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PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL III - Aula 1 a 10

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PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL III 
AULA 1 – INTRODUÇÃO GERAL AOS ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA 
Revisão 
Sua monografia deve ser um trabalho científico relacionado a uma disciplina científica, no nosso 
caso o Serviço Social. 
Que critérios devem ser atendidos pelo Serviço Social para que seja admitido no seleto clube da 
ciência? 
Ou, colocando de outra maneira, o que deve ser o Serviço Social para ser reconhecido como 
disciplina científica? 
Relação com as políticas públicas 
O assistente social trabalha permanentemente com as políticas públicas, seja procurando fazê-
las valer na prática, seja criticando-as e propondo alternativas. 
Sua atividade exige uma crítica social permanente, no sentido de evitar tornar-se agente passivo 
das práticas ideológicas que sempre ultrapassam nossa consciência no aqui agora de nossa ação 
social. 
Talvez seja possível esclarecer as coisas dizendo que um assistente social que não trabalha 
participando de uma ação social concreta, torna-se um sociólogo, ou um pesquisador das 
ciências sociais, isso no caso de tornar-se um estudioso dos temas ligados aos fenômenos 
sociais. 
Entretanto é evidente que estudar e desenvolver conceitos, hipóteses, teorias, também é uma 
ação e uma ação com repercussão na vida prática das pessoas e com potencial transformador. 
Toda pesquisa é enfim uma prática e que traz retornos sobre o meio social em que acontece. 
A intervenção do assistente social deve pautar-se em saberes científicos e especialmente 
naqueles que tomem a sociedade e as práticas sociais como objeto. Entretanto, por outro lado, 
a prática do assistente social traz subsídios para o desenvolvimento do conhecimento científico 
sobre a sociedade em geral. 
Ou podemos ainda comparar a relação entre o serviço social e a sociologia com aquela entre 
etnografia e etnologia. Enquanto o etnógrafo sai a campo para coletar dados e redigir 
documentos, o etnólogo debruça-se sobre estes documentos com o intuito de extrair daí teorias 
que expliquem os fenômenos observados e registrados pelos etnógrafos. 
Há entre estes pares de disciplinas uma relação circular. Uma fornece subsídios à outra e, enfim, 
se formos bastante exigentes, pode mesmo ficar difícil estabelecer suas fronteiras, pelo menos 
com clara distinção e sem apelar para convenções. Porém se levássemos à frente as oposições 
sugeridas, teríamos que os resultados da psiquiatria e do serviço social seriam avaliados pelo 
que conseguem transformar (pelo rigor de suas práticas), enquanto a psicopatologia e a 
sociologia pelo que conseguem conhecer (pelo rigor de seus conceitos). 
 
Enfim, todos estes aspectos falam da metodologia de pesquisa em geral e não da metodologia 
da sua pesquisa. 
Em linhas gerais, admite-se que uma apresentação / introdução de uma pesquisa, quando bem 
feita, permite que o leitor entenda o que o pesquisador quer fazer, por que deseja fazê-lo e 
finalmente como deseja fazê-lo. 
A metodologia da sua pesquisa deverá explicitar para o leitor os aspectos relacionados ao 
“como”. 
Todas essas formalidades são resultado da aplicação da razão à produção de conhecimento. Não 
devem ser encaradas como caprichos, mas sim como racionalidade concentrada em um método, 
que não pode ter outro objetivo que a máxima clareza na apresentação da questão da pesquisa, 
do desenvolvimento que lhe foi dado pelo pesquisador, das fontes consultadas e dos resultados 
encontrados. 
Universalidade 
Fala-se contra a universalidade do método científico. Quer-se afirmar que vários são os métodos 
e que eles devem estar adaptados aos objetos de estudo específicos de cada área de pesquisa. 
Certamente que se pode pensar assim; porém o que não se pode perder de vista jamais é o 
compromisso com alguma metodologia e a sua explicitação para o eventual pesquisador / leitor 
de sua pesquisa e, ao fazer assim, dificilmente o pesquisador poderá se afastar de determinados 
marcos fundamentais que justamente lhes foram expostos nas aulas das disciplinas anteriores. 
A metodologia responde por nosso compromisso com a clareza e será um guia para que você 
não se perca ao colocar sua pesquisa em prática. Cotidianamente, em meio ao senso comum, 
falamos de maneira tão rica quanto imprecisa sobre infinitos assuntos. 
Discorremos com elegância muitas vezes, embora na maioria delas com pouca clareza. Seu 
trabalho monográfico caminha em direção contrária. Nele você discorrerá sobre um tema único, 
procurando compensar com a clareza e a precisão o que perderá da riqueza com que discorreria 
sobre ele em contextos não acadêmico-científicos. 
Aplicando esses conceitos à sua pesquisa 
No seu projeto, há uma parte específica destinada à explicitação de sua metodologia. 
Em sua pesquisa você necessariamente irá colher dados, seja lá qual for o tipo de sua pesquisa. 
Da mesma forma, terá de interpretá-los e daí extrair algumas conclusões, preliminares que 
sejam. 
Para realizar essas três etapas, terá que seguir algum método. Este deverá estar explicitado em 
sua metodologia. 
Considerando a especificidade do serviço social e sua natureza interventiva, estaremos 
examinando os aspectos metodológicos ligados ao trabalho de campo. Segundo o dicionário de 
psicologia da APA (American PsychologicalAssociation), o trabalho de campo é definido como 
“pesquisa ou prática realizada em ambientes cotidianos do mundo real, e não em laboratório 
ou sala de aula” (2010, p.967). 
Claro está que quando os dados são colhidos em experimentos de laboratório, tem-se uma 
possibilidade muito maior de controle. Também quando se sai a campo para observar o trabalho 
das formigas. 
Contudo quando no trabalho de campo o que será observado envolve o comportamento de 
seres humanos surge imediatamente o problema de que seres humanos não fazem sempre a 
mesma. 
Observar o movimento dos astros e o comportamento das formigas nos coloca diante do que 
retorna sempre no mesmo lugar. 
 
Não poderá apenas observar, mas terá também que escutar e interpretar, compreender. Se 
fosse somente isso já seria complicado, porém há mais. Isso porque cada sujeito é atravessado 
por muitas determinações. Na maior parte das vezes percebe-se que os sujeitos não sabem tão 
bem assim o que estão fazendo e que temos que encontrar os determinantes de seu 
comportamento para além do que se passa em suas consciências imediatas, ou seja, das razões 
que atribuem para o que fazem. 
Não é preciso apelar ao inconsciente freudiano para reconhecer isso. A noção marxista de 
ideologia já apontava que de certa maneira é possível afirmar que as pessoas não sabem o que 
fazem, estão alienadas e precisam ser conscientizadas de sua posição nas trocas sociais para que 
então possam fazer resistência aos mecanismos de exploração capitalista. 
Por outro lado o século vinte foi pródigo na produção de intelectuais ligados às chamadas 
ciências humanas e sociais que mostraram como as verdades universais e eternas de cada época 
se devem ao modo como os sujeitos em cada cultura podem ver o que é universal e eterno. 
Ou seja, a verdade tem data e endereço e não mora no céu das ideias. 
A realidade em si nos é e será sempre desconhecida. Olhamos para ela sempre de dentro do 
mundo e isso causa necessariamente um desvio, irredutível. Fazemos parte do quadro que 
estamos pintando, mesmo quando fazemos ciência. É assim que você deve encarar o que tratará 
como o dado, ou seja, aquela parte do mundo que parece estar frente aos olhos. 
Isso não deve levar, nem ao desalento, nem à ideia terrível de que então todo dado é possível, 
tanto faz. No primeiro caso, desisto de colher dados, já que eles são sempre “falsos”; no segundo 
caso, assumo a ideia de que todo e qualquer dado é possível, ou seja, pode-se dizer qualquer 
coisa sobre qualquer coisa e nunca poderemos decidir qual a explicação melhor. 
Entramos na pesquisa científica com a orientação de fazer afirmações e contestações 
firmemente apoiadasno método científico. Ao assim fazermos, assumimos que tal método é o 
melhor que temos para garantir que nossos enunciados científicos não sejam meramente 
opiniões calcadas mais em nossos desejos do que em qualquer outra coisa. 
Concluindo 
No mínimo, assumimos que se estamos querendo fazer ciência, temos que seguir os critérios 
segundo os quais ela é reconhecida como tal. Podemos até achar que certas verdades sobre o 
homem são ditas com mais acuidade na bíblia. Mas não será segundo o método bíblico que 
agiremos. 
O dado será sempre um recorte assumido e explicitado pelo pesquisador. Será então tabulado 
– que podemos razoavelmente traduzir como “criteriosamente organizado em tabelas” e 
tratado conforme metodologia explicitada que poderá ser quantitativa ou qualitativa. 
Quando se faz a matemática funcionar, a tendência á acharmos que a coisa vai por si, sem a 
contaminação do pesquisador. Mas já vimos que se quantificando se corre menos riscos, por 
isso mesmo pode-se perder o essencial da pesquisa, quando o campo é da natureza daquele em 
que atua o assistente social. 
AULA 2 – PARADIGMA QUALITATIVO EM CIÊNCIA, A PESQUISA QUALITATIVA E O 
TRABALHO DE CAMPO 
A ciência moderna 
Mas contra quê o paradigma qualitativo se rebela? 
Tudo que se passa hoje em dia no campo da ciência é marcado pela grande virada em que 
consistiu o aparecimento da chamada ciência moderna. 
Estamos muito acostumados a pensar o termo moderno como correspondendo à época atual. 
Isso está errado quando se aplica o termo em relação à história do pensamento filosófico e 
científico. 
Para essa história, o período em que vivemos hoje é o pós-moderno, enquanto que o período 
moderno inicia aproximadamente no século 17, durando até meados do século 20 - século de 
transição do moderno ao pós-moderno. 
 
