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Brasília-DF. Construção de Projetos e eduCação ambiental Elaboração Aline Sabbi Essenburg Rogério de Moraes Silva Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO .................................................................................................................................. 5 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA ..................................................................... 6 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 8 UNIDADE I PARA VER OU REVER .......................................................................................................................... 11 CAPÍTULO 1 REVENDO ALGUNS FATOS HISTÓRICOS ................................................................................... 11 CAPÍTULO 2 CONCEITOS, OBJETIVOS E PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ......................................... 13 UNIDADE II NOÇÕES DE METODOLOGIA DE PESQUISA PARA COMPOSIÇÃO DE DIAGNÓSTICOS ............................ 17 CAPÍTULO 1 ASPECTOS GERAIS DE METODOLOGIA DE PESQUISA ............................................................... 17 CAPÍTULO 2 O PROCESSO DE PESQUISA ................................................................................................... 19 UNIDADE III ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIOAMBIENTAIS .................................................................................. 25 CAPÍTULO 1 ASPECTOS GERAIS DE ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIOAMBIENTAIS .................................... 25 CAPÍTULO 2 PROPOSIÇÃO DE ESTRATÉGIAS DE PLANEJAMENTO ................................................................ 27 CAPÍTULO 3 INDICADORES AMBIENTAIS PARA PROJETOS SOCIOAMBIENTAIS EM EMPRESAS ......................... 33 UNIDADE IV INTERFACE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CIDADANIA ................................................................................ 36 CAPÍTULO 1 CIDADANIA LOCAL ............................................................................................................... 36 CAPÍTULO 2 CIDADANIA GLOBAL ............................................................................................................. 39 PARA (NÃO) FINALIZAR ...................................................................................................................... 43 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 45 ANEXO A LEI NO 9.795, DE 27 DE ABRIL DE 1999 ............................................................................................... 47 ANEXO B DECRETO NO 4.281, DE 25 DE JUNHO DE 2002 ..................................................................... 54 5 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 6 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 7 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Exercício de fixação Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/ conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não há registro de menção). Avaliação Final Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber se pode ou não receber a certificação. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 8 Introdução O ambiente é um todo uno e, portanto, não divisível em partes isoladas. A degradação ambiental está diretamente ligada à degradação das condições de vida do homem contemporâneo. Os problemas ambientais não são problemas isolados, eles estão inseridos na rede complexa da pós-modernidade, cuja melhor definição ainda é a crise, ou, o esgotamento dos modelos modernos de ciência e de sociedade. Este diagnóstico torna evidente que o problema ambiental não deve ser tratado isoladamente. A criação de projetos ambientais não pode esquecer que o homem é parte do ambiente, e toda iniciativa preservacionista tem que envolver o homem, tanto como o agente, como o próprio ambiente. As mudanças que se fazem necessárias não apenas dizem respeito às respostas a antigas indagações, como aquelas que passam a centralizar as preocupações contemporâneas de caráter científico motivadas pelo avanço tecnológico, pela intensidade de novas demandas do conhecimento e pelas revoluções no campo da informação, das telecomunicações, da biotecnologia. Para Leff (2003), a crise ambiental é, sobretudo, um problema de conhecimento, em meio à complexidade do mundo e do próprio ser, o que implica a necessidade de desconstruir e reconstruir o pensamento, buscando entender as origens, compreender as causas e desvendar as certezas embasadas em falsos fundamentos. Isso se faz fundamental, sobretudo quando se constata que o pensamento encontra-se influenciado pelo comportamento humano, afetando as maneiras de pensar, que vão se direcionar muito mais para aquilo que é considerado útil e material. Para mudar atitudese comportamentos não bastam informações, conceitos e tecnologias. É preciso rever valores, mexer com sentimentos, promover a autoestima das pessoas e, então, devolver a elas a autoria da própria história e a perspectiva de um futuro sustentável. Além de conceituar-se como estudo científico das características da interação entre o homem e a natureza, a educação ambiental é um processo no qual se valoriza o ambiente em que se vive, incorporando a dimensão histórica, socioeconômica, política e cultural. Nesse processo contínuo, devem-se adquirir habilidades, valores, experiências, conhecimentos e consciência ecológica, o que propicia ao indivíduo condições para agir individual e coletivamente. Diversos documentos e agendas têm sido elaborados, refletindo as preocupações com essas questões, mas continua a existir um enorme distanciamento entre o plano das intenções e a efetivação das ações necessárias e urgentes de serem implementadas. Desde a Conferência de Estocolmo, em 1972, destacando-se Tbilisi, em 1977, passando pelo Relatório Bruntland, em 1987, pela Rio-92 e chegando à Lei nº 9.795/1999, que institui a Política Ambiental e normatiza a Educação Ambiental em nosso País, temos constatado um descompasso entre o proclamado e o realizado no cotidiano das práticas políticas, em seus diferentes níveis e locais de ação. 9 A Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental aos Países-Membros, realizada em Tbilisi, na Geórgia, em 1977, considerava que as mudanças institucionais e educacionais necessárias à incorporação da educação ambiental aos sistemas nacionais de ensino não deveriam basear- se unicamente na experiência, mas também em pesquisa e avaliações que tivessem por objetivo melhorar as decisões da política de educação. E assim recomendou aos governos: » que traçassem políticas e estratégias nacionais que promovessem os projetos de pesquisa necessários à educação ambiental e incorporassem seus resultados ao processo geral de ensino por meio dos cursos adequados; » que efetuassem pesquisas sobre: › metas e os objetivos da educação ambiental; › estruturas institucionais que influem nas necessidades ambientais; › conhecimentos e atitudes dos indivíduos, bem como os obstáculos que se opõem às modificações dos conceitos, valores e atitudes das pessoas e que são inerentes ao comportamento ambiental; » que pesquisassem as condições em que poderia fomentar o desenvolvimento da educação ambiental. A educação ambiental no Brasil segue uma série de princípios, formalmente reunidos num documento denominado Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global. Todavia, os projetos só funcionam de fato quando contam com educadores capazes de tocar o coração de crianças, jovens ou adultos, de mostrar que eles têm poder para sacudir velhos hábitos e de incentivar os brasileiros, mesmo os mais simples, a perceberem a riqueza da própria cultura e do ambiente onde vivem. Aos poucos, com a autoestima elevada, eles aprendem a trabalhar de forma mais sustentável e a promover a melhoria de qualidade vida com conservação ambiental. Definir o objeto de estudo, delimitar a área de abrangência e, sobretudo, definir procedimentos metodológicos passou a ser algo extremamente crítico nas ciências ambientais, uma vez que elas abrangem ampla gama de objetos: rochas, solo, atmosfera, água, organismos vivos, as relações entre esses fatores e as atividades humanas. Isso significa que as ciências ambientais envolvem tanto as chamadas ciências físicas como as biológicas e sociais. Objetivos » Adquirir noções de metodologia de pesquisa para a composição de diagnósticos em educação ambiental. » Ampliar a compreensão de aplicação de técnicas científicas e proposição de projetos para problemas ambientais. » Compreender a interface entre educação ambiental e cidadania local e global. 