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SUMÁRIO 1. Fisiologia da Gestação ............................................. 3 2. Adaptações do Organismo Materno à Gestação .....4 3. Diagnóstico Laboratorial .......................................12 4. Diagnóstico Clínico ..................................................13 5. Diagnóstico Ultrassonográfico ...........................17 Referências bibliográficas .........................................19 3DIAGNÓSTICO DE GRAVIDEZ 1. FISIOLOGIA DA GESTAÇÃO O ciclo menstrual é dividido em duas fases principais: fase folicular e fase lútea. No final da fase folicular, ocorre a ovulação, processo no qual o oócito secundário do folículo ovarino é libe- rado e captado pelas fímbrias tubá- rias para ser transportado ao infundí- bulo da tuba uterina. Este transporte da trompa em direção ao útero leva, em média, de três a quatro dias. A fertilização do óvulo por um esper- matozoide ocorre na ampola da tuba uterina e evita a degeneração do cor- po lúteo. Iremos abordar as etapas da fecundação com maiores detalhes no curso de Embriologia. A gonadotrofina coriônica humana (hCG) produzida pelas células tro- foblásticas do embrião inibe a lute- ólise, mantendo o corpo lúteo fun- cionante. O corpo lúteo, por sua vez, sintetiza a progesterona, responsável pela manutenção da gestação nas primeiras 8 semanas. No final do período embrionário, o cor- po lúteo atinge seu pico de vasculari- zação e suas células apresentam-se hiperplasiadas e hipertrofiadas. Após 8 semanas de gestação, a placenta assume a produção de progesterona e o decaimento na produção de hCG leva à involução do corpo lúteo. A placenta produz esteroides em gran- de quantidade, tendo inúmeras e impor- tantes funções para o desenvolvimento da gestação e adaptação do organismo materno ao concepto. As funções da progesterona e do estrógeno placentá- rio podem ser observadas na tabela 1. PROGESTERONA PLACENTÁRIA ESTRÓGENOS FETOPLA- CENTÁRIOS Facilita a implantação Aumentam o fluxo sanguí- neo uteroplacentário Mantém a quies- cência do endométrio Estimulam a formação da pro- lactina hipofisária, bloqueiam a ação da mesma nos receptores mamários e inibem a lactogê- nese durante a gestação Estimula o cresci- mento das glându- las mamárias Estimulam a hipertrofia e hiperplasia do miométrio e sua atividade contrátil Aumenta a ven- tilação pulmonar materna Estimulam a força contrátil do miocárdio, promovendo aumento do débito cardíaco com o avanço da gestação Promove o relaxa- mento da muscu- latura lisa das vias urinária, digestória e biliar Estimulam a despolimeri- zação dos mucopolissaca- rídeos no tecido intersticial, induzindo a retenção líquida e a embebição gravídica. Aumenta a ex- creção tubular de sódio Colaboram para o aumento da atividade do sistema reni- na-angiotensina-aldosterona Atuam nos hepatócitos estimulando a produção de proteínas transportadoras de hormônios. Tabela 1: Funções da progesterona placentária e dos estrógenos fetoplacentários. Fonte: ZUGAIB, Marcelo. Obstetrícia. Editora Manole, 2016. Os níveis dos hormônios esteroides e da hCG variam no decorrer da gesta- ção e levam a uma série de alterações no organismo materno que serão dis- cutidas mais adiante. As variações nos níveis da progesterona, do estrô- genio e da hCG podem ser observa- das na imagem 1. 