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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
VIOLETA PIRES VILAS BOAS 
 
 
 
 
 
O ESPAÇO DA CELEBRAÇÃO NA NOVA ORDEM DAS RUAS: 
o Projeto Lapa Legal e suas influências na preservação da 
ambiência cultural da Lapa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2013
 
VIOLETA PIRES VILAS BOAS 
 
 
O ESPAÇO DA CELEBRAÇÃO NA NOVA ORDEM 
DAS RUAS: o Projeto Lapa Legal e suas 
influências na preservação da ambiência cultural 
da Lapa. 
 
 
 
Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-
Graduação em Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro como parte dos 
requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Urbanismo. 
 
Orientador: Prof. Dr. Cristóvão Fernandes Duarte 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro, 2013 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
08 Fall$
 
V695 Vilas Boas, Violeta Pires 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas: o Projeto 
Lapa Legal e suas influências na preservação da ambiência 
cultural da Lapa / Violeta Pires Vilas Boas; orientador: Cristóvão 
Fernandes Duarte.− 2013. 
211 f. : il. 
 
Dissertação (Mestrado em Urbanismo) – Universidade Federal 
do Rio de Janeiro, PROURB, Rio de Janeiro, 2013. 
Orientação: Prof. Cristóvão Fernandes Duarte. 
 
1. Lapa. 2. Patrimônio cultural. 3. Transformação urbanística. 4. 
Espaço público. I. Título. 
 
CDD 363.69 
 
VIOLETA PIRES VILAS BOAS 
 
 
O ESPAÇO DA CELEBRAÇÃO NA NOVA ORDEM 
DAS RUAS: o Projeto Lapa Legal e suas 
influências na preservação da ambiência cultural 
da Lapa. 
 
Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em 
Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro como parte dos requisitos necessários à 
obtenção do grau de Mestre em Urbanismo. 
 
Aprovada em 04 de outubro de 2013. 
 
 
__________________________________ 
Prof. Dr. Cristóvão Fernandes Duarte 
PROURB - UFRJ 
Orientador 
 
 
__________________________________ 
Profa. Dra. Lilian Fessler Vaz 
PROURB - UFRJ 
 
 
__________________________________ 
Prof. Dr. Ronaldo Brilhante 
FAU – UFRJ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À Lúcia e ao Vilas, 
cujo encontro aconteceu por uma transformaçao urbanística. 
 
 
Agradecimentos 
Agradeço, primeiramente, aos professores e funcionários do PROURB, que tanto 
contribuíram para o desenvolvimento deste percurso. Agradeço em especial, a professora 
Lilian Fessler Vaz, professora e coordenadora Rachel Coutinho e o saudoso professor 
Roberto Segre, que contribuíram para o enriquecimento desta dissertação. 
Ao orientador Cristovão Duarte, meus agradecimentos por ter embarcado neste percurso, 
inspirando caminhos e, principalmente, por encorajar minha autonomia neste caminhar. 
Agradeço imensamente, pela inspiração e pela enorme colaboração, todas as instituições 
culturais da Quadra da Cultura da Lapa, dentre elas: o Tá Na Rua – em especial, ao diretor 
Amir Haddad e ao amigo Licko Turle ; o CTO – em especial, o ‘coringa’ Alessandro; a 
FEBARJ – em especial, o presidente Paulo Cesar; a Casa Brasil-Nigéria, em especial, a 
responsável Catarina; e a Casa de Cultura Hombu – em especial, o fundador Beto Coimbra. 
Agradeço a todos os grupos artísticos e instituições culturais que atuam na Lapa e que 
enriquecem o patrimônio cultural da região, dentre eles: os amigos do Será O Benidito?! – 
em especial, André Alves Garcia e Ludmilla da Silva; o Teatro de Anônimo – em especial, o 
integrante João Carlos Artigos; a Intrépida Trupe – em especial, a integrante Vanda 
Jacques; a Armazém Cia. de Teatro – em especial, o integrante Ricardo Martins; o grupo 
Bando Filhotes de Leão – em especial, Isabel Viana e Wellington Dias; o Espaço Panorama – 
em especial, os produtores Eduardo Bonito e Marília; e o Rio Maracatu – em especial, o 
integrante Leo Araripe. 
Agradeço os moradores e frequentadores da Lapa que, juntamente com os grupos e 
instituições culturais, ‘fazem’ a Lapa, em especial, todos aqueles que contribuíram para esta 
pesquisa e que lutam por uma Lapa melhor. 
Agradeço os arquitetos Aline Xavier e Luiz Paulo Leal, do IRPH da Prefeitura do Rio de 
Janeiro, por toda a colaboração e pelos imprescindíveis materiais cedidos. 
Meu especial agradecimento à amiga e coordenadora da CEMAE/DEPMUS/IBRAM Léa 
Carvalho, por todo o apoio, compreensão e incentivo. Este percurso não seria possível sem 
 
 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
sua colaboração. Agradeço da mesma forma, à amiga e colega de trabalho, Renata 
Casimiro. 
Agradeço aos meus amigos e familiares pelo imensurável apoio, carinho e incentivo durante 
este caminho, em especial, aos meus pais, aos meus tios e primos. 
 
 
Resumo 
Esta dissertação aborda o bairro da Lapa, localizado na região central do Rio de Janeiro, e 
sua ambiência enquanto patrimônio cultural da região. Esta ambiência é caracterizada, tanto 
pelo seu tecido histórico conservado, mas sobretudo, pela celebração da diversidade social 
nos espaços públicos e pela reunião de diversos grupos artísticos, instituições e 
manifestações culturais em seu tecido urbano. Com o processo de transformação urbanística 
e de ordenamento do espaço público, iniciado em 2009 através do Projeto Lapa Legal, esta 
pesquisa teve por objetivo avaliar o processo de concepção e implantação deste projeto e 
verificar seus impactos na preservação deste patrimônio cultural. 
 
Palavras-chave: Lapa; patrimônio cultural; transformação urbanística; manifestação cultural; 
espaço público. 
 
Abstract 
The theme of this research is Lapa, neighborhood of Rio de Janeiro’s central district, and its 
ambiance; witch is characterized by the social diversity celebration in the public spaces and 
by the presence of innumerous artistic groups, institutions and cultural events, as a cultural 
heritage. With the process of urban transformation and planning of public spaces, initiated in 
2009 through the Project Lapa Legal, this research aims to evaluate its design and 
implementation process and to verify its impact on the cultural heritage preservation. 
 
Keywords: Lapa, cultural heritage, urban transformation, cultural expression; public space. 
 
 
Lista de Figuras 
Fig.01. Foto: Francesco D’Andria, 2007. 
Fig.02. Imagem retirada do Google Earth. 
Fig.03. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.04. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.05. Foto: sem autor, sem data. Terceira imagem sequencial da imagem: FPft0353 – MARIA P. DE 
CASTRO, durante passeio na Cinelândia. Postal. Rio de Janeiro. 3 poses sequenciais. Fonte: Arquivo 
Histórico do Museu República. 
Fig.06. Foto de Kurt Klagsbrunn. Fonte: Saudades do Rio. Imagem disponível em: 
http://fotolog.terra.com.br/luizd:3315, acessado em 17/11/2012. 
Fig.07. Título da foto: “Aspecto Atual da Rua dos Arcos”. Fonte: Revista da Semana. Imagem 
disponível em: http://www.rioquepassou.com.br, acessado em 20/10/2012. 
Fig.08. Foto: Fernando Quevedo, 2010. Imagem publicada em 28 de maio de 2010 no Jornal O 
Globo. Disponível em: http://oglobo.globo.com/rio/garis-com-chapeu-panama-vao-cuidar-da-
limpeza-da-lapa-noite-3001325, acessado em 09/10/2012. 
Fig.09. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.10. Foto: Violeta Vilas Boas, 2008. 
Fig.11. Imagem disponível em: http://elcarreresdetothom.blogspot.com.br, acessada em 17/01/2013. 
Fig.12. Imagem disponível em: http://elcarreresdetothom.blogspot.com.br, acessada em 17/01/2013. 
Fig.13. Imagem disponível em: http://elcarreresdetothom.blogspot.com.br, acessada em 17/01/2013. 
Fig.14. Imagem disponível em: http://elcarreresdetothom.blogspot.com.br, acessada em 17/01/2013. 
Fig.15. Foto: Violeta Vilas Boas, 2005. 
Fig.16. Foto: Guilherme Gonçalves, 2009. Imagem publicada no Portal Terra, em 04 de março de 
2009. Disponível em: http://noticiasar.terra.com.ar/tecnologia/interna/0,,OI3612472-EI8139,00.html,acessado em 17/01/2013. 
Fig.17. Foto: sem autor, 2012. Disponibilizada no dia 16 de maio de 2012, pelo Grupo Off-sina, no seu 
perfil no Facebook. Imagem disponível em: https://www.facebook.com/photo.php?fbid= 
 
