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O SURGIMENTO DA ROUPA E O ATO DE SE COBRIR 1 - Indumentária na pré-história A pré-história é o extenso período que antecede o aparecimento da escrita e do uso dos metais. A primeira descoberta cultural importante do homem foi a invenção da arte. Na pintura, na gravura, na escultura foram expressos pensamentos por meio de símbolos. As mais antigas obras primas da arte surgiram há milhares de anos na era da pedra lascada, no Paleolítico, em cavernas no centro da Europa. O período posterior chamado Neolítico, foi relativamente curto em relação a toda pré-história, ele começou de fato na mesopotâmia e estendeu-se lentamente, em suas evoluções por meio da navegação, ao Egito e à Anatólia, chegando ao sul da Europa. Os grupos pré-históricos eram nômades e se deslocavam de acordo com a necessidade de obter alimentos. Durante o período neolítico essa situação sofreu mudanças, desenvolveram-se as primeiras formas de agricultura e consequentemente o grupo humano passou a se fixar por mais tempo em uma mesma região, mas ainda utilizavam-se de abrigos naturais ou fabricados com fibras vegetais ao mesmo tempo em que passaram a construir monumentos de pedras colossais, que serviam de câmaras mortuárias ou de templos. Raras as construções que serviam de habitação. Essas pedras pesavam mais de três toneladas, fato que requeria o trabalho de muitos homens e o conhecimento da alavanca. As roupas do homem da pré-história eram feitas de pele de animais e era necessário trabalhar a pele para que ela ficasse viável de ser usada e não prejudicasse os movimentos dos homens que iam à caça. Era necessário tentar dar-lhes forma e torná-las maleáveis, uma vez que secas também ficavam muito duras e de difícil trato. Ambas as técnicas não eram eficientes e com o tempo foram evoluindo. O primeiro passo foi o uso de óleos de animais que mantinham as peles maleáveis por mais tempo, pois demoravam mais para secar. Até que finalmente se descobriu as técnicas de curtimento, quando se passou a usar o ácido tânico (tanino) contido na casca de determinadas árvores (carvalho e salgueiro) para tornar as peles permanentemente maleáveis e também impermeáveis. Essas peles eram presas ao corpo com as próprias garras dos animais, usando-se nervos, tendões e até fios da crina ou do rabo do cavalo. Neste período, as peles que eram colocadas no ombro do homem primitivo impediam-lhe os movimentos. Ainda no período da pré-história, se tem início a fabricação de tecidos, mesmo que ainda de forma artesanal e primitiva. Com o tempo os avanços e aprimoramentos foram surgindo tornando possível a produção de peças como saiotes adornados com franjas, conchas, sementes, pedras coloridas, garras e dentes de animais. E foi a partir das necessidades físicas humanas que as diferentes formas do vestuário evoluíram. 2 - O período paleolítico superior e o neolítico: em busca da forma. 2.1 Localização temporal do paleolítico superior e neolítico. A historiografia propõe que a pré- história seja dividida em três períodos: Paleolítico Inferior (cerca de 500.000 a. c.) Paleolítico Superior (aproximadamente 30.000 a. c.) Neolítico (aproximadamente 10.000 a. c. a 1.000 a.C.) 2.2 Paleolítico Superior (ou Pedra Lascada): características socioculturais e artísticas - Pinturas encontradas nas cavernas de Niaux, Font- de-Gaume e Lacaux (França) e Altamira (Espanha) - Primeiras expressões extremamente simples: traços nas paredes ou "mãos em negativo". - Principal característica: Naturalismo (Pintavam do modo como viam) - Primeiras manifestações estão impregnadas de magia e ligadas à religião. - Pinturas rupestres seriam manifestações de caçadores, o pintor-caçador acreditava ter poder sobre o animal desde que? possuísse? sua imagem. - Capacidade de interpretação da natureza: imagens que representam animais temidos estão carregadas de traços que revelam força e movimento enquanto que animais como a rena e o cavalo revelam beleza e fragilidade. - As esculturas e pinturas produzidas no Paleolítico Superior retratavam figuras femininas, como as Vênus encontradas na França, Itália e Rússia. 2.3 Neolítico (ou Idade da Pedra Polida): características socioculturais e artísticas - Descoberta do Fogo - Regime de comunidades primitivas - Descoberta da agricultura (de subsistência) permitiu o sedentarismo e daí a domesticação de animais (Rev. Neolítica) - Desenvolvimento de técnicas para construção de utensílios (armas, vasos etc.) - Surgimento da cerâmica: usada para revestir os utensílios e impermeabilizá-los - Aumento da densidade populacional e existência de uma organização social para controle das atividades comunitárias. - Técnica de tecer e construção das primeiras moradas 3 - Mesopotâmia Mesopotâmia é a denominação dada a um grande planalto localizado no Oriente Médio, delimitado entre os vales do Tigre e Eufrates. Seu nome significa entre dois rios, e corresponde ao atual território do Iraque. Vários povos habitaram essa região entre os séculos V e I a.C.. Sua permanência foi ajudada pelas cheias constantes dos rios, que tornavam as terras ao redor férteis, proporcionando a agricultura, além disso, desfrutavam de água para o consumo, pesca e uma via de transporte muito útil. Essa região, chamada de Crescente fértil, está situada numa área aonde a maior parte das terras é muito árida para qualquer cultivo. Uma espécie de oásis no deserto. Todo esse contexto, fez desse local um terreno ideal para migrações e alvo de disputas, causando o fim e aparecimento de novos povos decorrentes das invasões, entre eles: os Sumérios, os Babilônios e Assírios. A Mesopotâmia é considerada um dos berços da humanidade, pois aí que surgiram as primeiras civilizações. A partir do século III a.C., cidades como Ur, Uruk, Nipur, Kish, Lagash se desenvolvem e a atividade comercial entre elas se torna mais intensa. Elas são parte integrante da civilização sumeriana, tida como a primeira do espaço mesopotâmico. Seu crescimento foi acompanhado por um desenvolvimento de um complexo sistema hidráulico, que evitava inundações nas cheias e garantia o armazenamento de água, o que criou uma ferramenta de irrigação avançada para as plantações. Com grande autonomia, os mesopotâmicos não se caracterizavam pela construção de uma unidade política. Predominavam os pequenos Estados, que tinham seu centro político, formando as Cidades-Estado. Cada uma controlava seu próprio território, com burocracias e governos independentes. Sempre monárquicos, os governos tinham o poder real de origem divina, num misto de religião e política. Devido à algumas limitações de vestígios arqueológicos, uma das fontes de pesquisa para o estudo da região, vem de documentos não encontrados nessa área e de trechos da Bíblia. Pequena cronologia da região: •De 6.000 a.C. à 5.000 a.C. -> Primeiras ocupações, início da agricultura, desenvolvimento de técnicas para a fixação no local. •De 3.500 a.C. à 3.000 a.C. -> Surgem as primeiras cidades, início da civilização Sumeriana e a criação do primeiro sistema de escrita e numérico •2.000 a.C. -> Consolidação da civilização Assíria •De 1.900 a.C. à 1.200 a.C. -> Primeiro Império Babilônico e a criação do Código de Hamurabi •1.200 a.C. -> Dominação Assíria sobre a Babilônica •1.100 a.C. -> Segundo Império Babilônico 3.1 - Religião Os povos mesopotâmicos eram politeístas (acreditavam em vários deuses), que poderiam praticar tanto o bem quanto o mal. Geralmente atribuídos à elementos da natureza (chuva, vento, água, Sol, Lua) eram representados com uma imagem semelhante a dos seres humanos. O líder político-religioso recebia o nome de Patesi. Cada cidade possuía seus próprios deuses, porém existiam algumas divindades aceitas por todas. O centro religioso era o Templo, que era a casa dos deuses na cidade. Nele, só podiam entrar os sacerdotes, que eram responsáveis pelo seu cuidado e trabalhavam como intermediários entre os deusese os humanos. Sua função era fazer com que eles atendessem as necessidades da comunidade. Os deuses, através dos sacerdotes, emprestavam aos camponeses animais, sementes, materiais e o arrendamento dos campos, como pagamento a esse empréstimo, os trabalhadores faziam uma oferenda. Com a necessidade de controlar os empréstimos e pagamentos, necessários para o controle de riquezas do templo, iniciou-se o sistema de contagem e escrita, chamada Cuneiforme. 3.2 - Escrita A escrita cuneiforme foi criada pelos sumérios, porém foram usadas por muitos povos da mesopotâmia como os sírios, hebreus, persas e mais tarde os babilônicos e assírios. A designação dada a esse tipo de escrita é porque ela é feita com o auxílio de objetos em forma de cunha. Os primeiros registros foram gravados em tábuas de argila, em sequências verticais de escrita com um estilete feito de cana que gravava traços verticais, horizontais e oblíquos. Para registar o escrito a tábua poderia ser queimada, porém para as tarefas do dia a dia não era necessário. Grande parte dos registros encontrados foram queimados em ataques incendiários de exércitos inimigos. 3.3 - Sumérios Os sumerianos se estabeleceram ao norte do Golfo Pérsico, e acredita-se que eram de uma etnia próxima aos dos egípcios. Suas cidades eram construídas sobre vastos terraços artificiais. O ponto alto dessa civilização foi o reinado de Ur-Nammur, que construiu os famosos Zigurates. Eles eram uma forma de templo, construídos em forma de pirâmides, porém mais baixas. Tinham vários andares, de 2 a 7, sendo que quanto mais elevado, menor a área construída. Eram decorados com adornos envidraçados coloridos, e o acesso ao templo (localizado no topo) era feito por uma série de rampas espiraladas que iam da base ao cume. Eram usados para armazenamento e tinha a finalidade religiosa também. O mais famoso Zigurate é o Marduque ou Torre de Babel, situado na Babilônia. 3.3.1 - Indumentária dos Sumérios (antes de 2000 a. C.) Intensa utilização de peles dos animais, em especial a lã. Kaunakés: uma forma primitiva de tanga, enrolada na cintura com a pele de carneiro. Faziam tufos torcidos com a lã da pele, dispostos simetricamente em babados. Mais tarde a tanga transformou-se em saia, e os tufos se resumiram a uma franja. Principais Características: -franjas; -muitas saias, -mantos e capas; -xales de lã de tamanhos variados; -xale longo enrolado sobre o corpo com um ombro descoberto; -mulheres com trajes longos, cobrindo o colo; -uso dos véus; -crânio raspado, barba frisada, arrumada ou cabelos longos frisados. -torso nu; -andavam descalços. Nas mais antigas representações, os sumérios vestiam basicamente pele e peleterias (couro com pelagem) enrolados na cintura numa espécie de “saia”. As pelagens eram com fios longos, em especial, pele de carneiro. Essas peleterias eram costuradas umas as outras em forma de listras horizontais ou onduladas, sobre essas saias e mantos, formando uma indumentária completa. Durante o II e III milênios, o termo KAUNAKE se aplica a esse tipo de roupa, designando não um tecido, mas uma forma. Desse período até 400 a.C., as peleterias foram substituídas por tecidos que imitavam o efeito da lã de cabra. O nome kaunake permanece, porém, designando esse novo têxtil que se assemelha a pele de carneiro ou cabra, com fios longos e pelagem externa, que aparecem de maneira regular, frequentemente feitas em carreiras, parecendo babados. Seu uso era feito tanto por homens quanto por mulheres, diferenciado apenas na forma disposta no corpo. Além dele, outro material utilizado, um tecido com ou sem franjas, que poderia ser liso ou ornamentado, com padrões geométricos como quadriculados ou losangos. Por volta de 500 a.C., foram encontrados vestígios de um outro material, bem mais fino, que possuía o aspecto de uma malha. Isso representava uma grande evolução têxtil. As peças feitas retangularmente sobre o tear vertical, também se apresentavam mais maleáveis e eram usadas sem nenhuma transformação, sendo meramente enroladas de diversas maneiras. Um saiote caindo até o meio das pernas constitui uma das representações mais antigas da “forma primitiva” do traje sumeriano. Essa peça, poderia apresentar várias camadas de kaunakes, franzidos na cintura, que eram mantidos apertados em torno dos quadris, utilizando um cinto, que era amarrado na parte de trás com um nó. O longo xale de lã representa também uma das mais antigas peças do vestuário sumeriano, é possível que no início do III milênio, os homens do povo tenham o enrolado na cintura. Ele passa a ser usado como saiote, e sua extremidade puxada sobre o ombro esquerdo. Algumas vezes usados por homens, essa estrutura constituía basicamente o vestuário das mulheres, que seguravam o tecido no ombro por meio de uma fíbula (alfinete) no qual poderia ser pendurado um fio de pérolas ou um pingente representando o selo da sua família. Tanto o xale solto, o saiote com o peitoral coberto, eram contemporâneos, assim como o vestido inteiro feito em kaunakes com decote arredondado, mangas até o antebraço. Alguns monumentos apresentam representações de tecidos quadriculados ou cobertos de pequenos círculos aplicados e marcados no centro por um ponto em cruz, talvez lantejoulas ou contas de ouro, de lápis-lazúli, ágata ou coralina, costuradas sobre a roupa. As franjas e bordados surgem aproximadamente no séc. XXVII a.C. e foram usados até 330 a.C. Não há grandes descobertas de tecidos em escavações, porque ao contrário do Egito, o clima não era tão favorável e os mortos eram sepultados nus (com exceção da família real). A nudez em vida não era bem vista, mas no caso da morte e dos sacerdotes (em suas representações), era permitido, afim de não sacralizar a vestimenta nem correr o risco de desagradar as divindades. A INDUMENTÁRIA NA ANTIGUIDADE: EGÍPCIA, GREGA, ROMANA E BIZANTINA. 1- Indumentária Egípcia A civilização egípcia é datada do ano 4000 A.C e se desenvolveu no Nordeste da África, numa região predominantemente desértica, no fértil vale do rio Nilo, que beneficiando-se do seu regime de cheias, graças a um eficiente sistema natural para transportar e depositar em suas margens uma série de nutrientes, conseguiu transformar a aridez do deserto em terras cultiváveis altamente produtivas. Através do Nilo, os egípcios tinham possibilidade também de transportar mercadorias, pessoas, podiam consumir água, pescar e ainda cultivar hortaliças. Segundo o historiador grego Heródoto, "O Egito é uma dádiva do Nilo". Em 1525 a. C. foram dominados pelos persas/ gregos/ macedônios/ romanos/ árabes/ turcos/ ingleses. Somente no século XX conseguiram recuperar sua autonomia politica. Sobre os egípcios: • Politeístas - deuses antropozoomorfos; acreditavam na vida após a morte; • Culto aos mortos; • Técnicas de mumificação. • Atividades agrícolas (trigo, cevada, linho, algodão, papiro, etc.); • Criação de animais, pesca, artesanato, produção de tecidos, vidros e navios. • Conhecimentos sobre Medicina, Matemática, Astronomia, Escultura, Pintura. • Escrita egípcia - permitiu a divulgação de ideias e comunicação, sendo de extrema importância para este povo. Indumentária dos Egípcios: No Antigo Egito símbolos de vaidade, beleza e ostentação, sempre foram características marcantes de seu povo. Mesmo os menos afortunados gostavam de usar uma série de adereços por eles criados para marcar suas relações sociais e do dia-a-dia. Acessórios ricamente ornamentados são uma das características principais do Egito Antigo. A roupa era basicamente saiotes plissados amarrados ao corpo, feitos de linho. Os faraós, além do saiote curto, usavam para cobrir todo o corpo com uma capa de pele de leopardo curtida, que incluía as quatro patas e a calda do animal. As próprias garras do bicho eram usadas como presilha. A principal cor usadaé branco, pela dificuldade de tingimento do tecido, cores como vermelho, tinham tintas extraídas da flor do açafrão, enquanto que o azul era obtido do índigo. Bordas coloridas e bordadas são vistas posteriormente, com faixas coloridas mais largas colocadas em ambos os lados de uma série de riscos mais finos foi uma combinação muito popular. • Uso generalizado do linho branco. • Drapeados, transparências. • Mudanças mínimas em um período de mais ou menos 3000 anos/ estaticidade. • Chanti = traje característico masculino. Espécie de tanga presa por um cinto, para os faraós era pregueado e engomado, às vezes bordado. • Túnicas com mangas, que provavelmente eram costuradas nas laterais. • Kalasíris = túnica longa usada por homens e mulheres - era semitransparente deixando ver por baixo o Chanti masculino. Feita por um pedaço de pano retangular, às vezes tecido numa só peça, presa aos ombros por alças e quando usado por mulheres produzia um efeito ajustado sob os seios. • Haik real = Túnica usada por cima de efeito plissado, transparente. Peitoral = larga gola adornada de jóias. • Claft = pedaço de tecido amarrado sobre a cabeça com as laterais soltas. • A fibra animal era considerada impura. • Padrões de higiene – banhos regulares, raspavam o corpo e a cabeça. • Uso de perucas, barba de cerâmica, cones aromáticos, diversas coroas. • Ampla joalheria e muita maquiagem. • Sandálias para os dois sexos/também andavam descalços. • A nudez em público demonstrava baixa condição social, com exceção das crianças. 2 – Indumentária Grega Sobre os gregos: A civilização grega surgiu em 2000 a.C. e perdurou até e 100 a.C., entre os mares Egeu, Jônico e Mediterrâneo, contendo um litoral muito recortado e inúmeras ilhas. Quando se fala em Grécia, se fala em filosofia, em arte, em democracia, em um apurado padrão estético. No período de apogeu de sua cultura, teve como centro de sua organização política as Cidades-Estados. São povos de crença politeísta. Indumentária dos Gregos: A indumentária grega se destacou pelos seus elaborados e marcantes drapeados. Não havia um caráter erótico ligado às roupas, mas sim uma grande preocupação estética. A peça mais característica de sua indumentária era uma túnica composta de retângulos de tecidos de vários tamanhos, drapeados sobre o corpo sem um corte ou costuras. Era apenas "enrolado" sobre o corpo, com algumas variações, presa sobre os ombros e embaixo dos braços, sendo uma das laterais fechada e a outra aberta, pendendo em cascata. No ombro era preso por broches (Fíbula) e alfinetes e na cintura por cintos e cordões. Os homens e mulheres usavam o que era chamado de chiton, os homens até os joelhos e as mulheres até os tornozelos. O chiton dório era feito em geral de lã e o jônio de linho. O linho era o tecido mais usado, seguido pela lã, e o primeiro permitia maior variedade de dobras e às vezes usava-se um pouco maior que a distância dos ombros aos pés para permitir puxar o tecido sob o cinto formando uma "blusa". Com o passar do tempo, esta peça evoluiu de um único retângulo para duas partes costuradas, por vezes com manga. Em complementação à ela os gregos usavam mantos. Para os homens havia a uma capa curta, feita de lã grossa que era a capa militar; e outra, roupa civil, mais ampla e usada em dias frios. O manto das mulheres era bem comprido, chegando aos pés. Ao contrário do que se pensa os trajes gregos eram coloridos, exceto os usados pelos pobres. Alguns membros das classes inferiores tingiam suas roupas com um tom de marrom escuro-avermelhado, prática rejeitada pela maioria das autoridades, mas os membros das classes superiores tinham maior liberdade, podiam usar vermelho, roxo, amarelo e verde. O único lugar em que era obrigatório usar branco era o teatro, que por ser considerado sagrado, exigia um tom de pureza. Os pés estavam quase sempre descalços, mas quando havia calçados, eram as sandálias presas por tiras nos pés e pernas. As peças que merecem destaque na indumentária grega são: o Himation, o Peplos e o Chiton. 2.1 – Himation O himation era um capote extenso, sempre octogonal, diferente da toga romana, que tinha algumas formas diferentes. Parece ter tido uma variedade de significados culturais, dependendo da sua proporção e de como era usado. Geralmente, quando usado por mulheres, era um traje de modéstia decorosa, mas ele foi visto também como instrumento de provocação. O himation era tipicamente drapeado indo sobre o ombro esquerdo, sob o braço direito, atrás e através do corpo, depois carregado pelo braço esquerdo e então atirado novamente para trás sobre o ombro esquerdo. 2.2 – Peplos O peplos eram feitos de dois pedaços retangulares de pano parcialmente costurados juntos em ambos os lados; as seções abertas no topo eram então dobradas para baixo na frente e nas costas. A mulher puxava seu traje sobre a cabeça e o amarrava nos ombros, com dois grandes alfinetes, formando um vestido sem mangas. Os alfinetes eram originalmente alfinetes abertos com cabeças decorativas, mas depois foram substituídos por grampos ou broches. 2.3 - Chiton O chiton era similar ao peplos. O tecido de lã foi substituído por tecidos mais leves, como o fino linho ou ocasionalmente a seda, refletindo a influência da Ásia Menor; e eles podiam ser brilhantemente coloridos. O chiton media cerca de 3 metros de largura, e se media exatamente do ombro ao tornozelo, sem material extra. A enorme largura requeria de oito a dez grampos prendendo-o em cima. 3 – Indumentária Romana Sobre os romanos: • Suas origens remontam ao século VII a.C. quando os Latinos ocuparam as terras férteis nas proximidades do rio Tibre. • Tornou-se um dos maiores impérios da antiguidade. Até nos dias atuais herdamos uma série de características culturais. • O direito romano, até hoje está presente na cultura ocidental, assim como o latim, que deu origem a língua portuguesa, francesa, italiana e espanhola. • A cultura romana foi influenciada pela cultura grega. Indumentária dos Romanos: A civilização romana é considerada a mais rica da Antiguidade e, naturalmente, suas vestimentas são elementos que ajudam a reforçar essa condição. A indumentária era muito normatizada e quem infringisse suas regras era punido. Por exemplo um senador romano que não fosse vestido com a toga corretamente ao senado poderia ser preso. No início da história romana existiu uma forte influência do povo etrusco que habitaram primeiramente a península itálica até o 1o milênio a.C. Os trajes etruscos se pareciam com os cretenses, com o uso da túnica-veste costurada e um tipo de toga, que era feita com um semi-círculo de pano, às vezes esta "toga" era retangular e formava uma espécie de capa. Estes trajes etruscos desapareceram após o domínio romano sobre a região, e somente a toga permaneceu tornando-se uma característica marcante no traje romano. A toga era essencialmente usada pelas classes superiores, pois exigia habilidade para drapejar em volta do corpo e impedia atividades mais vigorosas. Os etruscos calçavam uma espécie de bota alta, amarrada e com a ponta virada para cima, obviamente uma influência da Ásia Menor. A toga é o traje mais comumente associado à antiga Roma, considerada símbolo do poder do Império e da cultura, foi usada por homens e mulheres dos tempos mais remotos até o século II a.C., quando passou a ser reservada aos cidadãos. As mulheres usavam uma veste longa e justa, sem cinto, que poderia ter uma meia manga ou uma abertura nas costas, fechada por fitas e sobre esta veste usava-se uma capa longa e retangular. Os senadores eram conhecidos por suas togas brancas. Os meninos romanos livres usavam uma toga com uma orla roxa até atingirem a puberdade, a qual em uma cerimônia era substituída pela toga virilis branca. Durante períodos de luto ou cerimônias religiosas usava-se uma togade cor escura. Por volta de 100 d.C a toga começou a diminuir de tamanho. Por baixo da toga, no período da República, os homens usavam um saiote simples de linho que durante o Império foi substituído por uma túnica costurada, equivalente ao quiton grego. Esta túnica era feita com dois pedaços de pano costurados e era vestida pela cabeça e presa por um cinto, seu comprimento era até o joelho, mas, em ocasiões especiais chegava até o chão. Trabalhadores e soldados usavam somente a túnica, sem a toga por cima. Quando esta túnica possuía mangas era chamada de dalmática e quando era totalmente bordada era chamada palmata. Os romanos com suas rígidas tradições não aprovavam as calças curtas nem as compridas adotadas pelas tribos bárbaras, mas acabaram sendo aceitas principalmente pelos soldados. No início os romanos usavam barbas, mas a partir do século 2 a.C começaram a raspá-la, tornando-se este costume universal. Os cabelos eram curtos, mas os mais elegantes os anelavam, formando cachos com pinças quentes. As roupas femininas eram muito semelhantes às masculinas, exceto pelo uso de um corpete macio conhecido como strophium. A túnica era mais comprida do que a masculina e chegava até os pés. Podia ser feita de lã, linho ou algodão e as romanas ricas usavam a seda. Os trajes romanos eram coloridos: vermelhos, amarelo e azul eram as cores preferidas, além de que costumavam ornamentá-los com uma franja dourada ou com bordados ricamente elaborados. Sobre a túnica usava-se a stola parecida com a toga, a qual era usada em público. Era comum cobrir a cabeça em público, mas os penteados eram muito importantes para as romanas, e se tornaram muito elaborados na época de Messalina, requerendo os serviços de uma ornatrix, que passava horas arrumando os cachos das senhoras em mechas e num coque conhecido como tutulus. Os cabelos louros eram uma moda e mulheres de cabelos escuros faziam descolorações, também era comum o uso de perucas e apliques. Os luxos das jóias era também apreciado, homens e mulheres as usavam. Técnicas como esmaltagem e damasquinagem foram trazidas do oriente, e as mulheres usavam brincos, colares, pulseiras, tornozeleiras, anéis e tiaras para os cabelos em ouro, pedras preciosas, marfim e até camafeus. Os romanos usavam sandálias, a princípio muito simples, feitas com uma peça de couro não tingida, e presa por tiras. Eram usadas pela maioria dos cidadãos romanos, mas não pelos escravos. Dentro de casa usava-se chinelos, que podiam ter variadas cores e até pedras preciosas como os usados por Nero. Nos dias chuvosos usava-se coturnos e botas fechadas, uma influência gaulesa. 4 – Indumentária Bizantina A arte passou a ser utilizada a serviço de Deus e do imperador, para propaganda da fé e exaltação da pessoa sagrada do governante. O mosaico foi a característica mais marcante do império. Na indumentária, era nítida a diferença em luxo e ostentação em relação ao Império Bizantino. A justificativa poderia ser meramente econômica, visto que a Europa ocidental não estava em plena expansão econômica quanto a Europa Oriental. A grande diferença entre mais e menos favorecidos estava nos tecidos utilizados e ornamentos empregados, uma vez que os cortes eram praticamente os mesmos. A seda era nobre, mas também eram usados lã. Os camponeses ficavam com os trajes mais discretos e sóbrios. A túnica foi muito usada por homens, sendo a dos mais ricos na altura da panturrilha e dos menos ricos na altura dos joelhos e era presa ao corpo por um cinto. Por cima dela usavam uma capa semicircular atada ao ombro por um broche e era forrada de pele para dias frios. Usavam os calções por baixo das túnicas que eram amarrados por tiras de tecido na perna, quando compridos. Ainda estavam presentes capas com capuzes e placas metálicas cobrindo túnicas para dar proteção nas batalhas. Já as mulheres usavam túnicas com ou sem mangas vestidas pela cabeça, presas ao ombro por broches e atadas à cintura por um cinto. Sobre os ombros usavam um lenço, e também usavam um manto longo que podia chegar ao comprimento da própria túnica. Para ambos os sexos os cabelos eram longos e para as mulheres em geral presos. Os calçados eram de couro para ambos e possuíam tiras que eram cruzadas e amarradas nas pernas. Principais características: • o vestuário bizantino reflete as diversas fases; • drapejados da indumentária antiga; • materiais luxuosos (bordados...); • cores orientais; • túnica, a peça básica por mil anos; • trajes feminino e masculino tinham quase nenhuma diferença; • trajes variavam de acordo com a hierarquia, desde nenhuma (classe baixa) à extremamente ornamentada (classe alta); • barras das mangas, bainha e abertura do pescoço decorados, com bordados de rubis e pedras preciosas; • tecidos brocados (na maioria pintados à mão) e adornos de todos os tipos: colares, gargantilha, maniakis (faixa de tecido bordada a ouro e enfeitada com pérolas e pedras); • Tecidos suntuosos; • técnica superior de tecelagem; • sedas; • tapeçaria ou bordado com técnicas variadas (algumas da Pérsia ou China); • temas decorativos orientais, helênicos e cristãos; • cores muito importantes: púrpura - vermelho escuro, roxo-escuro e amarelo. 4.1 – Traje Imperial: • varia conforme o século; • trajes formais; • oscilando entre a moda romana e oriental; • quase sempre túnicas tecidas a ouro com padrão de cores variadas com capa semicircular presa com broche (clâmide) no ombro direito; • rei-sacerdote - roupa tinha um ar eclesiástico com pouca praticidade e funcionalidade; • formas amplas, flutuantes; • homens: usam a túnica mais curta (paragaudion); • mulheres: usam a túnica comprida e redes enfeitadas com miçangas e brincos. 4.2 – Traje cotidiano: • bata ou túnica levantada por pregas nas laterais para facilitar a caminhada; • calça comprida ou meiões colantes e ornamentados, os braies; • sapatos; • barretes de origem persa (as tocas). A INDUMENTÁRIA NA IDADE MÉDIA: O ESTILO GÓTICO E SUA INFLUÊNCIA SOBRE O VESTUÁRIO MEDIEVAL. 