10 11 UNIDADE IPARA VER OU REVER CAPÍTULO 1 Revendo alguns fatos históricos Para compreender o atual pensamento em torno da educação ambiental e as teorias vigentes, alguns textos e eventos são elucidativos, como, por exemplo: » o livro “Primavera Silenciosa”, de Rachel Carson, uma obra narrativa sobre a crise global. Neste livro, a autora afirma que o uso indiscriminado de agrotóxicos, além de acarretar sérios riscos de câncer e outras doenças, prejudicaria o planeta a ponto de os pássaros deixarem de cantar na primavera; » conclusões da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (CNUMAH), em Estocolmo, em junho de 1972, em que se evidenciou a responsabilidade com relação à proteção e à melhoria do ambiente em toda sua dimensão humana, em decorrência da qual todos os países membros começaram a promover programas, visando a atingir tais objetivos. Uma resolução importante da Conferência de Estocolmo foi a de que se deve educar o cidadão para a solução dos problemas ambientais. Podemos então considerar que aí surge o que se convencionou chamar de Educação Ambiental; » resultados do seminário de Tammi (Finlândia), que deu origem aos Princípios da Educação Ambiental. Esse seminário considerou a educação ambiental não como uma matéria separada do currículo escolar e sim como algo integrante e permanente do currículo; » as conclusões do Encontro Internacional em Educação Ambiental, ocorrido em Belgrado (Sérvia), iniciativa da UNESCO. Nesse encontro, foi criado o Programa de Educação Ambiental (PIEA), que formulou alguns princípios orientadores, entre eles, a educação ambiental continuada, multidisciplinar, integrada às diferenças regionais e voltada para os interesses nacionais; » o relatório de Tbilisi (Geórgia), da Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental organizada pela UNESCO, em que se definiram os objetivos, as características da Educação Ambiental, assim como as estratégias pertinentes 12 UNIDADE I │ PARA VER OU REVER no plano nacional e internacional. Nessa conferência, decidiu-se que a Educação Ambiental deve abranger pessoas de todas as idades e níveis de ensino; » a Lei Federal no 6.938/1981 sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e execução. Em um de seus princípios, a lei refere- se à “inclusão da Educação Ambiental em todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente”; » as conclusões da Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, a Rio-92, realizada no Rio de Janeiro em julho de 1992. A Rio-92, em termos de Educação Ambiental, corroborou com as premissas de Tbilisi e acrescentou a necessidade de concentração de esforços para a erradicação do analfabetismo ambiental e para as atividades de capacitação de recursos humanos para a área; » as conclusões da Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade: Educação e Conscientização Pública para a Sustentabilidade, realizada em dezembro de 1997, promovida pela UNESCO em Tessalônica (Grécia), nas quais foi conhecido o desenvolvimento insuficiente da EA desde a Rio-92; » a Lei Federal nº 9.795/1999, que instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental (Anexo I), que estabelece os princípios, objetivos e finalidades da educação ambiental, destaca a incorporação da especialização de educadores em todos os níveis de ensino e aponta a educação ambiental como um componente essencial e permanente da educação nacional. » o Decreto no 4.281/2002 (Anexo II) que regulamenta a Lei no 9.795/1999. Este Decreto em seu Art. 1o diz que “a Política Nacional de Educação Ambiental será executada pelos órgãos e entidades integrantes do SISNAMA, pelas instituições educacionais públicas e privadas dos sistemas de ensino, pelos órgãos públicos da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, envolvendo entidades não governamentais, entidades de classe, meios de comunicação e demais segmentos da sociedade”. 13 CAPÍTULO 2 Conceitos, objetivos e princípiosda Educação Ambiental Conceitos O conceito de Educação Ambiental varia em interpretações, de acordo com cada contexto, conforme a influência e vivência de cada um. Na I Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental em Tbilisi, Geórgia, 1977, a Educação Ambiental foi definida como uma dimensão dada ao conteúdo e à prática da Educação, orientada para a solução dos problemas concretos do meio ambiente, por meio de enfoques interdisciplinares e de uma participação ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade. A definição oficial de Educação Ambiental, do Ministério do Meio Ambiente é: Educação ambiental é um processo permanente, no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos, valores, habilidades, experiências e determinação que os tornam aptos a agir – individual e coletivamente – e resolver problemas ambientais presentes e futuros. De acordo com a Lei no 9.795, de 27 de abril de 1999, art. 1o: Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum ao povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. As definições de educação ambiental estão relacionadas com o processo evolutivo do conceito de meio ambiente e a maneira como este é percebido ao longo dos tempos. São várias as definições e todas se completam. De forma geral, Educação Ambiental pode ser conceituada como um processo de ensino–aprendizagem em que o indivíduo adquirirá conhecimentos e esclarecimentos sobre o meio ambiente, sua relação de interdependência e a forma como essa relação o afeta, buscando promover sua sustentabilidade mediante ações educativas, de informação e comunicação, visando a deixar um legado para gerações futuras. Objetivos A Educação Ambiental tem como objetivo geral mostrar ao ser humano a complexa natureza do meio ambiente, que resulta da interação dos seus aspectos biológicos, físicos, sociais e culturais. 14 UNIDADE I │ PARA VER OU REVER Portanto, ela deve criar para o indivíduo e para a sociedade meios para entender como estes diversos elementos se relacionam, e promover uma utilização mais reflexiva e consciente dos recursos naturais atendendo as necessidades da humanidade. O art. 5o da Lei no 9.795/1999 traz os objetivos fundamentais da Educação Ambiental: I – o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos; II – a garantia de democratização das informações ambientais; III – o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social; IV – o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania; V – o estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis micro e macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade; VI – o fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a tecnologia; VII – o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade. Apesar do tempo decorrido da Conferência de Tbilisi, muito das orientações consolidadas nesse evento continua norteando a EA em várias partes do mundo. Uma dessas orientações diz respeito à questão das finalidades da EA que são as seguintes. » Ajudar a fazer compreender, claramente, a existência da interdependência econômica, social, política e ecológica nas zonas urbanas e rurais, pois facilita os meios de interpretação, a fim de promover um uso mais consciente, ponderado e cauteloso dos recursos naturais para a satisfação das necessidades humanas. » Proporcionar a todas as pessoas a possibilidade de adquirir os conhecimentos, os sentidos dos valores, as atitudes, o interesse ativo, necessários para proteger e melhorar o meio ambiente, divulgando informações sobre modelos de desenvolvimento que não o prejudiquem. » Induzir novas formas de conduta nos indivíduos, nos grupos sociais e na sociedade a respeito do meio ambiente, por meio da responsabilidade de cada um, envolvendo uma coletividade em prol de uma qualidade do meio natural, social e cultural, sem colocá-lo em risco. 15 PARA VER OU REVER │ UNIDADE I Todas essas finalidades devem ser adaptativas às diversas realidades socioculturais, econômicas e ecológicas das sociedades, comunidades e regiões existentes em nosso planeta, principalmente as metas do seu desenvolvimento. Princípios Vários autores enumeram os princípios básicos para se ter uma Educação Ambiental de qualidade. Resumindo, são enumerados três desses, que abrangem todos os outros. O primeiro princípio considera o meio ambiente em sua totalidade, respeitando os aspectos naturais, os transformados, os tecnológicos, histórico-culturais. Na Conferência de Estocolmo foram considerados apenas o ambiente, a fauna e a flora e os aspectos abióticos: como pH, temperatura, salinidade e outros. Hoje são considerados meio ambiente os aspectos bióticos, abióticos, mais a cultura humana como: tecnologia, construções, artes, religiões, o que leva a Educação Ambiental a ter uma visão holística, isto é, uma área de abrangência integral, atribuindo uma importância significativa a todos os aspectos da vida. O segundo princípio aplica um enfoque multidisciplinar à Educação Ambiental, aproveitando o conteúdo específico de cada disciplina, adquirindo uma perspectiva ampla. Pela própria complexidade natural do ambiente e pelas suas múltiplas interações, a Educação Ambiental não poderia estar relacionada apenas a uma disciplina, como era antes (associada a Ciências), mas deve estar transversalmente em todas. O terceiro e último princípio da Educação Ambiental concentra e examina as questões ambientais, do ponto de vista local, regional, nacional e internacional de modo que os educandos consigam identificar, além dos tipos de degradação, os tipos de conservação numa visão global. Infelizmente, esse é um dos princípios que não é considerado na maioria das vezes em âmbito nacional, pois o que se observa é que os únicos recursos de que dispõem os professores, são os livros didáticos. Esses, por sua vez, não tratam de assuntos da realidade local, em que está inserida a escola. Os alunos precisam conhecer primeiramente os problemas ambientais que os circundam, para depois ampliar esse campo de visão, levando-os a perceber primeiramente o seu interior, em seguida o que está a sua volta, como a sua família, sua escola, seu trabalho, e finalmente, sua rua, sua quadra, sua cidade, sua região, seu país, até chegar à globalidade. Para que haja uma Educação Ambiental de qualidade é necessário fomentar ações de cooperação, entre todos os cidadãos, os grupos sociais e as instituições, pois todos os processos ecológicos se interdependem numa teia de interações, e os homens não são os únicos beneficiários nem os donos do planeta. Daí pensar-se em um desenvolvimento econômico e social, baseado em um novo modelo: o sustentável, que é também um dos objetivos da Educação Ambiental. Dessa forma, os indivíduos e a sociedade terão a sua percepção ampliada e internalizarão conscientemente a necessidade de mudanças. 