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PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO Filipe Martins da Silva Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 S586p Silva, Filipe Martins da. Planejamento tributário / Filipe Martins da Silva, Ramon Alberto Cunha de Faria. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. 190 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-006-1 1. Planejamento tributário. 2. Tributação. I. Faria, Ramon Alberto Cunha de. II. Título. CDU 336.221 Planejamento_Tributario_Iniciais.indd 2 20/01/2017 14:27:08 Exercício social Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: n Conceituar exercício social. n Identifi car quais são os períodos considerados como exercício social para fi ns tributários. n Demonstrar o exercício social para fi ns tributários. Introdução Você sabe quantos meses possui um exercício contábil? Você sabe ainda que o início e o encerramento do exercício social não estão vinculados ao ano civil ou ao ano fiscal? Dessa forma, é possível que o exercício social tenha seu início em um mês que não seja janeiro, ou seja, o exercício social não tem a obrigatoriedade de iniciar em janeiro e encerrar em dezembro. Já os anos civil e fiscal obrigatoriamente iniciam em janeiro e encerram em dezembro. Neste texto, você vai entender por que os períodos de início e enceramento do exercício social podem divergir do ano civil e do ano fiscal. O que é exercício social? O exercício contábil é o período de um ano, em que se faz a apuração do re- sultado. Não necessariamente o exercício contábil de um ano tem de coincidir com o ano civil, mas o exercício contábil deve ter 12 meses. O início e o fi m do exercício serão determinados pela empresa. Planejamento_Tributario_U3_C01.indd 57 19/01/2017 17:54:57 Para conhecer um pouco mais sobre este e outros princípios fundamentais da conta- bilidade, acesse http://www.oocities.org/univix/principios1.htm. De acordo com a Lei nº 6.404/1976 (BRASIL, 1976), exercício social é o período no qual as organizações são obrigadas a elaborar as demonstrações contábeis. Esse período deve ter duração de um ano e a data do término será fixada no Estatuto Social, conforme você pode verificar na leitura do art. 175 da Lei nº 6.404 (BRASIL, 1976): Art. 175. O exercício social terá duração de 1 (um) ano e a data do término será fixada no estatuto. Parágrafo único. Na constituição da companhia e nos casos de alte- ração estatutária o exercício social poderá ter duração diversa. O Código Civil Brasileiro (BRASIL, 2002a) prevê em seu art. 1.179 que o empresário e a sociedade empresária devem elaborar o Balanço Patrimonial (BP) anualmente, porém, não fixou data para início ou término do exercício social: Art. 1.179. O empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus livros, em correspondência com a docu- mentação respectiva, e a levantar anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico. § 1º Salvo o disposto no art. 1.180, o número e a espécie de livros ficam a critério dos interessados. § 2º É dispensado das exigências deste artigo o pequeno empresário a que se refere o art. 970. Portanto, após a leitura da legislação, você pode concluir que o exercício social das entidades poderá coincidir com o ano civil, ou seja, de 1º de janeiro a 31 de dezembro de cada ano, mas, caso não seja possível, deverá compreender um período de 12 meses. Planejamento tributário58 Planejamento_Tributario_U3_C01.indd 58 19/01/2017 17:54:58 Caso não seja possível coincidir o exercício social com o ano civil, devido à natureza de suas operações, por serem sazonais, é possível apresentar as demonstrações contábeis na época em que o patrimônio e os resultados das atividades estejam mais bem representados (SOUZA; TEIXEIRA, c2016). Exercício social na atividade agrícola Existem diferenças entre a contabilidade rural e as demais empresas, por exemplo no encerramento do exercício. Em atividades agrícolas, a receita concentra-se, normalmente, durante ou após a colheita, ao contrário de outras atividades em que a receita se distribui ao longo dos 12 meses. A produção agrícola, por razão de sua natureza, é sazonal, ou seja, a receita se concentra em determinado período, que pode ser em dias de um mês do ano (MARION, 1994). Na atividade agrícola, o exercício social termina logo após o ano agrícola. O ano agrícola corresponde, geralmente, ao período de 12 meses, englobando do início do cultivo até a colheita. É, também, decorrente da concentração da receita na referida atividade, durante ou logo após a colheita, diferindo das demais empresas nas quais as receitas e as despesas são constantes durante todos os meses do ano (COSTA; LIBONATI; RODRIGUES, 2004). De acordo com Crepaldi (1998), determina-se o início e o fim do ano agrícola quando se obtêm a colheita e a comercialização da atividade que representa a maior renda bruta. Já para Marion (2002), para produtores de