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Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 1 – A Educação Contemporânea e a Prática Pedagógica 1 Caro graduando, Nesta unidade, propõe-se reflexão sobre a prática pedagógica no mundo contemporâneo. É preciso que você leia atentamente o texto, anote as ideias principais, construa conexão entre os pontos que serão abordados e sua vivência enquanto cursista. Ao término deste estudo, espera-se que você tenha apreendido novos saberes acerca do papel do professor na contemporaneidade. Objetivos da Unidade: • Compreender a prática pedagógica no mundo contemporâneo; • Refletir sobre o papel do professor no contexto educativo; • Conhecer as interfaces que permeiam o ato educativo; • Perceber-se enquanto um dos sujeitos do processo educativo; • Valorizar a educação como instrumento facilitador de intervenções na realidade. Plano da Unidade • A Prática Pedagógica. • Comprometimento. • Respeito aos saberes dos alunos. • Pesquisa e criticidade. • Ética. • Liberdade e autoridade. • Saber escutar. • Risco e aceitação do novo. • Rejeição a qualquer forma de discriminação. • Reflexão crítica sobre a prática. • Reconhecimento e assunção da identidade cultural. Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 1 – A Educação Contemporânea e a Prática Pedagógica 2 1. A PRÁTICA PEDAGÓGICA A sociedade contemporânea muito tem discutido sobre o papel da educação, face às rápidas transformações que a sociedade tem vivenciado. Estamos na era do conhecimento e falar sobre a prática pedagógica significa refletir sobre a dinâmica social e suas inter-relações. A educação escolar não pode desassociar-se das interfaces dessa dinâmica, não se pode mais aceitar uma educação monopolizadora fundamentada na cultura dominante. É preciso que a escola se perceba como um espaço de formação de cidadãos nas suas mais amplas e mais democráticas concepções; por isso é preciso que reconheçamos as multifacetadas manifestações da sociedade, assumindo assim o caráter plural da mesma. Neste contexto, a prática pedagógica não pode ser una, ao contrário, deverá privilegiar as diferenças existentes no próprio ambiente educativo. (...) ensinar não é transferir conhecimentos, conteúdos, nem formar é ação pela qual um sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem á condição de objeto um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende, ensina ao aprender. (...) Quando vivemos a autenticidade exigida pela prática de ensinar-aprender, participamos de uma experiência total, diretiva, política, ideológica, gnosiológica, pedagógica, estética e ética, em que a boniteza deve achar-se de mãos dadas com a decência e com a seriedade. (FREIRE,p. 2011: 25-26) Atualmente, a sociedade, dita por uns, pós-moderna, tem refletido acerca do papel da Educação como elemento de transformação social, superação de desigualdades e promoção do indivíduo. No contexto global é fácil perceber a aceleração que as transformações sofrem no campo do conhecimento e da informação, exigindo-se atualmente dos docentes – embora muita tinta já tenha sido gasta com essas recomendações – atitudes de constantes atualizações, acomodações aos avanços da tecnologia da informação e das novas formas de acesso à mesma. Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 1 – A Educação Contemporânea e a Prática Pedagógica 3 Assim, a atitude do professor-pesquisador, embora necessidade implícita no fazer docente no contexto da sociedade contemporânea, já há muito tempo, tem sentido a pisada no acelerador da geração – ou uma ampliação globalizada? – do volume das informações. As mudanças recentemente ocorridas no seio de uma sociedade cada vez mais inserida nas lógicas do mercado, até mesmo visto por uns como um ente quase corpóreo (não comentam que o mercado acordou doente ou está animado?) e que imprime uma busca necessária pelo conhecimento como forma de alcançar melhores postos de trabalho e remuneração. Um interessante encontro em uma sociedade guiada por uma lógica mercadológica e teorias da Educação que pregam sua utilidade enquanto superação