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Fundamentos Socioantropológicos da Educação

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/
DEFINIÇÃO
Apresentação de linhas de Ciências Sociais aplicadas à Educação por intermédio do professor, com o uso do conhecimento
sociológico e antropológico em seu cotidiano.
PROPÓSITO
/
Oferecer instrumentos teóricos, por meio da Antropologia e da Sociologia, que permitam a reflexão sobre Educação, práticas
docentes e cotidiano escolar.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar as principais linhas sociológicas aplicadas à Educação
MÓDULO 2
Relacionar a Escola com alguns conceitos fundamentais da Antropologia
MÓDULO 3
Identificar a relação entre Educação e Ciências Sociais no cotidiano escolar
/
INTRODUÇÃO
QUEM É VOCÊ? COMO FUNCIONA SUA SOCIEDADE?
QUAIS SÃO AS REGRAS DOS AMBIENTES EM QUE VOCÊ CONVIVE?
Em um antigo comercial, o exercício do conhecimento era definido como: “não são as respostas que movem o mundo. São as
perguntas”. Essa provocação vai guiar nosso estudo.
Quando convivemos, podemos vivenciar o espaço social de forma recorrente, mas tendemos a não pensar sobre ele. Geralmente,
não refletimos sobre como foram definidas suas regras e como alguns comportamentos passaram a ser naturalizados ou negados.
Ao estudar sobre as sociedades, somos provocados a perceber que todo o palco de relações humanas é composto por construções
sociais.
Neste tema, analisaremos como o conhecimento sobre as Ciências Sociais pode ser fundamental para compreender o que
representa a Escola, sua relação com a Educação e a dinâmica de como o professor, ao se instrumentalizar com conceitos desse
campo, torna-se mais bem preparado para a atuação docente.
NÃO SÃO AS RESPOSTAS QUE MOVEM O MUNDO. SÃO AS
PERGUNTAS
Campanha publicitária do Canal Futura sobre o filme Perguntas.
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/
CONSTRUÇÃO SOCIAL
Compreendida como a ideia de que uma composição social não é algo natural, mas organizada, pensada, “criada” no limite pelo
conjunto das interações humanas.
MÓDULO 1
 Identificar as principais linhas sociológicas aplicadas à Educação
 Fonte: BlurryMe | Shutterstock
/
Dividimos a construção deste módulo em duas partes: conheceremos a história e depois apresentaremos os principais conceitos da
Sociologia, sempre relacionando-os com a Educação. Vamos lá!
SOCIOLOGIA: O CONTEXTO HISTÓRICO DO NASCIMENTO
DA NOVA CIÊNCIA
A Sociologia é uma ciência relativamente nova – do século XIX – e surgiu em um contexto de intensas transformações na sociedade.
Para conhecermos as origens da Sociologia, é necessário considerarmos alguns fatores históricos que desencadearam a construção
dessa nova proposta científica de análise e compreensão da sociedade.
1
/
RENASCIMENTO
SÉCULOS XV A XVI
Movimento intelectual que propunha romper com as tradições intelectuais medievais, retomando ideias do mundo grego.
MERCANTILISMO
SÉCULOS XVI A XVIII
Estrutura econômica que fortalecia o papel dos governos na economia, provocando acúmulo de capital.
2
3
ILUMINISMO
/
SÉCULOS XVII A XIX
Movimento filosófico que se propunha a questões sobre o funcionamento social, debates abordando formas políticas, sociais e
econômicas.
REVOLUÇÃO FRANCESA
SÉCULOS XVIII A XIX
Marco de ruptura burguesa assumindo o poder. Tem reflexos nas independências das Américas e na mudança de sistemas políticos
e econômicos por toda a Europa, consolidando o pensamento iluminista como símbolo de um novo mundo.
4
Cada um desses movimentos faz parte do processo de construção e reconstrução do olhar do homem sobre si mesmo e sobre o
mundo que o cerca.
O Renascimento marcou a entrada da Europa, até então medieval, na Idade Moderna, com o resgate de referências da Antiguidade
Clássica em diversas esferas da cultura e da sociedade: Artes, Ciência e Filosofia.
A partir dessa revalorização dos elementos da Antiguidade Clássica, o período renascentista foi responsável pela valorização do
conhecimento humano advindo da razão e consequente separação dos dogmas religiosos.
/
O Mercantilismo trouxe mudanças nas relações econômicas e comerciais não apenas na Europa como em todo o mundo. Essa
prática representou rápido desenvolvimento econômico para o continente europeu. A partir da Expansão Marítima, o poder
econômico e comercial do continente se intensificou com a exploração de territórios, povos, rotas comerciais.
O Iluminismo, período entre o final do século XVII e início do século XVIII, foi marcado pelos esforços do homem em analisar a
sociedade em que vive sob um novo viés: o científico. Vieram à tona os avanços e comprometimentos do homem em relação ao
estudo de seus modos de vida a partir da Ciência, da pesquisa e do debate – iniciados no Renascimento.
ILUMINISMO
Seus pensadores, filósofos e economistas se entendiam como propagadores da luz justamente pelo compromisso com o
conhecimento e sua difusão – daí vem o termo Iluminismo.
A PARTIR DO ILUMINISMO, OCORREU A PRINCIPAL MUDANÇA DE PERSPECTIVA
SOBRE O HOMEM E SEU PAPEL NA SOCIEDADE: A PROPAGAÇÃO DO IDEAL DE
IGUALDADE ENTRE OS HOMENS.
O Iluminismo foi um movimento cultural que surgiu, principalmente, na Inglaterra, Holanda e França e que pode ser definido pela
defesa de que o pensamento racional deveria substituir o misticismo e os dogmas da Igreja.
Os novos moldes de pensamento sobre a vida e a sociedade revelavam os anseios da burguesia crescente e a tendência de
rompimento com as estruturas do Antigo Regime. Muitas ideias que surgiram nesse período fazem parte das bases que utilizamos
atualmente para pensar sobre o mundo ao nosso redor.
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/
A partir desses elementos, podemos afirmar que o movimento defendia:
Antropocentrismo: o homem era o centro do universo
Valorização da investigação e do questionamento como formas de construção do conhecimento em todas as áreas – natureza,
política, sociedade e economia
Crença nos direitos
Liberdade econômica
Predomínio da classe burguesa
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
A Revolução Francesa tem destaque quando nos propomos a analisar o contexto histórico do surgimento da Sociologia. A
Revolução, que derrubou o Antigo Regime, possuía como base a rejeição ao modelo de governo da monarquia e sua manutenção de
poder justificado pela vontade divina. Assim, os ideais defendidos pelos revolucionários estavam alinhados com as novas propostas
de pensar o mundo e a sociedade.
Nesse contexto, surgiu a Sociologia, apesar de ainda não ser compreendida como ciência. Nasceu com Auguste Comte e o
Positivismo, buscando uma forma de enxergar a sociedade que ajudasse a trazer estabilidade nos campos da política, da economia
e da sociedade.
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AUGUSTE COMTE
Auguste Comte (1798-1857) foi um pensador francês cujas ideias deram forma à corrente filosófica do Positivismo.
POSITIVISMO
Sistema filosófico elaborado por Comte, baseado na ideia de que a cultura e a sociedade passam por três estados: o teológico,
o metafísico e o positivo.
Para Comte, a maturidade e as ciências surgem no terceiro estágio. A etapa positiva corresponde, então, às ciências positivas,
que deveriam ser a base ou os princípios da organização científica da sociedade. No positivismo, há uma valorização da
experiência sensível (os fatos “positivos”) como principal fonte do conhecimento.
QUAL O SENTIDO DESSA HISTÓRIA?
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/
Essa perspectiva histórica levará você a perceber que as sociedades humanas se tornaram cada vez mais complexas e, na transição
do século XIX para o XX, isso estava muito claro.
Grandes intelectuais se debruçavam sobre as relações sociais, sobre o seu sentido, como os indivíduos se relacionavam. Esse
campo, dentro da nova perspectiva de Ciência (afinal, o século XIX é o século da Ciência), fazia com que os relatos sobre outras
sociedades servissem de comparativos e, da comparação, emergiam as concepções universais, com perspectivas globais que
explicariam desde o domínio europeu até o estudo sobre como as dominações eram validadas.
 François Marie Voltaire. Fonte: Nicku | ShutterstockSempre foi difícil defender a Sociologia como uma ciência, pela ausência de um resultado de pesquisas desenvolvidas de maneira
direta. No entanto, seus pensadores defendiam que o vasto campo de história e a análise de sua perspectiva seriam mais do que
/
suficientes para alcançar tais resultados.
Ao longo do século XIX, foram fundadas as bases do pensamento sociológico. Ainda que profundamente alterado, discutido e com
autores importantes, todos, de algum modo, são reconhecidos como tributários de três importantes pensadores: Emile Durkheim,
Karl Marx e Max Weber. Tendo posições antagônicas, não sendo contemporâneos em sua produção, os três são entendidos como
pedras angulares para conhecer, desenvolver e entender o pensamento sociológico.
Sobre cada um desses autores, no entanto, há rios de tinta de análise de suas ideias. Há muito mais material do que nossa
abordagem ou qualquer outra poderia, de uma única vez, alcançar. Assim, a partir de agora, você conhecerá os fundamentos básicos
de seu pensamento e, especialmente, como influenciam esse campo comumente chamado de Sociologia da Educação.
RIOS DE TINTA
Expressão que faz alusão à quantidade de tinta gasta para escrever todas as informações no papel.
SOCIOLOGIA E EDUCAÇÃO
Sociologia e Educação se entrelaçam como forma de analisar, compreender e debater os processos sociais no campo do ensino e
da aprendizagem. Essa vertente, a Sociologia da Educação, tem interesse tanto pelo aspecto institucional e organizacional da
Educação como pelas relações sociais entre os indivíduos envolvidos nesse processo.
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/
ASPECTO INSTITUCIONAL E ORGANIZACIONAL DA EDUCAÇÃO
Determinado pelas bases que norteiam a ideia de Educação de uma sociedade.
A SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO PARTE DO PRINCÍPIO DE QUE A EDUCAÇÃO SE
DESENVOLVE EM UMA SOCIEDADE QUE TAMBÉM É RESULTANTE DA EDUCAÇÃO.
A partir de diversas linhas teóricas, ela debate sobre aspectos que envolvem cultura, sociedade, Educação e processos de
aprendizagem – as realidades socioeducacionais.
Sociologia da Educação é um campo específico transdisciplinar. Dialoga com a Sociologia, a Pedagogia e a Educação. Seu fim é
perceber que a Escola deve ser entendida como um fenômeno social.