culturas diversificadas, o ano agrícola é fixado em função da cultura de maior representatividade econômica. O ano agrícola é, portanto, o tempo em que se planta, colhe e se comercializa, o que torna inviável o encerramento no final do ano civil, já que o produtor obtém seu resultado em um período diferente do mês comum de encerramento (dezembro). Isso tornaria a ava- liação de desempenho da safra inadequada, pois não demonstraria quais bens ainda estariam em desenvolvimento, dificultando a obtenção e análise do resultado para a tomada de decisão (SOUZA; TEIXEIRA, c2016).O ano agrícola é, portanto, o tempo em que se planta, colhe e se comercializa, o que torna inviável o encerramento no final do ano civil, já que o produtor obtém seu resultado em um período diferente do mês comum de encerramento (dezembro). Isso tornaria a avaliação de desempenho da safra inadequada, pois não demonstraria quais bens ainda estariam em desenvolvimento, dificultando a obtenção e análise do resultado para a tomada de decisão (SOUZA; TEIXEIRA, c2016). 59Exercício social Planejamento_Tributario_U3_C01.indd 59 19/01/2017 17:54:58 Algumas empresas apresentam culturas diversificadas, em que a obtenção de receita não é distribuída nos meses do ano comercial, mas sim em épocas divergentes, o que faz o encerramento do exercício social ocorrer de acordo com suas características de obtenção de receita, por exemplo, o encerramento do ano agrícola, que é determinado de acordo com a colheita. Já na atividade pecuária, o encerramento acontece de acordo com o nascimento de bezerros, ou no mês seguinte, quando começam as vendas, e não no ano civil (SOUZA; TEIXEIRA, c2016). Períodos de tributação De acordo com Rezende, Pereira e Alencar (2010) sobre o lucro das empresas incidem dois tipos de tributos: Imposto Sobre a Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Cada um desses tributos têm sua legislação específi ca e, com isso, os valores em reais de suas bases de cálculos podem ser diferentes. Rezende, Pereira e Alencar (2010) ainda completam que o IRPJ tem sua natureza fiscal, arrecadatória, tendo como fato gerador a aquisição jurídica de renda ou disponibilidade econômica. Já a CSLL é uma contribuição para custeio da seguridade social, incidente sobre o lucro tributável das pessoas jurídicas. Conforme Brasil (2002b) está obrigado ao pagamento da CSLL: As pessoas jurídicas e as pessoas físicas a elas equiparadas, domiciliadas no País. A alíquota da CSLL é de 9% (nove por cento) para as pessoas jurídicas em geral, e de 15% (quinze por cento), no caso das pessoas jurídicas consideradas instituições financeiras, de seguros privados e de capitalização. A apuração da CSLL deve acompanhar a forma de tributação do lucro adotado para o IRPJ. Lucro presumido Para Oliveira et al. (2014), os contribuintes que não estejam obrigados a apu- ração do lucro pela modalidade de lucro real podem optar pelamodalidade lucro presumido, pois é uma forma mais simples para apuração da base de cálculo dos tributos com pagamento trimestral. Planejamento tributário60 Planejamento_Tributario_U3_C01.indd 60 19/01/2017 17:54:58 Oliveira et al. (2014) ainda complementam que sua base de cálculo é obtida por meio da aplicação de um percentual sob sua receita bruta, chamado de percentual de presunção de lucro conforme a atividade da empresa. Esse percentual de presunção não é o mesmo para o cálculo de IRPJ e CSLL, pois cada tributo possui um percentual de presunção diferente. Conforme o art. 13, da Lei nº 12.814/2013 (BRASIL, 2013), quem pode optar pelo regime de tributação de lucro presumido é: A pessoa jurídica cuja receita bruta total no ano-calendário anterior tenha sido igual ou inferior a R$ 78.000.000,00 (setenta e oito milhões de reais) ou a R$ 6.500.000,00 (seis milhões e quinhentos mil reais) multiplicado pelo número de meses de atividade do ano-calendário anterior, quando inferior a 12 (doze) meses, poderá optar pelo regime de tributação com base no lucro presumido. Lucro real Para Rezende, Pereira e Alencar (2010), lucro real é o lucro líquido do perí- odo, apurado de acordo com a legislação societária e ajustado pelas adições, exclusões ou compensações prescritas ou autorizadas pela legislação do IR. Qualquer empresa pode optar pela tributação pelo lucro real, mas algumas são obrigadas a apurar de acordo com essa modalidade, em função de características relacionadas ao tamanho e ao tipo de atividade desenvolvida. Conforme definido no Inciso, do art. 14 da Lei nº 12.814/2013 (BRASIL, 2013), quem está obrigado a tributação pelo Lucro Real é: I – Cuja receita total no ano-calendário anterior seja superior ao limite de R$78.000.000,00 (setenta e oito milhões de reais) ou proporcional ao número de meses do período, quando inferior a 12 (meses) meses. Para Oliveira et al. (2014), lucro real trimestral é a forma de apuração por períodos, que se encerram nos dias 31 de março, 30 de junho, 30 de