 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
240135236092384&set=a.108816099224299.10653.100002877290720&type=3&theater, acessado em 
17/01/2013. 
Fig.18. Imagem disponível em: http://www.boadiversao.com.br, acessado em 17/01/2013. 
Fig.19. Pintura atribuída a Leandro Joaquim, 1790, acervo do Museu Histórico Nacional. Imagem 
retirada do livro CARDOSO, Rafael. A arte brasileira em 25 quadros (1790-1930). Rio de Janeiro: 
Record, 2008. 
Fig.20. Foto: MALTA, Augusto. Ft0057: 20.11.1904 – 05.05.1907 – 2 fotografias. TEATRO MUNICIPAL: 
obras de construção. Rio de Janeiro. Fonte: Arquivo Histórico do Museu República. 
Fig.21. Imagem disponível em: http://www.rioquepassou.com.br, acessado em 03/11/2012. 
Fig.22. Foto da Coleção Dasmond Cole. Imagem disponível em: http://www.rioquepassou. 
com.br, acessado em 03/11/2012. 
Fig.23. Documento Nº6415 do acervo do Projeto Portinari. Imagem disponível em: 
http://www.portinari.org.br/#/acervo/documento/6415, acessado em 23/03/2013. 
Fig.24. Pintura em óleo sobre tela. Obra Nº1669 do acervo do Projeto Portinari. Imagem disponível 
em: http://www.portinari.org.br/#/acervo/obra/1669, acessado em 23/03/2013. 
Fig.25. Gravura colorida a mão. Imagem disponível em: http://epocasaopaulo.globo.com/ 
cultura/guia-do-fim-de-semana-41/, acessado em 23/03/2013. 
Fig.26. Mapa elaborado com base na pesquisa histórica realizada. 
Fig.27. Fonte: O Globo. Imagem disponível em: http://www.rioquepassou.com.br, acessado em 
23/03/2012. 
Fig.28. Imagem disponível em: http://www.rioquepassou.com.br, acessado em 03/11/2012. 
Fig.29. Imagem disponível em: http://www.rioquepassou.com.br, acessado em 03/11/2012. 
Fig.30. Imagem disponível em: http://projetolapa.wordpress.com, acessado em 03/11/2012. 
Fig.31. Foto do Arquivo do Circo Voador. Imagem disponível em: https://www.facebook.com 
/circovoadorlapa/photos_stream, acessado em 09/08/2013. 
Fig.32. Foto do Arquivo do Circo Voador. Imagem disponível em: https://www.facebook.com 
/circovoadorlapa/photos_stream, acessado em 09/08/2013. 
Fig.33. Foto do Arquivo do Circo Voador. Imagem disponível em: https://www.facebook.com 
 
 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
/circovoadorlapa/photos_stream, acessado em 09/08/2013. 
Fig.34. Imagem retirada do documento: MAGALHÃES, Roberto Anderson de Miranda. Distrito 
Cultural da Lapa. Texto disponível em: http://www.inepac.rj.gov.br/arquivos/LapatextoSite17.10.2005. 
pdf, acessado em 18/11/2012. Tornado público em fevereiro de 2006; p.9. 
Fig.35. Imagem retirada do documento: MAGALHÃES, Roberto Anderson de Miranda. Distrito 
Cultural da Lapa. Texto disponível em: http://www.inepac.rj.gov.br/arquivos/LapatextoSite17.10.2005. 
pdf, acessado em 18/11/2012. Tornado público em fevereiro de 2006; p.10. 
Fig.36. Imagem retirada do documento: MAGALHÃES, Roberto Anderson de Miranda. Distrito 
Cultural da Lapa. Texto disponível em: http://www.inepac.rj.gov.br/arquivos/LapatextoSite17.10.2005. 
pdf, acessado em 18/11/2012. Tornado público em fevereiro de 2006; p.14. 
Fig.37. Foto: Violeta Vilas Boas, 2013. 
Fig.38. Foto: Violeta Vilas Boas, 2013. 
Fig.39. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.40. Mapa elaborado com base no levantamento realizado. 
Fig.41. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.42. RIO DE JANEIRO (Cidade). Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Secretaria de Cultura. 
Subsecretaria de Patrimônio, Intervenção Urbana, Arquitetura e Design. Projeto Lapa Legal: 
Intervenções Estruturantes. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 2010, p.05. 
Fig.43. RIO DE JANEIRO (Cidade). Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Secretaria de Cultura. 
Subsecretaria de Patrimônio, Intervenção Urbana, Arquitetura e Design. Projeto Lapa Legal: 
Intervenções Estruturantes. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 2010, p.08. 
Fig.44. RIO DE JANEIRO (Cidade). Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Secretaria de Cultura. 
Subsecretaria de Patrimônio, Intervenção Urbana, Arquitetura e Design. Projeto Lapa Legal: 
Intervenções Estruturantes. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 2010, p.13. 
Fig.45. RIO DE JANEIRO (Cidade). Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Secretaria de Cultura. 
Subsecretaria de Patrimônio, Intervenção Urbana, Arquitetura e Design. Projeto Lapa Legal: 
Intervenções Estruturantes. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 2010, p.16. 
Fig.46. Imagem retirada do livro: RIO DE JANEIRO (Cidade). Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. 
Secretaria de Cultura. Subsecretaria de Patrimônio, Intervenção Urbana, Arquitetura e Design. Projeto 
 
 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
Lapa Legal: Intervenções Estruturantes. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 2010, 
p.26. 
Fig.47. Imagem retirada do livro: RIO DE JANEIRO (Cidade). Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. 
Secretaria de Cultura. Subsecretaria de Patrimônio, Intervenção Urbana, Arquitetura e Design. Projeto 
Lapa Legal: Intervenções Estruturantes. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 2010, 
p.29. 
Fig.48. Imagem retirada do livro: RIO DE JANEIRO (Cidade). Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. 
Secretaria de Cultura. Subsecretaria de Patrimônio, Intervenção Urbana, Arquitetura e Design. Projeto 
Lapa Legal: Intervenções Estruturantes. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 2010, 
p.27. 
Fig.49. Imagem retirada do livro: RIO DE JANEIRO (Cidade). Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. 
Secretaria de Cultura. Subsecretaria de Patrimônio, Intervenção Urbana, Arquitetura e Design. Projeto 
Lapa Legal: Intervenções Estruturantes. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 2010, 
p.21. 
Fig.50. Imagem retirada do livro: RIO DE JANEIRO (Cidade). Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. 
Secretaria de Cultura. Subsecretaria de Patrimônio, Intervenção Urbana, Arquitetura e Design. Projeto 
Lapa Legal: Intervenções Estruturantes. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 2010, 
p.22. 
Fig.51. Imagem disponível em: http://feiranoturnadalapa.blogspot.com/, acessado em 18/01/2013. 
Fig.52. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.53. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.54. Foto: Violeta Vilas Boas, 2013. 
Fig.55. Foto: Violeta Vilas Boas, 2013. 
Fig.56. Foto: Violeta Vilas Boas, 2013. 
Fig.57. Foto: Violeta Vilas Boas, 2013. 
Fig.58. Mapa da matéria do jornal O Globo, publicada no dia 18 de maio de 2012. Imagem disponível 
em: http://oglobo.globo.com/infograficos/mapa-boemia-lapa/, acessado em 18/01/2013. 
Fig.59. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.60. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.61. Foto: Violeta Vilas Boas, 2013. 
 
 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
Fig.62. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.63. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.64. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.65. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.66. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.67. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.68. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.69. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.70. Foto: Violeta Vilas Boas, 2013. 
Fig.71. Foto: Violeta Vilas Boas, 2013. 
Fig.72. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.73. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.74. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.75. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.76. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.77. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.78. Imagem retirada do livro GRUPO HOMBU, Luz acesa há trinta anos num palco chamado 
criança. Rio de Janeiro: Instituto Cultural Hombu, 2007, s.n. 
Fig.79. Foto: Violeta Vilas Boas, 2013. 
Fig.80. Foto: Violeta Vilas Boas, 2013. 
Fig.81. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.82. Imagem disponível em: http://ctorio.org.br/novosite/2012/08/furto-agrava-crise-do-centro-de-teatro-do-oprimido/, acessado em 18/01/2013. 
Fig.83. Imagem disponível em: http://becodobandeira.blogspot.com.br, acessado em 21/05/2013. 
Fig.84. Imagem disponível em: https://www.facebook.com/ElesNaoAmamORio?fref=ts 
Fig.85. Imagem capturada do perfil do Facebook ‘Eles Não Amam A Lapa’, acessado em 30/07/2013. 
Fig.86. Imagem capturada do perfil do Facebook ‘Eles Não Amam A Lapa’, acessado em 30/07/2013. 
 
 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
Fig.87. Foto: Violeta Vilas Boas, 2013. 
Fig.88. Mapa elaborado com base em levantamento feito em visitas a campo. 
Fig.89. Foto: Violeta Vilas Boas, 2013. 
Fig.90. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.91. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.92. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.93. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.94. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.95. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.96. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.97. Foto: Fernando Souza / Agência O Dia. Publicada no Jornal O Dia, em 29 de março de 2013. 
Imagem disponível em: http://odia.ig.com.br/portal/rio/musical-da-paixão-de-cristo-leva-3-mil-à-lapa-
1.566374, acessado em 15/05/2013. 
Fig.98. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.99. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.100. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.101. Foto: Violeta Vilas Boas, 2012. 
Fig.102. Foto: Violeta Vilas Boas, 2013. 
Fig.103. Mapa elaborado com base em levantamento feito em visitas a campo. 
Fig.104. Mapa elaborado com base em informações obtidas no livro: RIO DE JANEIRO (Cidade). 
Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Secretaria de Cultura. Subsecretaria de Patrimônio, 
Intervenção Urbana, Arquitetura e Design. Projeto Lapa Legal: Intervenções Estruturantes. Rio de 
Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 2010, p.05. 
Fig.105. Imagem disponível em: https://www.facebook.com/ElesNaoAmamORio?fref=ts, acessado em 
30/07/2013. 
Fig.106. Imagem do projeto vencedor do Concurso para projeto simbólico da Copa do Mundo, de 
Karim Hassayoune, da França. Publicado no site Bustler no dia 29 de julho de 2013. Imagem 
disponível em: http://www.bustler.net/images/news2/rio_de_janeiro_symbolic_world_cup_structure_ 
 
 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
01.jpg, acessado em 11/08/2013. 
Fig.107. Imagem capturada da tela do vídeo disponível em: 
http://www.youtube.com/watch?v=YTFYoqEo3kQ, acessado em 11/08/2013. 
Fig.108. Foto: Violeta Vilas Boas, 2013. 
Fig.109. Foto: Violeta Vilas Boas, 2013. 
Fig.110. Foto: Violeta Vilas Boas, 2013. 
Fig.111. Foto: Violeta Vilas Boas, 2013. 
Fig.112. Foto: Violeta Vilas Boas, 2013. 
Fig.113. Foto: Violeta Vilas Boas, 2013. 
Fig.114. Foto: Violeta Vilas Boas, 2013. 
Fig.115. Foto: Violeta Vilas Boas, 2013. 
Fig.116. Foto: Violeta Vilas Boas, 2013. 
 
