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APLICAÇÃO DAS EXCLUDENTES DE ILICITUDE NAS AÇÕES POLICIAIS NOS DENOMINADOS AUTOS DE RESISTÊNCIA

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52
APLICAÇÃO DAS EXCLUDENTES DE ILICITUDE NAS AÇÕES POLICIAIS NOS DENOMINADOS “AUTOS DE RESISTÊNCIA”
RESUMO
A presente monografia acadêmica tem por escopo o estudo dos chamados autos de resistência. O instituto mencionado se trata da atuação dos policiais, na qualidade de agentes estatais que atuam, diante uma situação de risco à sociedade ou a si próprios. O resultados de tais atuações, em virtude do confronto é a ou lesão de civis pelos policiais. Propõe-se, portanto, um estudo sibre a ilicitude, com sua conceituação e delimitação das principais catacterísticas; ponderações acerca das excludentes de ilicitude; estudo de casos concretos; considerações acerca da visão policial e da visão da sociedade acerca dos autos de resistência, por meio de entrevistas realizadas e, por fim, será abordada a necessidade de mudança legislativa no ordenamento jurídico brasileiro. Metodologicamente falando, foram utilizadas as técnicas de pesquisa empírica e bibliográfica. Constatou-se, em síntese, a necessidade de uma previsão mais clara por parte do legislador acerca dos limites a serem observados pelos agentes estatais.
Palavras-chave: Autos de registência. Excludentes. Legítima Defesa. Ilicitude. Atuação policial.
ABSTRACT
The present academic monograph aims to study the so-called resistance records. The aforementioned institute deals with the role of the police, as state agents who act, in the face of a situation of risk to society or to themselves. The result of such actions, as a result of the confrontation is the injury or injury of civilians by the police. Therefore, a study on illegality is proposed, with its conceptualization and delimitation of the main characteristics; considerations about illegality exclusives; concrete case studies; considerations about the police view and the view of society about the acts of resistance, through interviews conducted and, finally, the need for legislative change in the Brazilian legal system will be addressed. Methodologically speaking, empirical and bibliographic research techniques were used. In summary, there was a need for a clearer forecast by the legislator about the limits to be observed by state agents.
Keywords: Registration records. Excluders. Self Defense. Illegality. Police action.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO	...9
2 ILICITUDE	11
2.1 Considerações sobre a ilicitude formal e material	12
2.2 Das excludentes de ilicitude	14
2.2.1 Outras excludentes de ilicitude	15
2.2.2 Elementos objetivos e subjetivos das causas de exclusão da ilicitude	16
2.2.3 Estado de necessidade	18
2.2.4 Estrito cumprimento do dever legal	20
2.2.5 Legitima defesa	22
2.2.6 Exercício regular de direito..................................................................................26
2.2.7 Consentimento do ofendido.................................................................................27
3 ESTUDO DE CASO..................................................................................................30
4 VISÃO POLICIAL X VISÃO DA SOCIEDADE ...........................................................34
5 AUTOS DE RESISTÊNCIA E A CONFIGURAÇÃO DE EXCLUDENTE DE ILICITUDE ............................................................................................................................37
6 NECESSIDADE DE MUDANÇA LEGISLATIVA......................................................41
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................47
REFERÊNCIAS............................................................................................................49
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por escopo o estudo sobre a atuação das equipes policiais diante de uma situação de risco eminente à sociedade, notadamente, nos chamados autos de resistência. Tais operações policiais são aquelas em que o resultado do confronto é a morte ou lesão de civis pelos policiais, em razão de eventual contronto aos agentes estatais.
Ocorre que referida situação tem o potencial lesivo à vida dos transeuntes presentes e dos apróprios gentes policias envolvidos na operação, o que presumiria a legítima defesa. Verifica-se, ainda, que existem as possíveis sanções do Estado frente ao resultado indesejado dos meios utilizados pelos policiais para cessar a agressão injusta imposta pelo indivíduo.
Dessa forma, a pesquisa busca esclarecer sobre a necessidade de o Estado proporcionar maior amparo legal dentro do ordenamento juríco brasileiro acerca da excludente de ilicítude pautada na legítima defesa nas ações policiais denominadas como autos de resistência. 
Portanto, um agente que no exercício legal de sua função, utilizando-se dos meios necessários para conter uma agressão, caso resulte na morte do indivíduo, poderá e deverá ser amparado pela legítima defesa que está tipificada no Código Penal Brasileiro como uma excludente de ilicitude.
Dessa forma, o problema encontrado é saber se: os policias se valerão das excludentes de ilicitude para sua defesa nos autos de resistência ou ainda hesitarão em agir contra o agressor?
Por isso, a presente pesquisa discorrerá sobre a necessidade de uma análise criteriosa sobre essas ações policiais, com uma maior regulamentação legal sobre o tema abordado.
O estudo que será apresentado se justifica diante da relevância social apresentada, destacando-se a necessidade de melhoria, avanço e pacificação.
Ademais, contata-se que a falta de legislação especifica sobre o tema gera inúmeros transtornos aos policiais e à população, uma delas seria a insegurança de agir dos policias.
No âmbito acadêmico, espera-se propiciar com a pesquisa em apreço, um debate sobre como o instituto das excludentes de ilicitudes tem sido usado nas ações policias, bem como a forma em que essas ações são vistas e como afetam a vida da sociedade.
Por meio do método hipotético-dedutivo, este estudo terá como base pesquisas bibliográficas e documentais.
O estudo realizar-se-á por meio de pesquisa teórica-prática e utilizará doutrinas, publicações, textos, livros, outros trabalhos acadêmicos, teses e legislações que guardem relação com tema, ainda que de forma indireta.
A parte prática dar-se-á por meio de análise de jurisprudência com aplicação do instituto em um caso concreto. 
	Insta salientar, que a presente pesquisa não visa esgotar os temas supramencionados, sequer estabelecer paradigmas, propõe-se, portanto, como objetivo geral, como já destacado, analisar a aplicação das excludentes de ilicitude nos autos de resistência.
	Para tanto, o primeiro capítulo abordará o conceito de ilicitude, suas espécies, características, classificação, elementos e quais seriam as causas legais de ilicitude.
	Por sua vez, no segundo capítulo, serão abordados os autos de resistência propriamente ditos e como eles se relacionam com as excludentes de ilicitude.
	O terceiro capítulo, a seu turno, analisará um estudo de caso concreto, com vistas a se explorar como as excludentes foram consideradas e se foram aplicadas.
	O capítulo de número quatro trará o tema objeto do presente estudo na perspectiva do policial, agente estatal e da sociedade, vítima, objeto de proteção.
	Por fim, e no quinto e último capítulo será apreciada a necessidade de criação de uma legislação específica para a situação posta em tela, ante a notória relevância da atuação policial no mundo jurídico.
	Passa-se, assim, à apresentação do instituto da ilicitude penal e seus desdobramentos correlatos que serão abordados no tópico que segue.
2 ILICITUDE
A ilicitude também chamada de Antijuricidade, em sigelas palavras, diz respeito a relação de contrariedade entre o ordenamento jurídico e o ato praticado pelo agente. Nas palavras de Nucci (2018, p. 211), não muito diferente do exposto, se trata da “[...] contrariedade de uma conduta com o direito, causando efetiva lesão a um bem jurídico protegido.”
Para Rogério Greco (2015, p. 369) “quando nos referimos ao ordenamento jurídico de forma ampla, estamos querendo dizer que a ilicitude não se resumea matéria penal, mas sim que pode ter natureza civil, administrativa, tributária, etc”.
Dessa forma, se a conduta do agente ir contra o ordenamento jurídico, ela será considerada ilícita, ou antijurídica. Assim, a ilicitude do ato praticado causa lesão a um bem juridicamente tutelado. Ainda para Nucci (2018, p. 2011) “trata-se de um prisma que leva em consideração o aspecto formal da antijuricidade (contrariedade da conduta com o Direito), bem como seu lado material (causando lesão a um bem jurídico tutelado)”.
O termo em análise está diretamente ligado aos institutos da tipicidade e culpabilidade, sobretudo ao da ticippidade. Precipuamente analisa-se se a conduta é típica ou não, logo em seguida se verifica e a conduta é antijurídica, ou seja, se é contrária a alguma norma do ordenamento jurídico. Nos dizeres de Bitencount (2018, p. 569), é preciso que a conduta seja considerada “[...] ilícita, e constitui um injuto. [Portanto,] o termo antijuridicidade expressa, portanto, um juízo de contradição entre a conduta típica praticada e as normas do ordenamento jurídico.”
Portanto, para que haja ilicitude, é necessário que o agente contrarie uma norma do ordenamento jurídico, caso contrario não estaria sendo ilícita sua ação. 
	Eugenio Zaffaroni (2011, p. 401), acerca do tema, complementa que ““A ordem jurídica não se esgota na ordem normativa, isto é, não é apenas um conjunto ordenado de normas proibitivas, mas também está integrada com preceitos permissivos”.
	Nesse mesmo sentido, Bitencourt (2018, p. 574) pontua que a “[...] essência da antijuridicada deve ser vista, segundo uma corrente minoritária, como a violação do dever de atuar ou de omitir estabelecido por uma norma jurídica.”