A ciência moderna condensa rompe com a expectativa de que ao final, entenderemos o sentido 
do mundo. 
Foi um momento histórico marcante, deve ser entendido no seu contexto. Seu método, suas 
práticas, são temperadas pela frieza da matemática que mantém ao máximo fora da operação 
científica o sujeito pesquisador. 
Para a ciência moderna devemos confiar na matemática e buscar conhecer as leis que podem 
explicar o sensível. 
Exemplo: Uma fórmula matemática não tem sentido, significado. É vazia. Ninguém pergunta, 
diante de uma equação matemática, “O que isso quer dizer?”. Uma equação não quer dizer 
nada. Nela o pesquisador acrescenta o valor das variáveis e o resto funciona sozinho. O resultado 
não é o que se quis dizer, mas o que é. Além disso, a participação do pesquisador é reduzida ao 
mínimo; ele pode querer o que ele quiser, pois o resultado da equação será sempre o mesmo. 
É certo que hoje se sabe que uma redução total da interferência do pesquisador, uma plena 
objetividade, é impossível, mesmo nestas ciências tidas como exatas e, sem dúvida, isso também 
concorreu para que com o tempo surgissem críticas à ideia de que as ciências sociais e humanas 
devessem se submeter ao único método que supostamente permitiria a objetividade. 
 
Para a ciência moderna, o Universo não tem qualquer centro. A ideia de um universo centrado 
já faz parte da necessidade do ser humano em dar sentido a tudo que está a sua volta. Uma das 
mais notórias consequências de nossa necessidade de dar sentido a tudo é a postulação de um 
criador do Universo, que tinha intenções quando inventou tudo isso. 
Para a ciência moderna, se tivesse havido tal criador, seria mais exato dizer que ele “sabia 
matemática”, uma vez que esta é encontrada em todos os cantos do Universo. Os objetos do 
universo parecem saber matemática. Dos planetas às abelhas, pois obedecem às leis da 
matemática, como se o Universo tivesse sido escrito em linguagem matemática. 
 
O termo sentido é em geral utilizado quando se quer enfatizar que não há um significado pré-
estabelecido para uma palavra ou uma frase sendo usada; que é preciso interpretar o que está 
sendo dito, pois somente naquele contexto, no momento em que está sendo dito, terá um 
sentido e não um significado que pudesse ser colocado no dicionário. 
 
Essencialmente, na pesquisa qualitativa, nos dados qualitativos, trata-se de significações a 
serem interpretadas e compreendidas. 
Se a ciência moderna supõe um universo vazio de sentido, no qual um conjunto de leis tão 
econômico quanto possível rege a o maior número possível de fenômenos observáveis, no caso 
das ciências interpretativas, o sentido é trazido com toda força para o campo da prática 
científica, assim como o pesquisador é chamado a interpretar e compreender. 
Notem que tocamos aqui no problema da observação do comportamento humano, já 
mencionado na aula anterior. 
Tal aspecto é diretamente ligado ao fato de que seres humanos não fazem sempre a mesma 
coisa, o que torna a discussão sobre o livre arbítrio uma das mais antigas e controversas no 
campo da filosofia. 
Reflexão: Se o ser humano age livremente, isso quer dizer que seu comportamento é 
imprevisível e / ou que a causa de seu comportamento é sempre redutível às suas intenções? 
Pesquisa Qualitativa 
A pesquisa qualitativa é definida no Dicionário de Psicologia da APA (2010) como uma 
“abordagem em ciência que não emprega a quantificação das observações feitas” (p.707). 
Importante notar que o paradigma qualitativo aceita a pesquisa quantitativa, bem como que a 
pesquisa qualitativa pode ser utilizada dentro de um paradigma positivista, genericamente 
falando. 
Portanto é importante não confundir o termo “paradigma qualitativo” com “pesquisa 
qualitativa”. 
Os dois conceitos querem dizer coisas bem diferentes. Conforme procurei mostrar acima, 
quando se fala em paradigma qualitativo, quer-se indicar que se está assumido que a realidade 
social não é singular nem objetiva, mas antes disso é plural e formada pelas experiências 
humanas e pelos contextos sociais, sendo por isso melhor estudada em seu contexto sócio 
histórico através da consideração das interpretações subjetivas de seus vários participantes. Isso 
contrasta com o paradigma positivista que assume que a realidade é relativamente 
independente do contexto, do qual deve ser abstraída e estudada de maneira analítica (sendo 
dividida em partes) com a utilização de técnicas objetivas e medidas padronizadas. Um 
pesquisador utilizará um enfoque interpretativo ou positivista dependendo de considerações 
quanto à natureza do fenômeno a ser considerado e à melhor maneira de estudá-lo. 
Já quanto à polaridade entre pesquisa quantitativa e qualitativa, o que está em jogo remete a 
considerações relacionadas aos dados e a seu tratamento. 
A pesquisa qualitativa apoia-se, sobretudo em dados não numéricos, obtidos tipicamente em 
entrevistas e observações, em contraste com a pesquisa quantitativa que emprega dados 
numéricos. 
Uma pesquisa em ciências sociais pode recorrer a ambos os enfoques (ALVES MAZZOTTI & 
GEWANDSZNAJDER, 1998, GOLDENBERG 1997). Portanto não se esqueça que você pode utilizar 
dados qualitativos e quantitativos dentro de um paradigma qualitativo. 
Trabalho de campo 
O trabalho de campo do assistente social poderá ser dar em diversos contextos de pesquisa que 
estaremos examinando na próxima aula. De todo modo, destaca-se para o assistente social a 
coleta de dados qualitativos em meio ao seu trabalho de campo. 
Que se combinem duas características tão tabus para alcançar o rigor exigido pela ciência, só 
pode se justificar pela riqueza inestimável dos dados que tem sido assim coletados e tratados. 
Algo cuja importância não pode ser negligenciada e que forçou a busca de princípios 
metodológicos que pudessem incluir tais práticas e não estigmatizá-las. 
O dicionário de psicologia da APA define trabalho de campo como “pesquisa ou prática realizada 
em ambientes cotidianos do mundo real, e não em laboratório ou sala de aula” (2010, p.967). 
Concluindo: A pesquisa científica nas ciências naturaisenvolve o exame crítico de informação 
existente sobre um dado fenômeno natural e, a partir daí, a formulação de uma hipótese que 
possa ser submetida a um teste experimental. 
 
