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DIREITO A BENFEITORIAS AUSÊNCIA DE PROVAS E BOA FÉ

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APELAÇÃO CÍVEL Nº 0370567.91.2016.8.09.0164
 
COMARCA DE CIDADE OCIDENTAL
 
 
 
APELANTE: LUCIANO ALVES DE SOUZA
 
APELADA: LINDINALVA DOS SANTOS
 
RELATOR: DES. FRANCISCO VILDON J. VALENTE
 
 
 
 
 
 
 
 
 
VOTO
 
 
 
 
 
 
 
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.
 
 
 
Como visto, trata-se de Apelação Cível, interposta contra a sentença, prolatada pelo
MM. Juiz de Direito da 1ª Vara Cível da comarca de Cidade Ocidental, Dr. André Rodrigues
Nacagami, nos autos da Ação de Imissão na Posse com pedido Liminar, ajuizada por 
LINDINALVA DOS SANTOS, em desfavor de LUCIANO ALVES DE SOUZA, ora Apelante.
 
 
 
A Autora (LINDINALVA) alegou que é a legítima proprietária do Lote 22, Quadra 23,
Loteamento Parque Nápolis – Gleba A, Cidade Ocidental/GO, com área de 360 m² (trezentos e
sessenta metros quadrados), o qual reputou estar, indevidamente, ocupado pelo Réu (LUCIANO)
e que este se recusa a desocupar o bem, de forma amistosa.
 
 
 
Assim, pugnou a imissão na posse.
 
 
 
Adoto o relatório da sentença, e transcrevo o seu dispositivo:
 
 
 
“(…) Pelo exposto, JULGO PROCEDENTE o pedido formulado na
peça de começo, para o fim de determinar a imissão da proprietária
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LINDINALVA DOS SANTOS na posse do imóvel urbano consistente no Lote
22, Quadra 23, Loteamento Parque Nápolis – Gleba A, nesta cidade, com
área de 360,00m² (trezentos e sessenta metros quadrados), resolvendo o
mérito da demanda, nos termos do disposto no artigo 487, inciso I, do
Código de Processo Civil. (…).
 
 
 
Custas e honorários advocatícios, os quais FIXO em 20% (vinte
por cento) sobre o valor atualizado da causa, na forma do artigo 85, §2º, do
Código de Processo Civil, pela parte requerida, ficando, todavia, sobrestada
a cobrança em razão da concessão tácita das benesses da gratuidade
judiciária à parte ré (CPC, art. 98, §3º). (…).”
 
 
 
Inconformado, o Réu (LUCIANO ALVES) interpôs o presente recurso de Apelação
Cível, pleiteando, preliminarmente, os benefícios da gratuidade da justiça e o pedido de
antecipação de tutela recursal, para aplicar o efeito suspensivo ao Apelo.
 
 
 
E, no mérito, pugnou pelo seu conhecimento e provimento, para cassar a sentença, 
devido o julgamento contrário às provas dos autos.
 
 
 
Preparo dispensado, tendo em vista o deferimento do beneficiário da gratuidade da
justiça, no Agravo de Instrumento nº 5034815.19.2017.8.09.0000 (mov. nº 10).
 
 
 
A Autora (LINDINALVA) apresentou suas contrarrazões recursais, pugnando,
preliminarmente, pela impugnação da gratuidade da justiça, e, no mérito, pelo conhecimento e o
desprovimento do Apelo.
 
 
 
Os autos vieram a este relator por prevenção ao Agravo de Instrumento nº
5034815.19.2017.8.09.0000.
 
 
 
Liminar deferida (mov. nº 13).
 
 
 
Em respeito ao princípio da Não Surpresa a parte Apelante, devidamente intimada,
deixou de manifestar-se sobre a impugnação da gratuidade da justiça, conforme certidão
exarada, no evento nº 18.
 
 
 
Em proêmio, por questão de lógica processual, insta analisar a impugnação
apresentada pela Autora/Apelada, em relação à concessão da gratuidade da justiça ao
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Réu/Apelante.
 
 
 
Segundo o artigo 100 do Código de Processo Civil/2015, a parte contrária poderá
oferecer a impugnação ao benefício referido, em sede de contrarrazões de recurso, motivo pelo
qual reconheço a adequação da via processual eleita, para tal fim.
 