16 UNIDADE I │ PARA VER OU REVER Esses são alguns dos princípios da Educação Ambiental, que resultam numa ação prática, atuante, que adota uma postura de tomada de decisões, ou seja, a proposta de um novo estilo de vida. Nota-se que os objetivos, os princípiose as finalidades da Educação Ambiental têm muito em comum, o que nos permite concluir que todos esses “conceitos” estão interligados e que a Educação Ambiental só será efetiva quando todos os conceitos e ações forem aplicados de forma convergente. 17 UNIDADE II NOÇÕES DE METODOLOGIA DE PESQUISA PARA COMPOSIÇÃO DE DIAGNÓSTICOS CAPÍTULO 1 Aspectos gerais de metodologia de pesquisa A crise ecológica é a crise do nosso tempo. O risco ecológico questiona o conhecimento do mundo. Esta crise se apresenta a nós como um limite no real que re-significa e re-orienta o curso da história: limite do crescimento econômico e populacional; limite dos desequilíbrios ecológicos e das capacidades de sustentação da vida; limite da pobreza e da desigualdade social. Mas também crise do pensamento ocidental: da “determinação metafísica” que, ao pensar o ser como ente, abriu a via da racionalidade científica e instrumental que produziu a modernidade como uma ordem coisificada e fragmentada, como formas de domínio e controle sobre o mundo. (ENRIQUE LEFF) A atualidade, pautada em processos sociais democráticos, nos traz como desafio a emergência de um novo paradigma de sociedade e cultura, o que implica mudança de mentalidade, que vai ocasionar modificações nas relações sociais e nas formas de organização, requerendo novas respostas às questões dos diferentes campos: político, social, econômico, ecológico, cultural e, sobremaneira, no campo educativo, espaço político-pedagógico em que se trabalham mentalidades e posturas. De acordo com os pressupostos descritos pela Educação Ambiental (organizados historicamente através das diversas Conferências existentes, tais como: Conferência de Estocolmo, Conferência de Belgrado, Conferência de Tbilisi, Conferência de Moscou e Rio-92), o planejamento das ações deve ser do tipo participativo, ou seja, todos os sujeitos envolvidos devem contribuir de forma a facilitar a compreensão e atuação sobre a realidade a ser explorada, tendo assim, no exercício da cidadania, uma participação ativa na elaboração teórica e prática das ações para a superação dos problemas diagnosticados. 18 UNIDADE II │ NOÇÕES DE METODOLOGIA DE PESQUISA PARA COMPOSIÇÃO DE DIAGNÓSTICOS A metodologia participativa pressupõe que os conteúdos das diferentes áreas de conhecimento são o ponto de partida para a reelaboração dos conceitos, de forma que o conhecimento reelaborado seja aplicado à realidade com o intuito de transformá-la. Essa transformação se dá quando o equilíbrio local é atingido em razão da modificação na relação homem-natureza, permitindo uma relação mais integrada e uma abertura de consciência por parte dos sujeitos. A educação ambiental toca o lado sensível das pessoas, valoriza o lado artístico normalmente desvalorizado e é um desafio permanente, porque o processo precisa ser contínuo. O primeiro passo é mostrar às pessoas que é possível, que elas podem transformar a própria imagem e ir galgando patamares até se perceberem capazes de mudar atitudes para sobrevivermos todos e o planeta também. Os mais diversos setores de uma região devem se reunir para discutir os problemas e propor acordos e soluções. Atualmente, os eventos que tratam da temática ambiental são importantes espaços de discussão e realização de atividades formativas por meio de cursos, grupos de trabalhos, oficinas entre outros. Lembrando que a educação ambiental deve estar presente em todos os ambientes: escolas, trabalho, praças, família e comunidade. O modelo de desenvolvimento econômico baseado na exploração dos recursos naturais vem sinalizando para graves desequilíbrios no meio ambiente e para a deterioração da qualidade de vida das pessoas. Essa discussão, que envolve preservação ambiental, de um lado, e progresso econômico, de outro – de crescimento infinito e associado à acumulação de capital –, abre campo para o questionamento quanto à incorporação da questão ambiental na elaboração das estratégias corporativas, influenciando nos processos decisórios das atividades econômicas e tornando-se, portanto, imperativa para o desenvolvimento capitalista. As empresas, ao se interessarem pelas questões ambientais, passam a incorporá-las em seus planejamentos, em seus objetivos e até mesmo em suas filosofias corporativas, o que significa adotar uma postura ecologicamente responsável. É importante ressaltar que, mediante os esforços empreendidos na luta pela preservação ambiental, por meio de instrumentos como os certificados ambientais, programas de educação ambiental, investimentos em melhorias de processos, entre outros, propicia ganhos tanto para a sociedade, no que concerne à melhoria de qualidade de vida, quanto para o meio ambiente, em face da preservação ambiental. O grande desafio da humanidade com a questão ambiental consiste em encontrar a compatibilização da interferência econômica sobre as restrições ambientais, de modo a assegurar o desenvolvimento econômico, sem afetar ou degradar o meio ambiente, mas, preservá-la e renová-la, a fim de manter a sua biodiversidade, garantindo, desse modo, o direito que as gerações futuras também possuem de dela usufruir. 19 CAPÍTULO 2 O processo de pesquisa A pesquisa em Educação Ambiental tem por finalidade o levantamento de diversas informações sobre uma comunidade que apresenta deficiências, como por exemplo: falta de conhecimento da importância da participação ativa do cidadão na sua comunidade; importância do meio ambiente sadio, da reutilização de produtos passíveis de reciclagem, da geração de resíduos, do saneamento básico, entre outros. E permite diagnósticos das necessidades educacionais para posteriormente serem propostos projetos socioambientais que podem ser implantados efetivamente naquela comunidade para o equacionamento ou amenização do problema. Pode-se definir pesquisa como o processo que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas propostos mediante procedimentos científicos. Uma atividade pode ser considerada pesquisa: a. se a finalidade é a produção de um novo conhecimento ou sua consolidação; b. se é conduzida com rigor e perspectiva crítica, o que supõe uma certa distância entre sujeito e objeto e, preferencialmente, uma confrontação de diversos olhares em Educação Ambiental; Pode-se também dizer que pesquisa nada mais é do que a operacionalização do método científico. Como processo, a pesquisa envolve diferentes etapas intimamente relacionadas entre si: planejamento, coleta de dados, análise e interpretação dos resultados e redação de relatório. O planejamento consiste na previsão das atividades a serem desenvolvidas ao longo do processo de pesquisa, bem como na tomada de providências para que essas ocorram de maneira adequada. O planejamento tem como finalidade fornecer respostas às questões: o que pesquisar, como, quando, onde e por quê. No planejamento procede-se às seguintes etapas: formulação do problema, construção de hipóteses, operacionalização das variáveis, construção dos instrumentos de coleta de dados, estabelecimento do cronograma de pesquisa, especificação dos recursos humanos, materiais e financeiros requeridos etc. Todas essas etapas, por sua vez, integrarão o projeto de pesquisa, que é o documento que apresenta as decisões a serem tomadas ao longo da pesquisa. Falar de planejamento é falar tanto da realidade atual como do futuro desejado, assim como dos caminhos possíveis entre ambos. 