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regime geral de previdencia social

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DEFINIÇÃO
Benefícios previstos no Regime Geral de Previdência Social (RGPS). Diferentes modalidades de aposentadoria e benefícios por incapacidade concedidos pelo INSS e requisitos necessários para sua concessão. Processos administrativo e judicial que instrumentalizam o Direito Previdenciário. Tipos penais relacionados ao sistema previdenciário.
PROPÓSITO
Entender o funcionamento do RGPS, um aspecto fundamental para bom planejamento (visão programática para obtenção de benefícios futuros) e para a salvaguarda de direitos no caso de infortúnios que possam levar à situação de incapacidade laborativa.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar os principais benefícios previstos no Regime Geral de Previdência Social
MÓDULO 2
Descrever os processos administrativo, judicial e previdenciário
MÓDULO 3
Reconhecer os principais crimes previdenciários
INTRODUÇÃO
Diante das inúmeras possibilidades vivenciadas por alguém ao longo da vida laborativa, é importante conhecer o sistema de proteção social oferecido pelo Regime Geral da Previdência Social (RGPS), um dos maiores sistemas do mundo, que prevê as espécies de benefícios disponibilizados para a maioria dos trabalhadores brasileiros. Todos os que estão vinculados à iniciativa privada (e mesmo alguns detentores de cargos públicos) têm, de alguma forma, interesse e possibilidade de vinculação ao RGPS e de auferir suas benesses.
Questões relacionadas à parte instrumental processual também têm sua relevância, pois a demanda por um benefício previdenciário deverá enfrentar a via administrativa e, a depender do resultado, também a via judicial. Em ambos os casos, normas processuais definirão a condução do processo de concessão e revisão de benefícios; logo, conhecê-las poderá ser essencial na tarefa de provar o direito buscado.
Além disso, uma incursão no campo da tutela penal do sistema previdenciário evidencia aquilo que o legislador elegeu como conjunto de condutas essencialmente reprováveis, que deverão ser objeto de persecução, prevenção e punição para que o sistema opere da forma mais regular possível.
Sobre esses aspectos do Direito Previdenciário (benefícios em espécie, questões processuais e tutela penal), nós nos debruçaremos, ao longo deste tema, valendo-nos da legislação específica e de aportes encontrados na obra Manual de Direito Previdenciário (CASTRO & LAZZARI, 2018) e nos livros Direito Previdenciário (ABREU, 2016) e Prática Previdenciária (OLIVEIRA, 2016).
MÓDULO 1
Identificar os principais benefícios previstos
no Regime Geral de Previdência Social
Neste módulo, nosso objetivo será conhecer os benefícios em espécie, identificando os requisitos necessários à fruição de cada uma das benesses oferecidas pelo sistema. Vamos responder a perguntas como:
· Quais espécies de aposentadoria existem?
· Quais são as diferenças entre elas?
· Que benefícios não programados estão previstos?
· Qual é a influência da Reforma da Previdência de 2019 no RGPS?
Começaremos pela Aposentadoria por Tempo de Contribuição.
APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO (ATC)
Na própria nomenclatura desta espécie de aposentadoria, insere-se uma ideia que adveio de uma mudança de perspectiva previdenciária introduzida pela Emenda Constitucional (EC) 20/1998: tempo de serviço x tempo de contribuição. Até a EC 20/98, o sistema era voltado para a garantia de uma aposentadoria após certo tempo de serviço de seus segurados. Todavia, com a necessidade de promover um equilíbrio entre receitas e despesas, o paradigma começou a transformar-se em direção a uma nova ideia: aposentadoria após certo tempo de contribuição.
A ideia inicial já na EC 20/1998 era acumular tempo de contribuição e idade. Porém, não houve aprovação do congresso à época. Para compensar, o resultado foi a criação do Fator Previdenciário pela Lei 9.876/99, cuja jurisprudência dominante (inclusive STF) entende como constitucional.
Quais eram os requisitos (antes da EC 103/2019)?
1) 35 anos de contribuição [serviço?] para homens / 30 anos de contribuição [serviço?] para mulheres.
Serviço
A questão do Tempo de Contribuição x Tempo de Serviço é colocada com interrogação, porque o que se vê é uma transição que se dá ao longo do tempo.
2) Carência de 180 meses de contribuição.
A eventual perda da qualidade de segurado não influencia na concessão de aposentadorias, exceto a por invalidez (art. 3º e seu § 1º da Lei 10.666/03). Isso significa que, se a pessoa completou os requisitos de contribuição numa época e veio a completar a idade depois, quando não tinha mais qualidade de segurado, será concedida a aposentadoria.
Com as mudanças advindas da Reforma Constitucional de 2019 (EC 103/19), foi implementado o que não tinha sido aprovado na EC/1998 (idade mínima), ou seja, 65 anos de idade para homens e 62 anos de idade para mulheres. A carência passa a ser de 240 contribuições para homens e é mantida em 180 contribuições para mulheres.
Autor: goodluz / Fonte:Shutterstock
Na prática, com a Reforma da Previdência de 2019, deixam de existir modalidades diferenciadas de aposentadoria por tempo de contribuição (ATC), gerando uma modalidade de aposentadoria única com critérios de idade e carência, semelhante à antiga APID, aumentando-se a idade mínima da mulher de 60 para 62 e as contribuições do homem de 180 para 240.
Para quem já estava no sistema em 12/11/2019 (dia anterior à publicação da EC 103/2019), há regras de transição previstas na Reforma da Previdência.
1.1 REGRAS DE TRANSIÇÃO
1
Sistema de Pontos [art. 15] (os pontos equivalem à soma: idade + tempo de contribuição): precisa completar 96 pontos (homem) e 86 pontos (mulher) em 2019 mais 1 ponto a cada ano a partir de 01/2020 até 105 pontos para homens (que ocorrerá no ano de 2028) e 100 pontos para mulheres (no ano de 2033). Deve haver o mínimo de 35 anos de contribuição para homens e de 30 anos para mulher.
2
Acréscimo Progressivo de Idade [art.16]: mantendo-se 30 anos de contribuição para mulheres e 35 anos de contribuição para homens, exige-se idade mínima: 61 (homens) e 56 (mulheres) em 2019 mais 6 meses a cada ano a partir de 2020 até atingir 65 anos para homens (ano de 2027) e 62 anos para mulheres (ano de 2031).
3
Pedágio de 50% para quem está faltando até 2 anos para completar o tempo de contribuição no momento da promulgação da emenda [art. 17]: sem idade mínima, mas cumprindo pedágio de mais 50% do tempo que falta até 35 anos para homens e 30 anos para mulheres.
4
Pedágio de 100%, aplicável independentemente de quanto tempo de contribuição estava faltando no momento da promulgação da emenda [art. 20]: idade mínima de 60 anos para homens e 57 anos para mulheres, cumprindo pedágio de 100% do tempo que faltava para atingir os 35 anos para homens e 30 anos para mulheres.
ATENÇÃO
Observações sobre as regras de transição: A) Nas regras de transição 1 e 2, aplica-se a nova regra dos coeficientes; B) Nas regras de transição 3 e 4, o coeficiente é 100% [art. 17 parágrafo único e art. 26 § 3º I]; C) Na regra de transição 3, aplica-se o fator previdenciário (nas demais, não), pois é a única que não leva em conta a idade; D) Tudo isso vale até que sobrevenha nova lei regulando a matéria.
A nova regra dos coeficientes (mencionada acima) corresponde a: 60% + 2% por ano excedente a 15 (mulheres) ou 20 (homens) [art. 26 da EC 103].
Quem não recebe a ATC?
1)
Segurado especial (a menos que contribua como facultativo).
2)
Contribuinte individual que contribua com 11% - LC 123/06.
3)
Facultativo que contribua com 11% - LC 123/06.
4)
Facultativo de baixa renda que contribua com 5% - Lei 12.470/11.
Para conhecer as modalidades específicas de aposentadoria para a categoria dos professores e para as pessoas com deficiência, consulte o texto sobre o assunto indicado no Explore+.
APOSENTADORIA POR IDADE (APID)
Modalidade de aposentadoria com previsão constitucional no art. 201 § 7º, inciso II e previsão legal no art. 48 da Lei 8.213/91 (para segurados urbanos no caput e para segurados rurais nos parágrafos). Antes da Lei 8.213/91, a APID Rural (chamada de aposentadoria por velhice na época) eradevida a um membro (arrimo de família), conforme art. 297 do Decreto 83.080/79. Depois da Lei 8.213/91, todos da família podem ganhar cumulativamente.
Para o estudo da Aposentadoria por Idade (APID), é interessante separá-la em três modalidades (urbana, rural e híbrida) em razão de algumas diferenças entre elas.
REQUISITOS APID URBANA
Para quem se filiar após a EC 103/19: homens: 65 anos + 240 contribuições (carência) / mulheres: 62 anos + 180 contribuições (carência).
Quais foram as alterações promovidas pela EC 103/19?
Aumentou de 60 para 62 anos a idade mínima para as mulheres.
Aumentou de 180 para 240 contribuições a carência para homens.
Autor: Roman Samborskyi / Fonte: Shutterstock
Regra de transição para idade da mulher (art. 18 § 1º da EC 103/19): 60 anos em 2019 e, a partir de 2020, acréscimo de mais 6 meses a cada ano até completar 62 anos (a partir de 2023).
Não há regra de transição para homens, pois fica mantida a idade de 65 anos e a carência de 180 contribuições para quem já teve vínculo com o RGPS antes da promulgação da emenda. A única diferença é o coeficiente para o cálculo do valor do benefício (RMI). Como se calcula este coeficiente na APID urbana?
ANTES DA EC 103/19
70% + 1% para cada 12 contribuições (art. 50 da Lei 8.213/91) com fator previdenciário opcional (art. 7º da Lei 9.786/99). Atingiria coeficiente de 100% com 30 anos de contribuição.
DEPOIS DA EC 103/19 (REGRA PARA AS APOSENTADORIAS – ART. 26 § 2º)
60% + 2% para cada 12 contribuições (no limite de 100%) que excederem o mínimo exigido (180 para mulheres e 240 para homens). Para os homens que já tinham vínculo com o RGPS na promulgação da emenda, apesar de mantido o mínimo de 180 meses de contribuição, só começa a somar 2% para cada 12 contribuições a partir de 240 contribuições (20 anos). Com isso, chega-se ao máximo do coeficiente (100%) em 40 anos de contribuição para homens e 35 anos para mulheres.
