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1 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Posse III DIREITO CIVIL A N O TA ÇÕ ES POSSE III Há Problema na Teoria Objetiva? • Como a teoria objetiva explicaria a tutela possessória mesmo diante do proprietário, no caso de desdobramento da posse? A teoria objetiva é, em termos, um tanto incoerente, pois associa posse com propriedade. Essa teoria admite o desdobramento da posse, de forma que seria possível a seguinte situa- ção: o possuidor indireto é o proprietário, porém, durante a vigência da relação jurídica com o possuidor direto, ele não possui tutela possessória. Como a posse serve para defender a propriedade, a própria teoria objetiva não consegue explicar essa situação, em que o proprie- tário, possuidor indireto, não teria proteção possessória contra o possuidor direto na vigência da relação jurídica. • Como a teoria objetiva explica a proibição de exceção de domínio em ação possessória? A teoria objetiva não consegue explicar a proibição de exceção de domínio em ação pos- sessória. Ou seja, em ação possessória, não se discute propriedade. Há autonomia entre o juízo possessório e o petitório. Numa ação possessória só se discute posse. Se não é possí- vel alegar propriedade em uma ação possessória, como a posse serve para defender a pro- priedade? Fica claro que o próprio Código Civil, que adota a ideia da proibição da exceptio domini, dificulta a compreensão do fenômeno possessório. CONCLUSÃO • Na realidade, o que distingue a posse nas teorias subjetiva e objetiva é o modo pelo qual o poder de fato sobre a coisa é exercido (direto, indireto, mediato, imediato, etc.). Na teoria subjetiva, o poder de fato é direto e imediato, com ânimo de dono. Na teoria objetiva, o poder pode ser exercido de forma indireta, apenas retratando comportamento de dono, ou seja, exercendo poderes inerentes à propriedade. 2 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Posse III DIREITO CIVIL A N O TA ÇÕ ES • Poder de fato por controle material imediato (com ânimo de dono) ou poder de fato por finalidade/destinação econômica. • Diante da necessária função social da posse, as teorias da posse, objetiva ou subje- tiva, são suficientes para explicar o fenômeno possessório? A resposta a essa pergunta é não. Para que se caracterize posse, o exercício dos pode- res de fato deve estar afinado com a função e a finalidade que o legitimem e justifiquem. A função social da posse envolve a adequação do exercício desses poderes com valores sociais constitucionais: dignidade, solidariedade, igualdade etc. • Funcionalização da Posse; • Posse/Função Social – Condição de Legitimidade; • Funcionalização e valores sociais constitucionais; • A função social impõe autonomia (teoria objetiva)? • Posse e concepção constitucional; • Posse e direitos fundamentais – meio de concretização de situações existenciais. A teoria objetiva de Ihering vincula posse à propriedade. No entanto, atualmente, não há posse sem função social. A função social legitima a posse. A posse, por sua vez, é autô- noma em relação à propriedade. Adota-se uma teoria que vincula a posse à propriedade para explicar os elementos estruturais, mas esses elementos não são suficientes para explicar o fenômeno possessório. Nesse sentido, a teoria objetiva é relativizada. Corpus e animus são entendidos com base na concepção de Ihering, mas o fundamento de autonomia em razão da função social também é considerado para avaliar o que é posse. CONSEQUÊNCIAS RELEVANTES DA AUTONOMIA E A FUNÇÃO SOCIAL DA POSSE NO CÓDIGO CIVIL • Relativização da teoria objetiva; • Possibilidade de defesa da posse inclusive contra o proprietário; • Redução dos prazos para usucapião; 5m 3 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Posse III DIREITO CIVIL A N O TA ÇÕ ES A redução drástica dos prazos para usucapião revela que há uma valorização da posse em detrimento da propriedade, pois a usucapião é uma posse funcionalizada que sacrifica uma propriedade antissocial. Trata-se de uma sanção ao proprietário antissocial. • Desapropriação judicial – art. 1.228, §§ 4º e 5º; Se várias pessoas ocuparem uma área por cinco anos, de forma ininterrupta, e lá