20 UNIDADE II │ NOÇÕES DE METODOLOGIA DE PESQUISA PARA COMPOSIÇÃO DE DIAGNÓSTICOS Formulação do problema O primeiro passo a ser dado em qualquer pesquisa é constituído pela formulação do problema, tarefa bem mais difícil do que geralmente se supõe. Considera-se problema tudo aquilo para o que ainda não se tem uma resposta. Por isso sugere-se que estes: » sejam expressos de maneira clara, precisa e concisa; » sejam delimitados a uma dimensão viável. Isso significa que devem ser circunscritos no tempo e no espaço; » sejamobjetivos. No âmbito do social, os problemas costumam vir permeados de valores. Os problemas podem apresentar diferentes níveis de complexidade. Assim, pode-se definir que alguns problemas condizem a pesquisas descritivas, que têm como objetivo a descrição das características de uma população ou de um fenômeno. Outros problemas condizem com pesquisas explicativas, que visam informar a respeito das causas ou fatores que influenciam na ocorrência de determinado fenômeno. Construção de hipóteses Quando um problema é formulado de forma a conduzir à identificação dos fatores que o determinam ou contribuem para sua ocorrência, torna-se necessário construir hipóteses. As hipóteses podem ser entendidas como o estabelecimento de uma relação potencial entre duas ou mais variáveis. Uma delas, conhecida como variável independente, é constituída pelo problema que está sendo investigado. As outras, conhecidas como variáveis dependentes, são fatores capazes de contribuir para a ocorrência do fenômeno. Delineamento da pesquisa A formulação do problema e a construção de hipóteses constituem uma etapa da pesquisa. Isso significa que, nessas etapas, o trabalho é essencialmente de natureza conceitual. Após a sua conclusão, entretanto, torna-se necessário confrontar esses conceitos com a realidade empírica. Daí, então, procede-se ao delineamento da pesquisa, que pode assumir diferentes formas: pesquisa experimental, levantamentos, estudo de caso, pesquisa-ação, pesquisa participante, entre outros. Pesquisa experimental A pesquisa experimental exige a reprodução dos fenômenos em condições controladas, por isso é pouco frequente no âmbito da educação ambiental. O grande número de variáveis a 21 NOÇÕES DE METODOLOGIA DE PESQUISA PARA COMPOSIÇÃO DE DIAGNÓSTICOS │ UNIDADE II serem consideradas, o caráter histórico dos fatos sociais e, sobretudo, as implicações éticas da experimentação tornam esse delineamento inviável na maioria dos casos. Levantamentos O levantamento caracteriza-se pela interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer, constitui-se uma das modalidades mais utilizadas de pesquisa. De modo geral, os levantamentos valem-se dos procedimentos de amostragem e utilizam técnicas padronizadas de coletas de dados, como o questionário, a entrevista, a observação sistemática. Possibilitam o conhecimento direto da realidade, a obtenção de dados com economia e rapidez e sua quantificação. Estudo de caso O estudo de caso é caracterizado pelo estudo de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir seu conhecimento amplo e detalhado. Fundamenta-se na ideia de que a análise de uma unidade de determinado universo possibilita a compreensão da generalidade deste ou, pelo menos, o estabelecimento de bases para uma investigação posterior, mais sistemática e precisa. Pesquisa–Ação É um tipo de pesquisa social realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos do modo cooperativo ou participativo. Essa modalidade de pesquisa é considerada alternativa, pois não se enquadra como procedimento rigidamente científico, de acordo com o modelo clássico de ciência. Mostra-se, no entanto, muito útil para a pesquisa em educação ambiental, uma vez que, frequentemente, tem como objetivo a solução de um problema prático ou o desenvolvimento de um projeto educativo. Além disso, a pesquisa– ação, por requerer o envolvimento dos participantes representativos das organizações sociais ou da comunidade, favorece o trabalho posterior de implementação das ações. Nessa proposta o relacionamento entre os objetivos práticos (equacionamento do problema, levantamento de soluções e proposta de ações correspondentes) e os objetivos de conhecimento (obtenção de informações que seriam de difícil acesso por meio de outros procedimentos), são referendados por procedimentos participantes. Essa proposta metodológica, quando bem conduzida a partir de um amadurecimento contínuo, pode vir a alcançar, simultaneamente, a resolução de problemas, a tomada de consciência e a produção de conhecimento. Na pesquisa–ação, os pesquisadores reúnem dados, comprovações ou observações para denunciar situações de injustiças, equívocos ou danos ambientais e apresentam propostas de mudanças. Pesquisa–ação se orienta por um sistema de comunicação dialógica entre pesquisadores e grupo 22 UNIDADE II │ NOÇÕES DE METODOLOGIA DE PESQUISA PARA COMPOSIÇÃO DE DIAGNÓSTICOS social para a produção de um novo tipo de conhecimento que favorece a orientação da ação em um determinado contexto. Não existe um sujeito e um objeto de pesquisa, todos são sujeitos, participando ativamente para um determinado fim. Pesquisa participante A pesquisa participante aparece associada a uma postura comprometida com a conscientização popular. Responde especialmente às necessidades de populações que compreendem as classes mais carentes nas estruturas sociais contemporâneas (operários, camponeses, agricultores e índios) levando em conta suas aspirações e potencialidades de conhecer e agir. Esse tipo de pesquisa resgata para a comunidade o poder de pesquisar a si mesma. Os objetivos gerais para o planejamento participativo em Educação Ambiental são: participação ativa dos sujeitos, unidade entre teoria e prática, realidade concreta como ponto de partida e a busca por atingir o fim mais amplo da educação. Na pesquisa participante, os pesquisadores estabelecem relações comunicativas com pessoas ou grupos da situação investigada com o intuito de serem melhores aceitas. Coleta de dados Pesquisas em educação ambiental costumam valer-se de várias técnicas de coleta de dados. As mais usuais são: a observação espontânea, participante ou sistemática; a entrevista, o questionário, a história de vida, entre outros. Observação A observação pode ser entendida como o procedimento fundamental de coleta de dados em qualquer pesquisa empírica. Os demais procedimentos nada mais seriam do que derivados da observação. Para que seja entendida como procedimento científico, a observação precisa apresentar algumas características: deve servir a um objetivo claro, ser planejada e executada de maneira sistemática e ser submetida a controles. Observação espontânea O observador não se identifica perante os sujeitos envolvidos com o seu objeto de trabalho, permanece alheio à comunidade, ao grupo ou à situação que pretende estudar, observa os fenômenos que aí ocorrem. Apesar de sua informalidade, ela se coloca num plano científico, pois vai além da constatação dos fatos, na medida em que é seguida de um processo de análise e interpretação. Sua utilização é recomendada nas fases iniciais da pesquisa, com a finalidade de obter elementos para sua delimitação e construção de hipóteses. 23 NOÇÕES DE METODOLOGIA DE PESQUISA PARA COMPOSIÇÃO DE DIAGNÓSTICOS │ UNIDADE II Observação participante O pesquisador participa da vida da comunidade, do grupo ou da situação. A observação é pressupostamente assumida perante os sujeitos, que, por outro lado, podem modificar seus comportamentos durante a observação do pesquisador. Nesse caso, ele assume até certo ponto, pelo menos, o papel de um membro do grupo. Observação sistemática É frequentemente utilizada em pesquisas que têm como objetivo a descrição precisa dos fenômenos ou o teste de hipóteses. Nas pesquisas desse tipo, o pesquisador sabe quais os aspectos da comunidade ou grupo que são significativos para alcançar os objetivos pretendidos. Entrevista Pode-se definir entrevista como a técnica em que o observador se apresenta diante do investigado e lhe formula perguntas, com o objetivo de obter os dados que interessam à investigação. A entrevista é, portanto, uma forma de interação social. Mais especificamente, é uma forma de diálogo assimétrico em que uma das partes busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de informação.A entrevista é uma das técnicas de coleta de dados mais utilizadas não apenas para o desenvolvimento de pesquisas, mas também para fins de diagnóstico e orientação. Questionário Pode-se definir questionário como a técnica de investigação constituída por um rol de perguntas apresentadas por escrito às pessoas que se deseja pesquisar. História de vida A história de vida constitui do relato pessoal de informantes sobre situações que passaram ao longo de determinado período de tempo. Geralmente é usada em estudos de caso de base histórica, pois possibilita o resgate cronológico de uma realidade social. Trata-se, por conseguinte, de uma técnica de natureza essencialmente qualitativa, que costuma formar a base para delineamentos do tipo estudo de caso. Análise e interpretação dos dados Após a coleta de dados, a fase seguinte da pesquisa é a sua análise e interpretação. Esses dois processos, apesar de conceitualmente distintos, aparecem sempre estreitamente relacionados. A análise tem como objetivo organizar e sumariar os dados de forma tal que possibilite o fornecimento de respostas ao problema proposto para investigação. Já a interpretação tem como meta a procura 24 UNIDADE II │ NOÇÕES DE METODOLOGIA DE PESQUISA PARA COMPOSIÇÃO DE DIAGNÓSTICOS do sentido mais amplo das respostas. Quando possível devem ser feitas comparações entre os resultados obtidos e os reportados na literatura, sendo que as diferenças devem ser comentadas. O aspecto mais crítico da análise costuma ser o tratamento estatístico dos dados. Ocorre com frequência que o pesquisador, ao chegar a essa fase, não se encontra muito seguro sobre o que fazer. E, como consequência, há relatórios de pesquisa em que a seção de análise dos dados é constituída de tabelas com dados que não receberam nenhum tratamento analítico. Relatório O relatório constitui-se a finalização do trabalho de pesquisa e deve conter uma recapitulação sintética dos resultados da pesquisa, ressaltando o alcance e as consequências de suas contribuições. Deve conter uma correlação entre os objetivos propostos e as discussões dos resultados, com base nas considerações teóricas. A estruturação e a apresentação gráfica do relatório devem levar em consideração a natureza da pesquisa e o público a que se destina. Para que possa cumprir seus objetivos, o relatório precisa ser redigido em linguagem técnica. Isso significa que deve ser expresso em termos claros e precisos e que as frases devem apresentar a maior concisão possível. 