Prévia do material em texto
Resumo de Emergências Hiperglicêmicas 0 0 www.sanarflix.com.br Resumo Emergências Hiperglicêmicas Gabriella Amância Matos Universidade Federal de Campina Grande Resumo de Emergências Hiperglicêmicas 1 1 www.sanarflix.com.br 1. Cetoacidose Diabética e Estado Hiperglicêmico-Hiperosmolar A cetoacidose diabética (CAD) e o estado hiperosmolar hiperglicêmico (EHH) são duas complicações associadas à hiperglicemia, e podem ser fatais. Caracterizam-se por insulinopenia relativa ou absoluta, associada a elevação de hormônios contrarregulatórios (gucagon, hormônio do crescimento, cortisol e catecolaminas). São definidas pela tríade: Cetoacidose Diabética (CAD) Estado Hiperosmolar Hiperglicêmico (EHH) Glicemia > 250mg/dL Glicemia >600 mg/dL Ph arterial <7,3 Osmolaridade >320 mosm/kg Cetonemia + (ou inferida por cetonúria fortemente positiva) Ph arterial <7,3 2. Epidemiologia A CAD representa cerca de 4- 8% dos internamentos por DM2 e o estado hiperosmolar representa <1% das internações. Embora possam ocorrer em qualquer forma usual (diabetes do tipo 1 ou do tipo 2), geralmente a CAD ocorre em DM1 com mortalidade <3% e o EHH no DM2, com mortalidade de cerca de 3-20%. 3. Fatores Precipitantes 1° descompensação diabética (15-20% dos casos) Uso inadequado de insulina ou hipoglicemiantes orais Infecções: Pneumonia, ITU, sepse de foco indeterminado Quadros Abdominais: pancreatite, colecistite, apendicite... Doenças cardiovasculares ou cerebrovasculares Drogas (corticosteroides, tiazídicos, simpatomiméticos, cocaína, antipsicóticos) *Os pacientes podem apresentar concomitantemente CAD e EHH, sendo referidos como CAD com hiperosmolaridade Resumo de Emergências Hiperglicêmicas 2 2 www.sanarflix.com.br Desidratação Cirurgias 4. Fisiopatologia MECANISMO CENTRAL INSULINA E HORMÔNIOS CONTRARREGULADORES CAD • Produção de ácidos graxos(lipólise) no fígado e produção de corpos cetônicos (ácido acetoacético e B- hidroxibutirato) • Cetonemia e acidose metabólica EHH • Produção mínima de insulina, o que inibe a produção de corpos cetônicos • Não há cetonemia, podendo ocorrer cetonúria leve Resumo de Emergências Hiperglicêmicas 3 3 www.sanarflix.com.br 5. Quadro Clínico Manifestações Clínicas CAD EHH Apresentação Rápida (horas) Insidiosa (dias a semanas) Sinais e Sintomas Comum Poliúria, polidipsia, perda de peso, fraqueza, dor abdominal e desidratação Resumo de Emergências Hiperglicêmicas 4 4 www.sanarflix.com.br Específico Respiração de Kussmaul, hálito cetônico, náuseas e vômitos Alteração de sensório, podendo manifestar-se por déficits focais e convulsões 6. Como Diferencias as Manifestações de CAD e EHH CAD EHH Idade 20-29 anos Idade geralmente > 50 anos Instalação abrupta em horas Instalação insidiosa de dias a semanas Sinais de desidratação Desidratação muito intensa Dor abdominal e vômitos Em geral dor abdominal e vômitos Sinais de acidose metabólica com taquipneia e respiração de Kusmaull Sem sinais de compensação de acidose Totalmente alerta Geralmente com rebaixamento do nível de consciência K pode estar aumentado K geralmente normal ou diminuído pH < 7,3 pH geralmente > 7,3 7. Diagnóstico 1° Passo: Analisar quadro clínico do paciente quanto aos sinais e sintomas. 2° Passo: Solicitar no local: ➢ Gasometria Arterial ➢ Hemograma: Pode haver leve leucocitose ➢ Eletrólitos: Potássio, sódio, cloro, magnésio e fósforo ➢ B- hidroxibutirato sérico (B-OH-B): Maior acurácia ➢ Exame de urina ➢ Eletrocardiograma: procurar hipercalemia e isquemia ➢ Outros exames podem ser necessários para busca de fator desencadeante: Raiox-tórax, hemoculturas, TC de crânio,punção liquórica, lipase, amilase... Medicina de emergência: abordagem prática. MARTINS, Herlon Saraiva; BRANDÃO NETO, Rodrigo Antonio Resumo de Emergências Hiperglicêmicas 5 5 www.sanarflix.com.br 3° Passo: Classificar quadro clínico quanto à gravidade, através dos resultados dos exames. PARÂMETROS CAD LEVE CAD MODERADA CAD GRAVE EHH Glicemia mg/dL >250 >250 >250 >600 pH arterial 7,25-7,3 7,0-7,24 <7 >7,3 Bicarbonato sérico (mEq/L) 15-18 10-14,5 <10 >15 Cetonúriaa + + Fracamente + Cetonemia + + + Fracamente + Osmolaridade efetiva Variável Variável Variável >320 Ânion-gap >10 >12 >12 Variável 8. Diagnóstico Diferencial Cetose por jejum prolongado, cetoacidose alcoólica, acidose pelo uso de medicamentos (salicilatos e metformina) e outras acidoses com anion-gap elevado (acidose lática, insuficiência renal crônica). 