O equivalente ao teste experimental, nas ciências sociais, é a Pesquisa de Campo, materializada 
no trabalho de campo realizado junto com os sujeitos que estão sofrendo todas as ricas tensões 
com que se apresenta a realidade. 
Conforme dito acima nas ciências sociais os dados colhidos na pesquisa de campo são, 
sobretudo, qualitativos e exigem a interpretação do pesquisador. 
A riqueza das observações, a possibilidade de repeti-las exaustivamente corrigindo distorções 
mais sensíveis e o espírito crítico que deve predominar entre os pesquisadores são de certa 
maneira compensações que se podem evocar em nome do esforço de trabalhar com pesquisa 
de campo qualitativa. 
A pesquisa de campo é o procedimento básico da antropologia e da etnografia, mas terminou 
por disseminar-se pelas ciências sociais em geral. O trabalho de campo rompe com a 
especulação abstrata dos conhecimentos anteriores relativos aos domínios do que hoje se 
estuda nas ciências sociais. 
Conforme diz Lacerda, “A abordagem antropológica de base, a que todo pesquisador considera 
hoje como incontornável, quaisquer que sejam suas opções teóricas, provém de uma ruptura 
inicial com qualquer modo de conhecimento abstrato, especulativo ou conjectural, isto é, que 
não esteja baseado na observação direta dos comportamentos sociais a partir de uma relação 
humana” (LACERDA, 2013, p. 3). 
AULA 3 – DADOS QUALITATIVOS E QUANTITATIVOS NO TRABALHO DE CAMPO. 
EXEMPLOS E INSTRUMENTOS DE COLETA 
Retomo pelo ponto que encerramos nossa última aula: o trabalho de campo. É muito provável 
que sua pesquisa envolva o trabalho de campo dentro de um paradigma qualitativo, ou seja, 
dentro de uma tradição interpretativa e compreensiva. Embora os dados colhidos possam ser 
quantitativos e trabalhados quantitativamente, é predominantemente com dados qualitativos 
e tratamento que a pesquisa em Serviço Social tem acontecido. 
No trabalho de campo os dados qualitativos são colhidos através da observação e interação com 
a população / meio estudado, porém também através de questionários, entrevistas e ainda pela 
análise de documentos e mídias variadas somente disponíveis àqueles que se dispuserem a 
investigar o próprio campo sob pesquisa e não limitar-se a colher os dados da literatura 
disponível ou das estatísticas oficiais. 
Lembrando que além de todas as questões levantadas pela pesquisa envolvendo dados 
qualitativos em ciências sociais, o trabalho de campo implica a impossibilidade do controle de 
variáveis que se pratica nos experimentos de laboratório. Isso traz desafios consideráveis 
quando levamos em conta a exigência de rigor típica da ciência. 
Entretanto, o leque de possibilidades aberto pelo trabalho de campo em ciências sociais é 
extremamente rico e vai desde a posição mais reservada possível do pesquisador, procurando 
interferir ao mínimo no meio estudado, até a assunção radical de que sua subjetividade faz 
necessariamente parte do meio e, enquanto tal, do objeto da pesquisa. 
Imaginem cinco grandes especialistas do futebol chamados a decidir quem é o melhor jogador 
de todos os tempos: Pelé ou Maradona. Discussão iniciada, as considerações estilísticas são 
intermináveis e tão espetaculares quanto inconclusivas até que se chega à posição de que será 
conveniente recorrer à frieza dos números. 
Estabelece-se então o que deverá ser medido. Como os dois ex-jogadores foram atacantes, os 
parâmetros a guiar a coleta de dados são o número de: Gol’s, Assistências, Vitórias, Jogos pela 
seleção nacional, Títulos Locais, Títulos nacionais, Títulos mundiais. 
Melhor Jogador. 
Após o resultado, um impressionante número de amantes e especialistas do futebol e que 
tiveram acesso à pesquisa continuará questionando quem na verdade é, ou foi, o melhor. A 
matemática não tem o peso definitivo que tem nas ciências exatas e naturais, quando o assunto 
são as humanidades. Isso quer dizer que a metodologia escolhida não foi boa? Não. Por melhor 
que pudesse ser, a discussão continuaria. A pesquisa tampouco precisa ser considerada inócua 
apenas por não ter gerado resultados incontestáveis. 
O desenvolvimento de seu tema deve obedecer a essas exigências, considerando que se trata 
de uma monografia de graduação: compromisso com o discurso científico e compatibilidade 
com debates já existentes na comunidade de pesquisadores em ciências sociais e / ou Serviço 
Social mais especificamente. Você deverá ter mostrado isso em sua revisão de literatura, 
resenhando autores que já discutiram o tema proposto, ou que emprestam fidedignidade ao 
método escolhido para pensar uma situação que pode ser específica da sua experiência. Nada 
impede, seria mesmo praticamente impossível, que seu trabalho apresente pontos de novidade, 
mas não é isso que ele visa. 
O que se espera de sua pesquisa é que ela entre no debate corrente sobre o tema que você 
escolheu e não que ela encerre qualquer discussão. 
Mas espera-se também que você explicite os critérios que o(a) levaram a escolher seu tema, a 
optar por certo enfoque metodológico e a propor conclusões sempre passíveis de crítica e 
contestações. 
Brevemente considerado o exemplo anterior, passemos agora ao domínio do trabalho de campo 
em Serviço Social. Por exemplo, uma pesquisa visa determinar qual política pública gerou os 
melhores resultados em determinada comunidade, ou em comunidades próximas e que 
apresentam desafios sociais semelhantes. Você escolherá trabalhar com dados quantitativos ou 
qualitativos? Ou ambos? 
Todas essas possibilidades estão abertas para você. O que se tem defendido não é que métodos 
quantitativos não sirvam às ciências sociais, mas sim que eles não sejam os únicos reconhecidos 
como válidos para investigar os processos sociais. 
Domínio do trabalho de campo em Serviço Social 
Matematicamente o resultado é tal; porém como entender que os moradores da comunidade 
percebam “outra realidade”? 
Há uma diferença entre os resultados quantitativos da métrica utilizada para responder a essa 
questão e o enunciado de que a água ferve a 100 graus Celsius. É muito difícil encontrar pessoas 
discutindo se a água ferve mesmo a 100 graus ou não e, caso ocorra a alguém discutir o assunto, 
ele poderá ser decidido pelo uso do termômetro, excelente exemplo de instrumento científico, 
por apresentar resultados que não variam conforme aquele que o estiver utilizando. Não temos 
nada semelhante ao termômetro para medir a questão sobre a eficácia de determinadas 
políticas públicas, ainda que possamos explorar a investigação quantitativa. 
Entrevistas e questionários 
Conforme Goldenberg (2007), esses instrumentos podem ser estruturados de diferentes 
maneiras: 
1- Podem ser rigidamente padronizados com as perguntas feitas com as mesmas palavras e na 
mesma ordem, de modo a assegurar que todos os entrevistados respondam à mesma pergunta. 
As perguntas podem ser: 
A) Fechadas: respostas limitadas às alternativas apresentadas. Padronizadas, facilmente 
aplicáveis, analisáveis de maneira rápida e pouco dispendiosa; 
B) Abertas: resposta livre, não limitada por alternativas apresentadas, o pesquisado fala 
livremente sobre o tema que lhe é proposto. A análise das respostas é mais difícil; 
2- Podem ser assistemáticos: solicitam respostas espontâneas, não dirigidas pelo pesquisador. 
A análise do material é muito mais difícil; 
3- Entrevista projetiva: utiliza recursos visuais (quadros pinturas, fotos) para estimular a 
resposta dos pesquisados. 
Reparem que na letra b do item 1, a resposta é livre, porém a pergunta dirige minimamente a 
resposta. Não se trata de falar livremente a partir de um tema, mas de responder ao que foi 
perguntado, ainda que mais livremente, sem que existam respostas previamente estabelecidas 
a serem“escolhidas” pelo pesquisado. Já no item 2, a entrevista não é orientada por uma 
pergunta mas sim por um tema, sobre o qual o entrevistado poderá discorrer livremente. 
Quanto aos questionários, eles poderão ser enviados pelo correio, mas neste caso o pesquisador 
deve pensar uma estratégia para fazer aumentarem as chances dele ser respondido e no prazo 
mais breve possível. Essa estratégia deve considerar o envio do questionário a um número maior 
de pessoas, contando que alguns deles não retornarão com as respostas. 
Um ponto importante quanto aos questionários diz respeito à garantia do anonimato. Você 
pode ter o cuidado de enviar uma carta que assegure de que maneira a identidade do 
respondente estará preservada. Nessa carta você poderá tentar mostrar ao entrevistado a 
importância de sua participação, ainda que com um texto breve e sucinto. 
Vantagens e desvantagens do questionário 
Vantagens do questionário (GOLDENBERG, MIRIAM, 2007, pp. 87-90): 
• É menos dispendioso; 
• Exige menor habilidade para aplicação; 
• Pode ser enviado pelo correio ou entregue em mão; 
• Pode ser aplicado a um grande número de pessoas ao mesmo tempo; 
• As frases padronizadas garantem maior uniformidade para mensuração; 
• Os pesquisados se sentem mais livres para expressar opiniões que temem ser desaprovadas 
ou que poderiam colocá-los em dificuldades; 
• Menor pressão para uma resposta imediata. O pesquisado pode pensar com mais calma. 
Desvantagens do questionário: 
• Tem um índice baixo de resposta; 
• A estrutura rígida impede a expressão de sentimentos; 
• Exige habilidade de ler e escrever e disponibilidade para responder. 
Os questionários tipicamente poderão ser construídos com alternativas binárias de resposta 
(Sim ou Não) ou com respostas previamente construídas como se fosse uma questão de múltipla 
escolha, em que o pesquisado deverá escolher entre cinco aquela que melhor representa sua 
posição. 
VANTAGENS 
Pode coletar informações de pessoas que não sabem escrever; 
As pessoas têm maior paciência e motivação para falar do que para escrever; 
Maior flexibilidade para garantir a resposta desejada; 
Pode-se observar o que diz o entrevistado e como diz, verificando as possíveis contradições; 
Instrumento mais adequado para a revelação de informações sobre assuntos complexos, como 
as emoções; 
Permite maior profundidade; 
Estabelece uma relação de confiança e amizade entre pesquisador-pesquisado, o que propicia 
o surgimento de outros dados. 
Repare como estes itens apontam para aspectos típicos da perspectiva qualitativa, o que fica 
especialmente claro nos itens 4 e 5. 
DESVANTAGENS 
O entrevistador afeta o entrevistado; 
Pode-se perder a objetividade tornando-se amigo. É difícil estabelecer uma relação adequada; 
Exige mais tempo, atenção e disponibilidade do pesquisador: a relação é construída num longo 
período, uma pessoa de cada vez; 
É mais difícil comparar as respostas; 
O pesquisador fica na dependência do pesquisado: se quer ou não falar, que tipo de informação 
deseja dar e o que quer ocultar. 
Para finalizar, é ainda importante que esteja claro para você que um pesquisador pode também 
optar por fazer diferentes tipos de imersão no ambiente / campo em que desenvolve sua 
pesquisa. Nesse caso não recorreria a entrevistas ou questionários, mas antes faria anotações 
extensivas a respeito de seu tempo de convívio naquele meio. Voltaremos a falar dessa e outras 
possibilidades nas aulas seguintes. 
 