25 UNIDADE III ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIOAMBIENTAIS CAPÍTULO 1 Aspectos gerais de elaboração de projetos socioambientais Em uma dimensão maior, a Educação Ambiental vem despertar para a conscientização da capacidade que temos de assumir estratégias de desenvolvimento diferente das que se tem hoje, uma estratégia ética que integre crescimento econômico com justiça social que desencadeie num desenvolvimento sustentável. Para isso é necessário relacionar e descobrir novas formas de lutar pela construção deste projeto. A participação ativa dos sujeitos envolvidos no processo é fator fundamental na cobrança dos órgãos controladores do serviço público para que os recursos e as políticas públicas se voltem em benefício dos cidadãos e até possibilitem a ampliação dos direitos. A Constituição Brasileira de 1988 incorporou em seu texto a Educação Ambiental, conforme o art. 225, ressaltando a qualidade de vida como integrante da própria cidadania. Os Parâmetros Curriculares Nacionais apresentam a questão ambiental como um dos temas transversais do currículo do Ensino Fundamental, mas a sua efetivação no cotidiano escolar ainda deixa muito a desejar e, em muitos casos, tem se limitado a ações isoladas e/ou a entendimentos parcializados sobre a questão ambiental, orientados por uma visão excessivamente biologizada, dentro de uma vertente ecológico-preservacionista, e/ou restrita a eventos comemorativos (dia da árvore, dia do meio ambiente), ou ainda limitada à realização de algumas atividades práticas, denominadas extracurriculares, eventuais (campanha do lixo, coleta para reciclagem, caminhadas ecológicas, visitas, plantio de hortas etc.), sem a contextualização necessária e sem a internalização sobre o real entendimento da problemática ambiental no cotidiano das comunidades escolares. O planejamento de projetos em educação ambiental se apresenta com as seguintes características: deve ter enfoque interdisciplinar e holístico, ser um ato político, facilitar a cooperação mútua e equitativa nos processos de decisão, potencializar o poder das diversas populações na condução de seus próprios destinos e na resolução de conflitos de maneira justa e humana. Deve ainda estimular a adoção de projetos que formem sociedades socialmente justas, sustentáveis e ecologicamente equilibradas. 26 UNIDADE III │ ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIOAMBIENTAIS O planejamento de projetos não dispõe de fórmulas prontas para serem aplicadas com precisão em momentos ou situações predeterminadas. Existe uma ampla gama de metodologias e estratégias, cuja escolha e aplicação dependem das circunstâncias e dos interesses, em constante mutação. A cada dia, as pessoas estão sempre planejando e tomando decisões sobre os passos a serem seguidos, mesmo sem ter consciência disso, pois essa é uma atitude racional, de indivíduos ou grupos buscando atingir seus objetivos. 27 CAPÍTULO 2 Proposição de estratégias de planejamento Construção de projetos em Educação Ambiental A construção de projetos em educação ambiental tem por finalidade estimular e fortalecer a consciência crítica sobre a problemática ambiental e social, incentivar a participação comunitária ativa, permanente e responsável do público, compreendendo a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania, e garantir a democratização das informações ambientais dentre outros. Devem-se evidenciar aspectos técnicos e lógicos de elaboração e execução. Projeto é um conjunto metodologicamente articulado entre um problema, o diagnóstico e a proposta de intervenção e avaliação. Deve-se considerar que a precisão nas definições conceituais permite esclarecer a interpretação do problema e suas possíveis soluções. No processo de educação ambiental é necessário trazer para o projeto a opinião e a experiência de lideranças locais, que conhecem muito melhor a comunidade e que por esta razão podem apontar de forma muito mais eficiente os caminhos para o diálogo e a transmissão das informações. É importante que, no processo educacional, haja uma equipe interdisciplinar, que envolva engenheiros, construtores, educadores, biólogos, entre outros profissionais, e representantes da comunidade que serão agentes ambientais. Se isso for feito, e de forma continuada, maior será a chance de a população assumir um compromisso com o meio ambiente. A metodologia adotada por educadores, pesquisadores ou voluntários para a elaboração de um projeto é basicamente a mesma nas ciências naturais, sociais e humanas, variando essencialmente no conteúdo. Essas variações demandadas são devidas às diferentes exigências da organização financiadora. Da concepção à execução do projeto, percebe-se a dinâmica de transformação que o envolve dentro de uma cronologia estabelecida em seu planejamento. Outra noção de projeto é configurada como um protocolo inicial de intenções que deverá esboçar o problema, apresentar um diagnóstico das necessidades educacionais, a proposta de intervenção educacional e a forma de avaliação, itens que serão executados dentro de um cronograma preestabelecido. Deve ser constituído como um protocolo bem articulado, logicamente ordenado e coerente na relação que existe entre sua justificativa e seu desenho metodológico, além de esboçar um planejamento que permita vislumbrar as ações propostas e discutir a sua realização. O campo teórico das questões ambientais, de forma mais precisa, tem sua especificidadena educação ambiental. Espera-se que os que desejam construir um projeto tenham um domínio razoável das discussões teóricas da área, conheçam tecnologias de intervenção, tenham noções de 28 UNIDADE III │ ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIOAMBIENTAIS metodologia de pesquisa para a composição de diagnósticos e procurem participar de experiências de intervenção para conhecer o trabalho na área e adquirir experiência. Enfim, espera-se que o educador tenha conhecimentos mais sólidos dos referenciais teóricos e saiba articulá-los com as observações realizadas. Construir projetos não é uma questão exclusivamente técnica. Pelo contrário, o esforço de compreensão dos fenômenos em sua totalidade é que permite criticar, rebater ou até mesmo reforçar os posicionamentos dos educadores. Permite pensar de maneira ampliada, aprofundando possibilidades de conhecer e intervir de forma ética e responsável, e realizar intervenções que amadureçam não só o pensar e o agir de quem intervém, mas principalmente daqueles que recebem os processos de intervenção. Construção do projeto de intervenção Os projetos surgem das mais variadas formas, mas o empenho pessoal de educadores nem sempre é suficiente para poder desenvolvê-los em sua plenitude. Daí é importante pensar no desenvolvimento deles inseridos em organizações que legitimem, divulguem e viabilizem sua execução. Em trabalhos desse tipo é esperada a construção de uma relação dialógica como os mais interessados nas intervenções, a população-alvo dos projetos. Sucessivas aproximações, sejam elas realizadas diretamente por meio de contatos, conversas informais ou sistematizadas, sejam indiretamente, buscando informações em fontes que possam esclarecer uma determinada realidade de uma população, constituem os primeiros passos para o reconhecimento, de quem intervém, da responsabilidade em responder por uma demanda particular e, a partir daí, transformar essa demanda num problema que requeira soluções que se mantenham dentro dos parâmetros ditados pelos princípios da vida pública. Cabe ao diagnóstico cumprir um papel fundamental que é indicar com precisão e acuidade as necessidades demandadas pela população. Fase diagnóstica Nessa fase, procura-se levantar informações acerca das necessidades educacionais dos sujeitos da intervenção. Tal tarefa só pode ser realizada se estiver estruturada na forma de pesquisa, isto é, elaborada sob bases metodológicas e viabilizada por instrumentos de pesquisa que permitam coletar as informações e analisá-las com a finalidade de produzir conhecimentos que levem a refletir, posteriormente, sobre as possibilidades de concretizar uma proposta de intervenção educacional. O diagnóstico permite pensar propostas bem elaboradas, envolvidas no conjunto de atividades que promovem sucessivas aproximações e verificações junto à população, identificando sues anseios e expectativas. Enfim, procura identificar demandas na medida em que se aproxima da população e cria canais de diálogo com ela. A exposição clara e precisa dos principais aspectos que envolvem o projeto só é possível de ser realizada à medida que o diagnóstico aponte as possíveis hipóteses que expliquem um conjunto de demandas e necessidades existentes num determinado contexto social. Intervir em educação 29 ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIOAMBIENTAIS │ UNIDADE III ambiental requer, portanto, o mínimo de conhecimento entre pensamentos e práticas de um determinado grupo social. Sem esses conhecimentos, entendidos como as vias de acesso à proposta, não é possível encontrar soluções razoáveis aos problemas detectados. Enfim, a constatação de um problema demandado só tem sua compreensão mais abrangente quando estiver envolvido em análises que permitam compreendê-lo dentro de seu contexto social. Com