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DIREITO DE VIZINHANÇA

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CENTRO DE ENSINO SUERIOR DO VALE DO PARNAÍBA – CESVALE 
BACHARELADO EM DIREITO 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I - PROCESSO DE CONHECIMENTO 
5° PERÍODO / NOITE 
 
 
 
 
 
 
 
MARIA DO AMPARO DE ABREU BRITO 
 
 
 
 
DIREITO DE VIZINHANÇA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TERESINA – PI 
2019 
 
 
Maria do Amparo de Abreu Brito 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITO DE VIZINHANÇA 
 
Trabalho acadêmico apresentado à disciplina Direito 
Civil IV – Direitos Reais do Centro de Ensino 
Superior do Vale do Parnaíba _ CESVALE como 
requisito para obtenção de nota. 
Professor: Dr. José James Gomes Pereira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TERESINA-PI 
2019 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 3 
2 DO USO ANORMAL DA PROPRIEDADE ................................................................ 3 
3 DAS ÁRVORES LIMÍTROFES ................................................................................... 4 
4 DA PASSAGEM FORÇADA E DA PASSAGEM DE CABOS E TUBULAÇOES DAS 
ÁGUAS ............................................................................................................................... 4 
6 DOS LIMITES ENTRE PRÉDIOS E DO DIREITO DE TAPAGEM ..................... 8 
7 DO DIREITO DE CONSTRUIR .................................................................................. 10 
8 DIREITO DE CONSTRUIR ......................................................................................... 10 
8.1 Limitações e responsabilidades ................................................................................. 10 
8. 2 Devassamento da propriedade vizinha ..................................................................... 10 
8.3. Águas e beirais ............................................................................................................ 11 
8.4. Paredes divisórias ....................................................................................................... 11 
8.5 Uso do prédio vizinho .................................................................................................. 11 
9. CONCLUSÃO ................................................................................................................ 12 
REFERENCIAS 
3 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho visa discorrer sobre o direito de vizinhança e suas seções 
normativas, elencando os direitos e deveres dos moradores quando se trata de respeitar e 
limitar suas ações ao se deparar com propriedades vizinhas. 
Para garantir a harmonia da convivência em grupo, diante dos mais variados conflitos 
existentes, fez-se necessário estabelecer regras de convívio que buscassem solucionar algumas 
situações cotidianas enfrentadas pelos proprietários de imóveis vizinhos. 
Para isso foram criadas normas que visam conduzir a coabitação pacífica entre 
vizinhos e atender a função social da propriedade. Tais previsões encontram-se no art. 1.277 
ao 1.313, do Código Civil de 2002. O direito de propriedade é assegurado na Constituição 
Federal, porém ela mesma estabelece limites fundamentais a um convívio social pacífico, ao 
mesmo tempo que assegura as restrições legais referentes aos direitos de vizinhança. 
Os direitos de vizinhança são limitações impostas para se ter uma boa convivência 
social, que se inspira na lealdade e boa-fé. São obrigações propter rem, porque vinculam os 
conflitantes, acompanhando a coisa, podendo ser transferida ao sucessor a título particular. 
Por se transferir a eventuais novos ocupantes do imóvel, também é chamada de obrigação 
ambulatória. 
 
2 DO USO ANORMAL DA PROPRIEDADE 
 
Dispõe o Código Civil, nos artigos 1277 a 1284, sobre o uso anormal da propriedade 
que, nas lições de Pablo Stolze, é o uso que viola o princípio da função social da 
propriedade. 
Situado no capítulo que trata dos direitos de vizinhança, o uso anormal da 
propriedade é aquele que perturba a saúde, a segurança e o sossego daqueles que possuem 
propriedade vizinha. 
Veja-se, assim, o que dispõe o artigo 1277, in verbis : 
Art. 1.277. O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito de fazer cessar as 
interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos que o habitam, 
provocadas pela utilização de propriedade vizinha. 
Parágrafo único. Proíbem-se as interferências considerando-se a natureza da utilização, a 
localização do prédio, atendidas as normas que distribuem as edificações em zonas, e os 
limites ordinários de tolerância dos moradores da vizinhança. 
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983995/c%C3%B3digo-civil-lei-10406-02
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10649821/artigo-1277-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10649530/artigo-1284-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002
4 
 
Combate-se o uso anormal da propriedade com a ação de dano infecto (dano 
iminente), prevista no artigo 1280, CC, que dispõe: 
Art. 1.280. O proprietário ou o possuidor tem direito a exigir do dono do prédio vizinho a 
demolição, ou a reparação deste, quando ameace ruína, bem como que lhe preste caução 
pelo dano iminente. 
 