4DIAGNÓSTICO DE GRAVIDEZ 2. ADAPTAÇÕES DO ORGANISMO MATERNO À GESTAÇÃO O organismo feminino sofre mudan- ças anatômicas e funcionais durante a gestação, adaptando-se para a pre- sença do feto em desenvolvimento. A seguir, iremos abordar as principais alterações fisiológicas divididas nos principais sistemas: Sistema Circulatório O volume sanguíneo materno au- menta consideravelmente durante a gestação, atingindo valores 30 a 50% maiores do que os níveis pré-gesta- cionais. A hipervolemia no organismo materno está relacionada com a ne- cessidade de suprimento sanguíneo nos órgãos genitais, principalmente no território uterino, cuja vasculariza- ção encontra-se aumentada na ges- tação. Figura 1: Variação dos níveis dos três hormônios durante a gravidez. As setas verticais mais largas representam maior quantidade relativa do hormônio liberado (Fonte: https://bit. ly/3702iGI). Há também um aumento na concen- tração das células vermelhas em cer- ca de 30%, estabelecendo um estado de hemodiluição, uma vez que o au- mento não acompanha o aumento do volume sanguíneo total. Dessa for- ma, há uma diminuição da viscosida- de plasmática, diminuindo também o trabalho cardíaco. O sistema renina-angiotensina-al- dosterona tem maior atividade na gestação para suplantar a ação dos mecanismos excretores, como o au- mento da filtração glomerular e do peptídeo atrial natriurético A concentração de hemoglobina está levemente diminuída durante a ges- tação (“anemia fisiológica”) devido à hemodiluição e, por isso, valores de hemoglobina até 11g/dl são aceitos. Em relação aos glóbulos brancos, a leucocitose pode estar presente na gravidez normal, com valores de leu- cócitos totais entre 5.000 e 14.000/ mm³. Durante o parto e o puerpério 5DIAGNÓSTICO DE GRAVIDEZ imediato, os valores de leucócitos po- dem chegar a 29.000/mm³, possivel- mente relacionados à atividade das adrenais no momento de estresse. Os níveis plaquetários estão discre- tamente reduzidos na gravidez nor- mal, em parte devido à hemodiluição, e em parte relacionado ao consumo de plaquetas e à coagulação intra- vascular no leito uteroplacentário. Considera-se plaquetopenia na ges- tação uma contagem de plaquetas inferior ou igual a 100.000/mm³. A contagem de plaquetas volta a au- mentar logo depois do parto e atin- ge valores basais após 4 semanas, aproximadamente. Praticamente todos os fatores de co- agulação apresentam-se elevados na gestação, com exceção dos fatores XI e XIII. Fibrinogênio e dímero D têm seus níveis elevados em até 50% du- rante a gestação. As necessidades de ferro durante o ciclo gravídico-puerperal aumentam consideravelmente devido ao con- sumo e à perda que ocorrem nessa fase. Por esse motivo, a maio- ria das gestan- tes apresentará anemia ferro- priva, a não ser que haja uma suplementação adequada. Há um aumento no débito cardíaco (DC), devido ao aumento da frequ- ência cardíaca (em torno de 15 a 20 bpm) e à elevação do volume sistóli- co. Esse processo se inicia por volta da 5ª semana, se estabiliza por volta de 24 semanas e atinge seu ápice no pós-parto imediato, com aumento de 80% no DC. Observa-se uma redução da resistên- cia vascular periférica extremamente acentuada, devido à vasodilatação periférica e ao surgimento da circula- ção uteroplacentária (de baixa resis- tência). Devido a isso, há uma queda também na pressão arterial sistêmi- ca, apesar do aumento do DC. O sopro cardíaco sistólico é comum devido à redução da viscosidade san- guínea e do aumento do DC. Cerca de 90% das gestantes apresentam sopro sistólico leve, 20% apresentam sopro diastólico e 10% apresentam sopro contínuo, consequente à hiper- vascularização das mamas. Por fim, devido às modificações ana- tômicas e funcionais do coração, pode haver altera- ções fisiológi- cas eletrocar- diográficas nas ondas T e Q, no segmento ST e desvio do eixo cardíaco para a esquerda 15 a 20°. 