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FUNDAMENTOS DA LÍNGUA PORTUGUESA Asafe Cortina Mecanismos de coesão e coerência textual Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Explicar os conceitos de anáfora e catáfora. Associar os conceitos de continuidade temática e progressão semân- tica para a construção da coerência. Ilustrar exemplos de construção da coesão e coerência em textos. Introdução Neste capítulo, você vai aprender sobre mecanismos de coesão e de coerência textual. Primeiro, você irá ler sobre dois conceitos importantes que dizem respeito às referências textuais e que garantem a coesão de um texto: a anáfora e a catáfora. Em seguida, você irá estudar sobre con- tinuidade temática e progressão semântica e como esses dois elementos são fundamentais para a coerência de um texto. Finalmente, você vai observar alguns elementos, mecanismos e princí- pios de coesão e de coerência textual que colaboram para que um texto tenha um desenvolvimento lógico e um sentido pertinente. Anáfora e catáfora Um dos fatores mais importantes em uma composição textual diz respeito à coesão. A coesão é um conjunto de elementos e características que harmoni- zam, conectam e ligam as partes de um texto para que ele possa ter sentido e para que o leitor possa perceber um senso de continuidade entre as palavras, as frases, os parágrafos, etc., de forma que o texto seja melhor compreendido. Existem alguns recursos para garantir a coesão dentro de um texto, como a coesão por referência, que ocorre quando utilizamos alguns grupos de palavras que tem a função de referenciar elementos já citados ou que ainda serão citados no decorrer do texto. Entre essas palavras, temos os pronomes pessoais, os possessivos, os demonstrativos, os indefinidos, os relativos e os advérbios de lugar. Observe o exemplo: Pedro comprou o carro que ele queria há muito tempo. Na frase acima, o pronome relativo “que” e o pronome pessoal “ele” são elementos de coesão porque relacionam e elencam ideias de forma que o leitor possa identificar ao que cada uma dessas palavras se refere. Sabemos que a palavra “que” diz respeito ao carro e a palavra “ele”, se refere a Pedro. Dentro dos aspectos de coesão, que dizem respeito às referências em um texto, temos os conceitos de anáfora e de catáfora que, basicamente, estão relacionados à posição do elemento que foi ou será referenciado em um texto em relação à palavra que a referencia. Anáfora Anáfora é o nome que se dá quando um elemento de coesão retoma um elemento que já foi citado em um texto. Ou seja, podemos entender como anáfora quando o elemento B faz referência (ou retoma) o elemento A que já fora citado no texto, de forma que sem o elemento A, não podemos entender o signifi cado ou a referência de B. É preciso atentar para não confundir a anáfora de coesão textual com a anáfora de uma figura de linguagem. A anáfora, de coesão textual, diz respeito às referências que acontecem dentro de um texto em que um elemento retoma algo já mencionado. Já a anáfora, como uma figura de linguagem, é um recurso de repetição da mesma palavra ou expressão com o objetivo de enfatizar uma mensagem. