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UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA – VISEU Departamento de Ciências de Saúde MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA DENTÁRIA 2014-2015 Christiane L. Salgado 1º ANO, 2º Sem. 2014/2015 Ana Sofia Belchior Colaboração: Ana Raquel Pereira | Ana Rita Oliveira | Rita Grão | Sarah Goolamhussen Sebenta BIOMATERIAIS UBA III BIOMATERIAIS 1 INTRODUÇÃO AOS BIOMATERIAIS Alternativas disponíveis para os procedimentos cirúrgicos ligados à reconstrução de tecidos e órgãos: - Autotransplantes melhor solução devido ao fator resposta imunológica; - Autoenxertos utilizam-se cadáveres ou outros doadores (necessária administração de imunossupressores); - Xenoenxertos utilizam-se tecidos de outros animais (questão imunológica e doenças associadas a esses animais) - Biomateriais As propriedades quase ilimitadas de manipulação da estrutura e propriedades dos biomateriais e das suas interações com os sistemas vivos oferecem grandes oportunidades de concretização de várias metas associadas à reconstrução de tecidos e órgãos afetados por patologias e outros tipos de falhas. Biomateriais material não variável, usado num dispositivo médico com o objetivo de interagir com os sistemas biológicos, permitindo o diagnóstico, tratamento ou substituição de algum tecido, órgão ou função corporal. Aplicação clínica Biomateriais devem conter uma combinação de propriedades mecânicas, químicas, físicas e biológicas que tornará viável a sua utilização no corpo humano. O sucesso na implantação de um biomaterial está associado à severidade do processo inflamatório desencadeado, ao nível de satisfação do paciente, ao tempo necessário para o restabelecimento das atividades básicas e ao tempo de permanência do implante no corpo. Os biomateriais sintéticos convencionais não se remodelam, regeneram ou expressam componentes biológicos necessários ao funcionamento de partes vivas do corpo, o que limita a sua capacidade de substituir perfeitamente tecidos naturais. Problemas inflamações crónicas, infeções e alergias; instabilidade interfacial tecido-implante; incompatibilidade biomecânica; desempenho insatisfatório a longo prazo; não são capazes de se auto-reparar; se não são específicos. Resultados perda do implante; deteorização dos tecidos; fratura; dor; cirurgias de revisão. Estratégias nova geração de implantes permite promover estabilidade interfacial entre tecidos e implantes; apresentar compatibilidade biomecânica; favorecer a regeneração de tecidos e órgãos; serem progressivamente substituídos por tecidos saudáveis; substituir parcial ou totalmente tecidos e órgãos a partir de cultivos “in vitro”. Biomateriais tradicionais são formados por materiais usados costumeiramente em outras aplicações que não biomédicas. Os novos biomateriais deverão ser projetados e construídos já especificamente programados para atuar numa determinada função. BIOMATERIAIS 2 A nova geração de biomateriais e implantes baseia-se na engenharia de tecidos (genética, engenharia de materiais, biologia molecular e bioquímica) Scaffolds matrizes artificiais e altamente porosas que servem de guia tridimensional para as células na formação de novos tecidos. Meio favorável para a fixação, a sobrevivência, a proliferação e a diferenciação das células. Precisam degradar conforme o novo tecido é formado. Propriedades biocompatibilidade e bioatividade, bioreabsorvável, propriedades mecânicas adequadas, porosidade, fácil fabricação e superfície quimicamente favorável para a fixação celular Propriedades dos biomateriais Biocompatibilidade e bioatividade Biocompativel era considerado aquele material totalmente inerte ao corpo humano, no entanto, atualmente sabe-se que qualquer tipo de material sempre elucida uma resposta do tecido vizinho o Interação biomateriais e tecidos 1.Fenómenos físico-quimicos de interface relacionados com os primeiros instantes de contacto entre biomaterial, tecido e ambiente de implantação; 2.Resposta dos tecidos e meio orgânico à presença do material; 3.Mudanças ocorridas nos materiais como resultado da ação do meio sobre o material: degradação e corrosão; 4.Reação de alguma parte do organismo não diretamente em contacto com o implante. A presença de grupos químicos específicos na superfície de um biomaterial pode orientar o mesmo a organizar o processo de