base nelas, é possível inferir hipóteses que expliquem uma determinada situação e indiquem caminhos possíveis à continuidade do projeto. Os conhecimentos sobre pesquisa dos que se propõem a intervir devem ser colocados em prática, organizando processos de observação bem delineados em busca da compreensão das percepções e concepções que permeiam o conjunto de representações existentes nos mais variados segmentos da sociedade. Podem ser pensadas em linhas de pesquisas mais voltadas às metodologias qualitativas, o que não exclui pesquisas cujas bases estão assentadas em métodos quantitativos. Modelo de projeto A proposta a seguir é uma sugestão de apresentação da sequência de tópicos considerados essenciais à composição de um documento que deve explicitar com clareza e precisão os seguintes elementos: a demanda e os demandantes; a problemática construída por meio de diagnóstico; as justificativas teóricas e práticas da realização de uma intervenção; o modelo de intervenção, seus objetivos e os recursos didáticos a serem mobilizados; a proposta de avaliação da intervenção; e, por fim, uma projeção no tempo de sua execução, assim como os custos de sua realização. Título O título de um projeto deve ser conciso e expressar precisamente a natureza e o conteúdo do relatório. Geralmente é a última parte a ser redigida no projeto, podendo ser esboçado logo no início do trabalho. Contudo, não se pode esquecer que a construção de um projeto obedece a um tempo determinado, que é aquele disponível à compreensão do problema detectado e, obviamente, delimitado pelo planejamento. Portanto, o título pode e deve ser redigido por último na proposta de intervenção. Resumo O resumo tem por finalidade traçar um panorama geral do projeto de intervenção. Deve ser um texto conciso em que se destacam os elementos de maior interesse ou importância do trabalho, e é indicado pela seguinte sequência: população-alvo, problema levantado, forma de realização do diagnóstico e síntese dos resultados, características gerais da proposta de intervenção, além da avaliação proposta pelo projeto. Sua finalidade maior é facilitar o acesso dos leitores ao projeto. Assim como o título, o resumo só é redigido no final da elaboração do projeto, ou seja, quando seu corpo estiver completo e o(s) autor(es) puder(em) vislumbrá-lo em sua totalidade, resumindo-o em suas principais partes. Deve ser redigido em um só parágrafo. 30 UNIDADE III │ ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIOAMBIENTAIS Introdução Consiste na apresentação do texto que dá suporte ao leitor sobre o assunto a ser tratado. Deverá ser explicado do amplo para o específico, de forma clara a importância do projeto e o objetivo do mesmo. É a parte do trabalho onde o assunto é apresentado como um todo. O tema é o primeiro elemento dessa parte do projeto. É apresentado inicialmente, pois indica os principais elementos envolvidos no trabalho, explicitando as variáveis observadas até o momento. Abre caminho para apresentar o problema abordado pelo projeto. O tema destaca aquilo que se observou e será fruto de intervenção futura, interesse maior do projeto; possibilita um entendimento dos problemas concretos apontados pelos interessados na intervenção, mas construindo um percurso que aponte um conjunto de problematizações que são conduzidas pelos autores no percurso de elaboração do projeto. Na sequência são indicados os principais conceitos que permitirão aprofundar o debate e possibilitar um encaminhamento sustentado em conhecimentos já elaborados anteriormente. Este é o momento de trazer à tona os posicionamentos teóricos assumidos pelos que têm a intenção de elaborar o projeto, tarefa que só pode ser realizada mediante um levantamento bibliográfico, leituras sistematizadas e sínteses produzidas anteriormente. O conjunto de pensamentos constituídos no processo do trabalho intelectual tem por finalidade expor o problema de forma abrangente, procedimento esperado dos que se propõem a pesquisar junto à população-alvo suas necessidades em educação e possíveis soluções apresentadas pelo projeto. Diagnóstico O diagnóstico diz respeito aos levantamentos realizados cujo objetivo é conhecer uma dada realidade. Levantamentosque têm por finalidade precisar e aprofundar o conhecimento sobre a população- alvo, utilizando as técnicas de coleta de dados, conforme o tipo de problema observado. A determinação do tipo de pesquisa a ser realizada deve ter por suposto a adequação da forma mais apropriada de observação. Haverá, portanto, variação, já que os segmentos populacionais demandam problemas muitas vezes distintos. Tem-se como prioridade um levantamento técnico das reais condições e das possibilidades de viabilizar projetos técnicos na localidade. É esperado que o diagnóstico possa conter o máximo de informações possíveis para se conhecer e assim poder pensar uma possível intervenção. Quanto aos recursos metodológicos a serem disponibilizados no desenvolvimento do diagnóstico, os autores do projeto deverão ter a sensibilidade de perceber as qualidades do problema apresentado como demanda. Isso significa ter tanto um conhecimento anterior sobre pesquisa (procedimentos, definição do delineamento e escolha das técnicas) quanto o desenvolvimento de um acurado e constante estado de observação permanente, tomando ciência dos detalhes que envolvem o problema, recolhendo informações pertinentes ou mesmo utilizando o recurso da comparação com casos semelhantes. 31 ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIOAMBIENTAIS │ UNIDADE III Para efeito de apresentação, o texto do projeto deve conter em linhas gerais a forma como o diagnóstico foi realizado para, em seguida, serem apresentados os resultados atingidos com o trabalho de pesquisa. A apresentação precisa ser criteriosa e estar em constante sintonia com as perguntas iniciais que motivaram a pesquisa, já que a intenção é descrever em detalhes tudo que possa elucidar dúvidas e viabilizar conhecimentos que definam as reais necessidades de uma população investigada. As conclusões do diagnóstico devem expor claramente, mas em linhas gerais, as conclusões alcançadas pelos resultados. É na verdade, uma síntese dos resultados, só que construída de maneira a viabilizar a indicação de uma ou mais hipóteses, ou seja, a construção de um pensamento hipotético – fundamentado em evidências e pressupostos teóricos, que conduz o pensamento daqueles que idealizaram o projeto a uma definição mais abrangente e precisa do problema investigado. Tais conclusões permitem a passagem para a elaboração de uma outra etapa do projeto: a proposta de intervenção educacional, desde que ela seja justificada. Justificativa Quando da elaboração de um projeto de intervenção, pressupõe-se que aqueles que demandam expõem suas necessidades e sabem melhor que ninguém, o que realmente precisam para resolver seus problemas. Por outro lado, aqueles que promovem a intervenção devem ter por princípio uma postura ética em relação aos demandantes; isso pode ser alcançado por meio de atitudes responsáveis atentas ao contexto maior que cerca e envolve um determinado seguimento da população. Respeito, reconhecimento dos limites e potencialidades, entre outras atitudes, devem ser considerados. Sendo as desigualdades sociais, muitas vezes, fator determinante em vários problemas enfrentados pela população, os projetos precisam conter uma discussão sobre as relações sociais mais imediatas daqueles que demandam. Espera-se que a redação de um projeto de intervenção contenha uma justificativa prática, tópico que tem por finalidade explicitar a importância social da realização do trabalho, indicando não só possíveis aspectos positivos pressupostos pelos que elaboram o projeto, mas, fundamentalmente, demonstrando ter sido incorporado por meio do senso crítico as contradições presentes entre as partes envolvidas na formação do processo de intervenção. A justificativa estabelece um nexo entre diagnóstico e a proposta de intervenção, demonstrando necessidades, conflitos e consensos atingidos com o trabalho anterior. A justificativa teórica vem fundamentar o pensamento reflexivo dentro do projeto. Plano de intervenção educacional O projeto educacional, como documento final que explicita e justifica as razões da intervenção, deve apresentar um plano de intervenção estruturado metodologicamente. 