Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
OBSTETRÍCIA – SANGRAMENTOS DE PRIMEIRA METADE ABORTAMENTO Qualquer nascimento acontecido antes de 20-22 semanas ou com concepto abaixo de 500g Pode ser classificado em: Precoce, quando acontece antes de 12 semanas Tardio, quando acontece após a 12a semana Esporadico: espontâneo, sem qualquer fator causar Provocado: qualquer um que não seja espontâneo (seja por ato medico ou criminoso) Habitual ou recorrente: 3 ou mais abortamentos Completo, Em curso (inevitável), Incompleto, ameaça, infectado. Perdas isoladas abaixo de 12 semanas não exigem investigação., um aborto nestes termos não aumenta a chance de outros abortamentos. As causas mais comuns de perda esporádica são as aneuplodias, mais especificamente, as trissomias e, ainda mais especificamente, a trissomia do 16. O abortamento recorrente é usualmente causado por malformacoes uterinas, incompetencia istmo-cervical, sindrome do anticorpo antifosfolipideo Incompetencia istmo-cervical: Abortamentos tardios com fetos vivos, morfologicamente normais, e dilatacao indolor. No USG, o colo é visto aberto, fino. Havendo historia sugestiva, a cerclagem deve ser realizada entre 12 e 16 semanas, antes que o colo comece a dilatar, com fio inabsorvível, tecnica de McDonald (sutura em bolsa ao redor do colo). Sindrome do anticorpo antifosfolipídeo: abortamento pode ser precoce, o feto é morto com colo fechado. A sindrome é diagnosticada com um criterio clinico associado a um laboratorial. Encontrando anticorpo antifosfolipideo, qualquer um dos 3, deve-se repetir e confirmar: anticardiolipina, anti-beta2- glicoproteina ou anticoagulante lúpico. O achado laboratorial precisa ser Anencefalia, feto fruto de estupro e havendo risco à vida materna (dois medicos tem que assinar o laudo) Na anencefalia, a gestacao tem que ter mais que 12 semanas e pode ser feita a antecipacao do parto em qualquer idade gestacional, mesmo acima das 20-22 semanas. No estupro, o aborto só pode ser realizado até as 20 semanas. Não é exigido laudo pericial, boletim de ocorrencia ou decisão judicial, basta o relato de que a gestacao foi fruto de estupro e ter menos de 20 semanas. O medico não deverá exigir nenhum documento. A própria paciente assinará os termos. Havendo risco à vida materna, pode ser realizado a qualquer tempo. repetido e confirmado (duas titulações elevadas de qualquer dos anticorpos). O próprio abortamento é tido como um evento clínico trombotico (o feto morre por trombose placentaria). Três perdas antes de 10 semanas ou uma perda com mais de 10 semanas caracteriza o evento clínico. O tratamento preventivo é feito com AAS e heparina (não fracionada ou BPM). O primeiro passo ao examinar uma mulher com cólica e sangramento durante a gestação é fazer o exame especular. De acordo com a forma clínica, o colo se apresenta aberto ou fechado: Colo fechado – abortamento é completo, ameaça de abortamento ou abortamento retido. Colo aberto – abortamento incompleto, inevitável ou infectado. INCOMPLETO Houve saída de conteúdo Útero com tamanho reduzido, menor do que o esperado. O colo ainda está aberto, pois ainda há conteúdo na cavidade Presença de restos ovulares, endométrio heterogêneo e maior que 15mm INEVITÁVEL ou EM CURSO O colo está aberto, mas o útero ainda continua com o mesmo tamanho, pois não houve saída de conteúdo. É, no entanto, impossível interromper o processo de expulsão do feto, mesmo com embrião vivo. O que diferencia o abortamento inevitável da incompetência istmo-cervical é a dor e sangramento que estão presentes no abortamento, mas ausentes na incompetência INFECTADO Clínica infecciosa Colo aberto O tratamento deve ser feito com clindamicina e gentamicina, associados ao esvaziamento uterino precoce. COMPLETO Útero menor do que o esperado Colo fechado Clínica de sangramento e cólica que reduziram após eliminação USG mostra endométrio menor que 15mm Alta médica com orientações AMEAÇA Colo fechado e feto vivo Útero compatível com a idade gestacional Não necessita de internação Alta médica com repouso relativo, analgesia e orientações RETIDO Colo fechado e feto morto O útero pode estar menor do que o esperado se a morte fetal ocorreu há algum tempo. Normalmente vem com USG sem bcf. Incompleto, infectado, inevitável ou retido tem terapêutica de esvaziamento uterino. Até as 12 semanas, mesmo que o feto esteja intra-utero, pois não há formação óssea e, portanto, nao há risco maior de perfuração uterina. AMIU – aspiração manual intra uterina – risco de lesão e perfuração é menor que a curetagem. Funciona bem em úteros pequenos, de até 12 semanas. Após 12 semanas, como há formação óssea, não é possível realizar curetagem. Abortos retidos ou inevitáveis com mais de 12 semanas precisam ter eliminação do feto antes de eventual esvaziamento. Usa-se misoprostol para dilatar e, após a eliminação, se o endométrio estiver acima de 15mm, esvaziar. Em todos os casos de abortamento deve ser realizada a investigação de tipo sanguíneo e COOMBS indireto para avaliar incompatibilidade e necessidade de administração da imunoglobulina. DOENÇA TROFOBLASTICA GESTACIONAL Nesta patologia há degeneração hidrópica do trofoblasto, com a formação de múltiplas vesículas. As degenerações