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1 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Posse e Detenção DIREITO CIVIL A N O TA ÇÕ ES POSSE E DETENÇÃO A Teoria da Posse foi dividida em duas partes. Na primeira parte, os elementos da posse; as questões estruturais que integram a posse; a teoria adotada pelo Código Civil – que, embora adote a teoria objetiva, deve relativizá-la para compatibilizá-la com a função social da posse –; a teoria subjetiva, que, embora o Código Civil não adote para caracterizar posse e definir possuidor, contém resquícios no sistema, principalmente na usucapião. Na segunda parte, os efeitos da posse a partir de sua qualificação. Como foi dito em aulas anteriores, a Teoria subjetiva defende que a posse tem uma multiplicidade de efeitos previstos no Código Civil: interditos possessórios, indenização por benfeitoria, direito de retenção, direito a frutos. A Teoria Objetiva, embora tenha sido adotada pelo Código Civil para caracterizar a posse, identificar o possuidor, defende que esta tem apenas um efeito, a presunção de propriedade. É adotada a Teoria Objetiva para compreender os elementos estruturais da posse corpus e animus para identificar o possuidor, mas, no que diz respeito aos efeitos, há mais afinidade com a pluralidade de efeitos defendida pela Teoria Subjetiva. Outra situação que não se confunde com a posse é a detenção. Por que é necessário ser muito preciso para dissociar a posse da detenção? O principal motivo é que se chega à conclusão de que a situação fática no mundo real é detenção e não posse, a detenção não tem efeito jurídico. O detentor não tem direito a inter- ditos possessórios, a indenização por benfeitorias, a retenção, a ser indenizado. Ou seja, não há efeito jurídico. Na detenção, não se vai para a segunda parte da teoria que é a qualificação que pressupõe posse. Para qualificar a situação fática é preciso estar diante de uma posse. Como visualizar, em uma situação fática, se se está diante de um possuidor ou de um detentor, se há posse ou detenção? Para caracterização de uma situação fática que leve à posse, ou seja, para que se caracterize a posse, é essencial o exercício de poderes fáticos, um comportamento de dono com autonomia, função social. A detenção depende de uma análise fática. Como dito em aulas passadas, há duas teorias históricas para explicar o fenômeno pos- sessório a partir dos elementos estruturais corpus e animus. Embora sejam necessários para 5m 2 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Posse e Detenção DIREITO CIVIL A N O TA ÇÕ ES identificar a posse e o possuidor, hoje, em razão desse Direito Civil constitucionalizado e da função social que integra o fenômeno possessório, eles não são suficientes. Todavia, essas teorias ajudam a entender a diferença entre posse e detenção. Para a Teoria Subjetiva saviniana, a diferenciação entre posse e detenção é feita por meio do elemento subjetivo. Para Savigny, posse era contato material, poder de disposição. Se você tem o controle material da coisa com ânimo de dono, você é possuidor; se não há ânimo de dono, você é detentor. A diferença entre posse e detenção para a Teoria Subjetiva se dá a partir de elemento subjetivo. Isso não foi adotado no Código Civil para explicar a detenção. Também na detenção, foi adotada a diferença entre posse e detenção da Teoria Objetiva. Porém, há um problema: para a Teoria Objetiva, quem define o que é detenção é a lei. Desse modo, a diferença entre posse e detenção que, na Teoria Subjetiva dependia do elemento subjetivo no mundo fático, para Teoria Objetiva há falsa ilusão de que se consegue determi- nar o que é detenção a partir da norma jurídica. Em tese, para a Teoria Objetiva é a norma que estabelecerá quando ha detenção. Para se entender posse, é preciso se ater ao mundo fático. De fato, o Código Civil, adotando a teoria objetiva, em algumas situações, cita quando haverá detenção. Embora o Código Civil estabeleça que a diferença entre posse e detenção se dá a partir da norma, nela constará quando ha detenção. • Para se chegar à conclusão de que você está diante de uma detenção, deve-se ir ao mundo concreto. O Art. 1.198 dispõe que se considera detentor aquele que estiver em contato com a coisa, exercendo atos em nome de outrem, no caso do possuidor, seguindo as instruções e as ordens do possuidor. Exemplo: caseiro. Para saber se o caseiro é detentor não basta saber o art. 1.198. É necessário que o caseiro, no caso concreto, se comporte de acordo com o artigo. Caso contrário, deixa de ser detentor e pode se tornar possuidor, e, como tal, essa posse tem efeito jurídico. Não por acaso que muita gente perde, por usucapião, propriedades para pessoas a quem confiava seus cuidados. Entenda como o mundo possessório é dinâmico. Para ser possuidor, exige-se um com- portamento contínuo. 