1 – Indumentária Gótica Precisamos entender as mudanças significativas no vestuário a partir dos séculos XIV a XV, que foram: A primeira característica marcante é que as roupas passaram a ter menos preocupação utilitária e mais apelo ornamental e estético. Outro item importante foi a diferenciação das roupas masculinas das femininas (bifurcação), e embora pareça contraditório à realidade moderna, o homem tinha nesta época um visual bem mais exuberante que a mulher. Principais características: • Desenvolveu-se na Europa, no período da Baixa Idade Média, especialmente na França, no florescer do Renascimento do Século XII; • Considerada uma era de transformações políticas, sociais, culturais e econômicas que ocorreu na Europa Ocidental; • É conhecido como Arte Francesa, quando se contrapõe aos valores renascentistas, ou seja, em seu declínio; • Arte das Catedrais; • Surge o Realismo nas obras de artes e esculturas; • A silhueta que predominou foi verticalizada e magra, um reflexo da vista na arquitetura; • As mangas cresceram muito e ficaram muito amplas na altura dos punhos; • Eram usados também pelas mulheres, chapéus em forma de cone ou chifres, afunilados no topo, onde caia um véu e foi difundido o uso da Barbette, banda de tecido que passava sobre o queixo e era presa no alto da cabeça sob os penteados. Um aspecto interessante foi um início de diferenciação da indumentária de homens e mulheres: as masculinas encurtaram e as femininas permaneceram compridas, tocando o chão. Os homens usaram meias coloridas, às vezes uma perna diferente da outra. Usaram os calções longos, e o encurtamento da túnica deu origem ao Gibão. Com o tempo os calções foram encurtando deixando as pernas cobertas pelas meias que ficaram bastante aparentes. Os sapatos de bico pontudo ficaram comunse quanto maior o grau de nobreza, maior o bico. Neste período a aristocracia fabricava suas roupas em alfaiates. O RENASCIMENTO, O ANTROPOCENTRISMO E O NASCIMENTO DA ERA DA MODA 1 – Renascimento A Europa emergiu das dificuldades da Idade Média em um florescimento cultural extraordinário: o Renascimento. Esse movimento teve suas raízes no início do século XIV e alcançou seu apogeu no século XV, continuando até o XVI. O renascimento começou com o interesse pelas formas da escultura e da arquitetura clássicas, especialmente na Itália, convertendo-se num amplo movimento cultural e intelectual, conforme a sociedade se tornava cada vez mais moderna e próspera. Os humanistas redescobriram os antigos escritos greco-romanos sobre ciência, política, matemática, filosofia e arte que foram unindo as ideias do cristianismo contemporâneo. O Renascimento foi difundido pela Europa, mas os principais centros encontram-se nos estados ricos da Itália, em particular Florença, Roma e Veneza e na região dos Flandres, que se tornou um importante centro de comércio e artes. Antuérpia, Bruxelas e Gent eram as cidades portuárias mais movimentadas e prósperos centros têxteis. Usando lã importada da Inglaterra como matéria-prima, os tecelões flamengos criaram os tecidos mais luxuosos do continente. Na Itália, famílias importantes usavam roupas magníficas e empenhavam suas mentes em atividades intelectuais com pessoas de ideias semelhantes, além de investirem sua riqueza pessoal em obras de arte para coleções públicas e privadas. Uma das famílias mais importantes foram os Médici, financiando os maiores artistas do período. A literatura floresceu em toda a Europa, a Itália foi o berço, pensadores como Petrarca, Maquiavel, Ariosto e Bandello foram responsáveis pela nova forma de pensamento da época. Na Espanha, Miguel de Cervantes satirizou o antigo conceito de cavalaria romântica em sua obra Don Quixote. A mais importante invenção da época foi a imprensa. Criada em 1452 por Gutenberg, ela aumentou a difusão do conhecimento e expandiu o pensamento dominado pelos teólogos católicos para uma variedade progressista de ideias diversas. Houve um aumento na velocidade de comunicação. Os livros passam a ser escritos em seu próprio idioma, uma vez que a burguesia (que podia comprar os livros) exigia isso. Assim, floresceu o comércio de todo tipo de livros, desde almanaques e romances, até assuntos como etiqueta e vestuário. No Renascimento floresceram os comércios, as comunicações, as invenções e as descobertas. Em 1492, Cristóvão Colombo chega às Américas, e introduz na Europa, diversos produtos exóticos: milho, batatas, tabaco, ouro, prata, aves com penas de cores vivas, dentre outros. A partir do final do século XV, exploradores portugueses, como Vasco da Gama e Fernão de Magalhães, viajaram cada vez mais para o leste, chegando, primeiro, à China e depois no Japão em 1517. Eles retornaram para a Europa com diversos objetos luxuosos, como leques dobráveis que rapidamente fizeram sucesso. Durante o Alto Renascimento (1484-1520) aconteceram grandes avanços culturais, artísticos e científicos. As ideias médicas modernas começaram a ter maior aceitação. Roma começa a substituir Florença como centro artístico italiano. O Papa Júlio II (1503- 1513) começou a atrair os melhores artistas para a cidade. Michelangelo pintou o teto da Capela Sistina e Rafael, afrescos em todo palácio do Vaticano. Na época de Leão X (1513-1521), Roma era a sede cultural e artística italiana. Toda a Europa observava a Itália. Inglaterra e França abraçavam os ideais de arte, arquitetura e moda. O rei da França, Francisco I, tornou-se o último patrono do pintor e pensador Leonardo da Vinci. Ele lhe ofereceu um auxílio anual e, em 1516, instalou-o no Château Cloux, onde viveu até sua morte em 1519. Da Vinci é considerado o gênio mais versátil do Renascimento, seus cadernos de anotações refletem um enorme conhecimento e antecipação de uma variedade de temas, como biologia, anatomia, mecânica e aeronáutica. Em 1517, um frade agostiniano alemão chamado Martin Lutero atacou a corrupção prevalecente no seio da Igreja Católica, publicando uma lista de queixas. A imprensa ajudou a divulgar as ideias reformistas de Lutero e a Reforma resultante espalhou-se pela Europa, terminando, finalmente, na divisão entre o norte e o sul. Inicialmente, na Inglaterra, Henrique VIII defendeu a Igreja Católica, mas quando o papa se recusou a lhe conceder o divórcio de sua primeira mulher, o soberano rompeu com Roma, declarando-se Chefe Supremo da Igreja da Inglaterra. Novamente, a Europa estava prestes a se lançar em conflitos políticos. Durante esse período a arte se renova, ideais até então esquecidos reaparecem com uma enorme força. A redescoberta da arte e da literatura Greco-Romana, o estudo científico do corpo humano e do mundo natural, na tentativa de reproduzir com realismo as formas da natureza, o questionamento dos valores da Igreja, o avanço das ciências foram fatores que auxiliaram nessa mudança. 2 - O papel da mulher O Renascimento anunciou uma época em que as mulheres desfrutavam de uma liberdade sem precedentes, mulheres como Elizabeth I (1533-1603), eram tão instruídas quanto os homens em diversos assuntos. Além dela, destacam-se Isabel de Castilha, e Alessandra Macingni Strozzi. Durante seu reinado de 45 anos, Elizabeth demonstrou ser uma monarca extremamente inteligente. Seu país prosperou e floresceu do ponto de vista cultural, Shakespeare é um bom exemplo desse desenvolvimento. Sua maior vitória foi salvar a Inglaterra protestante da dominação da Espanha católica, numa enorme guerra conta Filipe II. “Sei que tenho apenas o corpo frágil e delicado de uma mulher, mas tenho o coração e o estômago de um rei”, declarou às suas tropas antes da batalha em 1558. Apesar de exemplos inspiradores, o ideal feminino durante o Renascimento tinha pouco a ver com a capacidade intelectual, perspicácia política ou poder, a cortesã tornou-se a imagem da mulher ideal. Muitas amantes da realeza foram responsáveis por mudanças significativas. 3 - A Indumentária no período da renascença (séc. XV e XVI) A medida que as pessoas ficavam mais conscientes, a indumentária e, em particular, os trajes elegantes adquiriram uma importância cada vez maior durante o Renascimento. A moda, antes um mero passatempo dos ricos, também se tornou uma preocupação da próspera classe burguesa. Durante a Idade Média, as roupas se diferenciavam de um país a outro, mas o Renascimento teve um aspecto unificador sobre a moda. À medida que as comunicações e os transportes se tornavam mais rápidos e sofisticados, a difusão de artigos de luxo se tornou regular e as pessoas começaram a desejar tais mercadorias. Confeccionado por alfaiates, os trajes combinavam com as exigências do cliente e era comum que este visitasse o profissional várias vezes por causa de uma única peça. Em Londres, por exemplo, a área da London Bridge abrigou os primeiros armarinhos. A loja do alfaiate, os ateliês e sua casa se localizavam em um lugar só. Alfaiates ambulantes atendiam os moradores do interior, que não tinham acesso aos centros urbanos. As roupas eram consideradas um investimento e gastava-se muito tempo com a sua confecção e conserto. Os cortesãos necessitavam de um extenso guarda-roupa e frequentemente vendiam suas roupas para lojas de segunda mão na tentativa de recuperar parte de seus gastos. Em termos de influência no vestuário e inovação, dois dos principais centros eram Florença e a corte de Carlos, o Temerário, em Flandres. Um dos estilos mais influentes e duradouros que surgiram nessa região foi resultado da derrota de Carlos, em 1477, quando os suíços atacaram suas tropas, celebraram a vitória cortando tendas, estandartes exagerados e roupas luxuosas que pertenciam ao exército de Borgonha e atando esses trapos rasgados às suas próprias roupas. A partir desse momento, tornou-sepopular um estilo conhecido como talhado ou golpeado, na qual as costuras são deixadas abertas ou fendas são criadas deliberadamente em uma peça de roupa para deixar o forro visível, as vezes puxado, e deixado aparente na peça. Esse tipo de acabamento era usado por ambos os sexos, mas era mais popular no vestuário masculino. Esse motivo era chamado de Landsknecht. 3.1 - Elementos da indumentária do Renascimento Rufo - foi outro elemento da indumentária que se desenvolveu no Renascimento. Dominante nas roupas masculinas e femininas, era originalmente um efeito obtido ao puxar a borda da Chemise para perto do pescoço com um cordão, de modo a fazer aparecer um babado, mas acabou se tornando um elemento independente do vestuário. O rufo era confeccionado a partir de uma faixa ou tira de linho, com no máximo, 5,8 metros de comprimento. Ele podia aumentar até proporções muito elaboradas, graças a introdução do amido, que chegou à Inglaterra em 1560. O amido coloria o rufo branco, acrescentando uma tonalidade azul ou amarela. Suportes como estruturas de arame cobertas com seda presas com alfinetes por baixo do rufo, eram usadas para mantê-lo no lugar. Os babados de um rufo transformaram-se em pregas, que eram abertas e pressionadas na forma de oito. Mais tarde, os rufos passaram a ser confeccionados em gaze e, alguns casos, tinham bordas de renda e podiam ser alinhavados à gola alta do corpete de um vestido ou usados para decorar a chemise masculina. Mangas removíveis ou duplas - homens e mulheres da classe média usavam roupas com mangas removíveis ou duplas. Primeiro, havia uma manga justa que era presa ao vestido e então uma manga mais ampla era fixada ao corpete do vestido ou ao gibão masculino. Essas mangas eram um método econômico de mudar o estilo de uma peça de vestuário. A prática foi favorecida, sobretudo, pelas mulheres italianas, que com dois vestidos e dez pares de mangas obtinham um vestuário mais versátil. Amarração ou trança - a costura era uma outra característica dominante da indumentária renascentista. Os pontos pareciam laços e eram usados para prender os calções à cintura do gibão ou uma manga à cava do gibão ou do vestido. Esse processo era conhecido como amarração ou trança. Embora fossem meramente funcionais, os pontos nos trajes mais ricos, eram usados com motivos decorativos nas pontas, permitindo à roupa ser ainda mais enfeitada e extravagante. Leques e lenços - eram acessórios fundamentais na época. As viagens de descoberta, os tornaram extremamente populares. Elizabeth I foi uma grande adepta da moda, em alguns de seus exemplares, esse acessório tinha o status de joia. Os Lenços eram usados por homens e mulheres para diferentes finalidades, desde assoar o nariz até como adorno. Podiam ser utilizados na cabeça e ao redor do pescoço, mas algumas pessoas simplesmente os levavam na palma da mão ou os apertavam no meio para que revelassem suas bordas delicadas. O lenço era considerado uma peça de luxo que os pobres estavam proibidos de usar por lei. Henrique VIII instituiu leis que estabeleciam como eles seriam decorados. A maioria era feito de linho ou seda e, como o passar do tempo, se tornaram cada vez mais ornamentados. Os estilos do vestuário permaneceram mais ou menos constantes durante o século VX. No início do século XVI, surgiram diversas mudanças e os novos estilos foram representados em pinturas de diferentes artistas, como Michelangelo e Rafael. De acordo com a teoria de Leonardo da Vinci de que o círculo é a forma perfeita, a aparência dos homens e, em especial das mulheres se tornou mais arredondada e as roupas ganham uma estética mais sensual. Mangas e saias se tornaram mais amplas e os trajes eram feitos de tecidos grossos, luxuosos e macios, como veludo, brocado e adamascado. Bordados e ornamentos costumavam ser usados para enriquecer as peças de roupa e a beleza do corpo humano começou a ser aceita e ressaltada. 3.2 - Vestuário Feminino No início do século XV, as mulheres usam uma versão macia e ampla do Houppelande, traje longo e amplo com mangas compridas e gola alta. Em meados do século, as roupas se tornaram mais amplas, e a base do vestuário feminino era um conjunto de roupas de baixo em linho branco com mangas longas sobre as quais era usado um vestido de cintura alta em cor contrastante. No fim do século, os vestidos apresentavam uma linha de cintura em V, um corpete, que ocupava o espaço na frente do vestido e mangas com fendas nos ombros, cotovelos e nas costas até o punho para que o tecido da roupa de baixo fossem revelados. No século XVI, as roupas de baixo eram as peças mais importantes do vestuário feminino. A invenção feminina mais comentada no renascimento foi a armação denominada Farthingale ou Verdugado, que sustentava a saia e foi usada pela primeira vez na corte espanhola em 1468. No entanto, à medida que as diferentes nacionalidades adotavam essa moda, esse tipo de armação começou a ter maior largura. Em 1530, um tipo mais largo de anquinha surgiu na França, onde era conhecido como bourrelet. Essa armação trazia movimento para a saia da mulher, que era ainda mais acentuado se ela usasse sapatos de salto alto. Essa estrutura era feita de ramos de salgueiro ou barbatanas de baleia costuradas ao tecido. Existiam três formatos principais: a anquinha estreita, a armação em forma de barril, popular entre as mulheres francesas, e a armação acampanada. Embora as roupas femininas fossem pesadas, a silhueta desejada era bem definida. O vestuário enfatiza ombros largos, uma cintura longa e fina e quadris largos. O torso da mulher era modelado ajustado pela basquine. Feita de tecido rígido, essa roupa de baixo parecida com um corpete, se ajustando ao corpo e gradualmente o modelava como um funil, suprimindo as formas naturais e arredondadas do busto e forçando-o para cima. Possuía geralmente o decote redondo ou quadrado. Essa silhueta complementava o efeito volumoso da anquinha na parte de baixo. A armação de barbatana de baleia era uma alternativa que também dava à mulher a aparência de um busto reto e o efeito era reforçado pelo corpete triangular engomado, que descia abaixo da linha da cintura e fazia uma curva sobre a saia. Além do corpete rígido e da saia armada, a principal peça feminina dessa época era a Beca, que caía em pregas a partir dos ombros, deixando uma abertura na frente através da qual o vestido podia ser visto. As mangas eram bufantes e terminavam acima do cotovelo para revelar a manga de baixo. Às vezes usavam-se mangas longas caídas, presas à manga superior. Outras roupas mencionadas em registros da época eram uma mistura de jaqueta e um vestido solto usado como agasalho; a cassock, porém com mangas abertas e soltas. Nas viagens, usavam-se as capas longas e pregueadas, similares a sobretudos, com um decote arredondado e estreito e fendado nos braços mostrando o vestido da mulher. A salvaguarda era uma sobre-saia de tecido liso usada tanto como agasalho quanto para proteger o vestido. Inicialmente as saias arrastavam no chão, mas pouco tempo depois, as pernas começaram a aparecer por baixo delas, levando a um interesse por meias e calções que vestissem perfeitamente. Elas começaram sendo feitas de algodão, mas aos poucos, à medida que foi aceito, passou a ser confeccionado em tecidos mais finos como brocados. Nem todas as mulheres adotam essa moda, não se popularizou na Inglaterra e na Alemanha. Elizabeth I tornou-se célebre por usar roupas extravagantes. Embora não fosse uma mulher de grande beleza, era considera detentora de um grande estilo. Ela usava um rufo Tudor, dragonas, peruca adornadas com joias, corpete justo e anquinhas. Tanto a fronte quanto as sobrancelhas costumavam ser depiladas. Elizabeth gostava muito de moda e, quando morreu, seu guarda roupa pessoal incluía em torno de três mil vestidos e acessórios de cabeça. Na época a indumentária feminina podia ser divida por estilos:Tudor, espanhol, alemão, francês e italiano. 3.3 - Vestuário Masculino O uso das cores, uma característica do vestuário masculino durante a Idade Média, continuou em alta durante o Renascimento. O hábito de usar roupas com detalhes de tecidos de cores vivas, assim como listras, quadrados ou triângulos acrescentavam um elemento de exibicionismo aos trajes masculinos. As pessoas costumavam vestir seus servos com uniformes da mesma cor e algumas eram para atividades específicas, por exemplo, a ferrugem, usado para trabalhos rurais. A silhueta das roupas masculinas dessa época acentuava o físico do homem. Para tornar os ombros e tórax mais largos, eles enchiam os casacos com feno e marcavam a cintura. As meias substituíram as calças justas e a área do gancho se tornou uma região importante do corpo com a introdução do codpiece e de outras ornamentações como fitas. Sapatos de bicos finos foram substituídos por calçados em bico de pato, largos e arredondados na frente. Os modelos da moda masculina foram no século XVI: Henrique VIII, da Inglaterra; Francisco I, da França; e Carlos V, da Espanha e Holanda. Os três rivalizavam em relação a suntuosidade do Vestuário: Carlos, por exemplo, usava um gibão de brocado prateado e uma veste dourada forrada com pele. Porém, o posto de líder é atribuído a Henrique VIII, sempre se apresentando de modo pomposo. Suas roupas eram feitas de ricos brocados, bordados e incrustados com joias. Os homens europeus usavam livros para terem ideia de como assumir um aspecto elegante. O livro “O Cortesão”, tornou-se um manual dos nobres. Em meio às características ideais de comportamento cortesão, haviam conselhos sobre o que vestir nas diversas atividades sociais. O vestuário diário apresentava sinais de crescente modernidade, e era constituído por alguns elementos indispensáveis: Camisa- A camisa masculina de linho branco se tornou o símbolo de riqueza durante o Renascimento em toda a Europa, substituindo a chemise. Vestir uma camisa limpa e recém passada, confeccionada em linho branco, seda ou tafetá, distinguia um fidalgo de um camponês. O corte da camisa era amplo, o decote, em geral era baixo e, com o passar do tempo, uma pequena gola e um babado, bordado em preto, vermelho, azul ou dourado, apareceu no pescoço. Depois ela evolui até o rufo. Gibão - Até o século XVI, era a principal peça usada na parte superior do corpo, por baixo de uma jaqueta masculina, que, finalmente, foi substituída pelo colete denominado gilet. Para adquirir sua forma característica, essa peça de vestuário era engomada e também costumava ser acolchoada para que tivesse maior volume, pois acreditava-se que reforçaria, desse modo, a masculinidade. No século XVII, o acolchoado desapareceu. A maior parte dos gibões tinha uma linha da cintura terminada em ponta. As mangas eram amarradas para que o cotovelo, a parte de trás do braço e as amarrações fossem exibidas. Jaleca - Equivalente ao paletó moderno, a jaleca podia apresentar gola baixa ou alta. Independentemente do estilo, costumava ser deixava aberta para exibir o gibão, a camisa e o codpiece. Originalmente, as mangas eram removíveis, porém, em meados do século XVI, foram eliminadas e a jaleca passou a ter acabamento de ombreiras ou efeitos de tecido semelhante a asas nos ombros. Codpiece - Triângulo de tecido para proteção, colocado na frente da calça para enfatizar a virilha, e era amarrada ao gibão. Calções - Pernas torneadas eram consideradas sinal de masculinidade, mas as meias longas não eram um estilo adotado universalmente. Por causa dos custos altos para sua produção, elas somente eram usadas por pessoas bem ricas. Base do guarda-roupa suntuoso, um traje masculino elegante dependia da escolha dessas peças. Os calções denominados strunk hose iam da cintura até pouco acima do joelho, ajustados no quadril e acolchoados. Ele era confeccionado em diversas formas, porém, em meados do século XVI, localizava-se, em geral, na cintura. Por baixo dos calções e até a altura dos joelhos também eram usadas meias ajustadas denominadas canions. Um modelo muito popular no norte da Europa, o plunder hose, calções bufantes ajustados nos joelhos, confeccionados em tecidos acolchoados e que também eram forrados e engomados. Calções bufantes (slops, gascoynes, ougalliga, skins) também eram muito populares na Inglaterra. Meias - Quando foram inventadas as máquinas de tricotar meias, elas passaram de roupas frouxas e cortadas em peças de tecido para um objeto confortável, que se ajustava melhor às formas do corpo. As meias de malha traziam baguete ou nesga ornamental. As ligas, tiras finas de tecido eram presas ao redor da perna, acima do joelho, mantinham as meias no lugar. O Zipone, túnica abotoada que ia até o joelho, era vestido por cima do gibão e o traje era finalizado com uma sobretúnica, uma capa chamada zornea, com mangas amplas, que era presa ao redor da cintura com um cinto. Trajes ricamente bordados não eram só para mulheres. Os homens também adornavam suas roupas com joias e pedras preciosas. Os mantos poderiam ter símbolos costurados e também eram usadas correntes de ouro cravejados com pedras preciosas. Os homens também usavam chapéus elegantes, decorados com uma pena ou pedras. 3.4 – Calçados Durante o Renascimento, os calçados eram confeccionados com diversos materiais, como couro, tecido e seda. As mulheres ricas, cortesãs e prostitutas usavam um calçado denominado Chapimou Chopine. Semelhantes a um par de pernas de pau, esses sapatos deixavam as mulheres mais altas, mas afetavam a forma de andar. Esse problema foi solucionado com a redução da sola do sapato, surgindo assim, o sapato de salto alto. Eles eram itens caros e as pantufas, plataformas de madeira presas à sola do sapato por meio de pedaços de tecido, eram usadas para protegê-los do tempo ruim, elevando-os acima do chão. A altura do salto, o formato do cabedal e da biqueira mudaram com o passar do tempo, de acordo com a moda da época. Nos anos de 1580, as tiras dos calçados evoluíram e eles passaram a ser amarrados ao pé com a ajuda de uma fita ou um laço. O BARROCO E A CORTE DO REI SOL: A AFIRMAÇÃO DA MODA E DO GOSTO FRANCÊS NO CENÁRIO EUROPEU 1 – A corte do Rei Sol No Século XVII passaremos a ter a França, e não mais a Espanha, como no período anterior, influenciando a moda nos demais países da Europa. A figura máxima é a do rei, segundo os príncipios absolutistas. A moda tende a seguir o poder, e durante os últimos dois séculos ou menos a Espanha tinha desfrutado de sua Idade de Ouro, acumulando um vasto império global que alimentou uma economia doméstica em expansão. Assim como os exploradores e os exércitos da Espanha, a moda espanhola conquistava o mundo, e estilo espanhol foi aprovada nos tribunais em toda a Europa. Os aristocratas franceses importaram suas modas da Espanha, compraram tapeçarias em Bruxelas, rendas e espelhos em Veneza, e seda em Milão. Eles não tinham muita escolha pois a França simplesmente não estava produzindo bens de luxo de qualidade comparável, e ela não tinha a influência política, econômica ou cultural para ditar a moda para outros países. Isso até o reluzente Rei Sol, Luís XIV entrar em cena com suas perucas e salto alto. Luís XIV resolveu mudar isso, e, ao longo do seu longo reinado, conseguiu de forma brilhante. Luxo era o novo ideal do rei: Os móveis, tecidos, roupas e indústria de jóias que ele estabeleceu não só assegurava o emprego de seus súditos, mas fez da França a líder mundial em gosto e tecnologia, dando origem a um valioso mercado interno de luxo e de exportação extremamente lucrativa. Luís XIV, rei da França, também chamado de "Rei Sol" pode ser considerado como o inventor do luxo, pois nos deixou um legado de símbolos de status e sofisticação, durante seu reinado,tais como: • Os diamantes; • O champagne; • Sapatos de salto-alto; • A gastronomia; • Os precessores de butiques,grifes e salões de cabelereiros, assim como dos primeiros criadores de alta-costura; • Os perfumes. Para Luís XIV ostentar o luxo era uma forma de poder. A França soube utilizar muito bem esse poder de sedução para influenciar outros países. As criações da corte francesa eram desejadas e disseminadas por toda a Europa. A figura de seu primeiro-ministro Jean-Baptiste Colbert foi responsável pela criação de um dos primeiros jornais de moda, o Mercure Galant, que trazia informações das roupas francesas e ainda instituiu o conceito de rotatividade de coleções por estação, que é mantido até hoje. O reinado de Luís XIV transformou cerca de um terço dos habitantes de Paris em assalariados no comércio de vestuário e têxteis, e Jean-Baptiste Colbert organizou esses trabalhadores em guildas profissionais altamente especializadas e estritamente regulamentadas, garantindo o controle da qualidade ajudando-os a competir contra as importações estrangeiras enquanto efetivamente impedindo-os de competir uns com os outros. Nada que pudesse ser fabricado na França foi autorizado a importação. Foi um plano de estímulo econômico imbatível. É daí que surgiu o famoso estilo de móveis Luís XIV. Como Luís XIV travou uma série interminável de guerras dispendiosas por toda a Europa, a indústria de bens de luxo francesa reabastecia seu caixa de guerra e melhorava a reputação do rei em casa e no exterior. O rei transformou Versalhes em uma vitrine para o melhor da cultura e da indústria francesa, e não apenas moda, mas a arte, música, teatro, jardinagem, paisagem e culinária. O rei foi acusado de tentar controlar seus nobres, forçando-os a falência para seguir a moda francesa, mas, na verdade, muitas vezes ele financiou estas despesas, acreditando que o luxo era necessário não só para a saúde econômica do país, mas para o prestígio e a própria sobrevivência da monarquia. A França logo se tornou o poder político e econômico dominante na Europa, e a moda francesa começou a eclipsar a moda espanhola da Itália para a Holanda. Luís XIV acreditava que o luxo era necessário não só para a saúde econômica da França, mas para o prestígio e a própria sobrevivência da monarquia. O próprio rei era o árbitro final do estilo. Como um ator num teatro, Luís XIV se auto proclamou Rei Sol em suas performances teatrais como Apollo e seu amor pelo dramático e esplendor infundido em seu guarda-roupa também fora do palco. A moda que ele introduziu era colorida, volumosa e ornamental, a completa antítese do estilo espanhol. Seu alto retrato idealizado aparecia nas gravuras de moda e suas escolhas de sapatos, tecidos e roupas também. Uma das inovações mais eficazes e de longo alcance de Jean-Baptiste Colbert era de que novos têxteis fossem lançados sazonalmente, duas vezes por ano, incentivando as pessoas a comprar mais deles, em uma programação previsível. Gravuras de moda foram muitas vezes rotuladas para o inverno ou para o verão, com adereços como chapéus de sol, lenços, e tecidos coloridos para o verão; para o inverno, havia peles, capas, e abafadores para homens e mulheres igualmente. Sedas leves foram reservados para o verão; veludo e cetim para o inverno. Devido ao clima francês mutável, sempre houve um certo ritmo sazonal para o comércio de produtos têxteis, mas agora tornou-se formalizado e inescapável. Independentemente do tempo. Outros países tomaram nota dos bons resultados econômicos e começaram a impor horários sazonais semelhantes para seus próprios tecelões. Não só foi a indústria da moda enriquecida pela constante atualização de guarda-roupas, mas os franceses tendiam a se cansar se uma tendência durasse muito tempo. O padrão exuberante de vida e o programa intrincado de etiqueta que o Rei Sol introduziu continuou a definir a monarquia francesa até a Revolução Francesa de 1789. O nome de Luís XIV continua a ser sinônimo com o antigo regime que a Revolução desmantelou: O absolutismo político, luxo incomparável, glória militar, e esquemas artísticos e arquitetônicos grandiosos. Mas, enquanto muitas de suas inovações e reformas não sobreviveram à selvageria da Revolução, a moda e a indústria têxtil fundada pelo rei ainda está forte, trazendo fama e fortuna para a França. Na altamente regulamentada e especializada indústria da alta costura, flores artificiais, bordados, brocados, botões e plissados continuam a ser feitos à mão usando as habilidades tradicionais e técnicas transmitidas a partir do século XVII. Mais importante ainda, o legado de Luís XIV é evidente na atitude moderna da França em direção a moda; não é uma indústria frívola ou trivial, mas uma indústria totalmente séria, inseparável da saúde econômica do país e da identidade nacional, em que o Rei Sol Luís XIV a transformou na terra do luxo e glamour. A Vestimenta masculina estava assim definida: • O Rhinegrave, uma espécie de calção-saia; • Colete justo; • Perucas compridas; • Sapatos com salto pequeno; • Os justaucorps. A Vestimenta feminina era composta basicamente por: • Vestido com corpete em "V" e saia ampla; • O manteau; • Penteado fontange; • Sapatos altos. Tanto na vestimenta feminina como masculina deste período veremos uma utilização excessiva de laços, fitas, amarrações, rendas e babados. 1.1 - Os Corsets Os Corsets se popularizaram muito durante os séculos XVI e XVII. Eram peças utilizadas para definir a silhueta e valorizar a cintura feminina. Os materiais eram diversos. Podiam ser de ferro, madeira, couro, mas principalmente de ossos de baleia ou barbatanas. Estes de material mais rígido como o ferro e madeira eram mais incômodos e desconfortáveis. No final do século XVII os corsets tornaram-se mais elaborados, com saias volumosas, auxiliados pelo uso dos paniers, crinolinas e petticoats, deixando a a cintura cada vez mais delineada. Além de delinear a cintura os corsets também eram usados com a intenção de "levantar os seios para seduzir", um visual indispensável a qualquer mulher da época, porém vale salientar que foram usados tanto por mulheres quanto por homens e inclusive crianças, de famílias ricas da Europa 1.2 - Rufos O rufo é um elemento do vestuário que se popularizou entre a segunda metade do século XVI e a primeira metade do século XVII. São peças que hoje causam certa estranheza, mas que para a época, estavam associados á estética da rigidez. A idéia do rufo era a de ser uma grande gola que tornasse o visual empertigado e austero, impedindo de certa forma que se tivesse uma postura mais relaxada. Hábitos simples, como comer de talheres, pentear-se ou maquiar-se, por exemplo tornavam-se tarefas extremamente complicada, em função do tamanho de alguns rufos. Entre suas principais características estão: • Os primeiros eram confeccionados de tecido engomado e plissado (mesmo da chemise); • Alguns modelos femininos surgiram como adaptação da gola dos vestidos, em tecidos rendados e leves; • Os mais luxuosos vieram em tecidos mais nobres e leves, com aplicações, rendas e bordados. Durante a segunda metade do século XVII os rufos passaram a ser substituídos por uma espécie de gola flexível, ampla e caída muitas vezes sobre o colo e/ou ombros. 