3 DAS ÁRVORES LIMÍTROFES 
 
 Conforme o art. 1.282 do Código Civil: “A árvore, cujo tronco estiver na linha 
divisória, presume-se pertencer em comum aos donos dos prédios conflitantes” 
 Para Carlos Roberto Gonçalves (2017), com isso, determina-se a presunção de 
condomínio, presumindo, no entanto, prova em contrário. A árvore que não tem seu tronco na 
linha divisória pertence ao dono do prédio em que ele estiver. 
 Sendo comum a árvore, os frutos e o tronco pertencem a ambos os proprietários. Não 
pode um deles arrancá-la sem o consentimento do outro, devendo-se recorrer ao judiciário em 
caso de conflito. 
 O art. 1.284 do Código Civil dispõe sobre os frutos que caírem naturalmente: 
pertencem ao dono do solo onde tombarem, “ se este for de propriedade particular”. O dono 
da árvore pode apanhar os frutos antes de naturalmente caírem, uma vez que, só pertencem ao 
dono do solo os frutos que despencarem sem sua provocação. Assim, entende-se que o 
vizinho não tem o direito de sacudir a árvore para que o fruto caia, nem de colher os 
pendentes, mesmo que o galho invada seu terreno. Se o fruto cair em terreno público, o 
proprietário continuará sendo seu dono, cometendo furto quem deles se apoderar. 
 De acordo com o art. 1.283 do Código Civil, “as raízes e os ramos de árvore, que 
ultrapassarem a estrema do prédio, poderão ser cortados, até o plano vertical divisório, pelo 
proprietário do terreno invadido”. Segundo Carlos Roberto Gonçalves (2017), as raízes e 
ramos podem ser cortados pelo proprietário do terreno invadido, pela municipalidade ou pela 
empresa fornecedora de energia elétrica. 
 
5. DAS ÁGUAS 
 
Por constituírem partes integrantes do Bem Ambiental (art. 225 da CF/1988), as águas 
merecem ampla proteção, para atender à função socioambiental da propriedade. Quanto ao 
direito de vizinhança, há regras específicas entre os arts. 1.288 a 1.296 do CC/2002, 
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10649663/artigo-1280-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983995/c%C3%B3digo-civil-lei-10406-02
5 
 
dispositivos que devem necessariamente ser analisados de acordo com a proteção 
transgeracional ambiental. 
Inaugurando o tratamento do direito de vizinhança, determina o art. 1.288 do Código 
Privado que o dono ou o possuidor do prédio inferior é obrigado a receber as águas que 
correm naturalmente do superior, não podendo realizar obras que prejudiquem o seu fluxo. 
Isso justifica a instituição da passagem obrigatória de tubulações, nos termos do art. 1.286 do 
CC/2002. Entretanto, enuncia ainda o art. 1.288 da codificação material que a condição 
natural e anterior do prédio inferior não pode ser agravada por obras feitas pelo dono ou 
possuidordo prédio superior. 
Sob outro prisma, se, eventualmente, o proprietário do prédio inferior realizar obras 
que impeçam o escoamento das águas, caberá ação visando a afastar tal obstrução, sem 
prejuízo de eventuais perdas e danos, pelo ato ilícito praticado. Nos casos de escoamento 
artificial de águas, de um prédio superior para outro inferior, poderá o dono deste reclamar 
que se desviem, ou se lhe indenize o prejuízo que sofrer. Da indenização será deduzido o 
valor do benefício obtido, conforme preconiza o art. 1.289 do CC, incluído seu parágrafo 
único. Entretanto, outra solução seria o enquadramento da hipótese no art. 1.286 do CC/2002, 
que trata da passagem de tubulações. Por esse caminho, a passagem pode ser tida como 
obrigatória, levando-se em conta a finalidade social dos imóveis envolvidos. 
O art. 1.290 da codificação material privada trata das nascentes das águas e do 
escoamento das águas pluviais. Determina esse comando legal que o proprietário de nascente, 
ou do solo onde caem águas pluviais, satisfeitas as necessidades de seu consumo, não pode 
impedir ou desviar o curso natural das águas remanescentes pelos prédios inferiores. 
Confrontando-se as duas normas, percebe-se que a regra do Código Civil está de 
acordo com o que consta do art. 90 do Código de Águas, pelo qual “O dono do prédio onde 
houver alguma nascente, satisfeitas as necessidades de seu consumo, não pode impedir o 
curso natural das águas pelos prédios inferiores”. 
Em conclusão do que consta de todos esses dispositivos, o proprietário do imóvel da 
nascente é obrigado a permitir o escoamento das águas pelos prédios inferiores, pois o curso 
de água que do seu imóvel surge tem importante finalidade social. Essa preocupação com a 
coletividade também inspira o art. 94 do Código de Águas, segundo o qual o proprietário de 
uma nascente não pode desviar o seu curso quando desta se abasteça uma população. Vale 
dizer que o mesmo raciocínio de permissão serve, nos termos do Código Civil, para as águas 
pluviais, aquelas decorrentes das chuvas, conforme dispõe o art. 102 do Código das Águas. 
6 
 
