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Texto de apoio América latina, história e identidade

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1. América Latina: história e identidade 
(Laércio Antônio Pilz) 
 
 
 Quem são os verdadeiros latino-americanos? As populações ameríndias que 
viviam no continente antes da chegada dos europeus? Ou seriam todos aqueles que 
fizeram parte das populações exploradas e injustiçadas durante sua história? Proponho 
que podemos pensar que todos, atualmente, devemos assumir a história da América 
Latina e nos fazermos latino-americanos para reescrevê-la de forma mais autônoma, 
solidária e propositiva. Ao nos comprometermos com esse projeto, estaremos nos 
fazendo múltiplos e fraternos. Índios, negros, imigrantes, amarelos, brancos, mestiços, 
todos, estaremos compondo alianças e desenvolvendo práticas que afirmem a justiça e 
a cidadania. 
 
 A proposta é reconhecer, em primeiro lugar, que a América Latina tem um passado 
comum marcado pela exploração e pela organização de estruturas injustas, o que 
permanece presente em muitos aspectos da realidade atual. Abordá-las criticamente, e 
refletir sobre como podemos superá-las, é um dos objetivos desse escrito. Os outros 
dois objetivos são propor, em primeiro lugar, que a diversidade cultural é uma 
característica que nos identifica e que deve ser resgatada e promovida e, em segundo 
lugar, que a visão dos indígenas, primeiros habitantes dessa terra, sobre a vida e o 
mundo, na perspectiva de pensar que todos somos irmãos de um mundo maior que nos 
transcende, deve inspirar os latino-americanos a aprenderem uns com os outros. 
 
 
1.1 – Contextualização histórica 
 
Quando o nome América apareceu, pela primeira vez, no mapa de 
Waldseemüller, identificando a parte do globo que viria a ser chamada de 
Novo Mundo, configurava uma unidade geográfica sem fronteira. Mais tarde, o 
conhecimento acerca de seus acidentes geográficos, clima e população, 
demonstraram a extrema diversidade do continente. A evolução das 
sociedades americanas viria a destacar e aprofundar as suas diferenças, 
apesar das semelhanças dos seus processos históricos. (Aquino, Jesus e 
Oscar, p. 1, 2008) 
 
 Falar em histórias da América Latina é remontar à aventura européia em direção a 
terras desconhecidas. Um espírito guerreiro, marcado por conquistas e pela dominação 
por parte de umas nações em relações às outras, atravessava a história da época – 
séculos XV e XVI. Ao mesmo tempo, as Cruzadas ainda estavam presentes na 
memória européia. As lutas pela libertação da Terra Santa1, além do dito objetivo 
 
1
 Jerusalém tinha sido invadida e tomada pelos turcos otomanos muçulmanos, e o discurso em favor de sua libertação 
tomava conta das nações cristãs da Europa, animado pelos interesses burgueses e pelo espírito belicoso da época. 
 
 
2 
religioso, representaram, para muitos burgueses da época, a possibilidade da retomada 
do comércio com as riquezas do Oriente e uma possível liberação das rotas para as 
chamadas Índias Orientais (via Mar Mediterrâneo), berço das especiarias, o que acabou 
não sendo alcançado. No entanto, se mantinha acesa a vontade de desbravar outras 
rotas e também de buscar novas terras com riquezas para abastecer o mercado 
europeu. 
 
 Além disso, os reinos e monarcas europeus buscavam solidificar o seu poder e era 
interessante uma aliança com a burguesia mercantil. Como se diz, uma mão lava a 
outra, ou seja, enquanto que para os reis era importante a provável riqueza que viria 
com as atividades comerciais desenvolvidas pela burguesia, o que fortaleceria o poder 
dos monarcas na relação de forças com a nobreza, para os burgueses era importante 
que houvesse um estado, com sua estrutura e mecanismos de defesa, que desse 
segurança e estabilidade às suas atividades. 
 
 Em meio a esse contexto estavam as terras desconhecidas que, diante da 
evolução dos conhecimentos geográficos, era cada vez mais um eminente espaço a ser 
descoberto e explorado. Esse continente desconhecido estava no meio do caminho 
para as Índias. O que se buscava nas Índias eram riquezas fáceis, imediatamente 
negociáveis. A circunstancial descoberta da América se revelava, diante desse 
contexto, num possível incremento em relação ao acúmulo de metais preciosos e de 
produtos que abasteceriam a Europa e serviriam para alimentar o comércio das 
metrópoles e da burguesia. Ou seja, deveria ser procedido um movimento por parte dos 
países ibéricos de posse das terras desconhecidas e de suas riquezas, antes que outra 
nação européia o fizesse. O pensamento é de que a nação que fincasse primeiro a 
bandeira nas novas terras seria a proprietária da mesma. 
 