 
 
Lista de Gráficos 
Gráfico01. Elaborado a partir dos questionários respondidos pelas instituições culturais da Lapa. 
Gráfico02. Elaborado a partir dos questionários respondidos pelos moradores da Lapa. 
Gráfico03. Elaborado a partir dos questionários respondidos pelas instituições culturais e por 
moradores da Lapa. 
Gráfico04. Elaborado a partir dos questionários respondidos pelas instituições culturais e por 
moradores da Lapa. 
Gráfico05. Elaborado a partir dos questionários respondidos pelos moradores da Lapa. 
Gráfico06. Elaborado a partir dos questionários respondidos pelos moradores da Lapa. 
Gráfico07. Elaborado a partir dos questionários respondidos pelos moradores da Lapa. 
Gráfico08. Elaborado a partir dos questionários respondidos pelos moradores da Lapa. 
Gráfico09. Elaborado a partir dos questionários respondidos pelas instituições culturais da Lapa. 
Gráfico10. Elaborado a partir dos questionários respondidos pelas instituições culturais da Lapa. 
Gráfico11. Elaborado a partir dos questionários respondidos pelas instituições culturais e por 
moradores da Lapa. 
Gráfico12. Elaborado a partir dos questionários respondidos pelas instituições culturais e por 
moradores da Lapa. 
Gráfico13. Elaborado a partir dos questionários respondidos pelas instituições culturais e por 
moradores da Lapa. 
Gráfico14. Elaborado a partir dos questionários respondidos pelas instituições culturais e por 
moradores da Lapa. 
Gráfico15. Elaborado a partir dos questionários respondidos pelas instituições culturais da Lapa. 
 
 
 
Lista de Siglas 
APAC – Área de Preservação do Ambiente Cultural 
CDL – Centro de Documentação da Lapa 
CEDAE – Companhia Estadual de Águas e Esgotos 
CREA – Conselho Regional de Engenharia e Agronomia 
CTO – Centro de Teatro do Oprimido 
EMOP – Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro 
ESDI – Escola Superior de Desenho Industrial 
FEBARJ – Federação de Blocos Afro e Afoxés do Rio de Janeiro. 
INEPAC – Instituto Estadual do Patrimônio Cultural 
IPDH – Instituto Palmares de Direitos Humanos 
IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional 
IRPH – Instituto Rio Patrimônio da Humanidade 
ITDP – Institute for Transportation and Development Policy 
MIS – Museu da Imagem e do Som 
ONG – Organização Não-Governamental 
SAARA – Sociedade de Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega 
SEOP – Secretaria Especial de Ordem Pública da Prefeitura do Rio de Janeiro 
SPHAN – Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional 
PUB-RIO – Plano Urbanístico Básico do Rio de Janeiro 
SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas 
UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro 
UFF – Universidade Federal Fluminense 
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro 
UniLapa – Associação do Largo da Lapa 
 
 
 19 
Sumário 
Introdução 22 
1. Antecedentes 23 
2. Definição da Questão 25 
3. Objeto da Pesquisa 30 
4. Relevância da Pesquisa 32 
5. Metodologia da Pesquisa 35 
Parte 1 – Percursos teóricos 39 
1. A cidade como local do encontro 39 
1.1. O indivíduo na cidade e na multidão 40 
1.2. A multidão e a superficialidade das relações 42 
1.3. As cidades para as pessoas 44 
1.4. A flanerie carioca 46 
2. A cidade como lugar de memória 49 
2.1. Da cultura oficial à diversidade cultural: o percurso dos bens culturais e das memórias50 
2.2. A Lapa como lugar de memórias 55 
3. A cidade como lugar de manifestações culturais 61 
3.1. A formação da cidade como local de celebração 62 
3.2. As manifestações culturais e a ordem pública na atualidade: Barcelona e Rio de Janeiro67 
 
 20 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
4. Conclusões da Parte 1 76 
Parte 2 – Percorrendo a Lapa 77 
1. Histórico Cultural e Urbano 77 
1.1. Processo histórico de formação e ocupação do bairro 78 
1.2. Mapa dos atores sociais e culturais anteriores à reocupação artística da Lapa 86 
1.3. Processo de esvaziamento da Lapa 87 
2. Reocupação artística e cultural da Lapa 90 
2.1. Histórico da reocupação 90 
2.2. Mapa dos atores sociais e culturais atuais 104 
Parte 3 – A Lapa em percurso 112 
1. Elaboração do Projeto Lapa Legal 113 
2. Processo de execução do Projeto Lapa Legal 124 
2.1. Acompanhamento das medidas implantadas 124 
2.2. Acompanhamento das obras 135 
2.3. Conclusões parciais sobre a execução do projeto 146 
3. Análise do Projeto Lapa Legal a partir das entrevistas com instituições culturais e moradores 149 
3.1. Entrevistas com instituições da Quadra da Cultura da Lapa 150 
3.2. Questionários aplicados às demais instituições culturais e moradores da Lapa 158 
3.3. Movimentos nas redes sociais e nas mídias 174 
 
 21 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
4. Análise dos usos dos espaços públicos pós-execução 178 
Conclusões 189 
Bibliografia 199 
Anexo 1 207 
Anexo 2 209 
Anexo 3 211 
 
 
 22 
Introdução 
Estudar a Lapa é dar continuidadeao processo de compreensão da influência dos atores 
culturais e das apropriações criativas dos espaços públicos na formação de ambientes 
urbanos vivos e com qualidade. 
Neste sentido, compreender o processo de revalorização da Lapa, ocorrido nos últimos 
vinte anos, é justamente compreender o espaço urbano através daqueles que trouxeram 
atividades artísticas e culturais para a região e que conviveram com outros aspectos da Lapa, 
como a prostituição, a pobreza e a criminalidade. 
A presença dos atores culturais, a diversidade social e a multiplicidade cultural formam uma 
ambiência1 característica da Lapa desde o início do século XX. Esta ambiência foi retomada 
no processo de reocupação artística e cultural da região, no entanto, o crescimento do 
comércio voltado para o lazer noturno, a valorização imobiliária e as últimas ações da 
prefeitura, induzem à investigação sobre a preservação desta ambiência que compõe o 
patrimônio cultural da região. 
Tendo em vista a oportunidade de acompanhar as ações implantadas pela prefeitura, 
através do Projeto Lapa Legal, é motivador poder observar seus impactos na ambiência e no 
cotidiano dos moradores e dos grupos culturais da região. A observação próxima, realizada 
durante todo o período de elaboração desta dissertação, entre o segundo semestre de 2011 
até o final do primeiro semestre de 2013, traz uma perspectiva que abrange desde a 
concepção do projeto à sua execução e aos seus efeitos imediatos. 
Esta dissertação pretende compreender como as ações de transformação urbanística 
influenciam na dinâmica do bairro, nos usos dos espaços públicos, na sua qualidade urbana 
e, sobretudo, na preservação da ambiência da Lapa. 
 
1 Utilizamos a definição de Meneses, que define ambiência “como espaço arquitetonicamente 
organizado e animado, que constitui um meio físico e, ao mesmo tempo, estético, psicológico ou 
social, especialmente agenciado para o exercício de atividades humanas”. Ver MENESES, Ulpiano 
Bezerra de. A cidade como bem cultural – áreas envoltórias e outros dilemas, equívocos e alcance da 
preservação do patrimônio ambiental urbano. In: MORI, Victor Hugo et al. (Org.). Patrimônio: 
atualizando o debate. São Paulo: 9a SR/ IPHAN, 2006. p.44. 
 
Introdução 23 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
1. Antecedentes 
 
Fig.01. Evento realizado em Bolonha, 2007. 
Este percurso começou em 2006, motivado pela observação de festivais de dança urbana e 
pelo diálogo com alguns de seus organizadores, que promovem anualmente espetáculos 
nas ruas de diversas cidades do mundo. A intenção inicial era analisar as relações que estas 
ações estabeleciam entre o público – habitante e frequentador local – e o espaço urbano. 
Esta análise buscou verificar como as manifestações artísticas e culturais seriam 
provocadoras e mantenedoras de relações mais profundas e críticas entre o habitante e o 
seu ambiente urbano e como estas manifestações poderiam contribuir na geração de novas 
perspectivas para espaços subutilizados e em processo de transformação urbanística. As 
pesquisas realizadas em Barcelona e Bolonha, entre aos anos de 2006 e 2007, culminaram na 
realização de uma intervenção participativa de dança urbana na praça de um bairro da 
periferia de Bolonha, que, naquele momento, era objeto de um concurso de propostas 
urbanísticas. Esta ação colaborou para motivar o diálogo entre os moradores e a prefeitura 
como também para a utilização da praça enquanto local de festivais de dança. 
O percurso destas investigações teve continuidade na Zona Portuária do Rio de Janeiro, 
uma vez que a região também se encontrava em processo de transformação urbanística, ou 
seja, também estava passível de novas perspectivas para o seu tecido urbano e social. Esta 
região demonstrou um campo fértil para a continuidade destas investigações, pois revelava, 
por trás dos grandes galpões e terrenos subutilizados e abandonados, a preservação de 
uma ambiência comunitária peculiar e rara na região central da cidade. Além disso, o local 
conseguiu conservar, tanto através do ambiente físico, quanto através das manifestações 
culturais e artísticas presentes na região, memórias relacionadas ao porto, aos imigrantes e à 
 
Introdução 24 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
cultura negra, relevantes não só para os moradores locais, quanto para a cultura carioca e 
brasileira. 
No sentido de compreender a região a partir dessas vivências cotidianas e culturais e de 
desvelar as memórias presentes nas marcas físicas dos edifícios e dos espaços públicos, a 
abordagem à região portuária se deu a partir da análise dos atores sociais e culturais e dos 
rituais cotidianos ainda presentes no local. A pesquisa foi concluída com a elaboração de um 
projeto urbanístico que valorizasse o espaço público como local de convívio e de 
manutenção das atividades artísticas e culturais da região, que constituiu o Trabalho Final de 
Graduação, com o tema Da Praça à Praça da Harmonia: um percurso vivo, apresentado em 
2008. 
O estudo sobre a relação das manifestações artísticas e culturais com os espaços públicos 
em processo de transformação urbanística segue seu percurso na Lapa, tendo em vista que 
a região dialoga com os estudos precedentes, por também ser historicamente reconhecida 
por sua relevância na memória cultural da cidade, por também ter passado por um processo 
de esvaziamento de atividades econômicas e de frequência de pessoas, e por, atualmente, 
ser novamente objeto de planos urbanísticos e de investimentos. 
 