das desigualdades geradas pelas próprias estruturas de um mercado fundado na lógica capitalista. Portanto, serve a Educação para superação da lógica de mercado, ou para a busca de inserção nessas mesmas lógicas, que cada vez mais nos imprimem a necessidade da especialização? Especialização, contudo, subordinada ao fator tempo, ou seja, cursos de menor duração, já que a necessidade da competição exige formação em tempo hábil, que faculte ao indivíduo se introduzir na competição acirrada que se trava na arena do mercado de trabalho. Temos, portanto, um paradoxo? A Educação tida como a busca de uma formação “integral” e em bases democráticas, no sentido da interação dialógica professor-aluno (ensinante-aprendente), na busca de superação das desigualdades sociais, de um caminho consciente rumo a uma sociedade menos violenta em todos os sentidos, de menores índices (ou superação?) de corrupção e desrespeito às diferenças de caráter étnico e de gênero, cultural e social, ou a Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 1 – A Educação Contemporânea e a Prática Pedagógica 4 Educação enquanto ferramenta de inclusão dos indivíduos na lógica de uma competitiva e cada vez mais individualista sociedade de mercado? Segundo Lima, O conhecimento nunca foi tão necessário. A escola não pode omitir-se desse fato. O avanço tecnológico permite o rápido acesso a informações e, mais do que nunca, é preciso desenvolver a capacidade de julgamento, selecionar informações e conhecimentos pertinentes e transformar essas informações em saberes, e o professor é o sujeito central desse processo. Será ele quem poderá adequar a prática pedagógica à atual conjuntura educacional. É preciso que o aluno do século XXI seja capaz de buscar novos conhecimentos e produzir novos saberes. O processo de adequação à nova realidade educacional mundial deve ser o ponto de partida para uma análise reflexiva que promova uma nova ação e, consequentemente, rompa com o distanciamento entre o que se aprende na escola e a realidade, quebrando-se assim a dicotomia teoria x prática. Para que teoria e prática verdadeiramente se transformem em práxis é preciso que se rompa com o paradigma da reprodução de conteúdo. Essa ruptura começa a acontecer quando o professor se percebe e percebe o aluno enquanto sujeitos do processo educativo. Ao perceber-se sujeito ativo, em mudança constante, a busca pela atualização, pela formação continuada, passa a ser uma necessidade profissional e pessoal. A descoberta de novos saberes provoca, instiga o sujeito que acaba vivenciando um processo de superação e essa superação tem por base a reflexão crítica e cotidiana da própria prática pedagógica. (LIMA, 2011:15-16) A reprodução de conteúdos por vezes é o mote dos mecanismos de inserção no mercado. Parte daí que o paradoxo a princípio inescapável entre uma Educação libertadora e outra, voltada para mera aquisição de conteúdos visando-se a inclusão no individualismo das lógicas de mercado, possa ter uma resposta: o posicionamento político do educador. Político enquanto uma escolha na sua atuação docente, de uma práxis que una sua inserção forçosa nas lógicas coercitivas do mercado, com a busca, junto aos discentes, da reflexão e construção de conhecimentos capazes de ao menos, submeter essa lógica ao senso crítico. Pode sim a Educação, trazer às pessoas o questionamento e Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 1 – A Educação Contemporânea e a Prática Pedagógica 5 busca de superaçãode mazelas que o mercado impõe, como o crescente individualismo, carências afetivas e, em uma espécie de resistência adaptativa, a busca da superação de condições econômicas e sociais que o conhecimento é capaz de proporcionar. Ainda segundo Lima, Transformar o saber acadêmico em conhecimentos efetivamente ensináveis é o grande desafio do processo educativo. Ao exercer sua tarefa educativa o professor não pode esquecer a realidade social, política, econômica e cultural que vivemos; a realidade da ambiência escolar e da sala de aula. Cada escola, cada turma e cada aluno são únicos. E a sala de aula, através