adsorção de uma proteína específica. As proteínas adsorvidas de forma específica são reconhecidas pelo organismo como parte do corpo e podem interagir saudavelmente com as células. A superfície do biomaterial define a densidade e o modo de adsorção de proteínas. A interação entre células e proteínas adsorvidas definem a possibilidade de fixação da célula A célula fixada tem potencial capacidade de proliferar e regenerar o tecido anfitrião (biorreconhecida). o Estratégias de biorreconhecimento e adesão celular a biomateriais - Produção de biomateriais com superfícies capazes de adsorver, preferencialmente de forma específica, proteínas adesivas presentes no plasma; - Imobilização na superfície de biomateriais, antes da sua aplicação de proteínas adesivas ou polipéptidos contendo a sequência RGD (arginina-glicina-aspartato) de aminoácidos o Morfologia de biomateriais pode ser alterada de diversas maneiras 1.Controlo do tamanho de poros em implantes porosos; 2.Controlo do espaçamento ou formato entre ranhuras de dispositivos como em placas e parafusos para fixação; 3.Atraves do tamanho e fração volumétrica de uma segunda camada na superfície de biomateriais Mecânicas Dependem do tecido que se deseja regenerar; BIOMATERIAIS 3 Scaffolds devem garantir propriedades mecânicas similares aos dos tecidos adjacentes para evitar má formação tecidual; Distribuição adequada de tensões (solicitações mecânicas determinam a diferenciação celular); Maior desafio é manter propriedades mecânicas até a formação do novo tecido. Porosidade Porosidade elevada de 50 – 1000 μm: < 150 μm : regeneração de pele; 200 – 400 μm: tecido ósseo. Poros arredondados e interconectados permitem vascularização, fluxo de nutrientes, migração das células Micro-porosidade aditivação: proteínas morfogenéticas, anti-inflamatórios e substâncias que liberam oxigênio. MATERIAIS EM MEDICINA: ESTRUTURA E PROPRIEDADES METAIS Estrutura cristalina do metal cúbico de face centrada, cúbico de corpo centrado e embalagem hexagonal compacta Solidificação dos metais os metais mais puros possuem um ponto de fusão especifico; quando medida considera-se a temperatura ambiente em ambiente inerte Formação do núcleo - Tensão de superfície dos metais líquidos é 10x maior que a da H2O (alta energia de superfície); - Início da solidificação: formação do Embryo (aglomeração de átomos), espontâneo (instável no estado liquido); - Abaixo da TF verifica-se uma menor energia de superfície (inicio da solidificação) e maior formação de embryos estáveis, o que origina a formação de núcleos pequenos e uniformes com arrefecimento muito lento e controlado; - Nucleação heterogénea (diminuição da energia de superfície por contato com uma partícula ou molde). Cristalização dos metais sólidos é a difusão atómica aleatória do metal fundido para o núcleo, formação do cristal em 3D com uma estrutura descontinuada e imperfeita. A cristalização ocorre a partir do núcleo de metais puros (ramificação chamada de dendritos) Uma menor temperatura permite a libertação da energia de fusão em forma de calor, com aumento do tamanho dos dendritos. Em ligas metálicas, a formação de dendritos é indesejável (zonas de tensão – propagação da fratura). Ligas metálicas não nobres: formação dendrítica. Ligas nobres: formação de grão equiaxial. Vantagens do grão equiaxial: maior facilidade do acabamento (polimento) e plano atómico descontínuona interseção dos grãos (maior resistência a deformação). BIOMATERIAIS 4 BIOMATERIAIS METÁLICOS Principais características - Alta resistência mecânica, à fadiga e ao desgaste; - Baixa resistência à corrosão em meio fisiológico, baixa biocompatibilidade, grande diferença de propriedades em relação aos tecidos; - Suportam altas cargas sem deformação permanente; - Para grandes solicitações → Deformação plástica → Remoção do implante; - Facilidade de produção; - Ótimo desempenho a nível de projeto, confeção e instalação. Principais aplicações próteses ortopédicas, implantes dentários, parafusos, elétrodos. Ligas metálicas Os metais têm uma ampla aceitação pois permitem suportar altas cargas sem deformação; facilidade de produção (Tecnicas convencionais e endurecimento posterior); ótimo desempenho a nível de projeto, confeção e instalação. Aços inoxidáveis Cromo: um dos principais elementos Níquel e molibdênio: auxiliam na estabilidade do filme o Características