ATENÇÃO
A EC 103/19 admite que futura lei altere o tempo de contribuição definido temporariamente em 180 e 240 contribuições (art. 19).
O art. 142 da Lei de Benefícios da Previdência Social (LBPS) contém regra de transição (no requisito da carência) para quem já era segurado na publicação da Lei 8.213/91 e completou requisito etário até 2011. Até 1991, bastavam 60 contribuições e houve progressão desse número até atingir 180 contribuições para quem completasse o requisito etário em 2011 ou depois.
REQUISITOS DA APID RURAL:
Homens: 60 anos mais carência diferenciada
Mulheres: 55 anos mais carência diferenciada.
Ou seja, em relação à APID urbana, são menos 5 anos de idade, além de contagem de carência diferenciada. A EC 103/19 passou a exigir mínimo de 180 contribuições também para os rurícolas (de ambos os sexos).
Quem tem direito ao redutor de 5 anos na idade? Quem passou os últimos 15 anos como trabalhador rural (art. 48 §§ 2º e 3º da LBPS).
trabalhador rural
A atividade rural pode ser como empregado, avulso, contribuinte individual ou segurado especial, com carências diferenciadas (art. 39 I e art. 143 da Lei 8.213/91)
Carências diferenciadas? Sim.
Os segurados especiais são isentos do cumprimento de carência, devendo comprovar exercício de atividade rural no período anterior à DER (art. 39 I e art. 143 da Lei 8.213/91). Qual é a diferença entre art. 143 e o art. 39 I da Lei 8.213/91? O art. 143 (empregados, antigo autônomo, segurado especial) é uma norma de transição – vale durante 15 anos após a Lei 8.213/91, só necessitando comprovar a atividade (sem necessidade de contribuições). O art. 39 I (segurado especial): só é necessário comprovar a atividade (não é norma de transição). A Lei 11.718/08: estende o prazo de 15 anos do art. 143 para até 31/12/2010 e escalona necessidade de contribuições até 2020 (art. 3º). No entanto, vale destacar que a jurisprudência do STJ equipara a figura do boia-fria à do segurado especial (RE 1.762.211).
RMI da APID Rural: salário mínimo para os que não têm contribuições (dispensados de carência). Regra do urbano para os que contribuíram.
REQUISITOS APID HÍBRIDA
Para (rural e urbana) homens: 65 anos mais 180 contribuições (carência) / mulheres: 60 anos mais 180 contribuições (carência). Não há redução de 5 anos no requisito da idade (art. 48 § 2º da LBPS).
A questão para a APID híbrida é:
SE NÃO PASSOU 15 ANOS NO MEIO RURAL, MAS, SOMADO AO PERÍODO URBANO, COMPLETA 180 MESES?
EM ALGUNS CASOS, O PERÍODO RURAL É APROVEITADO COMO CARÊNCIA, MAS SE APOSENTA COMO URBANO (SEM REDUTOR DE IDADE).
Quando o período rural é aproveitado como parte da carência? Tema 1007 do STJ (julgado em 09/2019): o tempo de serviço rural, ainda que remoto e descontínuo, pode ser computado para fins da carência necessária à obtenção da aposentadoria híbrida por idade, mesmo que não tenha sido efetivado o recolhimento das contribuições.
APOSENTADORIA ESPECIAL (APESP)
É uma espécie de aposentadoria por tempo de contribuição, com redução de tempo necessário à inativação, concedida em função das condições especiais nas quais a atividade é desenvolvida, com risco à saúde ou integridade física do segurado. Em razão de ser uma aposentadoria muito precoce, sofreu grande modificação pela Reforma da Previdência de 2019.
FUNDAMENTO (ANTES DA EC 103/19)
Art. 57 da Lei 8.213/91 – A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta lei (180 contribuições), ao segurado que tiver trabalhado durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física.
Após a EC 103/19 (Reforma da Previdência), foi retirada a menção que havia à integridade física. Assim, a redação ficou: “Cujas atividades sejam exercidas com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação” (art. 201 § 1º II).
FINALIDADE
Compensar o risco social decorrente do maior desgaste a que são submetidos os trabalhadores, de forma habitual, no exercício de atividades sujeitas à exposição de agentes nocivos. Vale dizer: a questão da periculosidade é um problema pouco estável na jurisprudência.
ATENÇÃO
· O tempo de 15, 20 ou 25 anos não varia para homens ou mulheres: a questão é a afetação da saúde e necessidade de afastamento antes que os prejuízos se manifestem. Nesse ponto, não haveria diferença apta a justificar distinções entre homens e mulheres.
· Quanto ao enquadramento por atividade profissional: a tônica da Lei 9.032/95 foi acabar com a ideia de atividade nociva em si. A aposentadoria especial (APESP), a partir da nova Lei, seria apenas para atividades com exposição a agentes nocivos.
· RMI (art. 57 § 1º LBPS): 100% do salário de benefício (sem fator previdenciário).
· Regra de ouro para análise da legislação aplicável à aposentadoria especial: o princípio norteador para avaliação da especialidade (direito intertemporal) é o Tempus Regit Actum (“O tempo rege o ato”), que determina, para avaliação da especialidade, a aplicação de cada lei conforme o período em que estava vigente (e não só a lei vigente no tempo da aposentadoria para avaliar todo o período).
Autor: Ollyy / Fonte: Shutterstock
EXEMPLO
a) Trabalho exercido até 04/1995: artigo 31 da Lei nº 3.807/60 – Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS) – admite a contagem do tempo especial caso a atividade profissional exercida pelo segurado fosse considerada penosa, insalubre, nociva ou perigosa. As atividades foram elencadas pelos Dec. 53.831/64 e 83.080/79 (até hoje, ambos regulam concomitantemente os períodos anteriores à Lei 9.032/95). Jurisprudência coloca o rol como não taxativo, mas deve haver boa analogia para enquadramento (para mais informações, veja texto indicado sobre o assunto no Explore +).
b) Trabalho exercido após 04/1995: a Lei 9.032/95 confere nova redação ao art. 57 da Lei 8.213/91, retirando a expressão “conforme atividade profissional”, deixando apenas “trabalhador sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física”. Inclui ainda no §3º do artigo a necessidade de “trabalho permanente, não ocasional nem intermitente, em condições especiais”. O § 4º retira a parte de “categoria profissional”. O art. 58 retira “relação de atividades profissionais” (que havia na redação original) e reforça o novo paradigma.
MUDANÇAS COM A EC 103/19 (ART. 19)
Introdução de idade mínima (deixando espaço para que lei posterior altere as idades definidas provisoriamente): a) 55 anos de idade nas APESP de 15 anos de contribuição; b) 58 anos de idade nas APESP de 20 anos de contribuição; c) 60 anos de idade nas APESP de 25 anos de contribuição.
REGRA DE TRANSIÇÃO
De acordo com o Sistema de Pontos [art. 21]:
A)
66 pontos e 15 anos de efetiva exposição.
B)
76 pontos e 20 anos de efetiva exposição.
C)
86 pontos e 25 anos de efetiva exposição.
Se não completar 15, 20 ou 25 anos de efetiva exposição, deverá se sujeitar às regras de transição da aposentadoria por tempo de contribuição (ATC), pois a EC 103/19 introduziu regra de impossibilidade de conversão de tempo especial em comum. Até 12/11/2019 (promulgação da EC 103/19 em 13/11), a conversão do tempo especial em comum era admitida pelo art. 57 § 5º LBPS.
A partir de 13/11/2019, o art. 25 § 2º da EC 103/19 veda essa conversão. Depois da EC 103, ou completa-se todo o tempo exigido em condições especiais, ou só se tem direito à conversão dos períodos até 12/11/2019, ou seja, se, no total (antes e depois), o segurado não completar 15, 20 ou 25 anos de período especial, todo o período após 13/11/2019 acaba só contado como comum, mesmo que sujeito a condições especiais, visto que não poderá mais ser convertido. Ou seja, a regra passa a ser no regime do tudo ou nada para APESP.
RENDA MENSAL INICIAL – RMI (COEFICIENTE X SALÁRIO DE BENEFÍCIO [SB]).
Antes da EC 103/19: Coeficiente = 100%; SB = média dos 80% maiores SC no PBC; Sem fator previdenciário. Depois da EC 103/19 (art. 26): Coeficiente (art. 26 § 5º) = 60% + 2% por ano além de 15a (H ou M); SB = média de 100% dos SC do PBC; Não há fator previdenciário.
No que concerne ao enquadramento de períodos especiais, a Legislação e a Jurisprudência são extremamente vastas, de modo que veremos os aspectos essenciais que tocam a matéria e indicaremos elementos para aprofundar o conhecimento no Explore +.
FORMULÁRIOS E LAUDOS
O formulário entregue ao trabalhador ao final do vínculo comprovará a exposição aos agentes nocivos – atualmente, o PPP é o formulário a que se refere o art. 58 § 1º da LBPS (já teve os nomes SB40, DSS 8030 e DIRBEN 8030). Elaborado geralmente pelo RH da empresa, com base em laudo técnico de condições ambientais do trabalho (LTCAT) expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho.
EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPI): STF – ARE 664.335 (12/2014)
Se o EPI for realmente capaz de neutralizar a nocividade, não haverá respaldo constitucional à aposentadoria especial. A exceção é o ruído, pois a potência do som causa danos ao organismo que vão além daqueles relacionados à perda das funções auditivas. A eficácia do EPI não impede o reconhecimento de atividade especial exercida antes de 03/12/1998, data de início da vigência da MP 1.729/98, convertida na Lei n. 9.732/98 (Súmula 87 da TNU).
TNU
Turma Nacional de Uniformização
RUÍDO – LIMITES:
até 05/03/1997 – acima de 80dB; de 06/03/1997 a 18/11/2003 – acima de 90dB; depois de 18/11/2003 – acima de 85dB.
A METODOLOGIA DE AFERIÇÃO (TEMA 174 TNU JULGADO EM 04/2019)
A partir de 19/11/2003, é obrigatória a utilização das metodologias contidas na NHO-01 da FUNDACENTRO ou na NR-15. Em caso de omissão ou dúvida quanto à indicação da metodologia empregada, deve ser apresentado o respectivo laudo técnico (LTCAT).