32 UNIDADE III │ ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIOAMBIENTAIS Inicialmente, explicitam-se os objetivos educacionais, indicando a finalidade que se quer atingir no processo de intervenção. Os objetivos colocam os caminhos a serem seguidos num plano lógico articulado com as considerações feitas antes, ou seja, o diagnóstico indica um ou mais problemas a serem superados, os quais acabam por corroborar a justificativa que fornece as razões à intervenção. Por sua vez, os objetivos educacionais poderão completar um ciclo iniciado dentro de um conjunto de dúvidas que passam a constituir conhecimentos mais seguros e apropriados sobre o problema inicial. Para cada objetivo definido, uma ou mais estratégias devem ser estabelecidas. Indicar o tipo de abordagem e os recursos humanos e materiais envolvidos permite estabelecer os meios necessários para a realização dos objetivos. A avaliação é um tópico fundamental em qualquer projeto de intervenção. A avaliação permite compreender o processo, captando-o no momento da intervenção ou mesmo num tempo após a sua realização. Permite rever posicionamentos, retomar questões importantes, compreender e aceitar a necessidade de mudar os rumos da intervenção. Custos Nesse tópico, recomenda-se a utilização de planilhas de orçamento que, quando bem estruturadas, não deixam dúvidas em relação aos custos que envolvem o projeto. É sempre bom lembrar que os recursos humanos e materiais a serem disponibilizados constituem parte fundamental de sua execução. O detalhe na apresentação e a justa adequação daquilo que realmente é necessário são condições essenciais na formulação do quadro de custos. Referências bibliográficas e anexos Esses últimos tópicos encerram o documento denominado projeto, apresentando todas as fontes que contribuíram com a formação de uma base de pensamentos na elaboração do projeto. Por referências bibliográficas, compreende-se uma sequência de textos (artigos, livros, revistas, apostilas etc.) citados no corpo do projeto. Apresentadas em ordem alfabética, as referências são importantíssimas, pois informam ao leitor o conjunto de ideias e informações consideradas mais importantes como formadoras do conjunto expresso no documento. Indica autores e conceitos, pesquisas e resultados que perfazem a totalidade do projeto elaborado. Por fim, os anexos devem obedecer a uma sequência de letras e são apresentados com última parte do trabalho. Normalmente são apresentados no corpo do projeto pelo indicativo Anexo A, Anexo B, e assim por diante, sem que as páginas estejam numeradas. Nos anexos podem ser lançados cópias de documentos, cartas, questionários, enfim, tudo que for pertinente ao trabalho e que, obviamente, tenha sido referido antes no corpo do texto. 33 CAPÍTULO 3 Indicadores ambientais para projetos socioambientais em empresas Os indicadores de desempenho das atividades de educação ambiental devem ser definidos com base nos fundamentos da educação ambiental, que devem permear todas as atividades educativas, e que visem, como fim, a melhoria da qualidade de vida. Sabe-se que é extremamente difícil definir indicadores para atividades tão subjetivas como as de educação ambiental. Mas dependendo da forma como são apresentados os indicadores, é possível medir e compreender as mudanças de comportamentos e a incorporação de novos valores por funcionários ou por uma comunidade. Buscando-se embasar melhor os trabalhos educativos no âmbito de uma empresa, é importante conhecer a percepção ambiental dos funcionários da mesma. Neste sentido, pode ser realizada uma pesquisa perceptiva junto aos mesmos. Podem ser levantados dados sobre a produtividade científica-ambiental e, ainda, podem ser feitas sugestões para os indicadores de desempenho das ações educativas. Para verificar se as ações educativas então atingindo seus objetivos, torna-senecessário avaliar especialmente as mudanças de opinião, e as mudanças de comportamento, que podem ser medidas em termos de resultados quantitativos, por exemplo, no consumo de energia e água, na diminuição de rejeitos gerados, no aumento de resíduos recicláveis e no aumento da reutilização de materiais. Em ambientes das áreas de saúde, bem como os hospitalares, observa-se a necessidade de uma educação ambiental mais direcionada, principalmente devido a grande quantidade de resíduos gerados nesses locais. Parte desse entendimento de gerenciamento dos resíduos sólidos de saúde é um passo fundamental para minimizar os impactos ambientais. Dessa forma, acredita-se que deve haver uma sensibilização quanto a essa questão, sobretudo dos profissionais da área. Mudanças de hábitos e de valores afim de que as atitudes humanas sejam voltadas para conservação e sustentabilidade do meio ambiente em prol de um mundo melhor. A educação ambiental na área de saúde pode determinar e avaliar os problemas ambientais de modo integrado, interdisciplinar e global, avaliar também os danos causados ao meio ambiente que afetam toda uma sociedade. Dessa forma, tem a função de incorporar novos e alterar velhos hábitos, de forma a mostrar que dependendo do impacto ambiental causado, a atividade ou ação causadora deve ser alterada de acordo com normas do Ministério da Saúde. Devido ao direcionamento do gerenciamento de resíduos hospitalares foi necessária a implantação de um sistema que avaliasse com mais atenção os trabalhadores da área de saúde, e nesse sentido, surge a biossegurança com mais precisão nos ambientes hospitalares. Para a demonstração do desempenho ambiental de uma empresa é preciso definir as variáveis a serem medidas e os indicadores apropriados. Tais indicadores são, por um lado, um instrumento condutor para se estabelecer objetivos, porém, o próprio sistema de monitoramento também deve ser controlado e testado em sua eficiência. Especialmente os equipamentos de teste precisam 34 UNIDADE III │ ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIOAMBIENTAIS ser conservados e calibrados. Para esta finalidade eles devem ser levantados e submetidos a um procedimento de monitoramento de instrumentos de teste. Somente através de um controle transparente e sistemático a direção da empresa pode saber se os objetivos e disposições são alcançados e se a conformidade legal exigida pode ser assegurada. Os desvios em face às exigências externas, como por exemplo, o não cumprimento de prescrições legais, precisam ser reconhecidos rapidamente a fim de que se possa introduzir ações corretivas. Mas os impactos ambientais relevantes também devem ser controlados para poder apresentar comprovação de desempenho e demonstrar a conformidade com os objetivos autodefinidos. Indicadores comunicam informações que podem ser simplesmente luzes acesas ou piscando em um aparelho eletrônico, bem como tornar perceptível um conjunto de fenômenos que não é imediatamente detectável. De maneira geral, os indicadores são elaborados para cumprir com as seguintes funções: simplificar, quantificar, analisar e comunicar. Os indicadores devem, portanto, permitir compreender fenômenos complexos, tornando-os quantificáveis de maneira tal que possam ser analisados em um dado contexto e assimilados por diferentes níveis da sociedade. No caso dos indicadores ambientais, são utilizados para se obter uma visão da qualidade ambiental e dos recursos naturais, as tendências de desenvolvimento e as respostas. Os indicadores de desempenho das ações de educação ambiental devem ter como parâmetros os fundamentos gerais da educação ambiental, que também devem orientar a definição das próprias ações educativas. Estes fundamentos são: 1. Sensibilização e conscientização: conhecimento genérico que é transmitido aos funcionários. Trata-se, em grande parte, da divulgação dos programas e das atividades, bem como dos conceitos ambientais. É uma ação de envolvimento e motivação das pessoas. É um dos fundamentos mais importantes, pois é “aqui que se ganham ou que se perdem” as pessoas. Estes conhecimentos visam despertar o interesse das pessoas, levando-as a se sensibilizarem pelos programas ambientais e a se conscientizarem da necessidade de mudarem seus comportamentos e valores. 2. Conhecimento e compreensão: entende-se como conhecimento específico, geralmente para um público-alvo ou para um aspecto ambiental especial. Estes conhecimentos são elaborados por técnicos das áreas específicas abordadas. 3. Habilidades: entende-se como as aptidões específicas adquiridas através dos treinamentos. Não são, necessariamente, iguais para todos os funcionários, uma vez que se referem a aspectos e públicos distintos. 4. Participação e ação: aqui se compreende o engajamento das pessoas nos programas e nas ações educativas. Pode-se dizer que o objetivo educativo será atingido de fato se as pessoas participarem espontaneamente. Porém, o fato delas 35 ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIOAMBIENTAIS │ UNIDADE III participarem de qualquer forma, às vezes até por pressão, poderá trazer resultados positivos, pois a repetição constante de um ato acaba gerando adaptação, e esta poderá levar a uma mudança consciente de valores e comportamentos. Sem contar que toda ação positiva gera resultados também positivos para a instituição. 5. Mudança de valores e comportamentos: este é o conjunto de indicadores mais subjetivo de todos, pois dificilmente poderá ser medido numericamente – a não ser pelos resultados obtidos nos programas implantados. Além disto, não se refere apenas àquelas ações que objetivem resultados positivos para a instituição, mas sim, refere-se à mudança consciente de cada indivíduo, passando a ter um comportamento diferente na sua relação indivíduo-meio ambiente e sociedade- meio ambiente. É aqui que realmente se pode atingir uma mudança na qualidade de vida das pessoas. Em todos os fundamentos apresentados sugere-se como uma das ações a aplicação de questionários. Trata-se, na verdade, de dois conjuntos de questionários. Um deles, a ser aplicado antes da implantação de qualquer programa ou ação. O outro deles, a ser aplicado após a implantação dos programas e ações. Sugere-se sua aplicação anual ou bianual, para verificar a percepção dos funcionários, a aceitabilidade dos programas e as mudanças ocorridas, especialmente as de valores e comportamentos espontâneos e conscientes. Ainda assim, ressalta-se que nem sempre os resultados obtidos pelos indicadores serão imediatos, pois a mudança de valores é um processo lento e que exige um trabalho educativo constante. 