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DIREITO PREVIDENCIÁRIO Profª. Djamere Braga AULA 1 - SEGURIDADE SOCIAL. CONCEITUAÇÃO. EVOLUÇÃO HISTÓRICA. Saúde, previdência e assistência social. Distinções 1. Noções gerais De acordo com a Constituição Federal de 1988 (CF/1988), são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, bem como a assistência aos desamparados (art. 6º da CF/1988). A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais (art. 193 da CF/1988). Dentro do Título VIII, que cuida da ordem social, a CF/1988 tem o Capítulo II, que trata especificamente da Seguridade Social (arts. 194 e 195, da CF/1988). A Seguridade Social, como direito social, é um dos instrumentos jurídicos para concretização do objetivo de alcançar o bem-estar e a justiça sociais, tendo por fundamentos a dignidade da pessoa humana, a solidariedade, a cidadania e os valores sociais do trabalho (art. 1º, incisos II, III e IV, da CF/1988), e se desenvolve em função dos objetivos de construção de uma sociedade livre, justa e solidária e de erradicação da pobreza e redução das desigualdades sociais (art. 3º, incisos I e III, da CF/1988). A Seguridade Social, assim como os direitos inerentes a cada um dos ramos que a compõem, possui natureza jurídica de direito humano fundamental de segunda geração ou dimensão. Fala-se em direito fundamental porque é um direito humano que está positivado (escrito) e assegurado no texto da CF/1988. Os direitos fundamentais de segunda geração ou dimensão são os direitos de caráter social, econômico e cultural, caracterizando-se como prestações positivas proporcionadas pelo Estado (fazer, fornecer), direta ou indiretamente, em favor do cidadão, como forma de possibilitar melhores condições de vida e realização de igualdade material (igualização de situações sociais desiguais). Como definição, “a seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social” (art. 194 da CF/1988). Ramos da Seguridade Social Saúde Assistência social Previdência Social Note-se que, em seus três ramos, a Seguridade Social não está restrita ao setor público. Há prestação de serviços de saúde, assistência social e Previdência Social por meio das iniciativas pública e privada. Como dito, a Seguridade abrange um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade. Quanto à Seguridade Social como um todo (e não os seus ramos individualizados), a competência legislativa é privativa da União (art. 22, inciso XXIII, da CF/1988), sem prejuízo de que lei complementar autorize os estados a legislar sobre questões específicas em matéria de Seguridade (art. 22, parágrafo único, da CF/1988). O ramo da saúde está previsto nos arts. 196 a 200 da CF/1988. A lei básica de regência desse setor é a Lei nº 8.080/1990, Lei Orgânica da Saúde, que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes, e dá outras providências. “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (art. 196 da CF/1988). O ramo da assistência social está disciplinado nos arts. 203 e 204 da CF/1988. A lei básica de regência desse setor é a Lei nº 8.742/1993, Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), que dispõe sobre a organização da assistência social, e dá outras providências. Trata-se de direito fundamental e dever do estado de atendimento das necessidades humanas básicas ou essenciais, com o fim de prover os mínimos sociais a qualquer pessoa que precisar. O ramo da Previdência Social está previsto nos arts. 40 (Regime Próprio de Previdência Social dos Servidores – RPPS), 42, § 1º, e 142, inciso X (Regime Próprio de Previdência Social dos Militares, que é uma subespécie de Regime Próprio), 201 (Regime Geral de Previdência Social – RGPS) e 202 (previdência complementar) da CF/1988. A Previdência Social é um seguro com regime jurídico especial, de direito público, de caráter contributivo, com natureza estatutária ou contratual (previdência complementar), que visa assegurar benefícios e serviços em casos de contingências que impossibilitem a subsistência pelo trabalho. Em outros dizeres, consiste em um seguro público, estatutário ou contratual, normalmente prestado a quem contribuir, visando cobrir contingências futuras, programadas ou não, ligadas à incapacidade laboral (real ou presumida). 2. Composição da Seguridade Social no Brasil A seguridade social brasileira foi instituída pela CF/1988, com o objetivo claro de proteger o povo brasileiro contra riscos sociais. Trata-se de uma verdadeira conquista do Estado Social de Direito. Nessa linha, Frederico Amado afirma que: Eventos como o desemprego, a prisão, a velhice, a infância, a doença, a maternidade, a invalidez ou mesmo a morte poderão impedir temporária ou definitivamente que as pessoas laborem para angariar recursos financeiros (...), sendo dever do Estado Social de Direito intervir quando se fizer necessário na garantia de direitos sociais. A CF/1988 foi a primeira Constituição brasileira a instituir um sistema de seguridade social, englobando ações em três áreas: previdência, assistência social e saúde. A sistemática referente ao tema em apreço se encontra espraiada entre os arts. 194 a 204 da CF/1988. Trata-se de direitos sociais previstos no art. 6º da CF/1988, o que evidencia a sua natureza de direito fundamental. Sendo assim, cumpre ressaltar que a seguridade social no Brasil consiste em um emaranhado de ações que visam assegurar tais direitos fundamentais, o que é uma tarefa não somente do Estado, mas de uma série de pessoas de direito privado, sejam elas naturais