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DIREITO CIVIL V - Direito das Coisas Profa. Dra. Anna Taddei Unidade 2 – Posse ❑Conceito: possibilidade de exercitar, de forma plena ou não, o poder de fato sobre a coisa por, aparentemente. ❑É um direito com natureza jurídica especial (art. 1.196, CC – conceito de possuidor). TEORIAS A. Teoria subjetiva ou subjetivista proposta por Friedrich Karl von Savigny: o Fundamento: integridade física do possuidor, mas não inclui o detentor. Professora Doutora Anna Taddei - Direito das Coisas 2 oCorpus: elemento material: possibilidade física de exercer influência imediata sobre a coisa e, consequentemente, afastando influência de terceiros. oAnimus: elemento intencional, subjetivo. É vontade qualificada. Animus domini. Intenção de ser proprietário. Obs.: A detenção é a regra e a posse surge a partir do elemento volitivo. Professora Doutora Anna Taddei - Direito das Coisas 3 B. Teoria objetiva ou objetivista proposta por Rudolph von Ihering: oFundamento: defender o direito de propriedade e não a integridade física do possuidor oCorpus: elemento material: possibilidade física de exercer influência imediata sobre a coisa e, consequentemente, afastando terceiros. Dispensa o animus. Obs.: A posse é regra e a detenção é a exceção. Professora Doutora Anna Taddei - Direito das Coisas 4 C. Concepção de Posse formulada por Saleilles oCriticava Savigny por este tratar da posse limitada aos possuidores que desejassem o domínio da coisa. oCriticava Ihering por este tratar o possuidor não proprietário como excepcional. oIndependência da posse em relação à propriedade. oA posse não surgiu para complementar a propriedade, pois o seu surgimento é anterior ao domínio. Professora Doutora Anna Taddei - Direito das Coisas 5 POSSE NO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO ❑Dispositivos legais: art. 1.196 a 1.224, CC ❑Conceito de possuidor: art. 1.196, CC (Teoria Objetiva) “Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.” Enunciado n. 492, da V Jornada de Direito Civil V: “A posse constitui direito autônomo em relação à propriedade e deve expressar o aproveitamento dos bens para o alcance de interesses existenciais, econômicos e sociais merecedores de tutela”. Professora Doutora Anna Taddei - Direito das Coisas 6 JURISPRUDÊNCIA Ementa: “Embargos de terceiro. Mandado de reintegração de posse. Ocupação irregular de área pública. Inexistência de posse. Direito de retenção não configurado. 1. Posse é o direito reconhecido a quem se comporta como proprietário. Posse e propriedade, portanto, são institutos que caminham juntos, não havendo de se reconhecer a posse a quem, por proibição legal, não possa ser proprietário ou não possa gozar de qualquer dos poderes inerentes à propriedade. (...)” (STJ, REsp 556721/DF (200301269677), 642135. Recurso especial. Data da decisão: 15.09.2005. 2.ª Turma. Rel. Min. Eliana Calmon. Sucessivos: REsp 704992/DF, 2004/0165757- 1 – Decisão: 06.12.2005. DJ 19.12.2005, p. 353. Fonte: DJ 03.10.2005, p. 172. Professora Doutora Anna Taddei - Direito das Coisas 7 Professora Doutora Anna Taddei - Direito das Coisas 8 DETENÇÃO OU FÂMULO DA POSSE ❑Conceito de Detenção: apoderamento da coisa em nome de outra pessoa ou em cumprimento de ordens ou instruções de outra pessoa. É o servo da posse. (art. 1.198, CC). ATENÇÃO: presunção juris tantum de detenção (art. 1.198, § único) Enunciado n. 301, da IV Jornada de Direito Civil: “É possível a conversão da detenção em posse, desde que rompida a subordinação, na hipótese de exercício em nome próprio dos atos possessórios”. Professora Doutora Anna Taddei - Direito das Coisas 9 JURISPRUDÊNCIA Ementa: “Ação possessória. Indeferimento da petição inicial sob o fundamento de existência de mera detenção. Possibilidade de conversão da detenção em posse, com o rompimento da subordinação relativa àquela possibilidade da modificação do caráter originário da posse. Fatos afirmados com a inicial que merecem ser melhor examinados sob o crivo do contraditório. Impossibilidade, entretanto, de concessão de liminar. Recurso provido para ser anulada a decisão, a fim de se propiciar o processamento, sem liminar, da ação” (TJSP, Apelação 7170778-3, Acórdão 3468220, Piratininga, 17.ª Câmara de Direito Privado, Rel. Des. Paulo Pastore Filho, j. 28.01.2009, DJESP 09.03.2009). Professora Doutora Anna Taddei - Direito das Coisas 10 OUTROS CASOS DE DETENÇÃO A. Atos de mera permissão ou tolerância “Art. 1.208, CC. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância (...).” ❑Permissão: consentimento ❑Tolerância: inação, passividade B. Atos de violência ou clandestinos “Art. 1.208, CC. (...) assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade.” Professora Doutora Anna Taddei - Direito das Coisas 11 C. Bem público: a tolerância do uso do bem público pelo particular é mera detenção consentida pelo Poder Público. Súmula 619, do STJ: “A ocupação indevida de bem público configura mera detenção, de natureza precária, insuscetível de retenção ou indenização por acessões e benfeitorias.” JURISPRUDÊNCIA Ementa: PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. OFENSA AO ART. 1.022 DO CPC/2015 NÃO CONFIGURADA. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. OCUPAÇÃO DE ÁREA PÚBLICA POR PARTICULARES. CONSTRUÇÃO. BENFEITORIAS. INDENIZAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. 1.(...). 2. A jurisprudência do STJ é firme no sentido de que, configurada a ocupação indevida de bem público, não há falar em posse, mas em mera detenção, de natureza precária, o que afasta o direito à indenização por benfeitorias. (...) (Resp1701620/RS 2017/0213143-7) Professora Doutora Anna Taddei - Direito das Coisas 12 CLASSIFICAÇÃO A. Quanto ao desdobramento da posse ❑Posse direta ❑Posse indireta “Art. 1.197, CC. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto.” Professora Doutora Anna Taddei - Direito das Coisas 13 Enunciado n. 76, da I Jornada de Direito Civil: “O possuidor direto tem direito de defender a sua posse contra o indireto, e este contra aquele (art. 1.197, in fine, do novo Código Civil)” B. Quanto à presença de vícios (critério objetivo) “Art. 1.200, CC. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária.” ❑Posse justa: é isenta de vícios, adquirida legitimamente e sem vício jurídico externo (posse limpa). ❑Posse injusta: é a que está eivada de vícios, pois foi adquirida por violência ou clandestinidade ou precariamente. Professora Doutora Anna Taddei - Direito das Coisas 14 TIPOS DE VÍCIOS oVÍCIO DA VIOLÊNCIA (vis): alguém retira o objeto do domínio do legítimo possuidor, por meio da força ou meios violentos, podendo ser essa física ou moral. oVÍCIO DA CLANDESTINIDADE (clam): alguém toma para si um bem móvel ou ocupa um bem imóvel do legítimo possuidor, porém, às escondidas. oVÍCIO DA PRECARIEDADE (precario): alguém se nega a restituir a coisa móvel ou imóvel ao legítimo possuidor, após o término de contrato, tendo em vista obrigação assumida entre as partes. Professora Doutora Anna Taddei - Direito das Coisas 15 ATENÇÃO: oTurbação: todo e qualquer ato que embaraça o exercício da posse, independente de haver prejuízo ou dano material. oEsbulho: o possuidor é privado da posse sobre a coisa através