. Qualquer pessoa interessada poderá propor esta ação.
37. Casei no exterior, mas não registrei meu casamento nem em Consulado brasileiro e nem em cartório no Brasil. Ainda sou considerado solteiro no Brasil?
Não. Os casamentos no exterior são automaticamente considerados válidos pela legislação brasileira. O brasileiro casado no exterior que se declare solteiro incorrerá em crime de falsidade ideológica e caso contraia novas núpcias no Brasil poderá responder judicialmente pelo crime de bigamia, ambos tipificados no Código Penal brasileiro. A procuração pública para a venda de imóveis de brasileiros casados no exterior que se declarem solteiros estará sujeita à anulação. A procuração somente não será anulável se o regime de bens do casamento estrangeiro corresponder ao regime de separação de bens.
38. Lucas e Juliana casaram-se no Brasil em 2010 e, logo após o casamento, Lucas recebeu irrecusável oferta de emprego que levou o casal a ir morar na Espanha. Passados três anos, o casal percebeu que entre eles não há mais amor e decidiram se divorciar. O casal não possui filhos e lhe pergunta: para se divorciarem precisam vir ao Brasil ou podem fazer o pedido na Espanha mesmo? Uma vez que o casal ainda não está separado de fato e que existem bens a partilhar, podem eles pedir o divórcio extrajudicialmente?
Conforme a lei 12.874/13 que modificou a LICC, possibilita a realização de divórcio consensual através de autoridade consulares brasileiros, onde o casal deve ser assistido por seus advogados. Trata-se de um divórcio cartorial ou administrativo (art. 18, §§1º e 2º, da LINDB).
39. Cleide é casada com Cláudio pelo regime da comunhão parcial de bens e trabalha exaustivamente cuidando de seu lar. Já Cláudio trabalha numa loja. Na constância do casamento, Cleide tem passado muita dificuldade financeira porque Cláudio não lhe fornece os itens necessários para a preparação dos alimentos e para a limpeza da casa. A mútua assistência tem relação com o direito do outro cônjuge de pedir alimentos? Só existe esse dever para casamento, ou para união estável também?
Em ambos os casos (casamento e união estável), trata-se de assistência moral e material. Por isso costuma-se afirmar que durante o casamento não existe a obrigação alimentar e sim o dever de mútua assistência. Mas essa afirmativa merece algumas observações: Durante o casamento ou a união estável o que existe entre os cônjuges e companheiros é mesmo o dever de mútua assistência. Mas é possível que,?mesmo no decorrer do casamento ou da união estável, aquele cônjuge ou companheiro que não venha seguindo com seu dever de assistência dentro de seus rendimentos, seja acionado pelo outro cônjuge ou companheiro com?pedido de alimentos?segundo o rito/procedimento da Lei de Alimentos (5.478, de 25 de julho de 1968). Em outras palavras, cabe pedido de?alimentos?mesmo que o cônjuge ou companheiro estejam convivendo na mesma casa.
40. É permitido forçar o cônjuge a seguir todos os deveres do casamento? E em caso de descumprimento do dever de fidelidade recíproca, a pessoa traída tem direito a ser indenizada?
Não é permitido forçar outra pessoa a seguir os deveres do casamento; a única saída possível se não estiver satisfeita/o, é propor uma ação de separação ou divórcio. No caso de violação ao dever de fidelidade recíproca, por si só, não acarreta o dever de indenizar. O direito à indenização por dano moral?só nasce quando a infidelidade conjugal faz com que o outro cônjuge passe por sofrimento excessivo, humilhação ou constrangimentos que vão além do mero desgosto e mágoa comuns e normais ao término de qualquer relacionamento. Em outras palavras, quando a infidelidade de um dos cônjuges durante o casamento se desdobra em situações humilhantes, causando excessivo sofrimento físico e moral que interferem intensamente no comportamento psicológico do outro, abre-se margem para que o cônjuge inocente requeira a reparação civil através de uma ação própria no Juízo Cível. A ação indenizatória deve ser movida contra o cônjuge infiel,e não contra terceira pessoa cúmplice da traição por falta de previsão legal neste sentido. Todavia, como a infidelidade não é suficiente para configurar o dano moral, torna-se indispensável que o autor da ação indenizatória prove a presença de todos os elementos necessários à responsabilização civil, quais sejam: a conduta dolosa ou culposa, o dano e o nexo causal entre um e outro. A ausência de tais elementos acarretará na improcedência do pedido.