6DIAGNÓSTICO DE GRAVIDEZ Sistema Endócrino e Metabolismo As alterações endócrinas e metabóli- cas do organismo materno visam ga- rantir o aporte nutricional para o de- senvolvimento do feto. Para que isso ocorra, várias transformações funcio- nais das glândulas maternas coexisti- rão com a placenta – novo órgão que apresenta importante função endó- crina. As principais alterações hormonais observadas na gestação estão ex- postas na tabela 2: HORMÔNIOS ALTERAÇÃO NA GESTAÇÃO Hipofisários Prolactina Aumento GH Aumento a partir do 2º trimestre (fonte placentária) TSH Redução no 1º trimestre, normalizando no 2º e 3º trimestres ACTH Aumento FSH e LH Redução MSH Aumento ADH Níveis mantidos,mas com menor limiar para liberação Ocitocina Aumento no parto Tireoidiano T3 e T4 total Aumento T4 livre Discreto aumento no 1º trimestre, normalizando no segundo e no terceiro trimes- tres Paratireoidianos PTH Redução no 1º trimestre, platô e aumento discreto no 3º trimestre Calcitonina Aumento Adrenais Cortisol Aumento Aldosterona Aumento Andrógenos Redução de sulfato de deidroepiandrosterona (DHEA-S) e aumento de androste- nediona e de testosterona Ovarianos Progesterona Aumento Estrógeno Aumento Andrógenos Aumento de androstenediona e de testosterona Relaxina Aumento Tabela 2: Resumo das principais alterações hormonais observadas na gestação. Fonte: ZUGAIB, Marcelo. Obstetrícia. Editora Manole, 2016. 7DIAGNÓSTICO DE GRAVIDEZ Com relação às demandas energéti- cas, o ganho de peso materno decor- re, em grande parte, do acúmulo de componente hídrico intra e extravas- cular, e em menor proporção, do acú- mulo de componentes energéticos e estruturais (carboidratos, lipídios e proteínas). O ganho de peso adequa- do varia conforme o peso da mulher no início da gestação de acordo com seu Índice de Massa Corporal (IMC) pré-gestacional (Tabela 3). IMC PRÉ-GESTACIONAL PRIMEIRO TRIMESTRE (TOTAL) SEGUNDO E TERCEIRO TRIMESTRES TOTAL Baixo peso (<18,5 kg/m²) 2,3kg 0,5kg/semana 12,7 - 18,1kg Adequado (18,5 – 24,9 kg/m²) 1,6kg 0,4kg/semana 11,3 – 15,9kg Sobrepeso (25-29,9 kg/m²) 0,9kg 0,3kg/semana 6,8 – 11,3kg Obesidade (≥30 kg/m²) - 0,3kg/semana 5 – 9,1kg Tabela 3: Recomendação de ganho de peso de acordo com o IMC pré-gestacional. Fonte: ZUGAIB, Marcelo. Obstetrí- cia. Editora Manole, 2016. Pele e Anexos A produção placentária de estrógenos leva à proliferação da microvasculatu- ra de todo o tegumento (angiogêne- se). Devido ao estado hiperprogesto- gênico, ocorre vasodilatação de toda a periferia do organismo, levando a eventos vasculares da pele e anexos como eritema palmar, teleangecta- sias, aumento da secreção sebácea e da sudorese, entre outros. A alopecia é rara, mas pode ocorrer em decor- rência das alterações hormonais. A hiperpigmentação da pele da ges- tante também está relacionada aos altos níveis de p rogeste ro - na, que pare- cem aumentar a produção e secreção do hormônio me- lanotrófico da hipófise. Este hormônio induz a produção excessiva de mela- nina, levando ao aparecimento de má- culas hipercrômicas, conhecidas como cloasma ou melasma. Os locais de maior incidência são: face, fronte, pro- jeção cutânea da linha alba (que passa a ser chamada de linha nigra), aréola mamária e regiões de dobra. Podem piorar com a exposição solar e costu- mam desaparecer após a gestação. A distensão da pele do abdome, das mamas e do quadril pode provocar o aparecimento de estrias nestas regi- ões. Os fatores de risco são história familiar e, principalmente, ganho de peso excessivo na gestação. Sistema Esquelético As articulações, de modo geral, sofrem um processo de relaxamento durante 8DIAGNÓSTICO DE GRAVIDEZ a gravidez. As articulações da bacia óssea (sínfise púbica, sacrococcígea e sinostoses sacroilíacas) se apresentam com maior elasticidade, aumentando a capacidade pélvica e modificando a postura e a deambulação da gestante, preparando-a para o parto. O aumento do volume abdominal e das mamas desvia anteriormente o centro de gravidade materno. De for- ma instintiva, a gestante direciona o corpo posteriormente, com intuito de compensar e encontrar um novo eixo de equilíbrio. Como consequência, surgem hiperlordose e hipercifose da coluna vertebral, aumento da base de sustentação, com afastamento