EXPOSIÇÃO HABITUAL E PERMANENTE
“Considera-se tempo de trabalho permanente aquele que é exercido de forma não ocasional nem intermitente, no qual a exposição do empregado, do trabalhador avulso ou do cooperado ao agente nocivo seja indissociável da produção do bem ou da prestação do serviço” (art. 68 do Dec. 3048/99). De acordo com a jurisprudência do STJ, a partir da vigência da Lei n. 9.032/95, faz-se necessária a demonstração de que a atividade tenha se dado sob a exposição a fatores insalubres de forma habitual e permanente.
ELETRICIDADE
Parâmetro: tensões superiores a 250V.
Não há previsão legal e regulamentar para enquadramento desde o Dec. 2.172/97. Todavia, o STJ (Tema 534 dos Recursos Repetitivos) e a TNU (Tema 210) estende a possibilidade de enquadramento em razão da periculosidade como elemento a configurar aposentadoria especial.
AGENTES BIOLÓGICOS
A lista dos decretos 2.172/97 e 3.048/99 retratam situações extremas de exposição para fins de enquadramento, mas a jurisprudência tem entendido que diversas outras hipóteses também configuram especialização de período.
ARMA DE FOGO
Não há previsão legal ou regulamentar específica, mas, tal como no caso da eletricidade, o STJ e a TNU estendem a possibilidade de enquadramento em razão da periculosidade como elemento a configurar aposentadoria especial.
AGENTES QUÍMICOS
Os agentes químicos são considerados em conformidade com o anexo II do Decreto 3.048/99. O anexo XI da NR15 do MTE traz os agentes químicos cuja insalubridade é caracterizada por limite de tolerância (avaliação qualitativa e quantitativa necessária para detectar eventual especialidade do período trabalhado).
APOSENTADORIA, VÍNCULO DE EMPREGO E RETORNO AO TRABALHO
Para cada espécie de aposentadoria, há um tratamento em relação ao vínculo de emprego e a possibilidade de retorno ao trabalho:
Aposentadoria por invalidez: suspensão do contrato de trabalho (art. 475 CLT) – se retorna ao trabalho, cancela a aposentadoria.
Aposentadoria por idade e tempo de contribuição: não extingue o contrato de trabalho (o trabalhador não é obrigado a romper o vínculo de emprego).
Aposentadoria especial: proibição de continuar em atividade sujeita a agentes nocivos (art. 57 § 6º da Lei 8.213/91) – a Lei 9.732/98 estabeleceu o cancelamento da aposentadoria, tal como ocorre com o aposentado por invalidez. Tema 709 da Repercussão Geral do STF firmou a constitucionalidade dessas disposições. O art. 69, parágrafo único, do Dec. 3.048/99, estabelece a notificação para a cessação.
Vale dizer que há duas relações jurídicas diferentes que geram obrigações distintas:
Empregador/empregado.
INSS/segurado.
Se a empresa extinguir o contrato de trabalho pela aposentadoria, o reflexo é o seguinte: pagamento pelo empregador de todas as verbas rescisórias, inclusive a multa de 40% do FGTS e aviso prévio.
O aposentado que retorna à atividade não terá direito a novos benefícios previdenciários, exceto salário-família e reabilitação profissional (Artigo 18, § 2º, da Lei nº 8.213/1991). O Dec. 3.048 (art. 103) prevê o direito ao salário-maternidade para a segurada já aposentada
O Princípio da Solidariedade ampara essa regra legal? (relação contribuição x benefício prejudicial ao segurado). O STF afirma que sim, de acordo com os RE (Recurso Extraordinário) 381.367, 661.256 e 827.833. Nesses julgados, o STF afirmou como constitucional a previsão legal de irreversibilidade da aposentadoria (art. 18 § 2º da Lei 8.213/91) e afastou as teses que defendiam a desaposentação e reaposentação.
Desaposentação
Direito de se aposentar novamente, levando em conta o período trabalhado depois da aposentadoria, somando esse tempo ao que já havia sido considerado na aposentadoria original.
Reaposentação
Direito de, sem considerar as remunerações e o tempo que foram levados em conta na primeira aposentadoria, garantir uma nova aposentadoria (via de regra, APID) com base apenas em contribuições feitas após o deferimento da primeira ATC/APESP.
O QUE CONTA COMO TEMPO DE SERVIÇO OU TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO?
Antes de responder mais objetivamente a essa pergunta, vale a pena verificar a mudança de paradigma iniciada na EC 20/98: T. Serviço x T. Contribuição. Falamos em “iniciada” porque a Lei 8.213/91 (LBPS) continuou usando a expressão tempo de serviço e, como não há definição legal do que deve ser considerado como tempode contribuição, consideram-se ainda aplicáveis (em muitos casos) os conceitos de tempo de serviço para este fim.
O art. 4º da Emenda Constitucional nº 20/1998 determinou que, “observado o disposto no art. 40, § 10 da CRFB [vedação à contagem de tempo de contribuição fictício], o tempo de serviço considerado pela legislação vigente para efeito de aposentadoria, cumprido até que a lei discipline a matéria, será contado como tempo de contribuição”.
Autor: Tumisu / Fonte: Pixabay
O art. 55 da Lei 8.213 retrata a ideia de tempo de serviço – regra do caput: atividades de qualquer das categorias de segurados de que trata o art. 11 desta Lei [segurados obrigatórios], mesmo que anterior à perda da qualidade de segurado (vale a observação de que tempo de serviço não se perde – o que se perde é qualidade de segurado e carência cumprida).
Além disso, também é considerado como tempo de serviço (art. 60 do Decreto 3.048/99):
1
Período intercalado em que esteve em gozo de auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez.
2.
Tempo de serviço militar ou de serviço civil alternativo.
3.
Período de gozo de licença-maternidade.
4.
Período de contribuição como segurado facultativo.
5.
Período de licença remunerada, desde que tenha havido contribuição.
6.
RPPS mediante contagem recíproca.
7.
Mandato eletivo quando não contado para outro regime.
8.
Vitimado por atos de exceção que tenham sido compelidos ao afastamento de atividade remunerada no período de 18/09/46 a 05/10/88.
9.
Período como aluno-aprendiz referente ao período de aprendizado profissional em escola técnica, desde que comprovada a remuneração, mesmo que indireta, à conta do orçamento público e o vínculo empregatício.
ATENÇÃO
A comprovação de tempo de serviço exige início de prova material (art. 55 § 3º da Lei 8.213/91) – prova exclusivamente testemunhal apenas é aceita em caso fortuito ou de força maior. Essa posição é reforçada pela Súmula 149 e Tema 297 STJ. Sobre a comprovação documental, temos uma lista no art. 62 § 2º do Dec. 3.048/99 (não exaustiva - § 4º diz que é exemplificativa) dos documentos geralmente aceitos. Sobre as contribuições do CI (contribuinte individual) que presta serviço a empresas, a partir de 04/2003 (Lei 10.666/03), basta declaração na GFIP (Guia de Recolhimento do FGTS e de Informações à Previdência Social) por parte da empresa, independentemente de efetivo recolhimento (cuja atribuição é da empresa).
Já a Retroação de DICA (Data de início de contribuição) é uma sistemática de indenização ao INSS quando comprovada a efetiva atuação do CI (segurado obrigatório) em data anterior às contribuições constantes do CNIS (Cadastro Nacional de Informações Sociais). Previsão no art. 45 da Lei 8.212/91 e, depois na Lei Complementar (LC) 128/08, através do art. 45-A da Lei 8.212/91, além do art. 96, inciso IV, da Lei 8.213/91 para o mecanismo de indenização a favor do INSS.
ATÉ AQUI, VIMOS OS PRINCIPAIS BENEFÍCIOS PROGRAMADOS, AQUELES QUE, DE ALGUMA FORMA, PODEM SER PLANEJADOS E OBTIDOS POR MEIO DO TRANSCURSO DO TEMPO E DO ADIMPLEMENTO DOS CRITÉRIOS DE CONCESSÃO. AGORA, ENTRAREMOS NO ROL DOS DENOMINADOS BENEFÍCIOS POR INCAPACIDADE (QUE SE ENQUADRAM NA MODALIDADE DE BENEFÍCIOS NÃO PROGRAMADOS).
BENEFÍCIOS POR INCAPACIDADE
Os benefícios por incapacidade são: auxílio-doença (AD), aposentadoria por invalidez (APIN) e auxílio-acidente (AA). Trataremos desses benefícios de modo conjunto, pois todos têm em comum a ocorrência de algum infortúnio, seja pela ocorrência de um acidente, seja pelo desenvolvimento de alguma patologia. Para que um benefício previdenciário seja deferido, tal infortúnio deve gerar algum grau de incapacidade, que deve se impor ao segurado enquanto ele preserva vínculo com a Previdência Social. Vamos a algumas distinções entre essas modalidades de benefício:
1)
No auxílio-doença (AD), a incapacidade deve ser parcial ou temporária por mais de 15 dias.
2)
A aposentadoria por invalidez (APIN) exige incapacidade total e permanente.
Incapacidade Total
Se não for total, cabe reabilitação, e o segurado não deve ser aposentado. Dependendo do grau de instrução e idade, pode ocorrer a concessão de APIN pela inviabilidade de reabilitação.
3)
No acréscimo de 25% sobre APIN, o segurado deve necessitar de ajuda permanente de terceiros.
4)
O auxílio-acidente é devido quando sucede uma redução da capacidade após a consolidação das lesões.
Beneficiários são todos os segurados (até o facultativo de baixa renda, não obstante a necessidade de maiores restrições nesse caso).
Pré-existência da patologia (não confere direitos) / agravamento da patologia (confere direito a benefício por incapacidade) / filiação oportunista (zona cinzenta).
A filiação oportunista representa uma zona cinzenta pelo fato de, algumas vezes, confundir-se com eventual agravamento da patologia, que confere direito ao benefício por incapacidade (BI). A filiação oportunista é aquela em que a pessoa, mesmo não sendo incapaz no momento da filiação ao sistema, sabe que, necessariamente, irá se tornar incapaz em um horizonte de tempo breve e previsível.
A carência corresponde a 12 contribuições (12 meses).
