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SUMÁRIO 1. Definição .......................................................................................3 2. Epidemiologia ...............................................................................4 3. Classificação .................................................................................4 4. Apresentação Clínica ................................................................5 5. Tratamento ................................................................................12 6. Incompetência Istmo Cervical .............................................15 7. Síndrome do Anticorpo Antifosfolípide (SAAF) ...........19 Referências Bibliográficas ........................................................20 3ABORTAMENTO 1. DEFINIÇÃO A Organização Mundial da Saúde (OMS) define aborto como interrup- ção da gravidez antes das 22 sema- nas de gestação ou um feto < 500g ou 16,5 cm é importante fixar este conceito para não confundir aborta- mento com situações em que se trata de trabalho de parto prematuro extre- mo, por exemplo. Aproximadamente 10-15% das gestações apresentam hemorragias, de modo que o abor- tamento se enquadra naquelas que ocorrem na 1ª metade da gestação sendo este enfatizado neste resumo. Vale ressaltar que, no Brasil, o aborto é considerado crime salvo em 3 situ- ações específicas: quando a gravidez representa risco de vida para a ges- tante, quando a gravidez é resultado de um estupro ou quando o feto for anencéfalo. Logo, diante de uma si- tuação de aborto, é importante que os profissionais de saúde tenham uma prática destituída de julgamen- tos arbitrários e rotulações. CONCEITO! Aborto é toda interrupção da gravidez antes das 22 semanas de gestação ou em que o feto pesa < 500g ou mede 16,5 cm. No Brasil, o aborto não é considerado crime em 3 situações: gravidez representa com risco de vida para a gestante, quando é resultado de um estupro ou em casos de anencefalia. SAIBA MAIS! A Lei nº 12.845/2013 refere que o atendimento da pessoa em situação de violência nos serviços de saúde dispensa a apresentação de Boletim de Ocorrência (BO). E, a realização de abortamento não se condiciona a decisão judicial que sentencie se ocorreu estupro ou violência sexual. De modo que, a Lei Penal brasileira não exige a apresentação de nenhum documento (alvará/autorização judicial, BO, etc.) para a realização de abortamento em caso de gravidez decorrente de violência sexual. Logo, não há sustentação legal para que os ser- viços de saúde neguem o procedimento caso a mulher não possa apresentar documentos comprobatórios. Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Ministério da Justiça. Secretaria de Políticas para as Mulheres. Norma Técnica: atenção humanizada às pessoas em situação de violência sexual com registro de informações e coleta de vestígios. Brasília, 2015; Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas Prevenção e tratamento dos agravos resultantes da violência sexual contra mulhe- res e adolescentes: norma técnica. 3ª ed, 124 p. Brasília, 2012. 4ABORTAMENTO 2. EPIDEMIOLOGIA A magnitude do abortamento no mun- do é desconhecida, uma vez que em diversos países ocorre ilegalidade par- cial ou total para a realização do mes- mo. Os dados epidemiológicos acer- ca do aborto são subclínicos devido a muitas vezes acontecerem sem que a mulher reconheça que está abortan- do ao confundir a expulsão do concep- to com um sangramento menstrual, já os clinicamente reconhecidos chegam a incidência de 10-15%, destes, 80% ocorrem antes das 12 semanas. Po- rém, a existência de testes altamente sensíveis de hCG nota-se que a mag- nitude de perda gestacional após a implantação é de 62%. SE LIGA É importante ressaltar que, o risco de abortamento é maior em mu- lheres com idade ≥ 35 anos e, tal risco se eleva se o homem tiver ≥ 40 anos. 3. CLASSIFICAÇÃO Precoce ou tardio O abortamento é considerado preco- ce se ocorre até a 12ª semana e tardio se ocorre entre a 13ª e 20ª semana. Espontâneo ou provocado O espontâneo ocorre sem nenhum tipo de intervenção externa, podendo ser causado por doenças da mãe ou anormalidades do feto. O provocado