dos pés e diminuição da amplitude dos passos durante a deambulação (mar- cha anserina). O aumento da flexão cervical causa compressão das raízes dos nervos ulnar e mediano, levando a fadiga muscular, dores lombares e cervicais e parestesias de extremidades. Sistema Digestório Náuseas e vômitos são ocorrências muito prevalentes no primeiro trimes- tre de gestação devido aos altos ní- veis de HCG. Além disso, muitas ges- tantes se queixam de alterações no apetite e sede, essa alteração parece ocorrer devido resistência à ação da leptina e às mudanças na secreção de ADH. A progesterona tem uma potente ação relaxante sobre as fibras musculares lisa levando a uma série de alterações no sistema digestório como: relaxa- mento do esfíncter esofágico inferior, redução do peristaltismo, diminuição da contratilidade da musculatura lisa do intestino. Como consequência, são frequentes as queixas de pirose e constipação durante a gestação. As alterações hepáticas e pancreáti- cas observadas na gestação são emi- nentemente funcionais e relacionadas ao metabolismo energético. Com o aumento do volume uterino, ocorrem alterações anatômicas que desviam o estômago e o apêndice para cima e para a direita e os intestinos para a es- querda. O apêndice cecal pode ocupar o flanco direito, dificultando o diagnós- tico clínico de apendicite na gravidez. SE LIGA!: Hiperêmese Gravídica é uma condição patológica caracterizada pela manutenção e agravamento dos qua- dros de náuseas e vômitos (que podem persistir após a 20ª semana) associados à perda de peso (>5%), desidratação, distúrbios hidroeletrolíticos, cetose e cetonúria. É uma complicação rara que acomete cerca de 1,5% das gestantes e, apesar de estar raramente associada a óbito materno, pode trazer grandes pre- juízos para a mãe e o feto. Sistema Respiratório As vias aéreas superiores apresentam modificações significativas durante 9DIAGNÓSTICO DE GRAVIDEZ a gestação. Ocorre ingurgitamento e edema da mucosa nasal, que leva a um aumento das obstruções nasais, sangramentos e rinite durante a ges- tação. O edema da mucosa também acomete a laringe e a faringe, dimi- nuindo o lúmen dessas vias e poden- do, inclusive, representar maior difi- culdade para intubações orotraqueais nessas pacientes. Alterações anatômicas da caixa to- rácica podem ser notadas já no início da gestação. Observa-se elevação do diafragma de aproximadamente 4 cm e maior capacidade de excur- são do mesmo, em torno de 2 cm. A caixa torácica apresenta aumento de 5 a 7 cm em sua circunferência e 2 cm em seu diâmetro anteropos- terior, com consequente ampliação dos ângulos costofrênicos, de até 35°. (Figura 2) A amplitude do movimento do dia- fragma se reduz ao longo da gesta- ção devido ao aumento do volume abdominal que ocorre com o cresci- mento uterino. A capacidade pulmo- nar total está reduzida em aproxima- damente 200 mL devido à elevação do diafragma em razão da redução do volume residual. Figura 2: Alterações anatômicas da caixa torácica du- rante a gravidez. Fonte: ZUGAIB, Marcelo. Obstetrícia. Ed. Manole, 2016. Sistema Renal/Urinário O aumento da volemia, em associa- ção com a redução da resistência vascular periférica, provoca elevação do fluxo plasmático glomerular, com consequente aceleração do ritmo de filtração glomerular. O fluxo plasmáti- co glomerular pode ter um acréscimo de 50 a 80%, enquanto o ritmo de fil- tração glomerular aumenta entre 40 e 50% já no final do primeiro trimestre de gestação. A osmolaridade plasmática também se modifica na gravidez devido à ati- 10DIAGNÓSTICO DE GRAVIDEZ vação do sistema renina-angiotensi- na-aldosterona e da redução do limiar para secreção de ADH. A liberação de ADH e o mecanismo da sede são, portanto, desencadeados por meno- res níveis osmóticos. As grávidas, em geral, filtram maio- res quantidades de sódio