 
Introdução 25 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
2. Definição da Questão 
 
Fig.02. Foto da região do Centro, com a demarcação do bairro da Lapa, oficializado em 2012. 
A aproximação à Lapa começou a pé. Caminhar pela Lapa faz parte do meu cotidiano: seja 
para o local de trabalho, seja para o lazer, caminho pela Lapa todos os dias há mais de três 
anos, quando passei a residir na Glória. 
Em todos os percursos, foi possível observar as frequências diurnas e noturnas, as 
permanências e as transformações, os usos e desusos dos edifícios, ruas, calçadas e praças; 
pude perceber o encantamento que a Lapa provoca nos seus frequentadores noturnos e me 
sentir encantada para escrever sobre o local. 
Os percursos pela Lapa da noite, muito diferentes da Lapa do dia, são envolventes pela 
oferta de opções de lazer e de atrações culturais que convergem pessoas de diversas 
regiões da cidade, do Brasil e, cada vez mais, do mundo, tanto para as ruas, quanto para os 
estabelecimentos locais. 
Quando se busca informação na internet sobre os destinos turísticos mais recomendados no 
Rio de Janeiro, a Lapa aparece na maior parte das páginas nacionais e internacionais, por 
seu valor patrimonial – sobretudo pelos Arcos da Lapa – mas principalmente pela sua oferta 
de atrações noturnas. 
 
Introdução 26 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
A consolidação da Lapa enquanto um dos destinos preferidos pelos turistas é um processo 
que contou com o investimento dos empreendedores locais que, através da progressiva 
ocupação de antigos sobrados por bares e casas noturnas, constituíram uma ambiência do 
passado com iluminação cênica de um jovem presente. 
Em 2009, a Prefeitura do Rio de Janeiro lançou o Projeto Lapa Legal, que propõe ações de 
ordenamento dos espaços públicos, no sentido de adequá-los aos usos turístico, cultural e 
de lazer, já consolidados na região. 
Com sua execução em andamento, é possível questionar sobre quem será beneficiado por 
este projeto: os frequentadores e moradores locais ou os investidores privados? Qual será a 
Lapa construída por este projeto: a da celebração e da convivência nos espaços públicos ou 
a do consumo de espetáculos em espaços privados? 
Para esta análise, se torna importante reconhecer o que há por trás da maquiagem e da 
iluminação cênica doscasarios e monumentos, o que permanece como valor cultural, 
próprio da Lapa, o que evoca a memória local e o que faz tantos percursos de tantas 
pessoas tão diferentes entre si convergirem para o convívio e para a celebração. 
Se faz necessário compreender o percurso histórico da Lapa no sentido de reconhecer as 
memórias e os bens culturais que permanecem na Lapa e que a definem atualmente. 
Ainda que o estudo deste percurso seja aprofundado no desenvolvimento da dissertação, 
esta abordagem histórica é fundamental para chegarmos ao objeto desta pesquisa. 
 
Fig.03. Rua Evaristo da Veiga, sábado, às 23 horas. 
 
Introdução 27 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
A Lapa se consolida enquanto área urbana a partir da chegada da Corte Portuguesa, no 
início do século XIX, com a construção de casas abastadas no entorno do Centro já 
consolidado do Rio de Janeiro, na intenção de abrigar a elite carioca. No entanto, a 
expansão das linhas de bonde direciona o crescimento da cidade para outras regiões e as 
casas da Lapa são abandonadas ou passam a ser alugadas como casas de cômodos, 
fazendo com que a região, destinada a abrigar a classe dominante da cidade, passasse a ser 
o local de moradia dos pobres2. Paulatinamente, bares e bordeis se estabeleceram nos 
demais imóveis da região, passando a reunir também boêmios, prostitutas e malandros. 
No início do século XX, com o Rio de Janeiro enquanto Distrito Federal, o centro da cidade 
se consolida como núcleo político e cultural do país. A Lapa, enquanto entorno imediato 
deste Centro, passa a atrair importantes atores políticos, sociais e culturais, para a boemia, a 
jogatina e o prazer. 
A Lapa se torna um local de vícios e prazeres, lazer e delitos, música e malandragem. Havia a 
pobreza e a criminalidade, mas também havia o luxo de cabarés e cassinos, assim como a 
presença de moradores e frequentadores ilustres, como Manuel Bandeira, Portinari, Di 
Cavalcanti, Carmem Miranda, Pixinguinha, Villa-Lobos e Noel Rosa. 
A partir da segunda metade do século XX, a Lapa passa pelo esvaziamento da população e 
dos investimentos públicos e privados. Fatores políticos e econômicos, além das 
transformações urbanísticas implantadas neste período, contribuíram para o processo de 
abandono da região. 
A abertura política, ocorrida a partir dos anos 1980, possibilitou a expressão artística e 
cultural na cidade. Com isso, ocupações pontuais de espaços públicos e de imóveis 
abandonados começaram a ocorrer na Lapa. Estas ações, executadas em parceria, 
sobretudo, com o poder estadual, trouxeram frequentadores e a paulatina ocupação de 
imóveis para usos culturais, bares e casas de samba. 
 
2 Referências retiradas do artigo: DUARTE, C. F. Lapa: abrigo e refúgio da cultura popular carioca. In: 
XIII Encontro Nacional da ANPUR ENANPUR, 2009, Florianópolis. Anais do XIII Encontro Nacional da 
ANPUR: Planejamento e Gestão do Território, 2009. 
 
Introdução 28 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
O poder municipal contribuiu para a região através da criação do Corredor Cultural, em 
1984, e da implantação do Projeto de Reestruturação da Lapa em meados dos anos 1990, o 
que favoreceu a ocupação e a preservação dos imóveis históricos e contribuiu para a criação 
de atividades culturais na região. 
A presença de grupos culturais juntamente com a criação da Feira de Antiguidades da Rua 
do Lavradio, fez com que a região voltasse a ter o movimento de outrora; as pessoas 
voltaram a ocupar e a vivenciar as ruas da Lapa e a imagem da ‘malandragem’ e da boemia, 
que antes eram símbolos da subversão e da decadência da região, se transformaram em 
marketing turístico. 
Assim, a região sai da penumbra e volta aos focos de atenção, com a consolidação paulatina 
da região enquanto local de cultura, lazer e turismo. A diversidade de frequentadores é uma 
das características marcantes que a Lapa ainda preserva, como salienta Elio Gaspari: “deu-se 
na Lapa o reencontro das duas cidades que convivem no Rio, a dos pobres e a daqueles que 
acham que não são pobres. Sempre que essas duas populações se encontram, o Rio 
floresce. Sempre que elas se separam, a cidade se degrada”3. 
Em 2009, a Prefeitura lança o Projeto Lapa Legal. Segundo o caderno elaborado pela 
própria prefeitura, este projeto pretende desenvolver suas “potencialidades econômicas, 
turísticas e culturais”4, visando “o ordenamento público e a regularização urbana da área e 
seu entorno, a preservação do patrimônio arquitetônico do Rio antigo e a formulação de 
intervenções urbanísticas que os alinhem ao Rio contemporâneo, assim como o fomento à 
captação de recursos e investimentos da iniciativa privada, para a dinamização das 
atividades culturais e a geração de empregos”5. 
Dentre as ações planejadas para a primeira fase do projeto, estão: iluminação nas principais 
vias, assentamento dos ambulantes, controle acústico, segurança, com guarda municipal 24 
 
3 Retirado do texto KUSHNIR, Beatriz. A Lapa e os filhos da revolução boêmia. In: LUSTOSA, Isabel. A 
Lapa do desterro e do desvaneio: uma antologia. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2001; p.179. 
4 RIO DE JANEIRO (Cidade). Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Secretaria de Cultura. 
Subsecretaria de Patrimônio, Intervenção Urbana, Arquitetura e Design. Projeto Lapa Legal: 
Intervenções Estruturantes. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 2010; p.3. 
5 Ibidem. 
 
Introdução 29 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
horas por dia, organização das vagas de estacionamento (...) e acessibilidade através da 
construção de 37 novas rampas6. 
O fechamento das ruas foi uma das medidas implantadas, que apenas consolidou o 
movimento de apropriação do espaço público pelos frequentadores locais e pelos artistas 
de rua. As pessoas que ocupavam as calçadas e invadiam as ruas, usufruindo dos serviços 
dos ambulantes e da música vinda das casas noturnas, passaram a ocupar um espaço 
público até então destinado somente aos veículos. A ampliação do espaço público para os 
pedestres possibilitou diversas performances na rua, tais como musicais, circenses ou de 
dança. 
Após três anos, a medida foi revogada e os veículos voltaram a ocupar as vias. As pessoas 
voltaram a transitar pelas calçadas, dividindo espaço com as mesas e cadeiras dos bares e 
restaurantes. Ao mesmo tempo, os espaços públicos e os bens culturais da Lapa estão 
sendo cada vez mais utilizados para grandes eventos promovidos pelo poder público e por 
empresas privadas. 
Se faz necessário, portanto, avaliar como este programa foi elaborado e como está sendo 
executado, no sentido de compreender se ele poderá evocar os valores culturais e 
consolidar a vivência dos espaços públicos da região, ou se ele apenas transformará a Lapa 
num espetáculo para ser visto e consumido todas as noites. 
 
Fig.04. Apresentação de artista na Avenida Mem de Sá. 
 
 
6 Ver release sobre a implantação do Projeto Lapa Legal. Disponível no site: 
http://noticiascultura.rio.rj.gov.br, acessado em 09/10/2012. 
 