2 – O Barroco e o Rococó As novas concepções de pensamento, advindas do Iluminismo, e as correntes artísticas do Barroco e Rococó, marcam fundamentalmente o Século XVIII. O retrato do momento é o de uma aristocracia ociosa, que levava uma vida extremamente luxuosa. O Barroco apresenta uma continuidade com a época renascentista, o século XVII é vulgarmente caracterizado como o período da revolução cientifica e da inovação, mas também por uma constante busca pela verdade escondida, pelo conhecimento dos segredos da natureza, surgem-nos então nomes como: Descartes, Galileu, Newton, grandes senhores no campo do intelecto que nos proporcionaram uma visão da realidade, da natureza, como a compreendemos hoje em dia. No campo das artes, oBarroco partiu da Itália expandindo-se mais tarde por todo o mundo ocidental e pela Europa, os nomes que mais contribuíram para a difusão deste estilo, concentrado nos efeitos de luz e sombra, buscando acima de tudo retratar a emoção humana, foram: Velázquez, Rubens, Rembrandt, Caravaggio entre outros. O estilo artístico, iniciou na Itália no final do século XVI até meados do século XVIII, e seguiu em países católicos com estilo absolutismo e contra refoma. Observa-se pela riqueza de detalhes e informações na arquitetura, arte e vestimenta, pela exuberância e esplendor. Com contrastes fortes e muita dramaticidade e com uma tendência ao decorativo, valorizam as cores, as sombras e a luz. As imagens, não são centralizadas e parecem de forma dinâmica, valorizando o movimento. A arte barroca estendeu-se por todo o século XVII e pelas primeiras décadas do XVIII. A sua difusão abrangeu quase toda a Europa e a América Latina. Estes são, porém, seus limites máximos. O aparecimento das formas barrocas dá-se em épocas diferentes em cada país. Outro tanto se pode dizer do seu declínio. Tais formas, no entanto, embora nascendo claramente de um fundo comum, diferem muitíssimo de nação para nação. E não só: vulgaríssimas em alguns países, em outros são muito raras. As razões destas diferenças, não são só geográficas, como também históricas. O barroco nasceu e desenvolveu-se, nos princípios do século XVII, na Roma dos papas. Mais do que um estilo definido, era uma tendência comum a todos as artes: um gosto, resumindo. Em seguida, espalhou-se a partir de Roma pelo resto da Europa e pelos países sob sua influência. É compreensível que suas formas características vão surgindo nas várias nações com um atraso tanto maior quanto se distanciavam da Itália. A isto, se junta um segundo fator, onde quer que o clima cultural, religioso e político fosse semelhante ao italiano, o barroco era bem acolhido e espalhava-se rapidamente, ao passo que era recusado nos locais em que as condições históricas eram diferentes. A arte barroca conseguiu se casar à técnica avançada e o grande porte da Renascença com a emoção, a intensidade e a dramaticidades do Maneirismo, fazendo do estilo barroco o mais suntuoso e ornamentado na história da arte. Embora o termo Barroco seja às vezes usado no sentido negativo de super elaboração e ostentação, o século XVII não só produziu gênios excepcionais, como Rembrandt e Velásquez, mas também expandiu o papel da arte para a vida cotidiana. Artistas chamados de barrocos acorreram à Roma, vindos de toda a Europa, para estudar as obras primas da antiguidade clássica e da Alta Renascença. Voltando à terra de origem, acrescentaram às suas obras as particularidades culturais de cada região. Enquanto os estilos abrangiam desde o realismo italiano ao exagero francês, o elemento comum era a sensibilidade e o absoluto domínio da luz para obter o máximo impacto emocional. As obras barrocas romperam o equilíbrio entre o sentimento e a razão ou entre a arte e a ciência, que os artistas renascentistas procuraram realizar de forma muito consciente; na arte barroca predominam as emoções e não o racionalismo da arte renascentista. É uma época de conflitos espirituais e religiosos. O estilo barroco traduz a tentativa angustiante de conciliar forças antagônicas: Bem e Mal, Deus e Diabo, Céu e Terra, Pureza e Pecado, Alegria e Tristeza, Paganismo e Cristianismo, Espírito e Matéria. Suas características gerais são: • Emocional sobre o racional; seu propósito é impressionar os sentidos do observador, baseando-se no princípio segundo o qual a fé deveria ser atingida através dos sentidos e da emoção e não apenas pelo raciocínio; • Busca de efeitos decorativos e visuais, através de curvas, contracurvas, colunas retorcidas; • Entrelaçamento entre a arquitetura e escultura; • Violentos contrastes de luz e sombra; • Pintura com efeitos ilusionistas, dando-nos às vezes a impressão de ver o céu, tal a aparência de profundidade conseguida. 2.1 - Indumentária No período Barroco, houveram duas grandes influências para o vestuário tanto feminina quanto masculina. No vestuário feminino, a rainha Elizabeth, foi uma grande influência, já no vestuário masculino, quem foi uma grande influência foi o rei Luís XIV. A imagem da rainha Maria Antonieta, da França, é extremamente associada a esse período também, devido à sua contribuição para mudanças no comportamento e no estilo da época, com suas extravagâncias. Pode ser considerada a maior mecenas cultural da época. E é em função dela que surge a primeira figura de um costureiro ou criador. Rose Bertin era responsável pela criação de seus vestidos e adereços. Há também aqui a imagem muito forte do que viria a ser o precessor de um cabelereiro. O vestuário do período Barroco se distingue pelas formas largas, ornamentações elaboradas, peças de brocado de seda, rendas e a utilização de cores mais escuras. O estilo de vestuário Barroco foi, basicamente, a estética entre o Renascimento e o Rococó. O Barroco é considerado a evolução natural da moda Renascentista. Ainda há a presença do rufo, que aos poucos vai perdendo volume, virando apenas uma gola rendada. As mulheres passam a usar muitas roupas volumosas e pesadas e os homens passam a valorizar mais o corpo e ser ainda mais enfeitados. 2.1.2 - Vestuário Feminino O vestuário feminino deixou de ter aquela simplicidade do Renascimento, optando por tecidos nobres e vestidos com muito volume. De um modo geral se copiava o que era lançado na Corte de Versalhes: • Vestidos amplos, volumosos e pregueados, alguns em forma de saco, com tecidos nobres e bordados; • O rufo (gola usada pela rainha Elizabeth para demostrar poder) ainda era presente no vestuário, mas muitas vezes com tecidos rendados; • Corpetes mais folgados, a cintura desceu, marcada pelos corpetes em silhueta V; • As mangas eram bufantes e cheias, porém mais curtas, mostrando o punho da mulher; • As anáguas agora faziam parte do vestuário, com o intuito de aumentar ainda mais o volume, panniers e as farthingales na armação das saias; • Penteados exuberantes e altíssimos, com enchimentos e elementos decorativos; • Maquiagem empoada e mosquettes; • Chápeus enormes e com muitas plumas de animais nobres. 2.1.3 - Vestuário Masculino O rei da França, Luís XIV, foi considerado criador da primeira escola de moda do mundo. Quando o rei estava ficando careca, adotou as perucas. Por ser baixinho adotou aos sapatos de salto mais altos que os femininos. Quando Luís subiu ao trono em 1643, a capital da moda do mundo não era Paris, mas Madrid. O visual masculino tinha a seguinte estrutura: • Casaco largo decorado com bordados e fitas (justaucorps) ajustado na cintura; • A parte da frente do casaco era aberta e permitia ver um colete bordado que se alongava até ao joelho; • A camisa tinha punhos de renda e um colarinho; • Calções extremamente justos, as calças iam até o joelho e eram usadas em combinação com meias de seda, frequentemente brancas; • Lenços originados das golas da chemise, muito volumosos, no pescoço; • Maquiagem empoada com mosquetes. A REVOLUÇÃO FRANCESA, O PERÍODO NAPOLEÔNICO E AS TRANSFORMAÇÕES NO VESTUÁRIO DA ÉPOCA. 1 - A Revolução Francesa e a Moda (de 1789 a 1794) Pode afirmar-se que todo o processo que antecedeu a Revolução Francesa já continha em si questões relacionadas com a indumentária, pois nos Estados Gerais foi estabelecido que a indumentária dizia respeito a qual classe, ou poder aquisitivo cada pessoa pertencia, o que não era do agrado dos que se viam descriminados. Tal humilhação não seria esquecida e levaria, no período subsequente à Revolução, à abolição dos trajes oficiais pelos conhecidos sans-cullottes, o que trouxe consequências a vários níveis para a Moda. A substituição dos calções característicos da indumentária aristocrata desde os temposde Louis XII, conhecidas como culotes, pelas calças de alçapão que eram usadas sobretudo pelos marinheiros, não ocorreu de imediato, ao contrário do que geralmente se supõe. Além das já referidas calças, os homens compunham o seu vestuário com uma carmanhola, uma variante da véstia, que descia um pouco abaixo da cintura e que era usada sem casaca, a qual estava associada ao operariado, o que não impediu que alguns dos mais importantes revolucionários a usassem. O “Traje à Francesa” destinado à Corte, havia desaparecido, ficando comum os fraques, fraques-redingotes e redingotes. Com o passar do tempo, após os primeiros momentos da Revolução Francesa, perdeu- se a necessidade de marcar uma posição contra o Antigo Regime através do traje, e foi exatamente entre os revolucionários que alguns homens começaram a se destacar pelo cuidado com a aparência, aparecendo os primeiros elegantes pós-Revolução. Assim, os que eram designados por “Peraltas” começavam a usar vestes de arranjo particularmente elaborados, contrariando o desleixo dos sans-cullottes. No traje feminino as mudanças foram também significativas, embora não se possa falar de imediato de novas modas. Com a extinção da Corte desapareceram todos os trajes destinados às grandes cerimónias monárquicas, como o Robe à la française para as mulheres, um vestido com uma armação pesada, extremamente espartilhado e decorado. Outro exemplo são os vestidos elaborados conhecidos como Polonaises. Assim, dos vestidos usados no tempo de Louis XVI, subsistiu por algum tempo o mais simples: o vestido à inglesa, cuja saia já não apresentava extensões laterais, mas antes uma pequena almofada guarnecida de crina de cavalo que realçava o quadril, tal modelo só desapareceu no final do século XIX. Foi neste período que se generalizou o uso dos lenços postos como xale. Houve várias tentativas de se fazer uma reforma total do traje, até para estabelecer uma diferença, uma superioridade moral que se evidenciava de forma estética, entre a França, país liberto, e os outros países que segundo os revolucionários continuavam a viver em regimes arcaicos. Não era só a moda que mudava neste período, o próprio sistema de produção de indumentária se modificava, sendo extintos todo o esquema de aprendizagem bem como as corporações ligadas ao comércio. No período anterior ao Diretório observa-se a existência de tentativas de regeneração das desigualdades vestimentares, afinal a Revolução provocou alterações exuberantes na indumentária. No período subsequente houve uma simplificação do traje, o que trouxe a visibilidade das diferenciações sociais através do vestuário, podendo afirmar que, a partir de uma certa altura, a antiga organização sociológica da roupa começa a ser substituída por um novo sistema. 2 - A Moda no período do Diretório (de 1795 a 1799) O Diretório começou em 26 de outubro de 1795 e acabou em 9 de novembro de 1799. Na moda a aparência muda para pior, já que se perdeu toda a elegância que antecede esse período. Durante esse período ocorreu o mais frio Inverno do século XIX, período este que a moda foi influenciada pela popularidade que a Antiguidade Clássica tinha no meio artístico e que vinha já desde o tempo de Louis XVI, tendo dado origem ao neoclassicismo, lançando assim a moda dos vestidos-túnica, sem mangas, executados em tecidos ligeiros, como a musselina ou a gaze, usados com as pernas nuas e com sandálias abertas. Como abafo, em tempos de Diretório, apenas era aceite um xale de caxemira cujos primeiros exemplares haviam sido trazidos para França pelos participantes na expedição ao Egito. Não é de estranhar assim, que os rigores do inverno parisiense foram desastrosos para muitas mulheres que seguiam a moda. O traje neoclássico, com a cintura alta, tinha a virtude de excluir o uso do espartilho, o que, se por um lado libertava o corpo de um terrível incômodo, por outro, fazia com que o vestuário deixasse de ter uma função relacionada com a proteção da nudez, ou seja, deixava de servir em termos de resposta ao pudor, o que foi visto à época como profundamente indecente. Mesmo em tempos bem posteriores alguns historiadores do traje fizeram críticas sobre a imoralidade dos trajes femininos da época do Diretório. Nos penteados para ambos os sexos a referência passou a ser, uma vez mais, a Antiguidade Clássica, o que levava os cabeleireiros a decorar os seus salões com bustos gregos e romanos, que os inspiravam para as suas criações, ou neste caso réplicas, havendo penteados à “Titus” ou à “Brutus”. 3 - O Consulado O período do Diretório sucedeu o Consulado, tendo como cônsules Napoleão, Sieyès e Roger Ducos. Neste período foi tomada uma das medidas que viria a ter uma importante projeção no futuro e que marca o fim da moda do Diretório. Trata-se da proibição da importação para a França da musseline inglesa. O próprio Napoleão tomou literalmente este assunto nas suas mãos. No lugar do xale, como abafo feminino, surgia uma pequena jaqueta muito curta, de mangas compridas, uma espécie de bolero, chamada de spencer. Terá sido criado por Lord Spencer que, sendo particularmente crítico da moda do seu tempo, tomou a decisão de cortar as abas da sua casaca, fato que é possível datar da última década do século XVIII. O exemplo foi seguido e se tornou moda na indumentária masculina, passando depois à roupa feminina. Três mulheres dominavam a sociedade: Madame Bonaparte, Madame de Stäel e Madame Récamier, sendo que esta última era a mais destacada. Casada com um banqueiro, a sua beleza tornava-a notada, mas também a sua elegância era memorável, sendo o salão de Juliette Récamier o mais famoso de Paris na época do Consulado. 4 - A moda imperial (1804-1820) Napoleão foi nomeado imperador em 2 de dezembro de 1804, abdicou em 4 de abril de 1814 e regressou ao poder entre 20 de março de 1815 e 22 de junho do mesmo ano. A moda imperial continuou em voga até cerca de 1820. Um dos desejos de Napoleão era exatamente fazer reviver os hábitos da corte francesa do tempo do Antigo Regime. Tal fato não seria meramente fútil, mas implicava em uma estratégia política. Graças à Revolução um importante grupo de pessoas estavam inseridas no mais alto nível social, cujos mecanismos e modo de funcionamento tendencialmente se desconhecia. Assim, consciente de tal fato, Napoleão recorreu a personalidades que tinham estado implicadas na monarquia para a compreensão das regras e etiquetas da corte. A sua irmã, a grande-duquesa Elisa, obrigada a viver em Corte, solicitou o apoio de Madame de Genlis, antiga preceptora dos filhos do duque d’Orleans, quem redigiu uma série de cartas de etiqueta apropriada, onde a Corte de Louis XV deveria servir de modelo. Essas cartas haviam indicações bem claras relativas a toda a existência, desde a postura do corpo, a utilização da voz, bem como aos tipos de traje apropriados a cada ocasião, numa obra de carácter pedagógico bem marcado. Esta obra se mostrou, no entanto antiquada para a época. Se a expedição ao Egito tinha colocado em voga os coloridos xales de caxemira, começava também a sentir-se todo um gosto pelas coisas exóticas do Oriente, fonte de inspiração para pintores como Ingres, mas também das mulheres mais atentas às questões da moda, em cujo guarda-roupa começava a surgir roupa colorida, deixando prenunciar uma nova época e uma nova estética: o Romantismo. Em relação ao consumo dos xales, seu sucesso era tão importante que, mesmo com o bloqueio continental, se desenvolveu um significativo contrabando, ao mesmo tempo que algumas manufaturas têxteis começaram a produzir imitações destinadas a suprir a falta das importações. A mais importante novidade ao nível da indumentária, no tempo do Império, foi o regresso do traje de corte, nomeadamente a Grand parure. Napoleão foi o primeiro responsável pela formalização da indumentária, pelo que não é de estranhar que, logo no ano da subida ao trono imperial,tenha sido tornado obrigatório o uso do manteau de cour. Efetivamente, o desejo do Imperador de fazer reviver as festas de corte do Antigo Regime obrigava à utilização de trajes específicos. No caso masculino, embora tenham sido criados conjuntos especificamente para o efeito, nomeadamente os que Napoleão viria a usar, da autoria de Percier e Fontaine, no geral a indumentária inspirava-se nos uniformes militares da época. Já no caso feminino, em termos formais, o traje de corte derivava dos vestidos usados na época do Diretório. O traje de grande gala era composto por um vestido ricamente bordado a ouro e prata, com cauda que arrancava da cintura, acompanhado de um pesado manto de corte, também bordado a ouro, preso por uma joia. No Império não houve uma grande evolução do vestuário, sendo a alteração mais importante, a tendência de a cintura dos vestidos baixar. A grande diferença estava efetivamente nos materiais utilizados na confecção da indumentária. Um nome que pode ser associado a moda imperial é o de Louis-Hippolyte Leroy, o seu sucesso derivava da sua capacidade de criar vestidos baseados na Antiguidade, nomeados de túnicas “à grega”. Foi o criador de grande parte da indumentária que a imperatriz Josefina usava e sem dúvida um dos responsáveis pelo êxito das festas imperiais. A sua carreira teve duração por cerca de trinta anos. Quanto ao vestuário masculino, sob influência da Inglaterra, fica vigente o uso das casacas à francesa. Tal traje trouxe uma nova forma de elegância, divulgado por George Brian Brummell, o primeiro a defender o estilo dos dândis. Após o casamento de Napoleão com a Arquiduquesa de Áustria, Marie-Louise, a corte começou a perder o brilho, não por influência desta imperatriz, mas antes devido às dificuldades de todos os níveis que a França começava a sentir, nomeadamente de carácter econômico, passando a ser limitadas as encomendas de indumentária de luxo. 5 – Dandismo Foi no século XIX, que o vestuário passou a significar dissidência. A figura crucial nesta transformação foi o dândi. O dandismo estabeleceu padrões mais rígidos de masculinidade ao introduzir um traje novo, moderno e urbano. Também, apontava para o vestuário como forma de revolta. O vestuário masculino do século XIX era uma adaptação do traje de campo e esportivo do séc. XVIII. Foi o dândi que o transformou em estilo dominante, impondo uma estética que se opunha ao exagero de rendas, brocados e pó-de-arroz dos aristocratas pré-Revolução Francesa. Para Beau Brummel, seu criador, o novo estilo significava nada de perfumes. O papel do dândi implicava numa preocupação com o eu e a apresentação pessoal, em que a imagem era tudo. Muitas vezes não tinha profissão, nome de família (SNOB: sem nobreza) e, aparentemente nenhum meio de sustento econômico, mas acabou por criar o arquétipo do novo homem urbano. A sua dedicação a um ideal de vestuário que santificava a sutileza, inaugurou uma época que punha o tecido, o corte e a queda do traje à frente do adorno, opunha o clássico retilíneo à cor e ostentação do rebuscado traje barroco e rococó. Tipo narcisista, não abandonou a busca da beleza, apenas modificou o tipo apreciado, criando um novo erotismo masculino, com calças muito apertadas e o rosto sem pintura. O novo estilo tornou-se possível pelo uso da lã e do algodão em vez das sedas finas e cetins da velha aristocracia. Os alfaiates ingleses foram os primeiros a aperfeiçoar as novas técnicas de costura para tais tecidos. Vem dai a tradição de alfaiataria como corte inglês para traje masculino. Executar uma toalete dândi exigia horas de dedicação diária, não mais para pintar e emperucar, mas para limpar, escovar, lavar e fazer a barba, para engraxar as botas até a perfeição e para dar um nó exímio na gravata, que portava sempre um aspecto de indiferença. Inventaram o estilo Cool. Seu traje era simultaneamente uma revolta e um chic clássico. Era um homem do passado e do futuro. Símbolo ambulante de erotismo, o dandismo foi adulterado e vulgarizou-se, no final do século XIX, ao ser diretamente associado à homossexualidade. Lorde Byron, seu maior divulgador, é considerado o responsável pela substituição das ceroulas pelas calças e fala-se que foi o primeiro a usar calças de jeans, que eram muito largas, brancas durante o dia e escuras para noite. O traje era complementado por um casaco preto de lã, um colete com abotoamento alto e uma gravata muito estreita de tafetá. Byron é tido como a primeira estrela pop da cultura inglesa. No século XIX, Baudelaire, fascinado pelo dandismo, vestia-se de preto para protestar contra a vulgaridade do vestuário nos círculos boêmios franceses, encarava o dandismo como uma procura da perfeição, uma forma de espiritualidade e, também como uma reação social a aquela época transitória, quando a democracia ainda não estava toda poderosa, apesar da aristocracia estar parcialmente destronada e desvalorizada. Assim como Balzac, Baudelaire considerava o dândi um rebelde desencantado que tentava criar uma nova aristocracia do gênio, ou pelo menos do talento, soberbo, sem calor e cheio de melancolia. Wilson (1989) fala do dandismo como um movimento que para além da moda, se expressava como movimento de contracultura, tão contraditório quanto a sociedade que lhe deu origem, porque este período transitório do capitalismo é permanente, condenado a constantes mudanças, vomita repetidamente rebeldes ambíguos, cuja rebeldia nunca é uma revolução, pelo contrário apenas uma afirmação do eu e acima de tudo anti-burguês. O estilo que o dândi inventou introduziu através do vestuário convencional masculino, a antimoda e também o estilo de oposição. A antimoda é a elegância que nunca chama atenção, a simplicidade que Chanel reinterpretou para as mulheres no século XX. É a tentativa de encontrar um estilo sem época, de eliminar por completo o elemento de mudança na moda. O dandismo também continha os germes do estilo de moda de oposição que tem por finalidade expressar a dissidência ou as ideias diferentes de um dado grupo, ou das opiniões hostis à maioria conformista. Ao introduzirem o cabelo cortado à escovinha no início do séc. XIX, sem pó-de-arroz para ambos os sexos e gravatas largas com nó desleixado, um ar de beleza desmazelado sugeria uma mente ilustrada acima do vestuário. O desmazelo tem sido usado para sugerir uma profissão de artista ou intelectual, e vigora até nossos dias, como vimos com os jeans, comprados muitas vezes já surrados e rasgados como foi o caso da geração de 68. O dândi, como herói romântico apareceu em muitos romances ingleses do século XIX. No período da Regência, e através do dandismo se iniciou o uso das roupas pretas no traje masculino, porque o preto era uma cor apropriada para um ser maligno que o herói moderno tinha de ser e, para esse século, em luto por si próprio. O romance mais famoso deste estilo foi Pelham de Edward Lytton, publicado em 1828. John Harvey (2001) em sua obra Homens de Preto, fala sobre o sentido de relacionar o uso do vestuário preto com o seu uso antigo, mais habitual, o luto, apesar de considerar estranha a relação entre o luto e a revolta. Apesar de o preto não ter sido sempre a cor do luto, a especial ênfase no ritual do luto durante o século XIX, expressava tanto a seriedade profunda da sensibilidade evangélica vitoriana, como a histeria generalizada dessa cultura. O exagero do luto de uma viúva demonstrava a riqueza do defunto patriarca. O luto profundo tinha a ver tanto com a reputação sexual como com as posses e propriedades de uma viúva, que em bom estado de amparo financeiro não precisaria de segundas núpcias. O luto foi um negócio lucrativo no século XIX. Todas os magazines tinham seu departamento apropriado, onde as roupas podiam ser ajustadas na medida do cliente com muita rapidez. O luto só deixou de ser exigido após o período de penúria da Primeira Guerra. Hoje em dia, quase que desapareceu, na medidaem que a cultura contemporânea fugiu da própria ideia da morte. Desde a Grécia antiga e, ainda confirmado pela cultura cristã, o preto fala da ausência de vida. Ligado à velhice, é elegante. Nos jovens, dá um aspecto assombroso e comovedor. É uma cor própria para o ambiente urbano. O preto dândi era a cor da sobriedade burguesa. Foi subvertida, pervertida, tornou-se perigosa depois de ter sido erotizada pelo fascismo como uma completa filosofia da dominação, da crueldade e da irracionalidade. Neste período os Estados Unidos também tinham sua boêmia ambientada em Greenwich Village, que era uma transplantação do submundo original dos homens de letras de Londres e Paris, um mundo de jovens jornalistas, escritores por encomenda, de artistas e desenhistas, cuja arte se dedicava ao efêmero, aos esboços e vinhetas da cena social corrente. Os boêmios viviam à volta da Lower Broadway, nos anos de 1850, 60 e 70; por volta de 1900, tinham chegado a Greenwich Village, que era um centro de ebulição social, política e de estilos de vida experimentais das duas primeiras décadas do século XX. Lá, a sofisticação era o padrão erguido contra tudo o que era burguês. Era a primeira cultura de juventude; nela as roupas que se vestiam tinham grande papel na participação do indivíduo de um grupo dentro de um grupo maior. Na Inglaterra, artistas e escritoras, com Virgínia Woolf, criavam o “vestuário estético” e, para fugir dos chifons eduardianos, recorriam ao mercado de roupas antigas e exóticas como moda de oposição que durou até fins dos anos 50 do século XX, como estilo alternativo de Chelsea, usado pelas estudantes de belas artes. Colecionavam saias grandes, com muitas cores, sandálias franciscanas e discos de Jazz. 6 - Napoleão e a Revolução Industrial A medida da obrigatoriedade da utilização do traje de corte tornou Napoleão um dos grandes responsáveis pelo desenvolvimento da indústria da seda de Lyon. Efetivamente, um aspecto que não é frequentemente tratado quando se estuda a moda no tempo do Império é a chegada da Revolução Industrial, que antes de qualquer outra área foi aplicada exatamente à produção têxtil e à confecção de roupa. Lyon era antes da Revolução Francesa um importante centro de produção de seda, onde subsistiam na cidade entre dois e três mil teares, mas as perseguições à nobreza, a sua saída do país ou a sua ruína levou a produção têxtil para muito perto de uma situação de falência. Ao subir ao trono, Napoleão logo compreendeu que precisava de finanças fortes e as suas primeiras medidas foram exatamente no sentido de acabar com o peso da importação de tecidos ingleses e desenvolver a produção têxtil na França. Tal foi feito por várias vias, quer direta, quer indiretamente. Indiretamente, o Imperador desenvolveu consumos de seda que a sua corte se viu obrigada a seguir. Diretamente através de legislação que favorecia aquela produção. Para aumentar a dignidade da corte, em 1811, foi tornado obrigatório o uso da seda, quer por homens, quer por mulheres em todas as cerimônias, havendo ainda a obrigatoriedade de todos quantos tivessem responsabilidades oficiais, tanto em território francês, quanto em territórios dependentes do Império, usarem tecidos de Lyon. Havia até referência a que a sua renovação deveria ser o mais frequente possível. Assim, as sedas de Lyon conheceram de novo um período extremamente próspero que não terminou com o fim do Império. Em termos de moda, os tecidos ganhavam características novas que os afastavam dos tecidos usados na decoração das casas. Foi nesta altura que Jacquard desenvolveu o tear mecânico. Joseph-Marie Jacquard, nascido em 1752, filho de um mestre-tecelão, desde os vinte anos fabricava sedas. Não contente com o manuseamento e desempenho dos teares manuais, desenvolveu um tear que não tinha aquelas limitações observadas por ele, e fosse muito mais eficaz. O seu tear mecânico foi exposto pela primeira vez, em 1801, em Lyon, e a compreensão por parte de Napoleão do verdadeiro alcance deste feito foi tanta que viria a receber, por decreto imperial, uma pensão anual. O sucesso do tear de Jacquard foi enorme: a partir de 1808 vários destes teares começaram a substituir os anteriormente usados na fabricação da seda. A invenção de Jacquard não se aplicava apenas à seda, de tal forma que em 1805 estavam já registadas em território francês 250 máquinas de fiar algodão. Paralelamente, algumas manufaturas, nomeadamente em Jouy, começaram a usar rolos de cobre para a impressão das cores, começando assim a mecanizar-se a estampagem dos tecidos a partir de 1802. No período imediatamente subsequente a ambas as revoluções deu-se o desaparecimento da moda associada aos regimes anteriormente vigentes, geralmente moda hierática e formal. A vigência do processo revolucionário, correspondeu a um período de simplificação e até mesmo de abandalhamento, nomeadamente com o abandono, por alguns dos interventores que detinham importantes responsabilidades na condução da Nação, do uso da gravata. Mas, enquanto decorria o período revolucionário, de entre os que conduziam este processo, houve alguns que começaram a destacar-se pela sua elegância, quer à direita, quer à esquerda. Posteriormente houve uma retomada da formalidade na indumentária, tanto na França, que aconteceu no período do Diretório, quanto em Portugal, que ocorre nos primeiros governos constitucionais. A moda deste período, em ambos os casos, espelha de alguma forma na tentativa de recuperação econômica dos países, que estavam perto da ruína devido ao período revolucionário, com tentativas de contenção de despesa por parte do Poder, mas nem sempre compreendidas ou aceites pelos que queriam seguir a moda. Por fim, ao terminar o ciclo, um período de um novo riquismo ostensivo e ostensório que correspondeu no caso francês ao Império, e no português ao chamado “Cavaquismo”. A época da Revolução Francesa e a queda do Império Napoleônico trouxe feitios importantes para todas as áreas do saber, desde a ciência política e militar, às artes decorativas e, no caso em apreço, no vestuário e na moda. Foi possível observar um importante desenvolvimento na moda, podendo considerar que o vestuário atual deriva de alguns desenvolvimentos do traje no período que segue à Revolução. Mais do que fazer um inventário de formas e tecidos é importante identificar uma evolução do consumo, e que este mesmo modelo, não por coincidência, mas por similitude de situações, seria inconscientemente seguido pela moda portuguesa nos tempos que se seguiram à Revolução de 1974. A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E A INDUSTRIALIZAÇÃO DA MODA A evolução histórica da indústria do vestuário, nasceu como elemento significativo da constituição da Revolução Industrial na Inglaterra. O aspecto mais discutido