Exceção 1: sofrer acidente de qualquer natureza ou causa.
Exceção 2: sofrer acidente de trabalho, seja em razão de doença profissional, seja do trabalho.
Exceção 3: ser acometido por alguma das doenças especificadas no art. 151 da Lei 8.213/91, bem como na Portaria Interministerial 2.998, de 23.8.2001. (Mas tem de ser acometido depois do ingresso no sistema – não pode ser incapacidade decorrente de agravamento).
Exceção 4: segurados especiais – isentos do cumprimento de carência, devendo comprovar exercício de atividade rural nos 12 meses anteriores à data de entrada do requerimento (DER).
Data do Início do Benefício (DIB)
1) Na APIN: dia da cessação do AD.
2) No auxílio-acidente (AA): dia da cessação do AD.
3) No auxílio-doença (AD):
Auxílio-Doença
Não há AD quando afastamento é inferior a 15 dias. Para o empregado, a empresa paga o salário integral nos 15 primeiros dias de afastamento (considera-se o contrato de trabalho interrompido). Durante o recebimento do auxílio-doença, o contrato é considerado suspenso, ficando o empregado licenciado.
3.1) para Empregados: 16º dia após o afastamento.
Demais segurados (inclusive empregado doméstico): data do afastamento (se a incapacidade for superior a 15 dias) ou na DER (se requerimento for posterior a 30 dias do afastamento).
RENDA MENSAL INICIAL (RMI)
A renda mensal inicial sofreu severa modificação com a EC 103/19, em especial para a aposentadoria por invalidez. Então, temos na APIN:
1. Antes da EC 103/19: 100% do salário de benefício – SB (em todos os casos).
2. Depois da EC 103/19 (art. 26 § 2º c/c § 3º II): 100 % do SB no caso de acidente do trabalho, doença profissional ou doença do trabalho //ou// 60% + 2% por ano de contribuição além dos 20 anos (H) ou 15 anos (M), nas demais APIN (acidente de qualquer natureza ou doença não ocupacional).
OBSERVAÇÃO
Para incapacidade posterior a 13/11/2019 (Reforma da Previdência), a APIN fica menor que o AD quando se tem menos de 35 anos de contribuição.
No AD: 91% do SB e no AA: 50% do SB (antes da Lei 9.528/97 era 30%, 40% ou 60% a depender se a incapacidade parcial fosse leve, média ou grave).
Data da cessação do benefício (DCB):
1. No AA: morte ou concessão da aposentadoria.
2. Na APIN: morte ou cessação da incapacidade.
3. No AD: Art. 60 § 8º da LBPS: “Sempre que possível, o ato de concessão ou de reativação de auxílio-doença, judicial ou administrativo, deverá fixar o prazo estimado para a duração do benefício”.
ATENÇÃO
Alta programada (art. 78 § 1º do Dec. 3.048/99): “O INSS poderá estabelecer, mediante avaliação médico-pericial, o prazo que entender suficiente para a recuperação da capacidade para o trabalho do segurado, dispensada nessa hipótese a realização de nova perícia”. Esse comando é mitigado pelo § 2º: “Caso o prazo concedido para a recuperação se revele insuficiente, o segurado poderá solicitar a realização de nova perícia médica”. Na jurisprudência, criou-semuita resistência em aplicar isoladamente o § 1º (como chegou a proceder o INSS administrativamente em diversos casos no passado, impossibilitando o segurado que continuasse se sentindo incapaz de marcar nova perícia). Depois, a Lei 13.457/17 veio respaldar a aplicação conjunta dos §§ 1º e 2º do Decreto 3.048/99 (a aplicação conjunta dos dispositivos permite a fixação de um prazo, com possibilidade de pedido de prorrogação pelo segurado). Para aprofundamento sobre esse tema, pode-se verificar o julgamento do Tema 164 pela TNU.
· O Requerimento de prorrogação deve ocorrer nos últimos 15 dias do AD. Regra de escape (art. 60 § 9º da LBPS com redação da Lei 13.457/17): na ausência de fixação do prazo, o benefício cessará após o prazo de 120 dias, contado da data de concessão ou de reativação do AD, exceto se o segurado requerer a sua prorrogação.
· Tema 232 TNU (julgado em 12/2019: “O auxílio-doença é inacumulável com o seguro-desemprego, mesmo na hipótese de reconhecimento retroativo da incapacidade em momento posterior ao gozo do benefício da Lei 7.998/90, hipótese na qual as parcelas do seguro-desemprego devem ser abatidas do valor devido a título de auxílio-doença”.
· Dever de Cooperação na Recuperação (Art. 101 da Lei 8.213/91): o segurado em gozo de AD, APIN e o pensionista inválido estão obrigados, sob pena de suspensão do benefício a: 1) submeter-se a exame médico a cargo da Previdência Social; 2) processo de reabilitação profissional prescrito e custeado pelo INSS (nas situações de incapacidade parcial); 3) tratamento dispensado gratuitamente, exceto o cirúrgico e a transfusão de sangue, que são facultativos.
· Se quem tem AD ou APIN voltar à atividade, cessa automaticamente o auxílio (art. 60 § 6º) e a APIN (art. 46 da Lei 8.213/91) – Tal aferição é possível de se fazer através de informações prestadas pelas empresas ao INSS (em especial, pelo sistema CNIS).
· Na APIN, se nova perícia concluir pela recuperação, o benefício é cancelado nos seguintes moldes (art. 47 da Lei 8.213/91): 1) Se a recuperação é total e recebeu (AD + APIN) por menos de 5 anos: de imediato, em se tratando de segurado empregado e se a empresa receber na mesma função que executava, ou, para os demais segurados, depois de tantos meses quantos anos tiverem durado o (AD + APIN); 2) Se a recuperação é parcial ou recebia (AD + APIN) por mais de 5 anos: recebe 6 meses de forma integral, depois recebe 50% de 6 meses a 1 ano e, por fim, 25% de 1 ano a 18 meses, cessando por completo depois dos 18 meses.
ACIDENTE DO TRABALHO
Tendo em vista que, além do valor diferenciado numa eventual APIN, algumas consequências advêm em favor do trabalhador quando ocorre um acidente do trabalho, é interessante buscar seu conceito legal: é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço de empresa ou de empregador doméstico ou pelo exercício do trabalho do segurado especial, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho (art. 19 da LBPS).
trabalhador
Foi incluído o empregado doméstico pela LC 150/15. Há quem defenda a inconstitucionalidade da exclusão do contribuinte individual (tratamento não isonômico com os demais segurados).
A caracterização do acidente do trabalho é feita através da conjunção de quatro elementos:
1)
Exterioridade: o acidente é causado por ação contundente de um agente externo (não é congênito, não se trata de enfermidade preexistente, ou suas consequências). Obs.: apesar da existência de um agente externo, é passível de provocação pela própria vítima.
2)
Violação à integridade física.
3)
Evento súbito: fato causador abrupto durante curto lapso temporal (não decorre do desenvolvimento progressivo de patologia).
4)
Relação com a atividade laboral: ocorre em razão do exercício da atividade laborativa.
atividade laborativa
Não necessariamente no ambiente de trabalho.
Ocorrências fora do local e horário de trabalho que caracterizam acidente do trabalho (art. 21, inciso IV, da LBPS):
1. Na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa ou, ainda, para evitar prejuízo ou proporcionar proveito ao empregador.
2. Em viagem a serviço da empresa.
3. Nos percursos da residência para o trabalho, e vice-versa.
Consequências para o trabalhador:
ESTABILIDADE
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O segurado que sofreu acidente do trabalho tem garantia de estabilidade no emprego por 12 meses após a cessação do auxílio-doença acidentário, independentemente de percepção de auxílio-acidente (art. 118 da LBPS).
No caso de acidente do trabalho, o empregador tem de continuar a depositar a contribuição para o FGTS na conta vinculada do empregado (art. 15 § 5º da Lei 8.036/90).
DOENÇAS PROFISSIONAIS E DO TRABALHO
Doenças ocupacionais são as deflagradas em virtude da atividade laborativa desempenhada, resultado de constante exposição a agentes físicos, químicos e biológicos, ou mesmo do uso inadequado dos recursos disponíveis ao trabalhador (uso indevido de equipamentos de informática).
As doenças ocupacionais dividem-se em (art. 20 da LBPS):
Doenças Ocupacionais
Diferenciação em relação ao acidente do trabalho: não decorrem de evento súbito nem dependem de evento violento. As doenças ocupacionais derivam das contingências do trabalho desempenhado ao longo do tempo, que estabelecem o nexo causal entre a atividade laborativa e a doença.
O caput do art. 20 da LBPS equipara as doenças ocupacionais a acidente do trabalho nos seus efeitos. Com isso, são geradas as mesmas consequências de Direito (ex.: estabilidade de 12 meses, depósito do FGTS, valor maior de APIN).
Doença do Trabalho
Não são consideradas como doença do trabalho (art. 20 § 1º da LBPS): 1) doença degenerativa; 2) inerente a grupo etário; 3) que não produza incapacidade laborativa; 4) doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se desenvolva, salvo comprovação de que é resultante de exposição ou contato direto determinado pela natureza do trabalho.
DOENÇAS PROFISSIONAIS:
Decorrentes de situações comuns aos integrantes de determinada categoria de trabalhadores, ou exercício de trabalho peculiar a determinada atividade.
DOENÇA DO TRABALHO:
Adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relaciona diretamente.
Competência: os benefícios derivados de acidente do trabalho possuem a peculiaridade de serem julgados na Justiça Estadual (art. 109, I, da CRFB).
AUXÍLIO-ACIDENTE (AA)
Sobre este benefício, é necessário fazer algumas considerações:
1)
Decorre de acidente, seja acidente do trabalho, equiparado a acidente do trabalho (doença ocupacional) ou acidente de qualquer natureza. Ou seja, não se defere auxílio-acidente em razão de doença que não seja ocupacional.
2)
Tem caráter indenizatório (não substitui a renda mensal do segurado), é recebido quando resultam sequelas após a consolidação das lesões que impliquem redução da capacidade para a atividade habitual (art. 86 da LBPS). Portanto, é recebido em conjunto com a remuneração do trabalho que o segurado vier a executar (em razão do seu resíduo laborativo).