podem ser benignas ou malignas: mola hidatiforme e mola invasora, coriocarcinoma (neoplasia trofoblastica). O tipo histológico mais comum no caso de degeneração maligna é a mola invasora. “a invasora é a que mais invade”. Na mola completa, um espermatozoide normal fecunda um óvulo vazio, sem carga genética. Todo o material genético é, portanto, paterno. Normalmente é um 46xx, advindo da duplicação de um espermatozoide 23x. Na mola completa, não há formação de tecido embrionário e um a cada cinco casos sofrerão malignização. Na mola incompleta, há fecundação de um óvulo normal por dois espermatozoides, formando um “zigoto” triploide, que forma tecidos fetais. O risco de malignização na incompleta é menor do que na mola completa, pois aqui o tecido sofreu alguma diferenciação por conter material materno e paterno. Diagnostico O quadro clínico é de sangramento de repetição, com eventual saída de vesículas, dor em cólica, hiperêmese e tamanho uterino maior do que o esperado para a idade gestacional. Pode haver quadro de tireotoxidade e hipertensão precoce. O quadro é hiper: hiperemese, hiper-útero, hiper-sangramento, hipertireoidismo (HCG muito alto faz mimetismo molecular atuando como o TSH no estímulo à tireoide), hipertensão precoce (antes de 20 semanas). O achado ultrassonográfico é de múltiplas vesículas numa imagem em flocos de neve, em nevasca, tempestade de neve. Tratamento / acompanhamento Esvaziamento uterino realizado por vácuo-aspiração elétrica, idealmente, ou AMIU, alternativamente. A curetagem não deve ser realizada pelo risco de embolização neoplásica. Envio do material à biópsia para confirmação do diagnóstico. Paciente com mais de 40 anos e com prole definida pode se beneficiar de histerectomia neste momento, pois, lembre-se que 20% das molas completas evoluirão para neoplasia maligna. Após a histerectomia deve ser realizado controle de cura, pois podem haver metástases. Dosagem semanal de HCG quantitativo (dia zero é o dia do esvaziamento). Em média, 8-10 semanas após, o HCG irá negativar. Havendo negativação em 3 valores com intervalo semanal, passa-se a dosar mensalmente por 6 meses. Sugerem malignização: curva ascendente, estável do HCG, positividade do HCG após 6 meses. Curva ascendente: três valores com aumentos sucessivos ou duas semanas em ascensão. Platô: quatro valores iguais ou próximos (10% de variação), estabilização. Positividade do HCG em 6 meses – esse critério tem sido questionado poralgumas fontes. Com malignização, institui-se quimioterapia Metotrexato é o quimioterápico utilizado em monoterapia É importantíssimo estabelecer contracepção de alta eficácia, para que uma eventual gravidez nao mascare a alteração do marcador de malignização (HCG). Não deve ser utilizado DIU, pois a cavidade uterina se encontra comprometida. GRAVIDEZ ECTÓPICA Gravidez em que a implantação se dá fora da cavidade uterina, podendo ser, inclusive, cervical ou cornual (implantação no colo ou corno uterino). Na maior parte das vezes é tubária, na região da ampola. Com 8-10 semanas, se a ectópica á na tuba, há distensão e rotura. O ultrassom mostra massa anexial e útero vazio. Uma ectópica abdominal pode evoluir até mais de 20 semanas, quando se palpam partes fetais facilmente no abdome. Os fatores de risco para gravidez ectópica são alterações na anatomia ou na função tubária (infecção pélvica anterior, recanalização, ectópica previa, endometriose, aderência pélvica, tabagismo altera movimento ciliar). A presença de DIU também aumenta o risco, pois há ovulação. A tríade é: atraso menstrual, dor abdominal e sangramento. Grito de Douglas ou Sinal de Proust: Abaulamento e dor no fundo de saco posterior se houver sangue na cavidade peritoneal – ectópica rota. Diferenciar a gravidez incipiente – até 4 semanas, quando pode não aparecer o saco gestacional ao ultrassom – da ectópica, quando o valor do beta HCG já é superior a 1500 e o útero ainda está vazio. Tratamento Expectante: existe, na teoria, mas não na prática. Só pode ser realizada em paciente assintomática ou oligossintomatica com várias titulações aferidas com queda do beta HCG, ou seja: ectópica integra, paciente estável e queda do beta HCG documentada. Farmacológico: metotrexate, injeção local dentro do saco ectópico ou dose única IM (50mg/m²). Ectopica íntegra, estabilidade hemodinâmica, bom prognóstico (massa menor que 3,5 - 4cm, batimentos cardíacos fetais negativos, beta HCG menor que 5.000). Acompanhamento: dosagem do beta HCG 4 e 7 dias após a aplicação, comparando a dosagem aos 7 dias com a titulação aos 4 dias. A dosagem aos 7 dias tem que cair ao menos 15% em relação à outra. Se não houve queda e a paciente ainda preenche os critérios, pode ser realizada nova aplicação de metotrexate em até 2 tentativas. Cirurgia conservadora: salpingostomia Ectopica íntegra, paciente desejosa de outra gestação no futuro. Pode ser realizada a salpingostomia por vídeo com lavagem da tuba e cicatrização por segunda intenção. O risco é muito elevado em desenvolver nova ectópica. Cirurgia radical: salpingectomia Gestação ectópica rota exige a retirada da trompa. Pode ser feita a salpingectomia por vídeo se estiver estável hemodinamicamente. Havendo instabilidade, laparoscopia.
Compartilhar