Prevê ainda o Decreto-lei 24.643/1934 que as águas pluviais pertencem ao dono do 
prédio onde caírem diretamente, podendo ele dispor delas à vontade, salvo existindo direito 
em sentido contrário (art. 103, caput). A ressalva feita pela norma é que ao dono do prédio 
onde caírem as águas pluviais não é permitido: 
 1.º) desperdiçar essas águas em prejuízo dos outros prédios que delas se possam aproveitar, 
sob pena de indenização aos proprietários dos mesmos; 
2.º) desviar essas águas de seu curso natural para lhes dar outro, sem consentimento expresso 
dos donos dos prédios que irão recebê-las (art. 103, parágrafo único, do Decreto 
24.643/1934). 
A vedação da poluição das águas, conforme dispõe o § 1.º do art. 1.228 do CC/2002, 
consta igualmente do seu art. 1.291, pelo qual o possuidor do imóvel superior não poderá 
poluir as águas indispensáveis às primeiras necessidades da vida dos possuidores dos imóveis 
inferiores. A parte final do último dispositivo é altamente criticável, pois expressa que “(...) as 
demais, que poluir, deverá recuperar, ressarcindo os danos que estes sofrerem, se não for 
possível a recuperação ou o desvio do curso artificial das águas”. Ora, a lei está admitindo, em 
sua literalidade, a possibilidade de poluição de águas, tidas como não essenciais, algo 
inadmissível em tempos atuais, diante da constante preocupação com o Bem Ambiental, o que 
culmina na adoção dos princípios da precaução e da prevenção. Nesse contexto, o dispositivo 
acaba por ferir a ampla proteção legislativa do meio ambiente, sobretudo a que consta do art. 
225 da Constituição e da Lei 6.938/1981. 
Para tentar salvar o comando legal, na III Jornada de Direito Civil, aprovou-se o 
Enunciado n. 244 do CJF/STJ, prevendo que “O art. 1.291 deve ser interpretado conforme a 
Constituição, não sendo facultada a poluição das águas, quer sejam essenciais ou não às 
primeiras necessidades da vida”. Um dos autores da proposta que gerou o enunciado 
doutrinário é o desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e 
doutrinador Marco Aurélio Bezerra de Melo, que, em síntese, assim fundamentou suas 
conclusões: 
“Através do artigo em tela, estabeleceu o legislador como limite quantitativo e 
qualitativo para a descarga de quaisquer rejeito, as águas indispensáveis às primeiras 
necessidades da vida dos possuidores dos imóveis inferiores. Quanto às demais águas, 
eventualmente poluídas, ou seja, sem concorrência de culpa, trouxe a lume o princípio de 
direito ambiental denominado „poluidor-pagador‟, incumbindo ao particular ou empresa 
poluidora o custo total da despoluição provocada. (...) 
7 
 