ou jurídicas. O sistema de seguridade social no Brasil pode ser sintetizado da seguinte maneira: SISTEMA DE SEGURIDADE SOCIAL BRASILEIRO SISTEMA CONTRIBUTIVO SISTEMA NÃO CONTRIBUTIVO PREVIDÊNCIA SOCIAL SAÚDE PÚBLICA ASSISTÊNCIA SOCIAL 2.1. Sistema contributivo: Previdência Social x Sistema Não Contributivo: Assistência Social e Saúde Aqui já temos uma primeira distinção relevante entre a previdência social e a saúde pública/assistência. Afirmar que a previdência é contributiva significa dizer que somente farão jus aos seus benefícios aqueles que contribuem com o pagamento de contribuições previdenciárias. Por outro lado, o sistema não-contributivo, como o próprio nome indica, prescinde de contribuição, não havendo que se falar em contribuições específicas dos beneficiários. Apesar dessa distinção, é importante se ter em mente que a previdência social, a saúde pública e a assistência social possuem os mesmos princípios informadores, os quais serão detidamente analisados em unidade específica sobre o tema. Todavia, para pronta referência, seguem abaixo algumas menções a respeito dos referidos princípios: (i) Universalidade de cobertura e atendimento: a seguridade deve atender a todos os necessitados, com exceção da previdência, que possui uma universalidade limitada. (ii) Uniformidade e equivalência dos benefícios: consagração do princípio da isonomia no âmbito da seguridade social. (iii) Seletividade e distributividade: como os recursos são escassos, devem ser selecionados os eventos mais relevantes para fins de cobertura. (iv) Irredutibilidade do valor dos benefícios: corolário do princípio da segurança jurídica. (v) Equidade de participação no custeio: o custeio da seguridade social deve ser isonômico. (vi) Diversidade da base de financiamento: o financiamento da seguridade social possui inúmeras fontes. (vii) Gestãoquadripartite: a seguridade social é gerida pelos trabalhadores, empregadores, aposentados e Poder Público. (viii) Solidariedade: princípio fundamental com especial aplicação no âmbito da seguridade social. (ix) Precedência da fonte de custeio: nenhum benefício poderá ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio. (x) Orçamento diferenciado: há uma peça orçamentária exclusiva para fazer frente às despesas referentes ao pagamento de benefícios e prestação de serviços. 3. Assistência social O assistencialismo é uma criação anterior à previdência social. No liberalismo, a proteção estatal era restrita a medidas assistenciais aos pobres. E mais do que isso: a assistência que era dada aos pobres não era vista como um direito do cidadão, mas como uma verdadeira benesse por parte do Estado. Como bem destaca Frederico Amado, somente com o Estado da Providência é que deixamos de ter essa visão de meras liberalidades estatais, surgindo a ideia de dever governamental. A CF/1988 trata do tema nos seguintes artigos: SEÇÃO IV DA ASSISTÊNCIA SOCIAL Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I – a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II – o amparo às crianças e adolescentes carentes; III – a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV – a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V – a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, previstos no art. 195, além de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes: I – descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social; II – participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis. Parágrafo único. É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a programa de apoio à inclusão e promoção social até cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida, vedada a aplicação desses recursos no pagamento de: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003.) I – despesas com pessoal e encargos sociais; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003.) II – serviço da dívida; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003.) III – qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos investimentos ou ações apoiados. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003.) Não bastasse a previsão constitucional, temos, ainda, a Lei nº 8.742/1993, conhecida como Lei Orgânica da Assistência Social, a qual traz alguns dispositivos importantes sobre o tema, dentre eles: Art. 1º A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas. Art. 2º A assistência social tem por objetivos: (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011.) I – a proteção social, que visa à garantia da vida, à redução de danos e à prevenção da incidência de riscos, especialmente: (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011.) a) a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011.) b) o amparo às crianças e aos adolescentes carentes; (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011.) c) a promoção da integração ao mercado de trabalho; (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011.) d) a habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; e (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011.) e) a garantia de 1 (um) salário-mínimo de benefício mensal à pessoa com deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família; (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011.) II – a vigilância socioassistencial, que visa a analisar territorialmente a capacidade protetiva das famílias e nela a ocorrência de vulnerabilidades, de ameaças, de vitimizações e danos; (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011.) III – a defesa de direitos, que visa a garantir o pleno acesso aos direitos no conjunto das provisões socioassistenciais. (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011.) Parágrafo único. Para o enfrentamento da pobreza, a assistência social realiza-se de forma integrada às políticas setoriais, garantindo mínimos sociais e provimento de condições para atender contingências sociais e promovendo a universalização dos direitos sociais. (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011.) Frederico Amado define a assistência social como: Medidas públicas (dever estatal) ou privadas a serem prestadas a quem delas precisar para o atendimento de necessidades humanas essenciais, de índole não contributiva direta, normalmente funcionando como um complemento ao regime de previdência social, quando este não puder ser aplicado ou se mostrar insuficiente para a consecução da dignidade humana. Sendo assim, pode-se afirmar que a regra geral é: somente farão jus a medidas assistencialistas as pessoas não cobertas por um regime previdenciário ou pela família. O art. 203 da CF/1988 é claro ao dispor que a assistência social é não-contributiva, atendendo os hipossuficientes por intermédio da concessão de benefícios, independentemente de qualquer contribuição. Cumpre ressaltar, no entanto, que as medidas assistenciais devem ser aplicadas dentro de uma lógica de “possibilidade” por parte do ente público, não podendo o Estado efetuar gastos superiores ao que é possível. Por isso, é importante a periódica revisão dos benefícios assistenciais. Pode-se afirmar, portanto, que o art. 203 da CF/1988 traz os objetivos da assistência social, quais sejam: I – a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II – o amparo às crianças e adolescentes carentes; III – a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV – a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V – a garantia de um salário-mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. E quais são os princípios específicos informadores da assistência social? Os princípios que norteiam a assistência social se encontram descritos no art. 4º da LOAS (Lei nº 8.742/1993): Capítulo II Dos Princípios e das Diretrizes SEÇÃO I Dos Princípios Art. 4º A assistência social rege-se pelos seguintes princípios: I – supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade econômica; II – universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas; III – respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade; IV – igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de qualquer natureza, garantindo-se equivalência às populações urbanas e rurais; V – divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais,bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e dos critérios para sua concessão. As diretrizes da assistência social, por sua vez, se encontram enunciadas no art. 5º da mesma lei: SEÇÃO II Das Diretrizes Art. 5º A organização da assistência social tem como base as seguintes diretrizes: I – descentralização político-administrativa para os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, e comando único das ações em cada esfera de governo; II – participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis; III – primazia da responsabilidade do Estado na condução da política de assistência social em cada esfera de governo. 3.1. O Sistema Único de Assistência Social (SUAS) A coordenação da política de assistência social compete ao Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário, mais especificamente ao Conselho Nacional da Assistência Social (CNAS). O CNAS foi instituído pela Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS (Lei nº 8.742, de 07 de dezembro de 1993) como órgão superior de deliberação colegiada, vinculado à estrutura do órgão da Administração Pública Federal responsável pela coordenação da Política Nacional de Assistência Social (atualmente, o Ministério do Desenvolvimento Social), cujos membros, nomeados pelo presidente da República, têm mandato de dois anos, permitida uma única recondução por igual período. As principais competências do CNAS são: aprovar a Política Nacional de Assistência Social (PNAS); normatizar as ações e regular a prestação de serviços de natureza pública e privada no campo da assistência social; zelar pela efetivação do sistema descentralizado e participativo de assistência social; convocar ordinariamente a Conferência Nacional de Assistência Social; apreciar e aprovar a proposta orçamentária da Assistência Social a ser encaminhada pelo órgão da Administração Pública Federal responsável pela coordenação da Política Nacional de Assistência Social; divulgar, no Diário Oficial da União, todas as suas decisões, bem como as contas do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS) e os respectivos pareceres emitidos. Frederico Amado ressalta que um passo importante para a melhoria da assistência social no Brasil foi o nascimento do SUAS, que ocorreu com a edição da Resolução nº 130, de 15 de julho de 2005. Na oportunidade, aprovou-se a Norma Operacional Básica da Assistência Social (NOB SUAS). São objetivos do SUAS, consagrados na LOAS: Art. 6º A gestão das ações na área de assistência social fica organizada sob a forma de sistema descentralizado e participativo, denominado Sistema Único de Assistência Social (Suas), com os seguintes objetivos: (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011.) I – consolidar a gestão compartilhada, o cofinanciamento e a