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INTRODUÇÃO Em certo momento da minha vida profissional, deparei-me com um jovem engenheiro recém-formado que estava no seu primeiro emprego, um estágio, na verdade. Em um belo dia, depois de muitos esforços em prol de um detalhe simples que demandou muitas horas de empenho da equipe do projeto para ser realizado, escutei esse rapaz questionar que a vida de um profissional do gerenciamento de projetos era muito inconstante, sujeita a muitas variáveis. No primeiro momento, acreditei tratar-se da expressão do óbvio; afinal, se alguém havia escondido dele tal detalhe, caberia a mim demonstrar que isso era uma condição de muitas vidas profissionais: a instabilidade. Qual não foi a minha surpresa quando esse mesmo indivíduo desejou que a sua vida profissional fosse mais estável. Aquilo martelou muito tempo na minha cabeça. Afinal de contas, quem possui uma vida estável no trabalho? E mais: uma vida estável leva à zona de conforto, ao sedentarismo, à desmotivação ou até mesmo à substituição de determinados cargos por máquinas. Ora, se praticamente tudo o que a estabilidade traz é prejudicial, comecei a demonstrar para esse estagiário exatamente o contrário, ou seja, o quão bom é um ambiente instável. Pois o importante é manter uma postura de busca de uma identidade cultural acerca da adaptabilidade à mudança e estar sempre disposto a abraçar desafios. Vivendo em um ambiente em constante mudança, agradeça todos os dias o seu trabalho, pois do contrário, muito provavelmente, você já não seria uma peça necessária. Gerenciar projetos não é uma descoberta, nem mesmo um modismo. Trata-se de um tema que muito se explora há décadas, mas muitas organizações públicas, privadas ou do terceiro setor começaram apenas recentemente a perceber as benesses de uma correta aplicação dos seus conceitos. Sempre que esse assunto é visto de maneira ordenada e integrada, muitas são as possibilidades de desenvolver melhores produtos e serviços inerentes a um negócio, alinhando padrões internacionais de gestão com o fortalecimento de uma instituição, seja por demonstrar melhor cuidado com os seus processos ou por transparecer, por meio dos seus valores tangíveis e intangíveis, diferenciais competitivos. Exatamente por isso, muito se discute sobre como melhorar processos, capacitar profissionais e otimizar entregas, entre outros detalhes que poderão trazer retornos rápidos ou de longo prazo, para as organizações que adotam tais práticas. O gerenciamento do escopo é somente a ponta desse iceberg, pois junto com as demais áreas de conhecimento, possui o dom de provocar uma verdadeira revolução na maneira como as organizações veem e são vistas, com influência imediata nas pessoas, que vêm a ser a base de toda e qualquer estrutura. Segundo pesquisas atuais, as causas mais comuns de falhas em projetos em organizações mundo afora são: problemas de comunicação, escopo mal definido e escopo que sofre constante mudança. Ou seja, de todos os possíveis e imaginários problemas, o assunto “escopo” aparece por duas vezes nas três primeiras colocações, sendo que, se pararmos para avaliar um pouco mais de perto tais resultados, um escopo mal definido possui um enorme potencial para gerar problemas de comunicação. Em face dessa observação, começo até mesmo a questionar se as respostas dos entrevistados não estavam mais atentas às consequências dos problemas do que, talvez, às suas causas. Se essa minha teoria pudesse ser confirmada, potencialmente teríamos o escopo como gerador de dois dos principais problemas de falhas em projetos, apenas para nos atermos ao top 3. A resposta para melhorar esses índices – ou quiçá solucionar, de uma vez por todas, problemas como esses – está em uma correta atenção ao gerenciamento do escopo em projetos. Entretanto, este assunto é muitas vezes negligenciado, seja por questões estratégicas em que prevaleça um determinado padrão, por exemplo, privilegiar o cumprimento de um cronograma em detrimento daquilo que se está entregando, seja até mesmo por desconhecimento técnico. Este material é um compêndio importante para que profissionais da área de gerenciamento de projetos ou curiosos percebam cada vez mais a importância do gerenciamento do escopo em projetos, assim como a sua correlação com o trabalho das demais áreas de conhecimento do gerenciamento de projetos. O objetivo geral desta disciplina é apresentar o conceito de escopo e as suas peculiaridades, assim como demonstrar a área de conhecimento do gerenciamento do escopo em projetos, oferecendo um grau de compreensão que produza efeitos imediatos de utilização do assunto estudado em organizações, indivíduos e grupos de pessoas, que adotem o gerenciamento profissional de projetos. Por sua vez, os objetivos específicos são: Reconhecer os principais termos e as peculiaridades que envolvam o assunto escopo em projetos. Identificar todos os processos da área do escopo em projetos, segundo modernas práticas do mercado. Aplicar corretamente os processos da área de escopo ao longo de um projeto real. Demonstrar uma visão holística, percebendo a importância da área de escopo em relação às demais áreas de conhecimento de um projeto. Elaborar e analisar os principais documentos relativos à área de conhecimento do escopo em projetos. Para isso, esta apostila está organizada da seguinte forma: Módulo I – Escopo: conceitos fundamentais O escopo é um dos assuntos mais nervais em um projeto, pois possui o dom de influenciar direta e indiretamente as demais áreas de conhecimento. Exatamente por isso, é necessário conhecer os principais termos e as peculiaridades que serão demandados na condução de um bom trabalho do gerenciamento do escopo em projetos. Este módulo se propõe a demonstrar, em um primeiro momento, como o termo “escopo” nasceu e depois amadureceu, para passar a ser utilizado como fator crítico de sucesso em um modelo de gestão estratégica, de preferência vinculado aos objetivos de negócio de toda e qualquer organização. Na sequência, fará uma ponte entre o momento da iniciação do projeto, por meio do Termo de Abertura do Projeto e de todo o percurso que precisa ser percorrido para o início dos trabalhos de um bom planejamento. Módulo II – Planejamento do escopo: parte I Para começar a trabalhar o escopo é interessante incorporar os conceitos primordiais de entrada, ferramentas e técnicas, e saídas de um processo. Em face dessa proposta, é importante que o time do escopo de um projeto domine esse conhecimento para construir a documentação necessária que influenciará todo o planejamento e, consequentemente, todo o trabalho do projeto. As ações do planejamento de um projeto não se iniciam necessariamente com o trabalho do escopo, mas, a partir do momento em que esse vespeiro é cutucado, todo o trabalho da equipe do projeto passa a ter outro significado. O planejamento do escopo, independentemente da abordagem selecionada para o trabalho do projeto, é primordial para o encadeamento do restante dos processos. Neste módulo, serão identificadas as regras para se trabalhar com um bom planejamento do escopo, assim como dos requisitos de um projeto, além de compreender como funciona o trabalho de elicitação – ou coleta – de requisitos e a sua importância para a saúde de um projeto. Módulo III – Planejamento do escopo: parte II As regras do escopo já foram definidas, assim como as normas para o trabalho com os requisitos do projeto. O curioso é que não só o planejamento do escopo ainda não acabou como os próprios processos que já foram iniciados ainda não foram plenamente finalizados, dependendo do sequenciamento dos trabalhos do planejamento do escopo com a construção da sua linha de base de entregas. Com a proposta de dar subsídios à equipe do projeto no intuito de que não existam dúvidas do que será realizado e de como será realizado para entregar o produto, serviço ou resultado desejado pelo cliente ou usuáriofinal, a documentação do planejamento será complementada e atualizada com importantes informações acerca do escopo. A equipe do projeto passa a ter, então, conhecimento explícito e detalhado do escopo do projeto e do escopo do produto. Todas as entregas serão subdivididas em componentes gerenciáveis, que, por sua vez, poderão ser mais bem estimados, mensurados, monitorados e controlados. Módulo IV – Validação e controle do escopo Assim como toda base de planejamento que é utilizada como referência para se executar algo, com o escopo não é diferente. A priori, o objetivo de um bom planejamento é conseguir que as entregas sejam todas aceitas no formato originalmente previsto. Esse é o papel do primeiro processo do escopo vinculado ao grupo de processos de monitoramento e controle, um trabalho que é realizado não somente pela área de trabalho do escopo, mas também com valiosas contribuições do time de integração e da qualidade. Quando o time do escopo consegue formalizar uma entrega aceita, isso significa um trabalho a menos para a equipe do projeto e também sinaliza que a direção para a concretização do resultado esperado é cada vez mais curta. Obviamente, todo projeto é um carrossel de emoções e sofre a influência de um turbilhão de variáveis, internas e externas, sem mencionar as constantes ações das principais partes interessadas. Exatamente em função disso, é necessário um trabalho atento de gerenciamento de possíveis alterações na linha de base do escopo. Caso ocorra uma solicitação de mudança, há que se realizar um trabalho de controle integrado de ações, minimizando problemas e conduzindo o resultado do projeto alinhado com os objetivos estratégicos organizacionais. Nas suas páginas, serão descritos todos os processos preconizados pelo Project Management Institute para um correto trabalho do gerenciamento do escopo em um projeto, assim como modelos de artefatos, técnicas e ferramentas, que poderão auxiliar o trabalho de qualquer profissional da área na utópica busca da perfeição, desenvolvendo competências e visando a um trabalho de melhoria contínua de processos. Contudo, lembre-se: sempre que possível, decorrente de um trabalho com muita instabilidade. Boa leitura! SUMÁRIO MÓDULO I – ESCOPO: CONCEITOS FUNDAMENTAIS ......................................................................... 