AULA 4 – A CONSTRUÇÃO DE QUESTIONÁRIOS 
Um questionário é um instrumento de pesquisa que consiste em uma série de perguntas (itens) 
voltada para captar respostas dos sujeitos respondentes de um modo padronizado. 
As perguntas de um questionário podem ser estruturadas e não estruturadas. Perguntas não 
estruturadas permitem que o sujeito responda com suas palavras; perguntas estruturadas 
pedem que o sujeito escolha entre algumas alternativas aquela que representa melhor sua 
posição. 
A construção de um questionário é uma tarefa extremamente delicada. Você terá de tomar uma 
série de decisões quanto às perguntas que irá fazer, tanto no que diz respeito ao conteúdo, 
quanto às palavras escolhidas e construção das frases e finalmente quanto à sequência das 
perguntas. Você deverá manter-se em contato estreito com o tutor da disciplina quanto a este 
item do seu trabalho, no caso de optar por construir um questionário. Cada variável que 
mencionei acima e que será ainda mencionada abaixo pode afetar o resultado de sua pesquisa 
e, mesmo considerando que uma neutralidade absoluta é inalcançável, é necessário manter 
uma atitude crítica quanto a todos estes aspectos para não incorrer em tendenciosidade 
ingênua. A seguir veremos alguns pontos importantes. 
Formato das respostas 
Conforme já indicado acima, suas perguntas podem ser estruturadas ou não estruturadas. As 
respostas a questões estruturadas são obtidas através de alguns diferentes formatos, entre os 
quais os principais são: 
Resposta dicotômica: Quando se solicita aos sujeitos que selecionem uma de duas escolhas 
possíveis, tais como verdadeiro/falso, sim/não, concordo/discordo. Um exemplo de pergunta 
desse tipo seria: “Você é a favor da redução da menoridade penal?” Alternativas: Sim/não. 
Resposta nominal: Quando os sujeitos têm mais do que duas opções não ordenadas, tais como: 
“qual é seu ramo de atividade profissional?” Alternativas: Manufaturas / consumidor / comércio 
/ serviços / educação / saúde / turismo / esporte / outros. 
Resposta ordinal: Quando os sujeitos tem mais do que duas opções ordenadas, tais como: “Qual 
seu grau mais alto de educação?” Alternativas: Ensino fundamental / ensino médio / ensino 
superior. 
Conteúdo das perguntas e escolha das palavras 
As respostas obtidas em um questionário são muito sensíveis aos tipos de pergunta feitos e daí 
a montagem do questionário ser uma tarefa delicada e trabalhosa. Não recue diante disso. 
Primeiro procure montar um questionário de modo mais solto, embora sempre tendo o tema 
de seu trabalho, seu objetivo geral e objetivos específicos como um norte. Crie as perguntas e 
depois passe a corrigi-las, refiná-las, até chegar a um ponto que considere mais próximo do ideal. 
Jamais parta do princípio de que você não sabe fazer, que está lhe faltando competência para 
montar o questionário. Não! Construir um questionário é sempre uma tarefa delicada e 
qualquer um tem de desempenhá-la em etapas até chegar ao ponto ótimo. Para isso, o caminho 
é apenas um: abrir o computador e por mãos à obra. 
Vejamos alguns pontos a serem evitados ou dicas que podem ajudar você em sua tarefa. 
Perguntas fora do contexto ou ambíguas tenderão a receber respostas igualmente sem sentido 
e com muito pouco valor para sua pesquisa: 
 
 
 
AULA 5 – ENTREVISTAS 
Não importa o quanto seja estruturada, a entrevista é um instrumento que exige mais do 
pesquisador ainda que possa seguir um protocolo semelhante àquele utilizado nos 
questionários (isto é, um conjunto de perguntas padronizado). 
Nas entrevistas, o entrevistado responde com suas próprias palavras às perguntas elaboradas 
enquanto nos questionários as respostas também estão determinadas e limitadas de antemão. 
A entrevista é também uma forma de pesquisa mais personalizada que os questionários. Em 
parte por esse motivo, conta bem mais com a capacidade do entrevistador estabelecer uma 
relação adequada com o entrevistado. Somando a isso o caráter qualitativo do tratamento dos 
dados obtidos em entrevista, o recurso às entrevistas aumenta a responsabilidade do 
pesquisador, no sentido de seu cumprimento do rigor científico. 
Pontos importantes: 
• Nas entrevistas estruturadas, embora as perguntas sejam fixas, o entrevistado responde 
livremente. Apara melhor manejar com a massa de informação que receberá, o roteiro das 
entrevistas pode conter instruções específicas para o entrevistador que não são vistas pelo 
entrevistadoe podem incluir espaço para que o entrevistador faça o registro de observações e 
comentários pessoais. 
• Também ao contrário do que ocorre com questionários (mais ainda quando feitos a distancia, 
como aqueles enviados por correio), com as entrevistas o entrevistador tem a oportunidade de 
esclarecer quaisquer tópicos sobre os quais o entrevistado manifeste dúvida e fazer perguntas 
não previstas inicialmente, mas que considere necessárias ou convenientes para o melhor 
esclarecimento dos pontos em questão. 
As entrevistas disponibilizarão um material muito mais rico, embora também impreciso, ou pelo 
menos de mais difícil tratamento. Indiscutivelmente, entretanto, a riqueza do material fornecido 
em certas entrevistas permite igualmente uma análise bastante rica. 
Desvantagens 
Você terá que estabelecer um texto a partir do que foi gravado ou taquigrafado. Somente isso 
já dará bastante trabalho a você, mas restará ainda saber o que fazer com o que foi estabelecido, 
com as informações coletadas. Acerte bem no cronograma de seu trabalho o período para 
realizar as entrevistas e realizar, armazenar os dados e tratá-los. 
As entrevistas têm também algumas “desvantagens”. Em primeiro lugar, elas consomem mais 
tempo não apenas em sua execução, mas também no tratamento dos dados - a riqueza das 
respostas é a vantagem e a desvantagem das entrevistas. 
 O entrevistador é considerado parte do instrumento de medida e deve “pró-ativamente” 
cuidar, seja para não dirigir as respostas, seja para justificar de que modo seu tratamento dos 
dados coletados na entrevista enfrenta o problema da tendenciosidade no uso deste 
instrumento. 
Tipos de entrevista: individual 
A forma mais típica de entrevista é pessoal e feita, frente à frente, com o entrevistado. 
Nesse caso você irá trabalhar diretamente com o sujeito respondente, gravando suas respostas. 
Essas entrevistas podem ser feitas na própria casa do respondente, em seu lugar de trabalho ou 
em lugares que façam parte da rotina de vida do entrevistado. 
Você deverá sempre cuidar para que estímulos externos, o contexto enfim, não interfira nas 
respostas de modo inconveniente ou deverá incluir na sua metodologia de trabalho estas 
interferências. 
Por exemplo, no caso de você entrevistar alguém em uma praça ou ambiente público em que o 
sujeito possa se distrair ou preocupar com elementos externos ao que lhe está sendo 
perguntado. 
Mas você também pode mostrar em seu trabalho como determinada pessoa ou pessoas, em 
dado ambiente – por exemplo, praça pública na presença de outras pessoas – respondeu às suas 
perguntas. 
Veja que você pode tirar conclusões interessantes das duas maneiras e o importante será deixar 
claro o caminho que seguiu para o seu leitor. 
No caso de uma entrevista feita na casa do respondente, cuide para que ele não se sinta 
desconfortável com a sua presença, pelos mais variados motivos. Desde a exposição a um 
estranho de sua própria casa, até a preocupação com a percepção de familiares ou residentes 
com a realização da entrevista, suas respostas etc. 
Você deverá utilizar neste momento talentos que não são em princípio facilmente ensináveis 
para criar um ambiente adequado para a realização da entrevista. Digo isso especialmente 
considerando que, em se tratando de uma monografia de graduação, talvez você esteja fazendo 
esse tipo de pesquisa e utilizando especificamente esse instrumento (entrevista) pela primeira 
vez. 
Tipos de entrevista: em grupo 
Uma variante da entrevista pessoal é a entrevista em grupo. Com essa técnica, um pequeno 
grupo de respondentes (normalmente entre seis e dez) é entrevistado em um mesmo local. 
O entrevistador, nestes casos, é essencialmente um facilitador cuja tarefa é promover o debate 
e a circulação de idéias e garantir que cada pessoa tenha a oportunidade de responder. 
Esse tipo de atividade em grupo permite um exame diferente de tópicos, muitas vezes 
complexos, na medida em que, ao ouvir as outras pessoas falando os participantes do grupo 
tendem a pensar e dizer coisas que antes não passaram por suas mentes, ficando também mais 
a vontade para falar. 
Claro que para isso você terá de ter cuidado na montagem do grupo de entrevistados. 
Em uma entrevista em grupo uma das pessoas com personalidade dominante pode acabar 
sobressaindo indevidamente na discussão. Você deverá atuar então como alguém que faz a 
palavra circular, tentando impedir que ela seja monopolizada por uma ou duas pessoas. E 
quando algumas pessoas mostram-se relutantes em emitir sinceramente suas opiniões se 
colocadas no mesmo grupo em que estão seus companheiros e / ou superiores? 
A entrevista pode perfeitamente cumprir um papel em pesquisa social registrando os modos 
como as pessoas de interesse para o estudo falam de determinado assunto, mas para essas falas 
sejam analisadas não como enunciados de verdades individuais, mas como representações que 
percorrem o tecido social e participam assim de uma rede de causalidade que é trans-individual. 
Tipos de entrevista: por telefone 
Um terceiro tipo de entrevista que você poderá utilizar é a entrevista por telefone. 
Com essa técnica, você poderá entrar em contato com potenciais sujeitos respondentes 
escolhidos randomicamente através de uma lista de telefones relacionada à população sob foco 
em sua pesquisa. 
A vantagem óbvia dessa técnica é o alcance maior e menos trabalhoso que você poderá ter de 
sujeitos respondentes. 
A desvantagem óbvia é que você terá muito menos controle sobre os aspectos contextuais que 
poderiam ser levados em conta quando ouvimos o que as pessoas estão dizendo diretamente. 
Conforme dissemos nas primeiras aulas dessa disciplina, uma mesma frase dita em contextos 
diferentes pode ter um significado completamente diferente. Por exemplo, se uma esposa 
responde a você ao telefone na mesma sala em que está o seu marido, suas respostas podem 
ter um sentido completamente diferente do que teriam se ela estivesse falando na presença 
apenas de seus filhos. 
AULA 6 – COLETA DE DADOS 
Introdução às ferramentas para a coleta de dados 
OBSERVAÇÃO 
Agora examinemos a ferramenta observação naturalística. No caso específico do serviço social, 
nos propomos, por exemplo, a participar do dia a dia de certa comunidade ou instituição, sem 
estabelecer qualquer conjunto de perguntas prévio. Propomo-nos a observar, ver como as 
coisas funcionam. Não apenas isso, mas nos propomos a participar desses ambientes sem 
interferir, ou interferindo o mínimo possível naquilo que acontece. 
É útil aqui nos remetermos ao exemplo do etólogo observando o comportamento dos elefantes, 
como tantas vezes vemos em programas de TV. O observador não interfere e se eventualmente 
algum animal se vê exposto a algum problema que pudesse ser facilmente contornado pela ação 
humana (por exemplo, um lindo elefantinho se afogando em um poço de lama ou atacado por 
um grupo de leões), ainda assim nada será feito pois o que importa é apenas observar como ele 
e os outros da manada lidam com a situação. 
Todavia se ao invés de pensarmos no exemplo do etólogo, pensarmos no antropólogo em meio 
a uma tribo indígena, já teremos contato com problemas que terão de ser levados em conta e 
que tem tudo a ver com a pesquisa que ora desejam fazer. Isso porque entre os elefantes, o 
pesquisador procurará dar significação ao que fazem os paquidermes, mas estes não vivem em 
uma dimensão simbólica. Vivem diretamente determinados pelas leis da natureza e o meio em 
que vive é um meio natural. 
Já entre os indígenas acontece de viverem em um meio simbólico, o que quer dizer que, por 
exemplo, uma montanha tem um significado para os sujeitos da tribo. Entre os indígenas, é 
perfeitamente natural considerar que uma montanha tem mais valor que outra, embora possam 
ser semelhantes em tudo do ponto de vista natural. Um montanha pode ser sagrada e outra 
não, sem que nada em suas constituiçõesnaturais obrigue a isso. 
DOCUMENTOS 
 
