Prévia do material em texto
À Guisa das atividades Aquáticos para crianças com Paralisia cerebral Jonathan Paulo Viero Nadia Popilnicki Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI Curso de Educação Física Bacharel Turma EFL0610 Trabalho de Graduação 20/07/2020 Resumo O presente estudo trás uma analise sobre a importância das atividades no meio liquido e as possibilidades de melhora na qualidade de vida das crianças com necessidades especiais. Neste sentido, foi desenvolvido uma revisão literária juntamente com a experiência profissional vivida pelo autor, onde desenvolveu um trabalho com esse grupo por um período de 36 meses, trabalhando com crianças de 01 a 04 anos de idade, portadores de paralisia Cerebral de leve, moderada e severa, crianças essas que faziam e fazem parte do programa de estimulação essencial desenvolvido na instituição APAE de Balneário Camboriu Santa Catarina. 1 Introdução As atividades aquáticas representam possibilidades interessantes no que tange à prática de atividades físicas como coadjuvantes no processo de bem-estar do indivíduo com um todo. São inúmeros os benefícios das atividades aquáticas, em diferentes faixas-etárias e respeitando melhoria em diversos níveis: leve, moderado e severo. A paralisia cerebral foi descrita pela primeira vez em 1843 por William John Little, um ortopedista inglês, que estudou 47 crianças com quadro clínico de espasticidade, as quais apresentavam histórico adverso ao nascimento, tais como: (1) apresentação pélvica, (2) prematuridade, (3) dificuldade no trabalho de parto, (4) demora em chorar e respirar ao nascer, e (5) convulsões e coma nas primeiras horas de vida (PIOVESANA et al., 2002; MORRIS, 2007). Esta terminologia foi proposta por Sigmund Freud, em 1893, o qual identificou três principais fatores causais: (1) materno e congênito (pré-natal), (2) perinatal e (3) pós-natal (MORRIS, 2007 Desde então, diversas áreas de atenção à saúde das pessoas com paralisia cerebral têm buscado estudar e propor terapêuticas de modo a prevenir ou minimizar as sequelas consequentes destas lesões cerebrais e assim potencializar as capacidades. Atualmente, os avanços de neonatologia permitem reduzir significativamente as taxas de mortalidade de bebês, além de favorecem a sobrevivência de bebês de alto risco (extremo baixo peso ao nascer, prematuro extremo, anoxia neonatal etc.), os quais podem apresentar morbidades, com maior risco para déficit de desenvolvimento e outras consequências (CANS et al., 2007; GAMA, FERRACIOLI, CORRÊA, 2004). A paralisia cerebral afeta cerca de duas crianças a cada 1.000 nascidos vivos em todo o mundo, sendo a causa mais comum de deficiência física grave na infância (O’SHEA, 2008; CANS et al., 2007). A recente mudança observada na área da Saúde deixa de centrar- -se na doença para focar-se na identificação do impacto funcional individualizado, consequente de condições como a paralisia cerebral (MANCINI, 2011). Esta mudança resultou no desenvolvimento de novos modelos de classificação, instrumentos de avaliação funcionais e intervenções que incorporem a unidade pessoa-ambiente, ampliando, assim, o dimensionamento da atenção à saúde da pessoa com paralisia cerebral (ROSENBAUM et al., 2007; MANCINI et al., 2012). A paralisia cerebral descreve um grupo de desordens permanentes do desenvolvimento do movimento e postura atribuído a um distúrbio não progressivo que ocorre durante o desenvolvimento do cérebro fetal ou infantil, podendo contribuir para limitações no perfil de funcionalidade da pessoa. A desordem motora na paralisia cerebral pode ser acompanhada por distúrbios sensoriais, perceptivos, cognitivos, de comunicação e comportamental, por epilepsia e por problemas musculoesqueléticos secundários (ROSENBAUM et al., 2007) Esta condição engloba um grupo heterogêneo quanto à etiologia, aos sinais clínicos e à severidade de comprometimentos. No que tange à etiologia, incluem-se os fatores prénatais (infecções congênitas, falta