e água no glomérulo, o que é compensado por maior reabsorção tubular desses ele- mentos, resultado da ação da aldos- terona e do ADH. Todo esse complexo sistema de mo- dificações transforma a função renal e, por isso, a avaliação dos exames labo- ratoriais das gestantes requer novos parâmetros de referência. (Tabela 4) TESTE DE FUNÇÃO RENAL VALORES DE REFERÊNCIA EM NÃO GESTANTES VALORES DE REFERÊNCIA EM GESTANTES Ureia 20-40 mg/dL 7-30 mg/dL Creatinina 0,7 – 1,2 mg/dL 0,5 –0,9 mg/dL Clearance de creatinina 90-120 mL/min 135-155 mL/min Microalbuminúria Negativa 5-30 mg em 24 horas Proteinúria <0,05 mg/dL em amostra isolada ou nega- tiva em 24h Até 300 mg em 24 horas Tabela 4: Comparação entre os valores de referência dos diferentes testes para avaliação da função renal entre não gestantes e gestantes. Fonte: ZUGAIB, Marcelo. Obstetrícia. Ed. Manole, 2016. 11DIAGNÓSTICO DE GRAVIDEZ ↑ volemia 30 a 50% ↑ hemácias 30% (hemodiluição) Relaxamento das articulações Estímulo ao sistema renina- angiotensina-aldosterona “Anemia fisiológica” Alterações eletrocardiográficas ↓ níveis plaquetários ↑ fatores de coagulação Sopro cardíaco sistólico ↓ PA secundária a ↓ resistência vascular periférica ↑ débito cardíaco Hipercifose e hiperlordose ↑ prolactina, GH (a partir do 2º tri), ACTH, MSH, ocitocina (parto), T3 e T4 total, calcitonina, cortisol, aldosterona, progesterona, estrógeno, relaxina Ingurgitamento e edema da mucosa nasal Alterações anatômicas da caixa torácica ↓ TSH (1º tri), FSH, LH, PTH Ganho de peso Diminuição da capacidade pulmonar total Diminuição da amplitude de movimento do diafragma SISTEMA ENDÓCRINO SISTEMA RESPIRATÓRIO Relaxamento do esfíncter esofágico inferior Relaxamento do peristaltismo Diminuição da contratilidade da musculatura lisa do intestino SISTEMA DIGESTÓRIO SISTEMA CIRCULATÓRIO Angiogênese Vasodilatação periférica Hiperpigmentação da pele PELE E ANEXOS Aumento do fluxo plasmático glomerular Aumento do ritmo de filtração glomerular Aumento da reabsorção tubular de água e sódio SISTEMA URINÁRIO/ RENAL SISTEMA ESQUELÉTICO FLUXOGRAMA ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DA GESTAÇÃO 12DIAGNÓSTICO DE GRAVIDEZ 3. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL O diagnóstico laboratorial da gesta- ção é, basicamente, realizado pela identificação da gonadotrofina co- riônica humana (β-hCG). Essa iden- tificação pode ser feita através de teste urinário ou exame de sangue da paciente, sendo que este último representa, atualmente, o exame pa- drão-ouro para confirmar a ocorrên- cia da gravidez. O teste urinário avalia a presença ou não da β-hCG na urina da mulher, ou seja, oferece um resultado qualitativo (positivo ou negativo). Possui baixa taxa de resultados falso positivo, mas uma elevada taxa de falso negativo e, devido a isso, esse teste não é o mais indicado para o diagnóstico, uma vez que pode levar a atrasos no início do pré-natal. O exame do sangue periférico con- siste na dosagem quantitativa de β-hCG no plasma sanguíneo e pode ser obtido entre 8 a 11 dias após a concepção. Os níveis plasmáticos de β-hCG aumentam rapidamente até atingir o pico entre 60 e 90 dias de gravidez. A variação dos níveis plas- máticos de β-hCG no decorrer da gestação pode ser observada na ta- bela 2. Na prática, níveis menores que 5mUI/mL são considerados negativos e acima de 25mUI/mL são considera- dos positivos. 1º Trimestre Até 150.000 mUI/mL 2º Trimestre 3.500 a 20.000 mUI/mL 3º Trimestre 5.000 a 50.000 mUI/mL Tabela 5: Níveis plasmáticos da β-hCG durante a gestação. Fonte: ZUGAIB, Marcelo. Obstetrícia. Editora Manole, 2016. VOCÊ SABIA? O Ministério da Saúde, através do Programa Rede Cegonha, instituiu o teste rápido de gravidez que pode ser realizado nas Unidades de Saúde como forma de acelerar o diag- nóstico de gravidez e, consequentemen- te, o início do pré-natal. Fonte: BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Aten- ção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Atenção ao pré-natal de baixo risco. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, pág. 54, 2012.] 13DIAGNÓSTICO DE GRAVIDEZ 4. DIAGNÓSTICO CLÍNICO O Ministério da Saúde orienta que toda mulher com história de atraso menstrual de mais de 15 dias deve ser orientada pela equipe de saúde a realizar o teste rápido de gravidez. No entanto, se o atraso menstrual for su- perior a 12 semanas, o diagnóstico da gestação pode ser clínico, através dos sinais, sintomas e do exame físico. Os principais sintomas que levam es- sas pacientes a procurar uma unidade de saúde são: atraso menstrual, fadi- ga, mastalgia, aumento da frequência urinária e náuseas/vômitos matinais. No exame físico, várias alterações es- tão presentes e uma série de sinais podem ser observados durante a ins- peção, palpação, toque vaginal e aus- culta. Para fins práticos, os principais sinais observados no corpo materno que podem ser úteis para a investi- gação da gestação são divididos em: sinais de presunção, sinais de proba- bilidade e sinais de certeza. Sinais de Presunção: • Atraso menstrual: superior a 10- 14 dias; sinal cardinal da gestação precoce. • Alterações clínicas: náuseas, vômi- tos, tonturas, sialorreia, alteração no apetite, aumento da frequência urinária e fadiga. FLUXOGRAMA DIAGNÓSTICO LABORATORIAL 3º Tri: 5.000 a 50.000 mUI/mL Positivo Negativo 2º Tri: 3.500 a 20.000 mUI/mL 1º Tri: até 150.000 mUI/mL Urina Sangue BETA-hCG 14DIAGNÓSTICO DE GRAVIDEZ • Modificações mamárias: aumento do volume das mamas, hipersen- sibilidade mamária, tubérculos de Montgomery (glândulas sebáce- as hipertrofiadas que surgem nas aréolas primárias), saída de colos- tro pelas mamas, aparecimento da rede venosa de Haller (aumento da vascularização mamária), sinal de Hunter (aumento da pigmentação do mamilo, levando à perda da de- finição areolar). • Alterações Cutâneas: estrias, me- lasma, linha nigra, sinal de Halban (aumento da lanugem nos limites do couro cabeludo). • Aumento do volume abdominal SE LIGA! Vale ressaltar que, o atraso menstrual a partir de 15 dias passa a ser um sinal de presunção de gravidez, no entanto, é necessário realizar investi- gações de outras causas de amenorreia. MAPA MENTAL SINAIS DE PRESUNÇÃO DA GESTAÇÃO ↑ frequência urinária Fadiga/ Sonolência Alterações no apetite Náuseas/ Vômitos Sialorreia Linha Nigra Melasma Sinal de Halban Aumento da lanugem nos limites do couro cabeludo Estrias Superior a 10-14 dias Rede venosa de Haller Tontura ↑ volume das mamas Saída de colostro Glândulas sebáceas hipertrofiadas Perda da definição areolar Aumento da vascularização mamária ↑ pigmentação do mamilo Tubérculos de Montgomery Hipersensibilidade Sinal de Hunter Afastar outras causas de amenorreia ATRASO MENSTRUAL ALTERAÇÕES MAMÁRIAS SINTOMAS CLÍNICOS ALTERAÇÕES CUTÂNEAS AUMENTO DO VOLUME ABDOMINAL 15DIAGNÓSTICO DE GRAVIDEZ Sinais de Probabilidade • Sinal de Piskacek: crescimento as- simétrico do útero (perceptível du- rante a palpação abdominal) Figura 6: Sinal de Piskacek. Fonte: https://bit. ly/2Rua0lQ • Sinal de Jacquemier: hipervascula- rização da vulva (coloração violá- cea vulvar) • Sinal de Kluge: hipervasculariza- ção da vagina e colo uterino (cia- nose vaginal e cervical) • Sinal de Osiander: pulsação da ar- téria vaginal (perceptível ao toque vaginal) • Sinal de Hegar: amolecimento do istmo cervical Figura 7: Sinal de Hegar. Fonte:https://bit.ly/2TFKIUN • Sinal de Nobile-Budin: preenchi- mento do fundo de saco pelo úte- ro gravídico (perceptível ao toque bimanual) Figura 8: Sinal de Nobile-Budin. Fonte: https://bit. ly/30xIE2 • Regra de Godel: amolecimento do colo uterino (perceptível ao toque vaginal) 16DIAGNÓSTICO