9 CONCEITO HISTÓRICO ...................................................................................................................... 9 ESCOPO E CICLOS DE VIDA DE UM PROJETO ............................................................................... 11 CONCEITOS IMPORTANTES: CICLOS ITERATIVOS, FUNCIONALIDADES, MVP, DOR, DOD, CRITÉRIOS DE ACEITAÇÃO E CRITÉRIOS DE VALIDAÇÃO ................................................................ 14 DIFERENÇA ENTRE ESCOPO DO PROJETO E ESCOPO DO PRODUTO ........................................ 20 TERMO DE ABERTURA DO PROJETO E PROCESSOS DE GERENCIAMENTO DO ESCOPO ........ 20 RETROSPECTIVA DO MÓDULO ....................................................................................................... 24 MÓDULO II – PLANEJAMENTO DO ESCOPO: PARTE I ....................................................................... 27 PROCESSO “PLANEJAR O GERENCIAMENTO DO ESCOPO”: PECULIARIDADES, ENTRADAS, TÉCNICAS E FERRAMENTAS ............................................................................................................ 27 PROCESSO “PLANEJAR O GERENCIAMENTO DO ESCOPO”: SAÍDAS .......................................... 30 PROCESSO “COLETAR OS REQUISITOS”: PECULIARIDADES, ENTRADAS, TÉCNICAS E FERRAMENTAS .................................................................................................................................. 36 PROCESSO “COLETAR OS REQUISITOS”: SAÍDAS .......................................................................... 43 RETROSPECTIVA DO MÓDULO ....................................................................................................... 45 MÓDULO III – PLANEJAMENTO DO ESCOPO: PARTE II ..................................................................... 47 PROCESSO “DEFINIR O ESCOPO”: PECULIARIDADES, ENTRADAS, TÉCNICAS E FERRAMENTAS ............................................................................................................................................................ 47 PROCESSO “DEFINIR O ESCOPO”: SAÍDAS ..................................................................................... 49 PROCESSO “CRIAR A EAP”: PECULIARIDADES ............................................................................... 53 PROCESSO “CRIAR A EAP”: ENTRADAS, TÉCNICAS E FERRAMENTAS, SAÍDAS .......................... 60 RETROSPECTIVA DO MÓDULO ....................................................................................................... 66 MÓDULO IV – VALIDAÇÃO E CONTROLE DO ESCOPO ..................................................................... 67 PROCESSO “VALIDAR O ESCOPO”: PECULIARIDADES, ENTRADAS, TÉCNICAS E FERRAMENTAS . 67 PROCESSO “VALIDAR O ESCOPO”: SAÍDAS ................................................................................... 70 PROCESSO “CONTROLAR O ESCOPO”: PECULIARIDADES, ENTRADAS, TÉCNICAS E FERRAMENTAS .................................................................................................................................. 71 PROCESSO “CONTROLAR O ESCOPO”: SAÍDAS ............................................................................ 73 RETROSPECTIVA DO MÓDULO ....................................................................................................... 73 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................................... 75 PROFESSOR-AUTOR ............................................................................................................................. 79 Neste módulo, serão apresentados os principais conceitos para a compreensão do trabalho de gerenciamento do escopo de um projeto. Será traçado um cenário histórico para determinar como a fixação em busca de se definirem objetivos demonstra-se algo importante para as organizações e os seus indivíduos, notadamente os que desempenham funções relacionadas ao gerenciamento de projetos. Na sequência, os principais ciclos de vida serão demonstrados, assim como a sua relação com o escopo em si, para, então, os principais conceitos e as suas respectivas importâncias serem citados, como os de escopo do produto; escopo do projeto; minimum viable product (MVP), mínimo produto viável, em português; funcionalidade; ciclos iterativos; definition of ready (DoR); definition of done (DoD); e critérios de aceitação e de validação. Por fim, serão ilustrados os principais processos envolvidos no nascimento de um projeto, assim como os processos necessários para a compreensão e o trabalho de gerenciamento do escopo do projeto. Conceito histórico Gerenciar projetos é uma arte que chama atenção ao longo dos anos, pois, desde que indivíduos começaram a perceber a importância de um processo para encadear melhor ações de trabalho nas suas respectivas organizações, mais se pode fazer em função dessa arte. Portanto, quando Peter Drucker, na década de 1950, disse “Lembre-me de um livro sobre a anatomia humana que discute apenas uma junta do corpo – o cotovelo, por exemplo – sem mencionar o braço e deixar de fora o esqueleto e a musculatura”, o hoje conhecido como pai da administração moderna demonstrava que nada se faz sem uma visão sistêmica de conjunto, de preferência, visando sempre a um mesmo objetivo. MÓDULO I – ESCOPO: CONCEITOS FUNDAMENTAIS 10 Com o mundo dos negócios em ebulição após um momento histórico vivido pelo período das grandes guerras mundiais, a transformação inicia-se exatamente por meio de uma questão muito simples, afinal de contas, precisa-se entender o que é,efetivamente, gerir alguma coisa. Foi exatamente nesse momento em que, ainda segundo Drucker (1954), nasceu o conceito de Administração por Objetivos (APO). APO consiste em um método colaborativo entre líderes e liderados, com cada um entendendo perfeitamente o seu papel dentro do contexto organizacional, trabalhando para delimitarem juntos os objetivos que precisam ser alcançados. Há um planejamento; objetivos e formas de monitoramento são traçados; responsabilidades são delegadas e, constantemente, compara-se o resultado com o planejamento previamente estabelecido, no sentido de gerar um senso de aferição de resultados. Também há necessidade de se delimitarem objetivos de curto (operacionais), médio (táticos) e longo (estratégicos) prazo. Não à toa, aproveitando o êxito dessa descoberta, o conceito de gerenciamento de projetos nasceu nos Estados Unidos ao final dos anos 1950, quando inicialmente aplicado à análise de sistemas de informação e implantação de empreendimentos físicos, este último limitando-se aos componentes de engenharia. Os primeiros institutos em gerenciamento de projetos datam da década de 1960, e muitos deles foram lançar o que seria o início dos seus guias de boas práticas apenas nos anos 1980. Foi quando George Doran (1981), aprimorando os trabalhos de Edwin Locke (1968), reconheceu que muitas organizações precisavam atingir metas, objetivos, mas muitas vezes esses objetivos eram estabelecidos de maneiras difusas. Objetivos não deveriam ser tratados como inarticulados – aqui, percebe-se uma pitada do conceito inicial de Drucker –, ao invés disso deveriam ser tratados como coisas mensuráveis, no intuito de alavancar o sucesso de uma organização. Então, uma a melhor definição para o conceito de objetivo surgiu com a utilização do acrônimo Smart, que vem a ser: S de specific, em inglês, específico; mensurável; atingível; relevante; e com tempo limite. Ao adotar que um objetivo precisaria possuir todas essas cinco propriedades em conjunto, e não apenas uma ou outra, Doran conseguiu solidificar o conceito de estabelecimento de metas para gestores em muitas organizações. Essa jornada histórica da busca pelo entendimento do que seria o objetivo de um projeto, idealizado por muitas décadas de erros e acertos, foi muito importante para que os indivíduos pudessem reconhecer que o foco de um projeto nunca poderá ser negligenciado. Quanto mais se aprende e conhece o objetivo que se deseja alcançar, maior a chance de alcançar sucesso em uma empreitada. Hoje em dia, muito ainda se aprende com as definições dos objetivos de um projeto, e todas essas abordagens históricas podem auxiliar, em muito, diversos times de projetos. Contudo, a maneira mais simples de reconhecer o objetivo de um projeto é compreender qual é o seu escopo, que nada mais significa do que compreender o que precisa ser feito ou entregue pelo time do projeto. Para isso, precisa-se compreender um pouco mais a respeito de algumas nuances do termo “escopo”. 11 Escopo e ciclos de vida de um projeto De acordo com o PMI (2017b), existem quatro tipos de ciclos de vidas de projeto. Isso significa que um time de projeto precisa ter conhecimento a respeito dessas variadas formas no intuito de selecionar uma abordagem condizente com as ações demandadas pelo produto, serviço ou pela condição que será gerada. Os tipos são: Ciclo de vida preditivo – trata-se de processo sequencial. Talvez a abordagem mais tradicional de todas, com os esforços de planejamento ocorrendo em uma fase inicial do projeto. Depois, em uma única jornada, é realizada a execução. Ciclo de vida iterativo – uma abordagem empírica, que permite aos poucos retorno dos principais stakeholders engajados no projeto. Os feedbacks são recebidos pelo time do projeto sobre trabalhos ainda não finalizados, no intuito de melhorar o produto, o serviço ou a condição e conseguir modificá-los antes de a versão final ser efetivamente entregue. Ciclo de vida incremental – uma abordagem escalonável, que, em oportunidades pontuais ao longo do projeto, fornece versões do produto, do serviço ou da condição não finalizados, mas com possibilidade de utilização imediata, mesmo que não na sua total capacidade. Ciclo de vida ágil – junção das abordagens iterativa e incremental em um único tipo de ciclo de vida. Ao mesmo tempo que se permitem entregas constantes de versões de produtos, serviços ou condições com utilização imediata, os feedbacks também são frequentes, no intuito de aprender com a versão disponibilizada, analisá-la e depois melhorá-la. Figura 1 – Continuidade dos ciclos de vida Fonte: adaptado de PMI (2017b). 