3)
O AA pode ter valor inferior ao SM, pois não é substitutivo do salário (não viola o art. 201 § 2º da CRFB).
4)
Hipóteses de concessão (art. 104 do Dec. 3.048/99): I - redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia; II – seja exigido maior esforço para o desempenho da mesma atividade que exercia à época do acidente; III - impossibilidade de desempenho da atividade que exercia à época do acidente, porém permite o desempenho de outra, após processo de reabilitação profissional.
ATENÇÃO
Não se pode acumular o AA com aposentadoria (art. 86 § 2º da LBPS) – mas seu valor entra no cômputo dos SC (não era essa a sistemática antes da Lei 9.528/97).
Na passagem do AD para o AA, a incapacidade que era total passa a ser parcial, ao mesmo tempo em que deixa de ser temporária e passa a ser permanente.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
Parte superior do formulário
1. .AS APOSENTADORIASSÃO UM DOS PRINCIPAIS BENEFÍCIOS PREVISTOS NO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL (RGPS). SOBRE ELAS, É POSSÍVEL AFIRMAR CORRETAMENTE QUE: A) O REQUISITO ETÁRIO (ATINGIMENTO DE CERTA IDADE) NÃO SE APLICA À APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO, INDEPENDENTEMENTE DA DATA EM QUE O SEGURADO COMPLETE AS CONTRIBUIÇÕES NECESSÁRIAS PARA O GOZO DO BENEFÍCIO.
O requisito etário (atingimento de certa idade) não se aplica à aposentadoria por tempo de contribuição, independentemente da data em que o segurado complete as contribuições necessárias para o gozo do benefício.
A perda da qualidade de segurado não influencia na concessão de aposentadoria por tempo de contribuição e aposentadoria por idade.
O fator previdenciário deixa de existir depois da Reforma da Previdência para os novos segurados (que entrarem no RGPS depois da EC 103/19) e de acordo com as regras de transição (para os que já estavam vinculados ao RGPS quando foi publicada a EC 103/19).
O segurado especial, o contribuinte individual e o segurado facultativo têm direito à aposentadoria por tempo de contribuição, caso contribuam com alíquota de 11%.
Parte inferior do formulário
Parte superior do formulário
2. EM RELAÇÃO AOS BENEFÍCIOS NÃO PROGRAMADOS, ASSINALE A ALTERNATIVA INCORRETA:
Os benefícios por incapacidade, como o auxílio-doença, o auxílio-acidente e a aposentadoria por invalidez, exigem que a incapacidade ocorra depois da vinculação ao RGPS.
É possível a concessão de benefício por incapacidade até mesmo para o segurado facultativo que exerça apenas atividades domésticas no âmbito de sua própria residência.
Quem sofre acidente de qualquer natureza, ainda que não seja caracterizado como acidente do trabalho, é dispensado do cumprimento de carência.
O valor de auxílio-doença pago pelo INSS às diversas categorias de segurado não engloba os primeiros 15 dias de afastamento.
Parte inferior do formulário
GABARITO
1. .As aposentadorias são um dos principais benefícios previstos no Regime Geral de Previdência Social (RGPS). Sobre elas, é possível afirmar corretamente que: a) O requisito etário (atingimento de certa idade) não se aplica à aposentadoria por tempo de contribuição, independentemente da data em que o segurado complete as contribuições necessárias para o gozo do benefício.
A alternativa "B " está correta.
A opção A não é verdadeira depois da EC 103/19 (Reforma da Previdência). A opção B é verdadeira, pois apenas a aposentadoria por invalidez exige qualidade de segurado para a sua concessão. A opção C é falsa porque uma das regras de transição dispostas na EC 103/19 ainda utiliza o fator previdenciário. A opção D é falsa porque é necessária contribuição no patamar de 20% para que esses segurados venham a receber ATC.
2. Em relação aos benefícios não programados, assinale a alternativa incorreta:
A alternativa "D " está correta.
Somente no caso de segurado empregado, a empresa é obrigada a arcar com o valor dos 15 primeiros dias de afastamento, ficando a cargo do INSS o valor a partir do 16º dia. Para os demais segurados, apesar de apenas ser devido auxílio-doença quando o afastamento for superior a 16 dias, o INSS paga desde o primeiro dia, bastando, para isso, que o requerimento seja feito em até 30 dias.
MÓDULO 2
Descrever os processos administrativo,
judicial e previdenciário
CONSIDERAÇÕES SOBRE A NECESSIDADE PROBATÓRIA
Antes de entrarmos nas características fundamentais dos processos administrativo e judicial que instrumentalizam o Direito Previdenciário, é interessante ter em mente o quanto esse ramo do Direito depende de boa produção de prova.
As questões de Direito, apesar dos inúmeros debates doutrinários e precedentes jurisprudenciais existentes, não exigem maiores demonstrações, seja no processo administrativo, seja no processo judicial. A princípio, o juiz ou analista administrativo tem o dever de saber do que se trata e, de fato, conhece a legislação e as teses defendidas, pois Previdência Social é matéria que atinge todo mundo e acaba que, pela repetição de demandas no dia a dia de quem opera na área, tem-se conhecimento do que geralmente é defendido pelas partes.
Já as questões de fato, relativas à vida pessoal de quem está demandando, exigem maior cuidado e necessidade de demonstração, pois o juiz ou o analista administrativo não as conhece. Nesse ponto, entra a importância da prova! É principalmente através da prova que se faz o convencimento do juiz ou do analista.
Quanto à valoração da prova, existem três grandes sistemas passíveis de serem utilizados pelo órgão julgador:
1)
Livre convencimento motivado (regra).
2)
Íntima convicção (não tolerado no Direito Previdenciário).
3)
Prova tarifada (há resquícios no Direito Previdenciário).
Apesar de ser preponderante o uso do livre convencimento motivado, é notório que, especialmente no Direito Previdenciário, determinados fatos da vida laborativa sejam provados preponderantemente, em certa época, através de certos documentos. O resultado é que, mesmo diante da possibilidade do livre convencimento motivado, o julgador possua um rol de “provas preferidas”, conforme o ponto que se deseja provar. É um ramo no qual, frequentemente, confere-se à prova documental ou pericial maior credibilidade do que à prova testemunhal ou depoimento pessoal. Ex.: a prova pericial é uma regra (quase que absoluta) em casos que envolvam benefícios por incapacidade; PPP e Laudo Técnico são os documentos geralmente aceitos como prova para contagem majorada na exposição a gentes nocivos; fotos da moradia ajudam muito no julgamento de BPC-LOAS.
livre convencimento motivado
Quando o julgador expõe quais fundamentos que, no caso concreto, convenceram-no e levaram-no à conclusão exposta no dispositivo do julgamento.
SOBRE PROVA TARIFADA
A LBPS, no art. 55 § 3º, exige início de prova material para comprovação de tempo de serviço. Mais adiante, no art. 106, há um elenco de provas materiais para a comprovação da atividade rural (esse rol é ampliado pelos art. 47 e 54 da IN 77/15). Desde 2019, a MP 871/19 (convertida na Lei 13.876/19) introduz § 5º no art. 16 da LBPS, fazendo com que a união estável e a dependência econômica também passem a exigir início de prova material contemporânea aos fatos (não admite prova exclusivamente testemunhal, exceto na ocorrência de motivo de força maior e/ou caso fortuito). Não basta que seja prova oral reduzida a termo (apenas formalmente documental), como no caso de declarações escritas de pessoas próximas.
Feitas estas considerações iniciais sobre a necessidade probatória, vamos ao processo!
PROCESSO ADMINISTRATIVO PREVIDENCIÁRIO (PAP)
De acordo com a IN 77/15 (art. 658):
“Considera-se processo administrativo previdenciário o conjunto de atos administrativos praticados nos Canais de Atendimento da Previdência Social, iniciado em razão de requerimento formulado pelo interessado, de ofício pela Administração ou por terceiro legitimado, e concluído com a decisão definitiva no âmbito administrativo”.
Fases do PAP: inicial, instrução, decisão, recursos, julgamento dos recursos.
PRINCÍPIOS QUE REGEM O PAP
Estão previstos nos artigos 5º e 37 da CRFB e art. 2º da Lei 9.784/99 os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência, do contraditório e ampla defesa, duração razoável do processo, isonomia, do devido processo legal, segurança jurídica, do interesse público, finalidade, motivação, razoabilidade e proporcionalidade.
Os preceitos do PAP constantes do art. 659 da IN77/15 dão contornos mais concretos a estes princípios. Vamos a eles:
PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO
É direito do cidadão conhecer as razões pelas quais seu requerimento foi indeferido ou parcialmente deferido, o que é necessário para o exercício do contraditório (oportunidade de contraditar o ato administrativo) e ampla defesa. Liga-se ao preceito do art. 659, X, da IN77:
· Fundamentação das decisões, indicando os documentos e os elementos que levaram à concessão ou ao indeferimento do benefício ou serviço.
Conheça os demais princípios a seguir:
· Presunção de boa-fé dos atos praticadospelos interessados (art. 659, I, IN77).
· Princípio da publicidade, que contempla os preceitos da identificação do servidor responsável por cada ato e a data em que cada ato foi praticado (art. 659, XI, IN77).
· Princípio da ampla defesa e contraditório, que contempla o preceito de garantia à comunicação, à apresentação de alegações finais, à produção de provas e à interposição de recursos (art. 659, XIV, IN77).
· Princípio da primazia da verdade material, que define que o julgador deve buscar a verdade, ainda que tenha que se valer de outros elementos além daqueles trazidos aos autos pelos interessados. Utilizando-se de sua experiência na matéria, o julgador pode determinar certas provas úteis a desvendar situações que, dentro de um juízo de probabilidade, costumam ocorrer em situações similares ao caso concreto em análise. Legitima, por exemplo, a pesquisa externa, a justificação administrativa e qualquer outra solicitação de documentos ou informações feitas a órgãos ou empresas. Mas isso não retira do segurado a obrigação de trazer elementos indicativos aos autos, bem como informações e documentos quando solicitado (Obs.: Não basta o “quero me aposentar”). Este princípio complementa-se com a ideia de cooperação (art. 5º do NCPC).
· Princípio da oficialidade, que impõe à Administração o dever de dar prosseguimento ao processo, impulsionando-o de ofício, sem prejuízo da atuação dos interessados (art. 659, XVI, IN77).