pelo pensamento culto do séc. XIX foi a condição do trabalho dentro da indústria. A indústria têxtil deu o arranque da Revolução e, não houve literatura e pensamento teórico que escondesse a forte exploração trabalhista das mulheres neste setor. Incomodava àqueles contemporâneos que, enquanto as mulheres da sociedade burguesa se vestiam com roupas luxuosas, as operárias das indústrias têxteis eram exploradas, recebendo baixos salários, trabalhando em condições de grande insalubridade e excesso de carga horária. Em poucos anos, a indústria inglesa do algodão dominava o mundo, tendo destruído as indústrias de algodão indígenas do subcontinente indiano, e devorado a matéria-prima na qual se baseava, o que implicou condições de vida e de trabalho duras pra mulheres e crianças daquela colônia. A partir do século XVIII o tecido de algodão passou a ser usado não somente para forros ou artigos domésticos, mas também para as roupas da alta sociedade. A partir daí as técnicas de estamparia do algodão foram mecanizadas, aumentando a venda ea procura do produto. A industrialização da lã também começou a se estabelecer definitivamente na Inglaterra, deixando de ser uma tecelagem de domínio familiar e artesanal, passando a ser usada inclusive pela alta sociedade, pois anteriormente era um tecido usado somente pelas classes mais baixas. Quanto à tecelagem da seda, que foi sempre considerada mais luxuosa do que a lã e o algodão foram entre os séculos XVII e XVIII que a Inglaterra passou a ser importante produtor de tecidos dessa fibra. Esta indústria incluía na sua mão de obra homens e mulheres dos mais diferentes níveis sociais, tais como os ricos mestres tecelões, as mulheres e crianças trabalhadoras mais exploradas. A seda sempre foi um tecido raro, difícil de ser produzido por exigir uma mão-de-obra muito qualificada. Na cadeia produtiva têxtil as fibras mais conhecidas encontram-se na natureza: a seda, a lã, os pelos e as crinas de origem animal; e os caules que permitem a extração de fibras de origem vegetal. As fibras químicas abrangem as fibras sintéticas, derivadas de produtos petroquímicos, e as artificiais derivadas da celulose. Enquanto as fibras naturais necessitavam de um trabalho intensivo ou de grandes espaços, e por vezes de ambos, a produção dos tecidos sintéticos não necessitava nem de um tipo especial de clima, nem de uma força de trabalho abundante. A manufatura das roupas, nas sociedades industriais do século XIX, desenvolveu-se de duas maneiras diferentes. Havia uma procura de costureiras por encomenda, de costuras delicadas e sob medida, que só podiam ser feitas à mão, e ao mesmo tempo, começava a produção em massa do vestuário industrializado padronizado, tanto nos modelos como nas medidas. O aparecimento das fabricas de roupas reforçou a divisão entre as empresas que usavam maquinário e recrutavam mão de obra semiqualificada, e os velhos artesãos. No comércio tradicional dos alfaiates, cada peça de roupa era feita separadamente por um só trabalhador; isto era conhecido como método da peça única. Os alfaiates haviam estado entre os primeiros artesãos independentes e tinham estabelecido as suas corporações nas cidades medievais. Eram organizações de patrões, que trabalhavam normalmente com as suas famílias, um ou dois trabalhadores experientes, contratados por dia, e alguns aprendizes. No século XVII, surgiu a loja de alfaiate. Os alfaiates eram comerciantes estabelecidos que tinham capital suficiente para alugarem uma loja numa zona chique das cidades, para terem estoque de tecidos caros e oferecer crédito ilimitado às pessoas da sociedade que formavam sua clientela. O comércio era sazonal e os trabalhadores das alfaiatarias eram contratados e despedidos conforme as necessidades. Na Inglaterra e nos Estados Unidos, dois grupos de trabalhadores vieram juntar-se às fileiras dos trabalhadores temporários e semiqualificados. No final do século XIX usaram trabalho dos emigrantes, especialmente judeus. No início do século XIX as mulheres passaram de simples operária a aprendizes de alfaiates em número cada vez maior. Os trabalhadores Judeus, em muitos casos, já eram reconhecidos como alfaiates qualificados. Foi durante o período entre 1898 e 1910, que a indústria do vestuário feito em massa arrancou de fato, tanto na Inglaterra como na América. A expansão das fabricas de confecção, no entanto não causou a falência das lojas de alfaiates ou o desaparecimento das costureiras a dias. Pelo contrário, este sistema aumentou o trabalho a domicílio. Na virada do século XIX para o XX, os grupos feministas lutavam para acabar com a exploração salarial do trabalho da mulher e da criança, e obtiveram sucesso. A Primeira Guerra mundial fortaleceu o movimento dos Trade Boards e melhorou as condições de trabalho. Em 1909 houve uma greve histórica na indústria das roupas onde 20 mil trabalhadores deixaram seus trabalhos. Apesar da maioria dos grevistas ser constituída por homens, foi a maior greve feminina da América. E esta greve levou a um acordo histórico que foi assinado pelos patrões, e a partir daí as roupas femininas começaram a ser criadas também visando às necessidades de uso para o trabalho da mulher, isto, é, começaram a se fazer roupas funcionais. Nos EUA havia um grande campo para roupas feitas em massa. As grandes distâncias geraram a possibilidade de se reproduzir e vender roupas em grande quantidade, tanto de modelos quanto de tamanhos e, para os diferentes centros. Entre os anos 20 e 30, houve mudanças importantes na indústria das roupas, a indústria de roupa conseguiu traduzir as medidas masculinas de pessoais para um padrão de roupa feita em fábrica. A moda da classe média também se desenvolveu em estilos próprios diferentes e com boa qualidade. Nos anos 40 a produção de roupa barata e atraente estava cada vez mais ligada ao desenvolvimento de métodos de fabricação modernos que envolviam rapidez, estilo, qualidade e preço. Durante a década de 50, com o fim do período de guerras mundiais, houve uma melhoria nas condições de vida e com isso, o crescimento de uma sociedade consumidora. Outro fator que contribuiu enormemente para o desenvolvimento da industrialização de roupas foi o surgimento do mercado voltado aos jovens estudantes. Na metade da década de 60, quase metade das roupas industrializadas era destinada à faixa etária de 15 a 19 anos de idade. Esta mudança nos hábitos de consumo da juventude foi um fenômeno de moda e ocorreu inicialmente na Inglaterra, o que fez com que o desenho de moda inglês para o mercado de massas começasse a liderar o resto do mundo. O crescimento do mercado de moda se deu tanto para atender exigências das faixas etárias como pela globalização, que estabeleceu um padrão de elegância a nível global. Tal crescimento exigiu grandes reformulações nas estruturas de trabalho e um grande aprimoramento no maquinário. A modernização de todos os processos industriais continuou introduzindo o planejamento computadorizado das provisões, o desenvolveu do corte a laser e o desenvolvimento, pelos japoneses, de máquinas que bordam até em tecidos muito delicados, e hoje, até a alfaiataria de fábrica por encomenda utiliza agora pontos feitos à máquina que imitam os aspectos do ponto feito à mão. Cabe ressaltar que, tanto o setor têxtil quanto o de confecções não são geradores da sua própria tecnologia, o que significa que os seus respectivos avanços tecnológicos são incorporados pela utilização de bens de capital. A BELLE ÉPOQUE, ART NOUVEAU E O SURGIMENTO DA ALTA COSTURA FRANCESA 1 – A Art Nouveau e a Belle Époque A La Belle Époque, ou Bela Época, representou o período de 1890 até 1914, tendo como marco de seu fim o estourar da Primeira Guerra Mundial. No campo artístico houve grande mudança de valores. Neste momento a referência passou a ser a natureza, com suas linhas curvas e formas orgânicas. O estilo foi batizado de Art Nouveau e representou grande singularidade no período. Como sempre se viu acontecer, a novidade teve seus reflexos na área da moda e a mulher vai incorporar todos os novos detalhes curvos. A cintura feminina se tornou mais fina e atingiu a menor circunferência já vista em toda a história. O ideal de beleza do período apontava para uma estreiteza de apenas 40cm e para atingir tal objetivo, algumas mulheres chegavam a remover suas costelas flutuantes para que conseguissem afinar ainda mais a cintura com o auxílio do espartilho. Deste modo, o que teve início ainda na Era Vitoriana se acentuou na Belle Époque, período que foi caracterizado pela cintura ampulheta das mulheres, ombros com volume, cintura muito fina e volume nos quadris. A indumentária feminina marcou uma demasiada cobertura corporal, quando apenas o rosto e as mãos se deixavam aparecer, quando ela não estivesse de luvas. As golas eram muito altas e cobriam o pescoço e os detalhes como laços, babados, fitas e rendas estavam em profusão. Com opassar do tempo e o aproximar do século XX, as anquinhas desapareceram. O que se viu foi uma saia em formato de sino, bastante apertada quase impedindo o caminhar das mulheres. Usavam chapéus com flores, sobre os coques fofos e a bota era indispensável. Ainda no final da Era Vitoriana o hábito de práticas esportivas, em especial da equitação, mas também o tênis, a peteca, o arco e flecha entraram em voga e se consagraram na Belle Époque. Este hábito ligado o esporte trouxe para o guarda roupa feminino a veste de duas peças, com ar masculino. A assimilação foi grande e em breve o Tailleur (casaco e saia do mesmo tecido) foi adotado para o dia-a-dia das cidades. O banho de mar também se tornou um hábito. A roupa para tal atividade ainda não tinha nenhuma relação com as de hoje, uma vez que eram de malha, em geral de fios de lã, cobriam o tronco e atingiam a altura dos joelhos. Ainda faziam parte da composição meias e sapatos e muitas vezes uma capa por cima de tudo com intuito de proteção. A moda infantil, pela primeira vez na história, começa a deixar de ser cópia da roupa dos adultos. Por influência dos banhos de mar, surge a moda marinheiro, que ao longo de todo o século XX vai ser relida. Worth continua sendo um nome de destaque na Alta Costura, mas entram novos no cenário, como Jacques Doucet e John Redfern. Para o homem, as linhas do período anterior permanecem, mantendo a proposta de praticidade e funcionalidade. O traje masculino era composto de sobrecasaca e cartola, mas o terno era facilmente visto. As calças masculinas eram retas e com vinco na frente, os cabelos eram curtos e o uso do bigode era bastante popular na época. Principais características da Belle e Époque: • Influência do Art Noveau, das formas curvilíneas; • Cinturas extremamente afuniladas (cerca de 40 cm de circunferência) – Ampulheta; • Saias sem anquinhas, porém volumosas, muito ajustadas e em formato de sino; • Chápeus com flores sobre coques; • Botas de cano curto; • Prática de esportes - Hipismo e Tênis; • Banhos de mar com malhas de lã, meias, sapatos e capa; • Alta-Costura em evidência com novos nomes: Jacques Doucet, John Redfern e Paul Poiret 2 - A Era Vitoriana (1837 - 1860) Após um período em que a imagem é suavizada e simplificada, temos novamente na história uma época de excessos e grandes volumes. É o período Vitoriano, que tem este nome em função da rainha Vitória, monarca da Inglaterra neste período. O início da segunda metade do século XIX foi marcado por Napoleão III (França) e pela rainha Vitória (Inglaterra). A burguesia estava com grande prestígio graças ao processo da Revolução Industrial que estava caminhando bem e permitindo o trabalho com negócios e comércio e a acumulação de capital dentro da sociedade de consumo vigente. O reinado da rainha Vitória é marcado pela instalação moral e puritanismo, a rainha era uma figura solene. Em 1840 casa-se com Albert, e este se torna o Príncipe Consorte. Esta época é tida como o apogeu das atitudes vitorianas, período pudico com um código moral estrito. Isto dura, aproximadamente, até 1890, quando o espirituoso estilo de vida festeiro e expansivo do príncipe de Gales, Edward, ecoava na sociedade da época. Em 1861 morre o príncipe Albert e a rainha mergulha em profunda tristeza, não tirando o luto até o fim de sua vida (1902). A morte do príncipe Albert marca o início da segunda fase da era vitoriana. As roupas e as mulheres começam a mudar, os decotes sobem e as cores escurecem. A moda vitoriana do luto extremo e elaborado vestiu de preto os britânicos e os americanos por bastante tempo e contribuiu para tornar esta cor mais aceita e digna para as mulheres. Mesmo as crianças usavam o preto por um ano após a morte de um parente próximo. Uma viúva mantinha o luto por dois anos, podendo optar como a rainha Vitória por usá-lo permanentemente. A Era Vitoriana, que durou aproximadamente de 1850 a 1890, foi uma época próspera e os reflexos na moda foram evidentes. O ideal de beleza do início da era vitoriana exigia às mulheres uma constituição pequena e esguia, olhos grandes e escuros, boca pequenina, ombros caídos e cabelos cacheados. A mulher deveria ser algo entre as crianças e os anjos: frágeis, tímidas, inocentes e sensíveis. A fraqueza e a inanidade eram consideradas qualidades desejáveis em uma mulher, era elegante ser pálida e desmaiar facilmente. Saúde de ferro e vigor eram características vulgares das classes baixas, reservadas às criadas e operárias. Os vestidos femininos eram dotados de profundos decotes que deixavam o colo em evidência. Ombros e braços também ficavam aparentes e os tecidos eram muito luxuosos como a seda, o tafetá, o brocado, a crepe, a mousseline, dentre outros. Por volta de 1870/1890, o volume passa a ser apenas uma espécie de almofadinha na parte traseira das saias: surge o Bustle. Eram feitos de crina de cavalo no início e em seguida de arcos de metal unidos por uma dobradiça que permitia que ela se abrisse ou se fechasse quando a mulher sentava. O volume se concentrou, então, só no traseiro feminino. Os espartilhos eram indispensáveis e os detalhes cresciam cada vez mais, com o uso das rendas em especial e também de laços e babados. Usavam leques, sapatos de salto alto, sombrinhas, caudas nos vestidos e pequenos chapéus para o dia. Já a moda masculina era prática, tendo como adereço o relógio de bolso com a corrente por cima do colete. O ideal feminino que passa a ser seguido é: • A crinolina, com muitas anáguas, gerando vestidos extremamente volumosos; • O espartilho, evoluído do corset, agora mais ajustado à cintura, chegando inclusive a deformá-la; • As mangas extremamente justas e compridas, enfatizando os ombros caídos; • Cabelos cacheados; • Xales e chapéu grandes decorados eram os acessórios preferidos; • Maquiagem pálida com boca e olhos extremamente marcados. À mulher vitoriana foi dada a condição de ser frágil, puro, tímida, inocente e sensível. Qualquer característica que fosse de encontro a essas características era considerado vulgar. Por isso as roupas eram criadas para evidenciar esse perfil. O ORIENTALISMO DE PAUL POIRET 1 – Anos 1910 Durante a década de 1910, exatamente entre 1914 e 1918, a Primeira Guerra Mundial transformou a Europa e o mundo. A ausência dos homens para o trabalho cotidiano, já que estavam lutando na guerra, levou a mulher a ocupar uma posição diferenciada: as mulheres passaram a aturar em espaços até então considerados masculinos. Laver (1989) afirma que a primeira guerra mundial "abafou a moda". Há, portanto, pouca coisa para se registrar neste período. Na Inglaterra, houve a tentativa de se criar um "vestido nacional padrão, uma roupa prática, com fivelas de metal no lugar de colchetes e destinada, para citar uma pessoa da época, a servir de "vestido para sair, vestido de casa, vestido para descanso, vestido para o chá, vestido de jantar, vestido de noite e camisola". Em 1919, quando a moda voltou ao seu normal "a saia ampla que atravessara a guerra foi substituída pela linha barril. O efeito era completamente tubular. 2 – Paul Poiret No início do século XX a Europa vivia uma intensa transformação de valores e consumo, ninguém mais do que Paul Poiret soube enxergar o que esta nova época desejava em matéria de vestimenta. Com apenas 24 anos, abriu sua própria Maison. Inspirado pelos Balés Russos e pela atmosfera Oriental, realizou roupas que mudaram a silhueta feminina e a História da Moda. Em 1906, um vestido marcou a nova silhueta, não mais apertada, espremida pelo espartilho. Poiret ficou conhecido por liberar as mulheres desse incômodo acessório. Para a mulher que precisava usar todos os dias o apertado espartilho, foi uma revolução. Agora ao invés de espartilhos, a mulher poderia usar ligas e soutiens. Foi o primeiro estilista a abraçar o estilo Art Deco e disseminá-lo com o seu conhecimento em corte e costura,e seu lado criativo, ele conseguiu passar o espírito da época em peças revolucionárias. Suas fontes de inspirações eram inúmeras, desde o estilo Western e folk, até a arte avant-garde e culturas antigas. Mas foi a simplicidade das roupas orientais que o levou a fazer as maiores mudanças na roupa moderna. Desejava revigorar a moda do seu tempo, ou seja, não havia nenhuma preocupação com a saúde, mas sim com a estética da silhueta feminina. Para o costureiro a beleza da mulher deveria ser vista de forma natural e como suporte bastaria usar o soutien e uma cinta. O soutien moderno e a calcinha (caçelons) confeccionada de seda e algodão menos volumosa são criações peças de suas criações. Em 1908 os móveis executivos foram modernizados e eram a última moda em Paris, com isso, Poiret criou uma coleção inspirada nos vestidos da linha Império. Estes vestidos de cintura alta, sem volumes, foram uma revolução, pois ao mesmo tempo que libertava as mulheres do espartilho, marcaram a passagem de uma roupa volumosa para a silhueta mais fina que seria usada na próxima década. Estes vestidos que misturavam bordados, motivos folks com florais estilizados e formas geométricas lançaram um novo estilo nas ilustrações de moda. Um ano depois o Ballet Russo invade Paris e deixa o público estasiado com o figurino de Léon Bakst. Com uma estética oriental, muitas cores e movimento, o figurino abre as portas para novas experimentações dos artistas da Art Deco. Paul Poiret não ficou de fora e criou o estilo "sultão", que vinha do vestido oriental, mas com outros acessórios moderníssimos: calças amplas presas aos tornozelos usadas debaixo dos vestidos, mantos e turbantes cortados em luxuosos e exóticos tecidos. Para promover estas novas peças, Poiret organizou festas oníricas com tema oriental para que as pessoas pudessem usar as roupas. Esta nova modelagem, usando técnicas de cortes orientais, levou Poiret a deixar de lado os vestidos pesados e volumosos da Art Nouveau, passando para a linearidade da Art Deco. Revolucionou com a criação da Minaret, que era uma túnica em forma de abajur, a saia funil, que exigia da mulher passos curtíssimos, o trotteur (tailler de corte masculino) e para fazer uso dele, foi necessário subir a barra da saia até o calcanhar, fato que escandalizou que provocou espanto nas pessoas conservadoras da época. As calças odalisca e culote são precursoras das pantalonas e de outros modelos de calças atuais. Observando que de início estes trajes não eram aceitos por todas as mulheres, mas sim por atrizes e mulheres mais ousadas. “Libertei os seios e aprisionei as pernas”. Paul Poiret Poiret desbancou a moda ostentativa predominante desde século XVI, disse certa vez para a revista Vogue (1913): “Vestir uma mulher não é cobri-la com ornamentos, mas sim sublinhar o significado de seu corpo e realçá-lo, envolver a natureza em um contorno capaz de acentuar sua graça”. Paul Poiret (QUEIROZ, 1998, p.14). Também trabalhou junto ao departamento de moda do Wiener Werkstatte, em Viena onde fabricavam tecidos coloridos que eram usados por estilistas e arquitetos. Este trabalho em conjunto era para criar ambientes de viver mais harmoniosos. Esta parceria irá durar até o final da carreira de Poiret. Em Paris, Poiret funda o Atilier Martine, onde empregava garotas jovens para criarem bordados naive. Estas peças eram vendidas como papel de parede, tecidos e cortinas. Ele também lançou a primeira loja de perfume e maquiagem relacionada a marca de roupas, uma galeria de arte, e uma oficina de impressão, onde contratou o pintou Raoul Dufy para desenhar as estampas. Tudo isso faz com que Poiret possa ser considerado o primeiro designer do século, estampando com a sua marca todos os seus projetos e conseguindo vender tudo, desde acessórios, perfumes, roupas a peças de decoração de interiores. Sua maison, que comercializava todos os seus produtos, tinha uma decoração extravagante, considerada vanguardista, assim como a maioria de suas criações, de suas festas e de sua vida da qual pôde conduzir até ser convocado para a Primeira Guerra Mundial, anunciando o fim de sua fantástica carreira. Paul Poiret era o centro das atenções, transformou-se em um dos mais famosos costureiros, até que a guerra explode em 1914, em que teve que se afastar para servir o exército. Foi uma de suas piores fases. Por constar em seus documentos a profissão de alfaiate, teve que arrumar os uniformes dos soldados, tarefa nada fácil para ele que não sabia costurar. Desenhou fardas mais práticas e com menos tecidos. Passou a ser chefe de produção, mas o temperamento genioso o colocava em constantes dificuldades. Após a guerra retornou ao seu atelier, mas percebeu com muita frustração que a moda seguia o espírito do momento, suas roupas já eram consideras ultrapassadas. Poiret organizou festas no intuito de resgatar seu prestígio, mas foi em vão. Com essa interrupção ele não volta a trabalhar com tanto prestígio como antes, suas peças são criticadas por serem muito teatrais, e suas clientes vão aos poucos sendo atraídas pela simplicidade de uma nova moda. Poiret caiu em ruína com a esposa e com os clientes, que o abandonaram. Na volta da guerra, as mulheres já não se reconheciam tanto nos seus trajes. Acreditando poder recuperar sua clientela com algumas de suas festas, ele organiza algumas delas com extravagantes convites e importantes presenças. Porém, as dívidas acabam só aumentando. Perto de sua morte em 1944, a silhueta reta e solta que permeia suas criações estava prestes a ser substituída pelo novo look acinturado de Dior. Ele vende sua grande coleção de quadros adquiridos diretamente de Matisse, Picasso e Van Dongen, escreve algumas obras e, depois de fechada sua maison, passa a pintar quadros que ganham uma retrospectiva organizada pelo amigo Jean Cocteau em 1944. No entanto, Poiret se vê impedido de assistir a seu último sucesso, morrendo alguns dias antes da abertura da exposição, à beira da miséria e abandonado pela mulher Denise. Nos anos 20, Poiret parece ter perdido seu toque inovador e chegou até a pensar em reintroduzir o sufocante espartilho em suas roupas. Reagindo contra a nova moda que dava à mulher um jeito de menino, em 1922 ele apresentou vestidos inspirados nas últimas décadas do século 19. Seus assistentes e suas clientes começaram a debandar para outras maisons e, endividado, ele teve de vender suas empresas. Em 1930 ele publicou ´En Habillant l´Époque´, sua biografia, que no ano seguinte foi lançada nos Estados Unidos com o título ´King of Fashion´. Mas sua vida, a essa altura, não tinha nada de realeza. Sem dinheiro, ele teve de desenhar uma pequena coleção para a Printemps, loja francesa de departamentos, e foi morar num hotel. Em 1934, amigos passaram a cuidar dele, que foi atingido pelo mal de Parkinson. Mesmo assim, começou a pintar e, também graças a amigos, chegou a mostrar seus quadros numa exposição. Muito debilitado e sem recursos, em 1943 ele foi morar na casa de sua irmã, onde morreu um ano depois. Na comemoração do seu centenário, foi contemplado com uma belíssima exposição no Metropolitan Museum, em NY, ́ Poiret: King of Fashion´ e com um lindo editorial na revista Vogue, onde Natalia Vodianova veste maravilhosos vestidos inspirados em seus looks. OS ANOS 1920 E OS PRINCIPAIS NOMES: CHANEL, VIONNET, LANVIN E SCHIAPARELLI 1 – Os anos 20 Os anos 20 foram de fato, revolucionários, anos de inovação, não sendo à toa chamados de "anos loucos". As mudanças foram tantas e tão significativas que a palavra "novo" está sempre presente nesta década. Depois da Primeira Guerra Mundial, o funcionalismo torna-se presente no cotidiano e dominou a moda. Era uma espécie de utilitarismo associado a simplificação. O comportamento da mulher, devido as mudanças acontecidas permanece.Ela continuou a trabalhar fora de casa, a ganhar seu dinheiro e a consumir. A diversidade fazia parte da vida das pessoas e uma atividade importante foi a dança, o que contribuiu muito para a moda. Ritmos novos como o jazz, foxtrote, e o Charleston necessitavam de roupas adaptadas. As bainhas das saias e dos vestidos subiram. Em 1925, a mulher mostrou de fato as pernas com o cumprimento logo abaixo dos joelhos. É a primeira vez que esse comportamento acontece desde a Pré-história. Com as pernas à mostra, as meias passaram a ser imprescindíveis, sendo de seda natural tornaram-se claras para dar a ideia de cor da pele. A silhueta tubular e curta passou a ser o marco da década sendo influenciada pelo estilo artístico do art déco. A mulher se apropria deste estilo, negando toda e qualquer referência curvilínea. A silhueta tubular das roupas, fossem justas ou amplas passaram a ter sua cintura deslocada para a altura dos quadris (chamada de cintura baixa ou baixo quadril). As mangas, quando compridas, criando dois outros tubos, achatadores de seios (para não evidenciar os seus volumes), ficando mais parecido com o corpo masculino. A androgenia foi marcante neste período, com isso houve um certo desaparecimento de diferenciação social por meio das roupas, uma vez que esse aspecto sempre fez parte da indumentária. Os preços das roupas diminuem em razão da quantidade de tecidos usados e até a alta- costura sente essa diminuição. As formas das roupas no meio da década ganham assimetria nos comprimentos distintos entre a frente e as costas, além de franjas. As roupas de baixo eram anáguas ou combinação, os já mencionados achatadores de seios, e no final da década aparecem os sutiãs. As roupas de banho também se modificam, encurtando-se, deixando boa parte da coxa à mostra. Confeccionadas em malha de lã, ganham ornamentação geométrica. Um aspecto importante passa a ser a maquiagem, afinal as mulheres se assemelhavam aos homens, com isso, o ato de se maquiarem ajudava nesta diferenciação. Muitas vezes era pesada, dando ênfase nos olhos escuros, assim como a boca, onde em seu centro acentuava o batom, chamadas de boquinha de coração. Os cabelos tornaram-se bem curtos, à altura do queixo, um reflexo da emancipação feminina, com o chamado corte à la garçonne, ou seja, à maneira dos meninos. O chapéu, acessório importantíssimo, tinha formato de sino, chamado de chapéu cloche. Os sapatos eram de presilhas nas laterais, cuja as alcinhas passavam por cima do peito dos pés, o salto da época era chamado de carretel. A moda masculina ganhou uma novidade, o uso do smocking para ocasiões mais formais, o tecido príncipe-de-gales, sapatos bicolores, e também as famosas calças esportivas de golfe chamadas knickerbockers, eram fofas e curtas, logo abaixo dos joelhos presas por uma espécie de cós e usadas com meias xadrezadas. Também os sweters e pullovers aparecem com frequência. Nos anos 20, o cinema aparece como forte influenciador de tendências e comportamento. Os costureiros importantes na década foram: Gabrielle Chanel, Madame Paquin, Jean Patou, Madeleine Vionnet, Jeanne Lanvin, Lucien Lelong, e Elsa Schiaparelli, que começam aparecer e se impor com suas modas. 2 - Art Déco Em 1925 na cidade de Paris acontece a Exposição de Artes Decorativas e Industriais onde oficializou o estilo Déco que se expandiu por todo o mundo ocidental. Teve forte influência na moda com os nomes: Paul Poiret e Sonia Delaunay. Esta exposição deu ênfase a individualidade e ao artesanato refinado. Muito embora os movimentos artísticos da época estivessem ligados à filosofia e a política, o Art Déco foi um estilo de caráter decorativo, visto na época como ultramoderno e de alto luxo, destinado a burguesia do pós-guerra. Era comum o uso de materiais caros como o marfim, a jade e a laca. A partir da exposição Art Déco no Metropolitan Museum de Nova York em 1934, o estilo passou a valorizar a produção industrial, com materiais e formas aptas de serem produzidas em massa. Dessa forma o estilo Art Déco foi popularizado e de fácil acesso a população por meio da publicidade, dos objetos de uso domésticos, das joias e bijuterias, da moda e do mobiliário. O Art Déco chegou ao Brasil ainda no final da década de 1920, ressaltando-se acima de tudo, na arquitetura com a intenção de torna-la mais limpa e funcional. É possível encontrar inúmeras construções neste estilo no Brasil como: o Cristo Redentor que é a maior estátua Art Déco do mundo; e a Torre do Relógio da Central do Brasil. Além desses é possível citar o Teatro Carlos Gomes no Rio de Janeiro, Estádio do Pacaembu em São Paulo, Biblioteca Mario de Andrade, também em São Paulo, Estação Ferroviária de Goiânia. Victor Brecheret, um dos principais escultores do Modernismo no Brasil, foi um artista que mais recebeu influências do estilo Art Déco, bem como o pintor Vicente do Rego Monteiro. 2.1 - Características principais: • Linhas circulares ou retas estilizadas; • Uso de formas geométricas; • Design abstrato; • Formas femininas e animais são as mais trabalhadas; • Influências do construtivismo, futurismo e cubismo; • Presença marcante na Arquitetura. 