/
 Sala de aula em 1895
A construção contemporânea da Escola – urbana, a Escola popular que surge após a consolidação do capitalismo – só pode ser
compreendida se for associada às demandas que a criam, ou melhor, que a inventam. A Escola é apresentada a partir da segunda
metade do século XIX e, principalmente, ao longo do século XX, como mecanismo fundamental para difusão da Educação.
DE QUE EDUCAÇÃO ESTAMOS FALANDO?
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Depende de quem fomentou a criação dessas Escolas, dos planos estabelecidos, das propostas que a cercam. Uma Escola não é
um ato de amor! Escola é uma instituição social que dialoga com interesses, e as pessoas que a frequentam são sujeitos que
possuem interesses, normas e cultura.
Perdendo o lirismo idealizado que temos sobre a Escola como uma instituição de natureza positiva, devemos vê-la como uma parte
do complexo social em que vivemos. Temos um desafio: estudar como essas dinâmicas podem ser estabelecidas. O caminho será o
mesmo que todos os grandes nomes da Sociologia propuseram: conhecer Durkheim, Marx e Weber e, depois, voltar a olhar para
essa Escola.
ÉMILE DURKHEIM
Émile Durkheim (1858-1917), sociólogo e psicólogo francês, é considerado o criador da Sociologia como ciência e pai da Sociologia
da Educação. O primeiro sociólogo recebeu esse título por ter sido o primeiro a elaborar um método bem estruturado que
consolidou a Sociologia como ciência.
/
 Émile Durkheim
Durkheim afirmava que as ideias de Auguste Comte se aproximavam mais de abstrações filosóficas do que de uma estrutura
científica.
Ele construiu um método baseado no conceito de fato social, que representa as maneiras de agir dos indivíduos dentro de
determinado grupo social e da humanidade em geral. Tais maneiras de agir revelam a existência de uma consciência coletiva.
PARA DURKHEIM, OS INDIVÍDUOS NÃO IMPORTAM EM SUA AÇÃO, EM SI. O SENTIDO
DO SER HUMANO É VIVER SOCIALMENTE E SE CONSTITUIR POR ESSA RELAÇÃO.
Todos nós vivemos sob um sistema de coerção efetivo, e essa coerção não é vista como um problema, mas como “fato social”, uma
forma dos indivíduos conseguirem conviver coletivamente. A busca social seria a do equilíbrio, e tudo o que gera desequilíbrio é
/
entendido como “desvio”. Desviantes têm perfeita noção de que são desviantes e que serão punidos por isso, o que faz parte do
sistema e da busca do equilíbrio social.
Para entendermos o papel de Durkheim na Sociologia da Educação, podemos partir de uma das ideias mais marcantes do sociólogo:
em cada aluno haveria dois seres igualmente distintos e inseparáveis; um deles seria o individual. Esse conceito representou
grande mudança na análise sobre a Educação, os alunos e o processo de aprendizagem, pois apresentou outro lado dos alunos,
formado por um sistema de ideias, no qual é possível observar elementos da sociedade da qual fazem parte.
Para Durkheim (1978), "a Educação é uma socialização da jovem geração pela geração adulta", que deveria seguir em forma de
um processo eficiente, buscando o melhor desenvolvimento possível da comunidade na qual a Escola estivesse inserida.
Essa concepção durkheimiana, também conhecida como funcionalista, entende que as consciências individuais são formadas pela
sociedade. Por meio dessa teoria, o autor considera a Educação com um bem social, trazendo, pela primeira vez, a discussão das
relações entre normas sociais e cultura local.
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 Pátio escolar em 1895
A construção do ser social, feita em boa parte pela Educação, é a assimilação pelo indivíduo de uma série de normas e princípios –
morais, religiosos, éticos ou de comportamento – que baliza a conduta do indivíduo em um grupo. O ser humano, mais do que
formador da sociedade, é um produto dela.
A Educação para Durkheim tinha um papel de garantir que a sociedade humana não se perdesse em uma tábula rasa, ou seja, o
homem não traz elementos definidos de antes do nascimento; todas as relações e construções vêm da relação com o mundo e cada
indivíduo preenche a sua tábula ao longo da vida, sendo a garantia da continuidade dos valores morais, religiosos, políticos e
científicos de uma sociedade.
A função de todos que optam por atuar na Escola é garantir a compreensão desses fatores, o que avaliza o processo social.
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Durkheim e sua teoria recebiam a denominação de funcionalista até por conta da percepção de uma sociedade que funciona como
um relógio. Para que efetivamente haja precisão, é necessário que cada um entenda e reproduza plenamente seu papel social.
Dinâmicas de ruptura, de quebra dos processos, mesmo que em busca de uma ascensão social, deveriam se reprimidas.
TÁBULA RASA
Expressão derivada do latim, significa folha de papel em branco, usada por inúmeros filósofos ao longo da história como
metáfora para categorizar as pessoas que não têm conhecimento.
MAS O QUE ISSO TUDO QUER DIZER?
Para Durkheim, a sociedade era perfeita e o papel da Educação era manter essa sociedade perfeita?
Era uma proposta que defendia os poderosos e queria garantir que os mais pobres aceitassem sua condição?
A Resposta é: não!
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/
Durkheim tomava como base de sua análise o funcionamento dinâmico do presente. Sociedades humanas tendem à conservação
e, na busca de se conservarem, criam sistemas que garantem essa preservação. Para o autor, o desvio, o desviante, a
desestruturação sempre acontecerão, o que é considerado um problema e, diante disso, a vontade coletiva busca reestabelecer seu
equilíbrio.
A EDUCAÇÃO É UM ESFORÇO DESSA MANUTENÇÃO, DE QUE A SOCIEDADE
PERMANEÇA EQUILIBRADA.
Durkheim nos ajuda a entender preceitos sociais muito presentes. Os valores de conservação, da Escola como um ambiente de
continuidade, que prepara o indivíduopara estar perfeitamente adaptado a se integrar no tecido social, não é algo que ficou no
passado e foi superado. É um preceito cotidiano, mas que claramente gera desafios, como lidar com o outro, qual o papel da Escola,
qual o papel do professor.
A AÇÃO EXERCIDA PELAS GERAÇÕES ADULTAS SOBRE AS GERAÇÕES
QUE NÃO SE ENCONTRAM AINDA PREPARADAS PARA A VIDA SOCIAL;
TEM POR OBJETO SUSCITAR E DESENVOLVER, NA CRIANÇA, CERTO
NÚMERO DE ESTADOS FÍSICOS, INTELECTUAIS E MORAIS, RECLAMADOS
PELA SOCIEDADE POLÍTICA NO SEU CONJUNTO E PELO MEIO ESPECIAL A
QUE A CRIANÇA, PARTICULARMENTE, DESTINE-SE.
/
DURKHEIM, 1978
O pensamento do autor nos ajuda a entender, discutir e discordar sobre o funcionamento social.
KARL MARX
Se a busca de Durkheim era entender o presente e a dinâmica social, a de Marx era observar como a história poderia nos ajudar a
compreender a dinâmica de transformações da sociedade. Se o primeiro buscava compreender os mecanismos do equilíbrio social,
Marx, em uma posição antagônica, propunha compreender como o equilíbrio representava a vitória da dominação de um grupo.
/
 Karl Marx
A ÚNICA MANEIRA DE MODIFICAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO SOCIAL PASSAVA PELA
RUPTURA DAS ESTRUTURAS DE DOMINAÇÃO!
Não é difícil notar como os autores perceberam de forma diversa o conhecimento sobre a dinâmica social, mas isso não diminui a
importância de um e ou de outro. Marx é um autor que, analisando os efeitos da consolidação do capital e politicamente incomodado
com a questão, propôs uma Sociologia engajada, um olhar sobre essa dinâmica, a percepção de suas formas de dominação e como
vencer esse processo.
Observa-se a inovação de Karl Marx em relação às ciências humanas como eram vistas até então. Ele propunha o entendimento de
uma Sociologia que notasse que a história e as sociedades eram feitas por pessoas e que disputas e ordenamentos abririam
importantes perspectivas sobre a noção de progresso.
Com Marx, temos a criação do materialismo histórico, que trazia um conceito novo para a interpretação dos acontecimentos
sociais, pois chamava fatores técnicos e econômicos para a leitura e compreensão da história.
O idealismo dialético de Hegel foi lido, criticado e transformado no materialismo dialético.
Marx partia da premissa de que toda a história humana é baseada na existência de indivíduos humanos e vivos, e essa premissa é
fundamental para compreender a relação existente entre o homem e a natureza.
Para Marx, a partir dessa percepção pode-se distinguir o homem da natureza, pois torna possível perceber que o ser humano
apresenta uma concepção de religião e, mais importante, a noção da necessidade de produção do seu meio de subsistência, ou
seja, de sua vida material.
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HEGEL
Georg W. F. Hegel (1770-1831) foi um dos principais filósofos alemães do século XIX. Era notório nas universidades e formou
importantes seguidores. Sua dialética – a dinâmica da transformação do pensamento por uma ideia construída, tese, que uma
vez contraposta, por uma antítese, leva a um novo conhecimento, síntese. Marx levou essa dinâmica para observação e
transformação das estruturas sociais.
É ESTE O FUNDAMENTO DA CRÍTICA IRRELIGIOSA: O HOMEM FAZ A RELIGIÃO, A
RELIGIÃO NÃO FAZ O HOMEM.
A religião é a autoconsciência e o sentimento de si do homem, que ainda não se encontrou ou voltou a se perder. Mas, o homem não
é um ser abstrato, apartado do mundo. O homem é o mundo do homem, o Estado, a sociedade. A Filosofia do Direito de Hegel é
criticada e rediscutida por Marx, que formulava sua visão de mundo a partir de um sistema dialético e materialista. Com
proposições como essa, Marx vê a Escola de maneira diferente que Durkheim:
DIALÉTICA
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/
É a ideia de conceber a realidade como um devir, o qual se daria a partir da existência de contradições, ou seja, esse conceito
está diretamente ligado à concepção de transformação.
MATERIALISMO
A Sociologia não deve ser pensada como um campo possível de pensamento, ele é material, estrutura-se nas demandas e
disputas presentes no cotidiano.
A ESCOLA PODE SER UM IMPORTANTE CAMPO DE DOMINAÇÃO, DE REPRODUÇÃO
DOS INTERESSES DE DETERMINADOS GRUPOS.
Para Marx, o motor da História é a luta de classes. Toda sociedade é composta por grupos que dominam os meios de produção –
terras, estoque, capital –, que são as formas de garantir a subsistência, de se inserir nas dinâmicas econômicas dentro de
determinada sociedade.