12 Nenhum ciclo de vida será perfeito para todos os tipos de projeto. Contudo, cada time deve encontrar um ponto de continuidade para prover equilíbrio nas ações demandadas ao trabalho do projeto, dependendo do contexto. Em ciclos preditivos, existe a vantagem de se trabalhar em um ambiente com baixo grau de incertezas e complexidade, permitindo poucas mudanças e poucas entregas intermediárias – às vezes, nenhuma –, adotando um sequenciamento previsível de ações. No ciclo iterativo, há possibilidade de feedbacks sobre trabalhos parcialmente concluídos, visando à melhoria contínua e a modificações constantes. Já no ciclo de vida incremental, o foco encontra-se nas entregas potencialmente escalonáveis com o cliente ou usuário final tendo a possibilidade de aproveitamento imediato do produto, serviço ou condição, entregue em uma versão inacabada. Por fim, o ciclo de vida ágil adota as características dos dois últimos ao mesmo tempo. Como frequentemente entregará versões parciais e receberá feedbacks, há emprego de conceitos de transparência de processos, confiança e engajamento entre time do projeto e cliente, ou usuário final, adotando o foco de priorizar as funcionalidades – veja o significado mais adiante, no item 1.4 deste mesmo material – mais importantes e que geram mais valor às principais partes envolvidas. O grande argumento para a utilização desse tipo de ciclo de vida é na questão estratégica, pois a visualização do Return on Investiment (ROI) – retorno sobre o investimento – será mais cedo do que em outros ciclos de vida, e isso facilita o processo de tomada de decisão. Por fim, como o gerenciamento de projetos dificilmente é tratado como uma ciência exata, haja vista as múltiplas variáveis no momento de desenvolver um projeto, o PMI (2017b) também determina que não há necessidade de utilização de um único tipo de ciclo de vida durante todo o projeto. É, sim, possível a combinação de elementos de abordagens distintas no intuito de criar o que é chamado de abordagem híbrida. E como o escopo se posiciona em relação a tudo isso? Para as modernas técnicas de gerenciamento de projetos, mais que desempenhar atividades distribuídas por processos sistêmicos, o verdadeiro sentido de gerenciar um projeto está em encontrar a solução para uma necessidade, gerar uma nova ideia ou até mesmo aproveitar uma oportunidade. A entrega precisa ser realizada, não mais com foco em planejamentos restritos, e, sim, com grau de adaptabilidade satisfatório para continuamente reconhecer onde e quando entregar valor, que precisa ser percebido pelo cliente ou usuário final. É, talvez, o maior desafio de todo o projeto. Afinal de contas, a percepção desses stakeholders em relação ao que está sendo gerado pode variar ao longo do projeto, principalmente com um produto, um serviço ou uma condição ganhando forma, e novas ideias amadurecendo o processo de concepção. Digamos, por exemplo, que um determinado cliente tenha solicitado a criação de uma caneta esferográfica. Como principais solicitações, determinou as suas características de peso, tipo de material, medidas, cor, etc. Porém, quando solicitou o produto, em um primeiro momento, ele também possuía o desejo que a caneta tivesse uma luz fraca intermitente que seria emitida no momento em que elaestivesse em operação. 13 Ora, não podemos esquecer que a função primária de negócio detectada no desenvolvimento desse produto (caneta) seria escrever em superfícies como papel e que a função secundária ou com menor proposta de entrega de valor seria a luz intermitente. A partir do momento em que as entregas constantes começam a ocorrer, e a caneta, mesmo ainda não totalmente pronta, começa a cumprir as principais características e as suas funções de negócio, não é difícil um cliente abdicar de determinadas características por já verificar a principal funcionalidade do seu produto ocorrendo conforme desejado. Portanto, é plenamente possível que em determinado momento do projeto esse cliente desista da luz para economizar no prazo e, quiçá, nos custos do projeto, pois o valor do produto entregue já foi percebido, sem a necessidade de complementação futura. O escopo, então, não é tratado como fixo, e, sim, variável ou estimado. Figura 2 – Triângulo invertido das restrições Fonte: adaptado de Serpa (2016). A figura 2 demonstra que, com a utilização de parâmetros de fixação de escopo, o processo de gestão deve focar a variação dos controles de custos e de cronograma – tempo – para que essa flutuabilidade permita entregar aquilo que foi efetivamente solicitado, da maneira como foi solicitado, nada a mais nem a menos. Já com a proposta de entrega de valor observada na estratégia de condução do projeto, o foco então passa a ser outro, e isso permite que, desta vez, o escopo flutue, deixando as restrições para as áreas de custos e de cronograma. Dentro da proposta de uma limitação de cronograma, por exemplo, um time poderá dizer que em dois meses entregará um determinado produto de uma determinada maneira. O trabalho de evolução desse produto será constantemente monitorado e controlado, significando que o escopo poderá adaptar-se às muitas variáveis do projeto. Desenvolver bons produtos ou serviços demanda tempo, consome dinheiro e necessita de equipes especializadas para cada etapa da produção. Com o objetivo definido de entregar um produto final que gere valor para o seu cliente ou usuário final, a tendência é que as principais partes interessadas, dependentes do resultado final do projeto, fiquem satisfeitas. 14 É comum escutar nas organizações termos que retratam essas condições demonstradas pelo triângulo invertido de uma maneira ligeiramente diferente. Alguns preferem chamar de escopo fechado, quando a proposta é priorizar o planejamento. Ao contrário, quando o escopo demonstra- se voltado para a proposta de entrega de valor, comumente, escuta-se o termo escopo aberto. Como pudemos perceber, ambas as possibilidades são boas e possuem o potencial de trazer os resultados esperados, sendo que a opção por uma das duas será em função da estratégia de condução do projeto e da correta avaliação em relação ao ciclo de vida mais recomendado a ser adotado – preditivo, iterativo, incremental, ágil ou híbrido –, de preferência alinhada com as estratégias organizacionais do ambiente onde o projeto está sendo gerado. O que não pode acontecer é tentar desenvolver um produto, um serviço ou uma condição sem a utilização de uma metodologia aderente às necessidades de desenvolvimento dos processos inerentes à execução do projeto e do modus operandi do time. Afinal, qualquer método, ou framework, é melhor do que método algum, principalmente quando falamos de algo que consome recursos, tempo, energia e dedicação de tantas pessoas. É muito importante escolher um método de trabalho apropriado, que faça sentido para o seu projeto e traga os resultados esperados. Conceitos importantes: ciclos iterativos, funcionalidades, MVP, DoR, DoD, critérios de aceitação e critérios de validação Os ciclos iterativos nasceram diante da necessidade de se gastar menos tempo inicial com descobertas a respeito do escopo, para que o time do projeto pudesse priorizar técnicas de implementações sucessivas, gerando descobertas e refinamentos constantes. Comparando as visões de um ciclo de vida completo em um projeto utilizador de um ciclo de vida preditivo e de um ciclo de vida ágil, conforme a figura 3, verificamos que em ambas as situações podem ser visualizados os cinco grupos de processos propostos pela metodologia preconizada pelo PMI. 15 Figura 3 – Comparação do nível de interação entre processos nos ciclos preditivo e ágil Fonte: adaptado de Serpa (2016). No entanto, na imagem superior, pode-se perceber que existe uma única jornada sequenciada por processos no ciclo de vida preditivo. Por mais que em muitas ocasiões esses grupos de processos se sobreponham, há um encadeamento lógico e natural começando com o grupo de iniciação e seguindo com planejamento, execução, monitoramento e controle – aqui, há uma exceção, pois o mesmo ocorre ao longo de todo o projeto –, finalizando com o grupo de encerramento. Quando comparamos isso com a imagem da parte de baixo da figura 3, que demonstra os ciclos de vida ágeis, podemos perceber que há o esforço de iniciação, planejamento, execução, monitoramento e controle, praticamente da mesma maneira, mas percebe-se que isso funciona para firmar a ocorrência do primeiro ciclo de iteração. Isso significa que para a primeira “fase” do projeto há um planejamento de 100% do que vai ocorrer dentro desse período, como também uma execução completa para o trabalho proposto pelo planejamento e, novamente, monitoramento e controle ocorrendo ao longo de todo o ciclo, mas não se evidencia o trabalho de encerramento do projeto. Isso ocorre porque perto de finalizar a execução já se pensa no próximo ciclo de iteração, e um novo planejamento para um novo período de ações é realizado. O processo ocorre quantas vezes forem necessárias para que o produto, o serviço ou a condição sejam entregues dentro das expectativas do cliente ou do usuário final. Porém, quando