de violência, clandestinidade ou precariedade. CESSAÇÃO DA VIOLÊNCIA E DA CLANDESTINIDADE “Art. 1.208, CC. (...) senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade.” ❑Menos de ano e dia (até um ano) = não convalesce ❑Mais de ano e dia (um ano e um dia) = convalesce Professora Doutora Anna Taddei - Direito das Coisas 16 JURISPRUDÊNCIA Ementa: “Apelação cível. Ação reivindicatória. Requisitos autorizadores. Alegada compra e venda. Comodato comprovado. Recurso não provido. ‘O comodato é uma cessão gratuita de uma coisa nãofungível e não consumível, a título gratuito e que possui como característica principal a temporariedade, podendo ser efetivado através de contrato escrito ou verbal. A posse dele decorrente é precária, não sendo apta, jamais, à convalidação da propriedade”. (TJSC, Acórdão n. 1999.08070-6, Des. Carlos Prudêncio, DJ de 11.09.2001)” (TJSC, Acórdão 2005.010077-6, Araranguá, 1.ª Câmara de Direito Civil, Rel. Des. Carlos Prudêncio, DJSC 22.02.2008, p. 102). Professora Doutora Anna Taddei - Direito das Coisas 17 JURISPRUDÊNCIA Ementa: “Apelação cível. Ação reivindicatória. Requisitos autorizadores. Alegada compra e venda. Comodato comprovado. Recurso não provido. ‘O comodato é uma cessão gratuita de uma coisa não fungível e não a título gratuito e que possui como característica principal a temporariedade, podendo ser efetivado através de contrato escrito ou verbal. A posse dele decorrente é precária, não sendo apta, jamais, à convalidação da propriedade’. (TJSC, Acórdão n. 1999.08070-6, Des. Carlos Prudêncio, DJ de 11.09.2001)” (TJSC, Acórdão 2005.010077-6, Araranguá, 1.ª Câmara de Direito Civil, Rel. Des. Carlos Prudêncio, DJSC 22.02.2008, p. 102). Enunciado n. 493, da V Jornada de Direito Civil: “O detentor (art. 1.198 do Código Civil) pode, no interesse do possuidor, exercer a autodefesa do bem sob seu poder”. Professora Doutora Anna Taddei - Direito das Coisas 18 C. Quanto ao conhecimento sobre presença de vícios (critério subjetivo) “Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa.” ❑Posse de boa-fé: apoia-se em critério subjetivo, qual seja, que o possuidor tem a consciência de que adquiriu a posse pelos meios legítimos. Se houver dúvidas relevantes por parte do possuidor, então, afasta-se a boa-fé. Obs.: justo título é a causa ou o elemento que cria a relação jurídica, documentada ou não. Professora Doutora Anna Taddei - Direito das Coisas 19 Enunciado n. 302, da IV Jornada de Direito Civil: “Pode ser considerado justo título para a posse de boa-fé o ato jurídico capaz de transmitir a posse ad usucapionem, observado o disposto no art. 113 do CC”. Enunciado n. 303, da IV Jornada de Direito Civil: “Considera-se justo título para presunção relativa da boa-fé do possuidor o justo motivo que lhe autoriza a aquisição derivada da posse, esteja ou não materializado em instrumento público ou particular. Compreensão na perspectiva da função social da posse”. Professora Doutora Anna Taddei - Direito das Coisas 20 ❑Posse de má-fé: quando o possuidor tem consciência ou não ignora os vícios ou obstáculo sobre a coisa. TRANSFORMAÇÃO DA POSSE DE BOA-FÉ PARA MÁ-FÉ “Art. 1.202, CC. A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente.” Obs.1: a má-fé superveniente obstaculiza a usucapião ordinária Obs.2: presume-se a má-fé desde a data da citação ou data de conhecimento dos fatos Professora Doutora Anna Taddei - Direito das Coisas 21 MANUTENÇÃO PROVISÓRIA NA POSSE “Art. 1.211. Quando mais de uma pessoa se disser possuidora, manter-se-á provisoriamente a que tiver a coisa, se não estiver manifesto que a obteve de alguma das outras por