Introdução 30 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
3. Objeto da Pesquisa 
 “A cidade de Sofrônia é composta de duas meias cidades. Na 
primeira, encontra-se a grande montanha-russa de ladeiras 
vertiginosas, o carrossel de raios formados por correntes, a roda-
gigante com cabinas giratórias, o globo da morte com os 
motociclistas de cabeça para baixo, a cúpula do circo com os 
trapézios amarrados no meio. A segunda meia cidade é de pedra e 
mármore e cimento, com o banco, as fábricas, os palácios, o 
matadouro, a escola e todo o resto. Uma das meias cidades é fixa, a 
outra é provisória e, quando termina a sua temporada, é 
desparafusada, desmontada e levada embora, transferida para os 
terrenos baldios de outra meia cidade.Assim, todos os anos chega o dia em que os pedreiros destacam os 
frontões de mármore, desmoronam os muros de pedra, os pilares de 
cimento, desmontam o ministério, o monumento, as docas, a 
refinaria de petróleo, o hospital, carregam os guinchos para seguir 
de praça em praça o itinerário de todos os anos. Permanece a meia 
Sofrônia dos tiros-ao-alvo e dos carrosséis, com o grito suspenso do 
trenzinho da montanha russa de ponta-cabeça, e começa-se a contar 
quantos meses, quantos dias se deverão esperar até que a caravana 
retorne e a vida inteira recomece”7. 
A cidade de Sofrônia, uma das Cidades Invisíveis de Ítalo Calvino, contribuiu para os 
questionamentos que se pretendem responder nesta pesquisa. 
Nesta cidade invisível, o parque de diversões, o circo e seus artistas faziam parte da metade 
fixa da cidade. A magia, a ilusão e a diversão eram condições permanentes de Sofrônia, 
enquanto a seriedade e a formalidade das instituições de pedra e cimento eram 
temporárias. 
Se analisarmos o percurso da Lapa ao longo dos anos, percebemos que os artistas, músicos, 
escritores e bailarinos construíram, juntamente com os que deveriam estar invisíveis para o 
restante da sociedade – bêbados, prostitutas, travestis e pobres, a ambiência que 
caracteriza a Lapa e que constitui o patrimônio a ser preservado para além dos sobrados de 
pedra e cal. 
 
7 CALVINO, Italo. Cidades Invisíveis. Tradução de Diogo Mainardi. São Paulo: Cia. Das Letras, 2000; 
p.27-8. 
 
Introdução 31 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
A arte, a música, a dança, a prosa, o verso, os lugares de lazer e dos prazeres foram aqueles 
que permaneceram nas edificações, nas ruas e calçadas, enquanto os empreendedores 
privados, os políticos e a administração pública chegam, montam seu espetáculo e vão 
embora para outros locais, a cada temporada que lhes é conveniente, até que outros locais 
tenham mais visibilidade e se tornem mais lucrativos. 
Neste momento, em que o circo de investimentos públicos e privados está armado e que 
vem modificando o tecido urbano e os fluxos da Lapa, é importante analisar até que ponto 
ele poderá contribuir para a preservação do patrimônio que consiste na convivência da 
diversidade social e na presença da cultura e da arte na região, ou até que ponto ele deixará 
apenas terra arrasada. 
Esta pesquisa pretende analisar a dinâmica da política pública e dos investimentos privados 
e a permanência ou o enfraquecimento destas vivências tão tradicionais quanto 
revolucionárias do espaço público, que constituem a memória, o presente e com sorte, o 
futuro da Lapa. 
 
 
Introdução 32 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
4. Relevância da Pesquisa 
As manifestações culturais e artísticas no espaço público fascinam pelo potencial de criarem 
novas perspectivas para a cidade, de estimularem novos vínculos de afeto entre o habitante 
e o local onde vivem e de provocarem a aproximação e o convívio entre estes habitantes. 
O uso do espaço público enquanto local de festividades, celebrações e de manifestação do 
fazer artístico pode ser observado em várias sociedades nos seus diversos períodos 
históricos. 
As festas, tradicionalmente promovidas pela Igreja e pelo poder político, fortaleciam a união 
entre as pessoas e entre estas e o local que habitavam, dando-lhes uma noção de 
pertencimento, de identidade e de unidade. As cidades que ainda possuem uma 
conformação urbana histórica são propícias à realização de manifestações culturais8. 
Compreender a relevância das manifestações culturais nos espaços públicos ao longo do 
tempo significa perceber o potencial que estas atividades possuem na valorização do 
próprio tecido histórico, através do processo de ressignificação do espaço pelo habitante. 
Dentro da perspectiva patrimonial, pode-se dizer que as festas tradicionais e as 
manifestações culturais dão o valor imaterial presente nos bens culturais materiais da 
cidade. 
No entanto, ainda que as festas de rua façam parte da formação de muitas cidades 
brasileiras, o processo de transformação do tecido urbano e da própria dinâmica das 
grandes cidades modificaram radicalmente os modos de vida da população e com isso, as 
manifestações culturais também se tornaram passíveis de serem transformadas. 
A dinâmica veloz e fluida9 da cidade contemporânea dificulta a permanência e o convívio 
das pessoas nos espaços públicos. Estes espaços se voltam mais para o uso funcional e 
racional do cotidiano do que para o uso contemplativo e de lazer das pessoas. Além disso, a 
 
8 SAÍZ, Maria Concepción García. Vida y Encenario de la ciudad hispanoamericana. In: La Ciudad 
Hispanoamericana: el sueño de un orden. Cehopu: Madrid, 1989; p.237. 
9 Termo utilizado por Zigmunt Bauman. Ver BAUMAN, Zigmunt. Amor Liquido: sobre a fragilidade 
dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004. 
 
Introdução 33 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
facilidade das comunicações e dos transportes multiplicam as relações entre as pessoas e os 
lugares, porém a profundidade destas relações diminui. 
Este processo, observado por Bauman, afrouxa os vínculos de afeto entre os habitantes e o 
seu ambiente e inibe o estabelecimento de relações entre os habitantes de um mesmo 
local. 
Ainda que as relações contemporâneas possam ser mais superficiais e mais cambiantes nos 
tempos atuais, isto não significa que as pessoas não conservem memórias e afetos sobre e 
por certos locais. Há uma necessidade de pertencimento e de valorização da identidade 
cultural, mesmo que estas noções estejam tão abaladas e indefinidas no momento atual. 
Bauman afirma que a identidade “torna-se tema de reflexão aprofundada quando sua 
probabilidade de sobrevivência sem reflexão começa a diminuir – quando, em vez de algo 
óbvio e dado, começa a parecer uma coisa problemática, uma tarefa. Isso ocorre com o 
advento da era moderna, com a passagem da ‘atribuição’ à ‘realização’: deixar os seres 
humanos perderem para que possam – precisem, devam – determinar seu lugar na 
sociedade”10. 
Com a mobilidade e o intercâmbio das pessoas, das informações e de culturas, a visão da 
identidade cultural atual deve ser formada pela seleção, reciclagem e rearranjo de todo o 
material cultural disponível. 
“É o movimento e a capacidade de mudança, e não a habilidade de 
se apegar a formas e conteúdos já estabelecidos, que garante sua 
continuidade”11. 
A mesma frase poderia ser atribuída à cidade e ao que se pretende preservar nela. Afinal, os 
bens culturais passaram pela mesma crise da “noção de identidade”. Estes só foram 
denominados como tais, quando a ameaça de sua destruição trouxe as memórias e os 
valores atribuídos a eles à tona. 
 
10 BAUMAN, Zigmunt. Ensaios Sobre o Conceito de Cultura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2012; 
p.44. 
11 Ibidem. p.69. 
 
Introdução 34 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
O bem cultural só permanecerá como tal ao longo do tempo através de sua contínua 
ressignificação por aqueles que o vivenciam, recebendo e evocando novos valores, 
memórias e afetos. 
No momento em que defendemos que o patrimônio da Lapa é constituído não só pelos 
bens culturais materiais, mas também pela ambiência formada pelo convívio dos diferentes 
atores sociais no ambiente público e pela presença das ações culturais e artísticas tanto nos 
imóveis, quanto nas áreas públicas da região, se pretende valorizar os aspectos que fazem 
parte da memória local, que permanecem no presente e que traduzem o que é 
essencialmente a rua, a vida urbana, conforme definiu Lefebvre: 
“A rua? É o lugar do encontro, sem o qual não existem outros 
encontros possíveis nos lugares determinados (cafés, teatros, salas 
diversas). Esses lugares privilegiados animam a rua e são favorecidos 
por sua animação,ou então não existem. Na rua, teatro espontâneo, 
torno-me espetáculo e espectador, às vezes ator. Nela efetua-se o 
movimento, a mistura, sem os quais não há vida urbana, mas 
separação, segregação estipulada e imobilizada”12. 
A definição de Lefebvre se relaciona à metade lúdica e festiva da cidade de Sofrônia, sua 
metade fixa, aquela que deve permanecer e ser preservada. Neste sentido, a metade da 
Lapa que deve ser preservada é, justamente sua ambiência. 
Assim, a pesquisa é motivada pelo momento de transformação urbanística pelo qual a Lapa 
passa atualmente, pois a avaliação deste processo poderá indicar os rumos da preservação 
ou da dissolução do patrimônio tão rico e tão frágil que constitui a ambiência da Lapa. 
 