decorre de uma interrupção externa e intencional que acarreta na inter- rupção da gestação. Esta, representa custos altos para o Sistema Único de Saúde em consequências das suas complicações, principalmente, quan- do há evolução para aborto infectado o qual explicaremos melhor a seguir. Esporádico ou habitual A separação em aborto esporádi- co e habitual, nos auxilia na melhor compreensão das etiologias do abor- tamento. Os abortamentos espo- rádicos têm como principal causa as anormalidades cromossômicas que chegam a abranger 50-80% dos abortamentos esporádicos, sendo as aneuploidias aquelas que represen- tam maior frequência seguidas das triploidias e tetraploidias. Dentre as aneuploidias, a trissomia autossômi- ca possui 52% de frequência e 19% de síndrome de Turner. Chama-se abortamento habitual aquele que ocorre 3 vezes ou mais na mesma gestante, neste caso, as principais causas são: incompetência istmo cervical e síndrome do anticor- po antifosfolípide (SAAF), as quais abordaremos a seguir. Seguro ou inseguro A OMS costuma designar como se- guro aqueles realizados por um mé- dico bem treinado, com materiais e 5ABORTAMENTO ambiente adequados representando risco menor para a saúde da mulher. E, inseguro é aquele aborto realizado sem os recursos médicos mínimos e/ou sem pessoa capacitada para realizá-lo. 4. APRESENTAÇÃO CLÍNICA Toda gestante com sangramento va- ginal no 1º trimestre deve ser sub- metida a exame abdominal, exame especular e toque vaginal. Com isso, e associada a coleta de uma boa anamnese, é possível diagnosticar e classificar a mesma dentro de uma das 6 apresentações clínicas a seguir. Para melhor memorização das apre- sentações clínicas em cada tipo de abortamento, podemos separar em dois grupos, sendo o primeiro: ameaça de abortamento, completo e retido; o segundo grupo: incompleto, infectado e inevitável. A tabela a seguir visa re- sumir os tipos de abortamento e suas respectivas apresentações clínicas e, a seguir especificaremos melhor as ca- racterísticas de cada um deles. SINAIS E SINTOMAS AMEAÇA DE ABORTA- MENTO ABORTA- MENTO COMPLETO ABORTA- MENTO RETIDO ABORTA- MENTO INCOMPLETO ABORTA- MENTO INFECTADO ABORTA- MENTO INEVITÁVEL Sangramento Discreto Discreto ou ausente Ausente Variável Variável com odor fétido Presente e intenso Dor Pouca ou ausente Ausente Ausente Cólicas Cólicas e pode haver sinais de peritonite Cólicas Febre Ausente Ausente Ausente Ausente Presente Ausente Útero Compatível com IG Menor do que esperado para IG Menor do que esperado para IG Menor do que esperado para IG Amolecido e doloroso à palpação Compatível ou não com IG OI do colo Fechado Fechado Fechado Fechado ou aberto Fechado ou aberto Fechado ẞhCG + - - - - + USG Embrião e BCE presentes Útero vazio Embrião sem BCE (morto) Restos ovulares Variável Presença ou ausência de BCE Tabela 1. Apresentação clínica dos abortamentos. OI: orifício interno; USG: ultrassonografia; BCE: batimento cardio- embrionário. Fonte: Aula SanarFlix. 6ABORTAMENTO Ameaça de Abortamento Neste caso, como o próprio nome su- gere, trata-se de um abortamento em que há chance de reversão do quadro por haver ainda perspectivas de evo- lução da gravidez. O sangramento é pouco e a dor, quando presente, diz respeito às contrações uterinas inca- pazes de produzir modificações cer- vicais. Ao exame especular pode-se notar sangramento ativo e na USG transvaginal é possível notar hema- toma retroplacentário. A conduta é expectante mesmo na presença de hematoma e, prescrição de sinto- máticos se necessário. É importante orientar a paciente evitar relações se- xuais em caso de perda sanguínea e retornar ao serviço de saúde em caso de aumentodo sangramento. B Figura 1. A: Ameaça de abortamento. Nota-se hemorragia intrauterina. B: Ultrassonografia evidenciando hematoma intrauterino. SG= saco gestacional, H= hematoma (Fonte: REZENDE, 2014). Abortamento Completo Consiste no abortamento em que há eliminação total do concepto. Os sintomas são redução ou parada do sangramento e das cólicas após a ex- pulsão do ovo íntegro. No entanto, se o episódio aconteceu e o diagnóstico seria dado apenas com o relato colhi- do na anamnese, o ideal é que seja solicitada um exame de imagem que possibilite a confirmação do diagnós- tico. A conduta é expectante, de- vendo haver apenas monitoramento da hemorragia. 