Por isso, ao desembarcar, Colombo faz algo mais do que pôr nomes às 
coisas: dita uma ata notarial, sob o signo da coroa e da cruz, que o declara 
descobridor do que viu e designou e proprietário perpétuo do que 
descobriu(...) O discurso colonial subordina epistemológica, ética e 
juridicamente o existente a uma categoria inanimada de objeto e dominação 
como processo de objetivação. Eis aqui o núcleo racional do processo colonial 
moderno: processo de dominação indiferencial do real; e processo igualizador 
da civilização. (Eduardo Subirats em Adauto Moraes, p. 122 e 123, 2006) 
 
 Desde o início, como vemos, o discurso colonial ignorava o outro. Terras e 
riquezas do novo continente eram concebidas como objetos a serem dominados e 
registrados como posse da referida nação européia. 
 
 Porém, como sabemos, a América Latina não era terra de ninguém, desabitada. 
Aqui viviam povos autóctones - ameríndios, os donos da terra, que junto com a riqueza 
natural comungavam, em geral, um só cosmos. Mais adiante veremos como esses 
‘ditos indígenas’ desenvolviam sua visão singular da vida e do mundo e o quanto 
podemos aprender com sua cultura. Por ora, importa destacar aqui que esses povos 
 
 
3 
originários acabaram saqueados e dizimados, sofrendo as mais variadas formas de 
ataque e humilhação. 
 
 De forma semelhante, a partir do momento em que passaram a se desenvolver 
atividades produtivas na América, populações negras passaram a ser trazidas em 
navios negreiros2 para servir de mão-de-obra escrava, em especial nos grandes 
latifúndios, onde sofriam diferentes processos de exploração e de castigos, no caso de 
não se conformarem com o trabalho escravo. Mesmo que possamos afirmar que, 
historicamente, ultrapassamos a lógica formal da escravidão, sabemos que 
permanecemos durante muito tempo e ainda hoje, com relações de trabalho que 
carregam consigo sintomas dessa relação de poder, ou seja, alguém que é ou se faz 
dono e senhor, enquanto o outro é ou se faz empregado e deve prestar serviços para 
suprir a sua sobrevivência, sendo que cabe ao dono do negócio usufruir dos lucros da 
atividade. 
 
 Além desse aspecto social que se estende para os modos de produção, devemos 
destacar que, economicamente, predominou, no processo de colonização, uma 
estrutura agrária monocultora em latifúndios, cujo objetivo principal era abastecer o 
mercado europeu (a metrópole). As atividades agrárias que deveriam abastecer o 
mercado interno eram secundárias. Ou seja, da mesma forma como anteriormente 
destacamos a manutenção de certas relações de trabalho que permanecem presentes 
em atividades produtivas atuais, podemos destacar que a lógica de privilegiar as 
mercadorias e atividades que abastecem o mercado externo, em termos de produtos 
agrários, até hoje têm seus privilégios (subsídios). Talvez possamos afirmar, diante do 
quadro atual, que estejamos vivendo uma transição para o fortalecimento do mercado 
interno, mas em termos do agronegócio, não podemos deixar de ignorar o privilégio 
dado às atividades exportadoras. 
 
 Da mesma forma, a questão fundiária atravessou a história da América Latina, ou 
seja, a concentração de terras por parte de grandes proprietários é uma questão a ser 
pensada. O incentivo aos pequenos proprietários deve ser prioridade política. Assim 
como as iniciativas ligadas ao cooperativismodevem ser incentivadas como forma de 
preservar as pequenas colônias e descentralizar a economia agrária. 
 