Todavia, em algumas situações, conforme Assis Toledo (1994, p. 164):
A ilicitude, na área penal, não se limitará à ilicitude típica, ou seja, à ilicitude do delito, esta sempre e necessariamente típica um exemplo de ilicitude atípica pode ser encontrado na exigência da agressão ('agressão injusta' significa 'agressão ilícita') na legitima defesa. A agressão que autoriza a reação defensiva, na legítima defesa, não precisa ser um fato previsto como crime, isto é, não precisa ser um ilícito penal, mas deverá ser no mínimo um ato ilícito, em sentido, por inexistir legítima defesa contra atos lícitos.
	
Entretanto, esse conceito de ilicitude, todavia, limita-se a uma análise de um conceito meramente formal, sendo ainda aduzido a ilicitude material. Assim, com base em tais premícias, passa-se à análise dos conceitos de ilicitude formal e material.
2.1 Considerações sobre a ilicitude formal e material
Conforme alega Miguel Reale Júnior apud Greco (2015, p. 370):
Von Liszt lançou, por primeiro, nas 12ª e 13ª edições de seu trabalho, a distinção entre o que é formal e o que é materialmente antijurídico. No seu entender, um fato seria formalmente antijurídico enquanto contrário a uma proibição legal, e materialmente antijurídico por implicar na lesão ou perigo a um bem jurídico, ou seja, formalmente, a antijuridicidade se caracteriza como desrespeito a uma norma, a uma proibição da ordem jurídica; materialmente, como ataque a interesses vitais de particulares e da coletividade protegidos pelas normas estatuídas pelo legislador.
	Desse modo, apenas demonstrar a contradição da conduta e do ordenamento jurídico, para se ter uma ideia de antijuridicidade material, não é suficiente. Dessa forma, Assis de Toledo (1984, p.8) pontua que a conceituação de ilicitude material “a relação de antagonismo que se estabelece entre a conduta humana voluntária e o ordenamento jurídico, de sorte a causar lesão ou a expor a perigo de lesão um bem jurídico tutelado.”
A título de exemplo, Nucci (2018), citando o exemplo de Muñoz Conde, relata sobre a falsificação de uma assitura de qualquer personalidade da mídia por mero passatempo. Não se trata de uma ação materialmente ilícita, porque não oferece nenhum tipo de risco real, contudo, tal conduta não é socialmente adequada. Assim sendo, verifica-se a licitude da conduta praticada por ausência de dano ou ameaça de dano ao bem jurídico tutelado.
Assim, além da controvérsia entre a conduta do agente e a norma, que configura a ilicitude formal, é necessário que essa conduta, cause lesão ou exponha ao perigo o bem jurídico tutelado para configurar a ilicitude material.
Se determinada conduta é expressamente proibida pelo Código Penal, sendo que ao ser descumprida, haverá uma sanção, logo essa conduta causa lesão ao bem jurídico tutelado ou expõe ao perigo. E se alguma forma o agente insiste em pratica- la, conclui-se pela sua ilicitude. 
Para o autor Jescheck, citado por Bitencourt (2018, p. 575-576), a antijuricidade material acerrada duas consequências:
a) Permite a graduação do injusto segundo sua gravidade e sua expressão na medição da pena. Assim, segundo o ponto de vista da antijuridicidade formal, o tratamento médico-cirúrgico constitui uma lesão da integridade física, somente justificável através do consentimento. Já sob o ponto de vista da antijuridicidade material, a intervenção médico-cirúrgica não constitui uma lesão, uma vez que a integridade corporal, ainda que temporariamente perturbada, não resulta violada, mas restabelecida. Mesmo quando a intervenção cirúrgica não é bem-sucedida, quando realizada em obediência aos princípios da lexis arts, não haverá lesão alguma, visto que a intenção curativa do médico exclui o injusto da ação. Na verdade, a intervenção efetuada sem consentimento do paciente não constitui, em tese, lesão da integridade física, mas tratamento curativo unilateral. Além disso, a antijuridicidade material contribui na elaboração de princípios limitadores do ius puniendis, como é o caso do princípio de insignificância, de intervenção mínima, de ofensividade, restringindo a incidência do Direito Penal para os casos de ataques relevantes aos bens jurídicos mais importantes.
b) Outra consequência prática da consideração material da antijuridicidade é a possibilidade de admitir a existência de causas supralegais de justificação — como é o caso do consentimento do ofendido — com base no princípio da ponderação de bens, como demonstraremos em tópico adiante.
Em contrapartida, tem-se o entededimento de que se faz desnecessária a realização de distinção entre formal e material, pois a norma existe para proteger o bem que é considerável relevante, é porque toda e qualquer conduta que a contrarie, que contrarie o ordenamento jurídico, causa lesão ao bem jurídico ou expõe ao perigo. Logo, se torna unitário o conceito de ilicitude, sendo essa postura também adotada por Toledo.
Dessa forma, conclui Assis Toledo (1984, p.8):
Um comportamento humano que se ponha em relação de antagonismo com a ordem jurídica não pode deixar de lesar ou de expor a perigo de lesão os bens jurídicos tutelados por essa mesma ordem jurídica. Isso leva à conclusão de que a ilicitude, tal como a definimos anteriormente, só pode ser uma só, ou seja, aquela que se quer denominar redundantemente de material.
Na mesma ideia segue Sheila Bierrenbach apud Greco (2015, p. 371):
A distinção não tem sentido. Nesta ordem de ideias, se as normas penais, proibitivas ou imperativas, são construídas com a finalidade de proteger bens jurídicos, torna-se evidente que toda oposição à norma penal implica lesão ou perigo de lesão a um bem tutelado. Confundem-se, portanto, ilicitude formal e material, não havendo razão para a distinção. Ilicitude constitui, pois, relação de antagonismo entre a conduta e a norma penal incriminadora, do que decorre dano ou periclitação do bem jurídico tutelado.
Há ainda alguns se se falam em ilicitude subjetiva e ilicitude objetiva. Sendo a primeira, o fato somente será ilícito se o agente tiver capacidade de avaliar seu caráter criminoso, não bastando que objetivamente a conduta esteja descoberta por causa de justificação. Já na objetiva a conduta não há amparo por excludente, independente da capacidade do agente (NUCCI, 2018).
Por fim, entende – se, portanto, que, a ilicitude ou antijuridicidadetem a ver com a incompatibilidade entre a conduta de um agente e as normas estabelecidas pelo ordenamento jurídico.
2.2 Das excludentes de ilicitude
As causas de excludentes também são denominadas como causas de justificação. São elas que fornecem amparo legal ao trabalho da polícia objeto do presente estudo. Em que pese o agente praticar atos típicos, dentro de certo limite, terá suporte jurídico para assim proceder.
Nos dizeres de Bitencourt (2018, p. 588), “A sistematização das causas de justificação tem como fundamento material a necessidade de solucionar situações de conflito entre o bem jurídico atacado pela conduta típica e outros interesses que o ordenamento jurídico também considera valiosos e dignos de proteção.”
Por sua vez, Conde e Arán (2010, p. 309) relatam que “as causas de justificação não somente impedem a imposição de pena ao autor do fato típico, mas converte esse fato em algo lícito, com todas as suas consequências”.
Pode-se dizer que quando o agente pratica alguma conduta, embora tipificada como crime, em regra, também será antijurídica. Todavia, há algumas ações que para Aníbal Bruno (1967, p. 365):
Pela posição particular em que se encontra o agente ao praticá-las, se apresentam em face do Direito como lícitas. Essas condições especiais em que o agente atua impedem que elas venham a ser antijurídicas. São situações de excepcional licitude que constituem as chamadas causas de exclusão de antijuridicidade, justificativas ou descriminantes.
O Código Penal Brasileiro, em seu artigo 23, reza que não haverá crime quando o agente preticar o fato: “[...] I - em estado de necessidade; II - em legítima defesa; III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.” (BRASIL, 1940).
Para Bustos Ramírez e Hormazábal Malarée apud Greco (2015, p. 373):
Cada uma das causas de justificação tem seus próprios fundamentos específicos, mas todas têm o mesmo princípio fundamentador, que é o predomínio do direito preeminente. As causas de justificação implicam sempre um processo de ponderação para determinar conforme o ordenamento jurídico e em referência ao caso concreto qual é em uma situação determinada o direito prevalente.
Portanto, a excludente de ilicitude torna lícito o que é ilícito.
2.2.1 Outras excludentes de ilicitude
As hipóteses supramencionadas são as denominadas causas genéricas, mencionadas na parte geral do Código Penal. Contudo, ainda há que se considerar as específicas ou especiais, as quais tem aplicação somente em determinados crimes. São previstas nos artigos 128[footnoteRef:2], 142[footnoteRef:3], 146, parágrafo 3º, I[footnoteRef:4], 150, parágrafo 3º, incisos I e II[footnoteRef:5] e 156, parágrafo 2º[footnoteRef:6], todos do Código Penal. [2: Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. ] [3: Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível: I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador; II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar; III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever do ofício. ] [4: Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda: [...] § 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo: [...] I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida; ] [5: Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências: [...]§ 3º - Não constitui crime a entrada ou permanência em casa alheia ou em suas dependências: I - durante o dia, com observância das formalidades legais, para efetuar prisão ou outra diligência; II - a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo ali praticado ou na iminência de o ser. ] [6: Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum: [...]§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que tem direito o agente. ] 
Há que se falar também das previstas em legislação extrapenal, as quais ultrapassam o âmbito penal. São situações peculiares, por exemplo, a legítima defesa no Código Civil, em seu artigo 1.210, parágrafo 1º[footnoteRef:7]. No caso, o possuidor esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força. [7: Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.
§ 1 o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.