Quem domina os meios de produção domina a sociedade. Mas, o que impede que os dominados, normalmente mais numerosos,
lutem e tomem para si os meios de produção? É o estudo desses mecanismos que passam à ordem do dia do autor.
Junto com o inglês Engels, um autor mais prático, mas que auxilia na difusão das ideias marxistas, Marx entende que as sociedades
são divididas em classes sociais, nas quais existem as classes dominantes e as classes oprimidas. As ideias das classes dominantes
são, para ele, em todas as épocas, as ideias dominantes.
/
A CLASSE QUE CONTROLA OS MEIOS DE PRODUÇÃO E A FORÇA MATERIAL
DOMINANTE TAMBÉM É A QUE CONTROLA A FORÇA DOMINANTE INTELECTUAL. E OS
INDIVÍDUOS QUE POSSUEM ESSA DOMINAÇÃO TÊM A CONSCIÊNCIA DISSO.
O que modifica a história é a luta dos dominados contra os dominantes, travada não no campo físico, mas no intelectual, permitindo
que, por meio da alienação imposta, os dominados naturalizem a dominação e se sintam incapazes de se levantar contra seus
dominantes.
Para Marx, historicamente, a construção de discursos carismáticos, os treinamentos, as formas de ensinamento sempre atuaram
nesse sentido. No entanto, a Escola burguesa sofisticou esse processo. Para legitimar a ascensão da burguesia e o seu direito aos
meios de produção, passou a ser defendida e consolidada uma estrutura escolar que tinha a finalidade de, entre outras, manter o
quadro de alienação da classe proletária e sua fragilidade diante dos dominantes. A crítica nos parece clara no trecho de
Trabalho Assalariado e Capital, de 1847.
ALIENAÇÃO
Conceito de Marx exposto em muitos materiais e mais famoso pela forma clara que é apresentado no chamado Manifesto
Comunista. No limite, quem controla os meios de produção aliena um conjunto de bens, que é social, do coletivo. Essa tomada
dos bens – político, culturais e principalmente econômicos – é o motivo legitimador dos dominantes.
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/
OUTRA PROPOSTA MUITA APRECIADA PELOS BURGUESES É A DA
“INSTRUÇÃO”, MAIS ESPECIALMENTE DO “ENSINO INDUSTRIAL” GERAL.
NÓS NÃO CHAMAREMOS A ATENÇÃO PARA A CONTRADIÇÃO ABSURDA
QUE RESIDE NO FATO DE QUE A INDÚSTRIA MODERNA SUBSTITUI CADA
VEZ MAIS O TRABALHO COMPLEXO PELO TRABALHO SIMPLES. (...) O
REAL SENTIDO DA INSTRUÇÃO PARA OS ECONOMISTAS FILANTROPOS É
O SEGUINTE: ENSINAR A CADA OPERÁRIO O MAIOR NÚMERO POSSÍVEL
DE RAMOS INDUSTRIAIS DE TAL MODO QUE, SE ELE FOR EXPULSO DE UM
RAMO PELA INTRODUÇÃO DE UMA NOVA MÁQUINA OU POR UMA
MODIFICAÇÃO NA DIVISÃO DE TRABALHO, POSSA SE EMPREGAR EM
OUTRO LUGAR O MAIS FACILMENTE POSSÍVEL.
MARX apud NOGUEIRA, 1990
/
NA SOCIOLOGIA DE MARX, A EDUCAÇÃO É
ALGO NEGATIVO?
NÃO É BEM ASSIM!
Marx afirma que uma das estratégias burguesas foi a separação definitiva entre capital e trabalho, fazendo com que a força
trabalhadora perdesse a noção sobre o quanto vale sua força produtiva. Esse seria um dos preceitos da alienação. Assim, os
educadores que tivessem o interesse em transformar efetivamente a sua sociedade teriam uma função social vital: combater a
alienação e a desumanização por meio do aprendizado de competências que permitissem a compreensão tanto do mundo
físico como do social.
Direta e indiretamente, a obra de Marx serviu como base para diversas linhas pedagógicas voltadas para a mudança da sociedade.
Autores que seguiam o marxismo debateram como a Educação é parte integrante do processo de transformação das condições
sociais ao mesmo tempo em que é controlada por ele.
MAX WEBER
Chegamos ao terceiro autor considerado pilar da Sociologia: Max Weber (1864-1920).Sociólogo, jurista e intelectual alemão, Weber
apresentou ideias muito valiosas para o debate metodológico de diversas áreas das ciências sociais, pois, enquanto a abordagem de
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Durkheim valorizava a coerção social e o coletivo sobre o indivíduo, Weber aponta para a valorização da escolha do indivíduo.
Ele é o agente, que medeia seus interesses, atende e se permite estar submetido a regras, assim como opta, por interesse como
indivíduo, pelo rompimento de regras. Assim, segundo Weber, determinados pontos e conflitos internos são possíveis e adequados à
estrutura social, inclusive à realidade educacional.
 Max Weber
Em relação a Marx, a História tem mais uma vez papel vital, não seria racional em si mesma, mas o historiador seria capaz de
racionalizá-la parcialmente. Quer dizer, não existe um modelo de transformação ou conservação social, mas os indivíduos se
espelham em modelos, interpretativos, constantemente reproduzidos e que permitem ser observados e interpretados.
/
ATÉ AQUI ESTÁ TRANQUILO? NÃO? ENTÃO
VAMOS LÁ!
Enquanto Durkheim e Marx tentam compreender a mecânica do funcionamento social, Weber afirma que o que temos é uma
interpretação: observar a história é construir modelos inexistentes, e que não precisam existir, mas que dali é possível notar
padrões e como cada conjunto social assume características próprias oriundas desses padrões.
 RESUMINDO
Imagine alguém que pregue uma mensagem em uma sociedade:
Para Durkheim, se sua voz tiver consonância social, ele terá um papel;
Para Marx, sua voz visa legitimar um grupo ou se opor a ele;
Weber analisaria o seu papel, cruzando os modelos de pregadores com o comportamento desse indivíduo específico.
Ele propõe que pregadores em diversas sociedades sejam tratados como sujeitos estranhos, com hábitos excêntricos que se
afastam da média das pessoas. Esse é o modelo, vamos ver como ele, por comparação, ajuda a entender o pregador específico
dessa sociedade, o que ele fala, para quem fala, no que se afasta ou se aproxima do modelo. Essa é a operação sociológica.
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/
Weber sugere a construção de um modelo teórico que, como tal, tem a função de oferecer um formato ideal que, porém, é
inexistente na prática. Pode-se compreender isso ao se pensar em um manequim de uma loja. Ele é um modelo, aquele corpo não
existe, constituindo apenas uma aproximação genérica, idealizada; o que os clientes fazem é traçar comparações para decidirem se
querem experimentar a roupa ou não.
As ações, para Weber, partem do indivíduo e podem ser organizadas por suas motivações. Segundo Weber, podemos dividi-las em:
AÇÃO RACIONAL
Você observa e vê que no fim daquilo obterá ganhos. Exemplo: Vou colocar meu filho na melhor escola que puder, pois, assim, ele
terá mais possibilidades de ter boas condições financeiras no futuro.
AÇÃO EM FUNÇÃO DE VALORES
Questão de ordem, de valor, orienta-se pelos valores familiares ou pelo modo como os incorporamos à nossa hierarquia de valores.
Exemplo: Vou matricular meu filho em uma escola confessional (religiosa), assim ele fica afastado de professores que possam tentar
desvirtuá-lo.
AÇÃO TRADICIONAL
Relacionada aos atos rotineiros, entendidos como comuns em uma sociedade, praticados por recorrência. Exemplo: Criança
pergunta à mãe por que precisa usar um tênis todo preto para uniforme da escola; na aula sobre futebol, os meninos separam os
times, e, se alguma menina quiser jogar, tem que avisar.
AÇÃO AFETIVA
Relacionada a impulsos do indivíduo, lógicas construídas por ele a partir de sua observação e sentimentos. Exemplo: Aluno invade
escola e atira nos colegas, motivado por alguma vingança.
/
Weber entende a Educação como o meio pelo qual os indivíduos se preparam para o exercício de funções determinadas pelas
transformações provenientes da racionalização de suas vidas. Assim, o modelo de Educação possui três finalidades básicas:
DESPERTAR O CARISMA
Encontrar os dons, despertar o gosto pelo aprender e ser capaz de levar isso à sociedade.
/
PREPARAR O ALUNO PARA A VIDA
É a pedagogia do cultivo, que consiste em uma forma de ensino que visa a formação de sujeitos cultos.
/
ENSINO DE CONHECIMENTOS ESPECIALIZADOS
É a pedagogia do treinamento, em que a aprendizagem é voltada ao preparo do indivíduo, objetivando sua função no campo do
trabalho.
STATUS
Neste ponto, chegamos ao último conceito weberiano que abordaremos. Para Weber, status (prestígio social) é um componente vital
para os posicionamentos sociais. Desse modo, na busca por prestígio social, o que é fomentado na Educação acaba por dar base
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para o posicionamento na estratificação social.
Na obra sociológica de Max Weber, a Educação é vista como instrumento de poder de grupos de status. Serve como um
componente desse processo e não pertence necessariamente ao domínio da competência, mas à materialização de posições
sociais. Diplomas e certificações acabam por agregar prestígio aos grupos sociais que disputam poder.
PRESTÍGIO SOCIAL
Segundo o autor, as dimensões do prestígio são econômicas, sociais e a capacidade de distribuir poder.
[...] CLAMOR UNIVERSAL PELA CRIAÇÃO DOS CERTIFICADOS
EDUCACIONAIS EM TODOS OS CAMPOS LEVAM À FORMAÇÃO DE UMA
CAMADA PRIVILEGIADA NOS ESCRITÓRIOS E REPARTIÇÕES. ESSES
CERTIFICADOS APOIAM AS PRETENSÕES DE SEUS PORTADORES, DE
INTERMATRIMÔNIOS COM FAMÍLIAS NOTÁVEIS (...), AS PRETENSÕES DE
/
SEREM ADMITIDAS EM CÍRCULOS QUE SEGUEM “CÓDIGOS DE HONRA”,
PRETENSÕES DE REMUNERAÇÃO “RESPEITÁVEL” AO INVÉS DA
REMUNERAÇÃO PELO TRABALHO REALIZADO, PRETENSÕES DE
PROGRESSO GARANTIDO E PENSÕES NA VELHICE E, ACIMA DE TUDO,
PRETENSÕES DE MONOPOLIZAR CARGOS SOCIAL E ECONOMICAMENTE
VANTAJOSOS.
WEBER, 1982.