 Além das questões sociais e econômicas, também podemos destacar questões 
políticas, ou seja, a lógica de poder que caracteriza a história dos países latino-
americanos. Durante a colonização, todo poder estava concentrado nos representantes 
enviados das metrópoles, que detinham o controle sobre as decisões administrativas. 
Com o tempo, os descendentes de europeus nascidos nas colônias espanholas da 
América, os criollos3, geralmente senhores das terras, começaram a exercer influência 
sobre as decisões políticas, tanto que o processo de independência da maioria das 
 
2
 Jogados nos porões dos navios, maltratados, sem condições higiênicas e sendo infectados por diversas doenças, 
muitos negros morriam durante a travessia do Atlântico. Sugere-se assistir ao filme Amistad. 
3
 Crioulos na colônia portuguesa, termo também cunhado para os descendentes de africanos. 
 
 
4 
nações latino-americanas foi conduzido por seus interesses. Após os processos de 
libertação, na maioria das novas nações independentes da América Latina, o poder 
continuava sob seu controle. Constituíram-se donos do poder, donos das terras, 
mantendo o controle quase absoluto do poder durante todo o século XIX e por boa 
parte do início do século XX. Mais recentemente, essa lógica de poder desemboca em 
históricos governos populistas de caudilhos4 ou políticos salvacionistas. Aproveitando-
se desse contexto, nas décadas de sessenta e setenta, ditaduras militares se 
impuseram diante de possíveis reações e revoluções populares, as ditas revoltas 
comunistas5. Muito recentemente, boa parte dos países latino-americanos passa a 
experimentar a democracia, ainda frágil e a ser solidificada. 
 
 A aprendizagem democrática é o grande desafio político que nos compete e 
depende diretamente do reconhecimento da diversidade e da valorização da cidadania, 
ou seja, que cada indivíduo deve ser potencializado e desafiado a ser co-autor da nova 
história latino-americana, mais justa e solidária e, ao mesmo tempo, que associações e 
entidades civis atuem de maneira autônoma em projetos de alcance social. 
 
 
1.2 – Diversidade e identidade 
 
Um dos fatores de diferenciação é a diversidade étnica e cultural das 
sociedades americanas. Trezentos anos de colonização desencadearam um 
processo migratório que se prolonga até nossos dias. Às comunidades 
indígenas, em si tão diversas em termos de desenvolvimento cultural, vieram 
juntar-se os colonizadores brancos e a grande massa de negros africanos 
trazidos à força como escravos. Esse processo contribui desigualmente para a 
formação dos perfis das sociedades nacionais. (Aquino, Jesus e Oscar. Pag. 
1, 1981) 
 
 Se politicamente podemos destacar como identidade latino-americana uma história 
comum de dominação e exploração em relação à qual devemos nos libertar a cada 
nova ação política e cidadã, em relação aos aspectos culturais e populacionais, 
podemos destacar que é a diversidade que nos caracteriza como latino-americanos, ou 
seja, somos índios, negros, brancos, amarelos e mestiços, de diferentes etnias e com 
experiências históricas singulares. Podemos falar em diferentes experiências indígenas, 
em diferentes origens africanas, em diferentes correntes migratórias européias e 
asiáticas, ou seja, o continente latino-americano é múltiplo. Essa é nossa outra 
identidade, ou nossa contra-identidade, aquilo que caracteriza a América Latina como 
 
4
 Podemos destacar como lideranças caudilhistas – quando o poder muitas vezes ultrapassa o respeito 
às leis e às constituições - Getúlio Vargas no Brasil e Juan Domingo Perón na Argentina. 
5
 Empreendeu-se na época a ‘caça às bruxas’, ou seja, os golpes militares se justificavam em virtude de 
possíveis movimentos que estavam em marcha e instituiriam nas nações latino-americanas o 
comunismo. Pesquisas recentes vêm ratificando o apoio dos Estados Unidos a muitos desses golpes de 
estado, dentro da chamada Guerra Fria, em que se colocavam frente a frente os interesses dos Estados 
Unidos (capitalismo) e da antiga União Soviética (comunismo). 
 
 
5 
terra de ninguém e, ao mesmo tempo, como terra de todo mundo. Usar termos como 
terra de ninguém e ao mesmo tempo terra de todo mundo não significa falar em terra a 
ser saqueada pelo malfeitor ou por uma lógica de rapina, mas em uma terra que 
pertence ao mundo, a todos os seres, em que as fronteiras não são registros de divisão 
e separação, mas geografias de encontro e aliança. Somos latino-americanos não 
porque temos uma identidade definida, mas porque somos negros, índios, brancos, 
amarelos e trançados ao mesmo tempo. Somos únicos e diversos, reconhecemos as 
particularidades e desejamos promover e experimentar alianças abertas e afirmativas 
com o Outro. 
 