] 
E por fim, a causa do consentimento do ofendido. Essa é consdierada supralegal, ou seja, não prevista em lei. Nesse caso, há desinteresse da vítima em fazer valer a proteção ao bem jurídico tutelado.
Bitencourt (2018, p. 592) relata que “A concepção do conteúdo material da antijuridicidade tornou possível a admissão de causas supralegais de justificação, como têm sustentado a doutrina nacional e estrangeira.”
Contudo, o autor destada com o contrário, os injustos supralegais, não podem ser reconhecidos, diante do princípio da legalide e o da reserva legal (BITENCOURT, 2018).
2.2.2 Elementos objetivos e subjetivos nas causas de exclusão da ilicitude
Para a efetiva configuração de cada excludente de ilicitude, devem estar presentes os elementos objetivos e subjetivos. Masson, acerca da discussão doutrinária sobre o tema, levante a questão se os requisitos são apenas os especificados em lei, “relacionados ao aspecto exterior do fato, ou se está condicionado também a um requisito subjetivo, atinente ao psiquismo interno do agente, que deve ter consciência de que age sob a proteção da justificação.” (MASSON, 2010, p. 355-356).
Welzel apud Greco (2015, p. 374) pontua que:
As causas de justificação possuem elementos objetivos e subjetivos. Para a justificação de uma ação típica não basta que se deem os elementos objetivos de justificação, senão que o autor deve conhecê-los e ter, ademais, as tendências subjetivas especiais de justificação. Assim, por exemplo, na legítima defesa ou no estado de necessidade (justificante) o autor deverá conhecer os elementos objetivos de justificação (a agressão atual ou o perigo atual) e ter vontade de defesa ou de salvamento. Se faltar um ou outro elemento subjetivo de justificação, o autor não se justifica apesar da existência dos elementos objetivos de justificação.
Os elementos objetivos serão determinados pelo Direito Penal de forma expressa ou implícita. Entretanto, efetivamente, a lei apenas cuidou de definir quais seriam as situações de legitima defesa e estado de necessidade. E, no caso de estrito dever legal ficou a cargo das doutrinas e jurisprudências entenderem quais situações se encaixam nessa modalidade de excludente de ilicitude.
Usa-se a situação hipotética em que Maria se dirige ao trabalho de Tício para matá-lo em razão de uma ofensa por ele proferida. Chegando ao local, Maria apenas avista Tício e dispara sua arma contra ele e em seguida foge. Ocorre que, Mévio estava na frente de Tício, que tinha como intuito de matar Mévio, eis que lhe apontava uma arma. Sem que Maria soubesse salvou a vida de Mévio ao atirar em Tício.
O caso poderia ser analisado de duas maneiras: a primeira seria em que se fosse exigido o elementosubjetivo, para que configure a excludente de ilicitude, no caso em comento teria Maria que ter atuado em legitima defesa em favor de Mévio, uma vez que seria morto por Tício. A segunda maneira seria que para a configuração da excludente, fosse necessário o elemento subjetivo, no caso em questão, que ao atirar em Tício, Maria sabia que agia com a intenção de defender alguém, não poderia haver a legitima defesa de Mévio.
Dessa forma, há a discussão se a pessoa estaria praticando um crime ou estaria atuando conforme o Direito. Para Greco (2015) o elemento subjetivo é indispensável para a caracterização da excludente. No exemplo, Maria teve a vontade de matar Tício e não salvar a vida de Mévio. Devendo assim, ser culpada pelo dolo e responsabilizada pelo homicídio.
Nos dizeres de Bitencourt (2018, p. 590):
não basta que estejam presentes os pressupostos objetivos de uma causa de justificação, sendo necessário que o agente tenha consciência de agir acobertado por uma excludente, isto é, com conhecimento da situação justificante e com vontade de evitar um dano pessoal ou alheio.
Quanto a exigência do elemento subjetivo, podem ser reproduzidas as seguintes emendas:
O ‘animus defendendi’ é elemento estrutural do conceito de legítima defesa; por isso, não o apresenta quem, irrogando-se uma falsa representação, mata a outrem a tiros de revólver, pelas costas"(TJBA - AC Rel. Gerson Pereira Bahia Forense 23/248)
[...]
A legítima defesa somente justifica as ações defensivas necessárias para afastar uma agressão antijurídica de forma menos lesiva possível para o agressor. A necessariedade deve ser considerada de acordo com as circunstâncias fáticas em que a ação e reação se desenvolvem. O “animus defendendi” é elemento estrutural do conceito de legítima defesa. Por isso, não o apresenta, quem, irrogando-se uma falsa representação, mata outrem à tiros de revólver pelas costas"(TJBA - AC - Rel. Gerson Pereira RT 594/385).
[...]
Ante a inexistência de prova que mostrassem ter sido a ação do acusado objetivamente necessária e subjetivamente dirigida pela vontade de se defender, está descaracterizada a causa de exclusão da antijuridicidade de legítima defesa. (TJBA - Rec. - Rel. Gerson Pereira - Bahia forense 18/158).
Por isso o elemento subjetivo é importante para a definição se o agente atuou ou não em conformidade com o ordenamento jurídico.
Em suma, diante da necessidade de regulamentar as causas de justificação que o Código Penal Brasileiro inseriu os institutos que serão abordados nos capítulos que seguem.
	 
2.2.3 Estado de necessidade
O Estado de necessidade foi inserido na reforma penal de 1984, no artigo 24 do Código Penal, com o seguinte texto: Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.” (BRASIL, 1940).
Bitencourt (2018) sustenta que a exclusão de ilicitude em apreço se caracteriza pelacolisão de bens jurídicos de diferentes valores, sendo certo que o de mais valor será protegido em detrimento do outro.
Fernando de Almeira Pedroso (2008, p. 152) aduz que 
O fundamento jurídico do estado de necessidade reside, portanto, no conflito de interesses que tal adversidade faz nascer, compelindo o sujeito ativo, em vista da situação de perigo que se descortina, a acuar, movido pelo instinto de conservação, para preservar e proteger seu próprio bem jurídico, ainda que à custa da violação de direito de outrem.
Verifica-se, portanto, que seria o sacrifício de um interesse tutelado, para salvar de perigo atual e inevitável do agente ou de terceiros.
Já Juarez Cirino dos Santos adota duas teorias:	
Atualmente, duas teorias definem a natureza jurídica do estado de necessidade: a) a teoria diferenciadora disciplina o estado de necessidade segundo um sistema duplo: como justificação (para hipóteses de proteção de bem jurídico superior ao sacrificado) e como exculpação (para hipóteses de proteção de bem jurídico equivalente ao sacrificado) – teoria adotada pela legislação penal alemã, por exemplo, que define expressamente o estado de necessidade justificante (§ 34, CP) e o estado de necessidade exculpante (§ 35, CP); b) a teoria unitária disciplina o estado de necessidade segundo um sistema único: ou como justificação, ou como exculpação – independentemente de superioridade ou equivalência do bem jurídico protegido em relação ao bem jurídico sacrificado – teoria adotada pela lei penal brasileira, que define o estado de necessidade exclusivamente como justificação, no art. 23, I, CP (SANTOS, 2012, p. 235-236).
Quanto a origem do perigo, há o estado de necessidade defensivo e agressivo. O primeiro ocorre quando o agente age de forma necessária contra alguém ou animal que lhe ameace ou ameace um terceiro. Tem-se como exemplo matar um tigre que estava prestes a lhe atacar (NUCCI, 2018).
Por sua vez, o agressivo se dá quando o agente se volta contra pessoa ou coisa alheia da qual provém o perigo. Pode-se considerar a situação hipotética em que alguém invade um apartamento para salvar uma criança que estava pendurada na janela do 10º andar (NUCCI, 2018).
Quanto ao bem sacrificado, há a hipótese de necessidade justificante e exculpante. A ustificante refere-se ao sacrifício de um bem com menor valor em relação a outro que será salvo. Por exemplo atirar em um cão bravo que ia atacar uma criança. Para retratar o estado de necessidade, Nucci (2016, p. 216) cita a obra Noite na Taverna de Álvares de Azevedo:
Isso tudo, senhores, pare dizer-vos uma coisa muito simples um fato velho e batido — uma prática do mar, uma lei do naufrágio — a antropofagia. Dois dias depois de acabados os alimentos, restavam três pessoas: eu, o comandante e ela — eram três figuras macilentas como o cadáver, cujos nus arquejavam como a agonia, cujos olhares fundos e sombrios se injetavam de sangue como a loucura.
O uso do mar—não quer dizer a voz da natureza física, o brado do egoísmo do homem—manda a morte de um para a vida de todos. —Tiramos a sorte
—o comandante teve por lei morrer. Então o instinto de vida se lhe despertou ainda. Por um dia mais, de existência, mais um dia de fome e sede, de leito úmido e varrido pelos ventos frios do norte, mais umas horas mortas de blasfêmia e de agonia, de esperança e desespero — de orações e descrenças — de febre e de ânsia — o homem ajoelhou-se, chorou, gemeu a meus pés... —Olhai, dizia o miserável, esperemos até amanha. Deus terá compaixão de nós. Por vossa mãe, pelas entranhas de vossa mãe!!! por Deus se ele existe! deixai, deixai-me ainda viver!
