Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA __ VARA CRIMINAL DA COMARCA DE VIÇOSA-MG. Processo nº. xxxxxxx-xx.xxxx.x.xx.xxxx CALÍGULA, já devidamente qualificado nos autos da ação penal em epígrafe, dos quais os procedimentos se dão por este douto Juízo, por intermédio de seu advogado que a esta subscreve, vem respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, apresentar as ALEGAÇÕES FINAIS SOB A FORMA DE MEMORIAIS com fundamento legal nos art. 403, § 3º do Código de Processo Penal, e nos demais regimentos normativos, pelas razões de fato e direito fundamentados a seguir. I – SÍNTESES FATÍCAS Em 13 de agosto de 2018, Calígula, possuindo porte de arma de fogo, adquiriu uma arma de uso permitido, regularizando-a mediante o competente registro. Confidenciou com Fideles seu colega de trabalho o proposito de comprar uma arma para constranger Raimunda a ter relações sexuais com ele, mas que jamais a lesionaria. Ainda contou que reservara um quarto em um motel, uma mordaça e algemas para evitar que Raimunda gritasse ou fugisse. Contudo, no momento que denunciado deixava sua casa, em seu carro, para encontrar vitima, foi interceptado por uma viatura policial que haviam sido alertados por Fideles sobre o crime e ao ser abordado foi preso, instaurado o inquérito, Raimunda foi ouvida, afirmando o fato, apesar de não apresentar documentos, que comprovasse a idade de 17 anos. O Ministério Público o denunciou pelo crime de estupro qualificado, previsto no Art. 213, §1º c/c Art. 14, II, c/c Art. 61, II, alínea f, todos do Código Penal. Por excesso prazal o denunciado foi colocado em liberdade. Na audiência de instrução e julgamento, a vítima Raimunda foi ouvida, confirmou suas declarações procedidas, apesar de ter esquecido seu documento oficial de identificação para confirmar a sua menor idade no dia do fato. O réu não estava presente na audiência por não ter sido intimado. Na segunda audiência, Calígula foi ouvido, confirmando integralmente os fatos narrados na denúncia e vindo aos autos para as alegações finais. II – DAS PRELIMINARES 1. Da nulidade dos atos processuais A princípio o denunciado requer a nulidade de todos os atos processuais na instrução probatória, pois feriu o princípio da ampla defesa, assegurado pelo art. 5º, inciso LV, da CF/88, que garante não somente o direito a sua defesa técnica, mas também a autodefesa, que, por sua vez, inclui o direito de presença. Dessa forma como não houve a intimação de Calígula para audiência de instrução e julgamento, certamente causou prejuízo a sua defesa, pois não estava presente na audiência quando foi produzida toda a prova da acusação. Assim, a nulidade dos atos praticados desde a primeira audiência de instrução e julgamento deve ser reconhecida. III – DO MÉRITO 1. Da necessidade de absolvição. Primeiramente, o fato narrado na denúncia não constitui crime, isso porque não foi iniciada a execução, havendo meros atos preparatórios, que, em regra, não são puníveis pela norma penal. Assim os meios ou instrumentos de preparação para o crime, como compra de uma arma de fogo, a reserva do quarto em um motel, a mordaça e algemas configuram somente atos preparatórios, no entanto, não se deu início a execução do estupro. Não tem como punir os atos preparatórios, pois não houve risco ao bem jurídico protegido. Ainda que presente os elementos subjetivos, não houve crime em razão de objetivamente não haver risco ao bem jurídico da vitima. Diante disso, não há tentativa de estupro, já que não houve inicio a execução do crime previsto no art. 213, §1º, devendo o agente ser absolvido, na forma do art. 386, inciso III, porque sua conduta não configurou crime. 2. Desqualificação do crime Não sendo admitida a nulidade dos atos processuais ou a absolvição do denunciado por sua conduta não configurar crime, e na eventual condenação deveria ser pela prática do crime do art. 213, caput, do CP e não por seu parágrafo primeiro, já que não há nos autos prova da idade da vítima afastando, dessa forma sua qualificadora. A vítima não apresentou qualquer documento oficial que comprovasse sua idade, sendo certo que a mera alegação não é suficiente para provar a idade, em razão disso, deve ser afastada a qualificadora do art. 213, § 1º, do CP. 3. Do afastamento da agravante Em relação a agravante do art. 61, inciso II, alínea f, do CP, descrita na denúncia. Apesar de a vítima ser mulher, não há que se falar em violência na forma da Lei nº 11.340/06, já que não existia relação familiar, de coabitação ou qualquer outro relacionamento anterior entre as partes. Não basta para o reconhecimento da agravante a simples situação de vítima do sexo feminino. 4. Da atenuante da confissão espontânea Ademais, a confissão espontânea deve ser reconhecida como forma de atenuante, prevista no art. 65, inciso III, alínea d, do CP, pois, apesar da conduta não ser crime, Calígula confessou integralmente os fatos preparatórios descritos na denúncia. Sendo que na dosimetria pena, na terceira fase, requer a diminuição até o máximo em razão da tentativa do delito ter ficado longe de ser consumado. Por fim, vale destacar que o regime de pena a ser aplicado deve ser o aberto ou semiaberto, considerando a pena mínima e a redução aplicável. IV – DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS Diante de tudo exposto, requer: 1) Preliminarmente, a nulidade dos atos praticados desde a primeira audiência de instrução e julgamento, conforme art. 5º, inciso LV, da CF/88; 2) Caso não admita a nulidade, requisita absolvição, com fulcro no art. 386, inciso III, do CPP; 3) Na eventualidade de condenação, requer o afastamento da qualificadora do art. 213, §1º do CP, com aplicação da pena base no mínimo legal; 4) Que seja reconhecida a atenuante da confissão espontânea, segundo o art. 65, inciso III, alínea d, do CP; 5) O afastamento da agravante do art. 61, inciso II, alínea f, do CP; 6) Redução máxima em razão da tentativa fica longe de ser consumado; e 7) Aplicação do regime aberto ou semiaberto. Nesses termos, Pede e espera deferimento. Viçosa-MG, 14 de março de 2019. Advogado OAB nº XXXX-XX
Compartilhar