7ABORTAMENTO Figura 2. Abortamento completo (Fonte: REZENDE, 2014). Abortamento Retido Trata-se de um aborto em que o concepto permaneceu retido na ca- vidade uterina sem vitalidade. Com isso, há regressão dos sinais graví- dicos (redução da altura uterina e da circunferência abdominal, perda da turgescência mamária e dos sinais de presunção de gravidez) e perda dos batimentos cardioembrionários (BCE). Inicialmente, a conduta é ex- pectante se o mesmo ocorre de for- ma precoce dentro do 1º trimestre, pois até 3 semanas após o aborta- mento o ovo costuma ser expulso. No entanto, é possível nestes casos proceder com esvaziamento uterino por meio da aspiração manual intrau- terina (AMIU) ou farmacologicamen- te com uso do Misoprostol. Sendo a retenção maior do que 4 semanas é necessário realizar o coagulograma antes de iniciar qualquer terapêutica. O abortamento retido tardio (no 2º trimestre ou > 12 semanas), a me- lhor conduta é expulsão imediata do feto com uso de Misoprostol e, em seguida, complementação com curetagem uterina. 8ABORTAMENTO Abortamento Incompleto Esta forma clínica é a mais frequen- te, sendo decorrente da expulsão do feto, mas permanência da placenta ou restos placentários. O sangra- mento é o principal sintoma, ocorre redução uterina em comparação com a idade gestacional (IG) e as dores tipo cólica surgem na tentativa de expulsão do conteúdo intrauterino. A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FE- BRASGO), em seu Protocolo sobre Aborto de 2018, recomenda que a conduta em caso de < 12 semanas seja a realização de Misoprostol ou AMIU, se > 12 semanas orienta a realização da curetagem. Vale res- saltar, que a paciente deve ser inter- nada para estabilização e realização dos procedimentos citados. Figura 3. Abortamento incompleto (Fonte: REZENDE, 2014). 9ABORTAMENTO Abortamento Infectado Este abortamento resulta da tenta- tiva de esvaziar o útero com uso de instrumentos inadequados e técni- cas inseguras, o que leva a infecções polimicrobianas compreendendo mi- crorganismos da flora genital e in- testinal. Com isso, a anamnese tem uma importância ainda maior por ser capaz de identificar o episódio cau- sador. O sangramento costuma ter odor fétido e os demais sintomas va- riam de acordo com o grau e local de acometimento: • Endométrio e miométrio: cólicas intermitentes, febre 38ºC, dor à mobilização do colo e à palpação abdominal. • Peritônio pélvico: febre 39ºC, dor mais intensa, comprometimento do estado geral, colo aberto com saída de conteúdo purulento, si- nais de peritonite que dificultam inclusive a tentativa de mobiliza- ção do colo uterino. O leucograma apresenta perfil de in- fecção e, na USG em alguns casos nota-se abscesso em fundo de saco. O tratamento consiste no uso de antibióticos (ATB) e na remoção do foco infeccioso. O esquema de ATB que deve ser usado é: Ampicilina 500mg−1g,6⁄6h ou Penicilina 20−40 milhões UI/dia Clindamicina 600−900mg, 6/6h ou Metronidazol 500mg−1g 6/6h Gentamicina 1,5mg/kg/dia, 8/8h + + Esquema de tratamento para Aborto Infectado 10ABORTAMENTO Em seguida, realiza-se curetagem para remoção do foco infeccioso. Po- rém, se as medidas acima não forem suficientes ou se houver suspeita de perfuração uterina/abscesso pélvi- co/lesão de alça, deve-se proceder para laparotomia seguida de retira- da do foco, inclusive histerectomia se for o caso. Recomenda-se profilaxia com antitetânica naqueles casos em que para indução do aborto foram utilizados instrumentos metálicos ou possivelmente suspeitos de levar a infecção com tétano. SE LIGA! Principalmente nos casos de abortamento infectado, é importante atentar-se para sinais de disfunção or- gânica que, quando presentes, já deve aventar a suspeita de sepse, chamando atenção para um possível abortamento séptico. Para identificar presença ou não de disfunção orgânica têm-se utilizado o Escore SOFA (Sequential Organ Failu- re Assessment Score) onde é possível pontuar alterações no sistema respirató- rio, sanguíneo, hepático, cardiovascular, neurológico