3 – Gabrielle Coco Chanel Gabrielle Coco Chanel, nascida em Saumur, França, em 19 de agosto de 1883. Chegou a Paris aos 16 anos. Mais tarde, em 1910, com a ajuda de amigos e do próprio Balsan, seu companheiro, conseguiu abrir sua primeira loja, onde vendia chapéus. Em 1925, Chanel iniciou uma estreita amizade com o duque de Westminster, que a situou no mais alto escalão da aristocracia parisiense. Amiga também do compositor Stravinski, o qual se apaixonou por ela, o coreógrafo Diaghilev, a bailarina Isadora Duncan, os artistas Jean Cocteau, Picasso, Salvador Dalí e outros igualmente célebres, Chanel esteve sempre ligada às principais correntes artísticas da primeira metade do século XX. Em 1916, ela introduziu na alta-costura o jérsei de malha, os trajes de tecidos xadrez e a moda escocesa, com blusas de malha fina, as calças boca-de-sino, as jaquetas curtas e os casacos cruzados na frente e acinturados em estilo militar. O nascimento do chamado "pretinho básico" data de 1926, quando uma ilustração na revista Vogue mostrava o vestido desenhado por Chanel - o primeiro entre vários que iria produzir ao longo de sua carreira. Seus modelos simples, ao alcance da mulher de bom gosto e de poucos recursos, foram muito imitados e confeccionados em mais categorias de preços do que qualquer outra criação da alta-costura. Foi ela também quem introduziu as falsas joias ao mundo da moda. Chanel sempre gostou de usar muitos acessórios, como colares de correntes ou pérolas de várias voltas. Em 1939, no início da Segunda Guerra, a estilista decidiu fechar suas lojas. Ela acreditava que não era uma época para a moda. Mudou-se para o hotel Ritz e conheceu o alemão Hans Dincklage, espião nazista, de quem tornou-se amante. Em 1945, foi para a Suíça, voltando a Paris somente em 1954, ano em que também retornou ao mundo da moda. Sua nova coleção não agradou aos parisienses, mas foi muito aplaudida pelos americanos, que se tornaram seus maiores compradores. "Com estilo e elegância, Gabrielle "Coco" Chanel revolucionou a década de 1920, libertando a mulher dos trajes desconfortáveis e rígidos do final do século 19. Um verdadeiro mito, Chanel reproduziu sua própria imagem, a mulher do século 20, independente, bem- sucedida, com personalidade e estilo.” (Almanaque da Folha de São Paulo) "Eu criei um estilo para um mundo inteiro. Vê-se em todas as lojas "estilo Chanel". Não há nada que se assemelhe. Sou escrava do meu estilo. Um estilo não sai da moda; Chanel não sai da moda." Coco Chanel A bolsa com alças de corrente dourada, o colar de pérolas, o tailleur e o vestido preto são os símbolos de elegância e status que marcaram para sempre a história da moda. Mas foi o seu perfume, o Chanel n° 5, tido como o mais vendido no mundo, que atornou milionária. O perfume foi criado em 1921 por Ernest Beaux a pedido de Gabrielle Chanel, que sugeriu: "Um perfume de mulher com cheiro de mulher". Dentro de um frasco art déco, foi incorporado à coleção permanente do Museu de Arte Moderna de Nova York em 1959, o Chanel nº 5 foi o primeiro perfume sintético a levar o nome de um estilista. 4 - Madeleine Vionnet A francesa Madeleine Vionnet nasceu na comuna francesa de Chilleurs-aux-Bois, em 22 de junho de 1876. É a responsável pela criação da maison de alta-costura, que veio a ser conhecida como a “arquiteta entre as costureiras”, devido ao seu refinado talento para a costura. Madeleine teve a oportunidade de adquirir algumas habilidades ao trabalhar com Kate Reilly em Londres. Reilly foi uma estilista fornecedora de vestuário para a família real britânica. Ao retornar à França, a jovem estilista passou a aprender com outros grandes nomes da moda, tais como Callot Soeurs e Jacques Doucet. Sua marca Vionnet foi fundada em Paris, em 1912, mas teve de ser fechada apenas dois anos depois, devido ao início da Primeira Guerra Mundial. Nos anos 1920, a Vionnet veio a se tornar um grande sucesso, o que possibilitou a abertura das novas instalações na Avenue Montaigne, conhecida na época como “templo da moda”. Essa boutique foi o resultado de uma colaboração magnífica entre o arquiteto Ferdinand Chanut, o decorador George de Feure e o escultor René Lalique. Posteriormente, em 1924, a grife passou a funcionar também em Nova York. Ao longo de 27 anos, Madeleine desenvolveu diversos conceitos e estratégias criativas e comerciais que ainda nos dias de hoje ajudam a moldar o mercado da moda. A estilista e empresária foi uma verdadeira visionária no mundo da alta-costura, impressionando e influenciando demais profissionais da área com sua abordagem totalmente inovadora, suas habilidades de indumentária e a perfeita harmonia entre experimentação e elegância. Quanto às suas principais criações, temos o viés de corte, o qual ela protegeu por meio de patentes. Ela foi também a responsável por inserir a moda de tecidos drapeados, trabalhando com materiais como crepe, gabardine e cetim. Madeleine ficou marcada por trabalhar com manequins de 80 centímetros de altura, com metade do tamanho de um corpo feminino médio. A estilista foi um dos principais nomes do século XX a trabalhar de forma a modernizar as roupas femininas, libertando as mulheres de espartilhos e priorizando a personalidade de suas clientes, seu bem-estar e os seus desejos. A arte grega foi uma das principais inspirações utilizadas por Madeleine para criar peças de vestuário, moldando-as de forma a mantê-las agarradas à forma do corpo ao mesmo tempo em que possuía uma fluidez de movimentos. Para ela, os vestidos deveriam assumir a personalidade da pessoa que os usava. A estilista tinha 63 anos quando, em 1939, teve novamente de fechar a sua empresa, em função da eclosão da Segunda Guerra Mundial. Madeleine Vionnet veio a falecer em Paris, em 2 de março de 1975, com 98 anos. 5 - Jeanne Lanvin Jeanne Lanvin foi uma das estilistas mais influentes do século 20, com criações que marcaram definitivamente suas primeiras décadas. Nascida na região da Bretanha francesa, foi aprendiz de costureira e, mais tarde, chapeleira, profissão com a qual iniciou sua carreira em Paris, em 1890, abrindo seu negócio. Duas décadas mais tarde, as clientes que compravam seus chapéus encantaram-se com as roupas que Jeanne fazia para sua irmã mais nova e para sua filha, passando a lhe encomendar peças combinadas para mães e filhas, o que deu origem à sua casa de alta costura. Em 1910, o orientalismo, que exercia grande influência em toda a Europa, fez com que Jeanne Lanvin passasse a apresentar roupas bastante exóticas, feitas em tecidos preciosos como veludos e cetins. Às vésperas da 1ª Guerra Mundial, ela criou os chamados robes de style, com cintura marcada e saias fartamente rodadas, que estiveram em moda, com pequenas modificações, até o início dos anos 20. Seus vestidos tinham, sempre, uma concepção romântica. Eram inspirados em formas vitorianas suavizadas e generosamente adornados com bordados, e uma severidade muitas vezes atenuada por babados. Tudo o que ela criava transformava-se em sucesso: seus vestidos chemisiers, um bolero inspirado nos costumes bretões, vestidos bordados com miçangas – especiais para dançar -, vestidos esportivos de jérsei de lã xadrez com fios dourados e prateados, além de pijamas para festas e capinhas. Seu trabalho era facilmente identificável pelo uso de bordado e pelo fino acabamento. O uso frequente de um determinado tom de azul fez com que aquela cor ficasse conhecida como ‘o azul Lanvin’. Depois da morte de madame Lanvin, a direção da casa passou a Antonio Castillo, que desde sua primeira coleção, apresentada em 1951, seguiu sempre de perto o estilo da fundadora. Quando Castillo deixou a Maison, em 1962, para abrir seu próprio negócio, foi sucedido por Jules François Crahay, que vinha do ateliê de Nina Ricci. O estilista brasileiro Ocimar Versolato também atuou na casa Lanvin, na segunda metade da década de 90, como diretor. 6 - Elsa Schiaparelli Elsa Schiaparelli nasceu em Roma, na Itália, em 1890. Neta do famoso astrônomo, que descobriu os canais do planeta Marte, Giovanni Schiaparelli, sua família possuía uma boa situação financeira, o que permitiu que ela fosse estudar na Suíça e em Londres, onde conheceu aquele que veio a ser seu marido, o filósofo e jogador, Willy de Kerlor, em 1913. O casal se mudou para Nova York, nos EUA, país onde nasceu sua filha Gogo, que viria mais tarde a lhe dar uma neta, a atriz Marisa Berenson. Seu casamento não durou muito tempo e Schiaparelli, com uma filha pequena para cuidar, não conseguiu sobreviver sozinha na América e voltou para a França, em 1922. Nessa época, ela desenhava e já começava a vender seus primeiros tricôs. Encorajada pelo estilista e amigo Paul Poiret, abriu sua primeira butique em 1927, e em 1929 apresentou sua primeira coleção, que foi um verdadeiro sucesso. Elsa Schiaparelli sempre esteve ligada aos artistas de sua época. Era amiga de muitos, como Marcel Duchamp, Picabia, Man Ray, Stieglitz, Jean Cocteau, Christian Bérard e Salvador Dalí. Ela acreditava que a moda não podia estar desvinculada da evolução das artes plásticas contemporâneas, sobretudo a pintura. Com o seu progressivo sucesso, Schiaparelli se tornou a maior rival da famosa estilista Coco Chanel. Seus estilos eram totalmente opostos: enquanto Chanel criava roupas funcionais para a mulher moderna, Shiap fazia modelos surrealistas, exóticos. Schiaparelli e Salvador Dalí chegaram a trabalhar muitas vezes juntos, o que resultou em várias criações bastante particulares, como o famoso chapéu em forma de sapato, a bolsa- telefone, o tailleur-escrivaninha com bolsos em forma de gaveta, o vestido de seda pintado com moscas, entre outros. Foi no surrealismo que ela encontrou a sua fonte básica de inspiração. Todas as coleções lançadas por Schiaparelli se inspiravam em fantasia e partiam de um ou dois temas dominantes. Uma de suas preferidas era a coleção de circo, com cavalos, elefantes ou acrobatas no trapézio, bordados em muitas peças, como os boleros, com botões de cabeça de palhaço e o chapéu em forma de sorvete. Sempre utilizando bordados e cores fortes, Elsa criou a coleção de astrologia, na qual se destacava uma luxuosa capa com enormes signos do zodíaco bordados em ouro, assim como o motivo "Phoebus", um sol radiante sobre um tecido rosa-choque. Ela passeou por muitos outros temas em suas coleções, como a música, o fundo do mar e a "Commedia dell'Arte", na qual também apareciam as capas, desta vez com losangos de veludo. Além de suas criações sempre impactantes, ela inovou nos materiais utilizados em suas roupas, como o zíper, o crepe de seda e o celofane. Todos esses novos materiais, como a fibra sintética, possibilitaram que Elsa executassetodos os seus sonhos surrealistas. Schiap buscava o efeito teatral através das cores vivas, não muito usadas naquela época. Ela conseguiu criar um tom de rosa tão forte, que chegava a ser dramático. Ela o batizou de "shocking", o seu rosa-choque. A cor foi usada por ela em muitas criações, desde chapéus até longas capas bordadas. "Shocking" também foi o nome dado àquele que viria a ser o seu perfume mais conhecido, lançado em 1938. O frasco tinha a forma do corpo da então famosa atriz de cinema Mae West, que personificava a ousadia do estilo Schiap. Apesar de ter tido clientes como as atrizes Greta Garbo, Joan Crawford e Carole Lombard, ela não fez muitos figurinos para o cinema. Seu maior sucesso foi em 1937, com o filme "Every Day's a Holiday", com Mae West. Também criou os figurinos dos filmes "Artists and Models" e "Moulin Rouge", com Zsa Zsa Gabor, em 1952. Em 1939, quando explodiu a Segunda Guerra Mundial na Europa, Schiaparelli decidiu fechar sua maison. Ela preferiu colaborar com os esforços antinazistas nos Estados Unidos. Quando a guerra chegou ao fim, ela retornou a Paris, em 1945. Sua maison sobrevivera aos anos de conflito e logo foi reaberta. Nessa época, passaram por seu ateliê alguns estilistas famosos, como Hubert Givenchy e Pierre Cardin. Em 1946, Salvador Dalí desenhou o frasco de um novo perfume, o "Roi-Soleil". A assinatura de Schiaparelli ainda produziu uma linha de malas e frasqueiras e uma coleção de prêt-à-porter, que foi vendida nos Estados Unidos. A moda e a arte sempre caminharam juntas para Elsa Schiaparelli, uma italiana de alma francesa, que não criava apenas vestidos, chapéus e acessórios, mas verdadeiras obras de luxo e excentricidade. Suas roupas eram feitas para impressionar, para destacar a mulher que as usava. A INFLUÊNCIA DO CINEMA AMERICANO NA MODA 1 - Anos 30 Após uma década de euforia, a alegria dos "anos loucos" chegou ao fim com a crise de 1929. A queda da Bolsa de Valores de Nova York provocou uma crise econômica mundial sem precedentes, e paradoxalmente à crise econômica, a moda refletiu um momento de grande sofisticação, luxo e esplendor. Em geral, os períodos de crises não são caracterizados por ousadias na forma de se vestir, diferente do que ocorreu. O cinema cada vez mais posicionado, refletia no comportamento de moda, foi o grande referencial de disseminação dos novos costumes. Hollywood com suas atrizes ditavam a moda feminina com Marlene Dietrich, Jean Harlow, Mae West influenciando a nova década. Como é um comportamento comum a contestação do modelo vigente, a moda não poderia ser diferente, o momento dos anos 30 negou todo o padrão andrógeno e a praticidade anterior para focar na volta da feminilidade. Assim como o corpo feminino voltou a ser valorizado, os seios também voltaram a ter forma. A mulher então recorreu ao sutiã e a um tipo de cinta ou espartilho flexível. As formas eram marcadas, porém naturais. Seguindo a linha clássica, tudo o que era simples e harmonioso passou a ser valorizado, sempre de forma natural. Os vestidos começaram a ter suas bainhas crescidas novamente, onde prevaleceu o comprimento de 25 cm de altura do chão, eram justos e retos, além de possuírem uma pequena capa ou um bolero. Para a noite, os longos voltaram a fazer parte do guarda-roupa feminino. Em tempos de crise, materiais mais baratos passaram a ser usados em vestidos de noite, como o algodão e a casimira. Apesar da recessão, o aspecto era sofisticado e elegante. A cintura volta ao seu lugar, era marcada, mas sem exagero. O uso de tecidos sintéticos foi significante, mas o uso de tecidos naturais continua. O cetim teve destaque especial, toques sedosos, brilhos e silhueta marcada foram a ordem da década. Os vestidos podiam ser justos e retos, mas a grandes novidades foram os cortes godê, evasê e, principalmente o viés introduzido por Madeleine Vionnet que dava a roupa um ar romântico e forma sensual. Em evidência agora era a valorização das costas, o corte enviesado e os decotes profundos nas costas dos vestidos de noite marcaram os anos 30, que elegeram as costas femininas como o novo foco de atenção. Alguns pesquisadores acreditam que foi a evolução dos trajes de banho a grande inspiração para tais roupas decotadas. A moda dos anos 30 descobriu o esporte, a vida ao ar livre e os banhos de sol, sendo assim, os trajes esportivos também estavam na moda, e a prática de esporte como tênis, a patinação e o ciclismo influenciaram bastante. O banho de mar era importante, mas o que se tornou vital foi o banho de sol, a pele bronzeada se tornou um hábito saudável. Alguns modelos novos de roupas surgiram no vestuário feminino com a popularização da prática de esportes, como o short, que surgiu a partir do uso da bicicleta. Seguindo as exigências das atividades esportivas, os saiotes de praia diminuíram, as cavas aumentaram e os decotes chegaram até a cintura, assim como alguns modelos de vestidos de noite. Os estilistas também criaram pareôs estampados, maiôs e suéteres. Um acessório que se tornou moda nos anos 30 foram os óculos escuros. Eles eram muito usados pelos astros do cinema e da música. A mulher dessa época devia ser magra, bronzeada e esportiva, o modelo de beleza da atriz Greta Garbo. Seu visual sofisticado, com sobrancelhas e pálpebras marcadas com lápis e pó de arroz bem claro, foi também muito imitado pelas mulheres. A calça tipo pantalona que Chanel já havia proposto nos anos 20 agora era usada como saída de praia. Os cabelos desse momento eram curtos, mas nem tanto como na década anterior, mas com um grande detalhe, as ondulações. Os chapéus de abas largas permaneciam, mas os curtos caídos sobre a testa ornados com flores também eram muito usados. Nos dias frios, os mantôs eram indispensáveis, assim como o uso das peles. As bolsas eram pequenas e os sapatos scarpins de aspecto mais pesados e as sandálias estavam nos pés das mulheres, assim com o as sandálias usadas com plataformas eram com solados mais grossos. Na moda masculina praticamente não houve mudança, variações de largura de calças, dos paletós e colarinhos. Um aspecto marcante da moda masculina foi o chapéu canotier (canoeira em francês), no Brasil chapéu palheta. Na alta-costura, os nomes femininos que se sobrepuseram aos masculinos foram de Chanel, que continuava sendo sucesso; Madeleine Vionnet, que usava a técnica da moulage inspirada nas esculturas da Grécia antiga; Madame Grès, quem usava os efeitos drapeados; Jeanne Lanvin; e Nina Ricci, que abriu seu ateliê impondo um estilo clássico, sofisticado e elegante. Mas a grande inovação foi de Elsa Schiaparelli, italiana radicada em Paris, que com sua genialidade, introduziu na moda uma série de ousadias em suas criações, inspiradas nos conceitos surrealistas da arte, obtendo Salvador Dalí e Jean Cocteau como grandes inspirações. Suas criações foram marcadas pela irreverência e excentricidade, tanto em roupas como nos acessórios. Outro destaque é Mainbocher, o primeiro estilista americano a fazer sucesso em Paris. Seus modelos, em geral, eram sérios e elegantes, inspirados no corte enviesado de Vionnet. A 2ª GUERRA MUNDIAL E O PERÍODO DE RACIONAMENTO | O TEATRO DA MODA 1 – Anos 40 A Primeira Guerra Mundial foi um confronto devastador para a Europa, que não se recuperou da crise econômica que tomou conta das nações envolvidas. A política de expansão territorial, o Imperialismo, era visto como a saída para o desenvolvimento econômico. A Segunda Guerra Mundial também foi marcada pela disputa imperialista, caracterizando-se como uma continuação do primeiro conflito. O fato da Segunda Guerra ter sido a única solução possível para a crise econômica marca uma diferença importante em relação à Primeira Guerra, na qual a questão principal eraa redistribuição do mundo entre as potências imperialistas, e não a anexação de um motor artificial(a economia armamentista e, posteriormente, a economia de guerra) à máquina capitalista enguiçada, que se transformará, doravante, numa peça essencial para o funcionamento da economia capitalista mundial. A segunda Guerra Mundial já havia começado na Europa. A cidade de Paris, ocupada pelos alemães em junho do mesmo ano, já não contava com todos os grandes nomes da alta- costura e suas maisons. Muitos estilistas se mudaram, fecharam suas casas ou mesmo as levaram para outros países. A Alemanha ainda tentou destruir a indústria francesa de costura, levando as maisons parisienses para Berlim e Viena, mas não teve êxito. Apesar das regras de racionamento, impostas pelo governo, que também limitava a quantidade de tecidos que se podia comprar e utilizar na fabricação das roupas, a moda sobreviveu à guerra. A silhueta do final dos anos 30, em estilo militar, perdurou até o final dos conflitos. A mulher francesa era magra e as suas roupas e sapatos ficaram mais pesados e sérios. A escassez de tecidos fez com que as mulheres tivessem que reformar suas roupas e utilizar materiais alternativos na época, como a viscose, o raiom e as fibras sintéticas. O corte era reto e masculino, ainda em estilo militar. As jaquetas e abrigos tinham ombros acolchoados angulosos e cinturões. Os tecidos eram pesados e resistentes, como o "tweed", muito usado na época. As saias eram mais curtas, com pregas finas ou franzidas. As calças compridas se tornaram práticas e os vestidos, que imitavam uma saia com casaco, eram populares. O náilon e a seda estavam em falta, fazendo com que as meias finas desaparecessem do mercado. Elas foram trocadas pelas meias soquetes ou pelas pernas nuas, muitas vezes com uma pintura falsa na parte de trás, imitando as costuras. Os cabelos das mulheres estavam mais longos que os dos anos 30. Os lenços também foram muitos usados nessa época. A maquiagem era improvisada com elementos caseiros. Alguns fabricantes apenas recarregavam as embalagens de batom, já que o metal estava sendo utilizado na indústria bélica. A simplicidade a que a mulher estava submetida talvez tenha despertado seu interesse pelos chapéus, que eram muito criativos. Nesse período surgiram muitos modelos e adornos. Alguns eram grandes, com flores e véus; e outros, menores, de feltro, em estilo militar. Durante a guerra, a alta-costura ficou restrita às mulheres dos comandantes alemães, dos embaixadores em exercício e aquelas que de alguma forma podiam frequentar os salões das grandes maisons. Durante a guerra, o chamado "ready-to-wear" (pronto para usar), que é a forma de produzir roupas de qualidade em grande escala, realmente se desenvolveu. Através dos catálogos de venda por correspondência com os últimos modelos. 2 - A Guerra e a Moda Havia a necessidade de novos materiais para a produção de roupas, paraquedas, calçados, enfim tudo que substituísse os materiais escassos durante a guerra. Com o passar do tempo, mesmo antes da segunda guerra, já haviam sido realizadas pesquisas de novos materiais, que foram surgindo e substituindo outros. Em 1935 houve o surgimento do náilon, a partir daí o nascimento das meias calças, já na década de 1940. Tal inovação foi utilizada na moda em 1935 com a criação do náilon, jersey de seda, crepe de seda e etc... A escassez de tecidos fez com que as mulheres tivessem de reformar suas roupas e utilizar materiais alternativos na época, como a viscose, o raiom e as fibras sintéticas. Mesmo depois da guerra, essas habilidades continuaram sendo muito importantes para a consumidora média que queria estar na moda, mas não tinha recursos para isso. O náilon e a seda estavam em falta, fazendo com que as meias finas desaparecessem do mercado. Elas foram trocadas pelas meias soquetes ou pelas pernas nuas, muitas vezes com uma pintura falsa na parte de trás, imitando as costuras. Para criar um tecido parecido com a seda, recorreu-se aos cetins, jérseis, crepes de todos os tipos, sarja marroquina ou musselina, tecidos de corda, veludos foscos ou brilhantes e ou com relevo e bordados. Estes tecidos eram direcionados para confeccionar blusas ou vestidos. Sem falar das misturas de fibras sintéticas com a seda, das quais resultaram tecidos com o avesso acetinado que permitiam combinações com outros tecidos de excelente caimento, beleza e conforto. Tudo isto com muita dificuldade de abastecimento para as maisons. Foi a partir de 1941 que a moda passou a utilizar de forma mais ampla os materiais alternativos. 3 - A Invenção do Zíper Em 1905, Judson (criador do zíper) já havia instalado uma fábrica com máquinas capazes de produzir fechos, mas o resultado ainda estava longe da perfeição. Ele passou por várias tentativas até chegar, em 1914, com a ajuda do sueco Gideon Sundback, a um fecho realmente prático, que deslizava sem problemas e não se abria, semelhante aos usados hoje em dia. O novo fecho foi usado primeiro em cintos porta-moedas e bolsas de tabaco. Até que, em 1917, alguns membros da marinha americana passaram a usar jaquetas impermeáveis com fechos. Em 1919, eles já eram usados maciçamente pelas forças armadas, em roupas e equipamentos. Em 1920, o zíper estava realmente na moda e podia ser encontrado em todos os tipos de roupas, sapatos e bolsas. Mas foi, em 1923, ano em que a empresa B. F. Goodrich produziu uma bota de borracha com o novo fecho, que o acessório se tornou popular. O nome zíper foi adotado também nessa época. Durante os anos 30, Elsa Schiaparelli foi a primeira estilista a usar fechos aparentes, como um enfeite, em suas criações. Desde então, por várias vezes, o zíper entrou e saiu da moda, tendo sido usado por estilistas e designers. 4 - As Formas Femininas Os anos 30 redescobriram as formas do corpo da mulher através de uma elegância refinada, sem grandes ousadias. As saias ficaram longas e os cabelos começaram a crescer. Os vestidos eram justos e retos, além de possuírem uma pequena capa ou um bolero, também bastante usado na época. Em tempos de crise, materiais mais baratos passaram a ser utilizados em vestidos de noite, como o algodão e a casimira. O corte enviesado e os decotes profundos nas costas dos vestidos de noite marcaram os anos 30, que elegeram as costas femininas como o novo foco de atenção. Alguns pesquisadores acreditam que foi a evolução dos trajes de banho a grande inspiração para tais roupas decotadas. A mulher dessa época devia ser magra, bronzeada e esportiva, o modelo de beleza da atriz Greta Garbo. Seu visual sofisticado, com sobrancelhas e pálpebras marcadas com lápis e pó de arroz bem claro, foi também muito imitado pelas mulheres. Aliás, o cinema foi o grande referencial de disseminação dos novos costumes, através das estrelas de Hollywood como Katharine Hepburn e Marlene Dietrich. O surgimento de novos materiais, como a baquelita, uma espécie de plástico maleável, aliada ao novo conceito de modernidade, relacionada à aerodinâmica, fez surgir um novo design aplicado a vários objetos e eletrodomésticos. A baquelita também foi amplamente utilizada para a fabricação de joias leves, inspiradas em temas do momento. No final dos anos 30, com a aproximação da Segunda Guerra Mundial, as roupas apresentavam uma linha militar, assim como algumas peças se preparavam para dias difíceis, como as saias, que vinham com uma abertura lateral, para facilitar o uso de bicicletas. Muitos estilistas fecharam suas maisons ou se mudaram da França para outros países. A guerra viria transformar a forma de se vestir e o comportamento de uma época. 5 - Moda no Período de Guerra Em 1940, a Segunda Guerra Mundial já havia começado na Europa. A cidade de Paris, ocupada pelos alemães em junho do mesmo ano, já não contava com todos os grandes nomes da alta-costura e suas maisons. Muitos estilistas se mudaram, fecharam suas casas ou mesmoas levaram para outros países. A Alemanha ainda tentou destruir a indústria francesa de costura, levando as maisons parisienses para Berlim e Viena, mas não teve êxito. O estilista francês Lucien Lelong, então presidente da câmara sindical, teve um papel importante nesse período ao preparar um relatório defendendo a permanência das maisons no país. Durante a guerra, 92 ateliês continuaram abertos em Paris. Apesar das regras de racionamento impostas pelo governo, que também limitavam a quantidade de tecidos que se podia comprar e utilizar na fabricação das roupas, a moda sobreviveu à guerra. A silhueta do final dos anos 30, em estilo militar, perdurou até o final do conflito. A mulher francesa era magra e as suas roupas e sapatos ficaram mais pesados e sérios. Na Grã-Bretanha, o "Fashion Group of Great Britain", comandado por Molyneux, criou 32 peças de vestuário para serem produzidas em massa. A intenção era criar roupas mais atraentes, apesar das restrições. O corte era reto e masculino, ainda em estilo militar. As jaquetas e abrigos tinham ombros acolchoados angulosos e cinturões. Os tecidos eram pesados e resistentes, como o "tweed", muito ousado na época. As saias eram mais curtas, com pregas finas ou franzidas. As calças compridas se tornaram práticas e os vestidos, que imitavam uma saia com casaco, eram populares. Os cabelos das mulheres estavam mais longos que os dos anos 30. Com a dificuldade em encontrar cabeleireiros, os grampos eram usados para prendê-los e formar cachos. Os lenços também foram muitos usados nessa época. A maquiagem era improvisada com elementos caseiros. Alguns fabricantes apenas recarregavam as embalagens de batom, já que o metal estava sendo utilizado na indústria bélica. A simplicidade a que a mulher estava submetida talvez tenha despertado seu interesse pelos chapéus, que eram muito criativos. Nesse período surgiram muitos modelos e adornos, alguns eram grandes, com flores e véus; e outros, menores, de feltro, em estilo militar. Durante a guerra, a alta-costura ficou restrita às mulheres dos comandantes alemães, dos embaixadores em exercício e àquelas que de alguma forma podiam frequentar os salões das grandes maisons. Alguns estilistas abriram novos ateliês em Paris durante a guerra, como: Jacques Fath (1912-1954) - que se tornaria muito popular nos Estados Unidos após a guerra; Nina Ricci (1883- 1970) e Marcel Rochas (1902-1955), um dos primeiros a colocar bolsos em saias; Alex Grès (1903-1993) chegou a ter seu ateliê fechado logo após a inauguração, em 1941, pelos alemães, por ter apresentado vestidos nas cores da bandeira francesa. Sua marca era a habilidade em drapear o jérsei de seda, com acabamento primoroso. A época inovou com o suéter, por falta de aquecimento nos espaços públicos. Outro estilista importante foi o inglês Charles James (1906-1978), que no período de 1940 a 1947, em Nova York, criou seus mais belos modelos. Chegou a antecipar, o que viria a ser o "New Look", de Christian Dior. Durante a guerra, o chamado "ready-to-wear" (pronto para usar), que é a forma de produzir roupas de qualidade em grande escala, realmente se desenvolveu. Através dos catálogos de venda por correspondência com os últimos modelos, os pedidos podiam ser feitos de qualquer lugar e entregues em 24 horas pelos fabricantes. Sem dúvida, o isolamento de Paris fez com que os americanos se sentissem mais livres para inventar sua própria moda. Nesse contexto, foram criados os conjuntos, cujas peças podiam ser combinadas entre si, permitindo que as mulheres pudessem misturar as peças e criar novos modelos. A partir daí um grupo de mulheres lançou os fundamentos do "sportswear' americano. Com isso, o "ready-to-wear", depois chamado de "prêt-à-porter" pelos franceses, que até então havia sido uma espécie de estepe para tempos difíceis, se transformou numa forma prática, moderna e elegante de se vestir. Com a falta de materiais em quase todos os setores e em todos os países envolvidos nos conflitos, novos materiais foram desenvolvidos e utilizados para a produção de objetos e móveis, como os potes flexíveis e duráveis, de polietileno, que ficaram conhecidos como Tupperware. Com a libertação de Paris, em 1944, a alegria invadiu as ruas, assim como os ritmos do jazz e as meias de náilon americanas, trazidas pelos soldados, que levaram de volta para suas mulheres o perfume Chanel nº 5. Em 1945, foi criada uma exposição de moda, com a intenção de angariar fundos e confirmar a força e o talento da costura parisiense. Como não havia material suficiente para a produção de modelos luxuosos, a solução foi vestir pequenas bonecas, moldadas com fio de ferro e cabeças de gesso, com trajes criados por todos os grandes nomes da alta-costura francesa. Importantes artistas, como Christian Bérard e Jean Cocteau participaram da produção da exposição, composta por 13 cenários e 237 bonecas, devidamente vestidas, da roupa esporte ao vestido de baile, com todos os acessórios, lingeries, chapéus, peles e sapatos, tudo feito manualmente, idênticos, em acabamento e luxo, aos de tamanho natural. No dia 27 de março de 1945, "Le Théatre de la Mode" (O Teatro da Moda) encantou seus convidados em Paris. Mais de 200 mil franceses visitaram a exposição, que seguiu para vários países, como Espanha, Inglaterra, Áustria e Estados Unidos, sempre com muito sucesso. No pós-guerra, o curso natural da moda seria a simplicidade e a praticidade, características da moda lançada por Chanel anteriormente. Entretanto, o francês Christian Dior, em sua primeira coleção, apresentada em 1947, surpreendeu a todos com suas saias rodadas e compridas, cintura fina, ombros e seios naturais, luvas e sapatos de saltos altos. O sucesso imediato do seu "New Look", como a coleção ficou conhecida, indica que as mulheres ansiavam pela volta do luxo e da sofisticação perdidos. Dior estava imortalizado com o seu "New Look" jovem e alegre. Era a visão da mulher extremamente feminina, que iria ser o padrão dos anos 50. 