Na sociedade do capital, existe a materialização do diploma universitário, das escolas de formação, dos cursos que ofertam
notoriedade somente por possuírem aquele documento.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A PARTIR DO ESTUDO DAS PROPOSIÇÕES DE EMILE DURKHEIM EM RELAÇÃO À SOCIOLOGIA,
ANALISE AS SEGUINTES AFIRMATIVAS: 
A EDUCAÇÃO É UM COMPONENTE DE GARANTIA DA REPRODUÇÃO SOCIAL.
/
O FATO SOCIAL É UM CONCEITO QUE ATRIBUI A COERÇÃO SOCIAL A UM ANSEIO COLETIVO.
AS AFIRMATIVAS SÃO:
A) Complementares, uma vez que a Educação é necessariamente um fato social.
B) Dissonantes, uma vez que esses conceitos misturam as proposições de Marx na primeira e Durkheim na segunda.
C) A afirmativa I pode ser entendida como um ponto de convergência da teoria de Durkheim e Marx.
D) A afirmativa II é correta por adotar um conceito de Durkheim e discorda da afirmativa I.
2. A RELAÇÃO ENTRE A ESCOLA E A EDUCAÇÃO NÃO É AUTOMÁTICA. EDUCAÇÃO É DIFERENTE
DE ESCOLA, APESAR DE A ESCOLA SER UMA INSTITUIÇÃO PLURAL E VITAL PARA REPRODUÇÃO
DA EDUCAÇÃO. KARL MARX E MAX WEBER SE DEBRUÇAM SOBRE A ESCOLA NA FORMAÇÃO DO
CAPITALISMO, MOSTRANDO COMO ELA PASSA A TER PAPEL DESTACADO. A AFIRMATIVA CORRETA
SOBRE ESTA QUESTÃO É:
A) Para Marx, a dissonância entre capital e trabalho promovida pela burguesia é criada pela escola e passa a ser disseminada como
algo natural e necessário.
B) Para Weber, a formação do carisma, criado pela sociedade burguesa, foi fundamental para consolidação do capitalismo.
C) Para Marx, a alienação promovida pela escola faz com que esta instituição deva ser combatida como uma das forças
legitimadoras do domínio burguês.
/
D) Para Weber, a valorização do status como componente de valor social assumiu condições singulares nas sociedades por ele
estudadas, gerando a intensificação da busca de diplomas e certificações.
GABARITO
1. A partir do estudo das proposições de Emile Durkheim em relação à Sociologia, analise as seguintes afirmativas: 
A Educação é um componente de garantia da reprodução social.
O fato social é um conceito que atribui a coerção social a um anseio coletivo.
As afirmativas são:
A alternativa "C " está correta.
Durkheim atribui à Educação um papel fundamental na conservação social. Ela em si não é um fato social, mas nelase manifestam e
reafirmam fatos sociais. Apesar da interpretação de Durkheim e Marx serem discordantes em relação ao papel da Educação, ambos
a compreendem como um fator de reprodução social. Para Durkheim como fundamental a conservação e, para Marx, como uma
estratégia de alienação dos grupos dominantes.
2. A relação entre a Escola e a Educação não é automática. Educação é diferente de Escola, apesar de a Escola ser uma
instituição plural e vital para reprodução da Educação. Karl Marx e Max Weber se debruçam sobre a Escola na formação do
capitalismo, mostrando como ela passa a ter papel destacado. A afirmativa correta sobre esta questão é:
/
A alternativa "D " está correta.
Para Weber, o crescimento das sociedades estruturais fomentou uma característica modelar: sociedades são hierarquizadas e a
busca por esse posicionamento sempre fomentou a disputa por determinados bens e conhecimento, nesse sentido, a Educação
tornou-se uma necessidade para a condição de status contemporâneo e acabou por gerar uma movimentação em garantir a
regulação e consolidação do papel dos diplomas e certificados.
MÓDULO 2
 Relacionar a Escola e alguns conceitos fundamentais da Antropologia
Neste módulo, você perceberá como a Antropologia pode ajudar a identificar a Escola como um lugar muito mais complexo do que a
maior parte da sociedade vê quando olha para essa instituição.
/
BREVE HISTÓRIA DA ANTROPOLOGIA
A Antropologia é a ciência que pensa e estuda o homem dos pontos de vista biológico, social e cultural. As abrangências ou os
campos são diversos, mas não serão nosso objeto de estudo neste momento. Queremos destacar sua formulação como campo de
saber norteado por um interesse recorrente: a relação com o outro.
O olhar para o outro buscando conhecer, entender ou negar a sua cultura é recorrente em diversas sociedades. Não é acidental que
o grego Heródoto fosse chamado de filobárbaro, o amante dos bárbaros, por ter dedicado sua vida a retratar e escrever sobre os
povos não gregos. Poderíamos fazer um longo passeio pela história para perceber esse processo de relações entre a construção de
culturas singulares que se estruturam na negação de outras culturas, mas vamos a um momento singular: a construção da
modernidade e, em especial, o colonialismo e o neocolonialismo.
HERÓDOTO
Geógrafo e historiador grego, autor da obra Histórias, que narra a invasão persa à Grécia no século V, ao mesmo tempo em
que descreve, com grande riqueza de informações, características culturais e étnicas dos povos com os quais os gregos tinham
contato à época.
Ao longo dos séculos XVI e XVII, a Europa consolidou lenta e continuamente o seu domínio no continente americano. Nesse
processo, o encontro de civilizações passou a ser parte do ideário europeu. Aqueles homens eram retratados ora como sujeitos
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angelicais, puros, livres de pecados, ora como selvagens perigosos que comiam carne humana (antropofagia).
 Os Filhos de Pindorama, por Theodor de Bry
O colonialismo institucionalizou uma nova literatura que teve grande sucesso na Europa, uma etnografia primitiva, contada por
aventureiros que pareciam ter voltado de uma galáxia muito distante da nossa visão, de tão fantásticos eram os relatos que eles
organizaram. O domínio europeu não cessou, intensificou-se e transformou-se. Nos séculos XVIII e XIX, o advento da formação do
capitalismo institucionalizou novas formas de dominação. Primeiro, a Inglaterra expandindo para todos os cantos do mundo, depois
Napoleão conduzindo uma nova fase de expansões, as unificações italiana e alemã, que geraram novos disputantes no modelo
neocolonialista.
A Europa domina o mundo, sua cultura está presente em toda parte, como espelho ou negação. A ideia de uma tradição correta,
verdadeira, racional e civilizada é posta na mesa e torna-se o padrão.
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ETNOGRAFIA
Descrição de costumes e tradições de um grupo humano, de outra cultura.
RELATOS SOBRE O NOVO MUNDO
Alguns exemplos desses relatos: Mundus Novus, de Américo Vespúcio; Duas Viagens ao Brasil, de Hans Staden; Viagem à
Terra do Brasil, de Jean de Léry e o Relato de Viagem, de Francisco Orellana.
MAS EXISTIAM AS OUTRAS CULTURAS NA
VISÃO DOS EUROPEUS DESSE PERÍODO?
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OUTRAS FORMAS DE ENXERGAR, VIVER E
EXPERIENCIAR O MUNDO?
CLARO QUE SIM!
Na Europa, essas outras culturas faziam parte do objeto de pesquisa de intelectuais que viviam em seus gabinetes e escreviam
sobre esse mundo. Algumas vezes esses relatos sobre o outro chegavam à Literatura, como em Júlio Verne em A Volta ao Mundo
em 80 dias, e chegavam à Arte, com as imagens reais e inventadas feitas por naturalistas.
Mas, no fim, vemos o desenvolvimento de uma prática etnográfica – escrita ou descrição de outra cultura –, com grupos que
registravam e detalhavam outras culturas e, novamente, na maioria das vezes, analisando relato de outros, o que foi chamado
provocativamente de etnografia de gabinete. O seu sentido – que se apresentava como racional no século XVIII – buscava
primeiramente o pitoresco e o estranho em suas observações.
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 Fonte: Marzolino | Shutterstock
A etnografia tem grande impulso no século XIX com a partilha da África e Ásia, e as disputas neocolonialistas. Os registros serviam
para afirmar os ideais de superioridade europeia e a ideia de hierarquização de culturas – positivistas dividiam as sociedades entre
civilizadas, bárbaras e selvagens – como forma de legitimar a própria dominação da cultura europeia ocidental.
O capital e as disputas, sendo fortalecidos, criaram uma ordem mundial. As trocas de uma sociedade mundial, ainda que tivessem
formas próprias, estavam o tempo todo em comparação com a sociedade europeia.
Observe alguns exemplos desse tipo de comparação:
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ORDEM MUNDIAL
Ordem mundial, nesse sentido, não é o termo histórico atual dado ao fim da Guerra Fria, mas, em vez disso, designa a ideia da
formação de um sistema internacional pautado nas relações capitalistas.
Quando você lida com uma língua europeia, você a chama de idioma. Já quando a língua é de um grupo local, um traço
não europeu, você tende a chamá-la de dialeto.
As tradições religiosas judaico-cristãs – inclusive as muçulmanas – são tradadas como religiões. Já tradições africanas,
americanas e afins costumamos reconhecer como mitologias.
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
 ATENÇÃO
/
É importante ressaltar que esses termos têm finalidades próprias no campo da Antropologia, não são compostos de forma genérica
como mostramos aqui, estamos apontando para suas percepções do senso comum e o regime de historicidades dessas ideias.
A chegada ao século XX trouxe uma série de mudanças à etnografia de gabinete. Uma série importante de autores passou a atuar
em campo (Default tooltip) , buscando compreender a lógica da composição dessas culturas. Muitos consideram que a efetiva
dinâmica de construção da Antropologia só aqui se estrutura.
Novos conflitos e o reconhecimento de outras tradições pouco a pouco impactaram os campos de pesquisa da Antropologia e houve
a percepção de que a iconografia de dominação e superioridade do século anterior poderia ser superada.
GRANDES PENSADORES DA ANTROPOLOGIA
BRONISŁAW KASPER MALINOWSKI (1884-1942)
Antropólogo polonês, tido como um dos fundadores de uma Antropologia social, de uma etnografia funcionalista. Mais do que o
detalhamento de suas teorias, o que nos interessa é perceber sua proposição do que é função da etnografia. Percebia-se a
possibilidade de outra sociedade, outra forma de entender a humanidade, sem a proposição de hierarquização que fundamentava o
movimento anterior. Isso levou finalmente à percepção da existência do outro.
/
 Bronislaw Kasper Malinowski
Malinowski tem uma história pitoresca em meio aos esforços de guerra. Diante da impossibilidade de retorno à Inglaterra em um
momento de conflito, acabou intensificandosua observação de campo de forma singular, experimentando e testando uma série de
técnicas que modificariam a história da Antropologia.