 
INTERAÇÕES 
Expressões como pesquisa ação e pesquisa participante denotam que existem formas de realizar 
um estudo / trabalho de campo nas quais é admitida uma interação ativa entre pesquisador e 
pesquisado. 
Nesse caso não se trata apenas de admitir que sempre há interação, mesmo que passiva, não 
intencionada, ou reduzida a um mínimo. O pesquisador pode propor uma atividade a uma 
comunidade ou grupo, ser parte ativa dessa atividade e colher os dados relacionados a essa 
situação de interação. Além disso, ele pode propor que membros da comunidade o auxiliem em 
um trabalho de pesquisa. Ou seja, contar com pessoas da comunidade como autores / auxiliares 
de sua pesquisa. 
Cumpre registrar a que distância nos encontramos nesses casos da fria objetividade do 
laboratório de pesquisa experimental. Contudo, podemos pensar que no laboratório, cientistas 
introduzem variáveis para verificar os efeitos que elas produzem. Um exemplo famoso é o do 
rato que aprende a apertar uma alavanca para obter comida. Ou o cachorro que começa a salivar 
cada vez que ouve uma campainha, sabendo que ela anuncia a chegada da comida. 
A diferença entre a pesquisa de campo em ciências sociais e a pesquisa experimental deve-se 
ao fato de que no laboratório o ambiente é quase integralmente controlado, o que não se passa 
nem de perto com o trabalho de campo feito em ciências sociais. Daí que pesquisa participante 
e pesquisa ação sejam elaborações já bastante ousadas do método científico e típicas na 
constatação de que prender-se ao mito da objetividade é atitude estéril nesse campo. Na 
próxima aula falaremos em maiores detalhes dessas abordagens. 
AULA 7 – GENEALOGIAS CONCEITUAIS 
 
De todo modo, introduzimos, antes de mais nada, o termo representação. Representar é “re-
apresentar”. Portanto, trata-se de um termo ligado à memória e à nossa capacidade de trazer à 
nossa mente ideias e imagens ligadas àquilo que percebido um dia e que agora faz parte de 
nossa maneira de conhecer o mundo. 
 Muitas vezes este termo é traduzido no campo da psicologia como “ideia” ou “imagem”. 
Contudo, quando falamos de representações sociais, estamos falando de representações que 
não estão na cabeça desta ou daquela pessoa, mas sim que circulam entre as pessoas de 
determinado grupo influenciando seus comportamentos. Como se houvesse modos de pensar 
o mundo que se fixam nas pessoas de um grupo social, de uma coletividade qualquer. 
Esses modos fixos de conhecer o mundo não correspondem a nenhuma verdade obrigatória, 
mas sim ao modo como as ideias se organizam em determinado grupo. Evidente está que 
quando se busca mudar o comportamento das pessoas, visando trazer contribuições para a 
qualidade de vida de um grupo – o que está muito ligado ao trabalho do assistente social – 
vamos esbarrar com resistências que tem a ver com o modo como as pessoas representam o 
mundo em torno de si. 
Genealogia do conceito 
O século vinte foi pródigo em fazer surgir autores que atacaram o desejo filosófico (tradicional) 
de encontrar verdades eternas. Vimos na última aula que trabalhar com análise de 
representação é assumir que palavras não são etiquetas que colamos em coisas do mundo. Os 
filósofos citados, entre eles Michel Foucault ocupando um lugar privilegiado, dedicaram-se a 
mostrar que uma vez que se busque a história da formação de uma palavra / conceito, como 
por exemplo “menor de idade”, encontra-se uma genealogia semelhante àquela que nos 
conecta a nossos antepassados familiares. 
Já que falamos em genealogia do conceito, façamos uma comparação com o que acontece com 
a árvore genealógica de uma família. Tomemos os traços físicos de uma determinada pessoa. 
Digamos que esses traços estão muito presentes em seus pais, um pouco menos em seus avós, 
menos ainda nos tataravós e primos até chegar a um ponto do passado em que mal se reconhece 
os traços da pessoa inicial em quaisquer outros membros. 
Do mesmo modo, quando perseguimos a história da formação de um conceito, chegará o 
momento em que ele parecerá já não ter nada a ver com aquilo que hoje ele quer dizer. Por 
exemplo, quando começamos a procurar qual o significado de um conceito como “menor de 
idade”, é importante saber quando este conceito surgiu e em que contexto e qual a sua filiação, 
seus antecedentes. 
Mas é ainda possível descobrir que o significado que as pessoas dão a uma mesma palavra, como 
por exemplo “mulher” (nas diferentes línguas), é muito diferente. Assim, não necessariamente 
brasileiros, americanos e franceses querem dizer a mesma coisa quando usam as palavras 
“mulher”, “woman” e “femme”. As palavras sempre entram em uma rede linguística/simbólica 
na qual adquirem determinadas significações. Voltamos aqui ao ponto da aula anterior: vivemos 
em uma realidade simbólica e coisas no mundo adquirem significação dentro de uma rede de 
relações e não por aquilo que valem isoladamente. 
Essências 
A filosofia tradicional buscou escavar as significações das “coisas” procurando separar tudo que 
em cada coisa é supérfluo e ficando só com a sua essência. Metaforizando, ao escavar, o filósofo 
encontra “o ponto em que a pá entorta batendo no fundo”. Já o pensamento pós-moderno que 
proliferou a partir da metade do século 20, parou de querer mostrar a essência das palavras e 
interessou-se antes em mostrar como não existe tal essência. 
Por “essência” designamos aqui aquilo que não muda em uma coisa qualquer; essência é o que 
a coisa é. Então, por exemplo, o que há de comum em todas as cadeiras? Todas tem suas marcas 
singulares que não se encontram em nenhuma outra; ou seja, cada cadeira é diferente da outra, 
nem que seja por mínimos detalhes. Contudo, todas tem algo em comum, tanto que se chamam 
“cadeiras”. Isso que há de comum em todas as coisas que chamamos de “cadeira” é a essência 
da palavra/conceito cadeira (na verdade o conceito é o que resta dessa operação de 
“escavação”). 
Estranhamentos 
 