 
 
Todavia, compulsando os autos, observo que a Autora/Apelada não trouxe, qualquer
prova documental apta a comprovar que o Réu/Apelante não possui a necessidade de litigar sob
o pálio da gratuidade da justiça, permanecendo suas argumentações no campo das meras
alegações.
 
 
 
Salienta-se, uma vez concedida a gratuidade da justiça, tenho que o aludido benefício
pode ser revisto a qualquer tempo, caso demonstrada a insubsistência da sua necessidade, ou
caso esta seja afastada, mediante prova robusta em contrário, pela parte ex adversa, o que não
se verifica, na presente hipótese.
 
 
 
Desta feita, não tendo a parte Apelada demonstrado, documentalmente, a alegada
capacidade financeira do Réu, para arcar com as custas recursais, a manutenção do benefício
mencionado, neste 2º grau de jurisdição, é a medida que se impõe, conforme entendimento
sedimentado por esta colenda Corte de Justiça. Confira-se:
 
 
 
“APELAÇÃO CÍVEL. IMPUGNAÇÃO À GRATUIDADE DA
JUSTIÇA. HIPOSSUFICIÊNCIA COMPROVADA EM PRIMEIRO GRAU.
ÔNUS DO IMPUGNANTE. MERAS ALEGAÇÕES. BENESSE MANTIDA.
HONORÁRIOS RECURSAIS. 1. O benefício da gratuidade da justiça deve
ser deferido a quem demonstrar a insuficiência de recursos para suportar as
despesas processuais e os honorários advocatícios, sem prejuízo do
sustento próprio ou da família. Recepção do artigo 4º, da lei n. 1.060/50,
vigente à época do proferimento da sentença, pela Constituição Federal (art.
5º, LXXIV), que condicionou a concessão do benefício à prova da
necessidade. 2. É ônus daquele que impugna o deferimento da justiça
gratuita demonstrar (e não meramente alegar) a suficiência financeira
do beneficiário para arcar com as custas e despesas processuais (art.
7º, da lei n. 1.060/50). 3. Não se desincumbindo deste ônus, rejeita-se a
impugnação ao deferimento da gratuidade da justiça, no intuito de
manter a sentença. 4. Por se tratar de mero incidente, não há a
fixação/majoração de honorários recursais. 5. APELAÇÃO CÍVEL
CONHECIDA E DESPROVIDA.” (TJGO, Apelação (CPC) 0266464-
18.2015.8.09.0051, Rel. GUILHERME GUTEMBERG ISAC PINTO, 5ª
Câmara Cível, julgado em 11/09/2018, DJe de 11/09/2018). Grifei.
 
 
 
Dessa forma, REFUTO tal preliminar.
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Nesse seguimento, passo a análise meritória.
 
 
 
In casu, o Apelante (LUCIANO) busca desconstituir a sentença que determinou a
imissão, na posse do bem imóvel, consistente no Lote 22, Quadra 23, Loteamento Parque
Nápolis – Gleba A, nesta cidade, com área de 360 m² (trezentos e sessenta metros quadrados),
em favor da Autora/Apelada.
 
 
 
A ação de imissão na posse, independentemente de sua modalidade, funda-se no
direito de propriedade e no direito de sequela que lhe é inerente (ius possidendi), se
caracterizando, portanto, por ser típica demanda petitória, colocada à disposição daquele que,
com fundamento no direito de propriedade e sem nunca ter exercido a posse, deseja obtê-la
judicialmente.
 
 
 
São fundamentos indispensáveis à imissão na posse: a comprovação do título de
propriedade; a inexistência de posse anterior, exercida pelo proprietário, sobre o imóvel; a
resistência do alienante, ou de terceiro detentor em entregar o bem.
 
 
 
A propósito do tema, é de todo oportuno colacionar as lições de Cristiano Chaves de
Farias e Nelson Rosenvald:
 
 
 
“À primeira vista, poderia o nome imissão de posse indicar uma
espécie de ação possessória. Contudo, é tipicamente uma ação petitória
que, na maior parte das situações, deverá ser adotada por quem adquire a
propriedade por meio de título registrado, mas não pode investir-se na posse
pela primeira vez, pois o alienante, ou um terceiro (detentor) a ele vinculado,
resiste em entregá-la. Por isto, é impraticável se aplicar o princípio da
fungibilidade com fins a conversão entre uma ação possessória e a imissão
de posse, já que o autor desta demanda nunca teve posse.” (in Curso de
Direito Civil:Reais, v. 5, 8ª ed. rev. ampl. atual, Salvador: Jus PODIVM,
2012, p. 244)
 