DE GRAVIDEZ MAPA MENTAL SINAIS DE PROBABILIDADE DA GESTAÇÃO Sinal de Piskacek Preenchimento do fundo de saco pelo útero gravídico Crescimento assimétrico do útero Sinal de Nobile-Budin Sinal de Jacquemier Regra de Godel Sinal de Osiander Pulsação da artéria vaginal Sinal de Hegar Amolecimento do colo uterino Amolecimento do istmo cervical Coloração violácea da vulva (hipervascularização) Cianose vaginal e cervical (hipervascularização) Sinal de KlugeINSPEÇÃO TOQUE VAGINAL PALPAÇÃO ABDOMINAL TOQUE BIMANUAL 17DIAGNÓSTICO DE GRAVIDEZ Sinais de Certeza: Sinal de Puzos: rechaço uterino ao to- quevaginal Figura 9: Sinal de Puzos. Fonte: REZENDE, 2011. • Ausculta de batimento cardíaco fetal (BCF): detectados pelo so- nar a partir da 12ª semana e pelo Pinard a partir da 20ª semana de gestação. 5. DIAGNÓSTICO ULTRASSONOGRÁFICO Atualmente, o Ministério da Saúde preconiza a realização de uma ultras- sonografia obstétrica por gestante. No entanto, a realização de ultrasso- nografias em gestantes de baixo ris- co tem gerado controvérsias, pois não existem evidências que melhore o prognóstico perinatal, além da grande variação na sensibilidade do método. Quando indicada, a ultrassonografia precoce (1º trimestre) pode auxiliar no diagnóstico oportuno das gestações múltiplas, na datação mais acurada da idade gestacional, reduzindo, as- sim, o número de induções por ges- tação prolongada, além de evidenciar a viabilidade fetal. A via transvaginal é preferível nesta ocasião, pelo fato do transdutor estar mais próximo do feto. A datação da idade gestacional (IG) por ultrassonografia (USG) deve ser sempre baseada na 1ª USG realiza- da e nunca deve ser recalculada com ultrassonografias posteriores. A ava- liação ultrassonográfica da IG é mais precisa da 6ª até a 1ª2 semana de gestação, período em que se empre- ga como parâmetro o comprimento cabeça-nádega (CCN) do embrião. Quanto maior o tempo de gestação, maior a margem de erro no cálcu- lo pela USG em comparação com a data da última menstruação (DUM) confiável. SE LIGA!: A ausência de saco gestacio- nal intrauterino com valores de β-HCG acima de 1.500 mUI/ml deve levantar a suspeita de gravidez ectópica!] 18DIAGNÓSTICO DE GRAVIDEZ Avaliar Auscultar BCF B-HCG urinário Teste rápido Encaminhar para pré-natal de alto risco Realizar pré-natal em UBS Investigar outras causas de irregularidade menstrual Ausente? Presente? Baixo risco?Alto risco? Positivo? Positivo? Negativo? Negativo? Avaliar: - DUM - Ciclo menstrual - Atividade sexual - Uso do método contraceptivo Conduta: - Capacitação da gestante para o pré-natal - Solicitar exames - Realizar testes rápidos - Preencher o cartão da gestante - Atraso menstrual - Náusea/vômitos - Suspensão/ irregularidade do anticoncepcional oral - Desejo de engravidar Realizar consulta Positivo? Positivo? Repetir B-HCG em 15 dias Avaliar risco gestacional Mulher com suspeita de gravidez DUM > 12 semanas Gravidez confirmada Atraso menstrual > 15 dias MAPA MENTAL: DIAGNÓSTICO DE GRAVIDEZ E ENCAMINHAMENTO PRÉ-NATAL 19DIAGNÓSTICO DE GRAVIDEZ REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS REZENDE. Obstetrícia Fundamental/ Carlos Antônio Barbosa Montenegro, Jorge de Re- zende Filho. 12ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. FEBRASGO, Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. Manual de assistência pré-natal / Sérgio Peixoto. 2ª. ed. – São Paulo, 2014. BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Atenção ao pré-natal de baixo risco / Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2012. 318 p.: il. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos) (Cadernos de Atenção Básica, n° 32). ZUGAIB, Marcelo. Obstetrícia. 6ª edição. Barueri, São Paulo: Editora Manole, 2016. 20DIAGNÓSTICO DE GRAVIDEZ
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