 
12 LEFEBVRE, Henri. A Revolução Urbana. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008; p.27. 
 
Introdução 35 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
5. Metodologia da Pesquisa 
Os objetivos desta dissertação estão centrados na compreensão do percurso histórico, 
urbanístico e social da Lapa, através da perspectiva da vivência dos espaços públicos e das 
manifestações artísticas e culturais enquanto elementos constituintes e mantenedores da 
memória e do patrimônio local; e na compreensão do processo atual de transformação 
urbanística da região, pela implantação do Projeto Lapa Legal, verificando suas implicações 
na vivência do espaço público e na preservação das memórias coletivas e do patrimônio 
cultural da Lapa. 
Para seu desenvolvimento, será necessário realizar a revisão bibliográfica, que servirá à 
análise do objeto de pesquisa. 
Primeiramente, serão abordados os seguintes temas: a dinâmica das cidades e a relação das 
pessoas com o espaço urbano, tendo em vista o espaço público enquanto local de convívio 
e de troca, enquanto lugar de memória e enquanto local de manifestação artística e cultural. 
O conceito fundamental que norteará estas análises será o de Henri Lebfevre sobre a rua 
como local de convívio e de celebração. Este será complementado pelo conceito de Guy 
Debord, sobre a cidade enquanto local de apropriação contínua pelos seus habitantes, 
como antídoto à consolidação do espetáculo nas cidades. 
Neste sentido, será necessário compreender como as cidades se desenvolveram no tempo e 
como este processo contribuiu nas relações entre seus habitantes e seus espaços públicos. 
Partiremos da análise de Walter Benjamin sobre o flaneur de Baudelaire, para compreender 
a vivência dos espaços públicos das cidades Pós-Revolução Industrial, como Paris, no século 
XIX. Seguiremos com a compreensão do processo ocorrido a partir da segunda metade do 
século XX, através da abordagem de Jane Jacobs sobre a expansão das cidades, com a 
criação de centros comerciais fechados e o predomínio dos fluxos de veículos sobre os 
fluxos de pedestres, como provocadores dos esvaziamentos das regiões centrais das 
cidades e da erradicação do convívio das pessoas nos seus espaços públicos. Concluímos 
com a compreensão das teorias de Kevin Lynch sobre a qualidade da forma da cidade e das 
 
Introdução 36 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
novas práticas urbanísticas que voltam a priorizar o pedestre e o convívio no espaço público, 
como as do urbanista Jan Gehl. 
Contribuirá para esta análise a relação entre os conceitos desenvolvidos por Georges 
Simmel, sobre os efeitos das cidades no comportamento do indivíduo e a análise de 
Bauman sobre as relações humanas nas sociedades contemporâneas. 
Na abordagem da cidade enquanto lugar de memória, retomaremos os conceitos de 
Bauman sobre cultura, para compreender o processo de preservação dos bens culturais 
enquanto parte da identidade de um país, de uma comunidade ou de um grupo de 
pessoas. A partir daí, procuraremos compreender a história da preservação do patrimônio 
no Brasil e como a política de preservação evoluiu até o final do século XX. 
A preservação dos bens culturais será relacionada ao conceito de memórias coletivas, 
elaborado por Maurice Halbwachs, e às relações que estas estabelecem com o espaço 
físico. Tendo em vista a dinâmica da vida urbana contemporânea, que se deu pelo aumento 
da mobilidade e das conexões entre as pessoas, muito bem observada por Bauman, foi 
incorporado o conceito de Pierre Nora sobre os lugares de memória, no sentido de 
estabelecer relações entre a preservação das memórias de um grupo e a vivência dos 
lugares que cristalizam estas memórias. 
Por fim, abordaremos a cidade enquanto lugar de manifestações culturais e artísticas, tendo 
em vista a presença destas atividades na formação e evolução das cidades, sobretudo, nas 
colônias hispano-americanas. A abordagem iniciará através do percurso histórico dos 
movimentos extáticos 13 nas cidades, pesquisado por Bárbara Ehrenreich, e por Maria 
Concepción Saíz em seu texto sobre as colônias hispano-americanas e suas festividades, no 
sentido de verificar como as apropriações dos espaços públicos através de manifestações 
culturais fazem parte da percurso histórico das sociedades ocidentais. A partir desta análise, 
será possível compreender os usos culturais dos espaços públicos como bens culturais a 
serem mantidos. Richard Sennet complementará a abordagem através da sua reflexão sobre 
as relações de cooperação que se estabelecem entre as pessoas através dos rituais. 
 
13 momentos, festividades, nos quais as pessoas vivenciam o êxtase coletivo. 
 
Introdução 37 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
A etapa seguinte será o estudo da região da Lapa a partir da avaliação dos seus processos 
históricos, sociais, urbanísticos e culturais; através de estudos de bibliografia relativa ao 
tema, além da análise dos planos, projetos e leis elaborados e implantados na região, visitas 
a campo e entrevistas com representantes da prefeitura e com grupos culturais locais. 
Na bibliografia, estão contidos os artigos Lapa: abrigo e refúgio da cultura popular carioca, 
de Cristóvão Duarte, Territórios Culturais na Cidade do Rio de Janeiro, de Lilian Fessler Vaz 
e Paola Berenstein Jacques, e A Lapa boêmia na cidade do Rio de Janeiro: um processo de 
regeneração cultural? Projetos, intervenções e dinâmicas do lugar, também de Lilian Fessler 
Vaz e Carmen B. Silveira; o livro Antologia da Lapa, de Gasparino Damata; o texto A Lapa e 
os filhos da revolução boêmia, de Beatriz Kushnir; a tese de doutorado de Carmem Beatriz 
Silveira O entrelaçamento urbano-cultural: centralidade e memória dentre outros livros, 
artigos e textos selecionados. 
Dentre os planos, projetos e leis, estão: o plano Avenida Norte-Sul, de autoria de Afonso 
Eduardo Reidy, o Decreto Municipal nº322 de 1976; o Plano Urbanístico Básico do Rio de 
Janeiro (PUB-RIO), através do Decreto Municipal nº1269 de 1977; o Projeto Corredor 
Cultural, delimitado através do Decreto Municipal nº4141 de 1983, da Lei Nº1139 de 1987; o 
Projeto de Reestruturação da Lapa, do IPLAN RIO de 1990; e o Projeto Lapa Legal, de 2009, 
em implantação. 
Neste processo, se pretende desenvolver o método de abordagem aos tecidos urbanos a 
partir dos usos cultural e de lazer coletivo nos espaços públicos. Faz parte deste método 
identificar e mapear os grupos culturais e artísticos presentes no local, os tipos de 
apropriações e usos do espaço público, como eles ocorrem, verificando suas relações com 
as políticas urbanísticas implantadas. Para isso, será necessário desenvolver levantamentos 
qualitativos dos atores sociais e culturais, bem como dos usos do espaço público. Serão 
realizadas entrevistas com os representantes das instituições e grupos culturais, na intenção 
de identificar as relações destes com a Lapa. 
Será feita uma análise aprofundada do Projeto Lapa Legal, analisando sua elaboração e sua 
execução e verificando suas repercussões nos usos dos espaços públicos e das edificações, 
nosatores culturais e sociais da região e na preservação do patrimônio cultural da Lapa. A 
 
Introdução 38 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
área de estudo será restrita ao Núcleo Histórico Cultural da Lapa, área demarcada pelo 
Projeto Lapa Legal para foco das intervenções propostas. 
No período de elaboração desta pesquisa, foi iniciado um processo de manifestações e 
protestos nas ruas, tanto do Rio de Janeiro, como de diversas cidades do país. A população 
passou a se unir e a manifestar por governos mais sérios e democráticos, por cidades mais 
justas, com serviços públicos de qualidade e que beneficiem toda a população de maneira 
igualitária. 
Apesar das manifestações não serem o objeto central desta dissertação, este processo, que 
ocorreu nas ruas da cidade, impactou os usos e apropriações dos espaços públicos da Lapa. 
Portanto, o tema será abordado no sentido de colaborar para as conclusões desta pesquisa. 
A partir da avaliação dos conteúdos pesquisados, será possível verificar como este processo 
de transformação urbanística se relaciona com as manifestações culturais e artísticas e com 
as memórias presentes no tecido urbano. Assim, poderemos verificar se este processo 
poderá contribuir para a consolidação dos espaços públicos enquanto locais de convívio e 
de celebração. 
 
 39 
Parte 1 – Percursos teóricos 
1. A cidade como local do encontro 
 
Fig.05. Cinelândia, s.d. 
Quando pensamos na cidade como local de encontro, nos remetemos à noção da cidade 
enquanto centralidade, enquanto local de troca e de simultaneidade, preceitos defendidos 
por Henri Lefebvre. 
Lefebvre afirma que a cidade reúne as diferenças, as coloca em convívio, possibilitando 
tanto a celebração como o conflito entre elas14. 
“O urbano se define como lugar onde as pessoas tropeçam umas 
nas outras, encontram-se diante de objetos, entrelaçam-se até não 
mais reconhecerem os fios de suas atividades, enovelam suas 
situações de modo a engendram situações imprevistas”15. 
A imprevisão de situações remete diretamente ao pensamento situacionista sobre a cidade. 
Lefebvre influenciou a Internacional Situacionista, já que alguns integrantes foram seus 
alunos nas aulas sobre marxismo que ministrou. Foi a partir do pensamento marxista que 
eles defendiam o capitalismo como uma forma de “alienação da sociedade, resumindo 
 
14 Ver LEFEBVRE, Henri. A Revolução Urbana. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008; p.109. 
15 Ibidem; p.44. 
 
Parte 1 – Percursos Teóricos 40 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
todas as relações do cidadão com o ambiente social a relações passivas, automatizadas e 
governadas pelo valor”16. 
Este grupo, liderado por Guy Debord, percebia que a sociedade estava inserida numa 
realidade transformada em espetáculo pelo capitalismo, na intenção de provocar ‘falsos’ 
desejos que incentivavam o consumo. 
O pensamento de Lefebvre e os preceitos defendidos pela Internacional Situacionista 
também se conectam quando se analisa a passividade dos habitantes, como uma 
dificuldade à prática urbana, ou seja, ao pensamento da cidade e a uma ação sobre ela. 
Lefebvre defendia que a delegação desta função a representantes da população não 
garantia que estes lutariam pela construção de uma cidade que atendesse às necessidades 
daqueles que a habitam. 
Os situacionistas, que percebiam a realidade do consumo como alienante, viam na prática 
da deriva17 e de outras ações nos espaços da cidade uma forma de reconhecer os desejos 
“reais” dos indivíduos e um método para levar à transformação da cidade pelas próprias 
pessoas, transformando a própria sociedade. 
Neste sentido, é interessante compreender como as cidades se estabeleceram como local 
de encontro e de atuação das pessoas nos seus espaços públicos ao longo do tempo, 
compreendendo como chegamos à prática urbana atual. 
1.1. O indivíduo na cidade e na multidão 
Ao pensar na valorização do espaço público como local de encontro e de permanência das 
pessoas, temos as cidades pós-Revolução Industrial como um marco na mudança da 
vivência destes espaços e das relações entre as pessoas no ambiente urbano. 
 