 Essa diversidade também é um grito contra toda forma de poder vertical, contra a 
imposição de modelos ou formas de vida exteriores, contra um conceito civilizador que 
significava impor ao outro um dito modo mais sofisticado (civilizado) de existir. Devemos 
denunciar que toda lógica de poder em que uma força tenta se impor ou se submete à 
outra, representa a negação da liberdade e da possibilidade da construção de uma 
identidade livre e afirmativa. A memória em relação ao passado que deve nos unir, é a 
força que resiste à imposição de qualquer modelo. 
 
É pertinente assinalar, contra todo esse pano de fundo histórico e atual, que a 
questão de identidade na América Latina é, mais do que nunca, um projeto 
histórico, aberto e heterogêneo, não só e talvez nem tanto uma lealdade à 
memória do passado. Porque essa história permitiu ver que na verdade são 
muitas as lembranças e muitos os passados, sem contudo um caminho 
comum e compartilhado. Nessa perspectiva e nesse sentido, a formação da 
identidade latino-americana implica, desde o início, uma trajetória de inevitável 
destruição da colonialidade do poder, uma forma muito específica de 
descolonização e liberação. (Aníbal Quinjano em Adauto Moraes, p. 85, 2006) 
 
 A ausência de uma identidade específica latino-americana não torna impossível a 
existência de uma unidade. A realidade sócio-espacial pode ser diversa e plural, e essa 
diversidade e pluralidade pode, ao mesmo tempo, representar um processo histórico 
comum. Esse processo histórico é a linha que aproxima os latino-americanos em 
relação a um projeto em favor da diferença, da diversidade e de relações de poder 
cooperativas. 
 
 
1.3 - Os latino-americanos 
 
As independências, apesar de suas contradições, significaram um momento 
de recriação da visão continental, supra-étnica, de uma territorialidade que já 
compartilhava não só um passado pré-colombiano de interações e histórias 
paralelas ou cruzadas, mas também a história comum de uma colonizaçãoselvagem que, a essa altura, ofendia inclusive seus herdeiros crioulos. (Ana 
Esther Ceceña em Adauto Moraes, p. 232, 2006) 
 
 
 
6 
 O sonho de Simon Bolívar, o herói das lutas de libertação de diferentes nações 
latino-americanas, era, a partir da independência, conseguir formar a Grande América. 
Esse sonho do início do século XIX atravessa a história dos países da América Latina 
até os dias atuais. Discursos em favor da autonomia e do fortalecimento do 
nacionalismo continuam a ser emitidos na história latino-americana. 
 
 Resistências históricas diante do peso da colonização, da tentativa da Inglaterra 
de manter o poder de influência sobre as economias dos países recém-libertos, da 
famosa intenção dos Estados Unidos em estender seu campo de influência sobre a 
América Latina através da Doutrina Monroe (a América para os Americanos) usando o 
argumento de que deveríamos nos libertar das influências européias6, aliimentaram e 
alimentam o desejo de liberdade, de fortalecimento da autonomia por parte das nações 
latino-americanas. 
 
 Esse contexto de resistência a poderes externos de exploração, aliado à vontade 
de afirmação da autonomia nacional, assim como alimenta historicamente o espírito de 
solidariedade, serviu de justificativa para o surgimento de movimentos populistas e 
autoritários, em que governantes assumiam a bandeira em nome do povo, mas 
mantinham estruturas de poder em que as decisões eram autoritárias e a participação 
popular não existia. 
 
 Apesar dessa consideração, penso que não devemos ignorar esse traço que nos 
aproxima. Somo semelhantes no desejo de forjar a autonomia e diminuir os traços de 
dependência (e diversos movimentos locais atestam esse desejo). Devemos resistir aos 
poderes salvacionistas que se intitulam representantes populares e arrogam para si a 
ação política em favor do outro. O outro, se não é fortalecido e afirmado em sua 
cidadania, continua ignorado. Somente a democracia radicalizada na participação 
popular, com o fortalecimento de projetos educacionais que promovam a autonomia e a 
capacidade dos cidadãos em tomar parte das ações políticas a partir de diferentes 
processos de participação, pode representar verdadeiros processos de evolução 
política da América Latina. Essa deve ser nossa bandeira na defesa da cidadania. 
 