[...] Eu ri-me porque tinha fome. Então o homem ergueu-se. A fúria levantou nele — com a última agonia. Cambaleava, e um suor frio lhe corria no peito descarnado. —Apertou-me nos seus braços amarelentos e lutamos ambos corpo a corpo, peito a peito, pé por pé — por um dia de miséria! A lua amarelada erguia sua face desbotada, como uma meretriz cansada de uma noite de devassidão — do céu escuro parecia zombar desses dois moribundos que lutavam por uma hora de agonia...O valente do combate desfalecia—caiu: pus-lhe o pé na garganta — sufoquei-o — e expirou...Não cubrais o rosto com as mãos — faríeis mesmo. Aquele cadáver foi nosso alimento dois dias...
O estado de necessidade exculpante por sua vez, ocorre quando o agente sacrifica um bem de maior valor em favor de um de menor valor. Todavia, não poderia se exigir dele outro comportamento devido as circunstâncias. Nesse caso aplica se a teoria da inexigibilidade de conduta diversa (NUCCI, 2018).
Faz-se necessário o preenchimento de certos requisitos para que reste caracterizado o estado de necessidade, quais sejam: situação de perigo; conduta lesiva ou fato necessitado. Tem-se que a situação de perigo se subdivide em perigo atual, ameaça de direito próprio ou alheio; situação não causada voluntariamente pelo sujeito e inexistência de dever legal de arrostar perigo. Noutro giro, a prática de conduta lesiva necessitade inevitabilidade do comportamento lesivo; inexigibilidade de sacrifício do interesse ameaçado e conhecimento da situação de fato justificante (SANCHES, 2016).
No próximo capítulo será abordado o estrito cumprimento do dever legal. 
2.2.4 Estrito cumprimento do dever legal
Conforme ensina Bitencourt (2018), nos termos do artigo 23, inciso III, do Código de Processo Penal, quem pratica determinada ação em cumprimento de um dever imposto pela lei não comete qualquer crime. “Ocorrem situações em que a lei impõe determinada conduta e, em face da qual, embora típica, não será ilícita, ainda que cause lesão a um bem juridicamente tutelado.” (BITENCOURT, 2018, p. 630).
Cite-se como exemplo o carrasco que executa o sentenciado à morte pelo Estado; o carcereiro que impede o livre acesso dos presos; o policial que prende. 
O conceito dessa excludente não foi definido explicitamente no Código Penal, como foi feito no estado de necessidade e legitima defesa, sequer seus elementos característicos. Contudo, certos requisitos devem ser seguidos de forma bastante rígida. Veja-se: 
a) estrito cumprimento — somente os atos rigorosamente necessários justificam o comportamento permitido; b) dever legal — é indispensável que o dever seja legal, isto é, decorra de lei, não o caracterizando obrigações de natureza social, moral ou religiosa. A norma da qual emana o dever tem de ser jurídica, e de caráter geral: lei, decreto, regulamento etc. Se a norma tiver caráter particular, de cunho administrativo, poderá, eventualmente, configurar a obediência hierárquica (art. 22, 2ª parte, do CP), mas não o dever legal (BITENCOUT, 2018, p. 630).
Há de se perceber inicialmente que, dever haver um dever legal imposto àquele que irá realizar a conduta. Em geral é dirigido a aquelas que integram a Administração pública, que devem intervir em situações, como policiais e oficiais de justiça, conforme já citado anteriormente.
 Conforme Juarez Cirino dos Santos:
o estrito cumprimento de dever legal compreende os deveres de intervenção do funcionário na esfera privada para assegurar o cumprimento da lei ou de ordens de superiores da administração pública, que podem determinar a realização justificada de tipos legais, como a coação, privação de liberdade, violação de domicilio, lesão corporal etc. (SANTOS, 2000, p. 198).
Outros possíveis agentes que não fazem parte da administração pública, com deveres legais, são aqueles com exercício familiar. É o previsto no artigo 1.634: “Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos:
I dirigir-lhes a criação e a educação;
II exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584;
III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem
IV conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para viajarem ao exterior; 
V conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para mudarem sua residência permanente para outro Município
VI - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar;
VII - representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento;
- reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;
- exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição.
Dessa forma, compete ao pais dirigirem a criação e educação dos filhos menores, e muita das vezes devem tomar atitudes para que isso se realize. Como por exemplo, para que sejam corrigidos precisam ser constrangidos de alguma forma. Essa atitude deverá ser analisada pela ótica do estrito dever legal.
Em contraposição, Cleber Masson (2010, p. 401) afirma que: 
Prevalece, contudo, o entendimento de que o estrito cumprimento de dever legal como causa de exclusão de ilicitude também se estende ao particular quando atua no cumprimento de um dever imposto por lei. Nesse sentido não há crime de falso testemunho na conduta do advogado que se recusa a depor sobre fatos que tomou conhecimento no exercício da sua função, acobertados pelo sigilo profissional (Lei 8.906/1994 – Estatuto da OAB, arts. 2.º, § 3.º, e 7.º, XIX.
Conforme muito bem delimitado por Bitencourt (2018, p. 634) “O limite do lícito termina necessariamente onde começa o abuso, uma vez que aí o direito deixa de ser exercido regularmente, para mostrar-se abusivo, caracterizando sua ilicitude.”
Assim sendo, resta evidente que o agente, ao ter determinada ação, e atuar nos limites estabelecidos pela lei, ainda que típico o fato, haverá justificação.
	No próximo tópido será apreciada a legítima defesa.
2.2.5 Legitima defesa
O Código Penal Brasileiro, no seu artigo 25, dispõe que age em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. Nucci (2009, p. 250) enfatiza o conceito “é a defesa necessária empreendida contra agressão injusta, atual ou iminente, contra direito próprio ou de terceiro, usando, para tanto, moderadamente, os meios necessários. Trata-se do mais tradicional exemplo de justificação para a prática de fatos típicos.
Bitencourt, sobre o instituto assevera que 
A legítima defesa, um dos institutos jurídicos mais bem elaborados através dos tempos, representa uma forma abreviada de realização da justiça penal e da sua sumária execução. Afirma-se que a legítima defesa representa uma verdade imanente à consciência jurídica universal, que paira acima dos códigos, como conquista da civilização [...] apresenta um duplo fundamento: de um lado, a necessidade de defender bens jurídicos perante uma agressão injusta; de outro lado, o dever de defender o próprio ordenamento jurídico, que se vê afetado ante uma agressão ilegítima. [...] As teorias subjetivas, que consideram a legítima defesa causa excludente de culpabilidade, procuram fundamentá-la na perturbação de ânimo do agredido ou nos motivos determinantes do agente. As teorias objetivas, por sua vez, consideram a legítima defesa como excludente de antijuridicidade (BITENCOURT, 2018, p. 617-618).
O autor Nucci (2009, p. 250) frisa a prática da legítima defesa perante a impotência do Estado: “valendo-se da legítima defesa, o indivíduo consegue repelir agressões indevidas a direito seu ou de outrem, substituindo a atuação da sociedade ou do Estado, que não pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo, através de seus agentes.”
Todavia, Greco (2003, p. 378) salienta outros quesitos que desenvolve o conceito da legítima defesa. Para o autor, quando se refere ao Direito, não pode ser confundida a legitima defesa com vingança.
Para que se possa falar em legítima defesa, que não pode ser confundida com vingança privada é preciso que o agente se veja numa situação de total impossibilidade de recorrer ao Estado, responsável. Constitucionalmente pela nossa segurança pública, e, só assim, uma vez presentes os requisitos legais de ordem objetiva e subjetiva, agir em sua defesa ou de terceiros.
Dessa forma, entende-se que a legítima defesa constitui uma circunstância de justificação por não atuar contra a ação de quem reage para garantir direito próprio ou alheio, ao qual o Estado não pode oferecer proteção.
Jimézes de Asúa citado por Nucci (2016, p. 221) aduz que “é a repulsa da agressão ilegítima, atual ou eminente, por parte do agredido ou em favor de terceira pessoa, contra o agressor, sem ultrapassar a necessidade da defesa e dentro da racional proporção dos meios empregados para impedi-la.”
Percebe-se, portanto, que é necessário que na situação, o agente veja que seja impossível recorrer ao Estado, que é responsável pela segurança do povo. E dessa forma, presente os requisitos legais, aja em sua defesa ou defesa de terceiros. Portanto, é a defesa necessária contra agressão injusta, devendo observar a forma que o legislador estipula, por meios necessários, mas moderados.
Há ainda em que sefalar na natureza jurídica da legitima defesa. O instituto apresenta dois fundamentos. O primeiro seria que seria a defesa do ordenamento jurídico, afetando ante uma agressão injusta. O segundo é a necessidade de defender bens jurídicos perante uma agressão. Conforme Zaffaroni e Pierangeli apud Silva (2011, p.15):
O problema mais complexo da legitima defesa não é a sua natureza, mas o seu fundamento. É definido pela necessidade de conservar a ordem jurídica e de garantir o exercício dos direitos. Conforme seja acentuado um ou outro dos aspectos deste duplo fundamento, se insistira em seu conteúdo social ou individual. Na realidade, o fundamento da legitima defesa é único, porque se baseia no principio de que ninguém pode ser obrigado a suportar o injusto. Trata-se de uma situação conflitiva, na qual o sujeito pode agir legitimamente, porque o direito não tem outra forma de garantir o exercício de seus direitos, ou melhor dito, a proteção de seus bens jurídicos.
E ainda Jesus (2002, p. 385) define sua posição, que segundo o entendimento do autor, são garantidos dois grupos que procuraram fundamentar a legítima defesa:
O primeiro grupo parte do principio que o homicídio cometido em legítima defesa é voluntário, não se castigando o autor porque se fundamenta na conservação da existência, essa teoria é bastante restrita, uma vez que se baseia exclusivamente no homicídio, entendendo o instituto com escusa e causa de impunidade. O segundo grupo fundamenta a legítima defesa como exercício de um direito e causa de justificação, pois não atua contra o direito quem comete reação para proteger um direito próprio ou alheio ao qual o Estado não pode oferecer a tutela mínima, esta é a seguida pelo Código Penal.