FRANZ BOAS (1858-1942)
Antropólogo americano que observou as profundas distinções entre grupos que, apesar de próximos do ponto de vista geográfico,
culturalmente, pareciam pertencer a mundos diferentes, conforme procurou demonstrar ao comparar esquimós e índios americanos.
/
Seu pensamento reforça e modifica a construção de Malinowski, já que, para ele, a classificação dos povos baseada na ideia de um
processo evolutivo cultural unilinear era arbitrária e não bastaria para a caracterização dos diversos grupos etnográficos.
 Franz Boas
ERA NECESSÁRIO QUE A ANTROPOLOGIA SERVISSE À COMPREENSÃO DO
ENTENDIMENTO INDIVIDUAL DOS GRUPOS; NOTASSE SUA PRÓPRIA DINÂMICA
EVOLUTIVA EM TERMOS DE CULTURA E LINGUAGEM.
Os estudos antropológicos não deveriam construir uma composição linear da cultura, mas um espelho que permitiria a composição
de quadros comparativos não hierarquizados. De certa forma, estudos antropológicos não serviriam como curiosidade no
/
entendimento do outro, mas para que as sociedades se percebessem. A provocação é olhar o espelho para que pudessem
desnaturalizar seus processos e suas hierarquias.
O pós-guerra mundial e as disputas anticolonialistas (por conflitos diretos, como na Ásia e na África, ou com a ideia de uma
descolonização do pensamento, que passou a ser debatida nas Américas) fomentam a possibilidade do antropólogo ser um sujeito
mais engajado, defensor de grupos que possuíssem e tivessem direito a se relacionar com suas culturas.
O objetivo é atravessar o espelho, não descrever o outro, não simplesmente perceber o outro para que possa notar suas
diferenças, mas atravessar o espelho. Finalmente, reconhecer o seu direito de ser, de denunciar, de uma sociedade que possui
outras formas.
DISPUTAS COLONIALISTAS
Depois dos conflitos mundiais, as guerras pela independência da África e da Ásia, que já tinham se iniciado, ampliaram seu
escopo. Revelaram atrocidades dos colonizadores e chocaram os idealistas do mundo civilizado. Das mãos cortadas pelo rei
Leopoldo no Congo à cerca de crânios na Tunísia, o olhar para o colonizador, se em algum momento foi paternalista, passou a
ser destruído e negado. Esse exercício também modifica a antropologia.
ATRAVESSAR O ESPELHO
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Conceito apresentado por Claude Lévi-Strauss para criticar a Antropologia que não via o outro, mas queria criar uma forma da
sua própria sociedade ser compreendida pela comparação. Atravessar o espelho significa efetivamente ir ao encontro de
entender o outro.
CLAUDE LÉVI-STRAUSS (1908-2009)
O francês, famoso na música de Caetano Veloso, foi um dos importantes estudiosos das etnias indígenas, criador da Antropologia
Estrutural. Em um dos seus mais famosos artigos, Raça e História, o autor apresenta os desafios da construção histórica do sujeito,
apontando características que permitem perceber que, para além de uma natureza humana, o homem é composto por acúmulos
culturais, próprios e inerentes àquelas comunidades. Não é um acúmulo no sentido histórico, mas uma percepção de que
conseguiríamos classificar as sociedades em pontos evolutivos diversos, em uma comparação que em qualquer sentido não teria
fundamento.
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 Claude Lévi-Strauss
 VOCÊ SABIA
Lévi-Strauss viajou pelo Brasil entre 1935 e 1939, realizando estudos de sociedades indígenas, e foi professor de Sociologia na USP
aos 26 anos de idade. Quando, em visita ao Rio de Janeiro e depois de um sobrevoo à Baía de Guanabara, perguntaram a Lévi-
Strauss o que teria achado daquela beleza, ele respondeu que parecia uma boca banguela. A resposta indignou alguns brasileiros e
Caetano utilizou a referência na música O Estrangeiro de 1989.
François Hartog afirma sobre o entendimento da Antropologia estrutural proposta por Lévi-Strauss:
/
O MAIS IMPORTANTE É O AFASTAMENTO DIFERENCIAL ENTRE AS
CULTURAS. É AQUI QUE RESIDE SUA “VERDADEIRA CONTRIBUIÇÃO”
CULTURAL A UMA HISTÓRIA MILENAR, E NÃO NA “LISTA DE SUAS
INVENÇÕES PARTICULARES”. TAMBÉM, AGORA QUE SE ENTROU EM UMA
CIVILIZAÇÃO MUNDIAL, A DIVERSIDADE DEVERIA SER PRESERVADA, MAS
NA CONDIÇÃO DE ENTENDÊ-LA MENOS COMO CONTEÚDO DO QUE COMO
FORMA: CONTA, SOBRETUDO, O PRÓPRIO “FATO” DA DIVERSIDADE, E
MENOS “O CONTEÚDO HISTÓRICO QUE CADA ÉPOCA LHE DEU”.
HARTOG, 2006.
A existência de culturas é própria de sociedades humanas e não são comparáveis, são estruturadas e fundamentadas em códigos,
demandas, fenômenos e escolhas. A maneira mais tradicional de conduzir e pensar a história, como um fenômeno unificador da linha
temporal da humanidade e classificador, é absolutamente sem sentido. Por isso, o que conta são os fatos, os eventos, as trocas, e
não a concepção de que evoluíram a um ponto A, B ou C.
A questão é como conviver em sociedades tão complexas, aproximar-se sem negar ou segregar, mas compreendendo que elas que
existem e essa existência em si já é um evento que deve ser respeitado.
/
As culturas são necessariamente diversas. Culturas ágrafas ou com graus de dificuldade de entendimento sobre a função de seus
agentes não podem servir como justificativa de negação, exclusão ou violência.
CULTURAS ÁGRAFAS
Culturas que não mantêm sistemas de escritas regulares, apesar de muitas delas terem simbolismo, ícones e até caracteres
que remetem a fonemas.
 ATENÇÃO
O relativismo cultural proposto por Geertz e pelos demais não significa aceitação e naturalização de fenômenos de exploração e
violência, mas o exercício de observação de como funciona aquela cultura, ainda que o posicionamento seja de não aceitação em
nossa ou em outra sociedade.
CLIFFORD GEERTZ (1926-2006)
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Antropólogo norte-americano conhecido como o fundador da Antropologia interpretativa, Geertz colocou a cultura e o debate da
cultura como elemento fundamental e abordou os fenômenos culturais escritos e conflituosos no seio de uma mesma sociedade.
 Clifford Geertz
A ANÁLISE CULTURAL É (OU DEVERIA SER) UMA ADIVINHAÇÃO DOS
SIGNIFICADOS, UMA AVALIAÇÃO DAS CONJECTURAS, UM TRAÇAR DE
/
CONCLUSÕES EXPLANATÓRIAS A PARTIR DAS MELHORES CONJECTURAS
E NÃO A DESCOBERTA DO CONTINENTE DOS SIGNIFICADOS E O
MAPEAMENTO DA SUA PAISAGEM INCORPÓREA.
GEERTZ, 1989.
Cultura é fruto de uma concepção das teias culturais. Sociedades são complexas e constroem e reconstroem sentidos culturais
constantemente. O estudo dessas interpretações de mundo, de construções de sentido (ainda que sejam constantemente
rediscutidos e remodelados), é o processo de entendimento antropológico.
GEERTZ, DE ALGUMA FORMA, QUEBRA O ESPELHO. SOCIEDADES SÃO COMPLEXAS
E A TODO MOMENTO SE REESTRUTURAM E SE REINVENTAM QUANDO SE
ENCONTRAM E REALIZAM TROCAS, POIS OS SÍMBOLOS QUE AS COMPÕEM SÃO
REDIMENSIONADOS, REINVENTADOS.
O estudo da Antropologia não é o de um conjunto constituído que vai analisar outro conjunto constituído. É uma teia de relações
enormes em que o antropólogo recorta, em sua análise, um processo de redes de trocas infinitas.
Toda sociedade é múltipla em símbolos e em trocas. Por isso, não devem ser entendidas como culturas puras ou isoladas a serem
preservadas a qualquer custo. Cultura não é algo limitado a grandes conjuntos isolados. Esses conjuntos não existem. Os grupos
sociais, as diversas culturas estão sempre vivas trocando e se reinventando.
VAMOS ENTENDER MELHOR?
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Sabe quando uma pessoa faz uma crítica ao indígena que tem um celular de última geração dizendo que se ele tem aquele aparelho
não é um índio de verdade? É esse preconceito que Geertz explica. Não é porque há uma identificação com uma cultura singular,
com a defesa de sua existência e sua luta, que ela estará isolada e cristalizada.
A cultura está sempre em movimento.
Claro que o contexto influencia na mudança trazida por Geertz. Se Lévi-Strauss produziu no período de Guerra Fria e
descolonização, Geertz convive com a sociedade dasdécadas de 1980 em diante, vivencia a formação de sociedades em rede e a
globalização. Vê a multiplicação de conceitos antropológicos, que põem em xeque as noções clássicas de pureza.
Vivemos um amadurecimento dos conceitos construídos por esses autores e não são escritos em livros de Antropologia para
dificultar a compreensão dos que iniciam seus estudos. Eles estão nos livros, mas é diante de nós que esses conceitos se
materializam. Cada vez que usamos um celular ou computador; cada vez que saímos à rua, que conversamos, esses conceitos
aparecem.
A ANTROPOLOGIA, COMO CAMPO DO CONHECIMENTO, PROVOCOU, AO LONGO DO
SÉCULO XX, UMA MUDANÇA DE ENTENDIMENTO, LEVANDO-NOS A DEBATER AS
FÓRMULAS E NOÇÕES SUPREMACISTAS – PROVOCOU O PENSAR, O ENTENDER E,
PRINCIPALMENTE, O DESCOBRIR FORMAS DE CONVIVÊNCIA.
Então, agora que você absorveu o entendimento da Antropologia, buscamos mostrar como essas ideias se materializam em
conceitos importantes. Todos aqueles que pretendem pensar na docência, em qualquer campo, precisam instrumentalizar seu olhar
com conhecimentos antropológicos para ter mais possibilidades de enfrentar esse desafio. Vamos, então, conhecer alguns desses
conceitos.
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CONCEITOS DE CULTURA
NÃO SE PODE DEFINIR CULTURA
O antropólogo sul-africano Adam Kuper conclui em seu livro Cultura, que não podemos definir o conceito de cultura. Isso mostra
como a Antropologia debateu o conceito de cultura e o associou de formas diversas ao longo do tempo, chamando a nossa atenção
para esse ponto.