cooperação técnica entre os entes federativos que, de modo articulado, operam a proteção social não contributiva; (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011.) II – integrar a rede pública e privada de serviços, programas, projetos e benefícios de assistência social, na forma do Art. 6º-C; (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011.) III – estabelecer as responsabilidades dos entes federativos na organização, regulação, manutenção e expansão das ações de assistência social; (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011.) IV – definir os níveis de gestão, respeitadas as diversidades regionais e municipais; (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011.) V – implementar a gestão do trabalho e a educação permanente na assistência social; (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011.) VI – estabelecer a gestão integrada de serviços e benefícios; e (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011) VII – afiançar a vigilância socioassistencial e a garantia de direitos. (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011.) É o SUAS que define e organiza elementos imprescindíveis à execução da política pública de assistência social. Enquanto o SUAS que define e organiza elementos imprescindíveis à execução da política pública de assistência social, o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) seria uma unidade pública municipal localizada em locais de maior vulnerabilidade e que precisam de maior articulação de serviços socioassistenciais. O Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), por outro lado, seria uma unidade pública municipal estadual ou regional destinada à prestação de serviços de pessoas e famílias em situação de risco. CATEGORIAS DE ORGANIZAÇÕES ASSISTENCIAIS Todas atuam de forma continuada, permanente e planejada. DE ATENDIMENTO: unidades dirigidas às famílias e indivíduos em situação de vulnerabilidade. DE ASSESSORAMENTO: unidades dirigidas ao fortalecimento de movimentos sociais e organizações de usuários, formação e capacitação de lideranças. DE DEFESA E GARANTIA DE DIREITOS: unidades dirigidas à defesa e efetivação dos direitos socioassistenciais. Há que se salientar que a LOAS ainda prevê projetos de enfrentamento da pobreza e a instituição de um Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS). O FNAS tem por objetivo proporcionar recursos para financiar a prestação continuada de serviços referentes à assistência social. 3.2. Benefício de amparo ao idoso/deficiente e outros benefícios A unidade ora estudada não tem por objetivo esmiuçar todos os benefícios assistenciais existentes. De toda forma, para referência, há que se informar que existem inúmeros benefícios assistenciais. A assistência social garante um salário mínimo à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovarem não possuir meios de subsistência. Trata-se de um benefício de prestação continuada que integra a proteção social do SUAS. E o seguro-desemprego? O seguro-desemprego deveria ser auxílio previdenciário. Apesar das divergências existentes, entende-se que o seguro-desemprego seria benefício assistencial, na medida em que é não contributivo, diferentemente dos demais auxílios previdenciários. No que tange à organização da assistência social, compete aos municípios atender as ações assistenciais de caráter emergencial e efetuar o pagamento do auxílio-natalidade e do auxílio-funeral. Mas, certamente, os benefícios assistenciais mais importantes hoje são aqueles integrantes do Programa Bolsa Família, que assim se subdividem: Benefício Básico: destina-se a unidades familiares em situação de extrema pobreza; Benefício Variável: destina-se a unidades familiares em situação de pobreza e extrema pobreza; e que tenham em sua composição gestantes, nutrizes, crianças entre 0 e 12 anos ou adolescentes até 15 anos. A disponibilização de medicamentos a preço de custo pelo Fundação Oswaldo Cruz também pode ser considerada um benefício assistencial. 4. Saúde A saúde, sem dúvidas, é um direito fundamental de difícil implementação, pois, na maioria dos casos, envolve altos custos. O tema se encontra tratado na CF/1988, a partir do art. 196: SEÇÃO II DA SAÚDE Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado. Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I – descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II – atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III – participação da comunidade. § 1º O sistema único de saúde será financiado, nos termos do Art. 195, comrecursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes. (Parágrafo único renumerado para § 1º pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000.) § 2º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios aplicarão, anualmente, em ações e serviços públicos de saúde recursos mínimos derivados da aplicação de percentuais calculados sobre: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000.) I - no caso da União, na forma definida nos termos da lei complementar prevista no § 3º; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000) I – no caso da União, a receita corrente líquida do respectivo exercício financeiro, não podendo ser inferior a 15% (quinze por cento); (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 86, de 2015.) II – no caso dos Estados e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a que se refere o Art. 155 e dos recursos de que tratam os Arts. 157 e 159, inciso I, alínea a, e inciso II, deduzidas as parcelas que forem transferidas aos respectivos Municípios; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000.) III – no caso dos Municípios e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a que se refere o Art. 156 e dos recursos de que tratam os Arts. 158 e 159, inciso I, alínea b e § 3º. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000.) § 3º Lei complementar, que será reavaliada pelo menos a cada cinco anos, estabelecerá: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000.) I - os percentuais de que trata o § 2º; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000) I – os percentuais de que tratam os incisos II e III do § 2º; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 86, de 2015.) II – os critérios de rateio dos recursos da União vinculados à saúde destinados aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, e dos Estados destinados a seus respectivos Municípios, objetivando a progressiva redução das disparidades regionais; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000.) III – as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas esferas federal, estadual, distrital e municipal; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000.) IV - as normas de cálculo do montante a ser aplicado pela União (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000) IV – (revogado) . (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 86, de 2015.) § 4º Os gestores locais do sistema único de saúde poderão admitir agentes comunitários de saúde e agentes de combate às endemias por meio de processo seletivo público, de acordo com a natureza e complexidade de suas atribuições e requisitos específicos para sua atuação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 51, de 2006.) § 5º Lei federal disporá sobre o regime jurídico e a regulamentação das atividades de agente comunitário de saúde e agente de combate às endemias. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 51, de 2006) (Vide Medida provisória nº 297. de 2006) § 5º Lei federal disporá sobre o regime jurídico, o piso salarial profissional nacional, as diretrizes para os Planos de Carreira e a regulamentação das atividades de agente comunitário de saúde e agente de combate às endemias, competindo à União, nos termos da lei, prestar assistência financeira complementar aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, para o cumprimento do referido piso salarial. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 63, de 2010.) § 6º Além das hipóteses previstas no § 1º do Art. 41 e no § 4º do Art. 169 da Constituição Federal, o servidor que exerça funções equivalentes às de agente comunitário de saúde ou de agente de combate às endemias poderá perder o cargo em caso de descumprimento dos requisitos específicos, fixados em lei, para o seu exercício. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 51, de 2006.) Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada. § 1º As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema único de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos. § 2º É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às instituições privadas com fins lucrativos. § 3º É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou capitais estrangeiros na assistência à saúde no País, salvo nos casos previstos em lei. § 4º A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, processamento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado todo tipo de comercialização. Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: I – controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e outros insumos; II – executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador; III – ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde; IV – participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico; V - incrementar em sua área de atuação o desenvolvimento científico e tecnológico; V – incrementar, em sua área de atuação, o desenvolvimento científico e tecnológico e a inovação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015.) VI – fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional, bem como bebidas e águas para consumo humano; VII – participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos; VIII – colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. Ainda, temos a Lei nº 8.080/1990, a qual prevê a existência de solidariedade dos entes federativos na prestação da saúde. Por essa razão, já afirmou o Superior Tribunal de Justiça (STJ), algumas vezes, que o funcionamento do Sistema Único de Saúde (SUS) é de responsabilidade solidária dos entes. Mas, não se pode perder de vista que não há recursos públicos suficientes para a adoção de todos os procedimentos necessários na área da saúde, razão pela qual a Administração Pública precisa fazer “escolhas trágicas”. Lembre-se, ainda, de que instituições privadas podem participar de forma complementar do SUS. Para efetivação do direito fundamental à saúde, instituiu-se o SUS, com atendimento integral no âmbito das três esferas de governo, sendo certo que o art. 200 da CF/1988, acima transcrito, elenca as competências do sistema em questão. Outro ponto fundamental dentro da Saúde diz respeito à necessidade de serem aplicados recursos mínimos. O art. 7º da Lei nº 8.080/1990 elenca os princípios que regem o SUS: Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no Art. 