e renal; havendo pontuação > 2 pontos é necessário levar esta pa- ciente para um Unidade de Terapia In- tensiva, onde a mesma irá receber trata- mento direcionado para a Sepse. Fonte: Consensus Definition for Sepsis and Sep- sis Shock. Clinical Review and education. JAMA. Volume 315, number 8. February, 2016 Naqueles casos em que foram insti- tuídas todas as medidas acima para tratamento, mas ainda assim a pa- ciente continua apresentando fe- bre deve-se pensar no diagnóstico diferencial de Tromboflebite Pélvi- ca que deve ser tratada realização heparinização plena associada à antibioticoterapia. Abortamento Inevitável Clinicamente traduz-se pela dilata- ção do colo permitindo a detecção das membranas ovulares ou até mes- mo do embrião, logo, apesar de não haver ainda expulsão do concepto, é inevitável que isto ocorra. Além disso, nota-se sangramento importante que chega a comprometer a hemodinâ- mica da paciente. Como o feto ainda não foi expulso da cavidade uterina, a conduta é com Misoprostol + cure- tagem. Além disso, é importante in- ternar a paciente para estabilização e cuidados com a mesma. 11ABORTAMENTO MAPA MENTAL DE APRESENTAÇÃO CLÍNICA E CONDUTAS Expectante ABORTAMENTO: CONDUTAS Ameaça de abortamento Abortamento Incompleto Abortamento CompletoAbortamento Inevitável Abortamento RetidoAbortamento Infectado Expectante Se < 12 semanas: Expectante até 3 semanas após o abortamento ou AMIU + Misoprostol Se > 12 semanas ou 2º trimestre: Misoprostol + curetagem Se > 12 semanas: Curetagem Se < 12 semanas: Misoprostol ou AMIU Ampicilina 500mg- 1g,6⁄6h ou Penicilina 20-40 milhões UI/dia + Gentamicina 1,5mg/kg/ dia,8/8h + Clindamicina 600-900mg,6/6h ou Metronidazol 500mg-1g 6/6h Misoprostol + curetagem 12ABORTAMENTO 5. TRATAMENTO Até então, foram citadas diversas condutas terapêuticas para promo- ver ou auxiliar no processo de abor- tamento. Cabe agora falar um pouco mais especificamente de cada uma delas para melhor elucidação. Farmacológico No Brasil, a técnica farmacológica para tratamento do abortamento é o Misoprostol, o qual tem como apre- sentação comprimidos para uso vagi- nal de 25, 100 e 200 mcg, devendo ser utilizado apenas em contexto hos- pitalar. As vantagens do seu uso são: ausência de possibilidade de perfura- ção uterina e formação de sinéquias, redução dos riscos decorrentes da di- latação do colo e eliminação do risco anestésico. Vale ressaltar, que o uso do Misoprostol deve ser feito com base no tamanho uterino e não com base na idade gestacional. Se abortamento no 1º trimestre: 2 a 3 doses de 800 mcg, via vaginal, no intervalo de 3-12h. Observação: A dose utilizada em caso de aborta- mento incompleto no 1º trimestre é 400 mcg, dose única. Se abortamento no 2º trimestre: 200 mcg, via vaginal, a cada 4-6h, seguida por tratamento cirúrgico combinado. SAIBA MAIS! Mulheres com cicatriz uterina têm risco de 0,28% de rotura uterina durante abortamento farmacológico no 2º trimestre. Por isso, em caso de cicatriz uterina anterior (cesárea ou mio- mectomia) a dose de Misoprostol não deve ser maior que 200 mcg, via vaginal, a cada 6h. Fonte: FEBRASGO. Aborto:classificação, diagnóstico e conduta. Protocolos FEBRASGO, nº 21, 2018. Mecânico Os métodos mais utilizados para es- vaziamento uterino são a aspiração intrauterina (manual ou elétrica) e curetagem. A OMS recomenda que a AMIU seja o método de escolha em relação à curetagem uterina para re- moção do conteúdo uterino no 1º tri- mestre, sendo inclusive uma das es- tratégias para redução da mortalidade materna. Porém, muitos serviços de saúde no Brasil ainda usam a cure- tagem como método de escolha para esvaziamento uterino no primeiro tri- mestre de gestação. A AMIU é realizada através de um vácuo manual produzido por uma seringa, mas é possível realizar a as- piração a vácuo elétrica por meio de uma bomba, técnica esta abreviada como AVE. Quando o colo encontra- -se fechado, recomenda-se o uso de 13ABORTAMENTO Misoprostol 400mcg, via vaginal, 3 horas antes do procedimento como forma de facilitar a realização do mes- mo. Recomenda-se também antibió- tico profilático, via oral, até 12h antes, em dose única (200mg doxiciclina, 