 O espírito de participação de todos, cooperativamente, com um projeto político 
maior em relação ao bem comum, não é descoberta ou invenção dos civilizados. 
Proponho que, retomar a veia aberta da América Latina, é reconhecer a força do 
espírito dos povos que habitavam a América antes da espoliação européia e branca. Os 
ameríndios nos ensinam a ser desde sempre outros, participantes do espírito universal 
e mestiços de alma. 
 
 
6
 Sabemos como os Estados Unidos se tornaram, durante a transição do século XIX para o século XX, 
importantes parceiros comerciais dos países latino-americanos e, a partir das duas Grandes Guerras 
Mundiais, passaram a exercer tamanha influência econômica e política sobre os mesmos, que muitos 
golpes de estado tiverem participação, direta ou indiretamente, de forças americanas. 
 
 
7 
Os ameríndios nos oferecem um modo outro de ver o mundo e de estar nele. 
Para além do valor intrínseco que qualquer forma cultural humana possui – e 
que faz das visões ameríndias patrimônios da humanidade que como tal 
devem ser respeitados e protegidos por cada um de nós -, essas visões 
encerram uma lição. Latinos na América, podemos pensar a diferença como 
um problema, ou como potencial gerador(...).(Beatriz Perrone-Moisés em 
Adauto Moraes, p. 256 e 257, 2006) 
 
 Respeitar e proteger o que é de todo mundo, a vida de cada um, é comprometer 
cada cidadão a pensar em sua ação cotidiana, em como seu gesto favorece a vida para 
além de si mesmo. Os índios viam o mundo em sua diversidade e acreditavam que ele 
era belo e se mantinha em função dessa dinâmica. O bem comum não será alcançado 
porque alguém, imperativamente, afirma que faz o que deve ser feito em favor do povo. 
O que devemos denominar de politicamente alternativo e inovador, são as práticas que 
conseguem promover a participação afirmativa de mais pessoas. Nessa perspectiva, 
reconhecer a diferença de habilidades é fundamental. Cada um pode, a partir de seus 
movimentos e aprendizagens, fazer parte dessa nova história da América Latina. 
 
 Estar fixado em uma identidade comum, como se fosse possível produzir um 
pensamento homogêneo, nos torna reféns do atraso político. Estamos marcados na 
América Latina por diferentes histórias, por diferentes experiências, e se alimentar 
criativamente das mesmas, não significa tentar conjugá-las ou reduzi-las em um único 
modo de representação. Ratifico que o que nos identifica e produz a afirmação de um 
novo projeto para os desafios atuais, é abandonar a idéia romântica de que somos 
todos os mesmos latino-americanos e assumir que as diferentes lutas e experiências, 
em seus diferentes tempos e características, devem alimentar o espírito mestiço, 
cruzado, trans-cultural, que alimenta uma participação dinâmica de cada nação e de 
cada cidadão na promoção de uma América Latina livre e criativa. 
 
Com base nos resultados de várias pesquisas, percebeu-se que a questão de 
integração latino-americana tem origens históricas e sociais, e complicações 
que atualmente dificultam o pensar em uma identidade latino-americana. Para 
Laclau (1996), há que se abandonar a idéia de uma identidade unificada e 
coerente, aceita na modernidade, por não se considerar mais viável a 
existência de um núcleo essencial do eu, estável, que passe, do início ao fim, 
sem mudança, pelos tropeços da história. O que se tem é um sujeito 
fragmentado, descentrado, deslocado tanto de seu lugar no mundo social 
como de si mesmo, composto de várias identidades, mutáveis, contraditórias 
ou mesmo não resolvidas. Somos mestiços, somos índios, somos negros, 
somos brancos, somos amarelos, mas, sobretudo, somos latinos e 
americanos. (...) (Maria Luisa Ortiz Alvarez. p. 9, em 
http://unb.revistaintercambio.net.br/24h/pessoa/temp/anexo/1/231/427.pdf 
 
 
 
 
8 
Referências 
 
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heranças do passado e desafios futuros. 
http://unb.revistaintercambio.net.br/24h/pessoa/temp/anexo/1/231/427.pdf. Acesso em 
09/01/2012. 
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Guilherme Pahl Campos. História das sociedades americanas. Rio de Janeiro: Record, 
2008. 
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BEYHAUT, Gustavo. Dimensão cultural da integração na América Latina. 
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http://www.scielo.br/pdf/ea/v2n1/v2n1a03.pdf . Acesso em 09/01/2012. 
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