Então é permitido de certa forma que a população possa agir em sua própria defesa. Entretanto, essa permissão é limitada sendo que há regras estabelecidas a regulando. A legítima defesa exige “[...] a presença simultânea dos seguintes requisitos: agressão injusta, atual ou iminente; direito (bem jurídico) próprio ou alheio; meios necessários usados moderadamente; elemento subjetivo: animus defendendi. Este último é um requisito subjetivo; os demais são objetivos.” (BITENCOURT, 2018, p. 620).
A agressão injusta atual ou iminente é o primeiro requisito para configurar legitima defesa, isso implica o injusto ataque. O Código Penal menciona o adjetivo “injusta”, para qualificar a agressão que autoriza a repulsa, sendo contrária sistema jurídico brasileiro. Segundo Hungria apud Greco (2003, p. 393)
A injustiça da provocação deve ser apreciada objetivamente, isto é, não segundo a opinião de quem reage, mas segundo a opinião geral, sem se perder de vista, entretanto, a qualidade ou condição das pessoas dos contendores, seu novel de educação, seus legítimos melindres. Uma palavra que pode ofender a um homem de bem já não terá o mesmo efeito quando dirigida a um desclassificado. Por outro lado, não justifica o estado de ira a hiperestesia sentimental dos alfenins e mimosos. Faltará a objetividade da provocação, se esta não é suscetível de provocar a indignação de uma pessoa normal e de boa-fé. É bem de ver que a provocação injusta deve ser tal que contra ela não haja necessidade de defesa, pois, de outro modo, se teria de identificar na reação a legítima defesa, que é causa excludente de crime.
Entretanto, não basta apenas que tenha havido agressão injusta, a agressão
deve ainda ser atual ou iminente. A concepção atual, ocorre que a agressão ainda está acontecendo, que já começou, porém ainda não teve fim. E iminente designa a agressão imediata que está prestes a acontecer, se dá no último momento antes da atualidade, assim não permitindo a demora. Todavia, não há que se falar em legítima defesa contra uma agressão que ainda não ocorreu, que pode ser evitada por outro meio. O temor que ela venha a ocorrer, não é suficiente para legitimar a conduta do agente, ainda que possível (NUCCI, 2018).
O quesito uso de meios moderados, diz respeito como a defesa será executada. Pode-se considerar que os meios necessários pode ser qualquer um que esteja ao alcance do agredido no ato que ocorre a agressão. Portanto, o agredido deve utilizar esses meios de forma razoável. Assim a ausência dos requisitos exclui o instituto da legítima defesa. Alguns autores optam pela utilização de critérios mais abrangentes e genéricos, entendendo que seria melhor se a excludente não fosse restritiva ao texto legal (BITENCOURT, 2018).
 Portanto, a justificação da defesa própria seria não exceder nenhum direito ao atacar. Nucci (2009, p. 259) justifica:
Não se trata de conceito rígido, admitindo-se ampla possibilidade de aceitação, uma vez que a reação de uma pessoa normal não se mede por critérios matemáticos ou científicos. Como ponderar o numero de golpes de faca que serão suficientes para deter um atacante encorpado e violento?
Nesse sentindo Silva (2011, p.18) apud Mirabete e Fabbrini compartilham desse pensamento:
A legítima defesa, porém é uma reação humana e não se pode medi-la com um transferidor, milimetricamente, quanto à proporcionalidade de defesa ao ataque sofrido pelo sujeito. Aquele que se defende não pode racionar friamente e pesar com perfeito e incomensurável critério essa proporcionalidade, pois no estado emocional em que se encontra não pode dispor de reflexão precisa para exercer sua defesa em eqüipolência completa com a agressão.
Assim, deve-se observar nos casos concretos, que o exame dos requisitos da legitima defesa, devem ser apreciados relativamente.
No que tange ao direito próprio ou alheio, diz respeito ao fato de que um ato sob a legitima defesa deve ser embasado em defender um direito tutelado. Dessa forma, a ação contra a injusta agressão pode ocorrer em defesa própria, quando o agente da reação é o próprio titular do bem, ou em defesa de terceiro, quando o bem jurídico protegido pertence a outrem (NUCCI, 2018).
Os interesses que estão em litigio devem estar protegidos pelo direito, ou seja, devem ser tutelados juridicamente. A norma não faz distinção entre aqueles em favor dos quais é exercida a legítima defesa, sendo irrelevante a relação, bastando que exista a injustiça da agressão e necessidade de reação, mesmo que a pessoa agredida e a pessoa que vai reagir a essa agressão não se conheçam (NUCCI, 2018).
Em conclusão a temática, Juarez Cirino dos Santos cita Schmidhäuser, autor conservador, dizendo que “para teóricos conservadores, como SCHMIDHÄUSER, nenhuma avaliação materialista de bens exclui a legítima defesa, justificando a morte mesmo para proteger bagatelas.” (SANTOS, 2012, p. 233).
No próximo tópico, serão tecidas consideração acerca do exercício regular de direito.
2.2.6 Exercício regular de direito
Este instituto está previsto no artigo 23, inciso III, parte final, do Código Penal: “Não há crime quando o agente pratica o fato no exercício regular de direito.” (BRASIL, 1940).
Sobre a temática, Cezar Roberto Bitencourt (2018, p. 432) ensina que “O exercício de um direito, desde que regular, não pode ser, ao mesmo tempo, proibido pela ordem jurídica”. 
Ademais, será “o exercício que se contiver nos limites objetivos e subjetivos, formais e materiais impostos pelos próprios fins do direito”. Ultrapassados, haverá o abuso de direito e não haverá justificação “O exercício regular de um direito jamais poderá ser antijurídico”.
Para Juarez Cirino dos Santos (2012, p. 255-256):
Atuação pro magistratu. A atuação pro magistratu compreende situações em que o cidadão é autorizado a agir porque a autoridade não pode atuar em tempo, como as hipóteses de prisão em flagrante e de autoajuda. A prisão em flagrante realizada pelo cidadão comum requer determinados requisitos, sem os quais não pode ser efetuada: a) certeza ou forte suspeita de autoria; b) fato típico e antijurídico – exclui ações preparatórias e justificadas; c) suspeita de fuga – no caso concreto, um juízo de probabilidade problemático, mas normal em hipóteses de crimes graves e clandestinos –, ou impossibilidade de identificação, comofalta ou recusa de apresentação de documento, exceto hipóteses de conhecimento da identidade pessoal. 
A autoajuda parece melhor definível como hipótese de exercício regular de direito, e compreende ações diretas sobre pessoas (prender, eliminar a resistência) ou coisas (tomar, destruir), fora dos casos de legítima defesa ou de prisão em flagrante: após o furto, o proprietário encontra o autor de posse da coisa furtada, prende-o e recupera a posse da coisa. 
Direito de castigo. O direito de castigo tem por objeto a educação de crianças no âmbito da família, compete exclusivamente aos titulares do poder familiar em relação aos filhos, mas não se estende aos filhos alheios – embora possa ser exercido, dentro de limites estritos, por professores e educadores no âmbito da escola, com o consentimento expresso ou presumido dos responsáveis
	O exercício regular de direito, previsto no Código Penal, delimita o que deve ser observado de maneira rigorosa pelo agente público. São requistidos objetivos, se não obedecidos, configurará o abuso de direito, “respondendo o agente pelo fato constitutivo da conduta abusiva. Exige-se também o requisito subjetivo: conhecimento de que o fato está sendo praticado no exercício regular de um direito.” (JESUS, 2012, p. 445).
	No título seguindo será tratado acerca da justificação supralegal conhecida como consentimento do ofendido.
2.2.7 Consentimento do ofendido
	Trata-se de uma causa supralegal de justificação, não havendo qualquer referência no ordenamento jurídico brasileiro. Entretanto, nos dizeres de Bitencourt (2018, p. 592) “ [...] o caráter dinâmico da realidade social permite a incorporação de novas pautas sociais que passam a integrar o quotidiano dos cidadãos, transformando-se em normasculturais amplamente aceitas.” Dessa forma, há uma legitimação cultural.
	Como não é possível que o legilador preveja todas as situações de transformação social e cultura de um determinado povo, faz-se necessário, a admissão da “existência de causas supralegais de exclusão da antijuridicidade, em que pese alguma resistência oferecida por parte da doutrina e da jurisprudência.” (BITENCOURT, 2018, p. 593).
Juarez Cirino dos Santos (2012, p. 257) aduz que se trata de uma “causa supralegal de exclusão de exclusão da antijuridicidade ou da própria tipicidade porque consiste na renúncia à proteção penal de bens jurídicos disponíveis”, dessa forma, os bens jurídicos individuais, até mesmo a vida em certas circunstâncias.
“O consentimento do titular do bem jurídico pode ser real ou presumido”, sendo certo que há divergências acerca dos efeitos do consentimento real, contudo, há consenso no que se refere à natureza justificante do consentimento presumido.
Cezar Roberto Bitencourt (2018, p. 406) preleciona que “a concepção do conteúdo material da antijuridicidade tornou possível a admissão de causas supralegais de justificação, como têm sustentado a doutrina nacional e estrangeira”. Essencialmente, “para se reconhecer uma causa supralegal de justificação pode-se recorrer aos princípios gerais de direito, à analogia ou aos costumes”. 