· Princípio do interesse público, que contempla a regra hermenêutica de interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o atendimento do fim público (art. 659, XVII, IN77), que, no caso da Previdência Social, é conceder o benefício a quem tem direito e negar aos que ainda não completaram os requisitos necessários.
Além desses, há ainda os princípios específicos do PAP:
OBRIGATORIEDADE DA CONCESSÃO DO BENEFÍCIO MAIS VANTAJOSO
Os servidores do INSS devem verificar as provas produzidas nos autos e, no momento do julgamento, mesmo que o segurado ou dependente requeira espécie de benefício diverso ou sejam possíveis duas ou mais interpretações sobre o caso, se constatado o direito ao benefício diverso do requerido e/ou mais vantajoso economicamente, deve-se informar tal fato ao interessado. No caso de anuência do segurado, deve-se proceder a concessão.
mais vantajoso economicamente
Por vezes, a opção não é tão óbvia: benefício menor com mais valores de atrasados a receber ou benefício maior com menos atrasados a receber.
DIREITO DE ESCLARECIMENTO
Direito de esclarecimento
Vai além do direito de informação típico da esfera civil e consumerista.
O servidor do INSS deve prestar ao segurado, em todas as fases, os esclarecimentos necessários para o exercício dos seus direitos, tais como documentação indispensável, prazos para a prática de atos, abrangência e limite dos recursos (art. 659, VII, IN77) com formas e vocabulário simples, evitando-se o uso de siglas ou palavras de uso interno da Administração que dificultem o entendimento pelo interessado (art. 659, XII, IN77).
PRESUNÇÃO DE VERACIDADE DOS DADOS CONSTANTES NOS SISTEMAS CORPORATIVOS DA PREVIDÊNCIA (ART. 29-A E §§ DA LBPS)
Por um lado, caberá ao INSS comprovar que a informação inserida no sistema não é verdadeira para que possa desconsiderá-la. Por outro lado, cria-se resistência (necessidade de prova robusta) para considerar períodos e remunerações que não estejam nos sistemas.
Sistemas
O cidadão pode verificar com regularidade os dados constantes do CNIS e solicitar, a qualquer tempo, a inclusão, exclusão ou retificação de informações.
GRATUIDADE
Proibição de cobrança de despesas processuais, ressalvadas as previstas em lei (art. 659, XV, IN77).
INFORMALISMO PROCEDIMENTAL (APLICADO EM FAVOR DO SEGURADO E SEUS DEPENDENTES)
Determina que erros formais não devem prejudicar o requerente, desde que seja possível aproveitar seu ato e fazê-lo atingir sua finalidade. Com base neste princípio, pode-se até mesmo alterar um pedido depois de realizada a instrução e gozar de direitos que só seriam alcançados no curso do processo.
ATENÇÃO
Art. 690 da IN 77/15 – Reafirmação da DER (Data da Entrada do Requerimento): “Se durante a análise do requerimento for verificado que na DER o segurado não satisfazia os requisitos para o reconhecimento do direito, mas que os implementou em momento posterior, deverá o servidor informar ao interessado sobre a possibilidade de reafirmação da DER, exigindo-se para sua efetivação a expressa concordância por escrito”. A reafirmação da DER em processo judicial foi admitida pelo STJ em 10/2019, com o julgamento do Tema 995: É possível a reafirmação da DER para o momento em que implementados os requisitos para a concessão do benefício, mesmo que isso se dê no interstício entre o ajuizamento da ação e a entrega da prestação jurisdicional nas instâncias ordinárias.
Há também o direito de desistência previsto no art. 181-B do Dec. 3.048/99. Apesar de serem irreversíveis e irrenunciáveis, o segurado pode desistir da sua aposentadoria (ex.: acreditava que o benefício viria num valor mais alto e veio mais baixo, preferindo continuar trabalhando e pedir em outro momento). Essa desistência deve ser logo após a concessão e antes da ocorrência de um dos seguintes atos: I - recebimento do primeiro pagamento do benefício; ou II - saque do respectivo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) ou do Programa de Integração Social (PIS).
RECONHECIMENTO AUTOMÁTICO DE DIREITOS
Além dos princípios do PAP, há algo que esbarra no material e no processual (ao mesmo tempo) e que é um objetivo perseguido pelo INSS: o reconhecimento automático de direitos. É um dos objetivos estratégicos do INSS. A diretriz que o precede é manter um cadastro fidedigno da vida laboral e profissiografia do cidadão com vistas a facilitar a obtenção de prestações previdenciárias e serviços, como a reabilitação profissional e o serviço social. O desafio é lidar com situações ocorridas há cinco décadas. Ex.: GFIP foi criada em 1999, e a obrigatoriedade em meio magnético para todas as empresas, só em 2004.
CIÊNCIA DOS ATOS
As formas de ciência dos atos processuais são as seguintes:
1
Ciência nos autos, preferencialmente.
2
Via postal com AR, telegrama ou outro meio que assegure ciência ao interessado. Presumem-se válidas as comunicações dirigidas ao endereço declinado nos autos, ainda que sejam recebidas por terceiros.
3
Outro meio que assegure ciência, desde que registrado no processo.
Ciência
Comparecimento supre a falta de comunicação e dá início à contagem de prazos.
Para os processos de suspensão de benefício por indício de erro ou irregularidade, a ciência inicial será preferencialmente pela rede bancária.
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CONTAGEM DE PRAZOS
Início: data da cientificação.
Contagem: em dias corridos, excluindo o dia inicial e incluindo o dia final.
Prorrogação: nos casos de dia sem expediente, primeiro dia útil subsequente.
No PAP, o não atendimento da comunicação não implica o reconhecimento da verdade dos fatos de modo desfavorável à pretensão formulada pelo interessado. Porém, pode prejudicar a instrução, com aumento das chances de insucesso. O art. 678 § 7º da IN 77 determina que, esgotado o prazo para cumprimento de exigências, o INSS deve analisar os dados presentes nos sistemas e proferir a decisão.
FASE 1 – INICIAL OU POSTULATÓRIA
Em regra, dá-se por requerimento da parte (exceção: início de ofício pelo INSS). Elemento essencial: definição do objeto (concessão, revisão, atualização cadastral, prestação de serviços) + documentos (que provam o direito).
A formalização do processo se dá com:
REQUERIMENTO ASSINADO.
PROCURAÇÃO, SE FOR O CASO.
COMPROVANTE DE AGENDAMENTO, QUANDO CABÍVEL.
CÓPIA DO DOCUMENTAÇÃO DE IDENTIFICAÇÃO DO REQUERENTE E REPRESENTANTE LEGAL.
DOCUMENTAÇÃO COMPROBATÓRIA RELACIONADA AO PEDIDO, CASO HAJA.
ATENÇÃO
· Solução no caso de recusa ao protocolo por parte do servidor: contatar a Ouvidoria.
· Documentação incompleta causa expedição de carta de exigência, na fase instrutória, com prazo de 30 diaspara o cumprimento.
· No PAP, o requerimento geralmente é padrão, mas é possível melhorar seu conteúdo através de anexo construído pelo segurado.
· Requerimento pode ser formulado pelos canais: A) Portal do INSS na Internet; B) Central de Atendimento 135; C) Agência de Atendimento da Previdência Social - APS (1.500 pontos de atendimento no Brasil).
· Qualquer que seja o canal utilizado, fixa-se a Data da Entrada do Requerimento – DER.
FASE 2 – INSTRUTÓRIA
Nos âmbitos administrativo e judicial, o mais importante é a boa produção das provas.
No Direito Previdenciário, a maior parte das provas são pré-constituídas. As provas que instruem o processo administrativo são praticamente as mesmas utilizadas na via judicial. Todavia, uma das principais diferenças do âmbito administrativo para o judicial é a liberdade na apreciação das provas. A valoração de provas no PAP é muito atrelada ao que determina a IN 77/15, que apresenta listas de provas geralmente aceitas para cada situação (a tarifação de provas diminui no âmbito judicial). A carta de exigências é o expediente comum para o servidor do INSS requerer complementação de documentação, isso quando já não comunica de pronto no atendimento inicial. Prazo para cumprimento das exigências: 30 dias, prorrogável por mais 30 mediante justificativa do interessado.
ESPÉCIES DE PROVAS
1.
Documental.
2.
Oral: justificação administrativa (JA) para testemunhas; entrevista rural para verificar a situação dos segurados no campo.
3.
Registros em cadastros públicos.
4.
Pesquisa externa: feita pelo servidor do INSS, previamente designado para atuar nas empresas, nos órgãos públicos ou em relação aos contribuintes em geral e beneficiários, com o objetivo de verificar a veracidade de documentos, conferir dados constantes nos sistemas, dentre outros.
5.
Prova pericial: destinada a avaliar a capacidade laborativa do segurado e a invalidez ou deficiência para fins de prorrogação da qualidade de dependente após os 21 anos de idade, bem como a deficiência/impedimentos para fins de percepção de benefício assistencial (BPC-LOAS).
CADASTRO NACIONAL DE INFORMAÇÕES SOCIAIS (CNIS)
Os dados constantes no CNIS relativos a vínculos, remunerações e contribuições valem como prova de filiação à Previdência Social, relação de emprego, tempo de serviço ou de contribuição e salário-de-contribuição, salvo comprovação de erro ou fraude. A comprovação dos dados divergentes, extemporâneos ou não constantes no CNIS caberá ao requerente.
O QUE ALIMENTA O CNIS?
1.
GFIP, que entrou em funcionamento em 1999, e obrigatoriedade em meio magnético para todas as empresas em 2004.
2.
RAIS, que começou em 1974.
3.
CAGED, que foi instituído em 1965.
4.
Recolhimentos em bancos e lotéricas.
FASE 3 – DECISÓRIA
Na fase decisória, o servidor responsável analisa as provas e o requerimento e emite uma decisão administrativa. A decisão, em qualquer hipótese, deverá conter despacho sucinto com objeto do requerimento administrativo, fundamentação com análise das provas constantes nos autos e conclusão, deferindo ou indeferindo o pedido formulado.
Obs.: reconhecido o direito ao benefício, como regra geral, os efeitos financeiros retroagem à data de entrada do agendamento (Central 135 ou internet) ou do requerimento – DER.