exer- cerem obras de interesse social, essas pessoas poderão adquirir a propriedade. Nesse sen- tido, a desapropriação judicial é uma posse funcionalizada que sacrifica uma propriedade antissocial. Isso é mais uma evidência de que a posse tem função social, sendo autônoma em relação à propriedade. • Acessão invertida (artigo 1.255, parágrafo único); • Proibição da exceção de domínio (art. 1.210, § 2º – Enunciados números 78 e 79); O fato de que não é possível discutir propriedade em ação possessória evidencia a auto- nomia da posse em relação à propriedade. • Dignidade humana e moradia; • O possuidor e a coletividade desprovida de personalidade jurídica (enunciado 236 do CJF). A teoria objetiva deve ser relativizada e adaptada ao modelo da posse funcionalizada, pois todos os institutos mencionados evidenciam essa relativização. Qual a Teoria Adotada pelo Código Civil para Explicar a Posse sob a Perspectiva Estrutural? Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade. • Corpus e animus (teoria objetiva). 10m 4 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Posse III DIREITO CIVIL A N O TA ÇÕ ES É necessário o exercício de poderes fáticos. O modo como os poderes serão exercidos é explicado de formas diferentes por cada teoria. Para a teoria subjetiva, o modo é o contato material com ânimo de dono, enquanto, para a objetiva, é o exercício de poderes inerentes à propriedade. Há Incoerência no Código Civil? • Tensão entre a teoria objetiva vinculada à propriedade (adotada pelo CC – artigo 1.196) e a função social da posse que impõe autonomia em relação à propriedade. • Tal autonomia é visualizada em vários institutos jurídicos (adotados no mesmo Código Civil). Enunciado 492 da V Jornada de Direito Civil. A posse constitui direito autônomo em relação à propriedade e deve expressar o aproveitamento dos bens para o alcance de interesses existen- ciais, econômicos e sociais merecedores de tutela. Como Definir Posse? • Posse é uma situação jurídica autônoma, que demanda a relativização da teoria objetiva. • Posse = corpus e animus da teoria objetiva + fundamento da teoria subjetiva + função social. Natureza Jurídica Contemporânea da Posse • A posse é protegida em si ou a proteção decorre da propriedade? • Qualquer direito subjetivo tem origem em um fato. • Se a posse é direito, esse direito tem natureza pessoal ou real? • Para a teoria objetiva, posse é um direito real (justificativa: vinculação da posse à propriedade). Existem dois tipos de posse: a civil e a natural. A posse civil é aquela que decorre da relação jurídica entre o possuidor atual e o anterior. Se essa relação jurídica decorrer de um direito real, pode-se dizer que a posse tem natureza real. Por outro lado, se a relação jurídica for um direito obrigacional, pode-se dizer que ela tem natureza obrigacional. A posse natural ou autônoma, por sua vez, não decorre de nenhuma relação jurídica. O sujeito se torna pos- 15m 5 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Posse III DIREITO CIVIL A N O TA ÇÕ ES suidor autonomamente, passando a exercer atos possessórios sem qualquer relação jurídica com algum possuidor anterior. No caso, a posse é simplesmente posse: ela não é nem direito obrigacional nem direito real. A depender de uma posse civil ou natural, é possível qualificá-la como um direito real ou obrigacional. • Para outra corrente, a posse é direito obrigacional (§ 2º doartigo 73 do CPC/2015 – participação do cônjuge – e artigo 1.212 do CC – sequela); Pluralidade da Natureza da Posse de Acordo com cada Situação Jurídica • Posse como direito real quando o possuidor é o proprietário – proteção possessória no contexto da propriedade – posse civil; • Posse como relação obrigacional, quando está fundada em relação jurídica desta natu- reza – posse civil; • Posse autônoma – desvinculada das situações jurídicas reais e obrigacionais (funda- mento: função social da posse) – posse natural. A teoria objetiva de Ihering fornece uma maior dimensão econômica para a posse e per- mite a chamada posse a distância. DESDOBRAMENTO DA POSSE • Posse direta e indireta Por força de uma relação jurídica obrigacional real, alguém transfere poderes possessó- rios para outra pessoa. O possuidor indireto não precisa necessariamente ser proprietário, pode ser simplesmente possuidor. Dessa forma, com dois possuidores, o direto e o indi- reto, ocorre o desdobramento da posse. Esse desdobramento é baseado numa relação jurí- dica transitória de direito real (usufruto, propriedade superficiária ou obrigacional, comodato, depósito, locação etc.). A posse civil é aquela que decorre de uma relação jurídica entre o possuidor atual e o possuidor anterior. Trata-se de uma posse derivada, subordinada. Isso porque os poderes do possuidor e o conteúdo da posse estão delimitados pela relação jurídica. 