Assevera, ainda, que “a admissão de causas supralegais de justificação não implica necessariamente a aceitação, a contrário sensu, de injustos supralegais, diante da proibição patrocinada pelos princípios de legalidade e da reserva legal.”
Em suma, os doutrinadores apontam certos requisitos para que ocorra a justificante em tela, quais sejam: a) a livre manifestação do ofendido, sem qualquer espécie de coação, fraude ou outro vício de vontade; b) no momento do consentimento, o ofendido possua capacidade para fazê-lo, ou seja, consiga entender “o sentido e as consequências de sua aquiescência; c) que se trate de bem jurídico disponível; d) que o fato típico se limite e se identifique com o consentimento do ofendido.” (BITENCOURT, 2018, p.407).
Juarez Cirino dos Santos (2012) subdivide entre consentimento e concordância. O primeiro se trata do entendimento majoritário e foi representado por “JESCHECK/WEIGEND, MAURACH/ZIPF e outros, baseada em distinção de GEERDS, define o consentimento real de dois modos distintos”, quais sejam: “a) o consentimento real sob forma de concordância (Einverständnis) teria efeito excludente do tipo; b) o consentimento real sob forma de consentimento (Einwilligung), teria efeito excludente da antijuridicidade”.
A segunda corrente “representada por ROXIN atribui ao consentimento real exclusivo efeito excludente do tipo porque configura exercício de liberdade constitucional de ação do portador do bem jurídico”.
	No próximo capítulo, passar-se-á ao estudo de casos práticos.
3 ESTUDO DE CASO
As operações policiais em que o resultado do confronto é a morte ou lesão de cidadãos comuns pelos agentes estatais são apurados pelos denominados autos de resistência. Trata-se de um combate com risco eminete à sociedade, onde há o confronto entre civis e os agentes estatais.
Pois, bem. É de notório conhecimento que os chamados autos de resistência divide opiniões. O gênero, a classe social, o grau de instrução, a religão, as condições econômicas, a cultura e a visão de mundo das pessoas são fortes agentes de influência na formação de sua convicção e entendimento sobre determinado assunto.
Contudo, nessa temática, uma das grandes formadoras de opinião e influenciadora, se não a maior, é a mídia. As pessoas são bombardeadas todos os dias com informações, visões e posicionamentos que são por ela transmitidos.
Assim, uma análise criteriosa do que é transmitido se faz necessária. Entretanto, na grande maioria das vezes, a população não possui conhecimento para tanto. Situações completamente diferentes podem ser facilmente confundidas e interpretadas como semelhantes pelos cidadãos.
A título de exemplo, serão relatados e analisados dois casos práticos que ocorreram no Rio de Janeiro e São Paulo, os quais foram noticiados pelos principais meios de comunicação. 
No primeiro caso restou evidenciado certo descontrole e despreparo por parte dos militares atuantes no caso, veja-se:
No dia 07 de abril de 2019, foi noticiado no site “O Globo”, pelas autoras Carolina Heringer e Louise Queiroga, um caso em que um homem teve seu carro baleado por 80 (oitenta) tiros, por nove militares do Exército, em Guadalupe, Rio de Janeiro.[footnoteRef:8] [8: Disponível em: < https://oglobo.globo.com/rio/militares-do-exercito-dao-80-tiros-em-carro-matam-musico-na-zona-norte-23580901>. Acesso em: 17 out. 2019.] 
Ocorre que o homem, chamado Evaldo, estava no carro com sua filha de sete anos, a afilhada de treze anos, a esposa e o padrasto dela. Segundo parentes e amigos, as vítimas foram confundidas com bandidos.
Segundo o delegado que assumiu o caso, Leonardo Salgado, tratou-se de um fuzilamento por engano, os militares teriam confundido o carro com o de assaltantes. Disse, ainda, que não foram encontradas quaisquer armas e que se tratava de uma família.
Ocorre que Evaldo, de 51 anos, músico e segurança morreu. Uma vítima que teve sua vida ceifada sem qualquer razão. Percebe-se a deturpação dos poderes outorgados às forças armadas. Os novo policiais somente poderiam agir desse modo em caso de conflito direto com os ocupantes do veículo alvejado ou se estivessem causando riscos à vida de terceiros. Ainda sim, oitenta tiros estão longe de qualque parâmetro de razoabilidade.
	Os autos de resistência decai sobre os agentes do Estado que cometerem homicídio, nos parâmetros da legítima defesa (própria ou de terceiros), como determinado no artigo 292, do Código de Processo Penal, conforme será abordado de forma pormenorizada adiante.
	Entretanto, não se trata o caso em apreço, não há em que se falar em auto de resistência já que não houve violência por parte das pessoas que estavam dentro do carro. Houve violência apenas dos policiais militares.
	Infelizmente, casos como o narrado são comuns na sociedade brasileira. Existinto inúmeros eventos de excessos, violência e abuso por parte de agentes estatais que deveriam estar protegento a população. Taiscondutas vão de encontro ao Estado Democrático de Direito.
	Noutro vértice, o segundo relato se refere a um caso que ocorreu no dia 12 de agosto de 2012, na cidade de Maria da Serra, interior de São Paulo, noticiado oelo site G1.[footnoteRef:9] E, em muito se difere com o primeiro, vez que através das imagens gravadas do centro comercial se verifica nitidamente hipótese de incidência do instituto dos autos de resistência. [9: Disponível em: < http://g1.globo.com/sp/piracicaba-regiao/noticia/2012/08/video-sera-usado-no-caso-dos-pms-que-mataram-lavrador-de-santa-maria.html >. Acesso em: 23 out. 2019.] 
O que ocorreu foi que dois policiais foram atender um chamado de violência doméstica. Ao se aproximarem do suspeito, um homem chamado Valdecir, de 33 anos, e terem tido uma rápida conversa, os policiais começaram a sofrer agressões. Após discutirem, os três entram em luta corporal na rua, em frente à casa de Valdecir. 
Importante ressaltar que durante a ação policial, alguém arremessa uma pedra contra o policial, e outra pessoa ainda tenta apartar os policiais e o suspeito. Porém, Valdecir busca uma faca em casa e ataca um dos policias, que sofre 5 (cinco) facadas. Levou golpes no braço e na mão, ocasionando o rompimento de um dos tendões. O outro Policial militar, que estava armado, dispara quatro tiros contra o suspeito que veio a falecer depois.
Foi aberto um inquérito para apurar a conduta dos policiais. Os agentes estatais foram afastados para tratamento psicológico, pois foi a primeira abordagem da qual participaram que teve como desfecho a morte de um suspeito.
Pois, bem. Em uma análise detida dos fatos narrados, é fácil concluir que Valdecir, o suspeito de cometer uma agressão doméstica foi extremamente agressivo com os policiais miitares. 
Insta consignar que o agressor não estava agindo em legítima defesa, eis que não houve qualquer violência que partiu dos policiais militares. Além disso, o fato dele buscar uma faca e atacar um dos policias demonstra a intenção de agressão, de forma injusta. 
Dessa forma, foi necessário, indiscutivelmente, o uso de arma de fogo para que cessasse as agressões perpetradas. Insta consignar, inclusive, que enquanto se defendia de uma agressão foi arremessada uma pedra contra o policial militar, pedra esta que foi lançada por alguém da população que acompanhava a abordagem e a luta corporal.
Tal fato, com a demonstração de descontentamento da população e até mesmo repulsa, só ressaltou a concepção de que muitos indivíduos possuem certo “preconceito” e aversão à figura do policial, seja civil ou militar. Reforçou, ainda, o entendimento de que alguns policias tem receio de agir pelo fato de sofrer represália ou recriminação de alguma forma por parte da sociedade. O que impede a boa execução de suas atribuições.
Ademais, 
Ainda assim, o policial que efetuou os desparos em desfavor do agressor, além de estar se defendendo, estava protegendo o seu companheiro de farda que estava sendo vítima de facadas naquele momento.
Logo, verifica-se que restou preenchido todos os requisitos da exludente de legítima defesa, conforme já abordada anteriormente, quais sejam: agressão injusta, atual ou iminente; direito (bem jurídico) próprio ou alheio; meios necessários usados moderadamente.
Em suma, é de fácil percepção a grande diferença entre os dois casos analisados. O primeiro foi marcado pela excesso e imprudência na conduta dos militares enquanto o segundo caso demonstrou a configuração clara da exludente da legítima defesa.
No próximo capítulo haverá discurssões acerca da visão policial e a visão da sociedade sobre a temática da presente pesquisa.
4 VISÃO POLICIAL X VISÃO DA SOCIEDADE
Conforme brevemente delimitado anteriormente, os autos de resistência dividem opiniões. Há quem os defendam a qualquer custo e existem aqueles que os acusam veemente em qualquer hipótese.
Entretanto, ter uma visão de quem atua diretamente, na via de frente dessas operações, muitas vezes sendo “beneficiados” por esta excludente é notória importância.
Por essa razão foi realizada uma pesquisa de campo, sendo colhida a opinião de um Policial Militar do Estado de Minas Gerais identificado pela sigla “L.E.”, pois não será identificado, com vistas à preservação de sua privacidade.
 Quando perguntado sobre sua posição em relação a visão da sociedade no que diz respeito aos autos de resistência, o Policial L. E. foi enfático ao relatar o seguinte: “O policial passa por um paradoxo na hora da tomada de decisão, em detrimento da falta de apoio e amparo na legislação e principalmente, na de nossos manuais. Tudo que fazemos, está previsto em lei.” [footnoteRef:10] [10: Informação verbal.] 