se programa o 16 último ciclo para a entrega definitiva, é possível verificar os esforços necessários ao encerramento do projeto como um todo, culminando também nos trabalhos de monitoramento e controle. Segundo Cruz (2015), cada ciclo iterativo precisa terminar sendo capaz de responder, pontualmente, às seguintes questões: Como podemos transformar a visão do produto em um produto real da melhor maneira possível? Como podemos alcançar a satisfação do cliente e o ROI desejado? Quando, no pior cenário, poderemos entregar a versão X do produto, serviço ou condição? Ao utilizar o conceito do ROI junto à segunda pergunta, o conceito poderá ser adaptado às reais necessidades da organização. Por exemplo, se uma empresa é orientada a gerir custos, o ROI pode ser mensurado pela relação entre lucro e custos do projeto ou da etapa do projeto, mas isso pode ser calculado em relação à qualidade, às partes interessadas – percepção de recebimento de valor de uma entrega –, ao escopo, etc. Um termo muito comum no momento de conduzir o trabalho do escopo ao longo de um projeto é o de funcionalidade. Uma funcionalidade é algo passível de execução, ou seja, algo definido como um comportamento ou até mesmo uma ação, delimitado por uma caixa de tempo – timebox –, presumindo que exista um momento de início para a execução dessa funcionalidade e um momento de fim, claramente definidos. As funcionalidades são definidas junto com o trabalho de definição do escopo do produto e de escopo do projeto, assunto que será estudado logo a seguir, na próxima unidade. É desejável que sejam criadas por meio da junção de um verbo e um substantivo. É um trabalho que exige do time do projeto um grau de atenção redobrado, pois um início mal estruturado poderá ser desastroso no momento em que o projeto evoluir e as implicações de um trabalho de escopo desestruturado começarem a influenciar os trabalhos das demais áreas de conhecimento, por exemplo, cronograma, recursos, qualidade, etc. Outro importante conceitoque auxilia na correta definição de funcionalidades é entender o que é um MVP – ou minimum viable product (service) (MVS) –, ou, na versão em português, mínimo produto (serviço) viável. Um MVP, segundo Caroli (2015), ao adaptar as ideias originais de Eric Reis, “é a versão mais simples de um produto que pode ser disponibilizado para o negócio, focando na entrega de valor de acordo com objetivos de negócios e as necessidades dos usuários”. O MVP serve, basicamente, para evitar desperdícios. Não se deve gastar tempo, recursos e a paciência dos seus principais stakeholders gerando algo que ao final pode vir a não agradar, em parte ou totalmente, ao seu cliente. Então, testa-se gradativamente o potencial de uma entrega, antes de enveredar muitos esforços no seu desenvolvimento. Assim, o time do projeto possuirá condições de dosar o ritmo de trabalho e focar a proposta de entrega de valor, pois funcionalidades que não são tão importantes ficam como últimas prioridades. 17 Em muitos momentos, com a evolução natural do produto, do serviço ou da condição, essa funcionalidade nem mesmo é desenvolvida, pois o interesse do cliente pode mudar, e a sua linha de base do escopo também muda. Figura 4 – Ciclo do MVP Fonte: adaptado de Caroli (2018). Esse conceito foi amplamente utilizado por empresas gigantes nos seus segmentos, por exemplo, Facebook e Apple. Garantir a maximização do ROI é a proposta desse ciclo do MVP. A partir de uma ideia ou necessidade inicial, cria-se uma primeira versão do produto, do serviço ou da condição. Essa versão não é perfeita, mas consegue incluir um grau mínimo das principais características desejadas para o produto. Por exemplo, imagine que o seu projeto seja construir um kart. O cliente solicitou que o kart fosse seguro, bonito e ergonômico. Em determinados casos, como o item vinculado à segurança, existem normas legais e técnicas que permitirão o time do projeto definir o grau mínimo de padrão de segurança exigido para um kart. A partir do momento em que esse padrão mínimo for atingido em uma primeira versão do produto, já começa a surgir a ideia do MVP, apesar de não podermos considerá-lo como um MVP ainda. Explico: o kart pode ser o mais seguro desenvolvido no mundo, mas as características de beleza e ergonomia não estiverem ainda implementadas, não conseguimos atingir a primeira versão desse produto. Portanto, será considerado um MVP apenas quando conseguir unificar os padrões mínimos de segurança, beleza e ergonomia. Contudo, um padrão de beleza seria uma avaliação subjetiva, e a opinião do cliente, de pessoas ligadas a ele ou até mesmo a opinião pública terá um peso fundamental nessa aprovação. Para que o time defina isso com propriedade, deverá estabelecer padrões de beleza e então descobrir qual seria o padrão mínimo. Depois da primeira versão desenvolvida, podem-se então colher feedbacks ou medir detalhes no intuito de juntar a maior quantidade de informação válida 18 possível para que esses dados possam ser analisados, e novas ideias possam surgir. Assim, um novo ciclo do MVP poderá ser gerado. Trabalhar o escopo do projeto utilizando o conceito do MVP não só permitirá ao time do projeto um aprendizado constante em relação ao produto ou serviço que está sendo gerado, como também será importante para receber feedbacks intermediários, antes do produto totalmente finalizado. Somente por meio desses feedbacks é que o time do projeto poderá analisar detalhes pertinentes à implementação das funcionalidades requeridas pelo escopo do produto e então decidir o rumo a ser tomado em um próximo ciclo de iteração, obviamente, nunca perdendo de vista o objetivo de negócio com o escopo do projeto capitaneando os processos de tomada de decisão, conforme demonstrado no projeto donut, na figura 5. Figura 5 – Evolução do MVP Fonte: adaptado de Jeffery (2018). O MVP permitirá ao criador do donut, verificar detalhes como: se o tempo de cozimento da massa foi corretamente executado, se a receita conseguiu ser fielmente cumprida e os ingredientes agradam ao paladar dos potenciais consumidores, se o tamanho atende às expectativas, etc. Com o recolhimento dessas percepções, junta-se uma base de informações suficientes para o processo de tomada de decisão e evolução natural do produto, gerando, na sequência, novas versões que poderão produzir maior grau de satisfação junto ao cliente ou usuário final. Por fim, é necessário também compreender a importância dos termos: definition of ready e definition of done. O curioso é que, ambas as palavras ready e done possuem o mesmo significado em português: pronto. Porém, há uma grande diferença no emprego desses dois termos quando o trabalho do gerenciamento do escopo é exigido. Quando o produto, o serviço ou a condição que se vai gerar existe apenas na imaginação de alguém ou de um grupo de pessoas, é necessário que as suas características e condições sejam inicialmente definidas. Esse trabalho, ou melhor, essa visão de produto, que é elaborada antes do próprio produto em si estar pronto, chama-se definition of ready (DoR). É como se define o que seria considerado pronto em relação à visão desse produto. A partir do momento em que essa visão for gerada, servirá como ponto de partida para o time do projeto. É como se dissessem: “Já temos condições de compreender a ideia e estamos prontos para gerar o produto”. Normalmente, quando se define uma característica ou condição, define-se também o seu critério de validação. 19 Aqui, cabe um aparte para diferenciar critério de validação e critério de aceitação. O primeiro trata de garantir que a condição ou característica desejada foi efetivamente cumprida, e o segundo trata de realizar a formalização da entrega do produto – ou parte do produto, do serviço ou da condição –, também conhecido como handover. Em termos práticos, digamos que o seu projeto tenha sido entregar uma ponte com 5 metros de comprimento, 2 metros de altura, além de dois pilares de sustentação. Como validar se a ponte possui realmente 5 metros de comprimento? Existem diversas maneiras de se fazer isso, desde um processo de observação ou até mesmo uma medição com instrumentos de precisão. A questão não é fazer juízo de valor se o critério de validação é bom ou ruim, mas, sim, que exista um ou mais critérios. Logicamente, quanto mais preciso for(em) o(s) critério(s), maiores as chances de garantir que o produto foi desenvolvido conforme as orientações desejadas. Além disso, como ter certeza de que os 5 metros de comprimento foram aceitos pelo cliente do projeto e que o time do projeto não precisa – em tese – preocupar-se mais com esse detalhe? É necessário, por exemplo, que haja uma lista de verificação de características do produto e o cliente chancele de tempos em tempos os avanços das entregas. O “de acordo” ou a ciência explícita do cliente em relação às entregas do projeto são considerados critérios de aceitação. Ferramentas como relatórios de inspeção são bem eficazes nesse momento. Os critérios de aceitação podem ser estipulados para entregas intermediárias, mas o mais famoso de todos é, sem dúvidas, o Termo de Encerramento do Projeto (TEP), onde ocorre a entrega final do produto, do serviço ou da condição. Figura 6 – Fluxo DoR/DoD Para encerrar essa parte dos nossos ensinamentos, faltou definir o que vem a ser o termo DoD – definition of done, que nada mais é, então, do que conferir se o produto, o serviço ou a condição, depois da sua conclusão – em parte ou no todo –, está de acordo com as características desejadas no momento do DoR, a situação clássica de verificar se o realizado está de acordo com o que foi previsto. Em linhas gerais, então, temos o pronto “de antes” (DoR), que funciona como uma visão de futuro; e o pronto “de depois” (DoD), que confirma se o que foi desenvolvido está de acordo com a definição