 
 
Nessa esteira, é o magistério dos ínclitos processualistas Nelson Nery Júnior e Rosa
Maria de Andrade Nery:
 
 
 
“Ação real de quem tenha título legítimo para imitir-se na posse de
bem - decorrência do exercício do direito de sequela do direito real - para
quem, sendo proprietário, ainda não obteve a posse da coisa. Portanto, a
imissão na posse baseiase em que detenha o domínio da coisa, sem nunca
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haver exercido a posse. Possui como requisitos a existência de título de
propriedade e o fato de nunca haver o proprietário gozado ou fruído da
posse. Segue pelo rito comum, encontrando guarida no artigo 1228 do
Código Civil de 2002.” (in Código Civil Comentado, 5ª ed., São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2007, p. 849)
 
 
 
Nesse sentido, é o entendimento deste Tribunal:
 
 
 
“(…) I- A ação de imissão na posse funda-se nos direitos de
propriedade e de sequela que lhe são inerentes, tendo por finalidade a
investidura na própria posse, firmada no domínio sobre o imóvel. (...)” 
(TJGO, Apelação (CPC) 5318118-74.2018.8.09.0011, Rel. BEATRIZ
FIGUEIREDO FRANCO, 4ª Câmara Cível, julgado em 18/12/2019, DJe de
18/12/2019)
 
 
 
“(…). 1. É cabível o manejo da ação de imissão na posse, com
fundamento no direito de propriedade, àquele que sem nunca ter exercido a
posse, almeja obtê-la judicialmente. (…). APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA
E DESPROVIDA. SENTENÇA MANTIDA.” (TJGO, APELAÇÃO 0401422-
93.2014.8.09.0044, Rel. OLAVO JUNQUEIRA DE ANDRADE, 5ª Câmara
Cível, julgado em 12/02/2019, DJe de 12/02/2019)
 
 
 
No caso sob análise, a certidão de matrícula acostada à fl. 11 é prova suficiente para
comprovar que a Autora/Apelada é a titular do domínio do imóvel, e a delimitação deste.
 
 
 
Outrossim, em relação a arguição da usucapião, como matéria de defesa é possível,
nos termos da Súmula n. 237 do Supremo Tribunal Federal, verbis:
 
 
 
“A usucapião pode ser arguida em defesa.”
 
 
 
O referido instituto é um dos modos de aquisição da propriedade, pois prestigia o
possuidor através de uma posse mansa, pacífica e ininterrupta, no qual a propriedade ociosa e
descuidada passou a desenvolver sua função social, conforme previsto na Constituição
Federal/88.
 
 
 
Os dois requisitos essenciais para a usucapião são a posse e o decurso do tempo. A
posse é o exercício de fato, pleno, ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade, em
outras palavras, a exteriorização da propriedade. A posse deve ser qualificada pelo animus
domini, ou seja, o possuidor exerce a posse no intento de tornar-se proprietário.
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Tal posse tem que ser mansa, pacífica e contínua, pois a inércia do proprietário
constitui fundamento da prescrição aquisitiva, não podendo haver qualquer resistência, ou
oposição à posse do usucapiente.
 
 
 
No caso, o Réu/Apelante sustentou que exerce a posse mansa e pacífica sobre o bem
individualizado, desde o ano de 2005, tendo instalado um lava jato no imóvel, no ano de 2011.
 
 
 
Não é demasiado destacar que, conforme o preciso magistério do Desembargador
Francisco Eduardo Loureiro, do Tribunal de Justiça de São Paulo, “a expressão injustamente a
possua, para efeito reivindicatório, tem sentido mais abrangente do que para simples efeito
possessório. Nos termos do art. 1.200 do CC, (…), posse injusta, para efeito possessório, é
marcada pelos vícios de origem da violência, clandestinidade e precariedade. Já para o efeito
reivindicatório, posse injusta é aquela sem causa jurídica a justificá-la, sem um título, uma razão
que permita ao possuidor manter consigo a posse de coisa alheia” (in Código Civil Comentado:
doutrina e jurisprudência. 7ª ed. Cood. Min. Cezar Peluso, Barueri: Manole, 2013, p. 1.191, g.).
 