da interação dos diversos sujeitos, sofre a influência da realidade e consequentemente tornam peculiar o modo de ser, ver, sentir, compreender e atuar no mundo. Ao conhecer a realidade multifacetada e compreendê-la, fica mais fácil para o professor direcionar sua prática pedagógica para situações reais de aprendizagem que possam formar alunos pensantes e autônomos. A elaboração e consequentemente a construção do conhecimento ocorre através da interação do sujeito com a sociedade em que está inserido. Cada um de nós participa de uma vivência única, ímpar, produzindo assim um acúmulo de conhecimento/saberes também únicos. (LIMA, 2011:16-17) A Educação, portanto, pode sim ser instrumento de transformação social, quando há relevância no conhecimento enquanto construção dos saberes compartilhados, haja vista que a construção de conhecimentos é uma ação coletiva. Construção de saberes enquanto ferramenta de criticidade das sociedades e de suas estruturas. Neste sentido, aparecem nitidamente os campos de uma Educação acumuladora de conteúdos, bancária, para entrada no mercado, e outra que também faculta acumulação de conteúdos, instrumentaliza para entrada no mercado de trabalho, mas que também proporciona conhecimentos construídos e compartilhados em um âmbito coletivo, capazes de oferecer aos alunos bases de criticidade do mundo em que está inserido. Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 1 – A Educação Contemporânea e a Prática Pedagógica 6 ( ...) nesse contexto, o educador é um mediador do conhecimento, diante do aluno que é o sujeito da sua própria formação. Ele precisa construir conhecimento a partir do que faz e, para isso, também precisa ser curioso, buscar sentido para o que faz e apontar novos sentidos para o que fazer dos seus alunos. (GADOTTI, 2000: 9) Neste sentido, tem relevo então o professor que está sempre atualizado frente a um mundo globalizado que sofre contínuas e aceleradas transformações, um mundo que produz informação e conhecimento a cada minuto, e a cada segundo essas informações e esses conhecimentos circulam o planeta. Revistas, livros, artigos científicos disponíveis na rede global, eventos, cursos de atualização, materiais audiovisuais, nunca ao que parece, esteve disponível um número tão elevado de veículos de comunicação, transmissão e produção de conhecimentos. A interação do professor com os alunos, aliado a tudo isso, o elemento aglutinador, que é o diálogo. Ao se tornar um mediador do conhecimento, o professor precisa estar ciente de que o aluno atualmente é diferente daquele da época de escola básica. O professor hoje tem que se conscientizar de que não basta somente informar e formar bons alunos com elevado nível de conhecimento; é preciso, acima de tudo, formar cidadãos preparados para o mundo globalizado, cidadãos que tenham uma visão crítica, de forma que possam entender, opinar, interagir e intervir na sociedade na qual estão inseridos. O professor mediador precisa estar “antenado” na realidade. Só desta forma, Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 1 – A Educação Contemporânea e a Prática Pedagógica 7 conseguirá diminuir a distância que separa a “vida real” do saber sistematizado difundido pela instituição escolar. É preciso que professor e alunos possam construir laços entre os saberes reais e os ideais, criando assim vínculos entre o conhecimento socialmente aceito e reconhecido com o cotidiano. Sobre esse distanciamento, Vygotsky afirma que todos nós somos sujeitos ativos capazes de construir o nosso conhecimento, criando e elaborando hipóteses sobre o meio em que vivemos. (LIMA, 2011: 17) Um ponto central da teoria de Vygotsky é o conceito de ZDP (Zona de Desenvolvimento Proximal), que afirma que a aprendizagem acontece no intervalo entre o conhecimento real e o conhecimento potencial. Em outras palavras, a ZDP é a área existente entre o que o sujeito já sabe e aquilo que ele tem potencialidade de aprender. O professor mediador exerce sua ação educativa exatamente nesta área. Começa trabalhando com o conhecimento que o aluno já possui — nível de Desenvolvimento