Percebe-se que o soldado L. E. relata que a falta de legislação e orientações mais específicas sobre como deve ser a sua atuação em campos são entraves para a execução exemplar de suas prerrogativas.
Ademais, a falta de apoio, sobretudo da população, como já salientado no tópico anterior, pode até atrapalhar a política pública de enfrentamente à criminalidade.
No que se refere à vida da sociedade, foi entrevistado o autônomo Ismailde Regino, de 48 anos. Quando perguntado sobre os autos de resistência, após uma breve explicação sobre o instituto, disse que “o policial deve agir sim quando necessário, econcorda com o fato de que se os autos de resistência for necessário deve ser realizado”.[footnoteRef:11] [11: Informação verbal.] 
Entretanto, ponderou afirmando que os meios mais graves devem ser usados apenas em último caso. O entrevistado cita como exemplo a situação em que se uma viatura sinaliza para um carro estacionar e assim não é feito. Se a primeira reação dos policiais é atirar contra a pessoa ao volante, sem considerar primeiro atirar nos pneus, está errado. Asseverou, ainda, que muitas vezes o motorista reage dessa forma porque não quitou a documentação anual do veículo, dessa forma, empreende em fuga. Não concorda que fugir da polícia e não obedecer uma sinalização de parada esteja correta, mas tendo em vista o exemplo, os policiais devem atingir primeiros aos pneus, assegurando assim a parada do veículo.
Em sua opinião, o entrevistado sustenta que a preparação não realizada de maneira adequada por parte da Polícia Militar. A título de exemplo, Ismailde Regino cita um caso que ocorreu no Acre em 2016, ocasião em que era efetuada uma prisão e um dos policiais acaba morto.
Na ação, noticiada pelo site G1[footnoteRef:12], em 15 de agosto de 2016, vários policiais tentaram algemar um indivíduo que resistiu a prisão. Ocorre que, o agressor consegue retirar uma arma que estava na cintura de um dos policiais, baleando um dos agentes que foi a óbito no mesmo momento. [12: Disponível em: <http://g1.globo.com/ac/acre/noticia/2016/08/homem-rouba-arma-e-mata-pm-ao-reagir-prisao-em-rio-branco.html >. Acesso em: 28 out. 2019.] 
Para Ismailde, deveria haver um policial resguardando a integridade física dos demais. No caso mencionado, que está disponível no Youtube[footnoteRef:13], percebe-se que uma mulher a todo o momento grita com os policias, que os mesmos estariam “matando” o suspeito. Isso ocorre mesmo após a morte de um dos policiais e para Ismailde isso demonstra total falta de respeito para com os policiais. [13: YOUTUBE. Bandido reage toma arma atira e mata PM no Acre. Disponível em: <
https://www.youtube.com/watch?v=vGUdHy1UCwY&feature=youtu.be>. Acesso em: 28 out. 2019.] 
O entrevistado é enfático ao afirmar que a Polícia Militar não tem o devido respeito da maioria da população. Mesmo, resistindo à prisão e atirando em uma pessoa que estava cumprindo seu dever e que veio a óbito, para a cidadã que estava assistindo à ação, a Polícia estava agindo de forma errônea, já que gritava desesperadamente contra os agentes.
Isso demonstra exatamente o que o soldado entrevistado afirmou. Existe a represália por parte da sociedade, no que se refere às abordagens em que se deve usar a força, ainda que moderada.
Outrossim, com vistas a fornecer uma visão mais ampla e diferenciada acercados autos de resistência no aspecto de como é visto e idealizado pela sociedade, foi realizar outra entrevista. 
A entrevistada foi uma recém-formada em Direito, de 23 anos, que preferiu não ser identificar no presente estudo. Ao ser questionada sobre sua concepção acerca dos autos de resistência e as questões correlatas, a bacharel pontuou o seguinte:
É um tema bastante complexo, por se tratar d a cultura brasileira que é bastante complexa, isso porque vivemos em um tempo que os heróis são os criminosos. Todos esperam que nós, operadores do direito, falamos sempre em nome dos direitos humanos, porém devemos também pontuar que se uma ação policial chega a esse ponto, foi porque houve ali uma injusta agressão em que os agentes se defenderam ou defenderam terceiros. Acredito que os policiais devem sim agir conforme manda seu dever legal, porém antes de tirar a vida de alguém, deve tentar de outras formas mais brandas controlar aquela resistência, que por sinal, é crime. Além de que a mídia expõe um fato que muitas das vezes ocorreu de outra forma, do que está mostrada. Não estou dizendo que sou a favor da polícia sair matando, estou dizendo que ela deve agir da maneira que foi orientada, dentro das normas brasileiras. E talvez o problema esteja justamente ai, uma norma especifica sobre o auto de resistência, com maior cuidado, especificamente como deve proceder, poderia dar uma segurança tanto para a população quanto para a polícia, por que assim todos sabem como deve ser feito, sem que haja aquele rodeio de quem agiu corretamente ou não.[footnoteRef:14] [14: Informação verbal.] 
Fica assim evidente que há um conflito de ideias sobre os autos de existência, o que era esperado, tendo em vista a pluralidade da sociedade. Como já salientado anteriormente, o gênero, a classe social, o grau de instrução, a religão, as condições econômicas, a cultura e a visão de mundo das pessoas são fortes agentes de influência na formação de sua convicção e entendimento sobre determinado assunto, o que restou demonstrado.
Por fim, o que se percebe é a necessidade e haver um norte jurídico, uma referência legislativa especifica, ou até mesmo uma tipificação sobre os autos de resistência.
5 AUTOS DE RESISTÊNCIA E A CONFIGURAÇÃO DE EXCLUDENTE DE ILICITUDE 
Os autos de resistência foram intituídos no ano de 1969, durante o regime militar, conforme lembra Pereira (2015, p. 43) “[...] inicialmente através de uma Ordem de Serviço ‘N’ de número 803, de 02 de outubro, da Superintendêsncia da Polícia Judiciária, do antigo estado da Guanabara [...]”. Relata o autor que em 1974 referida Ordem de serviço “[...] foi altera pela Portaria E, no 0030, do Secreta´rio de Segurança Pública e, [...] trouxe em seu corpo uma ilegalidade ao estabelecer que o agente da lei não poderia ser objeto de prisão em flagrante ou até mesmo indiciado.”
Os autos de resistência foram registrados “[...] pela primeira vez no dia 14 de novembro [de 1969], após uma ação policial realizada por itegrantes do Grupo Especial deCombate à Delinquência em Geral [...] e ficou conhecido como ‘Grupo dos Onze Homens de Ouro’.”
Trata-se de uma medida administrativa, também conhecida em alguns estados como “morte decorrente de intervenção policial”. Em outras palavras, são execuções cometidas pela polícia durante a realização de operações. Os policiais atuam contra a resistência de um suspeito em potencial, através dos meios necessários para sua contenção, sem necessariamente responder por um crime ou maiores formalidades.
Ocorre que, em decorrência dessas ações, os policiais são protegidos pela excludente de ilicitude de legitima defesa ou até mesmo estrito cumprimento do dever legal. Visto que, o policial se defende ou defende terceiros, e em muitas vezes resulta na eventual morte do agressor.
Na seara legal, a resistência configura crime, conforme o artigo 329 do Código Penal, vejamos:
Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio:
Pena - detenção, de dois meses a dois anos.
§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa: Pena - reclusão, de um a três anos.
§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência.
Ainda sobre a resistência o Código de Processo Penal, tratada no artigo 292, veja-se:
	
Art. 292. Se houver, ainda que por parte de terceiros, resistência à prisão em flagrante ou à determinada por autoridade competente, o executor e as pessoas que o auxiliarem poderão usar dos meios necessários para defender-se ou para vencer a resistência, do que tudo se lavrará auto subscrito também por duas testemunhas. Parágrafo único. É vedado o uso de algemas em mulheres grávidas durante os atos médico-hospitalares preparatórios para a realização do parto e durante o trabalho de parto, bem como em mulheres durante o período de puerpério imediato. (Redação dada pela Lei nº 13.434, de 2017).
Conforme é visto no artigo mencionado, o executor poderá usar dos meios necessários para defender-se ou vencer a resistência. Dessa forma, se a execução do agressor for necessária, será feito. É certo que em situações de confronto, policiais se deparam com criminosos armadas, e muita das vezes armas mais poderosas e melhores que as suas, devendo assim enfrentar a situação já que é o seu dever legal.
Recentemente o Presidente da República, Jair Bolsonaro, teceu declarações sobre os autos de resistências, indicando que os registros de mortes por “auto de resistência” são sinais que os policiais trabalham. Segundo Bolsonaro “Muitas vezes a gente vê um policial ser alçado para uma função e a imprensa dizer: ‘tem 20 autos de resistência’. Tinha de ter 50! É sinal de que trabalha. Que faz sua parte e que na morreu”. As declarações do Presidente foram feitas em uma campanha publicitária feita pela aprovação do projeto “anticrime” proposto pelo então Ministro da Justiça Segurança Pública, Sérgio Moro.[footnoteRef:15] [15: Disponível em: <https://oglobo.globo.com/brasil/e-doloroso-ver-um-policial-preso-por-causa-disso-diz-bolsonaro-sobre-auto-de-resistencia-23992414>. Acesso em: 02 maio 2020.] 