inicial – ou modificada ao longo do projeto – do produto.20 Diferença entre escopo do projeto e escopo do produto Segundo o PMI (2017a), o termo escopo pode ser utilizado, dentro do contexto do gerenciamento de projetos, de duas maneiras: Escopo do Produto – os recursos e as funções que caracterizam um produto, serviço ou resultado. Escopo do Projeto – o trabalho realizado para entregar um produto, serviço ou resultado com os recursos e as funções especificados pelo escopo do produto. Em termos mais simples, para cumprir o escopo do produto, o time do projeto precisa compreender o que se pede para ser desenvolvido ou gerado e precisa caracterizar corretamente as suas propriedades no intuito de entregar uma versão final, de acordo com o que é esperado pelo cliente do projeto ou pelo usuário final. Já em relação ao escopo do projeto, depois de o time do projeto conseguir compreender o que precisa ser gerado, agora é o momento de definir como isso será gerado. É necessário definir as atividades de planejamento e de gerenciamento que garantam a realização – e não mais a definição – da entrega. Na prática, como perceber melhor essa diferença? Vamos utilizar como exemplo um projeto fictício de lançar um curso on-line de gerenciamento de projetos. O escopo do produto seria definir as características do curso, como carga horária, conteúdo e tipo de ambiente virtual a ser adotado, entre outras características. Já o escopo do projeto seria definir como conseguir as licenças necessárias para registrar o curso nos órgãos competentes, contratar mão de obra, alugar servidores de internet, etc. Ainda utilizando o exemplo do curso on-line, apenas para corroborar alguns ensinamentos da unidade anterior, algumas funcionalidades possíveis seriam: desenvolver conteúdo, estruturar trilha – do curso – e definir pré-requisitos. Em determinados momentos, pode haver uma confusão natural entre os dois termos. Isso ocorre quando o escopo do projeto é visto como incluindo o escopo do produto na sua definição de trabalho. Não é uma prática proibida, mas é sempre importante o time do projeto compreender como lidar com determinadas caracterizações do escopo, no intuito de não ocorrerem problemas de interpretação desses conceitos durante o andamento do projeto. Termo de abertura do projeto e processos de gerenciamento do escopo O gerenciamento do escopo possui influência direta no sucesso – assim como no fracasso – de um projeto. Exatamente por isso, costuma ser um dos temas mais explorados entre os 13 capítulos do Guia PMBOK®. Um escopo precisa ser extremamente bem definido e mais ainda, bem 21 controlado. Todo o restante do projeto depende disso. O gerenciamento do escopo possui o dom de potencialmente influenciar todas as demais áreas de conhecimento de um projeto. Sendo assim, um correto emprego dos processos de gerenciamento do escopo é visto como fator crítico de sucesso e visa a garantir que o time do projeto realize todo o trabalho requerido no intuito de assegurar a fiel entrega de todos os objetivos do projeto, da melhor maneira possível, de preferência com reconhecimento de valor junto às principais partes envolvidas. Antes mesmo de a área de escopo iniciar propriamente os trabalhos, o time do projeto já arregaçou as mangas e providencia detalhes que serão importantes para o futuro do trabalho. De acordo com o PMI (2017a), todo projeto inicia formalmente os seus trabalhos após a aprovação de um Termo de Abertura do Projeto (TAP). Os projetos são iniciados por uma entidade externa ao projeto, tais como um patrocinador, programa, escritório de gerenciamento de projetos (EGP) ou dirigente do órgão diretivo do portfólio ou o seu representante autorizado. O responsável pela iniciação do projeto ou patrocinador do projeto deve estar em um nível apropriado para captar o financiamento e dedicar recursos para o projeto (PMI, 2017a, p. 113). Como primeiro documento do projeto, o TAP representa o esforço inicial do time do projeto – time esse que provavelmente ainda não estará completo – para depositar todas as informações possíveis, e passíveis de serem transmitidas, a respeito do projeto, de maneira sumarizada, por meio de um documento de autorização formal. Ele deve corroborar a autoridade do gerente de projeto selecionado para liderar as ações, definindo o seu grau de autonomia, para que ele tenha toda a autoridade necessária para aplicar os recursos organizacionais em prol do trabalho do projeto, além de demonstrar também o grau de compromisso da organização com o trabalho que será desempenhado. Existe vida antes do projeto. Esforços já foram cometidos no sentido de avaliar cenários, pesquisar mercados, realizar estudos de viabilidade e o que mais for necessário para minimizar surpresas após a formal implementação do projeto. Tudo o que é realizado antes do projeto e que se relacione com o escopo que será gerado transforma-se em informação para auxiliar no início dos trabalhos do projeto. Na maioria das vezes, o TAP vem recheado de anexos contendo valiosos documentos pré-projeto (veja as “entradas” descritas na figura 7). Dependendo do grau de importância e de investimento do projeto, é comum, por exemplo, a realização de pré-projetos ou projetos-base para investigar melhor possíveis condições futuras. O processo que visa à elaboração de um TAP é veiculado à área de conhecimento de integração e encontra-se descrito no processo 4.1 – Desenvolver o Termo de Abertura do Projeto, constante do grupo de processos de iniciação, ou seja, antes do planejamento, no Guia PMBOK® (PMI, 2017a). 22 Para que se possa confeccionar um TAP de qualidade é importante que sejam observadas as entradas, ferramentas/técnicas e saídas demonstrados na figura 7, abaixo: Figura 7 – Processo 4.1: desenvolver o termo de abertura do projeto Fonte: PMI (2017a). É de bom tom que o TAP seja aprovado pelo patrocinador do projeto e, mesmo que não exista um formato ou template específico para confeccioná-lo, deve haver muita atenção no momento de gerar essa importante etapa do projeto. O Guia PMBOK® preconiza que “ele documenta informações de alto nível sobre o projeto e sobre o produto, serviço ou resultado que o projeto deve satisfazer” (PMI, 2017a) e, exatamente por conta disso, possui a capacidade de garantir um grau ótimo de entendimento comum aos principais stakeholders, descrevendo quais são as entregas e os marcos mais importantes, além de clarificar a visão do produto – que será melhorada quando o time de escopo do projeto der sequência aos trabalhos –, do serviço ou da condição que será gerada. Segundo Massari (2016), da mesma maneira que um TAP serve para definir a visão de um produto e formalizar o início dos trabalhos com foco em um planejamento mais detalhado, muitas outras técnicas podem ser utilizadas, por exemplo: inception enxuta, tweet charter, vision box, project model canvas, press release, elevator statement ou exploração 360º. Já em relação ao conteúdo de um TAP, o quadro 1 descreve o que é desejado e, se for o caso, não somente isso, mas quaisquer outros detalhes que forem julgados pertinentes pelo elaborador do artefato. 23 Quadro 1 – Informações de alto nível requeridas em um TAP finalidade do projeto; objetivos mensuráveis do projeto e critérios de sucesso relacionados; requisitos de alto nível; descrição de alto nível do projeto, seus limites e entregas-chave; risco geral do projeto; resumo do cronograma de marcos; recursos financeiros pré-aprovados; lista das partes interessadas chave; requisitos para aprovação do projeto (ou seja, o que constitui o sucesso do projeto, quem decide se o projeto é bem-sucedido e quem autoriza o encerramento do projeto); critérios de término do projeto (ou seja, quais são as condições que devem ser cumpridas para encerrar ou cancelar o projeto ou a fase); gerente do projeto designado, responsabilidade e nível de autoridade e nome e autoridadedo patrocinador ou outra(s) pessoa(s) que autoriza(m) o termo de abertura do projeto. Fonte: PMI (2017a). Depois do advento do TAP, os esforços serão voltados ao Plano de Gerenciamento do Projeto (PGP), e um dos componentes principais desse documento é o Plano de Gerenciamento do Escopo (PGE), que será a base para o gerenciamento do escopo do projeto, definindo todas as regras inerentes ao trabalho do escopo para o time do projeto. Segundo o PMI (2017a), o gerenciamento do escopo do projeto encontra-se presente apenas em dois grupos de processos: planejamento, com quatro processos; e o de monitoramento e controle, com outros dois processos, conforme pode ser verificado no quadro a seguir. Quadro 2 – Processos do gerenciamento do escopo (Adaptado de PMI (2017a) iniciação planejamento execução monitoramento e controle encerramento 5.1 Planejar o gerenciamento do escopo. 5.5 Validar o escopo. 5.2 Coletar os requisitos. 5.3 Definir o escopo. 5.6 Controlar o escopo. 