 
 
À luz dessa baliza técnica, a causa jurídica invocada pelo Réu/Apelante para afirmar a
legitimidade da posse que exerciam sobre o imóvel não encontra consistência no exame apurado
dos autos.
 
 
 
Os requisitos específicos para a modalidade urbana de usucapião são: a) animus
domini; b) utilização do imóvel para moradia do possuidor ou de membro de sua família; c)
limitação de área; d) lapso temporal de 05 anos; e e) que o possuidor não seja proprietário de
outro imóvel urbano, ou rural.
 
 
 
No caso, o Réu/Apelante, não se enquadra, isso porque, conforme bem fundamentado
pelo MM. magistrado “o imóvel, em análise não se enquadra na hipótese prevista nos artigos 183,
caput, da CF/88 e 1.240 do Código Civil (usucapião especial urbana), porquanto a área discutida
é superior a 250,00m² (duzentos e cinquenta metros quadrados), consoante se infere da certidão
imobiliária carreada à fl. 11”.
 
 
 
Por outro lado, a usucapião extraordinária, se caracteriza pela posse mansa, pacífica,
ininterrupta e com o animus domini, pelo prazo de 15 (quinze) anos. Sendo que se o possuidor
estabelece o imóvel como morada habitual, ou nele realizou obras de caráter produtivo, o aludido
prazo reduz para 10 (dez) anos.
 
 
 
Sobre o assunto, dispõe o artigo 1.238 do Código Civil/02:
 
 
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Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem
oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade,
independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o
declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de
Registro de Imóveis.
 
 
 
Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a
dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia
habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo.”
 
 
 
No feito, o Réu/Apelante afirmou que adquiriu o bem de forma onerosa, no ano de
2005, entretanto, não constam dos autos quaisquer documentos que amparem referida
afirmação.
 
 
 
Destaca-se, ainda, que das provas documentais a posse do Apelante se inicia, no ano
de 2011, quando se deu a construção da estrutura em que, atualmente, funciona o negócio
administrado por ele.
 
 
 
Conforme bem delineado, pelo MM. Juiz:
 
 
 
“Em corroboração, ouvido em Juízo (mídia audiovisual), o
informante arrolado pela parte autora (fl. 104), Sr. Djailton Rodrigues da
Silva, assim se manifestou:
 
 
 
“Que acredita que o requerido tinha ciência de que a autora era
proprietária, uma vez que limpavam o imóvel com frequência, sendo que o
réu era, inclusive, um dos moradores que forneciam água aos trabalhadores
quando da limpeza do lote, “devendo saber que o imóvel era de alguém”.
Que não presenciou o requerido formulando nenhuma proposta de compra e
venda do imóvel à autora. Que o requerido sempre soube que o lote estava
limpo e “tinha propriedade”. Que a autora já procurou o requerido se
identificando como proprietária do imóvel. Que o depoente auxiliava na
limpeza do lote. Que o depoente residiria no imóvel após seu casamento,
que se deu há 19 anos. Que o réu “invadiu” o imóvel. Que o requerido não
sabe dizer desde quando o requerido está no imóvel. Que a autora teve
ciência da invasão recentemente, na ocasião em que soube que o
respectivo IPTU havia sido pago. Que o requerido está atualmente no
imóvel. Que soube dizer que o réu construiu um lava jato no imóvel.”
 
 
 
Dessa forma, considerando que nem o lapso temporal não se concluiu, não há falar-se
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em usucapião extraordinária.
 
 
 
Outrossim, em relação às benfeitorias dispõe o artigo 1.220 do Código Civil/02 que o
possuidor de má-fé só será ressarcido das benfeitorias necessárias, e, no caso vertente, tem-se
que a instalação do lava jato não é uma benfeitoria necessária, mas sim, uma benfeitoria útil, não
sendo passível de indenização, tampouco de retenção.
 
 
 
Ademais, o Réu/Apelante invadiu o terreno demandado, porquanto não logrou êxito em
comprovar a aquisição do bem de forma legal e/ou onerosa.
 
 
 
Destarte, não há cogitar-se em indenização por benfeitorias, ou acessões, e/ou direito
de retenção.
 
