Buscar

INTERFACE ENTRE A PSICOLOGIA A PSIQUIATRIA E A SAÚDE MENTAL - (2)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 5 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

INTERFACE ENTRE A PSICOLOGIA A PSIQUIATRIA E A SAÚDE MENTAL 
ADOLFO VIEIRA MELONIO DO NASCIMENTO 
CONTEÚDO PARA A MESA-REDONDA NA SEMANA DE PSICOLOGIA DA FACULDADE MAURÍCIO 
DE NASSAU – SÃO LUÍS/MA. 
 
 
No campo da saúde mental, objetivando o acerto e o avanço do saber repete-se mais do que se 
percebe ou do que se gostaria.Esse fato deve-se à adesão incondicional a determinadas teorias 
ou modos de pensar lecionados historicamente, por consequência paga-se um preço elevado. 
O estudo, a crítica e a interdisciplinariedade das conquistas práticas no âmbito da sanidade 
mental no mundo devem ser propagadas, para que não venhamos a reproduzir alguns erros e 
dogmas considerados ultrapassados no atual contexto do transculturalismo. 
Vale ressaltar que toda a produção do saber é embasada nos jogos de verdade, enunciados por 
Foucault, o autor não se preocupa em definir o que é verdade e o que não é, mas discute por 
que algumas coisas são consideradas verdade enquanto outras não, visto que cada sociedade 
possui seu próprio regime de verdade. O que pode ser aglutinado com os ensinamentos que 
constam nos jogos de linguagem de Ludwig Wittgenstein em sua obra “Investigações 
Filosóficas”, onde infere-se do texto que o falar da liguagem é parte de uma atividade, ou de 
uma forma de vida que dá à linguagem o seu significado. 
Assim, é preciso reservar uma especial atenção a conjuntura histórica no sentido de aproveitar 
os ensinamentos já sacramentados, sem ouvidarmos que a busca por novas teses é salutar para 
o desenvolvimento da pesquisa e elaboração da literatura nas ciências da saúde. 
Ademais, a corroborar os ensinamentos dos filósofos supracitados podemos nos debruçar no 
âmbito literário, onde a subjetividade diante dos conflitos é mesclada com o imaginário e o 
lúdico, trazendo uma reconciliação com o âmago , perfilhando ideias que de outro modo seriam 
inconcebíveis. 
É altamente ilustrativo citarmos “O Alienista” de Machado de Assis.Essa obra prima tem como 
protagonista o Dr.Simão Bacamarte, médico dedicado na sua ciência em tempo integral, 
especialmente no tocante a mente humana, criador do primeiro hospício de seu tempo. 
O terapeuta sem dúvidas correspondia aos anseios da população em um contexto onde o 
termo psiquiatria ainda era inexistente em nosso país. O orgulho pelo Dr. Bacamarte era 
tamanho que o narrador o descreve como o maior médico do Brasil, de Portugal e da Espanha. 
A nomenclatura psiquiatria não existia na época, visto que o conto é datado de 1882, mas 
indubitavelmente as demandas em saúde mental já eram latentes. 
Sobre tal aspecto, Freud em 1930, em seu ensaio “ O mal-estar na civilização”, cuida 
notadamente sobre a atonia da humanidade, mesmo com a evolução nos campos tecnológicos 
e científicos. E termina questionando até quando a civilização irá manter-se utilizando os meios 
que criou para conter a destrutividade humana. 
Os tempos mudaram, décadas de guerras e epidemias de diversas espécies ocorreram e a 
globalização na atualidade resta consumada.O transculturalismo fomentado pelo fácil acesso a 
tecnologia tem aproximado gerações, opiniões e dissipado padrões de comportamento e 
postura. É o mundo digital se sobrepondo ao mundo real. Nesse cenário como fica a saúde 
coletiva? Acomodadamente sadia ou mais neurótica?É uma questão. 
Hoje, profissionais de diversas graduações ligadas à saúde são alvejados por um mercado que 
deseja um atendimento prático, responsável e eficiente, e ao mesmo tempo hiperprodutivo. O 
excesso de informações leva geralmente ao desequilíbrio emocional e físico das pessoas, o que 
começa com uma alteração de humor pode facilmente findar em sintomas depressivos.O 
profissional da saúde mental trata da alma humana com todas as suas complexidades, o estudo 
de cada indivíduo leva tempo, o falar e o escutar o paciente é primordial, entretanto, o curto 
lapso temporal que dispomos faz com que frequentemente o contraditório seja oco. 