Real —, a partir dessa percepção, o professor vai desafiando, provocando, contagiando, despertando o desejo e o interesse no aluno, utilizando o conjunto complexo de seus saberes sob a forma de conhecimentos que o aluno é capaz de compreender, analisar, refletir e dele se apropriar. A partir dessa interação, o aluno vai construindo pontes entre os saberes preexistentes e os novos saberes, dessa forma todo o grupo tem seu conhecimento ampliado. A relação dialógica entre os saberes acaba por estimular e impulsionar a transposição de níveis, e o aluno acaba por alcançar o nível de Conhecimento Potencial. O trabalho do professor mediador na ZDP pode ser comparado ao trabalho de um engenheiro que constrói pontes. O professor através da mediação desenvolvimento real x contexto socioeconômicocultural x conteúdo programático x aluno acaba construindo os pilares da ponte que permitirá a passagem do aluno do Desenvolvimento Real para o Desenvolvimento Potencial. Como a aquisição do conhecimento é contínua, esse trabalho recomeça, pois o Conhecimento Potencial, ao ser alcançado, torna-se Conhecimento Real pronto para novas intervenções, e a ZDP assume outro foco, outro espaço de elaboração de conhecimentos em busca de um novo Desenvolvimento Potencial. O professor, em sua prática pedagógica, enfrenta um grande desafio: ser corresponsável pelo processo de Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 1 – A Educação Contemporânea e a Prática Pedagógica 8 aprendizagem do aluno, um parceiro na descoberta por novos saberes, um investigador constante e acima de tudo um pesquisador que valoriza o respeito à pessoa humana e aos diversos saberes que coexistem na sociedade. (...) a relação entre o professor e aluno deixa de ser vertical e de imposição cultural e passa a ser de construção em conjunto de conhecimentos que se mostrem significativos para os participantes do processo, de habilidades humanas e profissionais e de valores éticos, políticos, sociais e transcendentais. (MASETTO, 2003:74) Nietzsche já dizia que a civilização ocidental educa os homens para desenvolver o espírito de tartaruga. Diante do desconhecido e da surpresa, anulam seus sentidos e se escondem. E hoje é preciso educar para alçar voos, desenvolvendo o espírito da águia. Educar é preparar para a liberdade, transformar o aluno em um ser livre por saber escolher e atuar socialmente. O bom professor deve estimular a diversidade, torcendo para que seus alunos tenham suas próprias ideias e que tenham a coragem de defendê-las e fundamentá-las. Neste contexto, a sala de aula transforma-se em um ambiente de integração e interação, onde os saberes advindos da própria vida são trabalhados cientificamente, acrescidos dos saberes constituídos de forma que, através da interação, possam professor e, principalmente, alunos construírem novos saberes enriquecidos pela ciência, saberes esses que irão permear novas intervenções na realidade. A prática pedagógica na contemporaneidade precisa priorizar o conhecimento,além de mobilizar o raciocínio, a experimentação, a solução de problemas e outras competências cognitivas superiores. O professor deverá sempre buscar as concepções prévias dos alunos sobre o assunto a ser estudado para usá-las como âncora para os novos conhecimentos, e o aluno (re)significa a mensagem do professor, de acordo com suas estruturas cognitivas, construídas no seu dia a dia. Deve ficar claro para o professor que ensinar exige: Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 1 – A Educação Contemporânea e a Prática Pedagógica 9 2. COMPROMETIMENTO A educação é sempre uma forma de intervenção no mundo e o professor, enquanto mediador do processo educativo, precisa comprometer-se com seus alunos, com sua própria formação e com o desenvolvimento de competências profissionais. O professor comprometido cuida do seu desempenho, buscando sempre construir novas pontes para que seus alunos atinjam o nível de desenvolvimento potencial. O cuidado com o desempenho profissional exige do professor um posicionamento técnico, político e pedagógico frente à educação. • Técnico – no sentido do domínio de conteúdos. Ter competência técnica em sua área de atuação. • Político – no sentido do conhecimento das políticas profissionais. Saber que tipo de aluno quer formar e por que quer formar. • Pedagógico – no sentido do conhecimento das técnicas pedagógicas. Saber selecionar e utilizar métodos e técnicas de ensino. Alunos 3. RESPEITO AOS SABERES DOS ALUNOS Partindo-se do princípio que a área de atuação do professor é a ZDP e que ele deve partir do desenvolvimento real fica claro a necessidade do respeito ao conhecimento que o aluno traz ao chegar à escola. Aprender fica muito mais fácil quando o que está sendo ensinado tem significado para o aprendiz, e o professor, como mediador do conhecimento, deve dialogar com seus alunos a fim de integrar-se dos saberes dos mesmos. O respeito ao outro é condição fundamental para a manutenção de qualquer relacionamento saudável. Respeitar os valores, as crenças, as diferenças, as convicções, os saberes do outro é fundamental para que se estabeleça um verdadeiro diálogo. 4. PESQUISA E CRITICIDADE A educação não pode mais acontecer de forma empírica, o conhecimento acadêmico pressupõe a habilidade de saber analisar as situações, saber buscar Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 1 – A Educação Contemporânea e a Prática Pedagógica 10 informações, saber colocar os problemas de uma forma geral, refletir, gerar novos conhecimentos, intervir na realidade, etc. Neste sentido, a pesquisa pode dar conta dessa recente e atual necessidade educativa. Uma educação fundamentada na pesquisa alimenta e realimenta o desenvolvimento de algumas habilidades operatórias essenciais, tais como o raciocínio lógico, crítico e analítico; criatividade e criticidade. A criticidade acaba sendo uma consequência natural em uma relação professor/aluno dialógica com rigorosidade metódica, com respeito à diversidade de saberes que permeiam a realidade. • Empírica: baseada na experiência, sem caráter científico, através de tentativas. • Habilidades operatórias: habilidades que devem ser desenvolvidas para que se construam competências. São habilidades operatórias: raciocínio lógico, crítico e analítico, criatividade, criticidade, dentre outras. 5. ÉTICA A sociedade possui seus valores, suas normas e suas convicções o que acaba por gerar conflitos entre seus sujeitos. Os conflitos existentes nas relações humanas não ficam fora da escola, muito pelo contrário, esses conflitos ultrapassam os muros do espaço educativo e se expõem de forma clara e viva dentro da sala de aula. Logo, o professor não pode ignorá-los, ao contrário, será no convívio entre professores e alunos que surgirá a oportunidade de se vivenciar a aprendizagem através da resolução de conflitos em situações de diálogo, de respeito, gerando o desenvolvimento da autonomia moral. O espaço educativo não pode, a pretexto da “falsa” neutralidade, abrir mão da preocupação com a formação da conduta humana e todas as suas Autonomia moral: capacidade de, enquanto seres histórico-sociais, poder comparar, analisar, valorar, intervir, escolher, decidir, romper, acreditar, incorporar, comprometer-se de forma autônoma, segundo seu próprio juízo de valor, considerando diferentes pontos de vista e aspectos de cada situação. Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 1 – A Educação Contemporânea e a Prática Pedagógica 11 interfaces. Por conseguinte, as questões complexas que envolvem os princípios que regem as condutas dos sujeitos sociais acabam sendo fortalecidas e a aprendizagem acaba por ser construída sobre sólidos pilares éticos. Filosoficamente, podemos afirmar que enquanto a moral caracteriza-se como um conjunto de regras, crenças e princípios que orientam a ação humana nos diversos contextos sociais, a ética caracteriza-se como a reflexão crítica sobre a moral. Nesse sentido, mais uma vez, o papel mediador do professor em uma relação dialógica é de fomentar o diálogo entre as práticas e princípios vigentes, questionando-os, reformulando-os de forma cíclica, o que assegurará uma reflexão que permeará uma ação revigorada e