 
 
Sobre o tema:
 
 
 
“(...)1. Nas acessões, o possuidor que tiver semeado, plantado ou
edificado em terreno alheio só terá direito à indenização se tiver agido de
boa-fé. (…). APELAÇÃO CONHECIDA E DESPROVIDA.” (TJGO,
APELAÇÃO 0385505-10.2012.8.09.0107, Rel. SÉRGIO MENDONÇA DE
ARAÚJO, 4ª Câmara Cível, julgado em 06/09/2019, DJe de 06/09/2019)
 
 
 
Noutra banda, o direito fundamental à prova é corolário lógico do devido processo
legal. Nisto, à medida do grau de interesse das partes em comprovar suas alegações, o Código
de Processo Civil dividiu o ônus probatório: “toca ao autor o ônus de provar o fato constitutivo de
seu direito; ao réu, os fatos impeditivos, modificativos e extintivos, do Autor” (art. 373 do NCPC).
 
 
 
Quem descurar desse encargo assume o risco de ter contra si a regra de julgamento,
quando do sopesamento das provas.
 
 
 
Neste diapasão, tenho que o Réu/Apelante não se desincumbiu do seu ônus probatório,
isso porque a prova contida, no feito, vai em sentido contrário às teses levantadas em suas
razões recursais.
 
 
 
Sobre o tema:
 
 
 
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“(...) 2. Não comprovado o pagamento da dívida mediante recibo
ou outro documento hábil para tanto, meras ilações de que o adimplemento
foi efetuado não são capazes de desconstituir o direito da credora,
porquanto, se houve o pagamento, o adágio "quem paga mal, paga duas
vezes" opera em desfavor do devedor. (...) EMBARGOS DECLARATÓRIOS
CONHECIDOS E REJEITADOS.” (TJGO, Apelação (CPC) 0255404-
68.2003.8.09.0051, Rel. ALAN SEBASTIÃO DE SENA CONCEIÇÃO, 5ª
Câmara Cível, julgado em 16/08/2019, DJe de 16/08/2019).
 
 
 
“(…). 2- À medida do grau de interesse das partes em comprovar
seus fundamentos fáticos, o Código de Processo Civil dividiu o ônus
probatório: toca ao autor o ônus de provar o fato constitutivo de seu direito;
ao réu, os fatos impeditivos, modificativos e extintivos. (…). 5- APELAÇÃO
CÍVEL CONHECIDA, MAS DESPROVIDA.” (TJGO, Apelação (CPC)
5328764-91.2016.8.09.0051, Rel. ELIZABETH MARIA DA SILVA, 4ª
Câmara Cível, julgado em 18/10/2019, DJe de 18/10/2019).
 
 
 
Nesse contexto, diante da ausência de prova inequívoca do direito do Réu/Apelante, 
mantenho a sentença.
 
 
 
Por derradeiro, tendo a sentença fixado os honorários advocatícios sucumbenciais, no
patamar máximo legal, qual seja, 20% (vinte por cento) sobre o valor atualizado da causa, não há
falar-se em sua majoração, neste grau recursal.
 
 
 
Em face do exposto, CONHEÇO DA APELAÇÃO CÍVEL E LHE NEGO PROVIMENTO
, mantendo a sentença, por seus próprios fundamentos.
 
 
 
Por fim, revogo a liminar concedida, no evento nº 13.
 
 
 
É o voto.
 
 
 
Goiânia, data e hora da assinatura eletrônica.
 
 
 
 
 
DES. FRANCISCO VILDON J. VALENTE
 
 Relator
 
Tribunal de Justiça do Estado de Goiás
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APELAÇÃO CÍVEL Nº 0370567.91.2016.8.09.0164
 
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APELANTE: LUCIANO ALVES DE SOUZA
 
APELADA: LINDINALVA DOS SANTOS
 
RELATOR: DES. FRANCISCO VILDON J. VALENTE
 
 
 
 
 
 
 
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE IMISSÃO NA POSSE.
IMPUGNAÇÃO DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA. MERA ALEGAÇÃO.
ALEGAÇÃO DE USUCAPIÃO COMO MATÉRIA DE DEFESA.
POSSIBILIDADE. SÚMULA 237 DO STJ. USUCAPIÃO URBANA. ÁREA
REIVINDICADA SUPERIOR AO LIMITE LEGAL. USUCAPIÃO
EXTRAORDINÁRIA. LAPSO TEMPORAL NÃO COMPROVADO.
APLICAÇÃO DO ART. 373 DO NCPC. DIREITO A BENFEITORIAS.
AUSÊNCIA DE PROVAS E BOA FÉ. VERBA HONORÁRIA FIXADA NO
PATAMAR MÁXIMO LEGAL. SENTENÇA MANTIDA.
 