9. Manejo Clínico Medicina de emergência: abordagem prática. MARTINS, Herlon Saraiva; BRANDÃO NETO, Rodrigo Antonio METAS 1) Proteção de vias aéreas superiores e, se vômitos, indicação de sonda nasogástrica (SNG) 2) Aumento do volume circulatório e melhora da perfusão tissular; 3) Redução GRADUAL da hiperglicemia e osmolaridade; 4) Correção dos distúrbios eletrolíticos e da cetose, na CAD 5) Identificação e tratamento do fator precipitante Resumo de Emergências Hiperglicêmicas 6 6 www.sanarflix.com.br ➢ Hidratação: Fase I – Expansão rápida: Fazer 100 ml de Soro fisiológico 0,9%, a fim de corrigir hipotensão e choque. Fase II – Manutenção: após corrigir hipotensão fazer 250-500 ml de soro. Se Na > 135 mEq trocar por soro 0,45% de NaCl. Se Na <135 mEq/L manter SF 0,9%. Fase III – Evitar hipoglicemia: Quando glicemia chegar a 250-300 mg/dL, deve-se continuar a hidratação associada a glicose (5-10%). Manter 250-500 ml/h de solução de Nacl a 0,45% com glicose. Como preparar: 22 ml de Nacl a 20% (77 mEq) em 1L de Soro Glicosado a 5 ou 10%. ➢ Reposição de Potássio: o K <3,3 mEq/L : Não prescrever a dose inicial de insulina, só iniciar insulina quando K+ > 3,3 mEq/L! Repor 20-30 mEq de K+ em 1h e dosá-lo logo após; o K entre 3,3-5,0 mEq/L : Repor K+ desde a chegada ao PS: Colocar 20-30 mEq de K+para cada litro de qualquer soro infundido. Dosar a cada 2/2 hrs ou a cada 4/4 hrs; o K>5 mEq/L: Não se deve repor eletrólito e continuar a dosagem. ➢ Insulinoterapia: Iniciar se K+ sérico > 3,3 mEq/L após hidratação Administrar insulina regular 0,1 U/kg, IV em bolus, seguida por insulina regular 0,1 U/kg/h em infusão contínua. ➢ Monitorização: - Glicemia capilar de 1/1 h; - Taxa ideal de queda: 50-70 mg/dL/h. Redução <50 mg/dL/h: Dobrar taxa de infusão da bomba de insulina. Redução >70 mg/dL/h: Reduzir taxa de infusão pela metade; Resumo de Emergências Hiperglicêmicas 7 7 www.sanarflix.com.br -Checar eletrólitos, função renal e glicose de 2/2 h- 4/4 h até que doente esteja estável; - Após resolução da CAD, prescrever dieta VO, continuar insulina IV e adicionar insulina regular SC, conforme glicemia; Após 24 hrs, pode-se prescrever insulina NPH 0,5- 0,8 U/Kg divididos em duas doses ou 2/3 do total de insulina utilizado nas últimas 24 h. ➢ Quando suspender a bomba de insulina? -Fator precipitante controlado; - Glicemia < 250 mg/dL; - PH > 7,3 e HCO3- > 18 mEq/L - Antes de suspender a insulina IV: Prescrever 10U de insulina Regular SC e esperar 1h antes de desligar a bomba. ➢ Quando Fazer Bicarbonato? - Se PH < 6,9: repor 100 mEq NaHCO3 em 400 ml ABD, infudir em 2 h. Referências Bibliográficas 1. Martins HS, Scalabrini Neto A, Velasco, I.T. Emergências Clínicas Baseadas em Evidências. 1ª Edição. Rio de Janeiro: Atheneu, 2006. 2. MARTINS, Herlon Saraiva; BRANDÃO NETO, Rodrigo Antonio; VELASCO, Irineu Tadeu. Medicina de emergência: abordagem prática. [S.l: s.n.], 2016. 3. GÓIS. A. F. T et al. Guia de bolso de Pronto- Socorro. Editora Atheneu Ltda, 1ª ed., 2013. 4. MARTINS,Mílton de Arruda. Manual do residente de clínica médica – 2ª edição. 5. LOURENÇO, Eraldo e SENTINARO, Henrique. Guia básico de plantão para o interno. 2ª EDIÇÃO. 6. Medicina de Emergência - Abordagem Prática - 12ª Ed. 2017 - Martins, Herlon Saraiva Resumo de Emergências Hiperglicêmicas 8 8 www.sanarflix.com.br