transformada. Importante Ética é um conjunto de conhecimentos extraídos da investigação do comportamento humano ao tentar explicar as regras morais de forma racional, fundamentada, científica e teórica. É uma reflexão sobre a moral. Moral é o conjunto de regras aplicadas no cotidiano e usadas continuamente por cada cidadão. Essas regras orientam cada indivíduo, norteando as suas ações e os seus julgamentos sobre o que é moral ou imoral, certo ou errado, bom ou mau. No sentido prático, a finalidade da ética e da moral é muito semelhante. São ambas responsáveis por construir as bases que vão guiar a conduta do homem, determinando o seu caráter, o seu altruísmo e as suas virtudes, e por ensinar a melhor forma de agir e de se comportar em sociedade. (Extraído de: < http://www.significados.com.br/etica-e-moral/>) 6. LIBERDADE E AUTORIDADE). No espaço da sala de aula, alguns professores assumem uma postura autoritária, não permitindo que o aluno exponha suas ideias, convicções e saberes; outros assumem uma postura de licenciosidade, tudo pode, tudo é permitido, o aluno acaba por fazer o que bem entender. Ambas as posturas são extremas e não favorecem a prática educativa. A prática pedagógica exige respeito à liberdade, à organização e ao planejamento do processo educativo. O respeito à liberdade pressupõe limites, um equilíbrio entre a autoridade e a http://www.significados.com.br/etica-e-moral/ Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 1 – A Educação Contemporânea e a Prática Pedagógica 12 liberdade. O professor mediador é naturalmente democrático por fundamentar sua intervenção educativa num processo dialógico de respeito mútuo e nesse tipo de processo a autoridade surge naturalmente e a liberdade associa-se à responsabilidade comum. Postura autoritária: relação baseada no abuso de poder, na arrogância, na arbitrariedade, na agressividade, no terror psicológico, na exacerbação da autoridade. Postura de licenciosidade: relação baseada na permissividade, na não diretividade absoluta, no “deixar o barco rolar”, na falta de comprometimento. No ato educativo, o professor centra o processo de ensino em sua fala. Muitas vezes, fala durante todo o tempo de aula na ânsia de aproveitar o tempo para explanar ao máximo o conteúdo a ser ensinado. A fala realmente constitui- se em um dos instrumentos de trabalho do professor; entretanto é preciso que o professor saiba usá-la de forma adequada. É preciso reaprender a escutar o outro, ou melhor, é precisocompartilhar com o outro a palavra, até porque a aprendizagem acontece através da interação com o outro. Saber escutar é uma habilidade que o professor precisa desenvolver e praticar, é preciso falar e deixar o outro falar, ser ouvido e ouvir o outro. É preciso que o professor saiba escutar seus alunos, seus pares e a comunidade escolar, pois é sabendo escutar que aprendemos a dialogar. Na relação pedagógica, o saber ouvir é fundamental, assim como o respeito à fala do outro. Saber falar e saber ouvir é respeitar as especificidades do sujeito educativo. É favorecer a troca. É efetivar uma práxis dialógica. Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 1 – A Educação Contemporânea e a Prática Pedagógica 13 7. RISCO E ACEITAÇÃO DO NOVO o do No A primeira aprendizagem do homem ocorre no momento de seu nascimento: ou ele aprende a usar os pulmões para respirar ou não sobrevive. Se a aprendizagem é um processo contínuo e ininterrupto, o ato de conhecer também o é. No decorrer da existência humana, o homem produz conhecimentos e saberes. Com o avanço da ciência e da tecnologia, esses saberes vão aperfeiçoando-se, modificando-se, transformando-se e até mesmo deixando de existir, surgindo assim novos conhecimentos e saberes necessários. Partindo dessa premissa, é impossível educar quando se acredita que o conhecimento já está pronto e acabado. A relação pedagógica é um constante desafio, cada dia pode ser uma nova descoberta, logo a relação professor-aluno deve ser ousada e destemida, pois requer aceitar os riscos e o desafio do novo, afinal nenhum saber é imutável e concluso. 