5.4 Criar a EAP. 24 A integração da área de escopo com as demais áreas de conhecimento preconizadas pelo Guia PMBOK® é essencial, pois a partir do momento em que as quatro etapas de planejamento do escopo começam a gerar informações para o time do projeto, as ações passam a girar em função do fiel cumprimento do que estiver estipulado para ser entregue. Cumprem-se então todas as atividades necessárias para estruturar, definir e conscientizar as principais partes interessadas a respeito do trabalho necessário à concretização do escopo do projeto e paulatinamente os processos são realizados. Inicia-se com o processo 5.1, que fornecerá informações para o 5.2, o 5.3 e o 5.4. Mesmo que não haja uma versão final de um PGE, essas informações já geram energia suficiente para que os requisitos possam começar a ser colhidos, documentados, analisados e priorizados. Por sua vez, as informações do processo 5.2 também serão importantes para os trabalhos do 5.3 e do 5.4, que trabalharão artefatos como a declaração do escopo do projeto e a linha de base de entregas, também conhecida como Estrutura Analítica do Projeto (EAP). O curioso é que, depois da conclusão de uma primeira versão aplicável da EAP, as informações retornam aos pontos de origem, ou seja, uma linha de base pronta no processo 5.4 retorna informações para o 5.3, para o 5.2 e para o 5.1. Então, o ciclo se fecha, pois todo o fluxo de ida e de volta foi realizado por meio de mútuas ações do time do projeto, visando ao planejamento do escopo. Com o planejamento do escopo do projeto pronto, outras áreas também vão reforçar os seus respectivos planos complementares no intuito de gerar um único e grande documento: o PGP. Quando uma entrega encontra-se pronta para validação, há uma sincronia da área de escopo com a área de qualidade. Somente após o “ok” do time de qualidade é que o escopo, ou parte dele, poderá ser validado – processo 5.5. Entretanto, sempre que houver algum tipo de problema ou desconformidade em relação àquilo que foi planejado nos processos iniciais – 5.1 a 5.4 –, há a possibilidade de controlar o escopo – processo 5.6 – acionando o controle integrado de mudanças do projeto, processo vinculado à área de integração. Uma visão mais detalhada a respeito desses processos nos será fornecida nas próximas unidades do nosso material. Retrospectiva do módulo O Módulo I iniciou a sua trajetória trazendo a evolução histórica do conceito de escopo. Desde as primeiras abordagens vinculadas a Peter Drucker e o conceito de Administração por Objetivos, passando pela evolução de uma melhor definição e mensuração de objetivos, até chegarmos aos dias de hoje e à massiva importância destinada a esse conceito por meio dos principais institutos de gerenciamento de projetos do mundo. 25 Atualmente, por advento do Agile Practice Guide – Guia das Práticas Ágeis –, orientado para ser utilizado em conjunto com o Guia PMBOK®, pudemos visualizar que o tratamento destinado ao escopo precisa ser determinado logo no momento de optar pelo ciclo de vida do projeto e como ele será trabalhado. As opções variam entre ciclos preditivos, com maior previsibilidade e segurança para trabalhar um escopo fechado com foco em uma documentação de planejamento restrita em muitas situações, até ciclos ágeis, onde a palavra de ordem é “mudança”, e o time precisa estar preparado para adaptar-se às múltiplas variáveis de um projeto, com um escopo aberto e flexível, voltado para a satisfação das principais partes interessadas, por meio da proposta de entrega de valor. Essas considerações puderam ser observadas por meio de uma avaliação junto à teoria do triângulo invertido das restrições em projetos. Na sequência, os principais conceitos vinculados ao gerenciamento do escopo em projetos foram tratados e tivemos a oportunidade de conhecer os ciclos iterativos, que exigem um planejamento e uma execução para cada etapa de evolução, visando sempre às entregas parciais com o objetivo de colher feedbacks e melhorar o produto, o serviço ou a condição que está sendo gerada, de maneira gradativa e muitas vezes, empírica. Também avaliamos os conceitos de DoR, a versão de “pronto” antes de o produto ser gerado, e DoD, a versão de “pronto” depois da geração do produto, que exige uma comparação entre planejado X realizado para que se obtenham os resultados do projeto. A importância de trabalhar o conceito de um MVP foi demonstrada por mais de um exemplo, sendo possível verificar que quanto mais informação tem-se a respeito de um determinado produto, maior a chance de evoluírem os trabalhos com redução de gastos e desperdícios. A aplicação desse conceito proporciona não só um alto grau de aprendizado, como também objetiva proposta de entrega de valor – percebido –, gerando versões com características mínimas implementadas, para validá-las e melhorá-las. Também foram estudados os conceitos de funcionalidade e de caixa de tempo – timebox –, assim como a diferença entre critério de aceitação e critério de validação, termos extremamente importantes e que, até hoje, são muito confundidos por profissionais do mercado. A diferenciação entre escopo do projeto e escopo do produto também é vital para o bom andamento dos trabalhos do gerenciamento do escopo em um projeto. Foi então, possível observar que o escopo do produto são as características inerentes ao produto, ao serviço ou à condição que está sendo gerada como objetivo do projeto, e o escopo do projeto é o meio para se chegar a esse fim, determinando todos os trabalhos que precisam ser realizados para alcançar a entrega final. Por fim, adentramos nos processos descritos pelo Guia PMBOK®, onde primeiro foi-se verificado o que é essencial para que um projeto possa ser formalmente iniciado, os esforços de uma fase pré- projeto e o principal documento do grupo de processos de iniciação: o TAP. Não só foram ilustrados os processos e procedimentos envolvidos para o nascimento de um projeto como também foi demonstrado o princípio dos trabalhos com os processos do gerenciamento do escopo, incluindo os grupos de processos do planejamento e de monitoramento e controle, onde a parceria com as áreas de conhecimento da qualidade e da integração são fundamentais para o sucesso do bom trabalho do escopo. Neste módulo, serão evidenciados os dois processos iniciais do gerenciamento do escopo em projetos, ambos alocados no grupo de processos do planejamento, conforme preconiza o Guia PMBOK® (PMI, 2017a). Por consequência, visando a uma boa compreensão dos trabalhos do gerenciamento do escopo em projetos, também serão demonstrados os principais artefatos inerentes a esses processos, quais sejam: o PGE, o plano de gerenciamento dos requisitos, o registro de requisitos e a matriz de rastreabilidade dos requisitos. Além disso, mergulharemos também em um melhor entendimento do termo “requisitos” e dos seus possíveis desdobramentos. Algunsnovos conceitos e abordagens foram introduzidos por meio da última versão do Guia PMBOK®. Esses detalhes precisarão de uma atenção especial na condução do módulo, pois fazem parte do cotidiano de qualquer profissional que trabalhe com o gerenciamento do escopo. Processo “Planejar o Gerenciamento do Escopo”: peculiaridades, entradas, técnicas e ferramentas Sempre que estou diante de um novo grupo tratando do assunto gerenciamento do escopo em projetos, uma pergunta que frequentemente faço nos momentos iniciais é: “Quem aqui já viu ou fez um plano de gerenciamento do escopo?”. No início da implementação desse hábito, a minha surpresa era grande, por nenhum, ou no máximo um ou dois indivíduos, conhecer algo sobre esse documento em particular. Porém, com o passar do tempo, aliado aos constantes trabalhos de gerenciamento de projetos realizados profissionalmente, pude deixar essa surpresa de lado. Afinal de contas, na prática, tal documento é realmente uma das coisas mais difíceis de encontrar em um projeto. Não que o documento não seja eficiente, muito pelo contrário, mas a realidade, notadamente a brasileira, salvo melhor juízo, não é de se perder muito tempo com MÓDULO II – PLANEJAMENTO DO ESCOPO: PARTE I 28 documentações de projetos em demasia, a menos que os colaboradores de uma determinada organização sejam impelidos a isso, por motivo de lei, por exemplo. Em muitos casos, as próprias empresas já possuem normas internas ou recomendações de processos que asseguram um cumprimento do trabalho de um gerenciamento do escopo alinhado com boas práticas organizacionais, mesmo que isso não seja amplamente divulgado. A sensação então é que os representantes do time do projeto sabem o que precisa ser feito para um correto gerenciamento do escopo, mas não sabem explicar como chegaram às vias de fato. Passa a ser um intangível, muitas vezes enraizado por meio de uma cultura organizacional. Por fim, na grande maioria das vezes, não sentem a necessidade de gerar um PGE. Como essa etapa é “pulada”, às vezes até negligenciada, sem mais delongas, apenas os demais processos do planejamento do escopo demonstram-se nítidos e compreendidos mais facilmente para o dia a dia das atividades de um gerenciamento do escopo, por exemplo, lidar com os requisitos de um projeto. Então, o que eu tenho feito para conseguir explicar a incrédulos alunos e profissionais do gerenciamento de projetos a respeito da importância de um bom PGE em projetos? Simples: basta demonstrar o que, efetivamente, é um PGE em projetos, a sua importância e o que ele pode trazer de benefícios quando corretamente utilizado em um projeto. A partir do momento em que profissionais de projetos conhecem o artefato – o PGE –, conseguem compreender detalhes que antes se perdiam potencialmente ao longo de trabalhos até mesmo bem gerenciados, mas, de alguma forma, ficava a sensação de ter deixado algo para trás. Sendo assim, a grande função de um PGE é tratar a maneira ou, melhor dizendo, as normas ou condições por meio das quais o assunto “escopo” – escopo do projeto e escopo do produto – será conduzido ao longo de um projeto específico, por exemplo, como serão definidos, validados e controlados. Isso se faz necessário para que o time do projeto não tenha dúvidas a respeito de como construirá a sua EAP ou qual software poderá ser utilizado para registrar o avanço dos trabalhos, apenas para citar rápidos exemplos. Como o próprio PMI (2017a, p.166) preconiza, “as tendências e práticas emergentes para o gerenciamento do escopo do projeto incluem, mas não estão limitadas a, um foco em colaborar com os profissionais de análise de negócios para facilitar a implementação bem-sucedida do produto, serviço ou resultado final do programa ou projeto”. Isso denota maior preocupação do instituto com um trabalho de gerenciamento do escopo não sendo meramente realizado dentro da esfera do projeto, mas, sim, em um ambiente de governança corporativa em que colaborações de setores de análises de negócio podem trazer grandes benefícios. Além disso, como cada projeto é exclusivo, o time do projeto, com auxílio do gerente do projeto, precisará ajustar a maneira como os processos do gerenciamento do escopo do projeto são conduzidos no intuito de melhor adaptar o trabalho realizado com o modelo de continuidade do ciclo de vida do projeto: preditivo, iterativo, incremental, ágil ou híbrido. 