20m 6 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Posse III DIREITO CIVIL A N O TA ÇÕ ES • Posse direta é temporária (relação transitória de transferência de poderes dominiais), subordinada e derivada (o conteúdo e os limites são definidos pela relação jurídica de natureza real ou obrigacional da qual ela decorre). • Posse civil e teoria do fato jurídico. A posse civil deve ser associada à teoria do fato jurídico, pois ela deriva de uma rela- ção jurídica. • E a posse natural (ato-fato)? A posse natural é um ato-fato, porque não há relação jurídica entre o possuidor anterior e o atual. • Posses paralelas e consequências – Base – Teoria objetiva • Artigo 1.197 do Código Civil: “A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto”. A posse direta e a indireta convivem de forma harmônica: os possuidores têm tutela pos- sessória contra terceiros. Na vigência de uma locação, o locador, ainda que proprietário, não poderá molestar o locatário, devendo respeitar os limites da locação. • No desdobramento da posse, a relação jurídica de direito real ou obrigacional concede a uma pessoa o direito à posse, mas não a posse propriamente dita. Posse é fato: para que exista possuidor, é essencial que a pessoa passe a exercer, efetivamente, o poder fático sobre a coisa objeto do vínculo. Considere-se que um contrato de locação foi feito. O locatário, nessa situação, tem direito a se tornar possuidor. O contrato, por si só, não o torna possuidor, e sim os atos possessórios por ele exercidos. • Tal questão se relaciona com a aquisição da posse derivada ou civil: não basta o fato jurídico – é essencial que o possuidor passe a exercer poderes de fato sobre a coisa. 25m 7 www.grancursosonline.com.br Viu algum erro neste material? Contate-nos em: degravacoes@grancursosonline.com.br Posse III DIREITO CIVIL A N O TA ÇÕ ES • Para poder iniciar os atos possessórios, é essencial que o sujeito que transmitiu a posse tenha sido possuidor de fato. COMPOSSE • Posse simultânea sobre um único bem em estado de indivisão – pro indiviso. A composse está para a posse assim como o condomínio está para a propriedade. Na composse, duas ou mais pessoas, ao mesmo tempo, exercem poderes de fato sobre a mesma coisa que está em estado de indivisão. Quando uma coisa está em estado de indivi- são, não se pode predeterminar a fração material de cada um dos compossuidores. Nesse caso, os possuidores devem harmonizar seus interesses, pois a posse é simultânea. Essa situação é diferente da ideia de uma coisa indivisível. É possível que haja um objeto divisível, mas que está em estado de indivisão. • Artigo 1.199 do Código Civil: “Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam dos outros compossuidores”. • Extinção da composse; • Divisão consensual ou judicial; • Concentração de atos possessórios. Não há possibilidade de ações possessórias de um compossuidor contra o outro, salvo se um deles, de forma indevida, tentar impedir que o outro exerça atos possessórios. Nesse caso, o que foi excluído pode ingressar com uma ação possessória contra o autor do ato indevido, a fim de voltar a exercer atos possessórios. Já em relação a terceiros, qualquer um dos compossuidores tem direito a buscar a defesa da posse. 30m ���������������������������������������������������������������������������������Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula preparada e ministrada pelo professor Daniel Eduardo Branco Carnacchioni. A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu- siva deste material.
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