Filiação e Parentesco
1. Camila comparece ao seu escritório na intenção de elaborar um contrato de “barriga de aluguel”, onde vai ser a gestante do filho de Joana, amiga de sua prima. Camila diz que aceita realizar o ato sob a condição de contraprestação de R$ 15.000,00, o que é aceito por Joana. Você como advogado de Camila, como procederia com o contrato?
Não procederia com a elaboração do contrato por dois motivos. Primeiro porque tal contrato não pode obter fins lucrativos, como pretendem as partes. Ademais, a cedente do útero deve pertencer à família da genetrix até o quarto grau, então, deve haver autorização do Conselho Regional de Medicina antes de realizar o ato. Vide item VII, 1 e 2 da Resolução 2.168/2017 do CFM.
2. João comparece ao seu escritório informando que descobriu ser o genitor de Caio, hoje com 4 anos de idade. João teve relacionamento amoroso com Carla, genitora de Caio a aproximadamente 4 anos atrás, porém esta acreditou que seria filho de Daniel, seu atual companheiro. João realizou exame de DNA e confirmou que é pai de Caio, então João lhe procura com o objetivo de reconhecer Caio como filho e afastar a paternidade de Daniel, tendo em vista que este não é pai biológico. Você, como advogado de João, como o orientaria?
Diria a João que é impossível afastar a paternidade de Daniel, tendo em vista que entre eles possui forte vínculo de afeto, uma vez que Daniel desempenhou papel de pai durante toda a vida da criança, não podendo simplesmente tirar a paternidade somente pelo fato de não obter vínculo genético. Diria, ainda, que é possível ingressar com ação de investigação de paternidade para João ser reconhecido como pai também, porém sem afastar a paternidade de Daniel. Neste caso é possível que Caio tenha o sobrenome dos dois pais em sua certidão, restando caracterizada a multiparentalidade, sendo uma biológica e outra socioafetiva.
3. Camila e Caio é um casal que sonha em ter filhos, entretanto, devido a problemas de saúde, ela é incapaz de engravidar. Então o casal procura uma clínica especializada em reprodução assistida e questiona se é possível outra mulher gestar e a criança obter o DNA deles. Você como atendente da clínica, como os orientaria?
Diria que isso é possível por meio da reprodução assistida homóloga, técnica em que é utilizado o material genético dos donos do projeto parental. Assim, a criança obterá o DNA do casal. Para isso é necessário o consentimento livre e esclarecido de todos os envolvidos.
4. José comparece ao seu escritório dizendo que descobriu que seu filho Caio de 10 meses com Joana na realidade não é seu, e sim de Diego, que mantinha um relacionamento extraconjugal com Joana. José pretende afastar a paternidade, retirando seu nome na certidão da criança, alegando que foi induzido a erro ao registrar um filho que não é seu. Como advogado de José, como o orientaria?
Ajuizaria ação negatória de paternidade cumulada com retificação de registro civil. É possível que a paternidade seja afastada se o reconhecimento for fruto de vício do consentimento. No presente caso José reconheceu Caio pois achou que era seu filho, mas na verdade estava sendo traído e descobriu depois de 10 meses que Caio na verdade era fruto de relação extraconjugal, fazendo com que fosse induzido a erro no momento do registro. Modelo de ação negatória de paternidade.
5. Considerando o conteúdo estudado, qual a ligação entre o modelo eudemonista de família e o conceito atual de parentesco? Qual a importância do estudo do parentesco para o Direito de Família?