8. REJEIÇÃO A QUALQUER FORMA DE DISCRIMINAÇÃO A Constituição da República Federativa do Brasil em seu art. 3º apregoa que são objetivos fundamentais da República: (...) construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (grifo nosso). Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 1 – A Educação Contemporânea e a Prática Pedagógica 14 O texto constitucional aponta para a importância da promoção do bem de todos, entendemos esse bem como a primazia da dignidade humana, o que implicaria no respeito aos direitos humanos e repúdio a quaisquer tipos de discriminação. Ora, o espaço educativo é composto pela ação de sujeitos pertencentes a grupos sociais que interagem com todo um contexto social em que exploração, dominação e exclusão interagem e o resultado e o instrumento desse complexo de relações é a discriminação .Em sala de aula, professor e alunos conviverão com diversos preconceitos e diversas formas de discriminação que se apresentam nas ações cotidianas, em materiais didáticos e até mesmo no próprio conteúdo programático. Nessas situações, a relação dialógica torna-se uma ação mobilizadora para a superação da discriminação. 9. REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE A PRÁTICA O homem é um ser cognitivo e mesmo sem um rigor metodológico reflete sobre suas ações. Na área profissional, essa reflexão deve ser metódica e constante, pois só assim ele conseguirá modificar, transformar e (re)escrever sua práxis. O professor deve pensar sobre o seu fazer pedagógico, sobre estratégias e procedimentos de trabalho, sobre a organização curricular, sobre o conteúdo, sobre o projeto pedagógico construído e desenvolvido na escola, enfim, sobre todas as interfaces do processo educativo. As transformações não surgem do nada, elas são construídas através da reflexão, da pesquisa e da busca. A reflexão crítica sobre a prática pedagógica é a base para novas intervenções no espaço educativo, para a adequação do conteúdo a ser ensinado às necessidades educativas do aluno. Será a partir da assunção do espírito reflexivo que o professor compreenderá e respeitará não só a densa teia de relações que se instalam no contexto da sala de aula, mas também as múltiplas significações da relação pedagógica existente. Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 1 – A Educação Contemporânea e a Prática Pedagógica 15 10. RECONHECIMENTO E A ASSUNÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL A relação pedagógica pressupõe o reconhecimento da diversidade cultural e a promoção da assunção da própria identidade. A vida social brasileira é marcada pela diversidade. Em um país de dimensões continentais, convivem diferentes etnias que consequentemente apresentam diferentes manifestações de cosmologias que produzem múltiplas maneiras de apreensão do mundo. A multiplicidade da vida impregna o ser com saberes, ritmos, valores, formas e projetos de vida distintos. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais: (...) a cultura é o conjunto de códigos simbólicos reconhecíveis pelo grupo: neles o indivíduo é formado desde o momento de sua concepção; nesses mesmos códigos, durante a sua infância, aprende os valores do grupo; por eles é mais tarde introduzido nas obrigações da vida adulta, da maneira como cada grupo social as concebe. A cultura, como código simbólico, apresenta-se como dinâmica viva. Todas as culturas estão em constante processo de reelaboração, introduzindo novos símbolos, atualizando valores. O grupo social transforma e reformula constantemente esses códigos, adaptando seu acervo tradicional às novas condições historicamente construídas pela sociedade. A cultura não é algo fixo e cristalizado que o sujeito carrega por toda a sua vida como um peso que o estigmatiza, mas é elemento que o auxilia a compor sua identidade (1997, p. 43). Para ensinar, o professor precisa ter consciência de que somos seres culturais e que toda cultura é importante para o homem. É a partir do reconhecimento e da assunção de nossa identidade cultural que construiremos as raízes de sustentação de nossa própria identidade de seres pensantes e consequentemente assumiremos a nossa historicidade. Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 1 – A Educação Contemporânea e a Prática Pedagógica 16 Importante: Aprender a conhecer: Pressupõe a ultrapassagem da instrução e da informação, pois requer o desenvolvimento da curiosidade, o prazer da descoberta, a construção e a reconstrução dos saberes. Aprender a ser: Pressupõe o desenvolvimento integral do homem. Um aprendizado contínuo, interativo que leva tanto o homem a realização individual, como a coletiva. A prática pedagógica em uma educação contemporânea precisa ter como premissa a necessidade de uma revisão no processo pedagógico que permita o desenvolvimento de habilidades e consequentemente competências através da (e na) prática educativa, para que o aluno tenha condições de participar do processo de desenvolvimento social, não mais como um mero expectador, mas como coautor na estruturação de uma nova realidade mundial. A escola (re)paginada deixaria assim de ser um local onde adolescentes e jovens frequentam por obrigação, tornando-se um local de efetivação do conhecimento intelectual, onde o aprender a conhecer torna-se uma ação prazerosa, onde o conhecimento acadêmico dialoga com a realidade, com a vida, de forma que o processo de aprendizagem passa a levar a comunidade acadêmica ao aprender a ser. O professor, nesse contexto, deve ter consciência da necessidade de se estabelecer uma nova tessitura para o processo ensino- aprendizagem que possa dar conta das necessidades educativas da contemporaneidade. Sobre essa nova tessitura, (...) nesse contexto, o educador é um mediador do conhecimento, diante do aluno que é o sujeito da sua própria formação. Ele precisa construir conhecimento a partir do que faz e, para isso, também precisaser curioso, buscar sentido para o que faz e apontar novos sentidos para o que fazer dos seus alunos. (GADOTTI , 2000,p. 8) Ainda em GADOTTI (2000,) encontramos que os educadores, em uma visão emancipadora, não só transformam a informação em conhecimento e em consciência crítica, mas também formam pessoas. Diante dos falsos pregadores da palavra, dos marketeiros, eles são os verdadeiros “amantes da sabedoria”, Vivência e Prática do Ensino das Ciências e da Biologia UNIDADE 1 – A Educação Contemporânea e a Prática Pedagógica 17 os filósofos de que nos falava Sócrates. Eles fazem fluir o saber (não o dado, a informação e o puro conhecimento), porque constroem sentido para a vida das pessoas e para a humanidade e buscam junto, um mundo mais justo, mais produtivo e mais saudável para todos. Por isso eles são imprescindíveis. Assim, faz-se necessário a busca de uma nova reflexão no processo educativo em que o agente escolar passe a vivenciar essas transformações de forma a beneficiar suas ações, podendo buscar novas formas didáticas e metodológicas de promoção do processo ensino-aprendizagem com seu aluno, sem, com isso, ser colocado como mero expectador dos avanços estruturais de nossa sociedade, mas um instrumento de enfoque motivador desse processo. E você que está ingressando na docência já parou para refletir sobre a responsabilidade de ensinar? Como você percebeu os dez itens elencados como fundamentais para se ensinar? Faça uma autoavaliação: quais desses itens você precisa trabalhar mais? Descobriu? Então, releia-o e faça uma pesquisa sobre o tema. Guarde suas anotações para apresentar no fórum de discussão. Não se esqueça de acessá-lo. LEITURA COMPLEMENTAR FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. 21. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2004. Caps. 1 e 3. Caro graduando, chegamos ao final da primeira unidade, nela abordamos a Prática Pedagógica na Contemporaneidade, esse foi o primeiro momento reflexivo da disciplina Vivência da Prática. Procuramos focar nosso estudo nas interfaces da relação educativa. Esperamos que você aprofunde seus conhecimentos, fazendo a leitura da bibliografia indicada. Não esqueça de que a leitura nos permite estabelecer novas conexões entre os saberes. Nada melhor que estudar a relação pedagógica praticando a (re)construção.