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios: I – universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência; II – integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema; III – preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral; IV – igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie; V – direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde; VI – divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua utilização pelo usuário; VII – utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação de recursos e a orientação programática;VIII – participação da comunidade; IX – descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de governo: a) ênfase na descentralização dos serviços para os municípios; b) regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde; X – integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e saneamento básico; XI – conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na prestação de serviços de assistência à saúde da população; XII – capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência; e XIII – organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idênticos. XIV – organização de atendimento público específico e especializado para mulheres e vítimas de violência doméstica em geral, que garanta, entre outros, atendimento, acompanhamento psicológico e cirurgias plásticas reparadoras, em conformidade com a Lei nº 12.845, de 1º de agosto de 2013. (Redação dada pela Lei nº 13.427, de 2017.) 5. Previdência Social Como já mencionado, o grande traço diferenciador da Previdência é o seu caráter contributivo. A expressão “Previdência” abarca todos os regimes previdenciários existentes no Brasil, razão pela qual a sua disciplina na CF/1988 não se encontra concentrada, na medida em que temos: (i) o art. 40 tratando do regime de previdência dos servidores públicos efetivos e militares; (ii) o art. 201 cuidando do Regime Geral; (iii) o art. 202 referindo-se à previdência complementar privada. A Constituição Mexicana de 1917 e a Constituição de Weimar de 1919 constitucionalizaram um conjunto de direitos sociais, colocando-os no mesmo plano dos direitos civis, momento este que marcou o início da fase de consolidação da seguridade social. O Brasil possui planos previdenciários públicos e privados. Cumpre salientar, ainda, que a Constituição de 1946 foi a primeira que se valeu da expressão “Previdência Social”. Em 1988, evoluiu-se para o uso da expressão seguridade social. Posteriormente, a Emenda nº 20/1998 promoveu uma série de alteração e inserção de regras constitucionais no âmbito da previdência social, dentre as quais podemos citar: Exigência de idade mínima para aposentadoria voluntária integral no serviço público. Desconstitucionalização do cálculo da renda mensal inicial das aposentadorias. Concessão do salário-família e do auxílio-reclusão. Elevação do teto do Regime Geral. Vedação da percepção de duas aposentadorias para servidores públicos. Criação do chamado “tempo de contribuição”. Proibição do tempo de contribuição fictício. Instituição de novas fontes de custeio. Competência da Justiça do Trabalho para executar contribuições previdenciárias reconhecidas em suas sentenças. Proibição de determinados tipos de trabalho para menores de 18 anos. Proibição de qualquer tipo de trabalho para menores de 16 anos, salvo no caso de menor aprendiz. Impossibilidade de previsão de segurados facultativos no Regime Geral. Em seguida, tivemos a Emenda nº 41/2003, a qual promoveu as seguintes alterações: Fim da paridade entre ativos e inativos. Cobrança de contribuições previdenciárias sobre aposentadorias e pensões pagas no serviço público, desde que acima do teto. Redutor da pensão por morte no serviço público. Criação do abono permanência no serviço público. Vedação de existência de mais de um regime próprio de previdência social para servidores titulares de cargos efetivos. A relação previdenciária tem duas vertentes: custeio e plano de benefícios/serviços. O custeio envolve a obrigação de pagar contribuições previdenciárias. O plano de benefícios diz respeito ao pagamento de prestações pela Previdência aos segurados e seus dependentes. Abaixo, segue um breve resumo dos planos previdenciários brasileiros: PLANOS PREVIDENCIÁRIOS BRASILEIROS PLANOS BÁSICOS PLANOS COMPLEMENTARES REGIME GERAL REGIMES PRÓPRIOS PLANO DE SEGURIDADE SOCIAL DOS CONGRESSISTAS PÚBLICO PRIVADO(ABERTO OU FECHADO) Sintetiza Frederico Amaro que: É possível definir o Direito Previdenciário como o ramo do Direito composto por regras e princípios que disciplinam os planos básicos e complementares de previdência social no Brasil, assim como a atuação dos órgãos e entidades da Administração Pública e as pessoas jurídicas privadas que exerçam atividades previdenciárias. Muito importante! Não erre !!! A Seguridade Social está definida no art. 194 da CF/1988, caput, como “um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social”. Seguridade social Assistência social Atendimento aos hipossuficientes, por meio da concessão de benefícios, independentemente de contribuição. Saúde É dever do poder público em todas as suas esferas prestá-la aos brasileiros, estrangeiros residentes e mesmo aos não residentes, havendo uma solidariedade entre os entes federativos. Da mesma forma que a assistência, independe de contribuição. Previdência Conjunto de regras e princípios que disciplinam os planos de previdência existentes no Brasil. O gozo de benefícios previdenciários somente poderá ser concedido caso haja efetiva contribuição.
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