O artigo em tela refere-se ao possuidor, dando ênfase, portanto, àquele que usa 
efetivamente o bem, explorando-o economicamente, podendo o mesmo confundir-se com a 
pessoa do proprietário, ou com a de qualquer outro possuidor em nome próprio ou alheio. Por 
outro lado, os tribunais têm entendido que a legitimidade para figurar no polo ativo da 
demanda é daquele que assume a qualidade de „vizinho‟ prejudicado pela interferência nociva 
das águas particulares, seja possuidor ou detentor a qualquer título. 
Hoje, no entanto, sabemos que os recursos naturais não são inesgotáveis, e que o 
desenvolvimento e o progresso dependem tanto de uma indústria forte e moderna, quanto da 
pureza da água dos rios públicos ou particulares, mantendo-se a integridade dos ecossistemas 
naturais. O direito ao meio ambiente sadio é direito fundamental previsto no art. 225 da 
Constituição da República, cabendo não só ao Estado defendê-lo, mas cada um tem o direito 
de exigir do Estado e de terceiros que se abstenham de agressões ao mesmo. A poluição capaz 
de afetar a vida dos possuidores contíguos ao imóvel poluente afeta ainda equilíbrio ecológico 
de grande área, daí porque o conceito de „ambiente‟ em casos tais deverá ser chamado a servir 
de solução, ampliando o conteúdo das normas de direito estritamente privado”. 
Superado o estudo desse polêmico dispositivo, dispõe o art. 1.292 do atual Código 
Privado que o proprietário tem o direito de construir barragens, açudes, ou outras obras para 
represamento de água em seu prédio. Se as águas represadas invadirem prédio alheio, será o 
seu proprietário indenizado pelo dano sofrido, deduzido o valor do benefício obtido. Mais 
uma vez deve ser dito que o direito de construção ou represamento não pode gerar danos ao 
meio ambiente, havendo necessidade da fiscalização das atividades pelas autoridades 
administrativas, com o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto ao Meio 
Ambiente (RIMA). O art. 1.293 do Código Civil de 2002 trata do direito à construção 
do aqueduto, canais de recebimento ou transporte das águas. É a redação literal do 
dispositivo: 
“Art. 1.293. É permitido a quem quer que seja, mediante prévia indenização aos proprietários 
prejudicados, construir canais, através de prédios alheios, para receber as águas a que tenha 
direito, indispensáveis às primeiras necessidades da vida, e, desde que não cause prejuízo 
considerável à agricultura e à indústria, bem como para o escoamento de águas supérfluas ou 
acumuladas, ou a drenagem de terrenos. 
§ 1.º Ao proprietário prejudicado, em tal caso, também assiste direito a ressarcimento pelos 
danos que de futuro lhe advenham 
da infiltração ou irrupção das águas, bem como da deterioração das obras destinadas a 
canalizá-las. 
8 
 
§ 2.º O proprietário prejudicado poderá exigir que seja subterrânea a canalização que 
atravessa áreas edificadas, pátios, hortas, jardins ou quintais. 
§ 3.º O aqueduto será construído de maneira que cause o menor prejuízo aos proprietários dos 
imóveis vizinhos, e a expensas do seu dono, a quem incumbem também as despesas de 
conservação”. 
Da leitura do comando legal, a conclusão é que o aquedutodeve atender a uma função 
social. Isso não afasta a possibilidade de fixação de uma indenização em favor dos vizinhos, 
se a sua instituição gerar prejuízos a outrem. O princípio da menor onerosidade também deve 
reger o instituto, o que resta claro pela sua instituição subterrânea. O regime do aqueduto 
instituído pelo Código Civil passou a ser o mesmo da passagem de cabos e tubulações, ou 
seja, próximo à passagem forçada, pois preceitua o art. 1.294 do CC que “Aplica-se ao direito 
de aqueduto o disposto nos arts. 1.286 e 1.287”. 
Em conclusão, o que se percebe é que também o aqueduto deixou de ser uma simples 
servidão, como dispunham os arts.117 a 138 do Código de Águas. Essa mudança de regime, 
passando a existir um sentido obrigatório, foi reconhecida na III Jornada de Direito Civil. Em 
complemento, na VII Jornada de Direito Civil, realizada em 2015, foi aprovado enunciado 
segundo o qual “na redação do art. 1.293, „agricultura e indústria‟ não são apenas 
qualificadores do prejuízo que pode ser causado pelo aqueduto, mas também finalidades que 
podem justificar sua construção” (Enunciado n. 598). 
Feitas tais considerações, ainda no que concerne ao aqueduto, determina o art. 1.295 
do CC que ele não impedirá que os proprietários cerquem os imóveis e construam sobre ele, 
sem prejuízo para a sua segurança e conservação. Obviamente que tais obras, sendo 
necessárias para que o aqueduto cumpra sua função social, não podem ser impedidas. Desse 
modo, prevê o mesmo comando legal que os proprietários dos imóveis poderão usar das águas 
do aqueduto para as primeiras necessidades da vida. 
 