sensitização, baixo custo, boa trabalhabilidade o Utilização componentes de próteses e endopróteses, dispositivos de osteossíntese Ligas de Cobalto-Cromo Cromo Co-Cr-Mo – ASTM F 75-92 o Características custo elevado, trabalhabilidade reduzida (microfundido, usinado) o Utilização principalmente componentes de próteses de articulação Ligas de Titânio o Características O titânio possui elevada afinidade com o oxigénio, formando-se rapidamente na sua superfície uma camada de óxido; essa camada é estável e protege o material, sendo a responsável pela resistência do titânio à corrosão, o que permite uma grande possibilidade de aplicação, em diversos campos. Apresentam também uma alta resistência mecânica específica. o Desvantagens O vanádio (V) é um material tóxico que pode causar problemas neurológicos. Para resolver problemas decorrentes da presença de vanádio algumas ligas foram desenvolvidas, especialmente para aplicação em implantes. O alumínio pode estar relacionado com algumas doenças (Alzheimer). A preocupação com o alumínio levou ao desenvolvimento da segunda geração de ligas ortopédicas, sem alumínio. O Ti possui elevada afinidade com o oxigênio, formando-se rapidamente, na sua superfície, uma camada de óxido (é estável e protege o material, sendo responsável pela resistência do titânio à corrosão); elevada resistência específica e elevada resistência à corrosão – grande possibilidade de aplicações, em diversos campos. BIOMATERIAIS 5 o Principais ligas Ligas de Ti apresentam excelente resistência/peso e resistência contra a corrosão, tal como resistência mecânica baixa Uso de ligas metálicas Materiais degradam, enquanto que os biológicos recuperam, os sintéticos não Problemas “cansaço do metal”, ou seja, apresentam uma vida útil; corrosão localizada ou generalizada: destruição ou deteorização de um material devido a reaçoes com o meio onde se encontra esse material. Este fenómeno é uma transformação química destrutiva de um metal ou liga ocasionada por um fluxo de eletrões. É então necessário selecionar materiais biocompatíveis, com mínimo de reações, desgaste e corrosão. As partículas nocivas extremamente prejudiciais poderão provocar dor, inflamabilidade, irritabilidade ou carcinogénese, afetando a saúde. A forma e capacidade de suportar esforços são importante na fixação e vida útil do implante. Além disso são importantes os cuidados na fabricação e colocação do implante, o projeto (cálculo de esforços), a seleção da liga entre as biocompatíveis, o controlo da matéria prima (normas), o processo de fabricação (encruamento, tensões, etc), técnicas de acabamento (remoção de irregularidades, filme protetor, jateamento com microesferas) e a técnica cirúrgica (deve ser a adequada com acompanhamento radiológico). POLÍMEROS conjunto de macromoléculas ou cadeias moleculares, cuja estrutura consiste da repetição de pequenas unidades ligadas através de ligações covalentes. Macromolécula molécula de alta massa molar. Monômero unidade repetitiva do polímero, ou seja, é uma molécula simples que dá origem ao polímero. Grau de polimerização número de unidades de repetição da cadeia polimérica. Oligômeros moléculas de baixa massa molar. Polímeros termoendurecíveis (polímero sintético) conformados numa forma permanente por aquecimento e curados através de uma reação química, não podem ser refundidos e reconformados. Propriedades hidrofílico, elevada absorção de água, transparente, boa estabilidade, boa permeabilidade ao O2 e reticulado. Aplicações lentes de contacto. Poliuretanos Propriedades pode ser termoendurecível ou elastómero; boa resistência mecânica; boa resistência à fadiga e excepcional resistência à abrasão; excelente alongamento; muito boa resistência química; excelente hemocompatibilidade. Aplicações isolamento em pacemakers e coração artificial;cateteres, tubuladuras; próteses vasculares e suturas e compressas. BIOMATERIAIS 6 Elastómeros Propriedades materiais deformáveis sob aplicação de uma tensão baixa e que rapidamente retomam a forma original após remoção da tensão aplicada. Aplicações Silicones o Propriedades único polímero com estrutura Si-O; inerte fisiologicamente e biocompatível; boa estabilidade térmica; resistência química excecional (inerte); boa resistência a agentes atmosféricos e oxidativos; excelente flexibilidade e baixa resistência mecânica. o Aplicações - Próteses: implantes articulados dos dedos, válvulas cardíacas e implantes mamários; - Reconstrução: cirurgia plástica e estética; - Cateteres e tubuladuras; - Isolamento de dispositivos implantáveis: pacemaker e coração artificial; - Cosméticos; - Lubrificação de instrumentos cirúrgicos; - Moldes para próteses dentárias; - Lentes de contacto. Hidrogéis materiais poliméricos que possuem a capacidade de inchar em água e de reter uma fração significativa na sua estrutura, mas que não se dissolvem em água. Propriedades são hidrofílicos, tem uma natureza dinâmica (grupos pendentes), polaridade e volume livre entre moléculas vizinhas permite à água contactar o polímero, insolúveis em água e anfifílicos (regiões polares e não polares (hidrófobas) orientam-se conjuntamente de modo a formar clusters). Vantagens elevada pureza, natureza expandida permite que as impurezas sejam facilmente expelidas, reduzindo as reações inflamatórias, minimizam irritação mecânica e friccional dos tecidos, tem uma resposta anfifílica e em meio não polares são expostas. Limitações baixa resistência e mecânica e tenacidade, devido ao elevado teor em água, ultrapassada por maior reticulação. Comportamento biomimético das superfícies - Baixa adsorção de proteínas e adesão celular; - Elevada mobilidade das cadeias; - Livre entre cadeias (repulsão estérica). Aplicações biomédicas Polímeros naturais o Materiais de implante substitutos de tecidos macios (cartilagem, tendão e músculos sensitivos), contacto com o sangue (cardiovasculares, intravasculares, cateteres, biossensores e revestimentos); o Compressas flexibilidade, resistência, não imunogénicos, permeabilidade à água, vapor e metabolitos e baixa adesão bacteriana; BIOMATERIAIS 7 o Libertação controlada de fármacos permeabilidade, propriedades difusionais, biocompatibilidade, absorção de água e taxa de absorção ajustáveis e adesão a tecidos; o Materiais sensíveis a estímulos – biossensores imobilização de espécies biologicamente ativas; o Órgãos artificiais rim, fígado e pâncreas tem capacidade para separar bio macromoléculas. BIOMATERIAIS POLIMÉRICOS Principais características Alta ductilidade, boa biocompatibilidade, facilidade de fabricação, baixa resistência mecânica e degradação com o tempo. Principais exemplos polietileno, polimetacrilato de metila, nylon,dracon, silicone e ácido politático. Principais aplicações superfícies articulares, cartilagens, cimento ortopédico e adesivos. CERÂMICAS As cerâmicas compreendem todos os materiais inorgânicos, não-metálicos, obtidos geralmente após tratamento térmico em temperaturas elevadas. BIOMATERIAIS CERÂMICOS, VIDROS E VITRO-CERÂMICOS Principais características Alta resistência à compressão e à corrosão em meio fisiológico; boa biocompatibilidade; baixa resistência à tração e tenacidade. Principais exemplos hidroxiapatita, xircônia, fosfato tricálcico; biovidro e carbono. Principais aplicações ossos artificiais, traqueia artificial, enchimento ósseo, fixador ósseo e raiz de dentes. Cerâmicas dentárias Propriedades quimicamente muito estáveis, excelente estética que não sofreu com o tempo, condutividade térmica e coeficiente de expansão térmica similares ao esmalte e à dentina. Dureza deve ser inferior ao esmalte, com uma superfície polida, por forma a minimizar o desgaste sobre o esmalte, quando em contactos oclusais. Uma cerâmica glazeada tem uma resistência à fratura aumentada e um potencial abrasivo reduzido. São mais resistentes à corrosão que os plásticos e metais, mas são menos resistentes que os metais pois estes apresentam maior tenacidade. Não reagem com a maioria dos líquidos, gases, ácidos e alcalinos. Apresentam uma estabilidade prolongada no tempo. São resistentes à temperatura e ao desgaste. Podem fraturar quando sujeitos a flexão ou quando são rapidamente aquecidos e arrefecidos. Têm a capacidade de serem “conformadas” em formas precisas, no entanto requerem por vezes equipamentos muito dispendiosos. BIOMATERIAIS 8 Cimentos de fosfato de cálcio Podem ser preparados misturando um sal de fosfato de cálcio com água ou com uma solução aquosa para que se forme uma pasta que possa reagir a temperatura ambiente ou corporal, dando lugar a um precipitado que contenha um ou mais fosfato de cálcio, ocorrendo a pega pelo intercruzamento dos cristais deste precipitado. Noções: Não é necessário dar forma ao preenchimento; Mínima