FASE 4 – RECURSAL
Em primeira análise, corresponde a uma fase aberta ao administrado que não concordar com a decisão administrativa. Porém, o INSS também poderá recorrer (não contra si próprio, mas pode recorrer das decisões proferidas pelas JR – Juntas de Recursos, já que o Tribunal Administrativo não compõe a estrutura organizacional do INSS, mas, sim, do Ministério a que é associado). O CRSS (Conselho de Recursos do Seguro Social) é composto de 29 JR e 4 Câmaras de Julgamento (CaJ), com as mesmas competências.
Fase Aberta
É possível voltar à produção de provas na fase recursal (mais uma manifestação da busca pela verdade material e informalismo procedimental.
JR – Juntas de Recursos
As JR têm jurisdição (administrativa) no estado ou região onde são localizadas, e as CaJ têm jurisdição em todo o território nacional.
CRSS
O CRSS é um tribunal administrativo, e suas decisões têm força de coisa julgada para o INSS, mas não para o particular (que pode ingressar com uma ação no Judiciário).
RECURSO ORDINÁRIO PARA A JR
O prazo para recurso é de 30 dias a partir da intimação da decisão de indeferimento. Prazo para Contrarrazões (do INSS): 30 dias do protocolo do recurso.
O INSS tem o poder de revisar a decisão com base nos argumentos trazidos em recurso ordinário. Se acolher, o processo se encerra. Se não acolher, faz despacho expondo as razões do não acolhimento (contrarrazões). Se não houver o despacho de contrarrazões, considera-se a manutenção da decisão de indeferimento pelos seus próprios fundamentos.
ATENÇÃO
A intempestividade não impede a revisão de ofício pelo INSS quando a decisão administrativa estiver incorreta.
Ocorrido o julgamento pela JR, o processo retorna ao INSS para que proceda a comunicação ao interessado.
RECURSO ESPECIAL PARA A CAJ
O prazo para recurso é de 30 dias. Podem recorrer tanto a parte quanto o INSS. Também é possível a conversão em diligência. É vedado ao INSS escusar-se de cumprir as diligências solicitadas pelo CRSS, bem como deixar de dar cumprimento às decisões definitivas daquele colegiado, reduzir ou ampliar o seu alcance ou executá-las de modo que contrarie ou prejudique seu evidente sentido.
A propositura, pelo interessado, de ação judicial que tenha por objeto idêntico pedido sobre o qual versa o processo administrativo importa renúncia ao direito de recorrer na esfera administrativa e desistência do recurso interposto.
PROCESSO JUDICIAL
Tem início com a petição inicial, que deve vir acompanhada de documentos essenciais: identidade, CPF, procuração e comprovante de residência. Conforme o caso, haverá termos necessários à comprovação da regularidade da representação (termo de curatela, por exemplo). Além desses documentos, deverá ser juntada renúncia ao excedente a 60 salários-mínimos quando se opta por ajuizamento nos juizados especiais federais (JEF).
DESTAQUES ÚTEIS NA PETIÇÃO INICIAL CONFORME A PRETENSÃO
1) AD/APIN
Esclarecer a doença/especialidade médica (múltiplas patologias, mas, em regra, geram perícia com médico do trabalho ou clínico geral), se pretende concessão/reestabelecimento, Número do Benefício no INSS (NB) e Data do Início do Benefício (DIB). Se for indeferido administrativamente por perda da qualidade de segurado, precisará comprovar o vínculo com o RGPS no início da incapacidade, ainda que tenha perdido posteriormente.
2) APID
Comprovar o tempo de carência alcançado, elencar os vínculos não computados pelo INSS, NB e DIB. Usar uma planilha de contagem de carência ajuda. Os casos mais comuns de indeferimento de APID derivam de:
a. INSS desconsiderar vínculos da CTPS que não estão no CNIS.
b. Não computar AD como carência.
c. Recolhimento em atraso não computado como carência.
Na situação b, devemos observar se o AD está intercalado com período contributivo para que possa ser considerado. Na situação c, devemos verificar se foi perdida a qualidade de segurado no momento do recolhimento em atraso.
3) APESP
Fazer uma lista de vínculos especiais, agente nocivo / enquadramento por profissão e se foi considerado ou não pelo INSS, elencar os outros vínculos comuns, NB, DIB e usar uma planilha de contagem de tempo de contribuição ajuda.
4) PENSÃO
Informações necessárias: dados do segurado falecido, idade da parte autora e tempo de convivência, data do óbito e DER. Esclarecer se o de cujus recebia benefício ou contribuía para o RGPS (comprovação da qualidade de segurado) e trazer lista de provas que comprovem a união estável (ou dependência econômica). Quanto à lista de provas, pode-se consultar as listadas no art. 22 § 3º do Dec. 3048/99 e art. 135 da IN 77/15. Caso o segurado tenha morrido sem qualidade de segurado, averiguar se ele teria algum direito a benefício do RGPS no momento do falecimento (AD, APIN, ATC ou APID). O direito a qualquer benefícioimpede a perda da qualidade de segurado.
5) AÇÕES REVISIONAIS FÁTICAS
Vínculos não considerados pelo INSS, remunerações divergentes na carta de concessão, NB, DIB (há decadência de 10 anos para as revisionais).
6) REVISIONAIS POR TESE OU REAJUSTES REMUNERATÓRIOS
Destaque para qual é a tese, NB e DIB (há decadência de dez anos para as revisionais, mas não para as de reajustes remuneratórios).
REVELIA (AUSÊNCIA DE RESPOSTA DO RÉU – NO CASO, O INSS)
A partir do art. 20 (parte final) da Lei nº 9.099/95, extrai-se que a decretação da revelia somente implica presunção de veracidade dos fatos alegados na inicial se o contrário não resultar da convicção do juiz.
DECADÊNCIA (ART. 103 DA LBPS)
Prazo de 10 anos para revisão do ato de concessão, indeferimento, revisão ou cessação por parte do INSS. Para consultar julgados importantes sobre decadência, veja o Explore +.
COMPETÊNCIA
A competência dos JEF é de natureza absoluta (art. 3º § 3º da Lei 10.259/01), e a maioria das ações previdenciárias tramita nos JEF. Exceções:
Causas com valor acima de 60 SM (Varas Previdenciárias).
Causas que envolvam acidente do trabalho (AD derivado de acidente do trabalho; APIN derivada de acidente do trabalho; pensão por morte derivada de acidente do trabalho; revisões de benefícios por acidente do trabalho).
Causas que envolvam competência delegada: opção do segurado pela Justiça Estadual caso more em comarca que não seja sede de Vara/JEF da Justiça Federal. O exercício da competência delegada é restrito às comarcas estaduais localizadas a mais de 70 quilômetros da sede da vara federal cuja circunscrição abrange o município-sede da comarca.
Nos casos de acidente de trabalho, a competência recursal é do Tribunal de Justiça (estadual) e, nos casos de competência delegada, a competência recursal é do Tribunal Regional Federal.
CONFLITOS DE COMPETÊNCIA
1)
JEF versus JEF – decidido pela Turma Recursal
2)
JEF versus Vara Federal – decidido pelo TRF
3)
Vara Estadual versus Vara Federal – decidido pelo TRF
4)
Vara Estadual versus JEF – há jurisprudência com julgamento no STJ e em TRF.
NECESSIDADE DE REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO PRÉVIO AO PROCESSO JUDICIAL
Foi julgado pelo STF, em sede de repercussão geral, que o ajuizamento de ação cujo objeto seja a concessão de benefício previdenciário depende de prévio indeferimento administrativo. A exigência de prévio requerimento, contudo, não se confunde com o exaurimento das vias administrativas, ou seja, não é necessário o recurso administrativo em relação ao indeferimento.
O STF fixou que a prévia exigência de requerimento administrativo não deve prevalecer nos seguintes casos:
(1)
Excesso de prazo legal para análise do requerimento (demora superior a 45 dias).
(2)
Entendimento da Administração notório e reiteradamente contrário à postulação do segurado (teses não aceitas pelo INSS).
(3)
Pretensão de revisão, restabelecimento ou manutenção de benefício anteriormente concedido (salvo, neste último caso, se depender da análise de matéria de fato ainda não levada ao conhecimento da Administração).
APRECIAÇÃO DA PROVA NA VIA JUDICIAL
As espécies de provas admitidas (já estudadas no âmbito do PAP) são as mesmas que instruirão as ações judiciais. A diferença do direito probatório nas vias administrativa e judicial reside na menor tarifação e limitações imposta ao juiz, ao contrário do servidor administrativo, que deve necessariamente observar o Decreto 3.048/99 e a IN 77/2015.
Na via judicial, a jurisprudência acaba só admitindo a tarifação imposta pela Lei. Nos demais casos, vigora a ampla liberdade para apreciação do acervo probatório.
No âmbito previdenciário, o principal exemplo de tarifação imposta pela lei é a exigência de início de prova material para comprovação de vínculo (art. 55 § 3º da Lei 8.213/91). Depois da MPV 871/19 (convertida na Lei 13.846/19), passou-se a exigir início de prova material também para dependência econômica.
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DICA
1) Priorizar as provas pré-constituídas.
Nem sempre é fácil conseguir documentação em prazos judiciais exíguos. Ex.: PPP ou prova contemporânea de vínculo.
2) Impugnação de laudos médicos periciais.
Via de regra, são acolhidas em impugnação apenas contradições internas do laudo ou questão muito evidente (internação atual/ laudo pela capacidade). Lembrar que já houve dois peritos (1 administrativo e 1 judicial) apontando na mesma direção, bem como a função executada pelo médico-assistente da parte (que eventualmente opina pela incapacidade) não é a mesma do perito.
3) Impugnar o perito ou especialidade tem mais eficácia no momento da nomeação, e não depois de apresentado o laudo desfavorável.
4) A jurisprudência é forte no sentido de que só é necessária especialização do perito em casos médicos muito complexos.
Via de regra, médicos do trabalho ou clínicos gerais são nomeados para as perícias quando se alega muitas patologias ou comorbidades. Deste modo, se há diversas patologias, mas algumas nitidamente não geram incapacidade, é mais indicado pedir perícia na área realmente crítica. Psiquiatria e oftalmologia são os casos que se costumam ser mais restritivos com a especialidade.