10m 15m 3 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Posse e Detenção DIREITO CIVIL A N O TA ÇÕ ES A detenção e a diferença da posse na teoria objetiva (a detenção é uma posse degra- dada, desqualificada pelo ordenamento jurídico) se dá pela lei. O Código Civil adotou a Teoria Objetiva para diferenciar detenção de posse. Alguns doutrinadores denominam a detenção de Posse Degradada. É a ideia de deten- ção que alguns clássicos utilizavam. Para saber se ha detenção, deve-se ir ao fato concreto. Há quatro situações de detenção. A primeira situação é chamada detenção dependente. O detentor tem algum tipo de rela- ção com o possuidor. Divide-se em duas: desinteressada e interessada. Na desinteressada, embora o detentor, para essa ocupação fática, dependa do possuidor, age em nome do pos- suidor, não extrai utilidade para ele detentor, mas sim para o possuidor. Age em nome do possuidor. Na detenção dependente interessada também há algum tipo de relação entre o possuidor e detentor, mas, ao contrário da desinteressada, o detentor extrai proveito para si. A terceira situação de detenção é a chamada detenção independente. Não há nenhum tipo de relação entre o possuidor e o detentor, ao contrário: há um conflito. A última situação é ocupação irregular de área pública. DETENÇÃO DEPENDENTE DESINTERESSADA Art. 1.198 do Código Civil é o chamado fâmulo da Posse. Se o sujeito no mundo concreto agir de acordo com o artigo, ele é detentor. Porém, como o mundo fático é dinâmico, a qualquer momento essa detenção pode se converter numa posse. Basta que ele deixe de se comportar dessa forma. Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas. Então, é uma relação de total subordinação dessa pessoa em relação ao possuidor, tendo em vista que aquele age em nome deste, mas não tem interesse na posse. Todos os manuais trazem o famoso exemplo do caseiro. A garantia para se ter uma posse resguardada é estar sempre em contato com a coisa. O rompimento da relação de subordinação e a conversão da detenção em posse (Enunciado 20m 4 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Posse e Detenção DIREITO CIVIL A N O TA ÇÕ ES 301 do CJF). O detentor é mero executor material do direito do possuidor. Não há desdobra- mento possessório. Detentor não é possuidor direto. Posse é uma coisa, detenção é outra. O detentor é um mero executor material. DETENÇÃO DEPENDENTE INTERESSADA Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância [...] Quando o possuidor permite expressamente que alguém ocupe um bem seu ou tolera que alguém ocupe um bem seu e mantenha uma vigilância nessa ocupação, onde haja certo controle e aquele que está ocupando saiba que está sendo controlado e vigiado, isso é detenção e não posse. No entanto, o art. 1.208tem uma “armadilha”. No mundo concreto, a linha entre uma per- missão e uma tolerância é tênue. É muito mais fácil, em termos probatórios, para quem está em contato com a coisa provar que ele é possuidor do que aquele que está à distância provar que ele é um mero detentor. Em muitas ações, quem quer adquirir pela usucapião quer dizer que era possuidor e a outra parte quer dizer que era detentor. É uma situação complexa porque só no caso con- creto há como conseguir definir uma situação de detenção ou de posse. DETENÇÃO INDEPENDENTE Segunda parte do Art. 1.208. Art. 1.208 [...] assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade. A detenção é interessada porque aquele sujeito que ocupa a propriedade extrai proveito para si. Na detenção desinteressada, o detentor age em nome do possuidor e de acordo com as instruções do possuidor. Na detenção dependente interessada, o interesse é todo do detentor, por isso torna essa linha entre detenção e posse muito tênue.25m 5 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Posse e Detenção DIREITO CIVIL Já na detenção independente, há um conflito claro entre posse e detenção. Há situações de detenção em que o sujeito passa ocupar determinado objeto contra a vontade do possui- dor, o que não existe na detenção dependente, seja desinteressada (art. 1.198) ou interes- sada (art. 1.208 primeira parte). A violência e a clandestinidade são vícios objetivos da posse. O art. 1.208 estabelece o seguinte: durante o período da violência e durante o período da clandestinidade, o indivíduo está na condição de detentor. Cessada a violência ou clandestinidade, ele passa a ser pos- suidor. É injusto porque a aquisição se deu por meio de violência ou por clandestinidade. Agora, durante o período da violência em que se encontra em conflito ou durante o perí- odo da clandestinidade, em que sorrateiramente se ocupa um bem sem que o possuidor tenha conhecimento, o individuo está na condição de detentor. É uma sanção para aqueles que agem contra a vontade do possuidor. POSSE – DETENÇÃO – ÁREA PÚBLICA É possível a posse em área pública desde que seja uma posse civil, ou seja, baseada em um título jurídico administrativo, numa relação jurídica com a administração pública, se possuidor. O que não é possível é uma pose natural, isto é, ocupar uma área pública sem relação jurídica como Poder Público. Nesse caso, a denominada ocupação irregular. A posse autônoma é incompatível com a área pública. Se a pessoa, sem qualquer relação jurídica com o poder público, ocupar uma área pública, é considerada uma ocupação irregular, jamais considerada posse. O STJ definiu essa questão na Súmula 619. Súmula 619 do STJ. A ocupação indevida de um bem público configura mera detenção, de natu- reza precária, insuscetível de retenção ou indenização por acessões e benfeitorias. Essas situações de detenção do Código Civil são fundamentais e essenciais, porque, a partir do momento em que concluímos que estamos diante de uma detenção e de um deten- tor, não se passa para a segnda parte da análise, que é a qualificação da situação fática para fins de efeitos jurídicos. 30m ���������������������������������������������������������������������������������Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula preparada e ministrada pelo professor Daniel Eduardo Branco Carnacchioni. A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu- siva deste material.
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