6 - Estilistas da Época 6.1 - Cristóbal Balenciaga Esagari Balenciaga, nasceu em Guetaria, região basca da Espanha, no dia 21 de janeiro de 1895. Em 1915, abriu sua primeira casa de costura em San Sebastian, cidade próxima à sua. Seu sucesso não demorou a chegar e, em pouco tempo, se transferiu para Madri. Em 1936, decidiu se mudar para Paris e, em agosto do ano seguinte, apresentou sua primeira coleção. A experiência adquirida em alfaiataria permitia que o espanhol não só desenhasse seus modelos, mas também os cortasse, armasse e costurasse, o que não é comum aos estilistas, que em geral apenas desenham suas criações. A perfeição nas proporções conseguida por Balenciaga em seus modelos aproximava sua arte da arquitetura. Considerado o grande mestre da alta-costura, seu estilo elegante e severo, às vezes dramático, tornaram inconfundíveis suas criações. Em 1939, lançou o corte de manga com a aplicação de um recorte quadrado e uma linha de ombros caídos, com cintura estreita e quadris arredondados. No ano seguinte, apresentou o seu primeiro vestidinho preto, com busto ajustado e quadris marcados por drapeados, além de abrigos impermeáveis em tecidos sintéticos. Em 1942, as jaquetas largas e as saias evasês compunham a chamada "linha tonneau". O primeiro paletó-saco e os redingotes com mangas- quimono surgiram em 1946. Balenciaga era considerado purista e classicista. Seu estilo ainda é lembrado pelos grandes botões e pela grande gola afastada do pescoço. 6.2 - Elsa Schiaparelli 6.3 - Edith Head Edith Claire Posener, nasceu em 1897, na cidade de San Bernardino, Califórnia. Nunca foi bonita, era baixinha e míope, mas foi aluna brilhante e se formou em história da arte e literatura francesa na Universidade da Califórnia, em 1919. Em Los Angeles, tornou-se professora de francês de uma escola para garotas em Hollywood e, em 1923, casou-se com Charles Head, um jovem atormentado e alcoólatra. Aprisionadanuma existência medíocre, Edith teve de arranjar trabalho extra para sustentar a si e ao marido. Um belo dia, viu o anúncio no classificado de uma vaga no departamento de figurino da Paramount. Procuravam por um artista que saiba desenhar roupas e costurar. Edith nunca tinha desenhado nada nem viria a desenhar, e não sabia costurar, mas o salário era tentador. Com a ousadia e a cara-de-pau que se tornaram sua marca registrada, Edith apanhou croquis feitos por suas alunas, montou um portfolio e se apresentou como candidata ao emprego. Logo tratou de criar um look muito pessoal que carregou pelo resto da vida. Passou a usar óculos de lentes redondas e escuras, o penteado que copiou da exótica estrela asiática Anna May Wong (cabelos muito pretos atados num coque e franja reta), tailleurs bem cortados e de cores sóbrias, colar de pérolas. Howard Greer, o figurinista-chefe do estúdio, ficou impressionado com os desenhos e contratou-a no ato. A fraude durou uma semana, mas então Edith já havia conquistado o patrão com seu raciocínio rápido, senso de observação e disciplina de soldado. Quando Greer deixou a Paramount, no início dos anos 30, Edith tornou-se chefe do departamento e permaneceu no cargo até 1967. Sua fama de guru fashion começou com um simples traje de praia: o mini sarongue usado por Dorothy Lamour no filme The Jungle Princess (1936) virou um sucesso, foi copiado pelas lojas de departamentos dos EUA e Dorothy se tornou a eterna garota do sarongue. À medida que sua fama crescia em Hollywood, cresciam também as histórias envolvendo seu nome. Hoje, Edith Heard é reconhecida e lembrada no desenho animado Os Incríveis, no papel da estilista Edna Moda. 6.4 - Gilbert Adrian Durante as primeiras décadas do século 20, foi das mãos deste figurinista norte- americano, de teatro e cinema que saíram roupas e acessórios femininos que marcaram a época. Gilbert Adrian, que estudou na School of Fine and Applied Arts de Nova York, começou sua carreira criando figurinos para espetáculos da Broadway, seguindo depois para Hollywood, para fazer roupas para o então super astro Rodolfo Valentino, entre os anos de 1926 e 1928. Mas foi vestindo estrelas famosas da época que seu prestígio cresceu e consolidou-se. Um chapéu de aba caída, criado para Greta Garbo no filme "A Woman of Affairs" (1928), tornou-se moda que durou pelo menos uma década. Em 1930, no filme Romance, um outro chapéu, também usado por Garbo, foi um grande sucesso: o modelo, que ficou conhecido como chapéu Eugenia, era feito com plumas de avestruz, que caíam sobre o rosto, encobrindo-o parcialmente. Ainda para a mesma estrela, no filme "As You Desire Me", dois anos depois, Gilbert criou um chapéu tipo pillbox que atravessou décadas sem perder o prestígio. No mesmo ano, para a atriz Hedy Lamarr, inventou uma rede para os cabelos, que se tornou célebre no filme "I Take This Woman". Mas nenhum desses sucessos pôde ser comparado ao conseguido por um vestido de organdi branco, desenhado para Joan Crawford no filme Letty Linton, de 1932: o modelo, devidamente feito em série e colocado à venda na loja de departamentos Macy’s, de Nova York, vendeu nada menos do que 500 mil cópias. Joan Crawford, na verdade, deveu a Adrian o estilo que adotou ao longo da vida, roupas com ombros largos que disfarçavam o tamanho dos quadris, um estilo que também foi copiado por mulheres do mundo inteiro. Do mesmo modo, a estrela Jean Harlow ganhou dele o estilo de roupas sinuosas, que contornavam seu corpo, realçando-o. Durante muitos anos, Gilbert continuou a fazer figurinos especiais para filmes, passando à história da moda como um criador arrojado, tanto nas padronagens quanto no corte sinuoso de suas criações. 6.5 - Salvatore Ferragamo Em 1935, um dos principais criadores de sapatos, o italiano Salvatore Ferragamo, lançou sua marca, que viria se transformar em um dos impérios do luxo italiano. Com a crise na Europa, Ferragamo começou a usar materiais mais baratos, como o cânhamo, a palha e os primeiros materiais sintéticos. Sua principal invenção foi a palmilha compensada. Um dos nomes mais importantes do século 20 no design de calçados, Salvatore Ferragamo, nascido em Bonito, localidade próxima a Nápoles, no sul da Itália, desde adolescente exercia seu ofício. Com 16 anos, passou a trabalhar com seus irmãos na Califórnia, Estados Unidos, onde faziam sapatos à mão para as produções cinematográficas da American Film Company. Atores e atrizes, que assim conheceram o trabalho de artesão de Ferragamo, logo se tornaram seus clientes particulares. Nos anos 20, as mulheres adotaram uma de suas criações, as sandálias com tiras que eram amarradas nos tornozelos, lembrando os calçados usados pelos romanos na Antiguidade. De 1923 a 1927, Ferragamo morou em Hollywood, trabalhando para as companhias de cinema Universal, Warner Bros. e Metro-Goldwin-Mayer. Quando voltou para a Itália, escolheu a cidade de Florença para abrir uma oficina de calçados com 60 operários, dando início à primeira produção em larga escala de sapatos feitos à mão. Sua criatividade não tinha limites, seja no que dizia respeito à forma de um calçado, seja quanto aos materiais empregados para fazê-lo, de sua oficina saíram os primeiros modelos de salto anabela e sola tipo plataforma, ainda nos anos 30. Além do couro, ele usava renda e ráfia, entre outras novidades. Em 1947, sempre à frente do estilo de sua época, e muito tempo antes da chegada do material plástico ao mundo dos calçados, Ferragamo criou o que ficou conhecido na época como "o sapato invisível", feito em náilon e com salto em camurça preta. Segundo se sabe, até 1957 o estilista havia criado mais de 20 mil modelos de calçados, com registro de 350 patentes. 6.6 - Jeanne Lanvin 6.7 - Mainbocher Outro destaque é Mainbocher, o primeiro estilista americano a fazer sucesso em Paris. Seus modelos, em geral, eram sérios e elegantes, inspirados no corte enviesado de Vionnet. 6.8 - Lucien Lelong O estilista francês Lucien Lelong, então presidente da câmara sindical, teve um papel importante nesse período ao preparar um relatório defendendo a permanência das maisons no país. Durante a guerra, 92 ateliês continuaram abertos em Paris. 6.9 - Hubert James Taffin de Givenchy Nasceu em Beauvais, na França, em 1927. Muito cedo ele já demonstrava seu interesse pela moda. Aos dez anos, ao visitar uma exposição de figurinos dos mais famosos estilistas franceses, se identificou imediatamente com o universo luxuoso da alta-costura. Ao contrário do que sua família desejava, Givenchy não se tornou advogado, tendo cursado a Escola de Belas Artes, em Paris. Chegou a trabalhar com nomes importantes da costura parisiense, como Jacques Fath, Robert Piguet e Lucien Lelong. Trabalhou também com Christian Dior e Elsa Schiaparelli, antes de abrir sua própria maison, em 1952, no número 8, da rua Alfred de Vigny, na Monceau Plain, em Paris. O NEW LOOK DE CHRISTIAN DIOR Criado em 1947 por Christian Dior, o New Look revolucionou o mundo e marcou a despedida da silhueta sóbria e austera dos tempos de guerra. Surgido no final da década de 40, esse visual ditou os padrões, o estilo e as silhuetas dos anos 50 com muita feminilidade. O New Look (novo visual) revolucionou a moda no período Pós-Guerra e consagrou Dior como um dos estilistas mais importantes da história. A mulher do New Look tinha cintura bem marcada, afinada por cintas e espartilhos. Seu busto era natural e as saias amplas e rodadas, com comprimento sempre 40 cm acima do chão. Saudoso da Belle Époque, Christian Dior fazia referência à moda dos anos 1860. Por isso sua estética exaltava a feminilidade extrema e o resgate dos valores tradicionais. Sua moda era pouco prática: as roupas de baixo apertavam o corpo com corsets, anáguas e cintas cheias de barbatanas. Tules, crinolinas e estofamentos sobre os quadrisajudavam a desenhar a silhueta curvilínea. Quem cunhou o nome do estilo foi a editora de moda norte-americana Carmel Snow. Ao assistir o primeiro desfile do estilista, ela exclamou “wow, this is a new look!” (uau, isso é um novo visual). De acordo com Valerie Mendes e Amy de la Haye no livro A Moda do Século, a rejeição total da estética vigente no período de recessão foi acolhida com clamor pela crítica da moda. No entanto, a extravagância do visual gerou protestos, apontado como uma tentativa de coibir a liberdade feminina. Além disso, o excesso de tecido (cada peça usava entre 10 m a 25 m de tecido) também foi alvo de críticas acirradas. Levou mais de um ano para que o New Look saísse das vanguardas da moda e dominasse os mercados de massa. Apesar de ser uma estética completamente elitista e nada prática para os postos de trabalho que as mulheres assumiram durante a guerra, o estilo foi um sucesso sem precedentes. Dior dominou o mundo da moda e seu New Look teve forte influência na moda dos anos 50. A silhueta do New Look é feminina, bem desenhada e extremamente elegante. Cinturas são evidenciadas por shapes em A, H e Y nas saias rodadas, obrigatoriamente a 40 cm do chão. Essas características ficam evidentes no Taileur Bar, que virou símbolo do New Look. Note como o casaco de seda bege bem acinturado evidencia os ombros arredondados, os seios de volume natural e a cintura de 45,5 cm, afinada com o uso de espartilho. A longa saia, quase na altura dos tornozelos, leva 7,5 metros de crepe de lã plissado. Luvas, salto alto e chapéu complementam o visual impecavelmente glamouroso. Foi essa a imagem que definiu o padrão de estilo dos anos 50. Durante a Segunda Guerra Mundial, a recessão limitou o uso dos tecidos e obrigou as mulheres a assumirem postos de trabalho. Naquela época, a moda refletia isso em muita austeridade, peças utilitárias e shapes muito simples. Então, enquanto todos previam simplicidade, Christian Dior surpreendeu o mundo com seu saudosismo luxuoso. Suas saias amplas, rodadas e compridas contrastavam com as cinturas diminutas e os ombros e seios naturais. As luvas, chapéus e sapatos de salto finalizavam os looks com maestria, pedindo que as mulheres voltassem para casa. Era praticamente impossível trabalhar usando o figurino do New Look e esse era exatamente o objetivo. Dior queria que as mulheres abandonassem seus postos de trabalho e resgatassem os valores tradicionais. A construção das peças era complexa: metros e mais metros de tecidos bem cortados e costurados com minuciosidade. Suas camadas exteriores dependiam de estruturas internas para elaborar a forma. Em tempos de pret-a-porter, Christian Dior mostrou a sofisticação da alta costura. Seus trajes eram produzidos sob medida (e de maneira impecável) por uma grande força de trabalho. Apesar da polêmica do lançamento, o estilista conseguiu compreender em cheio o desejo mais profundo das mulheres. Elas estavam cansadas da simplicidade estética. Após décadas de guerra, racionamento, mortes e tristeza, era hora de celebrar a volta para casa. “Nós saímos de uma época de guerra, de uniformes, de mulheres-soldados, de ombros quadrados e estruturas de boxeador. Eu desenho mulheres-flores, de ombros doces, bustos suaves, cinturas marcadas e saias que explodem em volumes e camadas. Quero construir meus vestidos, moldá-los sobre as curvas do corpo. A própria mulher definirá o contorno e o estilo.” Christian Dior O READY-TO-WEAR AMERICANO E O SURGIMENTO DO PRÊT-À-PORTER FRANCÊS 1 - Anos Dourados Nos anos 50, depois do baby bom, nascimento de muitos bebês com a decorrência da volta dos homens da guerra, a mulher se torna mais caseira. Surge o mito rainha do lar: mulher e mãe que também precisava se portar de maneira elegante e atraente, sempre usando roupas românticas como: saias rodadas mídis, sutiãs de enchimento, ombros suaves, luvas, chapéus e a famosa cintura de vespa. Esse shape se tornou o ícone da década. Apesar dos anos 50 serem considerados pomposos, a mulher americana adotou um visual bem mais casual. Nesta década, a mulher ganha o direito de votar e conduzir seu próprio carro. Com o fim dos anos de guerra e do racionamento de tecidos, a mulher dos anos 50 se tornou mais feminina e glamorosa. Metros e metros de tecido eram gastos para confeccionar um vestido, bem amplo e na altura dos tornozelos. A cintura era bem marcada e os sapatos eram de saltos altos, além das luvas e outros acessórios luxuosos, como peles e joias. Apesar de tudo indicar que a moda seguiria o caminho da simplicidade e praticidade, acompanhando todas as mudanças provocadas pela guerra, nunca uma tendência foi tão rapidamente aceita pelas mulheres como o "New Look", de Christian Dior, o que indica que a mulher ansiava pela volta da feminilidade, do luxo e da sofisticação. Com o fim da escassez dos cosméticos do pós-guerra, a beleza se tornaria um tema de grande importância. A maquiagem estava na moda e valorizava o olhar, o que levou a uma infinidade de lançamentos de produtos para os olhos, um verdadeiro arsenal composto por sombras, rímel, lápis para os olhos e sobrancelhas, além do indispensável delineador. A maquiagem realçava a intensidade dos lábios e a palidez da pele, que devia ser perfeita. Era também o auge das loções alisadoras e fixadoras e das tintas para cabelos, que passaram a fazer parte da vida de muitas mulheres a partir dai. Os cabelos também ficaram um pouco mais curtos, com mechas caindo no rosto e as franjas davam um ar de menina, e os penteados podiam ser coques ou rabos-de-cavalo. Durante os anos 50, a alta-costura viveu o seu apogeu. Nomes importantes da criação de moda transformaram essa época na mais glamourosa e sofisticada de todas. Nos anos 50 também foi criado o salto-agulha, o salto-choque, encurvado para dentro, além do bico chato e quadrado, entre muitos outros. Ao lado do sucesso da alta-costura parisiense, os Estados Unidos estavam avançando na direção do ready-to-wear e da confecção. Na França, Jacques Fath foi um dos primeiros a se voltar ao prêt-à-porter, ainda em 1948, mas era inevitável que os outros estilistas começassem a acompanhar essa nova tendência à medida que a alta costura começava a perder terreno, já no final dos anos 50. Ao som do rock and roll, a nova música que surgiu nos anos 50, a juventude norte- americana buscava sua própria moda. Surge Elvis Presley, e no cinema ídolos como Marlon Brando e James Dean, sendo este o responsável por introduzir a t-shirt no vestuário dos jovens. Assim, apareceu a moda colegial, que teve origem no sportswear. As moças agora usavam, além das saias rodadas, calças cigarrete até os tornozelos, sapatos baixos, suéter e jeans. O cinema lançou a moda do garoto rebelde, que usava blusão de couro, jeans e camiseta branca, um símbolo da juventude. Ao final dos anos 50, a confecção se apresentava como a grande oportunidade de democratização da moda, que começou a fazer parte da vida cotidiana. A televisão influenciou muito a moda americana e, era comum as mulheres copiarem roupas de atrizes e cantoras para os bailes e coquetéis. No Brasil a televisão foi inaugurada em setembro de 1950. O cinema apresentava atrizes e atores glamorosos como: Doris Day e Elizabeth Taylor. Em 1953, Marilyn Moroe explode como grande símbolo sexual. No Brasil despontam as atrizes do teatro rebolado. Progressos tecnológicos são importantes: invenções nos eletrodomésticos, melhores condições de habitações, desenvolvimento das comunicações e o gosto pelo novo. As indústrias têxteis renovam-se, principalmente, graças aos materiais sintéticos. O náilon é usado também nos maiôs cada vez menores, nos biquínis, nas meias masculinas e femininas. A helanca aparece também nos trajes de banho, sendo usada no enchimento do busto. Os vestidos de coquetel são aqueles que poderiam ser usados em qualquer evento informal, como o famoso pretinho básico. Tecidos confeccionadosem seda, lã e algodão para o dia e tafetá, faille e o cetim para noite. Para a noite, as luvas eram usadas em cores e tamanhos bem variados. As estampas eram floridas e as cores em tons pastel eram as preferidas. Os acessórios eram fundamentais, joias eram também usadas nos broches e abotoaduras. As bolsas se tornaram maiores e mais arredondadas que na década anterior. As novidades dos sapatos ficam por conta do bicolor criado por Chanel e dos saltos criados por Roger Vivier. Já o sapato Oxford vira febre entre os jovens. 2 - Os primeiros passos do prêt-à-porter. Fora da capital da moda, Paris, iniciava-se uma grande revolução jovem. Os adolescentes queriam uma moda própria, um look popular sem a menor sofisticação: a inspiração vem do sportswear (moda esportiva da América). Surgem as calças cigarrette, muito justas e que iam até os tornozelos. Sapatos tipo sapatilhas, o jeans e os suéters. Chanel lança a camisa com abotoaduras antecipando o look unissex, e paletós sem gola em forma de cardigã que podiam ser usados por mulheres e homens. Os paletós e suéters desenhados pelos italianos inspiravam calças mais largas para os homens. Na Inglaterra tem a origem da moda Beatnik, inspirada em roupas de astros da música pop e de gangues de rua. Foi na década de 50, mais precisamente em 1958 que Mary Quant abriu sua loja Bazzar, em Londres, começando a desenhar roupas inovadoras e jovens. Muitas peças de roupas americanas começaram a chegar na Europa com um estilo informal, inovador e versátil. Estilistas italianos, como Emílio Pucci, ficaram famosos no campo do sportswear. Pucci criou calças compridas variadas, como a Capri, que eram razoavelmente folgadas, mas se afunilavam até a canela; conjuntos informais e estampas, em geral de padronagem abstrata, com misturas de cores ousadas que começavam a fazer sucesso na Europa e nas Américas. Para homens usava-se as calças mais largas copiadas dos italianos. O exagero e o luxo não conseguiram impedir que a moda se democratizasse, e Paris começou a se render ao prêt-à-porter. Como explicam Yvonne Deslandres e Florence Muller: Foi nos anos 50 que Lemopereur e Weill, que trabalhavam na indústria da confecção, tiveram a ocasião de observar os meios de produção e difusão do ready-to-wear (pronto para usar) americano, depois de uma viagem aos Estados Unidos. Diante do sucesso deste empreendimento, eles tiveram a ideia de imita-lo e criaram assim, o prêt-à-porter. Dessa maneira, abrem-se novas portas, e a moda deixa de ser ditada somente pela alta-costura. OS CRIADORES E A VANGUARDA DA DÉCADA DE 1960 1 - A moda e os modos Os anos 60 foram marcados por vários acontecimentos que contribuíram para a estética da década, e com isso, a juventude teve forte manifestação. Foi o período da conquista espacial onde no início da década os soviéticos voaram para o espaço e, no final, os americanos pisaram na lua. A guerra do Vietnã e os conflitos raciais nos USA também contribuíram, e muito, para essa nova estética. A participação dos Estados Unidos na guerra foi extremamente contestada pelos jovens americanos. Em 1968, esses jovens, em passeata por Washington contra a guerra, colocaram flores nos canos das armas dos policiais norte americanos. Ali nascia o movimento Flower Power (poder da flor) um dos slogans do movimento Hippie, além do mundialmente conhecido Peace and love (paz e amor) e make love not war (faça amor não faça a guerra). Em meados de agosto de 1969, um grande show realizado em uma fazenda próxima a Nova Iorque, em Woodstock, em um final de semana chuvoso lançou nomes como Jimi Hendrix e Janes Joplin, foi a grande popularização do movimento e difusão hippie, o que mudou a atitude dos jovens na década de 70. Revoluções estudantis ocorreram por todo o mundo. A ordem do período era a jovialidade e, na moda, os adolescentes eram a geração baby-boom da década anterior. A alta-costura continuava sofisticada e os Estados Unidos, assim como a Inglaterra manifestavam-se numa moda contestadora. De Paris houve a influência de estilistas como: André Courrège, Pierre Cardin, Yves Saint-Laurent e Paco Rabanne. O prêt-à-porter está definido e aceito por todos os lugares, e as novidades ganhavam força assim que lançadas. A imagem dos jovens na época era de total rebeldia, com jaquetas de couro, topetes, jeans e suas lambretas. As moças comportadas já abandonavam suas saias rodadas e abusavam de calças cigarretes. A intenção era a liberdade total. A transformação da moda foi radical, era o fim da moda única, o vestuário cada vez mais estava ligado ao comportamento pessoal. As roupas não tinham mais aquele ar de “mais velha” tinha cara de uma nova juventude, um novo modo de vida. Surgem as butiques de diversas categorias, adaptando o que era lançado pela alta- costura. Não tinham grandes indústrias na retaguarda, eram pequenas confecções caseiras e, por isso, eram mais baratas que as lojas famosas e chiques da Sétima Avenida em Nova Iorque. As grandes lojas de departamentos já tinham contratos com confecções organizadas que produziam em grande escala. Na Inglaterra, a influência de moda veio com Mary Quant, modelo e mais tarde estilista, que difundiu a minissaia e a meia-calça com o próprio uso e com sua loja Bazzar instalada em Kings Road. De Londres também veio a moda jovem com a Butique Biba. A grande estrela da época, com certeza, foi à minissaia, e para complementar o visual as linhas retas, botas brancas e cores muito chamativas tornavam o look perfeito. Os tecidos apresentavam muitas variedades, tanto nas estampas quanto nas fibras. O jeans passa a ser a grande afirmação da moda jovem, em vários modelos tradicionais e intervenções feitas, se tornou unissex; e o smoking também estava sendo usados pelas mulheres, para os homens os paletós faziam sucesso. A moda dos anos 60 explorava a juventude, foi influenciada pela rebeldia e liberdade pessoal dos mais jovens. O futurismo foi uma das características mais marcantes da década, onde podem ser usadas cores como prata e branco. Tecido prata brilhante e até CDs antigos presos um ao outro com fio de nylon, uma solução simples, barata e que tem um belo efeito visual e ainda lembra as roupas de metal de Pacco Rabanne, grande estilista que marcou essa década. OsBeatles também ditaram moda com seus terninhos, cabelos tijelinha e modelos coloridos. Com o movimento Hippie, no final da década, a associação com a filosofia oriental hindu, contribuiu para a moda ter características indianas. Também, surge calças e jaquetas jeans com patchwork (retalhos), bordados, adereços de meta, aplicações artesanais, pequenos espelhos, estampas florais e psicodélicas, calças boca de sino ou pata de elefante, batas e túnicas. Cabelos longos e despenteados, além de adornado com flores naturais. O aspecto de psicodelismo mediante matérias novas como o plástico e o acrílico fizeram presentes nas artes e na moda. No que diz respeito aos tecidos, estavam em moda especialmente os de fibras sintéticas, o que facilita a intensidade das cores. A moda tem forte influência dos estilos artísticos da Pop Art e Op Art. De um modo geral, a moda da década de 60 era de um aspecto ingênuo em que Twiggy, uma grande modelo e formadora de opinião, difundiu uma aparência de menina com cabelos curtos e olhos maquiados com aspecto de olho de boneca com rímel ou cílios postiços. A moda masculina sofre grande transformação. Deixou de ser usar o costume e gravata para aderir aos casacos e jaquetas com zíper, golas altas, tecidos também sintéticos, calças mais estreitas, botas, camisas coloridas ou estampadas. A barba já não era feita todos os dias, e os executivos, no verão, ostentavam roupas esportivas e blusões. A camisa Lacoste, que anteriormente era usada só para a prática de jogar tênis, é vestida por homens de todas as idades. Na metade da década, surgiu a moda unissex, ou seja, parao sexo masculino e feminino. Isso dava a ideia do modo coletivo, comunitário, um ideal jovem que resultou numa espécie de uniformização da moda para ambos os sexos. 2 - Movimentos Pop Art e Op Art Os movimentos da Pop Art e Op Art muito contribuíram com o desenvolvimento da estamparia na década de 60. A Pop Art privilegiava rostos famosos, produtos de consumo popular, histórias em quadrinhos, em interpretações de trabalhos de Andy Warhol. É um movimento artístico que se caracteriza pela utilização de cores vivas e a alteração do formato das coisas. Muitas vezes, as obras são representadas de forma repetida e seguida com cores diferentes. Surgiu nos Estados Unidos, no final da década de 50, e foi a maneira a fazer uma crítica direta e irônica da sociedade consumista que se formava naquela época. O termo Op Art surgiu pela primeira vez na Time Magazine em Outubro de 1964, embora já se produzissem a alguns anos trabalhos que hoje podem ser descritos como Op Art. Sugeriu- se que trabalhos de Victor Vasarely (1930), tais como Zebra (1938), que é inteiramente composto por listas diagonais em preto e branco, curvadas de tal modo que dão a impressão tridimensional de uma zebra sentada, devem ser consideradas as primeiras obras de Op Art. Suas características são: • Explorar a falibilidade do olho pelo uso de ilusões de óticas; • Defender para a arte menos expressão e mais visualização; • Quando as obras são observadas, dão a impressão de movimento, clarões ou vibração, ou por vezes parecem inchar ou deformar-se; • Oposição de estruturas idênticas que interagem umas com as outras, produzindo o efeito ótico; • Observador participante; • Busca nos efeitos ópticos sua constante alteração; • As cores têm a finalidade de passar ilusões ópticas ao observador. 3 - Os estilistas André Courrège, um dos mais importantes com seus minivestidos e minissaias, dando à moda o aspecto de dinamismo e modernidade exigidos neste período; Pierre Cardin também revolucionou com seus cortes e formas impecáveis em seus looks espaciais de muita inspiração nos aspectos de futuro, em que macacões de malha, calças justas e o uso do zíper passavam a ideia do que seria o futuro; Yves Saint-Laurent, que havia lançado em 1958 a linha trapézio, agora, nos anos de 1960 abriu a própria Maison com ideias inovadoras, especialmente o tubinho com desenhos do pintor Mondrian e, no fim da década, lançou para as mulheres o conjunto de calça comprida e paletó; Paco Rabanne, nome de extrema importância, foi mais inusitado ainda ao trocar os tecidos por metais, a linha e agulha por ferramentas e arame, sendo chamado carinhosamente por Chanel de “o metalúrgico”. Na moda, a grande vedete dos anos 60 do século XX foi, sem dúvida, a minissaia. A inglesa Mary Quant divide com o francês André Courrèges sua criação. Entretanto, nas palavras da própria Mary Quant: "A ideia da minissaia não é minha, nem de Courrèges. Foi a rua que a inventou". Não há dúvidas de que passou a existir, a partir de meados da década, uma grande influência da moda das ruas nos trabalhos dos estilistas. Mesmo as ideias inovadoras de Yves Saint Laurent, com a criação de japonas e sahariennes (estilo safári), foram atualizações das tendências que já eram usadas nas ruas de Londres ou Paris. O sucesso de Quant abriu caminho para outros jovens estilistas, como Ossie Clark, Jean Muir e Zandra Rhodes. Na América, Bill Blass, Anne Klein e Oscar de la Renta, entre outros, tinham seu próprio estilo, variando do psicodélico, que se inspirava em elementos da Art Nouveau, do oriente, do Egito antigo ou até mesmo nas viagens que as drogas proporcionavam, ou geométrico e o romântico. Em 1965, na França, André Courrèges operou uma verdadeira revolução na moda, com sua coleção de roupas de linhas retas, minissaias, botas brancas e sua visão de futuro, em suas "moon girls", de roupas espaciais, metálicas e fluorescentes. Enquanto isso, Saint Laurent criou vestidos tubinho inspirados nos quadros neoplasticistas de Mondrian, e o italiano Pucci virou mania com suas estampas psicodélicas. Paco Rabanne, em meio às suas experimentações, usou alumínio como matéria-prima. Os tecidos apresentavam muita variedade, tanto nas estampas quanto nas fibras, com a popularização das malhas sintéticas no mercado, além de todas as naturais, sempre muito usadas. As mudanças no vestuário também alcançaram a lingerie, com a generalização do uso da calcinha e da meia-calça, que davam conforto e segurança, tanto para usar a minissaia, quanto para dançar o twist e o rock. O unissex ganhou força com o jeans e as camisas sem gola. Pela primeira vez, a mulher ousava ao se vestir com roupas tradicionalmente masculinas, como o exemplo do smoking, lançado para mulheres por Yves Saint Laurent em 1966. A alta-costura cada vez mais perdia terreno e, entre 1966 e 1967, o número de maisons inscritas na Câmara Sindical dos costureiros parisienses caiu de 39 para 17. Consciente dessa realidade, Saint Laurent saiu na frente e inaugurou uma nova estrutura com as butiques de prêt- à-porter de luxo, que se multiplicariam pelo mundo também através das franquias. Com isso, a confecção ganhava cada vez mais terreno e necessitava de criatividade para suprir o desejo por novidades. O importante passaria a ser o estilo e o costureiro passou a ser chamado de estilista. Nessa época, Londres havia se tornado o centro das atenções, a viagem dos sonhos de qualquer jovem, a cidade da moda. Afinal, estava lá o grande fenômeno musical de todos os tempos, os Beatles, e as inglesinhas emancipadas, que circulavam pelas lojas excêntricas da Carnaby Street, que mais tarde foram para a famosa King's Road e o bairro de Chelsea, sempre com muita música e atitude jovens. Nesse contexto, a modelo Jean Shrimpton era a personificação das chamadas "chelsea girls". Sua aparência era adolescente, sempre de minissaia, com seus cabelos longos com franja e olhos maquiados. Catherine Deneuve também encarnava o estilo das "chelsea girls", assim como sua irmã, a também atriz Françoise Dorléac. Por outro lado, Brigitte Bardot encarnava o estilo sexy, com cabelos compridos, soltos, rebeldes, ou com coque no alto da cabeça, estilo muito imitado pelas mulheres. Entretanto, os anos 60 sempre serão lembrados pelo estilo da modelo e atriz Twiggy, muito magra, com seus cabelos curtíssimos e cílios inferiores pintados com delineador. A maquiagem era essencial e feita especialmente para o público jovem. O foco estava nos olhos, sempre muito marcados. Os batons eram clarinhos ou mesmo brancos e os produtos preferidos deviam ser práticos e fáceis de usar. Nessa área, Mary Quant inovou ao criar novos modelos de embalagens, com caixas e estojos pretos, que vinham com lápis, pó, batom e pincel. Ela usou nomes divertidos para seus produtos, como o "Come Clean Cleanser", sempre com o logotipo de margarida, sua marca registrada. As perucas também estavam na moda e nunca venderam tanto. Mais baratas e em diversas tonalidades e modelos, elas eram produzidas com uma nova fibra sintética, o kanekalon. O estilo da "swinging London" culminou com a Biba, uma butique independente, frequentada por personalidades da época. Seu ar romântico retrô, aliado ao estilo camponês, florido e ingênuo de Laura Ashley, estavam em sintonia com o início do fenômeno hippie do final dos anos 60. 