36 UNIDADE IV INTERFACE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CIDADANIA CAPÍTULO 1 Cidadania local A educação é fundamental para diminuir as desigualdades sociais. Historicamente o Brasil não registra processos significativos de participação da sociedade na discussão dos problemas comum, na tomada de deliberações de alcance geral, nem em formas mais simples de atuação política e social. Foi apenas com o surgimento dos sindicatos e de outros tipos de organização dos trabalhadores, que despertaram e cresceram as lideranças no seio dos diferentes grupos sociais, destacando-se o meio operário, estudantil e universitário. Apenas em meados do século XX, poucos anos após o término da Segunda Guerra Mundial, é que os ideais de reconstrução do mundo destruído pela guerra incorporaram a luta pelo estabelecimento de uma nova relação de poder na sociedade. A partir dos anos 1960, com a crescente conscientização das necessidades do meio em que viviam e atuavam, essas lideranças passaram a um ativismo mais intenso. Nessa mesma década, porém, elas começaram a ser drasticamente silenciadas pelo movimento político e militar e pelos regimes que vigeram por duas décadas (1964-1985). Coube aos incipientes movimentos ambientalistas levantar bandeiras de renovação que o regime militar não podia simplesmente fazer baixar. Afinal, em todo o mundo havia um despertar da consciência ecológicaque serviu de respaldo, ainda que não intencional para esse tipo de movimento apelidado de rebelião verde, da qual o Brasil começou a participar com certa timidez. Hoje já se pode falar que existem formas e canais de participação da sociedade na condução de seu próprio destino e no exercício cada vez mais requisitado da cidadania, por meio da prática de seus direitos e deveres. Nesse cenário, surgiu a cidadania ambiental, fundamentada na Constituição Federal de 1988, explicitada em outros documentos legais e doutrinários. 37 INTERFACE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CIDADANIA │ UNIDADE IV Participar não significa apenas o quanto se toma parte, mas como se toma parte em uma intervenção consciente, crítica e reflexiva baseada nas decisões de cada um sobre situações que não só lhe dizem respeito, como também dizem respeito à comunidade em que se está inserido. Todas as pessoas têm experiências anteriores e vivências que formam suas personalidades psicossocioculturais como agentes transformadores da natureza e da cultura. Sua capacidade criadora e suas potencialidades vão se tornando habilidades para intervir prontamente nos assuntos a elas relacionados. A participação, então, permite a inclusão e constitui uma necessidade humana básica e universal. Políticas públicas, condições ambientais, qualidade de vida, capacitação das pessoas e grupos, desenvolvimento de redes e cidadania requerem a conjugação de papéis doadores e receptores entre diferentes dimensões de mundo (íntima, interativa, social e biofísica), em termos da diversidade e reciprocidade próprias de um modelo ecossistêmico de cultura. Nesse contexto, a educação ambiental tem um sentido fundamentalmente político, já que visa à transformação da sociedade em busca de um presente e de um futuro melhor. É uma educação para o exercício da cidadania, que se propõe a formar pessoas que assumam seus direitos e responsabilidades sociais, a formar cidadãos que adotem uma atitude participativa e crítica nas decisões que afetam sua vida cotidiana. Cidadãos comprometidos na construção de uma sociedade multicultural e intercultural, pela abertura e valorização das diferentes formas de conhecimento, e pela aproximação à realidade, que transcende a racionalidade instrumental, entendendo-a como uma conquista sobre os próprios egoísmos, e os dos demais, como uma construção da autonomia da pessoa no sentido de responsabilidade. Os educadores ambientais devem integrar-se aos movimentos políticos e sociais que lutam por uma vida melhor para todos, contribuindo humildemente nesse processo de diálogo permanente, tentando gerar as bases de uma educação que se objetive na busca do outro, para construção de uma pluralidade que fundamente o sentido ético da vida humana, e a presença constante da utopia e da esperança. A educação ambiental está cada vez mais associada aos processos sociais, sendo ela própria um deles. Um enfoque centrado sobre o exercício pleno da cidadania tem alcance abrangente e, ao mesmo tempo, profundo. Ela estabelece verdadeiros fóruns de discussão e denúncias, abatendo-se, porém da ideologização dos seus princípios e práticas, porque sua missão é de outra natureza. De nada adianta ficar falando de efeito estufa, camada de ozônio, matança das baleias, destruição da Amazônia entre, outros assuntos, se cada realidade local não for considerada. Ali está a chance imediata de fazer valer os seus direitos de cidadania, em busca da melhoria da qualidade de vida. Ali no seu local, o indivíduo ou o grupo poderá avaliar a consequência de quem é responsável pelo gerenciamento dos recursos financeiros e ambientais. Pode-se perceber se as decisões estão corretas, quem se omitiu e de que forma as coisas poderiam e/ou deveriam ser feitas, para assegurar um ambiente saudável para as gerações presentes e futuras. 38 UNIDADE IV │ INTERFACE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CIDADANIA A Educação ambiental é uma educação para cidadania, não educamos ambientes, educamos pessoas para relacionar os temas, ter abrangência, saber o que está acontecendo no mundo. E mudar atitudes. A mudança de atitude, em casa, no local onde se mora, é o grande gargalo da educação ambiental. O aprendizado deve-se concentrar nas condições ambientais atuais, nos problemas que realmente afetam a comunidade, propondo ações concretas e práticas para resolver os problemas. É muito importante que o indivíduo conheça seu próprio ambiente e saiba analisá-lo, só assim será possível aumentar a qualidade de vida através do exercício de cidadania (DIAS, 2004). Nas escolas, os temas transversais podem ser trabalhados a partir de eixos temáticos e/ou projetos escolares, pois permitem o exercício da cidadania, oportunizando o envolvimento dos alunos com as temáticas comunitárias relevantes vinculadas ao cotidiano da sociedade em que vive, possibilitando optar por diferentes situações, baseadas em valores tais como responsabilidade, cooperação, solidariedade e respeito pela vida, integrando os conteúdos disciplinares e os temas transversais. A Educação Ambiental talvez seja a tarefa mais importante do governo de uma população local porque isso significa preparar gerações futuras para uma cidadania ecológica mais efetiva. Significa mudar comportamento, abrir espaço no dia a dia aos cidadãos para a preocupação com a preservação da natureza e com a qualidade de vida e principalmente desenvolver uma formação profissional que se vincule à preservação recuperação ambiental. 39 CAPÍTULO 2 Cidadania global A globalização, impulsionada sobretudo pela tecnologia, parece determinar cada vez mais nossas vidas. As decisões sobre o que nos acontece no dia-a-dia parecem nos escapar, por serem tomadas muito distante de nós, comprometendo nosso papel de sujeitos da história. Como fenômeno e como processo, a globalização tornou-se irreversível. Hoje estamos submetidos à globalização capitalista, cujos efeitos mais imediatos são: o desemprego, o aprofundamento das diferenças entre os poucos que têm muito e os muitos que têm pouco, a perda de poder e autonomia de muitos Estados e Nações. Há então que distinguir os países que hoje comandam a globalização – os globalizadores (países ricos) – dos países que sofrem a globalização, os países globalizados (pobres). Dentro deste complexo fenômeno podemos distinguir também a globalização econômica, realizada pelas transnacionais, da globalização da cidadania. Ambas se utilizam da mesma base tecnológica, mas com lógicas opostas. A primeira é comandada pelo interesse capitalista; a segunda globalização é a realizada através da organização da Sociedade Civil. A Sociedade Civil globalizada é a resposta que a Sociedade Civil como um todo e as Organizações Não Governamentais (ONGs) estão dando hoje à globalização capitalista. Neste sentido, o Fórum Global 92 se constituiu num evento dos mais significativos do final de século XX: deu grande impulso à globalização da cidadania. A noção de cidadania global (planetária) sustenta-se na visão unificadora do planeta e de uma sociedade mundial. Ela se manifesta em diferentes expressões: “nossa humanidade comum”, “unidade na diversidade”, “nosso futuro comum”, “nossa pátria comum”, “cidadania planetária”. Cidadania Planetária é uma expressão adotada para expressar um conjunto de princípios, valores, atitudes e comportamentos que demonstra uma nova percepção da Terra como uma única comunidade. Frequentemente associada ao “desenvolvimento sustentável”, ela é muito mais ampla do que essa relação com a economia. Trata-se de um ponto de referência ético indissociável da civilização planetária e da ecologia. A Terra é “Gaia”, um superorganismo vivo e em evolução, o que for feito a ela repercutirá em todos os seus filhos. As diferenças culturais, geográficas, raciais e outras enfraquecem, diante do meu sentimento de pertencimento à Humanidade. O processo de globalização sociedade civil possibilita novos movimentos sociais, políticos e culturais, intensificando a troca
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