Ministério da Saúde 10 de oxigenação etc.); fatores perinatais (anoxia neonatal, eclâmpsia etc.); e fatores pós-natais (infecções, traumas etc.) (PIOVESANA et al., 2002). Os sinais clínicos da paralisia cerebral envolvem as alterações de tônus e presença de movimentos atípicos e a distribuição topográfica do comprometimento (CANS et al., 2007). A severidade de comprometimentos da paralisia cerebral está associada às limitações das atividades e à presença de comorbidades (BAX et al., 2005). As pessoas com paralisia cerebral podem ser classificadas, de acordo com a característica clínica mais dominante, em espástico, discinético e atáxico (CANS et al., 2007). A paralisia cerebral espástica caracteriza-se pela presença de tônus elevado (aumento dos reflexos miotáticos, clônus, reflexo cutâneo plantar em extensão – sinal de Babinski) e é ocasionada por uma lesão no sistema piramidal (SCHOLTES et al., 2006). A espasticidade é predominante em crianças cuja paralisia cerebral é consequente do nascimento pré-termo, enquanto que as formas discinéticas e a atáxica são frequentes nas crianças nascidas a termo (HIMPENS et al., 2008). A paralisia cerebral discinética caracteriza-se por movimentos atípicos mais evidentes quando o paciente inicia um movimento voluntário produzindo movimentos e posturas atípicos; engloba a distonia (tônus muscular muito variável desencadeado pelo movimento) e a coreoatetose (tônus instável, com a presença de movimentos involuntários e movimentação associada); é ocasionada por uma le- Ministério da Saúde 12 são do sistema extrapiramidal, principalmente nos núcleos da base (corpo estriado – striatum e globo pálido, substância negra e núcleo subtalâmico) (ROSENBAUM et al., 2007). A paralisia cerebral atáxica caracteriza-se por um distúrbio da coordenação dos movimentos em razão da dissinergia, apresentando, usualmente, uma marcha com aumento da base de sustentação e tremor intencional; é ocasionada por uma disfunção no cerebelo (ROSENBAUM et al., 2007). O Sistema de Classificação da Função Motora Grossa (GMFCS) é um sistema de classificação de 5 níveis, que descrevem a função motora grossa de pessoas com Paralisia Cerebral com ênfase no sentar, andar e mobilidade. A versão original foi desenvolvida em 1997 e a versão revisada e expandida, em 2007 (GMFCS – E&R). Segundo o grupo CanChild – Canadá, o GMFCS é importante pois fornece aos profissionais e família uma descrição clara da função motora da criança e também uma idéia do tipo de equipamentos e dispositivos de mobilidade que essa criança possa precisar no futuro, além de ser muito útil para elaborar objetivos. Por exemplo, a probabilidade de uma criança nível V andar é bem baixa e muito diferente da probabilidade de crianças nos níveis I, II e III. Com isso, o sistema ajuda no planejamento das intervenções, já que para http://canchild.ca/ http://canchild.ca/ http://canchild.ca/ http://canchild.ca/ http://canchild.ca/ crianças nos níveis IV e V, a ênfase deve ser dada em promover saúde, prevenir incapacidades secundárias e, uso de tecnologia e equipamentos adaptados para promover maior participação. Já com crianças nos níveis I, II e III, o foco pode ser maior em alcançar e aperfeiçoar habilidades motoras grossas. Abaixo temos os descritores e ilustrações para cada nível: No que concerne ao aspecto fisiológico, a possibilidade de realizar movimentos sem causar impacto às articulações e tendões, estimulação de toda a musculatura e manutenção do tônus muscular, efeitos benéficos sobre o sistema respiratório e cardiovascular, recuperação de enfermidades, entre outros. Em relação ao aspecto psicológico a tendência à elevação da auto-estima, alívio dos níveis de stress, maior disposição para enfrentar as atividades cotidianas, entre outros. No que tange ao aspecto social, é perceptível como há novaspossibilidades de favorecimento das relações interpessoais e conseqüente aumento dos laços de amizade, interesse em compartilhar