3 – O movimento Hippie Uma conjuntura sócio-econômica-cultural impulsiona o aparecimento de uma série de explosões de expressões juvenis a partir de meados da década de 60 e início da década de 70. Movimentos como o psicodelismo, o feminismo, uma certa revitalização da volta à natureza, festivais de música que se transformam em verdadeiros acontecimentos de liberação, vertigem, a proposição de uma nova forma de relação, em que se privilegia o amor livre, movimentos estudantis e as comunidades hippies, entre outros. Uma sensação de instabilidade e a consequente necessidade de escapismo,promovem, na grande maioria dos jovens, a necessidade de uma vida mais saudável, simples e natural. Neste contexto, em maio de 1968 acontece o Woodstock, em que marcos representativos de tentativas juvenis que, embora distintos, têm em comum o anseio de propor uma transformação radical da sociedade e promover o surgimento de uma "nova era". Movidos por sonhos, verdadeiras utopias, os jovens agregaram em torno de si e de seus ideais uma força gigantesca que foi capaz, de fato, de fissurar a estrutura até então vigente, reivindicando uma inteira reversão do modo de ser da sociedade. Se essa fissura não foi suficientemente capaz de ruir o complexo já instalado, pelo menos conseguiu impor algumas importantes transformações. A pretensão era por fim à opressão vivenciada nas sociedades ocidentais, através de uma negação ao império da razão científica, à repressão sexual, ao capitalismo, às guerras. Em oposição a essas estruturas, se instauraria o amor livre, o misticismo, o neo-tribalismo e a paz, ou seja, um outro modo de vida. Esse contingente de jovens, batizado de filhos das flores (flower children), revigorou os trabalhos manuais, como o artesanato, a agricultura, além de cultuar a ingestão de substâncias que expandiam a mente e, sobretudo, compor e escutar música. Grande parte de protagonistas desses movimentos eram representantes do movimento hippie, sem contar os personagens de um certo ativismo estudantil de esquerda, cujo projeto era também a transformação do mundo. Uma das tentativas de definição do surgimento e localização do movimento hippie, aponta o estado do Colorado. Teria sido um grupo de professores e estudantes de arquitetura, psicologia e ciências sociais que, numa ruptura frontal com o sistema de ensino que eles chamavam de esclerosado e decadente, teria fundado a primeira comunidade hippie de que se tem conhecimento. A comunidade foi batizada de Drop City e tinha como meta fomentar a criatividade de seus membros através do contato direto com a natureza, bem como buscavam eliminar todos os padrões hierárquicos de chefia ou de governo e toda forma de trabalho organizado. Neste mesmo período, coincidentemente ou não, a utilização de droga entre os jovens crescia significativamente: alucinógenos como o LSD e a maconha, assim devemos entender o movimento hippie a partir de três elementos: a droga, a música e aquilo que seriam as posturas ético-sociais, integradas por roupas, maneira de ser e de participar socialmente. Para alguns autores esse período seria caracterizado como Contracultura, no seio do qual tomava forma uma nova mentalidade, constituindo-se como um momento de intensa transição sócio-cultural. O SURGIMENTO E A CONSOLIDAÇÃO DAS TENDÊNCIAS DA MODA NOS ANOS DE 1970. A década de 70 foi uma das mais ricas na história da moda, e foi caracterizada por hippies e românticos. Ela contou com vários movimentos culturais, muitos com a intenção de chocar, enquanto outros pretendiam um estilo de vida mais livre ou mais romântico, inspirado no passado. Para os homens, a roupa deixa de ser formal e ganha um toque colorido e psicodélico. Próxima ao corpo tem lapelas largas nos casacos e calças boca- de - sino. As camisas ganham estampas florais inspiradas em ídolos do rock psicodélico. Suas cores predominantes eram tons naturais, metalizados, coloridos, violetas e bordôs. Esta década transformou a roupa masculina, deixando-as mais coloridas e estilizadas. Para as mulheres, passou a ser romântica e despojada: com cabelos desalinhados, saias longas ou curtíssimas com inspiração indiana, batas e estampas florais ou multicoloridas. Além disso, o unissex entra na moda com suas bocas-de-sino e sapatos plataforma. A silhueta nos anos 70 era romântica, sonhadora e natural. Flores, liberdade e orientalismo eram suas marcas registradas. Uma das mais fortes lembranças da década de 70 são os sapatos plataforma, reeditados com adornos e saltos que pretendiam alcançar os céus. Essa foi uma tendência válida tanto para a moda masculina como feminina, deixando claro que essa dualidade já era vista sob um novo prisma: o unissex. 2 - O movimento Punk É importante caracterizar o período de surgimento do movimento Punk, demonstrar suas origens e enfatizar sua transformação parcial de um movimento contracultural para um produto da indústria cultural e de moda. Depois de declarar uma das mais radicais transformações na música popular, o próprio punk foi transformado em argumento de consumo. O visual desleixado, as roupas rasgadas e sujas usadas pelos primeiros punks ganharam a sua versão para butiques luxuosas. Bandas recém formadas e que tinham feito apenas algumas apresentações eram contratadas pelas gravadoras, ansiosas por descobrirem os "novos" Sex Pistols. Toda a contestação e ideário punk foram, na maioria dos casos, deixados de lado para dar um espaço cada vez maior aos "produtos culturais" que pudessem ser transformados em bens de consumo. Essa absorção pela indústria cultural, que transformou o punk em algo aceitável para as massas, causava estranheza aos próprios punks, pelo menos naqueles que tinham um comprometimento maior com o movimento. O movimento foi um dos fenômenos de moda mais interessantes na década de 1970, caracterizado pela "passagem da moda marginal para a alta moda". Já que o normal seria acontecer o inverso. As roupas punks surgiram como um traje vandalizado, as pernas das calças eram cheias de correntes e usavam-se alfinetes de gancho nas orelhas e até no nariz. Os cabelos eram eriçados e tingidos de vermelho, verde, amarelo e azul ou descoloridos com as raízes pretas. O punk, como expressão de violência numa época de alto índice de desemprego para a juventude, influenciou o mundo da música. Zandra Rhodes fez uma coleção punk na década de 1970, e a bijuteria punk se tornou muito popular. Os cabelos da moda se tornaram cada vez mais despenteados, mas eram cortados curtos e eriçados, às vezes com cores fortes ou com listras de cores primárias. O motivo para essa nova tendência adolescente se encontra tanto no mundo da moda quanto no culto punk. A moda também estava desiludida e incerta quanto ao seu destino, particularmente na Inglaterra. A maioria dos estilistas jovens do início da década de 1970 criaram sua linha própria e continuaram a segui-la, e, devido à situação econômica, os estilistas que acabavam de sair das escolas de moda não podiam se estabelecer. 4 – A era disco e a moda Em sua conjuntura social, política e cultural, os anos 1970 revelaram aspectos bastante peculiares, até então não apresentados na década anterior. A Era disco soube ilustrar muito bem esse momento de transição, entre uma sociedade marcada por resquícios do engajamento político e outra impregnada pela cultura do consumo. Essa fase é marcada pelos desdobramentos, onde a razão social coletiva perde força dando margem a um novo momento de experimentação, especialmente focado na realidade norte-americana. A moda dos anos 70 é marcada por roupas mais justas e o uso excessivo de tecidos coloridos e brilhantes. A minissaia, vinda dos anos 60, vira hit no mundo da moda e passa a ser um artigo indispensável para a juventude dessa época. As calças pantalonas (ou boca-de-sino), as bolsas masculinas em estilo capanga, camisa de gola rolê, sapatos plataformas e os tecidos sintéticos ou naturais compõem o figurino básico de grande parte das mulheres e homens dos anos 1970. O visual básico da época consistia em uma maquiagem em cores frias (verde, azul, roxo) que ressaltava os olhos, deixando-os bem marcados com o uso de cílios postiços. O corte de cabelo para os homens podia encostar na gola da camisa e a preferência era pelo uso de barba e bigode. Já no cabelo das mulheres dominava o uso de franjas, corte em camadas, pontas bem arrebitadas e o uso do laquê era indispensável. Os anos 70 são a década unissex por excelência,o termo foi então cunhado e aplicado com toda a empolgação das coisas novas. A questão que flertava com o tempo era a da androginia. A tatuagem não era uma prática comum, mas as pinturas no corpo e rostos estavam na moda, pois elas se referiam ao visual de androginia, denominado como glam, que marca a primeira metade da década de 1970. O cantor inglês David Bowie é a referência mundial nesse estilo que virou febre entre os jovens da época, e é responsável por influenciar o estilo disco da segunda metade dos anos 1970. O estilo glam exigia cetim, lantejoulas, palidez, olhos bem marcados e certa disposição para fazer as sobrancelhas desaparecerem, e os mais empolgados chegavam a raspá-las inteiramente, mas a maioria mandava mesmo uma água oxigenada nelas. Os estilos musicais foram ecléticos e diferenciados. O rock’n’roll começa a ganhar novas fragmentações, como: rock latino, jazz rock, rock religioso; e duas importantes vertentes do rock começam a se delinear: a primeira consiste no rock progressivo, com harmonias e melodias mais complexas; já a segunda se refere ao movimento musical punk rock, originário na Inglaterra, caracterizado por músicas de batidas mais rápidas, inclinado à ideias anarquistas. O estilo musical glam, ou glitter rock, também ganha boa visibilidade nos primeiros cinco anos da década de 70 nos Estados Unidos. Além disso, outro ritmo musical de grande popularidade nos anos 1970 foi o estilo disco. O termo é derivado da abreviação da palavra discotheque e, no início, era associado a clubes noturnos frequentados por grupos sociais excluídos, como homossexuais, negros e latinos. Somente quando os meios de comunicação (rádio e televisão) começaram a dar visibilidade ao movimento disco é que ele passa a ser disseminado no território norte- americano e em outros países europeus. Esse fenômeno aconteceu ainda nos primeiros anos da década de 1970 e foi responsável tanto pela proliferação de casas noturnas específicas para esse gênero, como pela mudança de status de um estilo marginalizado para um estilo frequentado pela alta sociedade americana. Famosos clubes de dança, como o Studio 54 da cidade de Nova Iorque, reuniram ricos e celebridades para viver o glamour das festas do estilo disco. A trilha sonora era embalada por músicas que se baseavam na mistura de ritmos do funk, soul e rhythm-and-blues, juntamente com o uso de instrumentos eletrônicos como os sintetizadores. A partir de 1975, as gravadoras perceberam que as pistas de dança eram um bom local para o lançamento de novos produtos da indústria fonográfica. As músicas eram rearranjadas, editadas e gravadas pelos disc-jóqueis (dj’s) em formatos exclusivos para serem tocadas nas boates. Nesse processo, discotecas viraram testes de laboratórios para as novas músicas dançantes; cópias de gravações antecedentes eram entregues aos Dj’s antes delas serem distribuídas comercialmente para testes de audiência respondidos nas pistas de dança. Acompanhar o ritmo acelerado das pistas de dança era fundamental nos anos 1970. O culto ao movimento do corpo foi super valorizado e a dança era um forte elemento de representação sobre como as pessoas agiam, se comportavam e interpretavam os fatos dessa época. Novos ideais sociais foram adotados com a união entre a música e a moda, e para isso, é necessário observar as manifestações sociais e movimentos criados a partir dessas duas representações artísticas que tanto revelam o indivíduo, o espaço e o tempo. Analisa-se a importância e influência da moda e da música na construção da subjetividade do indivíduo assim como na construção de grupos e tribos sociais e culturais. Assim, são conceituadas moda e música, citando as suas principais semelhanças e lógicas enquanto sistemas, assim como os principais movimentos históricos em que ambas enunciam a mesma estética de comportamento. Observa-se que a moda está presente no figurino dos ícones da música, que por sua vez, inspiram e influenciam a criação dos estilistas, assim como cada vez mais a moda vende e se apropria das tendências e ideias criadas pela música. Almeja-se assim contribuir com essa área de estudo na formação de estudiosos de moda, música e afins, considerando que pouco foi pesquisado sobre esse assunto tão importante devido ao seu rico caráter cultural e interdisciplinar. O PAUPERISMO E OS ESTILISTAS JAPONESES | A MODA E OS ESTILISTAS INTERNACIONAIS NOS ANOS 1980. 1 - O Pauperismo na moda e sua relação com os estilistas japoneses A partir de 1980, surge um novo fenômeno: a moda se torna sua própria censora, e os primeiros a serem questionados foram seus códigos. Em 1981, os japoneses Rei Kawakubo e Yohji Yamamoto chegam a Paris e apresentam suas primeiras coleções com trajes negros, destruídos, com aparência de não acabados. Suas coleções primavera-verão de 1983 de prêt- à-porter feminino escandalizaram os espectadores de tal forma que a imprensa as chamou de “duas coleções chocantes”, de uma ruptura absoluta com a visão ocidental. Um dos muitos movimentos que aconteceram na moda dos anos 80, tem-se em destaque o pauperismo, nome pelo qual foi batizada essa moda conceitual de estilistas japoneses como Kenzo, Issey Miyake, Yohji Yamamoto e Rei Kawakubo, caracterizava-se por uma desconstrução das roupas através de sobreposições, assimetrias e buracos. Alguns anos mais tarde, em 1986, Yohji Yamamoto teria desejado ele mesmo deixar em estado de choque a alta-costura francesa. A mudança embreada pelos criadores japoneses foi recuperada um tempo depois por jovens designers, a exemplo de Martin Margiela. Na inauguração de sua maison, em 1988, os trajes desconstruídos, como nós os chamamos hoje, assinatura do costureiro belga, apareceram como um eco do choque japonês. “Eu não imaginava que ela produziria tantos efeitos, nem que ela pudesse fazer escola.” Yohji Yamamoto (1986) Além da parte técnica, transgride-se também o sistema de apresentação da alta-costura. Distanciando-se cada vez mais dos desfiles codificados que ainda eram comuns na maison Christian Dior nos anos 1970, os jovens costureiros trazem um novo ritmo: a música é contemporânea, os modelos andam rápido, o desfile é encurtado. Mas é sobretudo com Thierry Mugler que se tem a transgressão mais profunda deste sistema: em 1984, o desfile que ele apresenta é efetivamente um espetáculo, com ingressos colocados à venda. Mugler inventa o desfile aberto e rompe com a tradição da alta-costura parisiense. Na paleta de cores, muito preto e tons de cinza. É um vestuário caracterizado por silhuetas completamente surpreendentes e por efeitos espaciais, que coloca em primeiro plano materiais invulgares e vive em função do corpo, deixando para segundo plano o sexo de quem o veste. Foi o inicio de uma revolução do conceito ocidental de corpo e de vestuário. Com o pauperismo, a moda encontrou uma forma de fazer a transição dos anos 80 para os anos 90, onde encontra o estilo largado do grunge, que tanta gente já tinha falado por aí que era o hit do momento. Pauperismo vira homeless chic e grunge vira neogrunge – com todas as implicações que advêm dessa mudança. Todos sabem que a moda é cíclica e vive de fazer releituras, o que uma vez chocou e causou repulsa pode no futuro ser considerado bonito e agradável. Já tivemos a releitura do movimento hippie, com o hippie chic, do movimento punk, que acabou sendo apelidado pelos mais puristas de punk de boutique, e de outros tantos estilos que surgiram das ruas. Agora é a vez do grunge ser diluído e adaptado para o gosto fashion, numa releitura que pouco dialoga com as origens do movimento. A moda de rua, ou antimoda, surge como contestação, como algo fora dos padrões vigentes. Ela não segue os moldes das passarelas, muito pelo contrário, ela serve de inspiração para os estilistas. O “politicamente correto” é uma das manifestaçõesdesta “tirania da opinião”. Antes de se tornar uma simples expressão do senso comum, o politicamente correto, nascido nos anos 1980, era um movimento contestatório que promovia o direito à diferença e ao reconhecimento das minorias sociais nos Estados Unidos. Seus valores originais foram revirados e, no lugar de criar uma maior tolerância, a doutrina foi recuperada com o objetivo de estigmatizar na esfera pública os comportamentos julgados inaceitáveis. As consequências deste movimento de pensamento invadiram o campo da moda e fizeram-na refém dele. 2 – Estilistas japoneses 2.1 – Kenzo – o mais europeu dos estilistas japoneses Kenzo Takada nasceu em fevereiro de 1939 em Himeji, no Japão. Com o pós-guerra, teve uma infância, segundo o próprio, muito negra: “Um breu total. Minha juventude se resumiu a estudar para os vestibulares e ir ao cinema.” Ele tinha 2 irmãs mais velhas e nessa época era comum que elas aprendessem prendas domésticas, elas se especializaram em corte e costura e começaram a circular revistas de moda pela casa. Não demorou pra Kenzo se interessar pelo assunto. O estilista chegou a começar uma faculdade em Kobe, perto de Himeji, mas acabou indo pra hoje tradicional Bunka, a escola de moda mais famosa do Japão. Lá, ele ganhou o prêmio SOEN em 1960 com um look que hoje ele reconhece que tinha grande influência de Pierre Cardin, e assim começou a ganhar projeção. Conseguiu um bom emprego, comprou um apartamento em 1964 e, com as Olimpíadas no Japão, teve que ceder o terreno para construções em troca de um bom dinheiro. Com o capital ele foi para Paris de navio. Foi a 1ª vez que Kenzo saiu do Japão e também foi uma viagem que se tornou muito importante para sua imagem de marca, hoje conhecida por ter um lado étnico muito forte. Durante esse 1 mês ele conheceu Hong Kong, Saigon, Sri Lanka, Mombaim, Barcelona, dentre outros países, e tudo isso acabou aparecendo em suas coleções autorais depois. Chegando em Paris, fez aulas de língua francesa e depois de um tempo decidiu tentar mostrar um croqui na Louis Féraud. A mulher dele o atendeu e comprou 5 croquis. Isso bastou pra Kenzo ficar estimulado, e acabou conseguindo um emprego na área de moda. Por volta de 1969, percebeu que sua turma do Bunka começou a abrir pequenas butiques próprias. Ele decidiu que também era sua hora e conseguiu um espaço dentro da Galerie Vivienne. Pra inauguração da batizada Jungle Jap, convidou jornalistas e em 1970, fez-se a história: era seu 1º desfile, e um vestido com estampa típica japonesa dessa coleção foi parar 2 meses depois na capa da “Elle” francesa. O estilista hoje possui uma grande importância por caus da própria estrutura do desfile. Foi ele que começou a chamar modelos publicitárias no lugar das manequins de alta-costura, colocou música e deixou um clima mais descontraído, com modelos sorrindo, conversando, pulando, rodopiando e até fumando, totalmente fora do convencional. A partir de 1973, Kenzo fez um desfile coletivo com Dorothée Bis e Chantal Thomass. Esse foi o embrião da semana de prêt-à-porter. A partir de 1975, o trio se uniu a Yves Saint Laurent, Dior, Ungaro, Givenchy, Sonia Rykiel e Chloé (na época com Karl Lagerfeld) e a Semana de Moda de Paris começou a existir como é hoje, com o calendário de desfiles organizado e unido em alguns dias. Até 75, ele seguiu pesquisando o quimono e outros elementos da cultura do seu país natal, e a partir daí também começou a usar os outros países pelos quais tinha passado, como a China. Nos anos 80, Kenzo começou a se lançar no mercado de fragrâncias. Hoje em dia, muita gente conhece seu nome por causa desse negócio: são pelo menos 12 perfumes lançados, entre masculinos e femininos. Desde 1993 a marca Kenzo, incluindo os perfumes, é do grupo LVMH. Desde 1999 o estilista se afastou da grife e hoje ele se dedica à pintura e tentou lançar uma linha de homewear. 2.2 – Rei Kawakubo – a beleza do invulgar Rei Kawakubo nasceu em Tóquio, Japão. Estudou literatura, arte e filosofia na Universidade de Keio, sua cidade natal. Depois de formada, passou a trabalhar em uma indústria têxtil, a Asahi Kasei. Começou a trabalhar como estilista freelancer em 1967 após não encontrar uma roupa para um editorial. Após alguns anos, em 1969, começou a vender roupas para lojas de departamento em Tóquio sob o nome Comme Des Garçons. Sua estréia na semana de moda em Paris veio em 1981, onde chocou os críticos e o mundo com uma coleção sendo quase toda preta, volumosa, desconstruída e assimétrica. Sendo chamada de e “Hiroshima chic” e “pós-atômico”. Rei se destacou por sua inteligência e personalidade vanguardista, oferecendo roupas para mulheres que fossem confortáveis e com boa mobilidade. Suas roupas diferentes e muitas vezes bizarras sempre trazem uma coisa: curiosidade. “Curiosidade é ser interessado e aberto, inesperado, pesquisar, procurar por algo novo. [...] Ao nos convidar a repensar a moda como um lugar de constante recriação e hibridismo, ela definiu a estética de nosso tempo.” Rei Kawakubo A marca Comme des Garçons caiu no gosto de celebridades como Rihanna, Drake, Pharell, Lady Gaga e entre outras. Conhecida por seus modelos criativos que não seguem tendências e regras, a marca japonesa é considerada uma das mais expressivas e criativas do mundo da moda. Fundada em Tóquio, a estilista usa e abusa de referências, proporções que remetem ao abstrato. Fazendo grande sucesso desde seu lançamento nos anos 70, a marca fez inúmeras parcerias ao longo dos anos com inúmeras marcas de diferentes setores no mercado da moda. Fez parcerias com a Nike, Gucci, Adidas, Supreme, a brasileira Melissa, Converse, entre outras. Tais parcerias, sempre de muito sucesso, trouxeram mais visibilidade ainda para a marca e mostra que a Comme Des Garçons não se fixa em apenas um segmento, sendo uma marca para todos aqueles que gostam do diferente e saem de suas zonas de conforto. A marca além de suas roupas emblemáticas, aposta em diferentes produtos. Lançou em 1998 o seu primeiro perfume, chamado “Anti-perfume’ Odeur 53”. O perfume contém 53 notas que não eram usadas comumente, como oxigênio, metal, roupas secando ao vento, carbono mineral, dunas de areia, esmalte, celulose, ar puro das montanhas, borracha queimada e pedra incandescente. Desde então, expandiu seus produtos, lançando linhas de moda praia, moda íntima, jóias, acessórios como bolsas, capinhas de celular, além de novos perfumes. A Comme Des Garçons cativou e continua a cativar o mundo com suas criações criativas, ousadas, que brincam com volumes, texturas e desafiam os padrões. Conquistou clientes fiéis que não tem medo de ousar, de sairem de suas zonas de conforto e tem curiosidade com o novo. Hoje, a marca de Rei possui mais de duzentos pontos de venda no mundo, investindo sempre em roupas sobrepostas, assimétricas e costuras inacabadas, fugindo do tradicional. Ao seu lado, representando o estilo inusitado japonês está, Yamamoto, que chegou a integrar o grupo Comme de Garçon. 2.3 – Issey Miyake – artista de moda Nasceu em Hiroshima, Japão, em 1938. Licenciou-se em Design Gráfico em Tóquio, depois partiu para Paris, onde estudou costura e trabalhou para Laroche e Givenchy. Fez o diploma da Chambre Syndicale de La Haute Couture de Paris, em 1966. Em 1968 mudou-se para Nova Iorque para trabalhar com Geoffrey Beene, onde foi influenciado pela moda das ruas e a combinação de diferentes roupas e estilos. Em 1970 regressa a Tóquio onde cria o Miyake Design Studio. Um dos pioneiros do sucesso do Design japonês é o estilista Issey Miyake. Estreou-se no mundo da moda na década de 80, mas até hoje as suas coleções têm óptima aceitação. Além de moda, também fez pôsters, relógios, lâmpadas, etc. Ficou conhecido por contestar, questionar e estar sempre à procura de novos caminhos para as vestimentas. Este estilista e designer japonês define-se como “designer de roupa” e não como“criador de moda”. Explorou diversas formas de confeccionar peças de vestuário. O seu objetivo era criar algo que permitisse uma maior individualidade, comodidade e, sobretudo, liberdade. Animado por uma enorme curiosidade, Miyake desejou redefinir a ligação existente entre o vestuário e o corpo, confeccionando roupas a partir de técnicas em que tradição (japonesa, frequentemente) e tecnologia de ponta coexistissem. “A curiosidade e a felicidade são a base do meu trabalho. O desenho nunca é algo de estático; aliás, só é materializável depois de um intercâmbio de ideias, de estética e sensibilidade. [...] Não é por expressar o meu ego ou a minha personalidade, mas sim por e para dar uma resposta às interrogações de uma época, à sua forma de vida.” Issey Miyake Apresenta a sua primeira coleção em 1973. O local escolhido foi, excepcionalmente, Nova Iorque. Todas as suas outras coleções seriam apresentadas em Paris, a sua cidade de adopção. O estilo Miyake parte de duas ideias fundamentais: “criar partindo de uma peça de tecido” e “explorar a relação existente entre o corpo humano e a roupa que o “encobre”. O seu enfoque no desenho sempre se baseou no perfeito equilíbrio entre tradição e inovação: o artesanal e a última novidade em matéria de tecnologia. Nos anos 1980, investiu nas técnicas dos plissados, realizando modelos que remetiam ao universo das gaiolas e lanternas orientais, esculturas e às formas da Antiguidade. Seus vestidos de linha plissada são sua marca registrada. Miyake nasceu em 1938 em Hiroshima, no Japão, e formou-se em artes gráficas. Trabalhou com Hubert Givenchy, em Paris, e mostrou sua primeira coleção em Nova York em 1972. Em 1998, Issey Miyake volta a fazer incursões sobre algo que o apaixona — a investigação e a exploração —, dedicando-se a um projeto denominado A-POC (A Piece of Cloth), ao qual se associou Dai Fujiwara. Miyake desafia a forma tradicional da execução de um objeto. Considera que o futuro da confecção reside no A-POC: uma viagem criativa que começa com fios, que se converterão em tecido… e em textura e que acabará por assumir a forma de uma peça de roupa, resultado de um processo único. A roupa criada por Issey, época após época, é algo de único que só fica completa quando cobre o corpo de uma pessoa... Para comemorar os 20 anos das famosas pregas foi lançado o livro Pleats Please (Plissados por favor) — Issey Miyake pela editora Taschen. A publicação reúne a biografia das pregas icônicas do estilista, descrevendo a história e o conceito da técnica, apresentando sua trajetória da confecção à divulgação ao público. O livro Pleats Please, com mais de 500 páginas, também traz imagens, fotografias e textos diversos. Atualmente Miyake dedica-se à investigação na Fundação Issey Miyake, pesquisa novos materiais e novas técnicas de vestuário e embalagens. Entregou as suas coleções a talentosos designers que continuam o trabalho deixado por Issey, embora este ainda tenha presença sutil nas suas linhas. O império Issey Miyake tornou-se uma multinacional multimilionária que vende vestuário, perfumes, entre muitos outros, combinando o oriental com elementos ocidentais, um império comercial. As suas lojas estão espalhadas pelas principais capitais do mundo. O objetivo desta fundação consiste não só em preservar os arquivos, mas também apoiar e patrocinar novos talentos. Desde 2007, a fundação também se ocupa do 21_21 DESIGN SIGHT, materializando o sonho de Issey: criar um espaço/museu no Japão dedicado a todas as formas de Design. 2.4 – Yohji Yamamoto – poesia encenada a preto Nascido em 1943, este mestre japonês da arte de cortar e grande arquiteto do vestuário põe em questão a estrutura e a postura do traje em cada uma de suas coleções. Distancia-se do estilo sexy da mulher fatal. Propõe uma mulher casta, reservada, exibindo uma neutralidade de fachada. A mulher, segundo Yamamoto, somente se revela pouco a pouco. O estilista diz que suas roupas são “atemporais” e sem uma característica nacional típica definida, apesar dos críticos continuarem a chamá-las de “japonesas”. É difícil mesmo rotular essas roupas, já que nelas se encontram características que pode-se chamar de “opostas”, mas que formam um design único. Essa roupa passa a impressão de velha e nova ao mesmo tempo, tradicional e vanguardista e com algo que sim, nos remete ao Japão, mas talvez seja preciso um olhar mais atento para se dar conta. A roupa tradicional japonesa se mostra bem diferente do que tem sido usado no ocidente desde os primórdios da idade média: enquanto a roupa europeia se ajusta e marca o corpo, as roupas japonesas dão mais espaço entre tecido e pele. Yohji sintetiza as transformações sofridas pelo Japão desde os primórdios da sua história política e social. Apesar de tantas mudanças, o país ainda apresenta um isolamento em termos de preservação da família e religião tradicional. Principalmente tendo como influência a roupa que vem desde a restauração Meiji passando por nossa era contemporânea, o estilista também vai além e mostra o futuro em suas peças: seu estilo é único e sua roupa sempre está à frente de seu tempo. Tempo que talvez não exista, o que confirma as palavras do próprio quando diz que suas peças são atemporais. Mesmo novas, elas trazem uma sensação de uso prévio e história, porém também são futuristas, pois não se encaixam em nosso tempo e em nenhum tempo passado. Dessa forma, sua marca vai além da moda e não segue tendências, se é que é possível. A prova disso é que a mesma roupa de 1981 não se mostra antiga perto de uma de 2013. Um leigo não saberia dizer qual veio antes e qual veio depois se não conhecer o trabalho do estilista. Apesar de sua roupa ser tão avançada, a influência japonesa é evidente quando se estuda a indumentária do país: como já foi dito, o espaço entre o tecido e a pele de quem veste, as formas soltas dadas às peças, além de técnicas de tingimento tipicamente japonesas como yuzen e shibori. Muitas peças e seus looks com várias camadas de tecido também remetem ao Japão feudal. Quando se conhece melhor as peças de Yamamoto, também fica evidente seu interesse pelos materiais, maior do que o da própria forma dada à roupa; o primeiro deve dizer como o segundo deve ser. Como o próprio estilista disse: “O tecido é tudo. Ocasionalmente digo aos meus modelistas: Apenas ouça o material. O que ele vai dizer? Apenas espere. Provavelmente o material te ensinará algo.”