16 VILAS BOAS, Violeta. Da Praça Mauá à Praça da Harmonia: Um Percurso Vivo. Trabalho Final de 
Graduação (Arquitetura e Urbanismo) Escola de Arquitetura e Urbanismo – Universidade Federal 
Fluminense - UFF. Niterói, 2008; p.7. 
17 A deriva consistia na passagem rápida por ambiências variadas, cujo percurso deveria ser induzido 
pelas situações que se apresentavam no local. Ver JACQUES, Paola Berenstein. [org]. Apologia da 
Deriva: escritos situacionistas sobre a cidade. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003; p.87-91. 
 
Parte 1 – Percursos Teóricos 41 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
Estas cidades, que cresceram rapidamente com a Revolução Industrial, foram transformadas, 
através do alargamento das vias e das calçadas, da melhoria da iluminação dos espaços 
públicos e da criação de galerias cobertas e de grandes praças ajardinadas. 
Tais mudanças favoreceram a permanência e a convivência das pessoas no espaço público e 
contribuíram para consolidar uma noção até então recente: a de multidão. 
Walter Benjamin, ao falar da Paris do Segundo Império, aborda este novo aspecto através 
da perspectiva do flaneur de Baudelaire, contextualizando-o nos aspectos político-
econômicos, sociais e urbanos da Paris daquele período. 
É possível perceber que a transformação urbana de Haussmann modificou a vivência do 
parisiense na cidade, uma vez que esta fez com que o espaço de socialização saísse cada 
vez mais do espaço privado e se afirmasse no espaço público. A cidade serve não só de 
cenário para a atividade do flaneur, como também atua, influenciando na forma com que o 
personagem vivencia os espaços públicos. Ao caminhar pelas ruas e galerias, ele se 
misturava à multidão e nela se escondia para observar as pessoas. 
A postura do flaneur de Baudelaire, para além de significar sua apreciação em relação à 
vivência da rua e à observação das pessoas, significava também sua intenção de repudiar 
aquela sociedade de consumo que se consolidava. Benjamin percebia que Baudelaire via no 
consumo de mercadorias industrializadas, a padronização das pessoas, tanto nas aparências 
como nos seus hábitos e comportamentos. O flaneur era um personagem que não se 
identificava com esta padronização e repudiava o estímulo ao consumo e a sensação de se 
sentir igual aos outros. Ele valorizava sua individualidade através da flanerie, ainda que esta 
ação não provocasse mudanças na sociedade. 
Leandro Konder, interpretando a perspectiva de Benjamin sobre Baudelaire, coloca que 
essa multidão estava tão implícita no modo de sentir do poeta que não chegava a ser 
descrita, em seus versos, como realidade exterior, afirmando: 
“A massa dos habitantes da cidade se compunha de indivíduos 
ávidos para se afirmarem, numa competição feroz de todos contra 
todos; essas pessoas eram guiadas por critérios individualistas, mas, 
ao mesmo tempo, se sentiam apavoradas com a possibilidade de 
 
Parte 1 – Percursos Teóricos 42 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
estarem se tornando cada vez mais parecidas umas com as outras, 
isto é, com a possibilidade de estarem se despersonalizando”18. 
Estar no espaço público, portanto, não era apenas um prazer, mas também uma busca da 
individualidade em meio à multidão. 
1.2. A multidão e a superficialidade das relações 
Georges Simmel, na virada do século XX, já tratava do efeito que as multidões produziam 
nas sensações dos indivíduos e nas relações entre eles. 
O autor percebia a necessidade de afirmação da individualidade no habitante da grande 
cidade, ao mesmo tempo que ressaltava o sentimento de solidão que as multidões 
provocavam. 
Através da análise das formas de relações, ele apresenta as aproximaçõese os 
distanciamentos existentes na sociedade das grandes cidades, evidenciando como a vida 
nestes locais provocam os comportamentos, as sensações e as reações no indivíduo imerso 
naquele ambiente. Sobre o tema, Peres coloca: 
“...a proximidade física, em si, não equivale necessariamente à 
proximidade social – o mesmo valendo para o inverso. O que 
significa que a distância física não poderia ser considerada a priori 
como um indicador satisfatório das relações sociais em uma 
sociedade – sobretudo, moderna e urbana – em que os contatos e as 
interações, ao mesmo tempo, multiplicam-se e independem 
exclusivamente da proximidade física. A noção de distância 
encontra-se na tensão entre duas ordens de realidade – uma 
simbólica e outra espacial – configurando-se em uma imbricada 
relação entre um fenômeno de distância (ou aproximação) social e 
uma separação física”19. 
Simmel afirma que a intensificação da vida nervosa faz com que haja uma mudança rápida e 
ininterrupta das impressões interiores e exteriores que o indivíduo tem na cidade grande, ao 
 
18 KONDER, Leandro. Walter Benjamin: o marxismo da melancolia. Rio de Janeiro: Civilização 
Brasileira, 1999; p.98. 
19 PERES, Fabio de Faria. A ‘sensibilidade’ de Simmel: notas e contribuições ao estudo das emoções. 
In: Revista Brasileira de Sociologia da Emoção, 10 (28): abril de 2011, p.16. Arquivo digital disponível 
em: http://www.cchla.ufpb.br/rbse/Index.html, acessado em 09/05/2011. 
 
Parte 1 – Percursos Teóricos 43 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
contrário do habitante da cidade pequena, na qual estas mudanças ocorrem de maneira 
mais lenta, possibilitando reações regidas pelo ânimo e relações pautadas pelo sentimento. 
O habitante da cidade grande, para conseguir conciliar as modificações individuais com a 
intensidade do meio exterior, passa a agir com a consciência e não com o ânimo, evitando o 
seu desenraizamento frente às correntes da vida moderna. 
Assim, Simmel conceitua o caráter blasé das pessoas, como o resultado da exaustão do 
sistema nervoso em responder aos ininterruptos estímulos presentes na cidade. 
É possível perceber a contemporaneidade do pensamento de Simmel através da relação 
que sua perspectiva estabelece com os trabalhos de Zigmunt Bauman, como observou Alan 
Mocellin, em seu artigo sobre a modernidade dos dois autores. 
Bauman divide a modernidade em dois momentos: modernidade sólida e modernidade 
liquida. A modernidade sólida se caracteriza principalmente pelo projeto moderno, baseado 
no ordenamento racional e técnico, pelo qual se pretendia tornar o mundo um lugar ideal. 
Através do Estado e da ciência, este projeto foi posto em prática, resultando em um período 
de controle e dominação. 
Os avanços na industrialização, nos meios de transporte e na comunicação tornaram o 
mundo mais globalizado e levaram ao que Bauman chama de modernidade liquida. O 
controle racional do mundo passou então ao descontrole. 
“No mundo sólido dos Estados-Nações toda diferença era vista com 
desconfiança, ao passo que no mundo líquido a diferença se torna 
exigência: todos devem ser indivíduos particulares. No mundo sólido 
as formas de vida comunitárias ainda podiam existir – mesmo que 
reduzidas e isoladas – graças a certa exigência de unidade de 
conduta e modos de vida, que era núcleo da ideia de povo e de 
nação; já no mundo líquido a comunidade é tornada mito. Com a 
individualização radicalizada, todas as formas de sociabilidade que 
sugerem dependência mútua passam a ser vistas com 
desconfiança”20. 
 
20 MOCELLIN, Alan. Simmel e Bauman: modernidade e individualização. In: Em Tese - Revista 
Eletrônica dos Pós- Graduandos em Sociologia Política da UFSC, Vol. 4 n. 1 (1), agosto- dezembro, 
2007; p.6. Arquivo digital, acessado em 09/05/2011. 
 
Parte 1 – Percursos Teóricos 44 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
Neste processo, ocorrido ao longo do século XX, as cidades se expandiram e foram 
zoneadas conforme usos e funções, o automóvel foi priorizado como um dos principais 
meios de locomoção e o comércio e os locais de entretenimento foram concentrados em 
centros comerciais. Estas mudanças contribuíram para a extrema individualidade que 
configura a modernidade liquida, definida por Bauman, e para a diminuição da convivência 
das pessoas nos espaços públicos. Como consequência, os espaços públicos foram 
esvaziados, tornando-se locais abandonados e inseguros, ao mesmo tempo em que as 
pessoas se isolaram cada vez mais em espaços privados e controlados. 
1.3. As cidades para as pessoas 
Depois de mais de meio século de priorização dos fluxos de automóveis e da divisão 
funcional das cidades, a perspectiva do urbanismo deixa de ser macro e distanciada e volta 
a ser micro e a valorizar as pessoas. Diversos autores defendem que a solução dos 
problemas ocasionados neste período se dá pela valorização da permanência das pessoas 
nos espaços públicos da cidade. 
Jane Jacobs defende que as cidades, para serem seguras, saudáveis e agradáveis, devem 
conter uma diversidade urbana que permita o uso múltiplo e contínuo dos seus espaços 
públicos. Para tal, ela considera que os bairros ou distritos devam incorporar usos e funções 
múltiplas, devam ter uma densidade alta de pessoas, e que sejam constituídos por quadras 
curtas, edifícios diversificados, parques e praças de bairro. 
 
Fig.06. Pessoas na Praça Marechal Floriano. Rio de Janeiro, anos 1940. 
 