cavidade do preenchimento; A preparação é realizada durante o ato cirúrgico; Existe um ótimo contato entre osso e implante; Biocompatibilidade e bioatividade. COMPARAÇÃO ENTRE CERÂMICAS E METAIS Metais Cerâmicas Melhores condutores térmicos e elétricos que as cerâmicas Mais estáveis química e termicamente que os metais Resistências à tração e à compressão comparáveis Resistências à tração e à compressão comparáveis Podem sofrer fratura dúctil, frágil ou mista Podem sofrer fratura frágil Normalmente bifásicos Na sua maioria, polifásicos COMPARAÇÃO ENTRE CERÂMICAS E POLÍMEROS Polímeros Cerâmicas Cristalizam-se mais dificilmente que os metais devido à complexidade estrutural de ambos. Cristalizam-se mais dificilmente que os metais devido à complexidade estrutural de ambos. Estabilidade térmica é menor que a dos materiais cerâmicos, porque partilham eletrões somente com um ou dois vizinhos Maior rigidez e menor plasticidade que os polímeros BIOMATERIAIS COMPÓSITOS combinação das propriedades do polímero e da cerâmica Principais características Boa biocompatibilidade, resistência à tração e à corrosão, difícil fabricação. Principais exemplos teflon – carbono; fibra de carbono e nylon – poliuretano. Principais aplicações cartilagens, odontologia e tecidos moles; reforçam uma matriz ara melhorar as propriedades mecânicas, ou seja, são utilizam-se onde as propriedades mecânicas são importantes como na fixação de fraturas (biodegradável ou não) e substituição de juntas (anca, joelho, etc). BIOMATERIAIS 9 BIOMATERIAIS FUNCIONAIS RESPOSTA BIOLÓGICA À PRESENÇA DO BIOMATERIAL Resposta biológica Processo inflamatório: biomaterial praticamente inerte → resposta severa; Implantes biodegradáveis; Fixação bioativa; Fixação biológica. Resposta inflamatória - Biomateriais não são “rejeitados”; - Rejeição de transplante de órgão: resposta imune específica; - Biomateriais: resposta inflamatória não específica; - Biomateriais a base de tecidos: pode levar a resposta imune (anticorpos e antígenos de células T); - Resposta imunogénica e disfunção do dispositivo implantado: não estão necessariamente relacionados; - Resposta imunológica: causa e consequência de falha do implante; - Presença de células mononucleadas que podem estar associadas a rejeição de órgão e tecido, mas de maneira não específica. Reação a um corpo estranho (FBR) - Células mais comum: macrófago (ativo pelo biomaterial; liberta citocinas que estimulam a inflamação e a fibrose); - Formação de células multinucleadas gigantes (evidência da FBR), ocorrendo desgaste das partículas libertadas (fagocitose frustrada (FF)), que vai originar a libertação de enzimas e citocinas) para encapsulamento do tecido fibroso (colagénio e fibroblastos). Efeitos remotos e sistémicos - Implantes metálicos: libertação e degradação de elementos tóxicos; - Transporte pelos macrófagos até aos nódulos linfáticos regionais; - Alergia ao metal: iões metálicos sozinhos fornecem complexidade estrutural para desafiarem o sistema imune, causando uma resposta imune quando combinado com proteínas. Formação de Trombos Nenhum material é tão resistente à formação de trombos como um endotélio funcional completo. Eventos na superfície do biomaterial adsorção de proteínas plasmáticas; adesão de plaquetas e leucócitos; formação de fibrina (coagulação) Nota: adsorção é o processo pelo qual moléculas ou iões de um fluido são atraídos ou retidos numa superfície sólida. Infeção 5-10% são infeções associadas a implantes; resistência a antibióticos (infeção desaparece após a remoção do implante); infeções iniciais (1-2 meses) devido a contaminação intra ou pós – operatória; infeções tardias devido a bacteriemia causada por tratamentos dentários ou procedimentos geniturinários. BIOMATERIAIS 10 Mecanismos destruição do tecido causado pelo biomaterial (acesso facilitado aos tecidos posteriores); limitação da migração fagocitária; interferência com mecanismos fagocitários (ex. libertação de produtos solúveis); facilidade de adesão bacteriana. Processos mediados por proteínas na superfície do biomaterial Coagulação sanguínea ativação de sistemas de coagulação; ativação e adesão de plaquetas. Reparação/Regeneração adesão, proliferação e diferenciação celular. Inflamação ativação e adesão de leucócitos; ativação de sistemas de complemento. MATERIAIS INTELIGENTES E SISTEMAS DE LIBERTAÇÃO CONTROLADA