 
Trata-se justamente, tal qual Sócrates fazia, de fazer com que as pessoas digam o que as coisas 
que estão em torno de si são. Claro que você como pesquisador não estará interessado em tudo. 
Você está sendo guiado pelo tema do seu projeto e assim estará especialmente interessado no 
modo como determinada população utiliza determinados termos e percebe a verdade do que 
está dizendo. Você não terá que fazer como um Sócrates e sair tirando as convicções das 
pessoas, mas sim informar a toda e qualquer comunidade interessada, mas especialmente 
àquela de seus pares, assistentes sociais e cientistas sociais em geral, os dados que pode colher 
em seu percurso. 
Tais dados poderão ser recolhidos conforme as várias ferramentas de que já falamos, adequadas 
ao trabalho de campo. Entrevistas, questionários, observação “passiva”, interação ativa, enfim, 
o importante será que ao final das contas, você deixe bastante claro para o leitor de seu trabalho 
o que foi que você fez e os cuidados que tomou para analisar os dados. Apenas lembrando que, 
quando a análise é quantitativa, você constrói tabelas, gráficos e apresenta estatísticas. Porém 
mesmo aí você terá a oportunidade de fazer uma análise sua dos resultados quantitativos 
colhidos. 
No caso de dados qualitativos, sua análise baseia-se sempre na sua específica e singular 
capacidade de interpretação dos dados colhidos. Não recue diante disso. Siga em frente, porém 
com o cuidado de expor à crítica as conclusões que propõe e o caminho que tomou para tirá-
las. É nesse ponto que venho insistindo ao longo dessas aulas. Não despreze a metodologia 
quantitativa, como se ela fosse coisa de positivistas e como ser positivista fosse um erro. Mas 
menos ainda recue diante da necessidade de uma análise qualitativa. 
Genealogias conceituais e análise de representações sociais 
As genealogias, conforme já foi dito, envolvem necessariamente a história. Você parte do 
presenteem direção ao passado. Mais especificamente, o presente do qual você parte é sempre 
um impasse. 
Por exemplo, está bastante atual a discussão sobre a diminuição da maioridade penal. Então 
discute-se se não seria uma ótima medida diminuir essa maioridade de 18 para 16 anos ou algo 
assim. Há os que acham que isso seria bom e outros que não. Enquanto isso temos “menores de 
idade” que praticam crimes que barbarizam a sociedade. Mas será que tais crimes não estão 
tendo destaque demais? E não é altamente controverso diminuir o limite da maioridade para 
resolver este problema? Portanto, há os crimes e há o impasse sobre o que seria a melhor 
medida para enfrenta-los. Você poderia contribuir pra o debate perguntando socraticamente 
afinal de contas o que se quer dizer com o conceito de maioridade penal, correlato àquele de 
“menor de idade”. 
Você poderá então fazer um amplo estudo histórico, contando a história da formação deste 
conceito, o que talvez traga esclarecimentos importantes para a discussão do problema. Mas 
note: você parte para fazer história a partir de um impasse no presente, que é a discussão sobre 
a maioridade penal e o risco dela terminar em decisões que venham a piorar a vida de alguns 
chamados “menores de idade”, certamente aqueles das classes sociais menos favorecidas. Você 
se preocupa com isso como assistente social, pois percebe, por exemplo, que a discussão é 
política e envolve interesses múltiplos. 
Note que ao seguir este procedimento, você deixa de perguntar se é ou não necessário modificar 
a maioridade penal, deslocando o problema. Ao mostrar que essa discussão sobre a maioridade 
penal depende do conceito de menor de idade e que este conceito não corresponde a uma coisa 
no mundo, uma natureza que anda por aí e de vez em quando pratica crimes, você pode 
contribuir muito para uma redefinição das prioridades em jogo. 
AULA 8 – O ESTUDO DE CASO 
O estudo de caso é uma investigação que se debruça deliberadamente sobre uma situação 
específica que se supõe ser única ou especial, pelo menos em certos aspectos, procurando 
descobrir a que há nela de mais essencial e característico e, desse modo, contribuir para a 
compreensão global de um certo fenómeno de interesse. 
 
Quase tudo pode ser um “caso”: um indivíduo, um personagem, um pequeno grupo, uma 
organização, uma comunidade ou mesmo uma nação. Esta metodologia pressupõe que o 
pesquisador se debruce, mergulhe, sobre uma situação particular, procurando extrair dela e 
somente dela um máximo de dados relevantes para a área de estudos em que se inscreve a sua 
pesquisa. Seria o caso de dizer, em uma perspectiva fenomenológica, que devemos esquecer o 
que se sabe sobre o mundo para que nos detenhamos na radical especificidade do que estamos 
estudando, sem procurar enquadra-lo no que já conhecemos. Portanto, abrirmo-nos a novidade 
radical que se encontra em toda parte, antes da ciência categorizar os fenômenos em conceitos, 
agrupando-os em classes. 
O geral e o particular 
Entretanto, a despeito de ser uma investigação sobre o particular, vale notar que o estudo de 
caso pode combinar-se tanto em uma perspectiva indutiva (que vai do particular ao geral), 
quanto dedutiva (que vai do geral ao particular). Ao estudar um objeto ou situação específicos 
você pode tanto estar testando hipóteses anteriores quanto contribuindo para a elaboração de 
novas hipóteses observando e estudando um evento ainda não estudado. Conforme dissemos 
em aulas anteriores, esse movimento de indução e dedução é circular na ciência e não é porque 
partimos do particular no estudo de caso que estamos comprometidos com a indução. 
Na primeira aula desta disciplina mostramos como serviço social e sociologia exemplificam este 
movimento. A sociologia propõe leis e hipóteses gerais sobre os fenômenos sociais e essas leis 
e hipóteses podem orientar o pesquisador em serviço social. Por sua vez o pesquisador, ao 
estudar um caso específico de fenômeno social contribui em retorno seja para confirmar seja 
para falsear hipóteses anteriores. 
Percebe-se assim que uma questão que o estudo de caso levanta diz respeito ao modo como o 
particular relaciona-se ao geral. Assim, quando escolhemos para nossa pesquisa estudar um 
caso particular, por mais que nos concentremos nesse caso específico, não há ciência do 
particular. Um estudo sobre uma situação ou objeto particular só faz sentido quando 
posteriormente é utilizado, seja para que se extraia conclusões mais gerais que se prestem ao 
conhecimento de outras situações e objetos em alguma coisa considerados semelhantes, seja 
para afirmar ou falsificar hipóteses anteriormente construídas. 
Porém, podemos enfocar sob outra perspectiva essa relação do particular com o geral. Por 
exemplo, se quisermos conhecer a obra de Marx, ou de qualquer grande autor que tenha grande 
produção, podemos fazer uma leitura panorâmica da obra deste autor, lendo vários de seus 
textos, ou podemos nos deter sobre um pequeno conjunto de textos de determinada época. 
Não deixa de ser razoável supor que há algo que é uma marca deste autor e que atravessa toda 
sua obra, por mais que seus textos variem. Assim, ao invés de queremos apreender a obra em 
questão pela leitura de um máximo de textos que a compõe, podemos mergulhar fundo na 
leitura de uns poucos e tentar capturar aquilo que é sua marca permanente. 
O mesmo se diz da filosofia. Quando se quer introduzir um estudante à filosofia, tanto se pode 
apresentar uma visão panorâmica sobre a história da filosofia, passando pela obra de diversos 
filósofos, quanto se pode aprofundar um dos debates clássicos da filosofia, como, por exemplo, 
aquele sobre o livre arbítrio. Há algo da filosofia que está presente em cada pequeno pedaço da 
filosofia e não importa que fragmento de sua história peguemos para estudar, lá estará ela, 
como um todo. 
Finalmente podemos nos remeter ao serviço social. Certamente há entre as diversas áreas por 
onde se move o assistente social aspectos que são comuns a todos. Por mais particulares que 
sejam os temas estudados e as práticas realizadas pelos assistentes sociais, há impasses e 
encontros que se repetem em cada particular – pode-se ou não enfocar as semelhanças ou as 
diferenças. Por sua vez, o próprio tecido social, em suas múltiplas facetas, é atravessado por 
forças comuns que podem ser identificadas em estudos comparativos posteriores a estudos de 
caso. Desse modo, teoricamente seria sempre possível fazer um estudo vertical ou horizontal. 
Posteriormente, não durante nosso estudo, mas em estudos posteriores, podemos tentar 
localizar algo de essencial, ou algo que confirme uma lei que possa incluir outros casos 
particulares. 
Se sua perspectiva for mais positivista, você buscará sempre incluir o particular em uma lei geral 
que explique o maior número possível de fenômenos. Porém se partir de um paradigma 
qualitativo, você poderá abrir-se a dar sentido à experiência que está investigando, 
interpretando os fenômenos observados. Você fará sua interpretação e ira expô-la ao longo de 
seu trabalho. O que garantirá o bom exercício científico será seu cuidado em mostrar os passos 
que deu para fazer essa interpretação dos dados qualitativos coletados expondo-os ao debate 
entre pares pesquisadores. 
Uma perspectiva fenomenológica 
Quando falamos em uma perspectiva fenomenológica, queremos nos referir ao esforço de 
tentar capturar o mundo da posição do outro que estamos observando, escutando. Então 
podemos chegar a uma instituição ou comunidade cheios de ideias – científicas ou não – pré-
formadas e que servirão para que compreendamos aquilo que acontece. Mas, 
fenomenologicamente, esse procedimento deveria ser abandonado ou limitado, em favor de 
tentarmos perceber o mundo tal como as pessoas daquela comunidade ou instituição percebem 
– como se estivéssemos de frente a uma experiência radicalmente nova. 
Assim, para a fenomenologia, o mundonão é apenas um, mas muitos são mundos, tantos 
quantos forem os sujeitos (mesmo que grupos) que estamos estudando. Notem que fenômeno 
opõe-se à fato. Ao invés de supormos fatos, conforme a metodologia positivista preferiria, 
investigamos fenômenos, quer dizer, fatos tal como aparecem para uma dada consciência, 
mesmo que para uma suposta “consciência coletiva” – lembrem-se das representações sociais, 
quer dizer, representações que não pertencem apenas a uma pessoa, mas a várias que 
pertencem a uma mesma coletividade. 
Portanto, no tecido social, podemos supor que um pequeno recorte desse tecido seja 
atravessado por forças que estão presentes no todo. Tal pressuposição é sempre uma aposta. 
Nunca, sobretudo na nossa área de ciências sociais, teremos qualquer certeza de que estamos 
“dando um tiro tão certeiro” – capturando a “essência” de algo, ainda mais quando esse algo é 
o tecido social. Mas um estudo que assuma essa perspectiva nem por isso fica proibido. 
Não deixe de lembrar, porém, que no estudo de caso você estará concentrado naquilo que a 
situação tem de particular. Neste sentido é que será importante desarmar-se de concepções e 
preconceitos anteriores que te levem a enxergar o caso particular em estudo como uma 
repetição do que já foi visto antes. Este é um desafio sério para o pesquisador. 
Método biográfico 
Para finalizar vale a pena destacar um tipo específico de estudo de caso, o chamado método 
biográfico. Tal método consiste na análise vertical típica do estudo de caso, porém radicalizada 
na medida em que se volta para a coleta de dados relacionados à vida de uma só pessoa. Para 
pensar casos mais próximos ao serviço social, imaginemos a possibilidade de traçar a história de 
vida de um presidente de associação de moradores, ou de um assistente social. 
 