O modelo eudemonista de família consiste em “Não é mais o indivíduo que existe para a família e para o casamento, mas a família e o casamento existem para o seu desenvolvimento pessoal, em busca de sua aspiração à felicidade” . Assim, atual o conceito de parentesco aceita a socioafetividade em suas modalidades, de modo que além do natural e do civil, o Código Civil de 2002 deixou “resultante de outra origem” como norma genérica que, interpretada segundo o modelo atual de sociedade, encaixa perfeitamente a afetividade como origem de parentesco. Segundo Orlando Gomes: Reveste-se de grande importância prática, porque a lei lhe atribui efeitos relevantes, estatuindo direitos e obrigações recíprocos entre os parentes, de ordem pessoal e patrimonial, e fixando proibições com fundamento em sua existência. Têm os parentes direito à sucessão e alimentos, e não podem casar uns com os outros, na linha reta e em certo grau da colateral. O parentesco é importante ainda em situações individuais regidas por outros ramos do Direito, como o processual e o eleitoral. Dessarte, a atenção às mudanças sociais é fundamental para a interpretação correta das normas do Direito de Família, ainda que em um assunto aparentemente simples como o conceito de parentesco. FACHIN, Luiz Edson. Elementos críticos do direito de família: curso de direito civil. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. p. 10. Apud Ibidem, p. 299.
6. Josué é casado com Nilene e possui uma filha chamada Jalila. O irmão do pai de Josué chama-se Bruno e tem um filho chamado Leandro. Qual é o grau de parentesco entre Leandro e Bruno com Nilene e Josué?
Os arts. 1.591 e 1.592 do Código Civil de 2002 definem o parentesco, e, segundo o § 1º do art. 1.595 do mesmo diploma, o parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, descendentes e irmãos do cônjuge ou companheiro. Assim, Nilene não é parente de Leandro ou Bruno. Já Josué é primo de Leandro (parentesco de 4º grau colateral) e sobrinho de Bruno (parentesco de 3º grau colateral).
7. Tatjana foi criada por Marli (mãe biológica) e Sérgio (pai registral). Ao completar 18 anos, descobriu que poderia ser filha de Januário, antigo namorado de sua mãe. Desse modo, entrou com ação de investigação de paternidade em face de Januário mas alegou que não gostaria que seu vínculo com Sérgio fosse quebrado. O juiz deu procedência à ação, e Tatjana estranhou ao ver sua nova certidão de nascimento, uma vez que passou a constar como seus pais tanto Sérgio como Januário. Comente a decisão do juiz fundamentando.
A decisão foi correta uma vez que a partir da tese estabelecida pelo STF em repercussão geral, no Recurso Extraordinário n.º 898.060/SC, Tribunal Pleno, de Relatoria do Ministro Luiz Fux, com julgamento em 21.09.2016, publicado no seu informativo n. 840, o ordenamento jurídico brasileiro passou a aceitar a multiparentalidade. Assim, o tempo em que foi criada por Sérgio e o afeto cultivado foi respeitado bem como as consequências civis da filiação, mantendo-o como pai afetivo de Tatjana. Já por parte de Januário, este passa a ter direitos e deveres provindos da paternidade, tanto afetivos e psicológicos como econômicos e alimentares, conforme necessidade e possibilidade dos envolvidos.