6. DOS LIMITES ENTRE PRÉDIOS E DO DIREITO DE TAPAGEM 
 
Superado o tratamento das águas, o Código Civil de 2002 traz regras relativas ao 
limite entre prédios – em que realmente surgem vários confrontos entre os vizinhos –, e o 
direito de tapagem, que vem a ser o direito que o proprietário de um imóvel tem de cercar, 
murar, valar e tapar de qualquer modo o seu prédio urbano ou rural, nos termos do caput do 
art. 1.297 do Código Civil. Em continuidade, prevê ainda o último dispositivo citado que o 
proprietário pode constranger o seu confinante a proceder com ele à demarcação entre os dois 
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prédios, a aviventar rumos apagados e a renovar marcos destruídos ou arruinados, repartindo-
se proporcionalmente entre os interessados as respectivas despesas. Em suma, o artigo 
reconhece, em sua segunda parte, a possibilidade da ação demarcatória, assegurada ao 
proprietário, nos termos do art. 946, I, do CPC/1973 e repetido pelo art. 569, I, do CPC/2015: 
“para obrigar o seu confinante a estremar os respectivos prédios, fixando-se novos limites 
entre eles ou aviventando-se os já apagados”. A ação demarcatória continua a seguir o 
procedimento ou rito especial, na esteira das regras constantes entre os arts. 574 a 587 do 
CPC/2015, equivalentes, com alterações e supressões, aos arts. 950 a 966 do CPC/1973. O § 
1.º do art. 1.297 do CC/2002 dispõe a existência de um condomínio necessário entre os 
proprietários confinantes relativo aos intervalos, muros, cercas e os tapumes divisórios, sebes 
vivas, cercas de arame ou de madeira, valas ou banquetas – tapumes comuns ou ordinários. É 
importante salientar que a norma traz uma presunção relativa desse condomínio necessário, 
pois se admite prova em contrário (presunção iuris tantum). Conforme o trecho final do 
dispositivo, os condôminos são obrigados, de conformidade com os costumes da localidade, a 
concorrer, em partes iguais, para as despesas de sua construção e conservação. Como 
novidade na lei material, o § 2.º do art. 1.297 do CC determina que as sebes vivas, as árvores, 
ou plantas quaisquer, que servem de marco divisório, só podem ser cortadas, ou arrancadas, 
de comum acordo entre proprietários. Apesar desse reconhecimento legislativo, note-se que as 
sebes, as árvores e as plantas fazem parte da fauna, não sendo tolerável, em regra, a sua 
destruição, diante da proteção do Bem Ambiental. 
O § 3.º do art. 1.297 admite a construção de tapumes especiais para impedir a passagem de 
animais de pequeno porte, ou para outro fim. Essa construção pode ser exigida de quem 
provocou a necessidade deles, pelo proprietário, que não está obrigado a concorrer para as 
despesas. Encerrando o tratamento do direito de tapagem, sendo confusos os limites entre as 
propriedades, em falta de outro meio, se determinarão de conformidade com a posse justa (art. 
1.298 do CC). Pelo mesmo comando legal, não sendo essa posse justa provada, o terreno 
contestado se dividirá por partes iguais entre os prédios, ou, não sendo possível a divisão 
cômoda, se adjudicará a um deles, mediante indenização ao outro. Assim, a prioridade é a 
definição dos limites pela posse justa (art. 1.200 do CC). Não havendo tal prova, haverá 
determinação, em ação demarcatória, da linha divisória das propriedades. 
Percebe-se que o trabalho será de engenharia, a fim de se determinar por trabalho 
técnico qual a propriedade de cada um. Se a divisão da área não for cômoda, levando-se em 
conta a função social da propriedade e o caso concreto (particularmente o animus dos 
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envolvidos), caberá ação de adjudicação da área por um dos confinantes, sendo indenizado o 
outro. 
 