Kuper afirma que a cultura foi trabalhada durante muitos anos como algo material, a posse que definia um grupo, um conjunto de
práticas, hábitos, formas de explicar o mundo. E essa visão chega ao senso comum, é a maneira mais recorrente dos homens
definirem cultura: um conjunto de práticas e pensamentos que os constituem como pertencentes a uma cultura A ou B.
No entanto, essa materialização foi debatida por autores diversos mostrando que seu entendimento precisava ser repensado.
Levando para o contexto da Escola, corresponde às ideias que muitas vezes norteiam as festas de folclore ou as representações de
outras etnias, como as comemorações do Dia do Índio.
CULTURA COMO PRODUÇÃO
Cultura seria tudo aquilo que o homem produz. Identificados com uma leitura estruturalista de mundo que associa cultura à ação
efetiva do homem na sociedade. Ainda que não fosse mais algo que pudesse ser possuído, passava a ser algo que constituía o
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meio. Pensando nessa leitura no contexto da Escola, a cultura passava a ser um exercício de consciência dos alunos sobre as
condições de trabalho, as formas de exploração, as classes sociais a que pertencem, os modelos de produção, consumo e
identidade dos quais eles fazem parte.
LEITURA ESTRUTURALISTA
Influenciada pelas dinâmicas de trabalho, modo de produção, legitimação do funcionamento e da estrutura social.
CULTURA COMO IDENTIDADE E MÚLTIPLAS FORMAS
É a percepção de que cultura é um direito, uma prática, uma identidade e que cada um tem necessidade de ostentar em um mundo
complexo, ou seja, o conceito de multiculturalismo, criado nos anos de 1980.
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 Fonte: Tavarius | Shutterstock
No auge da noção de Aldeia Global e de um amálgama de culturas em um mundo mais integrado, emerge a defesa de que as
sociedades eram constituídas por culturas múltiplas. A luta contra o apagamento acabou por reforçar sentimentos separatistas,
guerras étnicas e movimentos de negação. Desse modo, a noção de multiculturalismo – sociedades complexas em que diversas
culturas participam – passou a sofrer severas críticas.
CULTURA COMO RESSIGNIFICAÇÃO
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O historiador italiano Carlo Ginzburg oferece uma importante contribuição ao debate sobre a noção de cultura, exemplificando em
seu célebre livro O Queijo e os Vermes que cultura não deve ser interpretada como um campo de exclusão ou segmentação, mas
que culturas circulam, reinventam-se, recriam-se. Um grupo pode transformar sua negação em elemento identitário.
 EXEMPLO
Para entender, vamos falar sobre futebol!
Durante anos, os chamados clubes de massa (Corinthians em São Paulo, Flamengo no Rio de Janeiro e Bahia em Salvador, por
exemplo) eram agredidos verbalmente pelos seus adversários com a acusação de serem torcidas de marginais, maloqueiros,
ladrões, favelados etc. As torcidas desses times de massa, no entanto, passaram a utilizar essa agressão como marca de identidade,
com comemorações que exaltavam a condição de loucos, favelados e afins. Aquilo que era negação tornou-se uma forma de
diferenciação e identidade.
São muitos os exemplos do mesmo tipo: a identificação do outro, em função da cor da pele, como “negro”, que acaba depois se
autodenominando “preto”, revelando duas formas de reconhecer o outro pela cor e não como pessoa, como ocorria durante o
período da escravidão. Diante da desnaturação, da negação e da violência, o grupo se reinventa, afirma-se pelas características de
superação, criando, redesenhando e inventando uma nova dinâmica cultural afirmativa.
CULTURA COMO REPRESENTAÇÃO
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Outras formas de conceito de cultura têm sido adotadas, como as lentes pelas quais os homens veem o mundo. Essa ideia vem de
cultura como um discurso, uma representação, uma simbologia.
São muitos conceitos possíveis, mas todos com o propósito de tirar do sentido de cultura algo material, palpável, e transformá-la em
uma construção, torná-la parte da maneira como uma sociedade se vê, pensa a si mesma e se relaciona. Ao mesmo tempo que
define interpretações de mundo, ao ser debatida, a cultura faz com que as lentes se transformem e se modifiquem. É uma estrutura
estruturante.
 EXEMPLO
A Escola é um excelente exemplo!
Já foi considerada um espaço atípico, um espaço de elite.
Tornou-se uma exigência, com a noção de que se você deseja ser alguém na vida, você precisa da escola. Era necessário
obedecer e cumprir.
Depois, deveria ser um espaço de construção, o aluno deveria ser estimulado a ir à escola, a se integrar em seu ambiente.
A Escola não é o espaço em que se ensina a ser alguém, mas é o espaço do aprender. Segundo a Base Nacional Comum Curricular,
a Escola é o local onde o aluno desenvolve habilidades e competências necessárias ao seu desenvolvimento. É uma Escola que
deve reproduzir menos e produzir – construir efetivamente – mais.
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A Escola tem um forte grau de integração social, os problemas do cotidiano são lá vivenciados e, assim, cada professor, cada aluno,
cada transformação do bairro, da cidade, do país, e do mundo influenciam no conjunto de relações culturais. As visões comuns
aproximam pessoas, as antagônicas as afastam.
VIVEMOS NUM TEMPO EM QUE TRANSFORMAMOS DIFERENÇAS EM CAMPOS
DIÁRIOS DE CONFLITOS. ESTUDAR CULTURA NUNCA FOI TÃO IMPORTANTE.
CONCEITO DE ETNOCENTRISMO
Um dos conceitos amplamente debatidos e transformados pela Antropologia é o de etnocentrismo. Durante o século XIX, o principal
conceito que distinguia sujeitos humanos era o de raça. A percepção de que homens pertenciam a raças diferentes e, por causa
disso, tinham diferenças marcantes era utilizada amplamente. O conceito de raça foi utilizado cientificamente durante o século XIX
para justificar a hierarquia entre os seres humanos.
RAÇA
A lógica de ciência não significa um discurso de verdade, mas a investigação. No século XIX, pesquisas como a de Cesare
Lombroso tentavam comprovar cientificamente quais raças eram predispostas ao crime.
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 EXEMPLO
Conhece a história da Maldição de Cam?
É uma história bíblica (Gênesis 9:18 - 10:32) que ocorre depois do episódio da arca de Noé e do dilúvio. Cam vê Noé, seu pai,
embriagado e, em vez de ajudá-lo, debocha dele. Isso teria gerado uma maldição para os descendentes de Cam, que ficaram para
sempre marcados.
Não há referência à cor negra, mas é esta a associação construída por certa tradição religiosa, adotada pela ciência do século XIX,
que justificava que homens de cor preta eram inferiores ouamaldiçoados. Os estudos científicos da época apontavam que qualquer
mistura representava a fragilização das raças puras, como aconteceria com animais de espécies diferentes. Então, não haveria nada
pior do que um mestiço de raças humanas diferentes.
Assim, havia ideias políticas que defendiam que o Brasil precisava romper com a maldição de Cam, escolher uma raça e ir
direcionando toda a população nesse sentido. Nesse contexto, políticas públicas foram então pensadas buscando o branqueamento
da sociedade brasileira. Imigrantes brancos de todo o mundo eram estimulados a vir para o Brasil.
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 A redenção de Cam, por Modesto Brocos y Gómez
 SAIBA MAIS
Veja o quadro de Modesto Barroso A Redenção de Cam. O quadro demonstrava o espírito brasileiro de branquear, de eliminar a
marca do que era chamado de mestiçagem na história brasileira.
Essa não é uma exceção; no século XX, personalidades importantes como Rui Barbosa diziam que os traços de mistura da cultura
brasileira era um sinal de atraso, de um Brasil não civilizado.
/
A Antropologia do século XX começava a mudar e, em vez do conceito de raça, que ainda demoraria a ser vencido, passava a ser
pensado o conceito de etnia.
Etnia é um conceito antropológico que não lidava somente com a identificação biológica dos sujeitos, mas com sua composição
social, cultural, suas práticas e relações pessoais e coletivas para definir uma sociedade. No entanto, não abandonava a noção de
raça ou da composição de superioridade, agora cultural.
A oposição entre civilizado versus selvagem demorou a ser vencida. Entretanto, o senso comum ainda é fortemente marcado pela
composição de um etnocentrismo vital: existem hábitos e comportamentos aceitáveis e aqueles que devem ser corrigidos.
Etnocentrismo é uma marca de negação, um conceito que define padrões sociais e de comportamentos como corretos e, por
consequência, aqueles que devem ser negados, destruídos ou persuadidos a serem modificados.
Gilberto Freyre, famoso por estudar as relações étnicas brasileiras, ainda entendidas como raciais, identificou na afetividade entre
colonizados e escravizados (índios e africanos) a construção de uma estrutura singular.
Freyre representou um avanço na leitura da Antropologia brasileira em relação ao rompimento com a hierarquização racial (a
valorização do branqueamento), entendendo de outro modo a composição complexa da etnia brasileira. No entanto, seus estudos
geraram entendimentos bastante equivocados, como os que defendiam que o Brasil teria conseguido de forma única mediar os
conflitos históricos entre raças diversas e constituído uma democracia racial.
GILBERTO FREYRE
Gilberto Freyre (1900-1987) foi um importante sociólogo brasileiro, além de ter sido escritor, jornalista, poeta e pintor.
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Gilberto Freyre nunca propôs esse conceito. Em seu livro Casa Grande e Senzala, ele não reduz a violência do colonizador, mas
defende que na condição da colonização uma relação afetiva acabou sendo constituída.
 Uma família brasileira do século XIX sendo servida por escravos, por Jean-Baptiste Debret
O conceito de raça biológica foi derrubado pelos estudos modernos de Biologia, que acabaram ratificando que homens
contemporâneos pertencem a uma mesma espécie, independentemente de suas variações físicas, oriundas de processos diversos,
e que estão em constante modificação.
Esse conceito ganhou outra composição sociológica, como forma de identificação étnica. As “tribos” que compõem a diversidade
social dentro de um mesmo espaço, marcam traços identitários múltiplos, e a composição histórica de raça – como forma de
negação – passou a ganhar força de identidade do grupo. Um grande exemplo é a construção nazista de superioridade de uma
raça, como os arianos e sua origem caucasiana.
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Com essas novas configurações, o conceito de etnocentrismo passou a ser entendido como um exercício a ser negado, considerado
uma forma de violência.
IDENTIDADE DE GRUPO
Um dos ícones dessa relação uma vez mais são os chamados movimentos negros e indígenas. Traços de negação
reconfigurados para uma identidade de luta pelos seus direitos.
MAS, QUAL A RELAÇÃO DISSO COM A
ESCOLA? UM PROFESSOR NÃO É
ETNOCÊNTRICO. ELE É CUIDADOSO. SERÁ?