Em nossa sociedade, o uso de substâncias psicoativas é alarmante, seja em comunidades 
remotas ou em uma grande metrópole, todos estamos suscetíveis a esse mal. Os distúrbios 
psiquícos podem variar segundo características sociodemográficas. De modo elucidativo iremos 
abordar o alcoolismo dentro de uma aldeia indígena maranhense e as consequências trazidas 
pela doença para a mente humana. 
Todos já ouvimos o adágio popular que diz: “De boas intenções o inferno está cheio”. No que se 
refere a este dito podemos exemplicar com o elo entre o antropólogo Willian Crocker e o povo 
indígena Canela. 
Crocker descreve em sua obra, The Canela (1967), que os índios foram levados à condição de 
vítimas no processo de colonização, visto que padeceram com o uso do álcool que foi oferecido 
pelo homem branco, de modo que substâncias alucinógenas outrora utilizadas em rituais 
religiosos, nascimentos, festa da colheita entres outros, passaram a fazer parte do cotidiano 
desse povo , conduzindo-os à dependência alcoólica. 
No caso em tela, o uso abusivo da bebida pelos índios associado a invasão de terras de 
fazendeiros em Barra do Corda, local onde é situada a aldeia, concomitou em um grande 
genocídio no lugar, levando ao extermínio de cerca de 40 nativos.O crime foi ao Tribunal do 
Jurí local e todos os acusados envolvidos foram absolvidos. 
Nessa região, residentes antigos associam a chegada do pesquisador ao início da dependência 
etílica dessa etnia. O álcool servia, segundo a opinião daqueles, como um facilitador da 
pesquisa e por este motivo as festas patrocinadas pelo milionário californiano, filho de 
banqueiro, eram constantes, o que muitos apontam como um problema ético dentro dos 
procesos metódicos de investigação científica. 
Na contemporaneidade o alcoolismo é um grande estorvo no cotidiano do povo Canela e em 
muitos outros grupos indígenas. A narrativa da bebida no período pré-colonial é um dos 
tópicos pontuais que figuravam no abismo cultural que apartava os índios dos europeus que 
pisavam em terras brasileiras. 
Como assenta João Azevedo Fernandes, autor de “Selvagens Bebedeiras: álcool, embriaguez e 
contatos culturais no Brasil Colonial ( séculos XVI-XVII)”. 
“As festas nativas repletas de embriaguez, eram espaço fundamental para a expressão das 
visões de mundo indígenas e para realização de eventos importantes, como a celebração de 
casamentos e vitórias de combate. Tais práticas contrastavam completamente da forma como 
os europeus achavam ser correto o relacionamento com o álcool e com o autocontrole.Eram 
dois muns etílicos completamente diferentes, com lógicas mentais desenvolvidas ao longo de 
milênios”. 
Na amostra, levando em conta a história dos Canela, reflitamos: A introdução do álcool no 
núcleo indígena sucedeu-se pela presença de Crocker, fazendeiros ou colonizadores? O que 
importa é que o arquétipo do homem loiro, com estereótipo “diferente” no meio da aldeia não 
saiu da lembrança dos índios, tornando-se o álcool a alucinação indígena. 
O emprego de substâncias psicoativas, principalmente etílicas, decorrentes do processo de 
pacificação provocam caos recorrente nesse povo: tensões sociais, transtornos mentais, 
violência interpessoal, perda de identidade e soberania, necessitando agora da intervenção de 
órgãos oficiais para dirimir conflitos. 
O exemplo do alcoolismo supradescrito serve para nos atentarmos aos problemas de saúde 
pública, que por dizerem respeito à coletividade não podem ser sanados de forma isolada e 
por conseguinte a agregação interdisciplinar se torna crucial. 
Por este prisma, desde Hipócrates a doença é compreendida como : “ Toda e qualquer condição 
individual que traga dor, sofrimento próprio ou de outrem, de qualquer etiologia, e que em 
função desta condição traga diminuição, limitação, incapacitação, piora da qualidade de vida, 
seja de forma provisória ou permanente, parcial ou total”. 
Na Teoria Psicanalítica, o alcoolismo é classificadocomo sendo uma fixação oral, geralmente 
associada a um conflito subjacente, que se configura como uma necessidade de prazer 