5) A Lei 13.876/19 entrou em vigor em 09/2019, limitando o pagamento (pelo Poder Executivo) de apenas uma perícia por processo (art. 1º § 3°). Exceção: determinação de instâncias superiores (§4º).
Recursos no JEF
Só cabe recurso (inominado/ordinário) de sentença definitiva (art. 5º da Lei 10.259/01). Consequências:
1) Não cabe recurso de sentença que extingue o processo sem julgamento do mérito. Obs.: tem-se admitido recurso inominado/ordinário quando a sentença terminativa gera negativa de jurisdição, pois acarretaria violação constitucional (inafastabilidade da jurisdição - art. 5º XXXV da CRFB). 2) Não cabe recurso de decisão interlocutória, exceto quanto ao deferimento de medidas cautelares (art. 4º da Lei 10.259/01). Obs.: em face de decisão interlocutória (inclusive em fase executiva), admite-se a impetração de mandado de segurança perante as turmas recursais (súmula 376 do STJ e enunciado 88 do FONAJEF).
Decisões de turma recursal desafiam Pedido de Uniformização de Interpretação de Lei Federal (PEDILEF):
No prazo de dez dias – dirigido à Turma Regional de Uniformização quando se tratar de divergência entre turmas da mesma região judiciária.
No prazo de 15 dias – dirigido à Turma Nacional de Uniformização dos JEF – TNU quando se tratar de divergência entre turmas de regiões diferentes (Art. 14 da Lei n.º 10.259/01 c/c art. 13 Res. 345/15 CJF).
Além de PEDILEF, cabe também recurso extraordinário para o STF em face das decisões das turmas recursais no prazo de 15 dias (art. 15 da Lei 10.259/01 e súmula 640 do STF). Quando a orientação acolhida pela TNU contrariar súmula ou jurisprudência dominante STJ, a parte interessada poderá usar do Incidente de Uniformização de Jurisprudência – IUJ (PUIL) para provocar a manifestação do STJ, que dirimirá a controvérsia (art. 14 § 4º da Lei 10.259/01).
FASE DE EXECUÇÃO
As execuções previdenciárias se concretizam, na maioria dos casos, em duas obrigações, sendo uma de fazer, consistente na implantação ou revisão do benefício previdenciário, e outra de pagar quantia certa, que são as parcelas atrasadas.
As implantações ou revisões são feitas através das Centrais de Análise de Benefícios – Demandas Judiciais (CEAB-DJ), antigas AADJ ou EADJ. Os cálculos dos atrasados são apresentados pelo Setor de Contadoria da Procuradoria Especializada do INSS – a chamada Execução Invertida (não é o autor, e sim o réu – INSS – que apresenta o cálculo dos atrasados).
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Alguns juízos fazem os cálculos mais simples na secretaria da Vara/ Juizado. O pagamento é feito via Requisição de Pequeno Valor (RPV) na Caixa Econômica Federal ou no Banco de Brasil no prazo de até 60 dias a partir da transmissão do juízo, ou segue a dinâmica dos precatórios (art. 100 da CRFB), se o valor a pagar superar 60 salários mínimos e não houver renúncia do excedente.
VERIFICANDO OAPRENDIZADO
Parte superior do formulário
1. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE DESCREVE CORRETAMENTE UM DOS ASPECTOS DOS SISTEMAS DE PROVA E SUA RELAÇÃO COM O DIREITO PREVIDENCIÁRIO.
Prevalece o sistema do livre convencimento motivado, em que o julgador considera as provas determinadas pela lei e as usa livremente na fundamentação de sua decisão.
Tendo em vista que, no Direito Previdenciário, certos fatos da vida laborativa são provados preponderantemente, em certa época, através de certos documentos, o sistema probatório que prevalece é o da prova tarifada.
Apesar de o sistema do livre convencimento motivado prevalecer no Direito Previdenciário, há, conforme o benefício pretendido, maior credibilidade de certas espécies de prova.
O sistema da íntima convicção, apesar de não ser regra no Direito Previdenciário, pode, ocasionalmente, nortear o julgamento sobre existência de união estável em requerimentos de pensão por morte.
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2. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE APRESENTA UMA AFIRMATIVA INCORRETA SOBRE OS PRINCÍPIOS QUE REGEM O PROCESSO ADMINISTRATIVO PREVIDENCIÁRIO (PAP).
O PAP observa o princípio do impulso, cabendo ao requerente (interessado) impulsionar o processo e promover as diligências para provar seu direito perante o INSS.
O princípio da motivação tem estreita ligação com os princípios da ampla defesa e contraditório.
Caso exista a possibilidade de conceder mais de um benefício, o INSS tem o dever de informar ao segurado sobre o benefício mais favorável, ainda que inicialmente tenha sido pedido outro benefício e isso venha a acarretar mais despesas para a autarquia.
É corolário do princípio da primazia da verdade material que o analista determine provas que entenda úteis, ainda que não requeridas pela parte.
Parte inferior do formulário
GABARITO
1. Assinale a alternativa que descreve corretamente um dos aspectos dos sistemas de prova e sua relação com o Direito Previdenciário.
A alternativa "C " está correta.
Opção A está errada, pois a determinação de provas pela lei configura o sistema de prova tarifada. Opção B está errada, porque, apesar da consideração sobre os documentos vigentes em cada época de fato ser um traço da operação com o Direito Previdenciário, prevalece o sistema do livre convencimento motivado. Opção C é a correta, e podemos citar como exemplo as provas periciais em benefício por incapacidade e documentais em aposentadoria especial. A opção D está errada, pois não se tolera o sistema da íntima convicção no Direito Previdenciário, sob pena de violação da ampla defesa e contraditório.
2. Assinale a alternativa que apresenta uma afirmativa incorreta sobre os princípios que regem o Processo Administrativo Previdenciário (PAP).
A alternativa "A " está correta.
A opção A está errada, pois o PAP é regido pelo princípio da oficialidade, que impõe à Administração o dever de dar prosseguimento ao processo, ainda que a inércia da parte interessada possa interferir no resultado. A opção B está correta, pois a motivação (expressa nos fundamentos da decisão) permite conhecer o porquê do resultado obtido e, com isso, exercer a ampla defesa e contraditório. A opção C revela como se dá a operacionalização do princípio da obrigatoriedade de concessão do benefício mais vantajoso, aplicável no âmbito do PAP. A opção D está correta, pois, no âmbito do PAP, poderá o analista, na busca da verdade material, determinar provas adicionais.
MÓDULO 3
Reconhecer os principais crimes
previdenciários
Inicialmente, alguns crimes previdenciários estavam previstos no art. 95 da Lei de Custeio da Previdência Social (LCPS – Lei 8.212/91), mas, a partir do ano 2000, com o advento da Lei 9.983/00, houve uma migração desses tipos penais para o Código Penal. Vale dizer que não houve revogação, anistia, ou o que se denomina no Direito Penal como abolitio criminis, ou seja, não houve perdão ou retirada desses crimes do ordenamento jurídico, mas apenas uma alteração do diploma legislativo que os prevê. Estes crimes migrados da LCPS para o CP dizem respeito, basicamente, a situações afeitas às áreas de arrecadação e fiscalização, sendo certo que também há tipo penal que prevê punição para fraudes relacionadas à concessão de benefícios. Considerando a existência dessas duas frentes (arrecadação e benefícios), comecemos com os crimes direcionados a evitar fraudes arrecadatórias.
APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA
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O empregador possui entre as suas obrigações acessórias tributárias reter o valor de contribuição dos segurados a seu serviço e recolher aos cofres da Previdência. A retenção feita em cima do salário pago ao empregado coloca nas mãos do empregador um valor que a ele não pertence: é um valor do seu empregado que deve ser destinado à Previdência Social, ou seja, o empregador, por uma questão de otimização da lógica fiscalizatória, fica de posse desse valor de terceiros (seus empregados e contribuintes individuais que lhe prestam serviço) até a data designada para o recolhimento das contribuições, sendo que a legislação prevê o crime de apropriação indébita previdenciária caso tais valores não sejam repassados à Previdência Social no tempo oportuno.
Previsão legal: art. 168-A do CP / pena prevista: reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e multa.
O caput do art. 168-A prevê que constitui crime “deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional”, sendo que o § 1º estende a previsão para as seguintes condutas:
1) Deixar de recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à previdência social que tenha sido descontada de pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do público.
2) Deixar de pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela previdência social.
Há, ainda, dentre os incisos do §1º, uma previsão relacionada a valores derivados de venda de produtos e serviços, que se aplicam a casos especiais, em que algumas empresas, em razão de sua operação, estão sujeitas à substituição tributária (ficar responsável por tributos devidos por terceiros) em cima de contribuições substitutivas (que não incidem sobre valores de remuneração, mas em razão de venda de produtos). Nesses casos, também há a caraterização de apropriação indébita previdenciária caso não haja o repasse: “Deixar de recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado despesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços”.
Quando a empresa deixa de recolher as contribuições devidas por ela própria, não está caracterizada a apropriação indébita previdenciária. Há necessidade de que o valor tenha sido retido de um terceiro para a configuração dessa espécie de delito.
Quem pratica o crime? O responsável legal pelo recolhimento, ainda que tenha delegado essa tarefa a terceiro que venha a agir em seu nome. Trata-se de crime próprio.
ELEMENTO SUBJETIVO
Apenas punível na modalidade dolosa (não há previsão de apropriação indébita previdenciária culposa). Para a configuração do crime, não se exige dolo específico, como se beneficiar pessoalmente dos valores não repassados. Trata-se de dolo genérico, com caráter omissivo, que se perfectibiliza pelo não repasse do valor retido no tempo devido.
EXCLUDENTES
É aceita, por parte da jurisprudência, a inexigibilidade de conduta diversa (excludente de culpabilidade) ou estado de necessidade (excludente da ilicitude), quando comprovada dificuldade financeira. Geralmente, tais excludentes são admitidos apenas em hipóteses excepcionais em que a apropriação indébita previdenciária não se protraia longamente no tempo. Vale dizer que esses entendimentos não são expressamente previstos em lei – o que está expressamente previsto em lei é a possibilidade de extinção de punibilidade e o perdão judicial, que veremos na sequência.
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE (NO CP)
Ocorre se o agente, antes do início da ação fiscal (caracterização

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