Nós tendemos ao binarismo da ação. Tendemos a identificar automaticamente o que é certo e errado, como se não houvesse outra
forma. Temos padrões históricos constituídos e apresentados como corretos e dificuldade para rompê-los. Quando um professor
entra em sala de aula, tenta falar o que se programou para falar, tenta “levar” seu conhecimento aos alunos e eles não o escutam,
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não o compreendem, não desejam sua voz, a reação do professor tende a ser: “Que desperdício” ou “estou atirando pérolas aos
porcos”.
CONCEITO DE IDENTIDADE
Qual a sua identidade? Podemos imaginar a multiplicidade de respostas que essa pergunta pode causar: brasileiro, pai de família,
mulher, negro, engenheiro. Não precisaria ter dúvida, bastaria olhar sua carteira de identidade e lá estaria escrita a resposta.
MAS, SERÁ QUE A DETERMINAÇÃO
GEOGRÁFICA É CAPAZ DE DETERMINAR A
IDENTIDADE DE UM SUJEITO?
Identidade é outro conceito antropológico fundamental. Também foi construído e modificado ao longo do tempo. Seus primeiros
debates e formas – novamente o movimento positivista – associavam identidade à identificação. A identidade de um sujeito era
associada à sua configuração, à sua proximidade com o ordenamento social. A maior marca identitária era a de ser civilizado,
bárbaro ou selvagem.
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O século XX trouxe com força uma nova noção de identidade: a ideia de nacionalismo. Sua identidade era a sua nação, a
fidelidade à sua terra, a seus familiares e às pessoas que conviviam diretamente com você. Por elas, você deveria viver, por elas
você deveria morrer. Se durante o século XIX isso aparecera nos campos de batalha, no século XX eram elementos do cotidiano,
como rádios, festividades e governos defendendo a ideia de civismo e luta por sua identidade.
 Mahatma Gandhi durante a Marcha do Sal, protesto que marcou o início do movimento de independência da Índia
A definição de fronteiras, as composições dos Estados-Nação, a reafirmação de novas mídias, o fortalecimento de discursos que
defendiam o seu espaço vital, foram os responsáveis por grandes conflitos do fim do século XIX até a metade do século XX. As
Guerras Mundiais são ícones da força da identidade nacional da primeira metade do século XX, mas não são únicas. As disputas
pela descolonização e a consolidação da influência do republicanismo, da democracia representativa, acabam fortalecendo a nação,
que era a principal marca identitária.
/
Esse movimento aparece não só no sangue e na batalha. Ganha contornos em feiras de ciência no mundo inteiro – disputando por
serem maiores, mais importantes, mais avançadas – e contornos esportivos, como acontece em eventos esportivos como o das
Olimpíadas.
 SAIBA MAIS
Olimpíadas de Berlim, 1936
Adolf Hitler era o comandante da Alemanha e seu objetivo era exibir o poderio da raça ariana, mas também mostrar ao mundo como
a Alemanha era um lugar especial, civilizado, o futuro da humanidade.
Os Estados Unidos, interessados na mesma coisa, não por uma afirmação ariana, mas pelos seus princípios de capitalismo e
liberalismo, veem no envio de seus atletas uma ameaça nacional, a possiblidade de legitimar o discurso do alemão.
Mas, a participação dos atletas seria a chance de disputar a “superioridade” e vencer. Assim, todos os atletas são enviados para
defender os princípios norte-americanos.
O maior nome é Jesse Owens, do atletismo, jovem negro que sofre, como toda sua comunidade, com o sistema de segregação
racial, e, por causa disso, às vésperas do evento decide não ir, pois não se via respeitado em sua identidade como cidadão
americano, tampouco gostaria de dar legitimidade ao regime de Hitler. No entanto, ele acaba indo, vence, mas mantém o discursocrítico de que nunca se sentiu verdadeiramente americano.
 EXEMPLO
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Muhammad Ali (1942-2016)
Nascido Cassius Clay, é outro exemplo dessa crise de identidade – princípio do nacionalismo e a negação étnica. O pugilista, negro,
campeão olímpico, americano, uma vez convocado para Guerra do Vietnã decide não ir. Influenciado por movimentos negros norte-
americanos importantes, Ali diz que não via sentido em matar vietnamitas por um país que os segregava, negava, maltratava. Foi
processado. Teve a licença para lutar caçada.
DESAFIOS DOCENTES
As transformações da apreensão de cultura, a formação de movimentos de grupos que lutavam por direitos e reconhecimento
(movimento negro, LGBTQ+, feminista, religiosos), entre outros fatores, repensam o sentido das identidades. A ideia de que somos
socialmente múltiplos e não simplesmente oposições genéricas ou binárias acaba por multiplicar as formas de se identificar, gerando
intensos debates sobre o que isso significa socialmente.
Muitos professores entram em crise ao enfrentar o cotidiano das escolas. Descobrem identidades nunca imaginadas. Professores
que têm dificuldade de lidar com diversidade de culturas, com os discursos dissonantes, com o preconceito racial, político e religioso.
Muitos acabam defendendo que a Escola não é lugar para esse debate, que na Escola todos são iguais e que a condição diferente
acaba ali. Nada mais falso!
VERIFICANDO O APRENDIZADO
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1. (ENADE 2014 – ADAPTADA) OBSERVE A FIGURA ABAIXO, ADAPTADA DO LIVRO CUIDADO,
ESCOLA!, DE PAULO FREIRE.
RELACIONANDO-A ÀS FRASES ABAIXO E COM A HISTÓRIA DA ANTROPOLOGIA, VOCÊ DIRIA QUE A
SUA MELHOR INTERPRETAÇÃO É:
A) A Educação que ocorre na Escola incorpora sempre uma perspectiva de gerar e promover a igualdade; nesse ponto, os conceitos
antropológicos ajudam a perceber o que o aluno traz da sua vida.
B) A educação sistemática e a educação assistemática são a mesma coisa que acontece, apenas, em lugares diferentes.
C) A educação sistemática e a escola regular têm os mesmos conteúdos, mas cada uma deve preservar seus espaços de atuação.
/
D) A educação sistemática, muitas vezes, desconsidera as contribuições da diversidade cultural e das demandas sociais, gerando
problemas nessa relação.
2. (ENADE DE 2011 – ADAPTADA) DURANTE OS ENCONTROS PARA A PREPARAÇÃO DO ANO LETIVO
EM UMA ESCOLA, ALGUNS TÓPICOS FORAM CONSIDERADOS COMO OS MAIS IMPORTANTES.
DENTRE ELES, DESTACA-SE O CONHECIMENTO DA REALIDADE DOS ESTUDANTES E, POR ISSO, NO
PLANEJAMENTO DAS ATIVIDADES, FOI PRECISO LEVAR EM CONTA:
A) A realidade expressa nos programas escolares estabelecidos.
B) A vivência limitada das pessoas de grupos sociais minoritários.
C) O meio ambiente das classes mais favorecidas daquela região.
D) O contexto sociocultural específico da realidade dos alunos.
GABARITO
1. (ENADE 2014 – ADAPTADA) Observe a figura abaixo, adaptada do livro Cuidado, Escola!, de Paulo Freire.
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Relacionando-a às frases abaixo e com a história da Antropologia, você diria que a sua melhor interpretação é:
A alternativa "D " está correta.
Um aspecto importante de nossos estudos é diferenciar a Escola e a Educação, depois demonstrar como a Escola é um corpo
imerso na sociedade e, por causa disso, reproduz as dinâmicas sociais em seu interior. Uma sociedade marcada pela pluralidade
terá escolas marcadas pela diversidade cultural. A Antropologia nos ensina a não sermos inocentes em imaginar que é possível uma
instituição imersa em uma sociedade sem que dialogue com suas demandas.
2. (ENADE de 2011 – ADAPTADA) Durante os encontros para a preparação do ano letivo em uma escola, alguns tópicos
foram considerados como os mais importantes. Dentre eles, destaca-se o conhecimento da realidade dos estudantes e, por
isso, no planejamento das atividades, foi preciso levar em conta:
/
A alternativa "D " está correta.
Essa questão trata da instrumentalização ofertada aos docentes ao discutir a relação entre Antropologia e Educação. Não basta
reconhecer um grupo, perceber suas relações econômicas, tampouco imaginar que a função da Escola é transmitir conteúdo. A
Escola é uma instituição, é social, é palco de dinâmicas diversas e se quiser ser mais eficiente no aprendizado precisará lidar com a
dinâmica sociocultural da realidade dos alunos.
MÓDULO 3
 Caracterizar a relação entre Educação e Ciências Sociais no cotidiano escolar
/
O ENCONTRO ENTRE A EDUCAÇÃO E A SOCIEDADE
Sociedades humanas educam. Sempre existem responsáveis por passar as regras, incutir valores, treinar e desenvolver habilidades.
Os métodos variam, historicamente, de coerção a interesses. Sem entrar em paradigmas biológicos, essa é uma característica que
reproduzimos como espécie.
No entanto, outra característica que herdamos é a de consolidar relações complexas entre nossos pares. Nós não reproduzimos
meramente um comando instintivo. Pensamos, relacionamo-nos, recebemos regras e nos ligamos a elas. Defendemos, negamos,
lutamos a favor ou contra elas, mas é certo que sempre há um sentido relacional nessa construção.
Temos uma fantástica capacidade de acumular conhecimentos e transformá-los ao longo do tempo. Adaptamos os conhecimentos às
novas condições e saímos de um modo de vida caracterizado por grupos de caçadores e coletores para sermos sujeitos de
identidade documentada e lidarmos com sistemas simbólicos de representações absolutamente complexos.
Imagine a seguinte situação: Eu tenho algo e você tem outra coisa, temos o interesse em trocar, trocamos. Em outra situação, eu
tenho algo e você entende que aquilo deveria ser seu, mas eu tenho uma força que não permite que você tome, ou então você cria
estratégias e adquire forças que podem levar o que tenho.
Atualmente, todos temos alguma coisa e há sistemas monetários que garantem um valor para tudo, sistemas jurídicos que ajudam a
definir quais são os direitos de quem, configurando processos bem diversos. Saímos da condição do mundo natural e criamos
complexos conjuntos sociais que podem se diversificar a cada momento.
Como funciona essa formação? Como ocorre essa relação em meio à sociedade? Essas perguntas apontam para o objeto das
Ciências Sociais.
Onde entra a Educação? Ora, faz parte da nossa condição o acúmulo e a transformação das experiências e do conhecimento, essa
dinâmica é transmitida, repetida, ensinada e finalmente aprendida geração após geração.