 
 
7. DOS LIMITES ENTRE PREDIOS E DO DIREITO DE TAPAGEM 
 
Objetivando proteger seu patrimônio, o proprietário do bem imóvel poderá demarcar 
sua área através de cercas divisórias. Como preceitua o Art. 1.297 do CC, o proprietário tem o 
direito a cercar, murar, valar ou tapar de qualquer modo o seu prédio, urbano ou rural, e pode 
constranger o seu confiante a proceder com ele à demarcação entre os dois prédios, a 
aviventar rumos apagados e a renovar marcos destruídos ou arruinados, repartindo-se 
proporcionalmente entre os interessados as respectivas despesas. 
Com efeito, a tapagem caracteriza o direito do proprietário em delimitar as divisas de 
seu bem imóvel através da construção de cercas vivas ou artificiais. 
O proprietário pode fazer uso de ação demarcatória, para obrigar o seu confinante a 
estremar os respectivos prédios, fixando novos limites entre os mesmos ou fortalecendo os já 
apagados. 
Por fim, em sendo confusos os limites entre as propriedades, esta será determinada em 
conformidade com a posse justa. Caso essa posse não seja comprovadamente justa, o terreno 
contestado será dividido em partes iguais, ou não sendo possível tal divisão, ocorrerá 
adjudicação em favor de um deles, ocorrendo indenização do outro. 
 
8. DIREITO DE CONSTRUIR 
8.1 Limitações e responsabilidades 
Argúi o art. 1.299 do CC que "o proprietário pode levantar em seu terreno as 
construções que lhe aprouver, salvo o direito dos vizinhos e os regulamentos administrativos". 
Assim, todo o proprietário deve ressarcir o seu vizinho pelos danos causados pela 
construção, podendo este último valer-se da ação de indenização, na qual provará a ocorrência 
do dano e o nexo de causalidade com a construção. 
Cabe lembrar que os construtores, arquitetos e empresas que prestam serviços de 
construção civil respondem solidariamente com os proprietários pelos danos causados pela 
obra, já que são técnicos habilitados para realizá-la. Se os danos decorrem de imperícia ou 
11 
 
negligência do construtor, pode o proprietário que pagar sozinho valer-se de ação regressiva 
contra àquele. 
 
8. 2 Devassamento da propriedade vizinha 
Prescreve o art. 1.301 do CC "é defeso abrir janelas, ou fazer eirado, terraço ou varanda, a 
menos de metro e meio do terreno vizinho", com a finalidade de resguardar a intimidade a 
intimidade das famílias. No entanto, não estão proibidas pequenas aberturas para luz e 
ventilação. 
Pode o proprietário "no lapso de ano e dia após a conclusão da obra, exigir que se desfaça 
janela, sacada, terraço ou goteira sobre o seu prédio; escoado o prazo, não poderá, por sua 
vez, edificar sem atender ao disposto no artigo antecedente,nem impedir, ou dificultar, o 
escoamento das águas da goteira, com prejuízo para o prédio vizinho", conforme previsto no 
art. 1.302 do CC. 
Entretanto, em se tratando de aberturas ou vãos para luz, poderá o vizinho levantar sua 
edificação ainda que vede a claridade do outro (art. 1.302, parágrafo único do CC). 
Já na zona rural não de pode levantar edificações a menos de três metros do terreno 
vizinho (art. 1.303 do CC). 
 
8.3. Águas e beirais 
Estabelece o art. 1.300 do Código Civil que "o proprietário construirá de maneira que 
o seu prédio não despeje águas, diretamente, sobre o prédio vizinho", portanto, as águas 
pluviais devem ser despejadas no solo do proprietário e não no do vizinho, já que este só está 
obrigado a receber as águas que naturalmente correm para seu prédio. 
 