imediato pelo fato de o indivíduo não querer lidar com suas frustações. 
Nesse sentido, Juberty Antonio de Souza, nos aponta as lições de Laurell(1983), San 
Martin(1979) e Miranda de Sá(1988), na afirmação que o processo saúde/ doença deve ser 
aceito como uma concepção globalística, ressaltando a unidade dos fatores biológicos, 
psicológicos e sociais no organismo e a compreensão da indissolúvel identidade do organismo 
com o ambiente. 
Em consonância com as explanações transcritas, é mister frisar que a busca pelo bem-estar do 
indivíduo, em especial na área da saúde mental, transita por vários campos de estudo. Os 
fatores biomédicos são essenciais, aliados com outras disciplinas como ciências naturais e 
antropologia fazem com que a observação do paciente ocorra de forma plena, criando uma 
maior perspectiva de cura dentro de estruturas hospitalares e ambulatoriais. 
Como é cediço, o médico deixou de ser “auctor” para tornar-se “artifex” nas demandas 
individuais e também coletivas, procurando encontrar um equilíbrio nos campos físico, mental, 
social e espiritual. A hegemonia do saber do Dr. Simão Bacamarte inicialmente aclamada 
transformou-se no retrato da loucura de um profissional apaixonado por saúde mental, fato 
decorrente de sua natureza autossuficiente e egocêntrica. 
Extraimos de “O Alienista” que o médico decidindo se dedicar ao aprendizado da psiquiatria 
construiu um manicômio chamado Casa Verde para albergar todos os loucos da sua cidade e 
região.Com o intento de solidificar sua teoria, em um dado momento cerca de 75% dos 
moradores estavam internados. Repetiu a internação e a alta médica de seus pacientes por 
inúmeras vezes, até concluir ser ele o único doente mental, decidindo trancar-se sozinho no 
manicômio até o fim de sua existência. 
Resgatando os pensamentos de Michel Foucault em “ A história da Loucura”, obra inicialmente 
publicada em 1961, o autor busca apontar como a percepção da loucura pode ser alterada com 
o passar do tempo, condições e mudanças geográficas. Atentando-nos que determinadas 
práticas utilizadas no campo psíquico poderão ser extremamente perigosas se não pautadas na 
ética profissional. 
A mente humana é um terreno vasto para novas descobertas , e asseguradamente um diálogo 
entre a psicologia e psiquiatria enriquece o desenvolvimento cientifico e gera bem-estar e 
qualidade de vida daquele que é tratado. 
Restanto sacramentada a interação entre o psicológo e o psiquiatra o paciente terá a sua 
disposição um leque maior de possibilidades de cura e conhecimentos terapêuticos, esta 
aliança possibilitará o alcance de um arcabouço da estrutura do sujeito. 
A descentralização e ao mesmo tempo parceria desses profissionais no cuidado da saúde é 
perfeita. Enquanto o psiquiatra analisa os padrões de normalidade psíquica, buscando 
diagnosticar desordens e aplicar tratamentos medicamentosos, o psicológo está atento aos 
sinais, interpretando o que é dito pelo paciente, é a análise das entrelinhas, lançando mão de 
tratamentos psicoterápicos . A terapia conjunta reequilibra o indivíduo e lhe devolve o bem-
estar, facilitando que o sujeito encontre o self “ real” em coerência com self “ideal “, como nos 
ensina o psicológo humanista Carl Rogers na sua obra “Tornar-se Pessoa”. 
Posto isso, concluimos que a doença mental expressa em “ O Alienista”, as pesquisas de 
Crocker, o filosofar de Foucault e Wittgenstein, os estudos de Freud e os ensinamentos de 
Rogers apresentam uma rica miscelânia nas questões que envolvem o campo da saúde 
mental.Nos levando a crer que todo conhecimento é ciclico, que a globalização e o 
transculturalismo eleva o patamar de alianças profissionais, que não existem detentores do 
saber e que a conhecida máxima “ Mens sana in corpore sano” ( Mente sã em um corpo são), 
famosa citação derivada da Sátira X do poeta romano Juvenal, deve servir de norte para que 
possamos sempre buscar o maior grau de sanidade mental possivel. 
 “ A Cura está ligada ao tempo e às vezes também as circunstâncias”. 
 Hipócrates de Cós. 
 
 ADOLFO VIEIRA MELONIO DO NASCIMENTO 
 CRP- 00401/22

Outros materiais