setembro e 31 de dezembro. Com o encerramento desses períodos é feito o pagamento do IRPJ e da CSLL, apurados pela tributação do lucro real no período de cada trimestre. Oliveira et al. (2014) ainda completam que o valor devido pelo contribuinte deve ser calculado mediante à aplicação da alíquota de 15% sobre o lucro tributável, apurado em uma das modalidades de tributação do lucro: lucro real, lucro presumido e lucro arbitrado. Se o lucro apurado exceder a quantia 61Exercício social Planejamento_Tributario_U3_C01.indd 61 19/01/2017 17:54:58 de R$ 20.000,00 no mês, deve ser calculado um adicional de 10% sobre o lucro excedente. O art. 176 da Lei nº 6.404 de 1976 (BRASIL, 1976), que trata das Sociedades Anôni- mas, diz que: “Ao fim de cada exercício social, a diretoria fará elaborar, com base na escrituração mercantil da companhia, as seguintes demonstrações financeiras, que deverão exprimir com clareza a situação do patrimônio da companhia e as mutações ocorridas no exercício: 1. Balanço patrimonial; 2. Demonstração do resultado; 3. Demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados, podendo ser substituído pela demonstração das mutações do patrimônio líquido; 4. Demonstração dos fluxos de caixa; 5. Se companhia aberta, demonstração do valor adicionado.” Tributos incidentes no exercício São muitos os tributos que fazem parte da vida do contribuinte, alguns sobre a renda das pessoas físicas, outros sobre o faturamento das empresas e, ainda, os comuns tanto a pessoas físicas como a pessoas jurídicas, como o Imposto sobre as Operações Financeiras (IOF). A seguir, você verá quais são os tributos que têm sua incidência sobre o lucro das empresas, mais especificamente o IRPJ e a CSLL, que são calculados com base no lucro ajustado conforme regras previstas na legislação tributária. O cálculo dos tributos sobre o lucro ocorre antes de qualquer distribuição aos sócios. Imposto de Renda Pessoa Jurídica O IRPJ é um imposto direto, de natureza fi scal, ou seja, arrecadatório, de competência da união, que tem como fato gerador a aquisição da disponibi- lidade econômica ou jurídica da renda. A base de cálculo do IRPJ é o lucro (REZENDE; PEREIRA; ALENCAR, 2010). O IRPJ é determinado com base no lucro real, presumido ou arbitrado, por períodos de apuração trimestrais, encerrados nos dias 31 de março, 30 de Planejamento tributário62 Planejamento_Tributario_U3_C01.indd 62 19/01/2017 17:54:58 junho, 30 de setembro e 31 de dezembro de cada ano-calendário. Vale lembrar que foi mantido, para as empresas tributadas pelo lucro real, a possibilidade de trabalhar com balanço anual (com antecipações mensais) e, consequentemente, recolhimentos por estimativa (PINTO, 2013). Contribuição Social sobre o Lucro Líquido A CSLL é uma contribuição social de competência da União, incidente sobre o lucro das pessoas jurídicas. A apuração e o recolhimento da CSLL estão atrelados à escolha do regime de tributação do IRPJ e seguem o mesmo modelo de antecipações mensais, caso a empresa tenha optado pela apuração anual (REZENDE; PEREIRA; ALENCAR, 2010). A CSLL é determinada com base no lucro real, presumido, ou arbitrado, por períodos de apuração trimestrais, encerrados nos dias 31 de março, 30 de junho, 30 de setembro e 31 de dezembro de cada ano-calendário. Foi mantida, para as empresas tributadas pelo lucro real, a possibilidade de trabalhar com balanço anual (com antecipações mensais) e, consequentemente, recolhimentos por estimativa (PINTO, 2013). Para você ver mais um exemplo de solução de problemas e melhoria de processos, acesse o artigo “Proposta de melhoria do processo de uma fábrica de polpas por meio da metodologia de análise e solução de problemas” (SOUSA et al., 2015), em: http:// www.ada.com.br/site/contabilidade-rural/. 63Exercício social Planejamento_Tributario_U3_C01.indd 63 19/01/2017 17:54:58 Planejamento tributário64 Planejamento_Tributario_U3_C01.indd 64 19/01/2017 17:54:59 BRASIL. Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Brasília, DF, 1976. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6404compilada.htm>. Acesso em: 27 nov. 2016. BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Brasília, DF, 2002a. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 27 nov. 2016. BRASIL. Lei nº 12.814, de 16 de maio de 2013. Brasília, DF, 2013. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12814.htm>. Acesso em: 27 nov. 2016. BRASIL. Receita Federal do Brasil. Contribuição Social sobre o Lucro Líquido CSLL. Brasília, DF, 2002b. Disponível em: <http://www.receita.fazenda.gov.br/aliquotas/ContribCsll/ Default.htm>. Acesso em: 27 nov. 2016. CONTÁBEIS. Princípios fundamentais de contabilidade. [S.l.]: Contábeis, 2009. Disponível em: <http://www.oocities.org/univix/principios1.htm>. Acesso em: 27 nov. 2016. COSTA, Maristela Santos da; LIBONATI, Jeronymo José; RODRIGUES, Raimundo Nonato. 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