500mg-1g azitromicina ou 500mg- -1g metronidazol). Ao realizar a AMIU é possível substituir a anestesia geral por analgésicos. A B 14ABORTAMENTO Figura 4. Utiliza cânulas de Karman com diâmetros variáveis (4-12mm) acopladas a seringa com vácuo, promovendo retirada dos restos ovulares por aspiração. A: É feito vácuo na seringa. B: Histerometria com a cânula, devendo em seguida acoplar a seringa no local respectivo ao valor da histerometria. C: Liberar o vácuo da válvula. D: Remoção do conteúdo uterino (Fonte: https://slideplayer.com.br/slide/9705545/) A curetagem consiste inicialmente na dilatação da cérvix e uso de uma cureta metálica para raspar as pare- des do útero. A cureta, por seu mate- rial de aço e diâmetro variável, pode ocasionar acidentes como perfuração uterina. A indicação é para abortamen- tos incompletos do 2º trimestre, com abortamentos reti- dos > 12 semanas e inevitável após uso do Misoprostol. C D 15ABORTAMENTO Figura 5. Curetagem uterina (Fonte: http://www.clinicachazan.com.br/saude-feminina/curetagem-uterina/). SE LIGA! Apesar de não haver evi- dências de boa qualidade, indica-se a administração de Imunoglobulina Anti- -Rh-D para mulheres Rh negativas com Coombs indireto negativo com aborta- mento espontâneo (incluindo ameaça de abortamento) ou induzido. A dose no 1º trimestre é 50 mcg e após 12 se- manas recomenda-se 300mcg (Fonte: Moraes Filho, OB. Aborto: classificação, diagnóstico e conduta. São Paulo: Fe- deração Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO); 2018. (Protocolo FEBRASGO - Obste- trícia, nº 21/ Comissão Nacional Espe- cializada em Assistência Pré-Natal). 6. INCOMPETÊNCIA ISTMO CERVICAL A incompetência istmo cervical diz respeito a incapacidade do colo ute- rino em reter o produto da concep- ção na ausência de sinais e sintomas de contração e/ou parto. É a princi- pal causa de abortamento habitual tardio ou parto pré-termo extremo. Representando, aproximadamente, 8% dos casos de abortamento habi- tual. O quadro clínico é bastante ca- racterístico já que ocorre dilatação cervical sem dor até 4-6cm, feto morfologicamente normal e vivo. As perdas gestacionais costumam 16ABORTAMENTO acontecer no 2º trimestre ou início do 3º, com perdas gestacionais cada vez mais precoces do que a anterior. Dentre as principais causas que le- vam a esta incompetência, costuma haver história de: trauma causado por conização, laceração cervical no par- to, dilatação exagerada do colo em casos de interrupção provocada da gestação, etc. Figura 6. Insuficiência cervical aguda com dilatação do colo e herniação de membranas (Fonte: REZENDE, 2014). O tratamento é cirúrgico por meio da cerclagem do colo uterino, sendo a técnica de McDonald a mais sim- ples e de escolha para tratamento. O procedimento é indicado para mulhe- res com histórico de perdas gesta- cionais com quadro clínico de in- competência istmo cervical, entre 12-16 semanas e que após ultrasso- nografia nota-se feto vivo e sem mal- formações. Não se indica o procedi- mento antes das 12 semanas devido ao risco de abortamento por outras causas, assim como, também não está indicada a realização de cercla- gem após as 16 semanas por conta 17ABORTAMENTO do crescimento progressivo do útero que tornaria mais provável a dilatação do colo. : Figura 7. Técnica de Mc Donald. Sutura em bolsa na altura da junção cervicovaginal com fio Ethibond 5 (Fonte: REZENDE, 2014). 18ABORTAMENTO Aquelas mulheres que possuem colo curto identificado no 2º trimestre, mas que não têm histórico de par- to pré-termo anterior, não têm in- dicação de cerclagem por não terem ainda o diagnóstico de incompetên- cia istmo cervical. Nestes casos, re- comenda-se a progesterona vaginal para reduzir o risco de parto pré-ter- mo em mulheres assintomáticas com gravidez única, sem história de parto pré-termo e colo ≤ 20mm identifica- do entre 16-24 semanas. A remoção da cerclagem deve ser fei- ta entre 36-37 semanas de gestação. SAIBA MAIS! Apesar de não fazer parte da conduta padrão-ouro na incompetência istmo cervical, alguns serviços de saúde lançam mão do pessário vaginal como alternativa à cerclagem. Os pessá- rios são dispositivos feitos de silicone e