DE FÁRMACOS Alvo da libertação de fármacos Qualquer via de administração de fármacos conduz à exposição diferencial para órgãos e tecidos; Libertação oral resulta em maiores concentrações de GIT; Administração intravenosa diminui a exposição a GIT; Administração local reduz a exposição sistémica; Inalação promove aumento da exposição dos pulmões; Injeção sinovial resulta numa resposta aprimorada dentro da articulação. Todos estes mecanismos de administração de fármacos não são considerados de libertação dirigida, ainda que se pense que têm o mesmo objetivo. Tipos de libertação de fármacos Biológica desenvolvimento de um fármaco que é biologicamente seletivo para uma região alvo Química desenvolvimento de um fármaco que é biologicamente inerte e se torna ativo na região alvo (pró-fármaco) Um pró-fármaco é uma forma farmacológica inerte de um fármaco ativo que deve ser submetido a uma transformação ‘in vivo’, por uma reação química ou enzimática para ter o efeito terapêutico desejado. Os pró-fármacos podem ser usados para realizar uma libertação direcionada; o desenvolvimento de um pró-fármaco tem por objetivo ser um meio de transporte/entrega. Para um pró-fármaco ser usado na libertação direcionada deve ter acessopreferencial ao local alvo e ser ativo nesse meso local e não noutros. O desenvolvimento de L-dopa é um exemplo de um pró-fármaco para libertar de forma direcionada dopamina no cérebro. Física utilização de um sistema carregador (ou de um dispositivo) que transporta o fármaco ao local alvo. Sistema carregador de fármacos: utiliza macromoléculas biologicamente inertes para libertar um fármaco numa região alvo; podem ser classificados como sendo partículas ou solúveis (ex: partículas, micropartículas, nanopartículas, lipossomas, carregadores celulares, solúveis, proteínas, hormonas, polissacarídeos, anticorpos, DNA, polímeros). BIOMATERIAIS 11 Sistema de libertação de agentes terapêuticos A libertação de agentes terapêuticos (fármacos) na dosagem e nos tempos ótimos torna-os mais eficazes e poderosos. O sistema de libertação de agentes terapêuticos é importante para controlar a quantidade de fármaco libertada – concentrações elevadas numa só toma podem ser prejudiciais e concentrações baixas limitam a eficácia do fármaco. Controlo do sistema de libertação de fármacos Otimização dos níveis do fármaco ‘in situ’; redução da degradação – aumento da semi-vida do fármaco; libertação contínua por períodos de tempo variáveis; número de administrações é reduzido; segmentação. Classificação dos sistemas de libertação de fármacos Os sistemas de libertação de fármacos podem ser classificados de acordo com os mecanismos de controlo da libertação: Sistemas de difusão controlada: fármacos libertados através de poros ou entre as cadeias poliméricas. Sistemas de penetração através da água: a água é o agente principal para a libertação do fármaco; neste sistema as moléculas do fármaco não se difundem sem que as moléculas de água se difundam. Sistemas de libertação biodegradáveis Sistemas de libertação responsivos Aplicações Em dispositivos de reserva controlados por uma membrana o fármaco está num núcleo, que é rodeado por uma membrana polimérica, e é libertado através da taxa de controlo membranar. Em dispositivos de matriz o fármaco está uniformemente disperso/dissolvido numa matriz não degradável (polimérica) e é libertado por difusão a partir do polímero. Aplicação: sistemas controlado por água Dispositivos de libertação controlados osmoticamente: têm uma membrana semi-permeável que permite a movimentação da água mas impede a movimentação de sais e do fármaco para fora; o fármaco sai através de um poro devido ao aumento da pressão causada pelo aumento volumétrico. Dispositivos controlados por swelling: incorporam fármacos num polímero hidrofílico que é rígido e vítreo quando seca e incha quando colocado em ambiente aquoso. Fármaco disperso numa matriz biodegradável: os dispositivos biodegradáveis são formados por polímeros que corroem ou degradam como resultado da exposição a agentes químicos (agua) ou biológicos (enzimas); o fármaco é libertado quando o polímero começa a erodir ou degradar. ENGENHARIA DE TECIDOS Persuasão do corpo para se curar através da libertação, em locais apropriados, de sinais moleculares, células e estruturas de suporte. Útil para o desenvolvimento de substitutos biológicos