1. É encargo daquele que impugna o deferimento da justiça gratuita
demonstrar (e não meramente alegar) a suficiência financeira do beneficiário
para arcar com as custas e as despesas processuais (art. 7º, da lei n.
1.060/50). Não se desincumbindo do citado encargo, rejeita-se a
impugnação ao deferimento da gratuidade da justiça, no intuito de manter o
benefício.
 
2. A ação de imissão na posse, independentemente de sua modalidade,
funda-se no direito de propriedade e no direito de sequela que lhe é inerente
(ius possidendi), se caracterizando, portanto, por ser típica demanda
petitória, colocada à disposição daquele que, com fundamento no direito de
propriedade e sem nunca ter exercido a posse, deseja obtê-la judicialmente.
São fundamentos indispensáveis à imissão na posse: a comprovação do
título de propriedade; a inexistência de posse anterior, exercida pelo
proprietário, sobre o imóvel; a resistência do alienante, ou de terceiro
detentor, em entregar o bem.
 
3. Nos termos da Súmula 237 do STF “é possível a alegação da usucapião
como matéria de defesa”, conforme ocorreu, no feito.
 
4. Os requisitos específicos para a modalidade urbana de usucapião são: a) 
animus domini; b) utilização do imóvel para moradia do possuidor ou de
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membro de sua família; c) limitação de área; d) lapso temporal de 05 anos;
e) que o possuidor não seja proprietário de outro imóvel urbano, ou rural. No
caso, o imóvel em análise não se enquadra nas hipóteses previstas nos
artigos 183, caput, da CF/88, e 1.240 do Código Civil/02 (usucapião especial
urbana), porquanto a área discutida é superior a 250,00m² (duzentos e
cinquenta metros quadrados), consoante se infere da certidão imobiliária
carreada à fl. 11, dos autos físicos.
 
5. A usucapião extraordinária, se caracteriza pela posse mansa, pacífica,
ininterrupta e com o animus domini, pelo prazo de 15 (quinze) anos, sendo
que se o possuidor estabelecem o imóvel como morada habitual, ou nele
realizou obras de caráter produtivo, o aludido prazo reduz para 10 (dez)
anos. Na hipótese, o Réu/Apelante não comprovou o lapso temporal.
 
6. Nas benfeitorias, o art. 1.220 do Código Civil/02 especifica que o
possuidor de má-fé só será ressarcido das benfeitorias necessárias, e, no
caso vertente, tem-se que a instalação do lava jato não é uma benfeitoria
necessária, mas sim, uma benfeitoria útil, não sendo passível de
indenização, tampouco de retenção.
 
7. In casu, o Réu/Apelante não se desincumbiu do seu encargo probatório,
isso porque a prova contida, no feito, vai em sentido contrário às teses
levantadas em suas razões recursais.
 
8. Quando a sentença fixar os honorários advocatícios sucumbenciais, no
patamar máximo legal, qual seja, 20% (vinte por cento) sobre o valor
atualizado da causa, não há falar-se em sua majoração, em grau recursal.
 
APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E DESPROVIDA.
 
 
 
 
 
 
 
ACÓRDÃO
 
 
 
 
 
Vistos, relatados e discut idos estes autos de APELAÇÃO CÍVEL Nº 
0370567.91.2016.8.09.0164, DA COMARCA DE CIDADE OCIDENTAL.Acorda o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, em sessão pelos integrantes da
Segunda Turma Julgadora da Quinta Câmara Cível, por unanimidade de votos, em conhecer da 
Apelação e desprovê-la, nos termos do voto do relator.
 
 
 
Votaram com o relator, os Desembargadores Olavo Junqueira de Andrade e Guilherme
Gutemberg Isac Pinto.
Tribunal de Justiça do Estado de Goiás
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Presidiu a sessão o Desembargador Alan S. de Sena Conceição.
 
 
 
Representou a Procuradoria-Geral de Justiça a Dra. Eliane Ferreira Fávaro.
 
 
 
Goiânia, data e hora da assinatura eletrônica.
 
 
 
 
 
DES. FRANCISCO VILDON J. VALENTE
 
 Relator
 
Tribunal de Justiça do Estado de Goiás
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