29 O processo de planejar o gerenciamento do escopo do projeto será realizado uma vez ou, então, em momentos definidos previamente, ao longo do projeto. A figura 8 dimensiona quais são as entradas, ferramentas e saídas, conforme orientação do PMI (2017a). Figura 8 – Processo 5.1: planejar o gerenciamento do escopo Fonte: PMI (2017a). A partir daqui, cabem algumas considerações, pois apesar de o PMI preconizar a saída de dois artefatos – o PGE e o plano de gerenciamento dos requisitos –, em alguns casos, o segundo pode estar contido dentro do primeiro, e teríamos um único documento servindo como componente de um PGP. A opção por redigir dois documentos ou um só é mais uma customização que poderá ser vivenciada pela equipe do projeto, contanto que seja mantido o foco na melhoria de processos internos e não afete uma boa condução dos trabalhos do gerenciamento do escopo ao longo do projeto ou do programa. O TAP é a uma das principais fontes de informação no momento de confecção de um PGE; afinal de contas, é o documento mais atualizado e completo até esse momento do projeto. Sendo assim, é muito comum que seja considerado como primeira referência de entrada para recebimento de informações. Na sequência, vemos a preocupação do PMI com um componente importante – possivelmente, ainda não finalizados – do plano de gerenciamento do próprio projeto, por meio do plano de gerenciamento da qualidade, que influencia diretamente como o escopo do projeto e o escopo do produto poderão ser gerenciados. Uma empresa detentora de um determinado padrão ISO de qualidade poderá influenciar como o trabalho de condução do escopo – escopo do projeto – será determinado, por exemplo. Além, obviamente, da descrição do ciclo de vida do projeto e, por consequência, qual será a abordagem de desenvolvimento escolhida pelo time do projeto, por exemplo, iterativa ou ágil. Essas definições serão fundamentais para determinar as orientações de como o escopo será tratado – gerenciado – ao longo do projeto ou programa. Também, não podendo deixar de avaliar as informações constantes nos fatores ambientais da empresa, aqui notadamente representados por cultura organizacional, padrão 30 de infraestrutura, condições de mercado e modus operandi de administração. Por fim, avaliam-se políticas, procedimentos, históricos pertinentes de informações e lições aprendidas, todos considerados possíveis ativos de processos organizacionais de uma organização. Como ferramentas e técnicas, há sugestão para a utilização de opinião especializada, que vem a ser, nesse caso, não só a experiência de indivíduos ou de coletividades com conhecimento ou capacitação especializada vinculada a projetos de mesmo porte ou estrutura anteriores, mas também informações sobre o setor, a disciplina e a área de aplicação do projeto ou programa a ser desenvolvido. Em conjunto, recomenda-se a utilização de técnicas de análises de dados, com maior enfoque na análise de alternativas, e de reuniões, podendo incluir qualquer parte interessada com responsabilidade por conduzir quaisquer dos processos do gerenciamento do escopo, entre outros, mediante necessidade. Já as saídas, caracterizadas como os artefatos já citados anteriormente, serão tratadas com mais propriedades na unidade seguinte. Processo “Planejar o Gerenciamento do Escopo”: saídas Os dois artefatos preconizados como saídas para o processo “planejar o gerenciamento do escopo” são, conforme figura 8, o PGE e o plano de gerenciamento de requisitos, ambos componentesdo PGP. Segundo o PMI (2017a), o PGE inclui: Quadro 3 – Itens desejáveis em um PGE o processo de preparação da declaração do escopo do projeto; o processo que possibilita a criação da EAP a partir da declaração do escopo do projeto detalhada; o processo que define como a linha de base do escopo será aprovada e mantida e o processo que especifica como será obtida a aceitação formal das entregas do projeto concluídas. Fonte: PMI (2017a). Como todo documento de projeto, o que se demonstra por meio desta unidade é uma proposta de artefato para contemplar os trabalhos recomendados no processo “planejar o gerenciamento do escopo”, sendo que, como todo documento constante em um plano de gerenciamento de projeto, trata-se de mera sugestão, no entanto, com observância às recomendações preconizadas pela versão mais recente do Guia PMBOK®. Contudo, é preciso recordar que cada projeto possui as suas próprias especificidades, e é sempre recomendável que um template não seja absoluto para a confecção de artefatos em todos os projetos possíveis e imaginários. Talvez aqui, contemple-se a grande dificuldade do ambiente do gerenciamento profissional de projetos: determinar templates padrões para todas as ocasiões. É de bom 31 tom que o time do projeto possa utilizar um template padronizado, mas, que acima de tudo, avalie a correta aplicação dos seus itens e o atualize conforme as necessidades do projeto em que será aplicado. Adaptando os itens recomendados via Guia PMBOK®, assim como o modelo demonstrado por Snyder (2013), esse material sugere um PGE como descrito no quadro a seguir. Quadro 4 – Template proposto para um PGE plano de gerenciamento do escopo título do projeto: ___________________________________________________________ data: ___/___/___ 1 – desenvolvimento da declaração de escopo (itens essenciais e desejáveis) 2 – estrutura da EAP (Como será organizada? Qual ferramenta será utilizada?) 3 – dicionário da EAP (Identificar os campos e o nível de detalhes que serão utilizados) 4 – manutenção da linha de base do escopo (Quais tipos de mudanças de escopo precisam passar pelo processo formal de controle? Qual é a frequência de avaliação do escopo do projeto?) 5 – priorização das mudanças de escopo e respostas (Como as mudanças serão gerenciadas? Diferenciar o que é mudança e o que é revisão de escopo) 6 – aceitação da entrega (Identificar como a entrega será aceita, incluindo documentos para aprovação) 7 – integração entre escopo e requisitos 8 – administração do PGE Fonte: adaptado de Snyder (2013). No item 1, é interessante descrever não só o que se deseja em uma futura construção de uma declaração de escopo (artefato que será gerado como saída do processo 5.3 – Definir o escopo), mas também, na medida do possível, como ela será desenvolvida, incluindo quaisquer análises de alternativas, pesquisas ou, por exemplo, entrevistas com uma parte interessada importante do projeto. O item 2 descreve que tipo de EAP será confeccionada – piramidal, em tabela, mapa mental, etc. –, além de descrever se ela será norteada, ou seja, a maneira de o time do projeto enxergar as 32 entregas do projeto, que poderá ser descrevendo as fases do projeto, geografia, principais entregas ou ainda de qualquer outra maneira que julgar necessária. Diretrizes para estabelecer contas de controle e pacotes de trabalho poderão ser, por exemplo, também descritos nesse item. O item 3 determina como será redigido o dicionário da EAP, e o item 4 é autoexplicativo, determina o intervalo de tempo em que é realizado o trabalho de avaliação do escopo do projeto, bem como as necessidades de realizá-lo mediante um processo formal e como documentá-lo. No item 5, caracterizar corretamente o que é uma mudança de escopo e o que é uma revisão de escopo, além dos trâmites para aprovação e documentação dessas subetapas. Aqui, dependendo do ciclo de vida do projeto determinante para a abordagem a ser empregada, poderá haver alguma distinção na maneira de se apresentar esse conceito. No item 6, podem-se incluir os termos de aceite para as entregas mais importantes ou determinados milestones do projeto. No item 7, descrever como os itens de escopo do projeto e do produto serão abordados na declaração de escopo do projeto e na EAP, além de identificar os pontos de integração entre validação de requisito e do escopo do produto. No item 8, determinar quem é o responsável pela administração e manutenção do PGE devidamente atualizado e, na sua ausência, quem poderá ser considerado como substituto habilitado para exercer a sua função. Por fim, assinaturas, especificação de versões e chancelas são determinações específicas de cada organização. Já o plano de gerenciamento de requisitos, segundo o PMI (2017a), deve incluir: Quadro 5 – Itens desejáveis em um plano de gerenciamento de requisites como as atividades dos requisitos serão planejadas, acompanhadas e reportadas; atividades de gerenciamento da configuração, tais como: a maneira como as mudanças serão iniciadas; como os impactos serão analisados; como serão rastreados, monitorados e reportados; assim como os níveis de autorização necessários para aprovar tais mudanças; processo de priorização dos requisitos; métricas que serão usadas e os argumentos que justificam o seu uso; e uma estrutura de rastreabilidade que reflita quais atributos dos requisitos serão capturados na matriz de rastreabilidade. Fonte: PMI (2017a). Segundo PMI (2017c), 47% dos projetos malsucedidos não atingem as metas originais devido à falta de gerenciamento de requisitos. No relatório de 2017 da pesquisa The Pulse of the Profession, 39% dos projetos malsucedidos identificam a coleta de requisitos imprecisos como causa principal dessa falha. O trabalho de gerenciamento de requisitos se inicia, normalmente, de uma 33 maneira muito sutil e é comum vê-lo negligenciado por muitos times de projeto. A