Parte 1 – Percursos Teóricos 45 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
Estes elementos formam o conceito de cidade compacta, também defendido por Richard 
Rogers. Um ambiente urbano que contenha diferentes usos, tais como, residencial, 
comercial, empresarial, dentre outros, faz com que as pessoas se desloquem o mínimo 
necessário para realizarem suas atividades diárias e garante o movimento contínuo nos 
espaços públicos. Pela proximidade destas diferentes atividades, as pessoas podem utilizar 
meios mais sustentáveis, saudáveis e econômicos, tais como caminhar, andar de bicicleta, 
além da utilização de transportes públicos. 
Richard Rogers defende que todos devem ter o direito a espaços livres de fácil acesso, 
afirmando que bairros agradáveis e bem planejados inspiram as pessoas. Citando Jane 
Jacobs, ele conclui que “nós moldamos a cidade e a cidade nos molda”21. 
Jan Gehl defende que uma cidade viva é fortalecida quando as pessoas são convidadas a 
caminhar, andar de bicicleta e a permanecerem no espaço urbano. Tanto as pessoas, como 
a própria cidade, se tornam mais saudáveis e mais alegres. 
Ao definir uma teoria acerca da boa forma das cidades, Kevin Lynch ressalta que as cidades 
devem promover o uso do corpo, como estratégia para se alcançar a vitalidade, tanto dos 
seus habitantes, quanto da própria cidade22. 
O autor também defende a ideia da adaptabilidade dos ambientes urbanos, através da 
participação e da interação das pessoas no processo de formação destes locais, 
estimulando o uso e a apropriação destes ambientes para que possam atender às suas 
necessidades23. 
Percebemos, portanto, que esta nova flanerie, enquanto ato de apropriação e de uso dos 
espaços públicos, volta a ser valorizada como questão vital da cidade e como condição de 
qualidade de vida dos seus habitantes. 
Neste sentido, consideramos importante relacionar este processo à evolução urbana do Rio 
de Janeiro e em especial, da Lapa. 
 
21 Ver GEHL, Jan. Cities for People. Washington: Island Press, 2010; p. X. 
22 Ver LYNCH, Kevin. A Boa Forma da Cidade. Lisboa: Edições 70, 1999; p.124. 
23 Ibidem; p.155. 
 
Parte 1 – Percursos Teóricos 46 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
1.4. A flanerie carioca 
Enquanto a flanerie aconteceu na Paris da segunda metade do século XIX, o Rio de Janeiro 
da primeira metade doséculo XX, foi transformado pelas reformas idealizadas pelo prefeito 
Pereira Passos, para se assemelhar à capital francesa. 
Com isso, os cariocas passaram a desfrutar cada vez mais dos remodelados espaços 
públicos da cidade, como fez o flaneur de Baudelaire em Paris. 
João do Rio, o grande flaneur carioca, eternizou seu amor pelas ruas em livro. A Alma 
Encantadora das Ruas descreve tanto sobre a atividade de flanar pelas ruas, como traz 
acontecimentos, histórias, personagens das ruas do Rio de Janeiro, caracterizando-as, 
exibindo suas feições e seus encantamentos. 
“Flanar é a distinção de perambular com inteligência. Nada como o 
inútil para ser artístico”. 
(O flaneur) “...conhecendo cada rua, cada beco, cada viela, sabendo-
lhe um pedaço da história, como se sabe a história dos amigos 
(quase sempre mal), acaba com a vaga ideia de que todo o 
espetáculo da cidade foi feito especialmente para seu gozo próprio”. 
“Por que nascem elas (as ruas)? Da necessidade de alargamento das 
grandes colmeias sociais, de interesses comerciais, dizem. Mas 
ninguém o sabe. Um belo dia, alinha-se um tarrascal, corta-se um 
trecho de chácara, aterra-se lameiro, e ai ́ esta ́: nasceu mais uma rua. 
Nasceu para evoluir, para ensaiar primeiros passos, para balbuciar, 
crescer, criar uma individualidade”24. 
As ruas cariocas se tornam local de encontro, de vida social, e neste sentido, a Lapa é o local 
onde se misturavam os políticos aos pobres, os artistas às mulheres da vida, os estudantes 
aos malandros. Era o local da música e das brigas, das missas da meia-noite e das 
bebedeiras até o amanhecer. 
 
 
24 JOÃO DO RIO. A Alma Encantadora das Ruas. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1908; 
p.3. Arquivo digital disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000039.pdf, 
, acessado em 23/10/2012. 
 
Parte 1 – Percursos Teóricos 47 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
 
Fig.07. Rua dos Arcos. Rio de Janeiro, dezembro, 1924. 
Durante o dia, como explicitou Almeida Fischer, a Lapa era “um bairro como os outros, 
cheio de movimento e de vida normal, recebendo, em sua Estação de Bondes, multidões 
que se deslocam para os locais de trabalho, ou que regressam aos lares no fim da tarde”25. 
A Lapa de noite era o que diferenciava este local dos outros ambientes do Rio, era o que a 
tornava única. A noite revelava sua alma e o amanhecer iluminava seu lado triste, sujo e de 
ressaca. 
No final do anos 1940, a Lapa foi perdendo sua vivacidade: a proibição dos jogos de azar, 
durante o mandato do Presidente Dutra, fechou cassinos que movimentavam a região e 
contribuiu para calar vozes e música; os bairros da Zona Sul atraíram as pessoas da noite e 
Brasília levou muitos políticos do Rio de Janeiro26. 
O processo de expansão da cidade e de valorização do automóvel como principal meio de 
locomoção das pessoas provocou rasgos e vazios no tecido urbano da Lapa. Nos anos 1970, 
durante a ditadura militar, muitos sobrados foram desapropriados e demolidos pelos planos 
de grandes vias, os carros ganharam espaço nas ruas e nos terrenos esvaziados, fazendo 
com que o local, que antes fora de passagem e de permanência de pessoas, passasse a ser 
um local de passagem e de permanência de automóveis. A Lapa ficou abandonada, 
envelhecida e calada. 
 
25 FISCHER, Almeida. A Lapa. In: DAMATA, Gasparino. Antologia da Lapa. Rio de Janeiro: Desiderata, 
2007; p.67. 
26 Este percurso histórico será descrito com mais detalhes na Parte 2. 
 
Parte 1 – Percursos Teóricos 48 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
Nos anos 1980, com a reabertura política, artistas e grupos culturais voltaram a se expressar 
e a Lapa foi um dos locais escolhidos para sediar e promover diversos artistas e 
representantes de culturas tradicionais brasileiras. 
Paulatinamente, casas e ruas voltaram a ser ocupadas. A Lapa recuperou sua ambiência, 
voltando a promover o encontro de pessoas de diversos lugares da cidade, do Brasil e do 
mundo. A Lapa voltou a promover a convivência dos diferentes. 
Cerca de três décadas depois das primeiras atividades artísticas se instalarem na região, a 
prefeitura concebe o Projeto Lapa Legal, na intenção de estabelecer ações que parecem 
contribuir para que a região se volte para o uso das pessoas, como promove o urbanista Jan 
Gehl. 
No entanto, ao mesmo tempo que fechou ruas para permitir o trânsito de pedestres nos 
finais de semana, a prefeitura construiu praças sem bancos, inviabilizando a permanência 
das pessoas nestes espaços. As calçadas puderam ser ocupadas com mesas de 
estabelecimentos comerciais, fazendo com que os locais de permanência das pessoas sejam 
limitados pelo consumo. 
Sendo assim, a pergunta que vêm à tona é: A Lapa que a prefeitura pretende construir com 
o Projeto Lapa Legal é para as pessoas ou para os negócios? 
 
 
Parte 1 – Percursos Teóricos 49 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
2. A cidade como lugar de memória 
“Las cosas se duplican en Tlön; propenden asimismo a borrarse y a 
perder los detalles cuando los olvida la gente. Es clásico el ejemplo 
de un umbral que perduró mientras lo visitaba un mendigo y que se 
perdió de vista a su muerte. A veces unos pájaros, un caballo, han 
salvado las ruinas de un anfiteatro”27. 
No conto de Jorge Luis Borges, ele descreve a descoberta de um mundo criado por uma 
espécie de sociedade secreta ao longo de muitas gerações. Tlön possuía mitologias, 
línguas, geografia, fauna e flora próprias. Neste cosmos, são os processos simbólicos que 
concebem e constituem o universo, ou seja, cada indivíduo pode conceber sua própria 
concepção do tempo, chegando inclusive a negá-lo ou a concebê-lo como se já tivesse 
transcorrido todo o tempo e que o que eles vivessem fosse apenas uma memória dos 
tempos passados. 
Todas as coisas permaneceriam na realidade de Tlön apenas pela continuidade da memória 
daquelas coisas nas pessoas ou nos seres daquele cosmos. Quando estas coisas eram 
esquecidas, desapareciam da realidade e eram substituídas por outras. Quando os pássaros 
pousam no anfiteatro e chamam a atenção das pessoas para aquele lugar, eles permitem 
que estas pessoas se conectem com as memórias que possuem sobre aquele anfiteatro e 
construam novas memórias a partir daquele momento. 
Será que não poderíamos trazer de Tlön esta mesma concepção para o nosso mundo? 
Afinal, não seria a presença das pessoas e das suas lembranças num e sobre um 
determinado lugar a questão fundamental para sua manutenção e sua sobrevivência ao 
longo do tempo? 
Compreender a importância de se conter lugares de memória na cidade, como forma de 
fortalecer a relação entre as pessoas e o local onde vivem, se torna, portanto, fundamental, 
já que estes contribuem para o sentimento de pertencimento das pessoas à cultura de um 
grupo. 
 
27 BORGES, Jorge Luis. Ficciones. Buenos Aires: Debolsillo, 2012; p.31. 
 
Parte 1 – Percursos Teóricos 50 
O Espaço da Celebração na Nova Ordem das Ruas
Para tal, abordaremos a trajetória da preservação dos bens culturais e das memórias 
coletivas, observando a evolução deste processo e suas relações com a dinâmica da vida 
urbana atual. 
Com isso, se pretende compreender a trajetória urbanística do bairro da Lapa, no Rio de 
Janeiro, seu processo de ruptura e de preservação do tecido histórico, relacionando-o às 
memórias coletivas que constituem o imaginário e a identidade local da Lapa, bem como às 
vivências e manifestações das pessoas nos seus espaços públicos. 
2.1. Da cultura oficial à diversidade cultural: o percurso dos bens culturais e das memórias 
Um dos marcos significativos na história das políticas de preservação é a Revolução 
Francesa, com a queda do monarquismo e a formação do Estado Nacional francês. Como 
descreve Choay, a revolução

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