em formato de anel, facilmente dobráveis, o que torna sua inserção indolor. Antes de indicar tal conduta é preciso excluir patologia da flora vaginal. O tamanho do pessário é escolhido com base em ultrassom transvaginal que mede o compri- mento e diâmetro da cérvix, devendo ser removido assim que se iniciar o trabalho de parto ou até completar 37 semanas de gestação. Pode ocorrer leve sangramento, corrimento e edema cervical, sendo importante manter a vigilância da flora vaginal. Figura 8. PessárioFonte: http://www.pessarios.com.br/pessarios-arabin 19ABORTAMENTO 7. SÍNDROME DO ANTICORPO ANTIFOSFOLÍPIDE (SAAF) Esta é uma das principais e mais im- portantes causas de abortamento ha- bitual, correspondendo entre 3-15% destes e, decorre da associação entre anticorpos antifosfolipídeo (lúpus an- ticoagulante - LAC e antiocardiolipina – aCL) e trombose vascular ou prog- nóstico adverso na gravidez. Ocorre al- teração na regulação da homeostasia da coagulação sanguínea, tendo como principal mecanismo a autoimunidade. A manifestação clínica mais comum é a trombose de vasos arteriais ou ve- nosos de qualquer órgão, manifesta- ções cutâneas como livedo articular e úlceras cutâneas e, complicações obstétricas dentre elas o abortamento principalmente no final do 1º trimestre, morte fetal, pré-eclampsia, retardo do crescimento intrauterino, etc. Devido a diversidade de manifestações clínica foram estabelecidos critérios diagnósticos (quadro abaixo) e, para fe- char o diagnóstico deve-se ter ao me- nos 1 critério clínico e 1 laboratorial: A. CRITÉRIOS CLÍNICOS 1. Trombose vascular: Um ou mais episódios clínicos de trombose arterial, venosa ou de pequenos vasos, ocorrendo em qual- quer tecido ou órgão confirmada por Doppler ou exame histopatológico. A histopatologia deve excluir vasculite. 2. Morbidade gestacional: Uma ou mais mortes de feto morfologicamente normal com mais de 10 semanas de idade gestacional. Um ou mais nascimentos prematuros de feto morfologicamente normal com 34 semanas ou menos em virtude de pré-eclâmpsia, eclâmpsia ou retardo do crescimento uterino. Três ou mais abortamentos espontâneos antes de 10 semanas de idade gestacional, excluídas causas cro- mossomais ou maternas. B. CRITÉRIOS LABORATORIAIS 1. Anticorpo anticardiolipina: anticorpo anticardiolipina IgG ou IgM em títulos moderados a altos (>20uni- dades) em duas ou mais ocasiões com intervalo de no mínimo de no mínimo seis semanas. O teste deve ser Elisa padronizado. 2. Anticorpo anticoagulantes lúpico: anticoagulantes lúpico presente no plasma, detectado de acordo com as recomendações da Sociedade Internacional de Trombose e Hemostasia. Tabela 2. ConsensoInternacional de critérios preliminares para classificação da síndrome antifosfolípide (Fonte: SANTAMARIA, et al., 2005) O tratamento consiste na associação entre AAS (75-100mg/dia) e hepari- nização plena com heparina de baixo peso molecular (enoxaparina 1mg/kg/ dia), desde o diagnóstico da gestação mantida por 6 semanas no pós-parto. 20ABORTAMENTO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Moraes Filho, OB. Aborto: classificação, diagnóstico e conduta. São Paulo: Fe- deração Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO); 2018. (Pro- tocolo FEBRASGO - Obstetrícia, nº 21/ Comissão Nacional Especializada em Assistência Pré-Natal). REZENDE. Obstetrícia Fundamental/ Carlos Antônio Barbosa Montenegro, Jorge de Re- zende Filho. 13ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. DIAS et al. Aborto infectado: epidemiologia, diagnóstico e conduta na emergência. Re- vista Médica de Minas Gerais, 2010; 20(2Supl):S6-S10. JUSBRASIL. Aborto: o que diz a lei? BlogExamedaOAB. Disponível em: https://examedao- ab.jusbrasil.com.br/artigos/414535657/aborto-o-que-diz-a-lei. GOMES, et al. Incompetência istmo-cervical: atualização. Rev Med Minas Gerais 2012; 22 (Supl 5): S67-S70. DANOWSKI, et al. Diretrizes para tratamento de anticorpo antifosfolípide. Rev. Bras. Reumatol. vol.53 no.2 São Paulo Mar./Apr. 2013. SANTAMARIA, et al. Síndrome Antifosfolípide. An. Bras. Dermatol. vol.80 no.3 Rio de Ja- neiro May/June 2005. 21ABORTAMENTO
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