. A silhueta, as camadas de tecido, materiais e técnicas de tingimento que nos remetem ao Japão tradicional, trazem também uma severidade e melancolia as quais podem ser associadas, segundo o estilista, à Tóquio destruída depois de bombardeada durante a Segunda Guerra, onde ele nasceu e afirma que talvez essa seja sua raiz. A estética revolucionária que Yohji passou a apresentar em seus desfiles para o mundo, desde 1981, era desagradável, mas trouxe um mistério e uma nova sensualidade, muito diferente do que se via na época. Uma mulher andrógina, de camisas e calças largas, mas que transmitia sua sensualidade por estar tão confortável em si mesma. “Acredito que ajustar as roupas de forma apertada em um corpo feminino é para o divertimento do homem…não me parece nobre. Também não é educado mostrar muito às outras pessoas.” Yohji Yamamoto Ainda assim, havia a própria característica andrógina e destruída, mas ao mesmo tempo elegante que se manteve fiel a Yohji. Mesmo essa estética tendo sido engolida pela moda, a marca Yohji Yamamoto sempre esteve além de seu tempo. Toda a vanguarda e tradicionalismo de Yamamoto se relaciona com a tradicional cultura japonesa de valorizar e firmar suas raízes com a sede de avanço para o futuro. 3 - A moda nos anos 80 Os anos 80 foram caracterizados pelo exagero e pela ostentação. Foi nesta época que o jeans alcançou o seu ápice, ganhando status. E os shoppings tornaram- se o paraíso dos consumistas. Nesta época não bastavaser bem-sucedido e bem- vestido, mas sim ter um corpo bonito e saudável. Influenciando as roupas, o espírito esportivo levou o moletom e a calça fuseaux para fora das academias e consagrou o tênis como calçado para toda hora. Ele também fez ressurgir a moda de calçados baixos, como os mocassins, tanto multicoloridos como clássico. A cartela de cores era vibrante, prezando por tons fortes e fluorescentes, com jogos de tons e contrastes. A modelagem era ampla. As mulheres, que nesse momento ingressaram maciçamente no mercado de trabalho à procura por cargos de chefia, adotaram o visual masculino. Cintura alta e ombros marcados por ombreiras era a silhueta de toda a década, ao lado de pregas e drapeados para a noite ou dia. A moda masculina seguiu o mesmo estilo, com ternos folgados e calças largas. Para os acessórios, tamanho era sinônimo de atualidade. A música se consagrou como formadora de opinião e estilo, levando ao estrelato cantoras como Madonna, que influenciou a sociedade com seu estilo livre e despudorado. O Punk, New Age e Break também merecem destaque. Os anos 80 foi marcado por várias influências e muitos contrastes. Os opostos passam a conviver juntos em harmonia e a moda no centro de tudo. A moda vive seu grande momento, não era a sociedade de consumo e sim, a moda celebrada como sociedade do espetáculo. Inicia a febre da música disco. Surgem as tribos urbanas, além de várias identidades, inúmeros grupos, múltiplas opções, mas todos mantendo fidelidade as suas convicções e suas estéticas. Os punks continuaram firmes nas suas convicções, tinham toda aquela energia voltada para a provocação, a ironia e o deboche. Na Inglaterra, os problemas econômicos e sociais serviram de base de sustentação para que o punk assumisse uma vertente bem mais crítica e agressiva. Nas terras da rainha, surgiu a banda Sex Pistols como uma eficiente representação dessa nova situação que o punk assumiu. A banda vai se tornar não apenas a grande divulgadora do estilo, mas uma das maiores bandas da história do rock, sedimentando o punk como um movimento cultural e estético que vai influenciar a contemporaneidade. Na sequência surgiram os góticos, que, no Brasil, eram denominados de darks (escuro, em inglês), trazendo à moda um aspecto de romantismo associado a aspectos religiosos e à questão existencial. As maquiagens góticas, em sua grande parte fazem alusão a vampiros, desenhos ou demônios e são mais usadas em sua essência em festas góticas ou encontros. Um visual Dark é basicamente composto de batom vermelho, olhos bem pretos e esfumados e um delineado com grandes marcações. E o melhor deste look é que pode ser usado de forma permanente ou somente por uma noite ou ocasião. Os homens também aderem à maquiagem Dark ou gótica, entretanto normalmente não utilizam os batons. Os adeptos desta tribo se manifestavam visualmente em preto total nas suas roupas, independente da estação do ano. Aspectos de palidez, cabelos negros, além da maquiagem identificaram os góticos. Nesta mesma década, teve-se também reflexo na moda vinda do mercado financeiro, este em pleno desenvolvimento. Foi a moda dos yuppies (Young Urban Profissional Persons, ou jovens profissionais urbanos). Esses jovens profissionais, que estavam muito bem posicionados financeiramente falando, tinham uma identidade particular ao se vestirem de maneira correta e arrumadinha, todavia, privilegiando o que era chique e sofisticado naquele momento. Roupas de linho ou crepe passaram a ser as queridinhas pelos dois sexos, e estar sempre bem-vestido era indispensável, deixando claro em seus visuais uma excessiva preocupação de gastos em roupas e acessórios para refletir a boa condição econômica dos adeptos. O grande referencial dos Yuppies veio da Itália, o estilista Giorgio Armani era símbolo de elegância e refinamento, principalmente na moda masculina. Paradoxalmente a tudo isso, surge também uma grande tendência: as academias de ginástica. O culto ao corpo, a pele bronzeada, uma vida mais saudável faz da moda esportiva uma grande referência da década. Roupas justas ao corpo e normalmente coloridas trazem um astral alegre. Surge a segunda pele, peça denominada assim por ter um tecido muito fino. Polainas, lenços enrolados sobre a testa, uso excessivo da lycra, além de collant com cava bem alta passaram a fazer parte do dia-a-dia. O disco glitter, ou seja, a música disco reinava nas grandes metrópoles, a discoteca do final dos anos 70 ainda reinava absoluta. Vale ressaltar, que em todas essas manifestações dessas diferentes linguagens, a moda era desenhada para ambos os sexos, com pequenas peculiaridades, não distinguiam o que era masculino do que pertencia ao feminino. No final dos anos 80 e início dos anos 90, a alta-costura francesa passa por uma grande crise e reestruturação financeira. Grandes grupos assumem o controle de várias maisons, e muito funcionários e diretores criativos de qualidade são dispensados de suas funções. As maisons de Yves Saint Lauren e Pierre Cardin continuam sólidas, mas outros criadores desistiram de manter suas casas de alta-costura, como Courrèges, Jean Patou e Lanvin. Aqueles que sobreviveram à crise criaram linhas paralelas de prêt-à-porter de luxo, com altos preços. Além disso, dedicaram-se a outros mercados, como acessórios, perfumes e linhas de cosméticos. Todos esses novos segmentos garantem o faturamento e manutenção das casas de alta-costura. Outras expandem nas linhas de cama e banho, além da decoração de interiores. O prêt-à-porter passa a ser o grande responsável pela propagação de moda e gerador financeiro, e as inovações tecnológicas ajudaram a produção em massa ter boa qualidade e preços mais acessíveis. Também, o prêt-à-porter conquistou um mercado de US$50 bilhões na Europa e na Ásia, o que atraiu os estilistas americanos. Filiais na Inglaterra e Japão foram abertas. Muitos europeus, asiáticos e latino-americanos viajam para Nova Iorque para comprar roupas mais baratas e distribuí-las em seus países. O look americano cada vez chama mais atenção no mundo da moda. Destacam-se Ralf Lauren, Calvin Klein, Bill Blass, Donna Karan e Michael Kors. Enquanto os desfiles de alta-costura apresentam roupas de uso quase impossível, os estilistas do prêt-à-porter realizam uma moda prática, simplificada e com personalidade. A década de 80 se caracterizou pela febre dos shoppings, onde se instalaram lojas e, muitas delas, dedicadas aos jovens com roupas esportivas, para surfar e andar de skate. Lojas de departamentos também fazem parte da história da moda do período. O jeans permanece em alta e recebe tratamento especial nas butiques. Ao algodão mistura-se a lycra e os modelos são justinhos. Para acompanhar, os collants, hoje conhecidos como bodies. Os joggings eram usados em todas as ocasiões, assim como outras roupas esportivas de moletom, lycra, jérsei, náilon, tactel e neoprene. Começa-se a usar leggings e bermudas de ciclistas. Com isso, muda-se o hábito de sair para comprar, especialmente a roupa. A vitrine passa a ser um diferencial, a vizinhança com muitos concorrentes aumenta a necessidade de sempre estar atualizada e de ser diferente. O DESCONSTRUTIVISMO E OS ESTILISTAS DA ESCOLA BELGA | A MODA NA DÉCADA DE 1990. 1 - O Desconstrutivismo na moda O desconstrutivismo surge como uma estratégia originária do filósofo do século XX, Jacques Derrida, a qual tem como base desierarquizar o formato dos conceitos. O mesmo tem sua origem na literatura, mas seus conceitos foram traduzidos a diversas áreas, como cinema, arquitetura e design. No âmbito da moda, a prática desconstrutivista surgiu na década de 1980, influenciada pelo minimalismo na sua própria forma de arte e cultura, por meio do trabalho de estilistas como Martin Margiela, Yohji Yamamoto, Rei Kawakubo – à frente da marca Comme des Garçons–, Issey Miyake e, no Brasil, Jum Nakao com o icônico desfile “A Costura do Invisível” em 2004. O desconstrutivismo foi uma desconstrução para um novo construir, uma espécie de evolução da reciclagem em voga no final dos anos 80; do ponto de vista comercial e popular, esse conceito se transformou em bainha e overlock aparente. A moda desconstrutivista consiste num movimento que buscou transformar a moda tradicional como era conhecida até então, apropriando-se das características da desconstrução proposta por Derrida, a fim de questionar convenções do sistema da moda, principalmente acerca da relação corpo x roupa. Segundo Fogg (2013), na moda a desconstrução surge com o objetivo de deixar à mostra certas partes da peça que normalmente estão ao lado avesso, como pences, alinhavos, forros. Isto parte do conceito do jogo literário da desconstrução, bem como a inversão, deslocamento e dissolução de estruturas e conceitos. Utiliza-se técnicas advindas da reciclagem, com o uso de materiais inusitados e reaproveitamento de peças e objetos de diferentes segmentos e, com finalidades distintas daquelas na qual serão utilizadas, ao invés do uso de componentes habituais, “O mais importante elemento da moda desconstrutivista é chamar atenção para a construção de uma peça” (FOGG, 2013, p. 498). Outros elementos, como a decomposição e a desintegração, são citados pelo autor como características para a desconstrução na moda. Dessa forma, a moda procura se apropriar do desconstrutivismo para mostrar o processo pelo qual a peça passou até chegar ao resultado final, como é visto nas passarelas, mostrando não apenas a peça pronta, mas sim o processo produtivo por trás da construção dela, “o ato de brincar com as convenções que regem a produção e o consumo da moda e de subvertê-las é outra expressão generalizada do desconstrutivismo” (FOGG, 2013, p. 501). A moda possui convenções, costumes e conceitos binários, a desconstrução surge a fim de descosturá-los e confrontar certas relações. Como movimento, a moda desconstrutivista chegou a ser descrita como pós- punk, grunge, ou até anti-moda durante a década de 1980. Porém, logo se percebeu que ela não consiste apenas na destruição de uma peça, mas sim em uma análise mais profunda e intelectual sobre as relações entre a roupa e o corpo, por meio do pensamento crítico e da condição moderna. A moda italiana ganhou muita importância, principalmente com Gianni Versace que tornou ícone de moda mundial com seus dourados, suas estampas arrojadas e muita sensualidade. Moschino, com sua irreverência e bom humor fez uma moda que ganha muita atenção. Já a moda norte americana se mantém básica e prática, tendo uma visão comercial onde a qualidade em alta escala se mantém competitiva, inclusive seus lançamentos antecipam a dos europeus. As casas de luxo se rejuvenescem contratando nomes novos e importantes para se tornarem seus diretores criativos, contratavam novos talentos e com isso, as casas de alta- costura ganham nova posição de prestigio. A década é de antagonismos convivendo juntos: oriental x ocidental; masculino X feminino; sintético X natural; exótico x belo; caro x barato. Mas a imagem passa a ser mais importante que o próprio produto. Vender um conceito era o mais importante. A moda se torna ainda mais sinal de prestígio e status social. 2 - Estilistas da Escola Belga No fim dos anos 80 surge a revolução Belga. Conhecidos como os seis da Antuérpia, Walter Van Beirendonck, Dirk Bikkembergs, Marina Yee, Dirk Van Saene, Ann Demeulemeester e Dries Van Noten, traziam consigo uma atitude inteiramente nova, decidida e perfeccionista. E apesar da mesma formação na Academia Real da Antuérpia, seus estilos eram individuais e se mantiveram distintos e variados. A Bélgica é um importante berço de estilistas que revolucionam a moda internacional com uma rebeldia minimalista, desconstruída e precisa. Esses designers foram chamados de “Antwerp Six” e mais tarde “6 +” com a junção de Margiela. Se graduaram no Departamento de Moda da Academia da Artuérpia em 1980, 1981 e 1982, sendo considerados uma força revolucionária. Foram esses designers que colocaram a Bélgica no mapa da moda. Começaram a desfilar primeiramente em Londres, e mais tarde na França, onde apresentavam seu estilo modernista e a frente de seu tempo. De acordo com Jones (2005, p. 47) “os estilistas belgas lembram os japoneses do ponto de vista de sua afinidade com uma abordagem pós-moderna e conceitual das roupas e da preferência pelo preto.” Não somente os designers citados acima formam os expoentes belgas da moda. Hoje nomes como Raf Simons e Kris Van Assche, ambos formados na Academia Real da Antuérpia, dirigem a criação da Dior e Dior Homme, respectivamente. Também, pode-se citar Veronique Branquinho, Haider Ackerman e Peter Piloto, como uma nova geração de designers oriundos da escola belga e que se consagram no mundo da moda. 2.1 – Martin Margiela Nascido em 1959, estudou na Academia Real da Antuérpia e fez parte da primeira geração que colocou a cidade no mapa da moda. Foi assistente de Jean Paul Gaultier e apresentou sua primeira coleção em Paris em 1988. Coleção esta marcada pelo desconstrutivismo. É considerado um dos estilistas mais influentes e iconoclastas dos últimos tempos. Ao contrário da maioria dos designers, Martin Margiela, criou um culto pela impersonalidade, o que podia ser visto em seu comportamento recluso, ou até mesmo em suas criações, sempre com os rostos cobertos, e até mesmo na etiqueta de suas peças que vêm em branco. Outra característica marcante de Margiela pode ser apresentada pelo efeito de inacabado. As linhas e marcações, que comumente ficam dentro da peça, o designer acaba expondo em muitas de suas coleções. Sem dúvida Margiela provoca questionamentos. Ao desconstruir a moda de tal maneira, ele acaba questionando a própria, bem como a arte, o mercado, e outros tantos alicerces que fazem desse fenômeno o que ele é hoje. O designer caminha no sentido contrário das grandes grifes, e é ouvido. A Maison que subverteu a moda e continua no processo incessante de reapresentação da mesma, se firmou como expoente da moda contemporânea. Margiela abre caminho para outros tantos designers, que assim como ele, são inquietos. 2.2 – Walter Van Beirendonck Walter Van Beirendonck é hoje coordenador do curso de moda da Academia Real da Antuérpia, Walter apresentou criações irreverentes, e por vezes excêntricas. Ele já foi fotografado vestido de dragão e com um sapo em sua cabeça raspada. No entanto, suas criações, com toda certeza, se sobressaem diante a esses fatos. Como designer, incorporou desenhos gráficos marcantes na moda masculina, mensagens diretas e cores berrantes. O que, rotineiramente, é difícil de ser visto, principalmente no que diz respeito a parcela masculina da moda. Nas últimas coleções do designer pode-se perceber o rumo a alfaiataria, sempre mantendo uma relação íntima com a arte, apresenta peças muito bem acabadas. 2.3 – Raf Simons Raf Simons nasceu em 1968 e possui um talento incontestável, tanto que mesmo com sua estética contemporânea, assumiu a direção criativa da Dior, uma das grifes mais tradicionais do mundo da moda. Raf cursou design industrial em Genk, na Bélgica, mas sempre teve gosto pela moda. Fato que o levou a fazer um estágio com Walter Van Beirendonck. Mas foi somente mais tarde, quando conheceu Linda Loppa, diretora do departamento de moda da Academia Real da Antuérpia que decidiu mudar de carreira. Simons apresentou em suas coleções uma relação interessante do vestuário masculino, entre suas referências clássicas e a cultura jovem e rebelde. A música gótica, Kraftwerk, e arquitetura Bauhaus também serviram de influencia. Raf imprimiu seu estilo na moda contemporânea. 3 – A moda nos anos 90 Nos anos 90 vários fatores se alteram e transformam a forma de viver de várias sociedades. A Guerradeclarada pelos Estados unidos ao Golfo assistida pela televisão do mundo inteiro, as economias do mercado americano e asiático crescendo de forma vertiginosa, a AIDS se alastrando rapidamente, contribuem para essas mudanças. A informática avança rapidamente e integra o mundo de forma espantosa criando a chamada aldeia global. Até a metade da década de 90, o exagero dos anos anteriores ainda influenciava a moda. Foram lançados, por exemplo, os jeans coloridos e as blusas segunda-pele, que colocavam a lingerie em evidência. Isso alavancou a moda íntima, que criou peças para serem usadas à mostra, com novos materiais e cores. Pode-se destacar como tendência da década, as jardineiras e salopettes; tubinhos, calças fuseaux com blusas de liganete, assim como camisas com personalidades e personagens de desenhos animados; parkas; e vestidos justinhos. A calça baggye e semi-baggy tornaram-se febre. O jeans colorido, jaquetas, shorts ou jardineira continuam a ser a peça chave do vestuário informal. T-shirts, as blusas baby look e segunda pele seguiram pelo mesmo caminho. A roupa de trabalho ganha mais flexibilidade, no entanto, para secretárias, executivas e mulheres com cargos de destaque, se mantinha blazer, saia e blusa, assim como os conjuntos de calça comprida, vestidos de malha justa com cinto, saias mídi e vestidos com estampado floral, já no final da década, o blazer podia ser substituído pelo cardigã. No final da década, os saltos engrossaram, voltaram as plataformas, sapatos bicolores. As meias de cor foram muito usadas, principalmente meias finas escuras. No campo da moda temos a indústria do high-tech (de alta tecnologia). A indumentária ocidental caracteriza-se pela multiplicidade de tendências. A simplicidade das roupas e o interesse pela praticidade se acentuam. A sensualidade é realçada e as formas aerodinâmicas das roupas esportivas se impõem. Chega ao fim a ditatura dos estilos. Nesta década os objetivos da moda era ser prática, leve, versátil e colorida. Apesar da economia americana apresentar um ótimo período, os americanos passam a ser mais comedidos nos gastos e as grandes lojas de departamentos se preocupam com a classe média promovendo liquidações diminuindo os preços. As roupas de passarela vão para as lojas com preços acessíveis. Agora não são mais as atrizes que divulgam a moda e, sim, as estrelas da música, como Madonna. A dance music facilitou os movimentos com uma roupa folgada e larga, e também tiveram tops e bustiês. A televisão passa a ser a grande influenciadora dos jovens que copiam a moda dos ídolos do funk e do rap, com bonés virados para trás e muitos cordões dourados. Na cultura jovem, o grunge foi a grande influência, assim como os skatistas. Essa é uma década marcada pela diversidade de estilos que convivem harmoniosamente. A moda seguiu cada uma dessas tendências, produzindo peças para cada tipo de consumidor e para todas as ocasiões. Entretanto, vale à pena ressaltar o grunge, que impulsionado pelo rock, influenciou a moda e o comportamento dos adolescentes com seu estilo despojado de calças/ bermudões largos e camisas xadrez da região de Seattle, berço destes músicos. A camisa xadrez, aliás, foi uma verdadeira tendência presente mesmo nos armários dos rapazes mais tradicionais, os mauricinhos. Numa outra esfera, os clubbers vieram para colorir. Vestiam-se com cores, modelagens modernas, tecidos metalizados e calçados futuristas. Também nos Estados Unidos vêm vários modelos de roupas retrôs usadas de forma inovadora. Outras criações são roupas de strech, cotton, lycra e novas fibras sintéticas. Limpando os excessos visuais, a década de 90 apresenta o minimalismo, influenciado pelo japonismo criado por Yohji Yamamoto e Comme des Garçons. Tons escuros e pastel imperaram, aliados a modelagens mais soltas. As cores, mesmo em menor intensidade, continuaram presentes durante toda a década. A preocupação ecológica ganhou status e fez com que países e populações se atentassem a ser conscientes. As propagandas passaram a agregar esses valores a seus produtos, de forma a atingir os consumidores que buscavam muito mais do que preços e novidades. Campanhas de combate as peles e couros se intensificam e começam a ser substituídas por produtos sintéticos. O grupo Greenpeace faz campanhas e jogam spray em casacos, sapatos e bolsas de pele animal no mundo inteiro. Também, as indústrias de cosméticos foram pressionadas a não fazer testes em animais vivos. Com isso, houve uma grande revolução com a produção das fibras sintéticas e semi- sintéticas. Eram resistentes, versáteis e baratas, assim não dependiam dos recursos da natureza. O grande destaque é a microfibra, que é maleável, durável, dispensa o ferro de passar e pode ser reproduzida em várias cores, tem maciez e bom caimento. A gama de tecidos é extensa, e muitos são usados na área de roupas de lazer. Tecidos ricos foram revalorizados à noite, enquanto de dia preferiu-se o linho, as malhas, alguns tipos de crepe e as microfibras. Já na indumentária masculina, o terno continua sendo a indumentária oficial, mas ganhou formas e cortes com pequenas alterações. Nos anos 90 predominaram os paletós de três botões com ombros menos volumosos. Mas as gravatas ganharam estampas originais (florais e super coloridas) podiam ter rabiscos abstratos, desenhos geométricos e outros motivos animados. Os coletes também tiveram destaque e muitas vezes, a noite era uma peça para descontrair o visual. As calças esporte fino tinham pregas junto a cintura, já as camisas tinham no xadrez um forte aliado. A moda descontraída ganhou o estilo destroy (destruidor), com camisas rasgadas em pontos estratégicos, tecidos coloridos, calças ou bermudas em jeans coloridos e descosturados na boca. Nesta década, as expressões mauricinho e patricinhas, principalmente no Brasil determinavam as pessoas que tinham um estilo mais arrumadinho. Na segunda metade da década, há um revival de décadas passadas, a moda passou a buscar referências nas décadas anteriores, fazendo releituras dos anos 60 (cores claras, tiaras) e em seguida dos 70 (plataformas, tamancos e modelos fechados, geralmente desproporcionais), tudo mesclado a modismos dos anos correntes. O culto ao vintage, a popularização de bandas de estilo folk, que resgatou o uso dos xadrezes e os tecidos tecnológicos. O comportamento social sofreu mudanças. Numa super valorização do corpo masculino, surgiu a estética gay sobre a moda masculina. Disfarçada com a expressão “metrossexualidade”, o grande ícone foi o jogador de futebol David Beckham. A MODA E OS CRIADORES CONTEMPORÂNEOS. 1 – Anos 2000 A seqüência de releituras que começou no final dos anos 90 não foi interrompida. O ano 2000 e 2001 trouxeram os anos 80, com pitadas dos anos 50 para as vitrines de todo o mundo. Sem mais décadas anteriores para buscar referências, a moda encontra-se em um beco sem saída. A busca pelo novo é uma tendência da atualidade, e é justamente por isso que a todo o momento são realizados concursos de moda, visando descobrir novos talentos. Para criadores não poderia haver melhor oportunidade para mostrar sua capacidade. Com um consumidor que deseja novidades, mesmo lojistas de diversos tamanhos encontram mais espaço para criar. O escândalo na moda do século XX nunca deixou de ganhar visibilidade. Provavelmente, é também graças a esta nova visibilidade que o escândalo passou a ter uma maior dimensão na moda: a anorexia, por exemplo, é, dentre os debates ligados à área, um dos mais ativos na esfera pública, assim como o racismo na seleção de modelos e a objetificação dos corpos das mulheres. O escândalo parece necessário aos criadores contemporâneos. Diante da multiplicação dos cenários da moda, o escândalo é utilizado por eles para se diferenciarem uns dos outros. Ao lado dos desfiles que chamam atenção, coleções são desenhadas e produzidas para serem vendidas. Noentanto, sempre será necessário lidar com a força de transgressão do imaginário dos criadores e as flutuações morais da sociedade. Os criadores sempre encontrarão novas formas de serem escandalosos. A moda certamente dá suporte ao vestuário, mas ela não é somente a roupa visível, ela é composta também por elementos invisíveis que a ela são incorporados, de acordo com valores culturais e religiosos, que, inclusive, podem limitá-la. O excesso vivenciado pelo consumo e pela moda fazem parte da era contemporânea que supervaloriza a informação e a imagem. Verdades são manipuladas em meios de comunicação instantâneos, como a internet, construindo realidades através de imagens. Estamos vivenciando a era do “hiperconsumo”, uma fase da história da humanidade industrializada e consumista que seria regida por valores de extremo individualismo e hedonismo. Neste contexto, as pessoas passam a possuir um desejo profundo de consumir impulsionadas por uma busca de bem estar, conforto e sensações de prazer, os quais se estenderiam também para o universo das relações pessoais, da saúde, dos esportes, da gastronomia, e da moda. O “novo“ consumidor se sente estimulado pela busca de sensações através do consumo e não em manter-se fiel a uma única marca ou produto, gerando um mercado altamente produtor de novidades e com muita rotatividade. Assim, a lógica cíclica de sedução da moda teria atingido todas as esferas do consumo. Vivemos hoje grandes paradoxos como as relações hiperconsumo x ecologia, hiper- realidade x hedonismo exacerbado. A constatação concreta dos danos causados ao planeta por poucos séculos de industrialização gera uma urgência ecológica que decai sobre os ombros dos consumidores, assim o hiperconsumo precisar tornar-se “consumo-consciente”. É comum o uso do termo “fast fashion” para designar as condições aceleradas em que o sistema da moda funciona na contemporaneidade. Hoje em dia, uma coleção acaba assim que a modelo pisa na passarela. A reprodução em tempo real das imagens traz facilidade de acesso à indústria das cópias e piratarias, enfraquecendo o valor de autenticidade de um produto. Na moda contemporânea não é possível identificar um único estilo, encaixar pessoas em rótulos ou tribos apenas pelo que estão usando, cada um apropria-se das ofertas disponíveis, que são muitas, de forma bastante pessoal e mutante. “A moda contemporânea estimula a metamorfose e a descoberta de imagens pessoais que podem se modificar na próxima estação, no dia seguinte ou logo mais à noite.” (MESQUITA. 2004, p.42). Em sua origem e desenvolvimento histórico, o trabalho do estilista contou com um glamour, sendo assimilado a uma condição de artista, de grande criador que poderia imprimir a força de sua personalidade em suas criações. Diante da sociedade atual, o tempo de criação e desenvolvimento de uma coleção de moda também passa a ser reduzido. Além disso, a permanência de uma idéia, de uma criação, condicionada pela sua reprodução e sobrevivência nos meios de comunicação, torna-se uma espécie de destruição criativa. Além da condição de efemeridade levada a extremos e vivenciada também nos processos criativos, a moda contemporânea aponta para o uso de novas tecnologias, que reúne experimentos em moda que utilizam novos materiais e tecnologias de forma a demonstrar como a tecnologia pode ser incorporada no dia-a-dia do vestuário. Outra importante questão a ser considerada na contemporaneidade é a produção ecológica de produtos de moda. Tecidos naturais, fibras de origem reciclada, tingimentos não agressores, reaproveitamento de matérias-primas, valorização de materiais locais e uso de mão de obra de terceiro setor encontram-se como questões latentes entre as marcas e indústrias têxteis. É muito difícil imaginar como a moda conseguirá ser sustentável. Muito além do “eco- fashion”, do uso de materiais ecologicamente corretos e uso racionalizado de recursos, está a cultura do hiperconsumo efetivando cada vez mais o consumo acelerado. A desaceleração dos ciclos de consumo em moda talvez possa se dar a partir de propostas isoladas de criadores como o lançamento de coleções em intervalos de tempo maiores e no uso de materiais mais duradouros. Porém, a moda não está desvinculada do contexto social e cultural, assumindo não somente o papel de reflexo, como também de “radar” social do hiperconsumo. REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO BAUDRILLSRD, J. O sistema dos objetos. São Paulo: Perspectiva, 1973. BARTHES, Roland. Sistema da Moda. Lisboa, Ed. 70, s/d. BETTON, Gérard. Estética do cinema. São Paulo. 1987. CALDAS, Dário. Universo da Moda. São Paulo: Ed. Anhembi-Morumbi, 1999. COLERIDGE, Samuel Taylor. Biographia Literária. 1817. COSTA, Francisco Araujo Da. O figurino como elemento essencial da narrativa. Porto Alegre. 2002. COUTO, ita Maria. Formas do Design; por uma metodologia interdisciplinar. Rio de Janeiro: 2AB, 1999. ECO, Umberto. Psicologia do vestir. EMBACHER, Airton. Moda e Identidade: A construção de um estilo próprio. 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