modo vicioso.” D. Quanto ao tempo ❑Posse nova: menos de ano e dia (até um ano) ❑Posse velha: mais de ano e dia ou mais (um ano e um dia) Professora Doutora Anna Taddei - Direito das Coisas 22 E. Quanto aos efeitos ❑Posse ad interdicta: pode ser defendida pelas ações possessórias, mas não leva à usucapião. A proteção pelos interditos só é possível se a posse é justa. ❑Posse ad usucapionem: conduz à aquisição de domínio pelo decurso de tempo. F. Quanto a quantidade de possuidores ❑Posse exclusiva: é a posse de um único possuidor. ❑Composse: duas ou mais pessoas exercem, simultaneamente, poderes possessórios sobre a mesma coisa (art. 1.199, CC). Professora Doutora Anna Taddei - Direito das Coisas 23 Professora Doutora Anna Taddei - Direito das Coisas 24 EXERCÍCIOS 1) (OAB/MT/2005.1) Assinale a alternativa que caracteriza a posse de fâmulo: a) a posse exercida pelo locatário. b) a posse exercida pelo proprietário. c) a posse exercida pelo caseiro. d) a posse exercida pelo usufrutuário. Professora Doutora Anna Taddei - Direito das Coisas 25 2) (NOSSA CAIXA 2011 - FCC – ADVOGADO) Aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas, considera-se: a) possuidor indireto. b) detentor. c) possuidor direto. d) possuidor clandestino. e) proprietário. Professora Doutora Anna Taddei - Direito das Coisas 26 3) (PGE/Procurador do Estado/SE/Fundação Carlos Chagas/2005) É de boa-fé a posse: a) somente se autorizada expressamente pelo proprietário ou pelo titular do domínio útil. b) se o possuidor ignorar o vício ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa. c) apenas quando o possuidor ostentar título de domínio. d) depois de decorrido prazo para aquisição da propriedade por usucapião ordinária. e) se, entre presentes, for tolerada pelo proprietário ou pelo titular de domínio útil. Professora Doutora Anna Taddei - Direito das Coisas 27 4) (TCE/PB/Auditor de Contas Públicas/Fundação Carlos Chagas/2006) Paulo é proprietário de um sítio. Pedro é locatário desse imóvel. João é o caseiro. De acordo com o Código Civil brasileiro, Paulo, Pedro e João são considerados, respectivamente: a) possuidor direto, possuidor indireto e detentor. b) possuidor indireto, possuidor direto e detentor. c) possuidor indireto, detentor e possuidor direto. d) possuidor direto, detentor e possuidor indireto. e) detentor, possuidor indireto e possuidor direto. Professora Doutora Anna Taddei - Direito das Coisas 28 5) (TRF/1a Região/Analista Judiciário/Fundação Carlos Chagas/2006) Segundo o Código Civil brasileiro, a posse direta de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real: a) anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto. b) não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto. c) anula a indireta, de quem aquela foi havida, mas não pode o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto. d) não anula a indireta, de quem aquela foi havida, mas não pode o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto. e) anula a indireta, de quem aquela foi havida, bem como de terceiros ocupantes ou detentores, não havendo meio de defesa da posse em razão de sua anulação. Professora Doutora Anna Taddei - Direito das Coisas 29 6) (Pref. Mun./Santos/Procurador do Município/Fundação Carlos Chagas/2005) Tício é locatário de um imóvel urbano de propriedade de Zeus, estando o contrato de locação em plena vigência. Nesse caso, Tício e:́ a) titular de direito real sobre coisa alheia. b) possuidor indireto. c) detentor. d) compossuidor. e) possuidor direto. Professora Doutora Anna Taddei - Direito das Coisas 30
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