O projeto abrange diversos pontos, e um deles seria estava a chamada excludente de ilicitude, que dificultava a punição de policiais envolvidos em mortes decorrentes de operações policiais. Bolsonaro ainda tem a pretensão de alterar o Código de Processo Penal, para aplicar automaticamente a legítima defesa em favor dos policiais nos embates em hajam autos de resistência.
	Conforme ensina Nucci, citado por Romano (2018, p. 205):
Se houver resistência passiva, ou seja, sem agressão direta, ao executor ou seus auxiliares, apenas com a recalcitrância do preso em colaborar com sua própria detenção, usa-se a força necessária, lavrando-se, apenas, o auto de resistência, mas não o flagrante pelo crime de resistência. Se ocorrer resistência ativa, com agressão direta contra o executor ou seus auxiliares, configura-se o delito de resistência (artigo 329, CP), devendo-se lavrar auto de prisão em flagrante – e não simples auto de resistência. Quando o executor for agredido, violentamente, valendo-se da legítima defesa para contornar o ataque, havendo mera lesão no preso, o que está dentro da previsível força indispensável para a captura, lavra-se o auto específico, demonstrativo do emprego de violência para concretizar a prisão. No entanto, se o executor for levado a matar o preso, porque este o agrediu, durante o procedimento da detenção, alcança-se a esfera não autorizada em lei para fins de concretização do ato de prisão. Por isso, deve a autoridade policial lavrar o auto de prisão em flagrante do executor, por homicídio doloso ou culposo, conforme o caso, mas não o denominado auto de resistência seguido de morte. Com a devida vênia, essa peça não existe. A morte do preso é completamente fora dos parâmetros processuais penais, atingindo âmbito penal. Cuida-se de fato típico motivo pelo qual a autoridade policial deve lavrar o auto de prisãoem flagrante. Cabe ao juiz, após providenciar a imediata soltura do executor, com base no art. 310, parágrafo único, do CPP. Ao final, concluída a investigação, poderá o ministério público requerer o seu arquivamento e o juiz assim determinar.
A lavratura do auto mencionado no art. 292 do CPP (auto de resistência) tem por finalidade registrar os eventuais incidentes ocorridos durante a prisão, mas jamais substitui um ato de prisão em flagrante quando um crime é constatado. Se o preso praticar a resistência (art. 329, CP), lavra-se o devido flagrante, igualmente. Resta ao âmbito do singelo auto de resistência à hipótese de defesa com lesões leves ou de resistência passiva, que não constitui crime.
Dessa forma, os autos de resistência atualmente estão sendo considerados como excludente de ilicitude com base na legitima defesa. Caracteriza-se pela defesa do policial e de terceiros no local que ocorreu a situação de resistência ou até mesmo violência apresentada pelo executado.
Essa situação gera grandes discussões e atualmente existem opiniões diversas e alguns não concordam, notadamente com a política agressiva do atual Presidente. 
Alguns acreditam que os policiais estariam abusando das prerrogativas que lhes são ofertadas. Outros, em contraposição, acreditam que o policial age corretamente, tendo em vista que o sujeito objeto da alçao policial gera perigo eminente ao próprio policial e à população, sendo certo que o dever primodial da polícia é o de proteger.
Conforme demonstrado na presente pesquisa, atualmente há muitos policiais que possuem certo receio de agir na prática, pela represália demonstrada por parte da sociedade.
Hodienamente, vê-se em jornais, televisão e noticiários inúmeras execuções ocorridas em favelas, notadamente de traficantes. Destarte, terceiros inocentes também compõem grande parcela das vítimas das operações policiais. Dessa forma, percebe-se que os autos de resistência geram grande polêmica.
Assim sendo, a necessidade de mudança legislativa demonstra-se notória, sendo abordada no próximo capítulo, notadamente o projeto de Lei nº 4.471 de 2012.
6 NECESSIDADE DE MUDANÇA LEGISLATIVA
		
Em um breve apanhado histórico, tem-se que no ano de 1989, houve a edição por parte do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas, recomendações acerca de Princípios relacionados às execuções arbitrárias e sumárias realizadas (CONSELHO ECONÓMICO E SOCIAL DAS NAÇÕES UNIDAS, 1989).
Já em 2005, foi publicado pela Anistia Internacional um estudo acerca das mortes efetuadas por policiais em combate, sobretudo nas regiões periféricas do Rio de Janeiro, e se mostraram alarmantes. O relatório era entitulado como “Eles entram atirando: policiando de comunidades socialmente excluídas” (AMNESTY INTERNATIONAL, 2005).
Quatro anos após, em 2009, foi realizado outro estudo denominado como “Força Letal: Violência policial e segurança pública no Rio de Janeiro e em São Paulo”, nos quais foram constatados resultados igualmente alarmantes: a alta letalidade policial, com um alto de registro de mortes por meio dos autos de resistência e alta impunidade (FORÇA LETAL, 2009). 
Já em 2012, foi editado pela Ministra de Estado da Secretaria de Direitos Humanos à época, a Resolução nº 8 que recomendava o desuso de termos genéricos como “resistência seguida de morte” e “autos de resistência”, para que passassem a registrar como “homicídio/lesão corporal decorrente de intervenção policial” (BRASIL, 2012).
Assim, nesse cenário de discussões nacionais e internacionais envolvendo a temática dos direitos humanos existiu um movimentar nacional no meio legislativo sobre o tema. Foram feitas reinvidicações dos operadores do direito, agentes da segurança pública e sociedade em geral para que haja a diminuição dos índices de mortalidade nas operções policiais. 
Desse modo, foi apresentado em 19.09.2012 o projeto de lei que objetiva a alteração dos artigos 161, 162, 164, 165, 169 e 292 do Códido de Processo Penal Brasileiro. Objetiva-se acabar com os autos de resistência pelo projeto nº 4471/2012, tendo como justificativa, o seguinte: 
Da análise cotidiana de ações que envolvem o emprego de força letal policial, designados genericamente como “resistência seguida de morte” ou “autos de resistência”, constata-se que vários casos não são submetidos à devida apreciação do sistema de justiça, porquanto, no mais das vezes, consolida-se a premissa de que se investigar a possível ocorrência de crime doloso. Destaca-se que, na análise dos inquéritos instaurados para apurar os casos que envolvem letalidade na ação policial, é comum a adoção da tese da excludente de ilicitude da ação, o que prejudica a adequada apuração dos fatos e suas circunstâncias, contraponto, assim, o Estado Brasileiro à sua própria Constituição e às regras internacionais de proteção aos direitos humanos.
Notou-se, assim, que a partir da classificação de um caso como “auto de resistência” ou “resistência seguida de morte” diversos pressupostos fundamentais de uma investigaç]ao eficaz deixam de ser adotados. Conforme relatam os profissionais que atuam com esta temática, a análise empírica de inúmeros autos de inquéritos aponta que vários deles apresentam deficiências graves, como a falta de oitiva de todos os envolvidos na ação, a falha na busca por testemunhas desvinculadas de corporações policiais e a ausência de perícias básicas, como a análise da cena do crime (BRASIL, 2012).
	O projeto de lei nº 4.471/2012 é de autoria dos deputados Paulo Teixeira, Fábio Trad, Delegado Protógenes e Miro Teixeira. Seus principais temas são os seguintes: a exigência da preservação do local do crime, o que deveria ser algo básico; realização de perícia e coleta de provas obrigatoriamente; a necessária instauração de inquérito para que o caso seja apurado; a vedação do transportes das vítimas da operção com os agentes da lei envolvidos no caso, inclusive em caso de socorro da vítima, devendo ser acionada a emergência; e, por fim, a alteração dos termos, devendo ser utiizado a nomeclatura “lesão corporal decorrente de intervenção policial” ou então “morte decorrente de intervenção policial” (BRASIL, 2012).
	Percebe-se que o projeto surge em um contexto de discussão de nível internacional, onde se viu a necessidade de tratar as mortes ocorridas em razão de confronto com policiais. Assim sendo, o projeto de lei foi submetido à análise por comissões específicas. 
	Inicialmente, tem-se que a Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado votou favoravelmente à relevância da proposta em análise, para que houve o aperfeiçoamento do Sistema de Justiça Criminal, eis que havia o fortalecimento do controle realizado sobre a atividade de segurança pública, aprimorando a prestação do serviço público. Segundo o relator da Comissão, com a aprovação haverá um número menor de irregularidades procedimentais com a devida responsabilização dos resposaveis, se for o caso (BRASIL, 2012).
	Entretanto, foram inseridas algumas emendas, que alteraram a redação do artigo 162, caput e em seus parágrafos 4º e 6º e nos parágrafos 1º, 2º e 4º do artigo 292, ambos do Codigo de Processo Penal (BRASIL, 2012).
	Essas refereridas modificações se prestaram a alterar o termo de “autópsia” para “necrópsia”, eis que foi considerada mais adequada de um ponto de vista técnico-forense. Também foi alterada o termo “autoridade policial” para “delegado de polícia” para que houvesse maior clareza acerca de quem conduziria as invertigações. Nesse mesmo sentido, para que a atuação do delegado de polícia fosse reforçada houve a emenda em relação a sua possibilidade de requisitar os registros de movimentação e comunicação das viaturas (BRASIL, 2012).
	Por sua vez, a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) votou de forma favorável, atestando a constitucionalidade formal e material do projeto. Foi utilizada a técnica adequada e juricidade, sendo certo a importância de que seja realizada uma boa investigação das mortes em razão da atuação dos agentes estatais e que seja

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