8. Quais as consequências do reconhecimento do princípio da afetividade no Direito de família?
“Um vasto mosaico de entidades familiares foi reconhecido, uniões livres (homo e heteroafetivas) e parentescos vincados apenas por laços afetivos passaram a ser vistos com maior dignidade. A igualdade e a liberdade foram gradativamente conferidas aos relacionamentos e alteraram o quadro de estabilidade anterior, uma vez que a qualidade dos vínculos passou a ser objeto de análise constante. Estas consequências acabaram por gerar diversas uniões, separações, novas uniões em um quadro de combinações e recombinações sem precedentes. A instabilidade alcançou os relacionamentos familiares, outrora tidos como exemplos de segurança e de estabilidade. O Direito, permeável à realidade que lhe é subjacente, sofreu o influxo dessa mudança, sendocada vez mais demandado por conflitos indicadores deste outro cenário que se apresentava. A cultura jurídica brasileira, entretanto, ainda está baseada em um Direito de matriz moderna, precipuamente formal, com forte relevância da lei na definição do que se entende por Direito, em vista do que o diálogo com esta pulsante realidade em movimento não foi tranquilo. [...] Os princípios constitucionais de liberdade, igualdade, dignidade e solidariedade incidiram no direito de família, permitindo a releitura de diversas categorias jurídicas, muitas delas mais aptas às demandas da plural e fluida sociedade do presente. A aproximação com a experiência concreta fez o Direito perceber a relevância que era socialmente conferida à afetividade, mesmo com o paralelo avanço de técnicas científicas que favoreciam a descoberta dos vínculos biológicos” . CALDERÓN, Ricardo Lucas. Genjurídico.com.br. Princípio da afetividade no direito de família. 26.10.2017. Disponível em: . Acesso em: 20.5.2019.
9. Joana teve seu primeiro filho João recentemente, por mais que saiba quem é o pai, Daniel, se recusa a reconhecer voluntariamente a criança. Joana comparece ao seu escritório com o questionamento de como deve proceder para que seu filho tenha o nome de seu genitor na certidão de nascimento. Você como advogado (a), como orientaria sua cliente?
Ajuizar ação de investigação de paternidade, com fulcro nos artigos 1.606 do Código Civil e artigo 227, §6º da Constituição Federal de 1988. Modelo de ação de investigação de paternidade abaixo.
10. Joana comparece sozinha ao cartório de registro civil para registrar seu filho portando apenas seus documentos. Ela não é casada e busca registrar a criança em seu nome e no nome do genitor. Você como oficial do cartório, procederia com o registro da criança? Justifique.
Não, pois trata-se de ato personalíssimo e apenas com o pai presente ou portando uma procuração específica a criança poderá ser registrada em nome do genitor. (art. 59 da LRP). Nesse caso seria possível o registro apenas em nome da mãe.
11. Joana tem 15 anos e comparece ao seu escritório dizendo que seu pai está tentando reconhecê-la como filha. Ocorre que por diversos motivos ela não quer ser reconhecida por ele. Você como advogado como orientaria sua cliente? Há possibilidade de Joana negar esse reconhecimento? Justifique.
Sim, é possível a impugnação e rejeição do reconhecimento sem a necessidade de fundamento através da ação de contestação ou impugnação de reconhecimento, no prazo de 4 anos a contar da maioridade ou antes, por meio de sua mãe ou representante legal.
12. Alfredo namorava Raquel e durante o relacionamento nasceu Fernando. Alfredo acreditou que Fernando era seu filho então procedeu com o registro da criança. Três anos depois o relacionamento chegou ao fim e Raquel confessou que mantinha relacionamento extraconjugal com Diego, afirmando que este é pai de Fernando. Então Diego ingressou com uma ação de investigação de paternidade cumulado com pedido de alteração no registro civil para retirar o sobrenome de Alfredo na certidão de Fernando. Logo quando chega a carta de citação na casa de Alfredo, ele te procura desesperado para saber como deve proceder, tendo em vista que por mais que não haja vínculo biológico, ama a criança como fosse seu filho, afinal acompanhou a gravidez e fez papel de pai por três anos, não desejando “perder” seu filho. Você como advogado de Alfredo, como o aconselharia?
Em contestação alegaria que há relacionamento socioafetivo forte entre Alfredo e Fernando, dizendo que o amor é recíproco entre pai e filho, não podendo simplesmente afastar a paternidade de Fernando pelo fato de não ter vínculo biológico. Esqueleto da contestação.
13. Caio comparece ao seu escritório desejando se divorciar de sua mulher Helena. Ele lhe informa que ela está de acordo com o rompimento do casamento. Eles são casados pelo regime de comunhão universal de bens, possuem um filho de 15 anos, uma casa e um carro. Estão de acordo com a partilha. Você, como advogado de Caio, como procederia?