Antes de mais nada, observemos que isso de forma alguma deve implicar que precisamos aplicar 
tal método à vida de uma pessoa famosa ou importante, diferenciada enfim, seja ela um 
amplamente reconhecido líder comunitário ou um igualmente destacado assistente social. 
Teoricamente, embora essa escolha não esteja proibida, podemos optar pela aplicação deste 
método à vida de pessoas comuns, apenas uma entre outras, evidentemente que relacionadas 
a uma população que interesse ao estudo que planejamos. 
Mas então poderíamos perguntar: afinal de contas, de que valeria trazer para o campo da ciência 
dados colhidos e organizados sobre a vida de uma pessoa comum? Se pelo menos fosse um 
homem ou mulher brilhante, de trajetória destacada... 
Nada disso. Pode-se igualmente fazer surgir uma discussão valiosa a partir da trajetória de uma 
pessoa como outra qualquer. Provavelmente muito do que aparece nela será significativo para 
mostrar algo que tenha alcance mais geral, ou que seja de interesse pela particularidade que 
traz em meio a tal “vida comum” de uma “pessoa comum”. Lembremos aqui do filósofo 
Foucault, referido em nossa última aula, quando ele aponta que documentos importantíssimos 
são negligenciados por não serem “oficiais”. Como se apenas a história oficialmente contada 
fosse digna de crédito. Ora, sabemos que tal postura crédula na oficialidade traz o risco de 
contribuir para a perpetuação das verdades da tradição, enfim, da história que querem nos 
contar. 
Assim, não apenas uma biografia pode trazer dados relevantes ao debate científico (inclusive 
para o campo do serviço social, por que não?), como a biografia de pessoas nada excepcionais, 
ou apenas tão excepcionais como quaisquer outras. 
 
AULA 9 – MONOGRAFIA E TRABALHO DE CAMPO 
Muitos alunos tem preferido fazer trabalhos que não envolvem trabalho de campo. É preciso 
entender que esta opção não implica que sua monografia seja uma monografia puramente 
teórica. Não incluir o trabalho de campo em seu trabalho acadêmico não implica de forma 
alguma que você não possa trazer para sua pesquisa elementos de sua experiência profissional 
em serviço social ou áreas afins. Nesta aula vamos conversar sobre essas opções metodológicas, 
quais sejam, a de utilizar a sua prática / experiência em uma monografia que não envolva 
trabalho de campo e / ou a de fazer um estudo teórico. 
 
Importância do trabalho de campo 
Voltando ao que disse na primeira aula dessa disciplina, penso o trabalho do assistente social 
como uma práxis, isto é, uma prática teorizada. O ir e vir entre teoria e prática é característico 
dessa disciplina / práxis, tal como também o é, por exemplo, a prática do psicanalista ou do 
antropólogo. 
Penso não estar errado se disser que o assistente social está sempre diante do desafio de 
transformar as práticas sociais - o que nem sempre é verdadeira para toda área da ciência, de 
vez que há práticas e pesquisas essencialmente voltadas ao conhecimento da natureza e / ou da 
cultura e não a sua transformação. Localizar territórios nos quais as políticas públicas estão 
ausentes, ou nos quais se revelam inadequadas, ou fazer valer as que parecem boas políticas 
quando já existentes, é parte essencial do trabalho do assistente social. 
Neste sentido pode ser importantíssimo para a prática de pesquisa em serviço social o trabalho 
de campo. Acho até que é um recurso que tem sido sub-utilizado no momento das monografias 
de final de curso de graduação, o que tem sido registrado em livros que tratam do tema de 
pesquisa em ciências sociais. Se procurarem nas bibliotecas de sua Universidade, perceberão 
como um grande número de monografias não apresenta trabalho de campo. 
Talvez isso se deva ao fato de que o trabalho de campo nesta área exige mais. A coleta, 
organização e análise dos dados colhidos é um processo trabalhoso e os alunos acabam 
preferindo articular a experiência que foram adquirindo em suas vidas com os textos e questões 
que trabalharam durante sua graduação. Há que se respeitar essa opção. Não vivemos em um 
mundo ideal e sei bem das dificuldades pelas que passam os alunos para fazer sua graduação, 
trabalhar, cuidar de seus interesses e etc. Ainda que torça para que o trabalho de campo se 
torne mais utilizado, não posso deixar de falar também nesta outra opção que tantas vezes tem 
sido a preferida. 
 
A prática na pesquisa sem o trabalho de campo 
Se o seu trabalho de pesquisa não incluir trabalho de campo, certamente envolverá um trabalho 
mais intenso com dados colhidos da literatura, não importa o quanto de sua prática profissional 
(ou de estágio, ou voluntariado etc.) você traga para sua pesquisa. O seu “campo” de pesquisa, 
neste caso, será, de certa maneira, os livros e textos com os quais fez e fará contato e a sua 
própria experiência prática feita antes e / ou durante a pesquisa. Um ponto fundamental que 
você não pode perder de vista nesse caso é que a resenha do trabalho de autores mais ou menos 
consagrados na área de sua pesquisa será uma ferramenta fundamental que você terá de 
utilizar. 
Em geral, a tendência do aluno iniciante em pesquisa é querer dizer o que pensa sobre as 
experiências que passou e sobre os tópicos que resolveu pesquisar. Como ponto de partida para 
elaboração do seu projeto de pesquisa é mesmo muito importante que o aluno esteja 
fervilhando de questões e com um desejo intenso de falar sobre aquilo que pensa e sente. 
Contudo, a partir daí vem o desafio de dizer o que pensa no formato exigido pela academia. 
Um primeiro passo básico, conforme insistentemente advertido nas disciplinas anteriores de 
pesquisa em serviço social, é estabelecer um bom recorte do seu tema e de seus objetivos. 
Encontrar dentro da massa de questões que você traz de sua prática, experiência de vida e 
leituras, uma questão possível de ser trabalhada do modo sistemático exigido pela pesquisa 
científico / acadêmica, será uma exigência primeira. 
Como é óbvio, o aluno não pode sair dizendo tudo que pensa como se estivesse conversando 
com um colega. Em geral, em nossos bate papos com nossos colegas universitários ou detrabalho e com nossos professores, muitas coisas inteligentes são ditas: tiradas brilhantes, 
intuições muito boas não são de forma alguma pouco frequentes. 
É geralmente com certa frustração que o aluno percebe que sua pesquisa não poderá consistir 
numa exposição eloquente de suas ideias, por mais inteligentes que sejam. O desafio será fazer 
com que tais ideias se encaixem no modelo acadêmico de exposição e quando isso for feito, 
necessariamente algumas delas terão que ser sacrificadas em favor de outras. Ou seja, não vai 
dar para o aluno falar de tudo que ele gostaria. 
Neste momento, muitos costumam dizer que isso se deve a uma espécie de tirania do universo 
acadêmico, o que considero falso. O que o estilo acadêmico zela é pela clareza. Quando 
começamos a pensar com maior sistematicidade partindo de nossas ideias excelentes, 
geralmente percebemos que as coisas são mais complicadas do que pareciam. O que o trabalho 
acadêmico deve exigir é que você exponha suas ideias e retire delas consequências de modo 
sistemático e claro. 
 
Por outro lado, elementos de uma discussão teórica como a exemplificada aqui também podem 
se combinar com elementos de sua prática profissional e com elementos e trabalho de campo. 
Neste caso, sua pesquisa estaria trabalhando com dados extraídos destas três fontes: sua prática 
pregressa, os livros de autores escolhidos para desenvolver alguns aspectos de seu tema e os 
dados colhidos em seu trabalho de campo. 
Com isso quero enfatizar o grau de liberdade que você também tem em sua pesquisa acadêmica. 
Se por um lado deve seguir padrões e normas, por outro estes são também bastante flexíveis a 
ponto de poder combinar métodos e técnicas tão diversas sem com isso comprometer a 
coerência de seu trabalho. 
Na próxima aula estaremos basicamente investigando a utilização desses métodos e técnicas 
discutidos à luz de exemplos que tenham proximidade com a prática do assistente social. 
AULA 10 - Pesquisa quantitativa e estatística 
Para montar uma pesquisa quantitativa, muitas vezes temos que nos utilizar da estatística. 
Estatística é a ciência que utiliza-se das teorias matemáticas (principalmente as probabilísticas) 
para entender e explicar a frequência da ocorrência de eventos. 
Para a pesquisa quantitativa em ciências sociais e nas leituras estatísticas que nelas aparecem, 
dados são vistos como variáveis. 
Percebemos a realidade como se esta fosse composta por elementos discretos, mas que se 
influenciam mutuamente em algum grau. O quanto uma variável aumenta ou diminui em função 
de outra ou outras, é coisa que interessa ao cientista pesquisar. Isso tem sido feito em pesquisas 
experimentais em laboratório onde o controle que temos das variáveis presentes é muito maior 
do que nos trabalhos de campo que desenvolvemos na área de ciências sociais. 
Um exemplo famoso que retiramos da psicologia é a chamada caixa de Skinner. Nesta caixa, 
existe uma alavanca que, uma vez pressionada pelo ratinho que nela será colocado libera 
comida. Pode-se medir quantas vezes o ratinho tecla ao acaso a alavanca até aprender a 
pressiona-la quando quer comer. 
 