que restauram, mantêm ou melhoram a função do tecido. BIOMATERIAIS 12 Engenharia de tecidos como uma abordagem Métodos de injeção celular: autólogo (paciente) ou alogénico (dador). Vantagens: evita complicações cirúrgicas; pode ser direta a um órgão específico pela transfusão de sangue; substituição de funções metabólicas (fígado). Estratégias na engenharia de tecidos Recorre a scaffold biodegradáveis: solução permanente; sistema fechado; implantados (microesferas); extracorporal (diálise); injeção celular; na corrente sanguínea ou órgão alvo (cirurgia é evitada);eficácia limitada em muitos casos; requer quantidades elevadas de células. Engenharia de tecidos usando scaffolds Vantagens: biocompatível; biodegradável; permite troca de nutrientes e de gases; manufaturável. Materiais: polímeros naturais (colagénio e fibrina); matrizes sem células (válvulas do coração); polímeros sintéticos (PGA, PLA). Células Fonte: autogénicas, alogénicas, xenogénicas. Tipos: diferenciadas; progenitoras; indiferenciadas (células estaminais embrionárias ou de adultos) Manipulação genética: transferência de material genético para prevenir imuno-rejeição. São necessários vários tipos de células: algumas células têm rápida proliferação (queratinócitos, fibroblastos e células endoteliais e do músculo liso) enquanto que algumas tem uma proliferação mais lenta (hepatócitos, cardiomiócitos); Órgãos dificuldades com células estaminais. Isolamento de uma população de células; Preservação de células em cultura por longos períodos de tempos; Expansão de células epiteliais. Células estaminais – ‘construção’ de órgãos Células estaminais tipo: incapacidade para dividir nas quantidades requeridas; não podem ser diferenciadas totalmente. Células embrionárias: podem provocar resposta imune (dependendo da origem). Células clonadas: levantam questões éticas. BIOMATERIAIS 13 Vascularização Fornece influxo de O2 e nutrientes para as células e permite a saída de produtos metabólicos; essencial para garantir o funcionamento do órgão; desafio chave na ‘construção’ do órgão; transferência em massa de O2 e nutrientes para a estrutura 3D; neovascularização de tecidos vivo. Inervação Comos os órgãos viscerais são inervados; o papel dos nervos em cada órgão está longe de ser compreendido; a complexidade da estrutura nervosa de cada órgão continua a ser muito difícil, se não impossível, para incorporara em órgãos artificiais. Fatores solúveis Atualmente mais disponíveis e em quantidades suficientes – através da engenharia de tecidos; muito caros para a utilização generalizada; funcionam; exigem um sistema de libertação (polímeros ou cerâmicas); ex. BMPs; para posicionar, localizar e libertar o BMP para interagir com as células. Papel dos scaffolds na engenharia dos tecidos Imitação da matriz celular; fornecer células com suporte físico e mecânico para manter os tecidos na orientação necessária; assegurar propriedades de sinalização de componentes solúveis e insolúveis na matriz extracelular; promover o crescimento celular e restaurar a função diferenciada. Sacffolds poliméricos Funções: carregadores celulares; promover a estrutura 3D para a regeneração celular. Propriedades: biocompatível, biodegradável, redutível em vários formatos e tamanhos; estrutura porosa e alta relação superfície-voluma para permitir a difusão e o intercâmbio de O2, nutrientes e produtos metabólicos, assegurando assim a sobrevivência da célula antes da neovascularização; propriedades mecânicas adequadas para suportar a compressão causada pela invasão de fibroblastos. Biorreatores Sistema vascular artificial que proporciona troca de O2, nutrientes e produtos metabólicos de um elevado número de células; sistema ideal ‘in vitro’ para estudar doenças; não há biorreatores suficientemente desenvolvidos para a maturação ‘in vitro’. Impacto da engenharia de tecidos A engenharia de tecidos pode ter um impacto mais profundo do que podemos prever atualmente como a alteração da prática médica. Novas formas de tratamento médico: Regeneração de tecidos e órgãos doentes: fornecer a funcionalidade completa; melhorar os processos de recuperação (melhorar qualidade de vida, custos de saúde inferiores) - novas formas de produtos para diagnóstico e tratamento; elucidação do desenvolvimento dos mecanismos biológicos; aplicação de células estaminais; elevado potencial do impacto