Por mais que estejam de acordo com a separação e a partilha de bens, o divórcio precisa ser realizado de forma judicial, tendo em vista que há menor envolvido e é obrigatória a intervenção do Ministério Público, nos termos do artigo 178, II do CPC. Ademais, o casamento civil é dissolvido pelo divórcio, conforme rege o artigo 226, § 6º da Constituição Federal de 1988. No caso em tela, se não houvesse filho menor, poderia ser feito em serventia extrajudicial, conforme a Lei n.º 11.441/2007. Então a ação judicial deve ser conforme artigos 731 e seguintes do Código de Processo Civil.
14. Joana comparece sozinha ao cartório de registro civil para registrar seu filho portando apenas seus documentos. Ela não é casada e busca registrar a criança em seu nome e no nome do genitor. Você como oficial do cartório, procederia com o registro da criança? Justifique.
Não, pois trata-se de ato personalíssimo e apenas com o pai presente ou portando uma procuração específica a criança poderá ser registrada em nome do genitor. (art. 59 da LRP). Nesse caso seria possível o registro apenas em nome da mãe.
15. Caio reside no Rio de Janeiro e comparece ao cartório de registro civil das pessoas naturais de sua cidade com o objetivo de dar início ao procedimento para indicação de seu suposto pai, residente em São Paulo. No decorrer da conversa com o oficial do cartório, Caio diz que ajuizou ação de investigação de paternidade, porém quer gozar das facilidades do provimento 16/2012 do CNJ, pois acredita que será mais rápido que o processo judicial. Você, como oficial do cartório de registro civil, como orientaria Caio?
De acordo com o artigo 5º provimento 16/2012 do CNJ, não poderá utilizar o provimento se já houver ação judicial para a mesma finalidade. Então, o oficial do cartório deve dizer a Caio que não procederá com a indicação de seu suposto pai, tendo em vista o ajuizamento de ação de investigação de paternidade, devendo este correr exclusivamente na Justiça.
16. Caio ajuizou ação de investigação de paternidade contra seu suposto pai, que nega reconhecê-lo de forma voluntária. Entretanto, Caio também gostaria de ser reconhecido como filho socioafetivo de João, que o criou desde a infância. Então comparece ao cartório de registro civil das pessoas naturais para dar início ao procedimento do provimento 63/2017 do CNJ. Você, como oficial do cartório, procederia com o pedido de Caio?
Sim, de acordo com o artigo 15 do provimento 63/2017 do CNJ, é possível que o procedimento de reconhecimento socioafetivo corra junto com ação judicial de investigação de paternidade, então o oficial do cartório de registro civil deve proceder com o requerimento de Caio, mesmo que haja ação Judicial em curso para reconhecimento biológico de filho.
17. Maurício, 35 anos, é filho de Mauro e Emília. Ou, ao menos, era o que Maurício pensava até o mês passado, quando, após ter ajudado sua filha com a tarefa escolar, percebeu que a sua característica de queixo partido só era possível se sua mãe ou seu pai também a possuíssem. No entanto, Mauro nem Emília a possuem. Há duas semanas, aproveitando uma reunião familiar, reparou nos queixos de seus irmãos e percebeu que eram semelhantes aos de seus pais. Ao final da festa, perguntou aos pais se havia sido adotado, e, apesar de encontrar resistência, descobriu que era fruto de uma relação de uma noite de sua mãe, anterior ao casamento com seu pai, mas que, apesar disso, havia sido e sempre seria considerado filho de Mauro, afinal, este registrara-o e o criara. Maurício te procura para saber se é possível descobrir e ser reconhecida sua filiação biológica sem que deixe de constar em seu registro Mauro como seu pai. O que você aconselharia a Maurício?
A busca da origem genética é direito de personalidade (Parte Geral do Código Civil) que provém do direito à dignidade da pessoa humana disposto no inciso III do art. 1º da CF/88. Além disso, a jurisprudência vem admitindo a multiparentalidade com base no princípio da afetividade

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