experiências e ideais, entre outros. São oferecidas atividades Aquáticas para Bebês, com inúmeras vantagens que as mesmas podem proporcionar nesta etapa: melhora o desenvolvimento neuromotor, fortifica a musculatura, estimula um sono mais tranqüilo, reforça o apetite, ativa e dá mais mobilidade às articulações, proporciona socialização, entre outros. Vale lembrar que a modalidade tem menor duração para esse público (aproximadamente 30 minutos), uma vez que o sistema termorregulador do bebê ainda não se encontra plenamente desenvolvido. A natação e as terapias aquáticas além dos benefícios proporcionados enquanto atividades físicas, tornam-se um dos meios mais eficazes para prevenção e correção de problemas posturais, principalmente os desvios da coluna vertebral. O trabalho simétrico proporcionado pela movimentação alternada de membros e sua tração sobre a musculatura paravertebral têm extraordinária eficácia na redução desses desvios, especialmente no que tange à estrutura dos pés, região lombo-pélvica e região dorsal superior e cervical. O objetivo principal de qualquer intervenção terapêutica é melhorar a funcionalidade da criança e favorecer seu desenvolvimento global para que tenha qualidade de vida (SANTOS, 2012). A utilização terapêutica da água consiste na arte de combinar as muitas variáveis para produzir um resultado significativo, possibilitando aos indivíduos o prazer da vivência aquática. Pacientes se tornam mais descontraídos do que com outras terapias físicas. Alguns casos graves de paralisia cerebral encontram neste método a única maneira para executarem exercícios musculares. Os efeitos terapêuticos que a água oferece para proporcionar ao paciente melhores condições para a realização dos movimentos que até então poderiam ser impossíveis de se realizar em solo. A imersão do corpo na água aquecida oferece grandes benefícios, entre eles, o relaxamento e analgesia, e o empuxo alivia o estresse sobre as articulações reduzindo as forças gravitacionais relacionadas ao movimento, fazendo com que uma atividade de sustentação de peso, por exemplo, que pode ser contraindicada no solo, possa ser realizado com segurança na piscina. Outros benefícios terapêuticos que podemos destacar São: Densidade relativa – é o que determina a capacidade de flutuação de um objeto ou corpo. A densidade da água é 1 e tudo que é menor que 1, flutua. O corpo humano possui densidade relativa de aproximadamente 0,93 e por isso ele tem a capacidade de flutuar. Essa propriedade pode ser utilizada para dar suporte a articulações enfraquecidas e proporcionar assistência e resistência durante o movimento na água. Além disso, a flutuação oferece a possibilidade de reproduzir movimentos e posturas difíceis de serem realizadas em solo. Força de empuxo – é uma força de sentido contrário ao da gravidade (de baixo para cima) com intensidade igual ao peso do volume de água deslocado. Esse efeito é utilizado como resistência ao movimento dentro da água, fortalecendo a musculatura sem aumentar o impacto articular. Além disso o empuxo estimula a circulação periférica e fortalece a musculatura respiratória. Pressão hidrostática – É a pressão exercida pelo líquido no objeto nela imerso. Quanto mais profunda a imersão, maior é a pressão hidrostática, ou seja, quando um paciente está de pé em uma piscina, seus pés receberão uma maior pressão do que a região do tórax, por exemplo. A pressão hidrostática oferece analgesia (Teoria das Comportas), reduz edemas e aumenta o débito cardíaco. Viscosidade – é a força de atrito entre as moléculas da água, causando resistência ao fluxo. Movimentos rápidos dentro da água aumentam esse atrito gerando o que conhecemos como turbulência, que pode interferir no deslocamento do corpo do paciente na água. A turbulência pode ser utilizada tanto como resistência para treinos de fortalecimento como auxílio para a realização de algum movimento. podemos destacar como processos fundamentais do nosso atendimento: • Auxiliar os educandos no reconhecimento do espaço e adaptação no meio líquido; • Estimular a respiração através de atividades e brincadeiras, atingindo a etapa culminante da construção corporal; • Oferecer atividades recreativas com intuito de o aluno sentir-se bem e se divertir; • Observar a necessidade de expressão e vivência corporal da criança, contribuindo na percepção do próprio corpo em nível motor e cognitivo. • Realizar atividades que possibilitem ao aluno adquirir autonomia e segurança no meio líquido, transferindo também para o seu dia a dia; • Proporcionar através das atividades recreativas benefícios que auxiliam no crescimento, domínio do corpo, autoconfiança, controle de doenças respiratórias e possibilidades de formação, como sua personalidade e inteligência; • Utilizar o ambiente e a ludicidade como facilitadores no desenvolvimento da coordenação motora ampla e fina, equilíbrio, lateralidade, orientação espacial, tônus da postura; • Desenvolvera cooperação e socialização entre os colegas contribuindo no seu cotidiano; • Estimular a expressividade motora e cognitiva, possibilitando momentos afetivos dentro do grande grupo. 2 ASPECTOS METODOLOGICOS As aulas foram ministradas por professores de Educação Física e ocorriam na piscina da própria instituição, a piscina era térmica mantendo uma temperatura da água entre 32 e 34 graus Celsius. Devido a quantidade de alunos atendidos pelo programa da estimulação essencial, as aulas ocorriam duas vezes por semana com duração de 30 minutos para cada turma ou aluno, sendo este atendimento individual ou em pequenos grupos, sempre de acordo com as necessidades e possibilidades de cada criança. O atendimento tem como objetivo, oportunizar atividades no meio aquático possibilitando aos alunos, vivências lúdicas que desenvolvem aspectos psicomotores e habilidades físicas fundamentais para o seu desenvolvimento global e melhora do bem estar físico e mental. Considerações Finais Nosso trabalho teve sempre como objetivo a promoção da saúde, o bem estar físico, e a melhora no desenvolvimento motor, utilizando técnicas de alongamento, massagem e relaxamento através de uma diversificada vivência no meio aquático, sempre utilizando maneiras lúdicas para que a aula fosse prazerosa para a criança, facilitando assim um melhor rendimento na proposta do atendimento, que era promover o relaxamento muscular para que fosse possível trabalhar em cima do aumento e do ganho na amplitude musculoarticular das crianças com paralisia cerebral, utilizando técnicas de massagem para o relaxamento corporal, o que refletia na melhora da sua qualidade de vida. REFERÊNCIAS CANS, C. et al. Recommendations from the SCPE collaborative group for defining and classifying cerebral palsy. Developmental Medicine and Child Neurology, [S.l.], v. 49, p. 35-38, Feb. 2007. Supplement 109. GOLDBERG & ELLIOT. O poder de cura dos exercícios físicos. Ed., São Paulo, 2001. NAHAS, M. V. Atividade física, Saúde e Qualidade de Vida. Londrina: Midiograf, 2001. NIEMANN, D. C. Exercício e Saúde: como se prevenir de doenças usando o exercício como seu medicamento. Ed. Manole: São Paulo, 1999. HIMPENS, E. et al. Predictability of cerebral palsy in a high-risk NICU population. Early Human Development, [S.l.], v. 86, p. 413-417, 2010. LAMÔNICA, D. A. C. Estimulação de linguagem de crianças com paralisia cerebral. In: ______ (Org.). Estimulação de linguagem. aspectos teóricos e práticos. São José dos Campos: Pulso, 2008. cap. 9. p. 163-177. LEITE, J. M. R. S.; PRADO, G. F. Paralisia cerebral: aspectos fisioterapêuticos e clínicos. Revista Neurociências, São Paulo, v. 12, n.1, p. 41-45, 2004. ROSENBAUM, P. L. et al. Prognosis for Gross motor function in cerebral palsy: creation of motor development curves. The Journal of the American Medical Association, [S.l.], v. 288, p. 13571363, 2002. RUSSELL, D. J. et al. Gross Motor Function Measure (GMFM-66 & GMFM-88) User´s Manual. London, UK: Mac Keith Press, 2002