social. BIOMATERIAIS 14 Regulação da engenharia dos tecidos Quando o processo de desenvolvimento de tecidos e órgãos funcionais está completo,estes devem ser aprovados por autoridades médicas o que pode levar anos. Objetivo: garantir que os produtos sejam seguros e eficientes e atinjam o púbico assim que possível. Grande variedade de tipos de produtos regulamentados: órgãos e tecidos humanos transplantados; tecidos e órgãos animas; células de mamíferos processadas, selecionadas e expandidas com ou sem biomateriais; materiais sintéticos de concessão biomimética; alguns produtos do mercado e outros em avaliação; analisados numa base caso-a-caso; requer a cooperação entre diferentes identidades; falta de normas. Critérios para a regulação em engenharia de tecidos: Avaliação do pré-mercado; segurança (doenças transmissíveis) e eficácia; manufatura (consciência e estabilidade, controlo de qualidade, segurança dos trabalhadores, reprodutibilidade); segurança pré-clínica (toxicidade, biocompatibilidade, caracterização de materiais); segurança clínica; avaliação pós-mercado; desempenho do produto. Dificuldades na regulação da engenharia de tecidos: Dificuldade em definir como um produto: resultado da aplicação dos princípios de engenharia e ciência da vida para criara substitutos biológicos para restaurar, manter ou melhorar as funções; produtos compostos; grande variedade de produtos; requer cooperação entre diferentes identidades; área em constante evolução; definição dos métodos e avaliação da eficiência; falta de normas. RESPOSTA CELULAR: ESTRATÉGIAS PARA MODIFICAR SUPERFÍCIE DOS BIOMATERIAIS Topografia e química da superfície A superfície revelou química e topografia de biomateriais que induzem resposta celular in vitro e in vivo (adesão, viabilidade) Propriedades da superfície hidrofobicidade e cargas são importantes na adsorção proteica, que influencia atividades celulares. o Efeitos das propriedades: diferenças nas espécies proteicas adsorvidas, concentração e atividade biológica Sinais biológicos e químicos Libertação controlada de fatores de crescimento, responsáveis por diferentes estádios de diferenciação. Podem fornecer sinais importantes para a diferenciação de células estaminais. Podem ser adsorvidos no biomaterial ou na superfície scaffold (dentro da superfície) Fatores de crescimento solúveis (BMP,FGF) podem ser diretamente encapsulados ou incorporados durante o processo de fabrico do scaffold. BIOMATERIAIS 15 Alteração física da superfície do material Modificação da superfície: camadas, colocar o biomaterial em vários químicos, usar proteínas de adsorção, carregar os biomateriais ou superfícies de scaffold. Mecanismo usado para aumentar a resposta celular a superfícies hidrofílicas é alterar as proteínas adsorvíveis a materiais hidrofílicos e hidrofóbicos. Conjugação covalente de moléculas bioativas da superfície do biomaterial Incorporação de moléculas bioativas nos BM é uma maneira importante de regular diferenciação celular. Fornece sinalização e concentração de biofatores Biomateriais alterados e multi-biofatores são libertados via difusão, proteólise mediada por células, em resposta a estímulos mecânicos Nano topografia e superfície osso-implante Sistemas de coordenação num organismo são: - Sinalização usando citocinas e hormonas; - Interação direta entre células; - Interação entre células e o tecido não celular. Função celular - Células detetam gradiente de compostos químicos e evitam/seguem uma alta concentração; - Quimiotaxia permite que organismos encontrem fonte de nutrientes e que se afastem de compostos tóxicos; - Reconhecimento de ligandos por um recetor especifico; - Produzem e libertam ligandos durante o processo de regeneração e inflamação. BIOSENSORES Dispositivo analítico, que deteta analites. Combina componente biológica com detetor físico-químico Aplicação Biossensor de glucose sanguínea, que usa a enzima glucose oxidase para a quebra da glucose. É o transdutor e a enzima é ativa; Usa organismos que respondem a substâncias tóxicas a concentrações muito mais baixas que os humanos. Podem ser usados em monitorização ambiental, deteção de gás e locais de tratamento de água; Contém proteína geneticamente modificada ou enzima, configurada para detetar analites. Exemplo: deteção da concentração de AMPc no citoplasma
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