8.4. Paredes divisórias 
Não se confunde com os muros divisórios, que são elementos de vedação 
regulamentados junto aos tapumes. As paredes divisórias integram a estrutura do edifício e 
constituem elemento de vedação e sustentação. 
Cabe ao confinante que primeiro construir a possibilidade de "assentar a parede 
divisória até meia espessura no terreno contíguo, sem perder por isso o direito a haver meio 
valor dela se o vizinho a travejar, caso em que o primeiro fixará a largura e a profundidade do 
alicerce" (art. 1.305 do CC). 
 
8.5 Uso do prédio vizinho 
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Dispõe ao art. 1.313 do CC que "o proprietário ou ocupante do imóvel é obrigado a 
tolerar que o vizinho entre no prédio, mediante prévio aviso, para: 
I - dele temporariamente usar, quando indispensável à reparação, construção, reconstrução ou 
limpeza de sua casa ou do muro divisório; 
II - apoderar-se de coisas suas, inclusive animais que aí se encontrem casualmente". 
A única restrição que pode o proprietário fazer é a estipulação de horários, por exemplo. Além 
disso, o vizinho que causar dano ao penetrar no imóvel tem o dever de repará-lo. 
9. CONCLUSÃO 
 
O direito de vizinhança, configura uma obrigação propter rem, pois vincula-se ao 
imóvel e não ao proprietário. Desta forma, para que se ocorra um uso normal da propriedade, 
sem conflitos, deve-se procurar uma convivência pacifica, e harmoniosa, coerente coma 
propriedade. 
As arvores limítrofes estão reguladas pelo art. 1282, em que a referida norma descreve 
as teorias de arvores que existe na divisa de imóveis vizinhos, ramos ou raízes de arvores que 
invadem terrenos vizinhos, e por fim, os frutos que caem no imóvel do vizinho. Os frutos 
caídos, serão do proprietário do terreno onde caíram. 
De acordo com a passagem forçada, o proprietário do bem imóvel vizinho é obrigado 
a conceder passagem ao dono do imóvel encravado, sendo aquele compensado para isso. 
Com relação a passagem de cabos e tubulações, é importante destacar que para a 
passagem de cabos, tubulações e outros condutos subterrâneos, a passagem deve ser realizada 
da maneira menos onerosa ao dono do bem. 
O direito a passagem das aguas é descrita no art. 1288 do CC, em que preceitua que: “ 
o dono ou o possuidor do prédio inferior, é obrigado a receber as aguas que correm 
naturalmente do seu superior, não podendo realizar obras que embaracem o seu fluxo; porem 
a condição natural e anterior do prédio inferior não pode ser agravada por obra feitas pelo 
dono ou possuidor do prédio superior. 
O proprietário tem o direito a cercar, murar, valar ou tapar de qualquer modo o seu 
prédio, urbano ou rural, e pode constranger o seu confiante a proceder com ele à demarcação 
entre os dois prédios, a aviventar rumos apagados e a renovar marcos destruídos ou 
arruinados, repartindo-se proporcionalmente entre os interessados as respectivas despesas. 
Já de acordo com o direito de construir, o proprietário pode levantar em seu terreno as 
construções que lhe aprouver, observando para com isso, o direito constituído pelos vizinhos, 
podendo ocorrer limitações. 
13 
 
Com o presente estudo, podemos concluir que os direitos de vizinhança são 
estabelecidos através de um conjunto de regras que são identificadas no Código Civil 
Brasileiro, visando proporcionar a administração de eventuais confusões que poderão existir 
em relação a proximidade de extensões territoriais. 
As normas dos direitos de vizinhança trazem limitações no que diz respeito ao uso da 
propriedade, surgindo com isso a necessidade de que ocorra uma regulamentação para que a 
convivência entre donos de imóveis próximos possa ser harmoniosa e em paz. 
REFERENCIAS 
 
 
GONÇALVES, CARLOS ROBERTO. Direito civil brasileiro: direito das coisas. 12. ed. 
V.5. São Paulo: Saraiva, 2017. 
 
 
TARTUCE, FLÁVIO. Direito Civil: direito das coisas. 8. ed. V.4. Rio de Janeiro: Forense, 
2016.

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