vontade ou necessidade de fazer, na maioria das vezes, suplanta o ato de fazer da maneira apropriada. Requisitos são a essência de qualquer projeto, e sempre que forem tratados de maneira imprópria, haverá uma chance altíssima de trazer infortúnios e dissabores com as principais partes interessadas do projeto. Exatamente por isso, é recomendável a utilização de um plano de gerenciamento de requisitos desde os primórdios do planejamento do escopo. Quadro 6 – Template proposto para um plano de gerenciamento de requisitos plano de gerenciamento de requisitos título do projeto: ___________________________________________________________ data: ___/___/___ 1 – coleta 2 – análise 3 – categorias (identificação: requisitos de negócios, qualidade, PI, etc.) 4 – documentação 5 – priorização 6 – métricas 7 – estrutura de rastreabilidade de requisitos (Identificar as informações que serão utilizadas para conectar a origem do requisito até a sua entrega) 8 – rastreamento (frequências e técnicas) 9 – geração de relatórios (ferramentas, periodicidade, etc.) 10 – critérios de validação 11 – gerenciamento da configuração e sistema de controle de mudanças nos requisitos (Define níveis de autorização, de visualização, de documentação, etc.) 12 – administração do PGR Fonte: adaptado de Snyder (2013). No item 1, define-se como os requisitos serão coletadas, os momentos – ciclos – e as técnicas que poderão ser utilizados. No item 2, deve-se descrever como será realizado o processo de análise desses requisitos já coletados, verificando o impacto sobre a abordagem do produto ou do projeto. No item 3, determinar como os requisitos serão organizados e classificados. Já no item 4, demonstrar como os requisitos serão documentados. A maneira de documentar os requisitos pode variar de uma planilha em Excel para um template mais elaborado, contendo macros, descrições e anexos detalhados. 34 Em relação ao item 5, existemmuitas técnicas de priorização de requisitos, desde as mais simples de determinar níveis alto-médio-baixo ou por números, por exemplo, mas o importante é caracterizar como se demonstrarão os requisitos inegociáveis, no intuito de traçar uma estratégia de priorização de entrega de valor. Ainda como maneiras de priorização de requisitos, existem técnicas simples que podem ser facilmente adotadas pelo time do projeto e poderão agregar muito valor ao trabalho do gerenciamento de requisitos. Neste material, serão descritas apenas duas, das muitas possíveis: a matriz de importância X urgência e a técnica conhecida como MoSCoW. Quadro 7 – Matriz importância X urgência urgentes não urgentes im po rt an te s Acrescentam valor e resultados e são de resolução imediata. Não são de resolução imediata, mas acrescentam valor e resultados. nã o im po rt an te s São de resolução imediata, mas não acrescentam valor. Não acrescentam valor nem são de aplicação imediata. A matriz de importância X urgência é uma técnica simples que utiliza os quadrantes de uma matriz com o eixo de grau de importância – alta/baixa ou sim/não – e o outro eixo de grau de urgência para os requisitos serem implantados (idem). A técnica é simples, pois consiste basicamente em separar os requisitos determinando se uma funcionalidade, por exemplo, é considerada com alto ou baixo grau de importância e com alto ou baixo grau de urgência. Os requisitos que forem classificados com alta importância e alta urgência são aqueles que visivelmente acrescentam valor ou resultado imediato e possuem um grau de resolução também imediato. Serão considerados requisitos essenciais, e precisam ser implantados o mais rápido possível. Os requisitos classificados com baixo grau de importância e alta urgência são considerados secundários, pois, apesar de serem de resolução imediata, não geram valor aos olhos dos principais stakeholders. Os requisitos classificados entre alto grau de importância e baixo grau de urgência também serão considerados secundários. A diferença é que, apesar de não serem considerados como resolução rápida ou imediata, possuem a possibilidade de acrescentar valor ou resultados ao projeto. Por fim, os requisitos que não são nem importantes nem urgentes, pois não agregam valor nem são de resolução imediata. Precisam ser mapeados, mas dificilmente serão implantados, dependendo de um processo estruturado de tomada de decisão. 35 Figura 9 – Técnica MoSCoW Fonte: Cruz (s/d). Segundo PMI (2016), cada requisito levantado pela equipe do projeto tem a possibilidade de ganhar uma classificação de prioridade determinada pela utilização do acrônimo formado pela palavra MoSCoW. A letra M significa must have ou, em português, algo como “precisa ter”. Serão os requisitos tratados em primeiro nível, aqueles imprescindíveis e que trazem uma relação de retorno alto. Por conta disso, possuem a capacidade de agregar valor ao produto, serviço ou resultado que está sendo gerado e, quando corretamente implementados, afetar diretamente os níveis de satisfação dos principais stakeholders. A letra S significa should have ou “deveria ter”. São os requisitos secundários. Não serão tratados como vitais ao projeto, mas são importantes e quando implantados corretamente podem influenciar diretamente níveis de qualidade, tornando operacional um determinado detalhe de um produto, por exemplo. A letra C significa could have ou “poderia ter”. Serão tratados como requisitos terciários e, apesar de poder trazer algum diferencial àquilo que estará sendo gerado pelo time do projeto, não são tão imprescindíveis. Costumam ser implementados apenas em caso de sobra de recursos ou folga de cronograma. Por fim, há a letra W, de won’t have ou “não terá”. Requisitos que não trazem qualquer tipo de valor agregado para o produto, serviço ou resultado que está sendo desenvolvido e serão implementados apenas em último caso. Retomando o template demonstrado para o plano de gerenciamento de requisitos, no item 6 devem-se determinar as métricas pelas quais os requisitos serão comparados. Significa estabelecer os padrões de DoR para que no futuro o DoD possa ser comparado. No item 7, identificar as informações que serão utilizadas para acompanhar o requisito desde o início da sua identificação e catalogação, até a validação da sua entrega. No item 8, descrever como deverá ser conduzido o progresso da implantação dos requisitos. No item 9, descrever como os relatórios da gestão dos 36 requisitos serão realizados, a sua frequência, tipo, entre todos os detalhes pertinentes. No item 10, identificar quais os critérios de validação dos requisitos, por exemplo, testes, inspeções, demonstrações, etc. No item 11, descrever qual sistema de gerenciamento de configuração será atrelado para controlar os requisitos, a sua documentação, assim como o processo de gerenciamento de mudanças. Por fim, tal como o PGE, determinar quem será o responsável pela administração e manutenção do plano de gerenciamento de requisitos, além de definir o responsável imediato no caso de ausência do principal. Processo “Coletar os Requisitos”: peculiaridades, entradas, técnicas e ferramentas Em primeiro lugar, é importante salientar que o PMI (2016, p. 2, tradução nossa) define requisito como “uma condição ou capacidade que é necessário estar presente em um produto, serviço ou resultado, para satisfazer um contrato ou especificação formalmente imposta”. Essas especificações podem ser normas ou metas organizacionais estratégicas. É comum que os requisitos expressem necessidades, desejos, anseios, temores e expectativas explicitadas por partes interessadas específicas – clientes internos, externos, patrocinador, usuário final, organizações, cliente, time do projeto, etc. – e sempre que relacionados podem vir a gerar novas funcionalidades que precisarão ser implementadas, muitas vezes agregando trabalho ao gerenciamento de estruturação, que será realizado mais adiante. Exatamente por que os requisitos nascem de informações que estarão diretamente vinculadas ao sucesso ou fracasso do projeto, o seu gerenciamento é algo que demanda uma especial atenção por parte do time do projeto. Aqui estão alguns fatores críticos de sucesso que precisam ser observados no momento de lidar com o assunto requisito: Engajamento organizacional – todo trabalho que envolve um viés estratégico demanda que a organização esteja comprometida e alinhada com as propostas de entrega de valor e os objetivos do projeto. O representante maior desse engajamento é o sponsor (patrocinador) do projeto, pois existe a constatação de que falta de apoio de um patrocinador é um dos principais fatores que contribuem para o fracasso de um projeto (PMI, 2018). Reconhecimento do valor de um plano de gerenciamento de requisitos – um plano de gerenciamento de requisitos corretamente elaborado e ativo, por meio do qual se possa não avaliar um trabalho de planejamento, mas, sobretudo, um trabalho de monitoramento e controle, será percebido como um domínio valioso com um potencial de alavancar o ROI do projeto e, por consequência, da organização capitaneadora do projeto. Engajamento das partes interessadas – as partes interessadas devem ser engajadas com devida antecedência e com frequência ao longo do ciclo de vida do projeto, independentemente do ciclo de continuidade escolhido pelo time para executá-lo. As 37 partes interessadas serão analisadas e gerenciadas de perto, com frequência, no intuito de que o time do projeto possa perceber os impactos e as influências dos principais stakeholders no processo de gerenciamento de requisitos o mais cedo possível, minimizando ou eliminando potenciais problemas. Integração com as atividades do gerenciamento do projeto – o gerenciamento de requisitos não ocorre de maneira isolada. É necessário que todas as principais ações do time do projeto, bem como
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