/
A EDUCAÇÃO É UM FENÔMENO MUITO PRESENTE NA ANÁLISE DE QUALQUER
FORMULAÇÃO DE SOCIEDADE. A ESCOLA, ESSA INSTITUIÇÃO DESENVOLVIDA PARA
CRIAR UM ESPAÇO PRÓPRIO PARA FORMAR O SUJEITO A FIM DE REPRODUZIR AS
DINÂMICAS DA SOCIEDADE, É UMA DAS INVENÇÕES MAIS INTERESSANTES PARA
NOTAR COMO ACONTECEM ESSES PROCESSOS.
Mas, a compreensão não ocorre de um momento para o outro. Esse é o primeiro passo de outros que podem solidificar sua
caminhada na formação de professores. Uma vez que isso está claro, passamos agora a conhecer os principais campos das
chamadas Ciências Sociais.
 IMPORTANTE
Aquele que almeja assumir a condição de docente, de se relacionar com a Educação, nunca poderá desistir de observar como se
relacionam os homens e como eles constituem a sociedade.
VAMOS PENSAR NA RELAÇÃO ENTRE ESCOLA E CIÊNCIAS
SOCIAIS
O campo das Ciências Sociais tem muitos caminhos e agora nossa conversa é sobre você! Sujeito cheio de anseios, tradições e
culturas, certamente tem hábitos e já se viu em situações em que se reconheceu com outra cultura, estranhando-a bastante.
/
Imagine-se na Escola, experimentando uma multiplicidade de histórias, vivências e culturas. Você precisará de instrumentos para
lidar adequadamente com essa realidade. Por isso, precisamos refletir sobre esse ponto. Vamos lá?
Imagine que você é um peixe que nasceu no aquário. Para você, tudo o que existe é o aquário. Você é capaz de elaborar teorias
para o funcionamento do aquário e do mundo no entorno dele. Mas, suas verdades são postas em xeque quando outros peixes
chegam ao seu ambiente. Eles falam de rios e natureza. Sua construçãopessoal, sua forma de pensar, poderá ser influenciada pelos
relatos recebidos, afinal o aquário é o mundo que você conhece, mas, ao menos em hipótese, existem outras culturas e outras
sociedades. Você poderá falar sobre rios, comparar o que ouviu sobre eles e a natureza que outros vivenciaram, mas sua relação
diária é com seu lugar, seu espaço, suas relações pessoais. Mesmo tendo conhecido outros peixes, acreditado no relato deles, seu
olhar sempre será marcado pelas suas experiências.
AS CIÊNCIAS SOCIAIS SÃO OS EXERCÍCIOS PARA QUE OS MEMBROS DO AQUÁRIO
PENSEM SOBRE COMO FUNCIONAM O SEU MUNDO E, EM ESPECIAL, PERCEBAM QUE
O SEU MUNDO ESTÁ IMERSO EM OUTRO MUITO MAIS COMPLEXO DO QUE O DAS
SUAS RELAÇÕES AFETIVAS E SENSORIAIS.
Neste ponto, a provocação de um elemento é vital, a reflexão sobre quem você é, qual a função do aquário, o que pode ser
apreendido sobre a natureza e os rios não é algo efetivo, material, indiscutível, mas sim uma construção discursiva. Mesmo que
exista verdadeiramente o aquário, os rios ou a natureza, quando pensamos e refletimos sobre eles o que criamos são conjecturas,
vitais, mas ainda assim discursos sobre uma realidade complexa e inatingível. Um dos aquários mais importantes das sociedades
urbanas ocidentais é a Escola.
Escola não é um prédio, é uma ideia, é um símbolo da modernidade contemporânea. É meta em todo mundo conhecido como
civilizado. É uma estrutura que, no século XXI, qualquer pessoa é capaz de reconhecer. Pode ser ultratecnológica ou um conjunto de
cadeiras voltadas para um quadro velho, mas o coletivo reconhecerá: aquilo é uma Escola. É uma sala de aula. É um professor.
Todos nós, cursando uma graduação, já passamos por “bancos” escolares.
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A Escola fez parte de nosso cotidiano, antes mesmo de termos uma opinião sobre ela. Todos se acham especialista em Escola,
como ela funciona bem, o que é uma Escola boa e uma Escola ruim. Poucos são os peixes que percebem que são peixes, que estão
em um aquário. Poucos refletem a Escola como um espaço cultural, marcado por interações humanas, com convivências muitas
vezes inimagináveis. Poucos reconhecem a importância singular de sujeitos que se atrevem a conviver com a juventude e os
desafios que ela enfrenta.
CARACTERIZAÇÃO: EDUCAÇÃO E ESCOLA
Depois de conhecermos uma ampla gama de ciências sociais e entender sua relação com a Educação, o convite é para que você
assuma a condição de educador, de professor, usando a velha característica histórica.
 IMPORTANTE
É preciso que você faça um esforço a mais: tente desnaturalizar sua visão mais recorrente e pense sobre como as relações do
cotidiano escolar são ricas de possibilidades.
EDUCAÇÃO PARA ALÉM DOS MUROS DA ESCOLA
/
Modernamente tão discutida, a Educação assume caráter próprio na abordagem das chamadas ciências humanas. As reflexões
teóricas sobre o assunto, pela visão de autores diversos, apresentam em comum a característica de identificar a Educação como um
componente dos espaços de poder, e dessa forma a tratamos.
A professora Nilda Alves desenvolve seus trabalhos demarcando o trinômio cultura, Educação e cotidiano. Sua proposta é
compreender como elementos formais são reproduzidos no cotidiano e de que maneira reconstroem elementos culturais com o
objetivo de ensinar suas benesses e restrições no meio social.
 Capa da obra Praticantepensante de Cotidianos, da Professora Nilda Alves
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NILDA ALVES
É professora titular da Faculdade de Educação na Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Tem trabalhos notórios sobre
cotidianos escolares.
A Escola visa a atender as demandas sociais, gerar conhecimentos, possibilidades, habilidades que os indivíduos ou o coletivo
entendem como necessários. Assim, ela cria o seu espaço de uma educação formal, curricular. Essa educação formal, no entanto,
muitas vezes acaba se distanciando do cotidiano social.
Você se lembra das discussões sobre a necessidade de aprender raiz quadrada ou por que estudar História? Isso é o que
chamamos de distanciamento, as pessoas passam a não entender por que a Escola trata de determinado assunto. Mas é ilusório
achar que essa educação formal fica fora da sociedade. Ela acaba chegando aos espaços assimétricos de educação,
reformulados e adaptados. Também é falso que a Escola se isole em seus conhecimentos, pois a tradição e as trocas sociais sempre
chegam a ela, ainda que de forma adaptada.
Nilda Alves traz o conceito de Educação em múltiplos espaços, constituindo um sistema de interações em que elementos escolares
influenciam e são influenciados por um discurso que apresenta, inclusive, características próximas, mas para espaços e fins
diversos. Sua exposição permite que compreendamos os espaços escolares como imersos na sociedade em que convivem, são
transformados e transformam as discussões.
As escolas foram espaços de defesa da tradição e de discussão dos fundamentos necessários à civilidade. Essas características
estiveram presentes em discursos não escolares e nas relações dos profissionais da Educação.
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EDUCAÇÃO ASSIMÉTRICA
É uma educação sem um condutor, sem uma formalidade de tal construção, mas produzida pelas trocas sociais.
(...) É EVIDENTE QUE A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NÃO SE PODERIA
REDUZIR À DAS FORMAS ESCOLARES (...). PORQUE AS FONTES NÃO
ESCOLARES SÃO MENOS SERIAIS E MAIS DISPERSAS, SEM DÚVIDA O
HISTORIADOR PERCORREU COM MENOS FACILIDADE ESSE VASTO CAMPO
DE INVESTIGAÇÃO.
JULIA, 1993.
A Sociologia trabalha com a Educação de forma ampla, independentemente de sua restrição institucional, no entanto considera que
existem fenômenos diversos:
Educação formal
/
Tem forte tentativa de controle de forma, objetivos e processos – independe do grau de institucionalização.
Educação informal
As relações não são ordenadas, mas estabelecidas por interesses diversos, fruto das relações sociais do indivíduo, das afetividades.
 IMPORTANTE
Não crie o sinônimo organizado versus desorganizado. As duas têm ordenamento, só que diversos. Ambas são objetos da Sociologia
e o educador precisa saber que seu cotidiano formal, necessariamente se relaciona a conceitos informais, gerando o já sinalizado
movimento de troca das escolas.
O DESAFIO É ENTENDER A EDUCAÇÃO COMO UM PROCESSO QUE GANHA
ASPECTOS DE DISCURSO E SE APRESENTA NAS RELAÇÕES DE PODER DE UMA
SOCIEDADE.
(...) A EDUCAÇÃO NUNCA SE RESTRINGIU À ESCOLA. PRÁTICAS
EDUCATIVAS TÊM OCORRIDO, AO LONGO DO TEMPO, FORA DESSA
INSTITUIÇÃO E, ÀS VEZES, COM MAIOR FORÇA DO QUE SE CONSIDERA,
/
PRINCIPALMENTE EM DETERMINADOS GRUPOS SOCIAIS E EM
DETERMINADAS ÉPOCAS.
LOPES e GALVÃO, 2001.
CARACTERIZANDO EDUCAÇÃO
Avançando sobre a construção dessa possibilidade, podemos formular que educar é um processo que pressupõe como base a
intencionalidade do educador. Assim, educar significa:
ENSINAR
No sentido de transmitir conteúdo, conduta que o outro deve seguir.
QUALIFICAR
Para que o outro possa ter acesso a locais específicos, aos quais só os que alçam essa nova posição podem ser considerados de
alguma forma aptos.
ESCLARECER
Como forma de desfazer dúvidas e iluminar questões obscuras.
VIGIAR
/
À medida que o educador fornece ao educando pressupostos de comportamento, permite ao grupo dos primeiros o controle frente ao
não cumprimento dos comportamentos recebidos.
DISCIPLINAR
Uma vez que o detentor do conhecimento passa a ser o delimitador das regras, permitindo-lhe, portanto, aplicar punição quando do
não cumprimento.
Essas dinâmicas têm ganhado novas possibilidades de análise, por exemplo, com a ideia de mediação, em que o professor atua
como um facilitador para o processo de despertar do aluno. Necessário, mas em processo de consolidação.
 Pierre Bourdieu
/
A Educação implica intencionalidade e coerção em consonância com os objetivos do grupo que comanda o sistema educacional.
Nesse ponto, aproximamo-nos do sociólogo Pierre Bourdieu, na medida em que afirma que a Educação não é um fator
transformador, mas, sim, um espaço que introjeta

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