No exemplo da caixa de Skinner, a variável dependente é a aprendizagem do ratinho. Quantos 
“ensaios” ele fará a parir do momento em que é colocado na caixa com a alavanca. A caixa e a 
alavanca são variáveis independentes. O comportamento do ratinho irá variar em função delas. 
No exemplo da quadra poliesportiva, imaginando que ela tenha sido construída em uma escola, 
ela seria uma variável independente e o número de falta e as aulas dos alunos seriam uma 
variável dependente. Com isso você mediu a variação das faltas às aulas dos alunos antes e 
depois da introdução da quadra na escola. 
Coleta de dados 
A coleta dos dados deve ser senão plenamente objetiva, pelo menos clara e transparente. Para 
isso, é preciso que a pesquisa tenha instrumentos fidedignos e válidos. A fidedignidade de um 
instrumento de medida refere-se à estabilidade, à possibilidade de repetição, à precisão das 
medidas com ele obtidas, i.e., ao grau de consistência dos valores medidos. A validade, por sua 
vez, tem a ver com até que ponto o instrumento está de fato medindo o que se supõe que esteja 
medindo. 
Moda, a mediana e a média 
Os conceitos básicos apresentados pela Estatística são a moda, a mediana e a média. 
O uso dessas ferramentas da estatística permite que agrupemos os dados de modo mais 
funcional, permitindo ao leitor de nosso trabalho uma leitura mais fácil e facilitando também 
cálculos e mensurações futuras que se apoiem nos dados da pesquisa. Note que você não 
precisará ser brilhante em estatística para utilizar essas referências. Sozinho ou com o auxílio de 
seu tutor, poderá tabular (organizar em tabelas) os registros quantificados de uma coleta de 
dados e expô-los ao seu leitor de modo mais organizado utilizando esses registros. 
Assim, uma vez que colha dados quantitativos você poderá utilizar tabelas e os gráficos. Estes 
podem ter vários formatos, entre eles dois de uso relativamente simples e bastante frequente, 
que são os gráficos de “coordenadas cartesianas” e os gráficos em forma de “pizza”. A utilização 
destes recursos mais uma vez facilitará a leitura dos dados pelo leitor e facilitará a comparação 
e utilização em trabalhos futuros. 
Planejamento 
Uma pesquisa precisa de planejamento. O planejamento é a manifestação de passos para se 
atingir um fim. Os passos para uma pesquisa quantitativa são: 
 
• Formulação do problema; 
• Delineamento do que se procurará resolver do problema; 
Formulação de uma hipótese que será o norteador da coleta de dados; 
• Plano operacional, que é uma detalhamento dos passos que se seguirá; 
• Execução do plano operacional; 
• Mapeamento das observações, o que envolve a parte de matemática e estatística (contagem 
e cálculos); os dados são transformados em dados e variáveis 
• Consolidação dos dados observados; é um trabalho de resumo, de súmula dos vários dados 
em um texto sucinto; 
• Confrontação da consolidação com a hipótese apresentada no início do planejamento; 
• Conclusão, que é a confirmação da hipótese, sua rejeição ou uma descoberta de uma novidade 
apresentada pelo confronto da experiência com a hipótese. 
 
Embora esse roteiro tenha elementos que só valem para as pesquisas estritamente qualitativas, 
muitos de seus pontos valem também para sua pesquisa qualitativa ou mista. Procure rever 
ponto a ponto o projeto já construído por você e registrar os pontos que estão ou não, 
procurando ter clareza da estrutura do trabalho que está construindo. Você pode ter boas 
razões para saltar algum destes pontos, porém é importante que saiba dizer porque assim o fez. 
Portanto não deixe de fazer um “checklist” do teu projeto a partir desta ordem que coloquei 
agora acima. Claro, você optar por outros instrumentos de revisão. O que ofereço aqui é apenas 
um modelo. 
Este foi um breve resumo com alguns pontos que nos parecem principais para o 
desenvolvimento de uma pesquisa quantitativa ou para o uso de dados quantitativos em sua 
pesquisa. Passemos a examinar agora um fragmento de caso que nos permitirá rever os 
conceitos sobre os quais até agora viemos falando, nas aulas anteriores. 
Passemos agora ao segundo momento dessa aula, quando utilizaremos o fragmento de um caso 
para pensar os recursos metodológicos que viemos discutindo até aqui. 
Caso 1 
Em janeiro de 2011, um período excepcionalmente prolongado de chuvas fortes culmina naquilo 
que ficou conhecido como “tragédia da serra”, quando Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis, 
além de uma série de pequenas cidades da região serrana fluminense ficaram marcadas pela 
maior catástrofe natural ocorrida no Brasil. Mais de novecentas pessoas morreram e muitas 
ficaram desabrigadas. Além disso, a catástrofe abala a situação da cidade como um todo 
trazendo reflexos negativos na atividade econômica, esgotamento nosistema de saúde já 
precário em tempos de normalidade - e outras consequências que obrigam a sacrifícios penosos 
grande parte da população. 
Uma parceria entre a SETRAB (Secretaria de trabalho do Estado do RJ) e uma empresa privada 
que trabalha gerenciando o trabalho de pessoas portadoras de necessidades especiais firmam 
uma parceria para intervir junto à população colocada em abrigos na cidade de Nova Friburgo. 
O objetivo dessa parceria é ajudar a população escolhida (sem restrição quanto a serem ou não 
portadoras de necessidades especiais) a voltar a ocupar postos de trabalho na cidade. 
O curso de psicologia do campus Nova Friburgo da Universidade Estácio de Sá é contactada pela 
empresa para fornecer alunos que fariam parte do trabalho como estagiários. Assim, além do 
objetivo direto de proporcionar a recolocação no mercado de trabalho de uma parte da 
população atingida, a iniciativa permitiria a obtenção de dados sobre a população foco e a 
capacitação profissional e acadêmica de alunos de uma Universidade local. 
Questionários são elaborados para colher dados básicos sobre a população (sexo, idade, 
escolaridade, endereço etc. Mas também possíveis interesses em uma atividade profissional). 
Quando a equipe se encontra pronta para iniciar o trabalho, só restava um abrigo das mais de 
duas dezenas de abrigos que foram constituídos após a tragédia. Isso obrigou a equipe a 
modificar a sua população alvo, indo buscar pessoas vitimadas pela tragédia nos bairros e 
comunidades locais. 
Pessoas consideradas chave das comunidades focadas pela equipe (líderes comunitários etc.) 
foram chamadas a participar ajudando a localizar possíveis beneficiários da iniciativa. Os 
questionários são aplicados e a parceria entre a SETRAB e a prefeitura chega a um acordo quanto 
à oferta de cursos de capacitação que levem em consideração os resultados dessa “pesquisa-
ação”, para que a população alvo seja encaminhada para postos de trabalho compatíveis com 
os interesses e potencialidades encontradas entre a população. 
Os cursos de capacitação, ao final de tudo e com o passar do tempo, não foram ofertados, a 
despeito da insistência dos coordenadores do projeto. Alegou-se entraves políticos mas 
ninguém assumiu a responsabilidade. Ou seja, a pesquisa-ação atinge os objetivos iniciais, 
realiza a sua parte, porém não acontece a contraparte que deveria vir dos órgãos municipais. A 
iniciativa termina em decepção e podemos especular que um dos efeitos disso é deixar as 
pessoas da população foco ainda mais desalentadas quanto ao que podem esperar de políticos 
e da sociedade “organizada”. 
Percebeu-se durante o trabalho voluntário (que foi importante e amplamente noticiado pela 
mídia) de apoio às vítimas da tragédia o quanto as pessoas não tinham a menor consciência de 
seus direitos e das obrigações do estado para com elas. Por um lado não acreditavam em 
promessas, não buscavam seus direitos; por outro, acotovelavam-se para receberas doações e 
mostravam-se passivas do ponto de vista do exercício de sua cidadania, a espera de algum tipo 
de milagre, como se não pudessem se tornar cidadãos pertencentes a uma sociedade pela qual 
são responsáveis mas que também tem responsabilidades para com eles. 
O fato de mais uma vez ter sido desenvolvida e apresentada uma proposta a esta população e 
pouco ou nada ter acontecido de concreto, talvez possa criar mais desalento e desconfiança em 
uma população acostumada a achar que ninguém fará nada por ela. Ganha força a ideia de que 
tudo não passa de promessas feitas para o próprio benefício dos que prometem. Por outro lado 
tal contexto envolve a passividade desta população que não reclama nem parece inclinada a 
acreditar que vale a pena lutar pelos seus direitos.

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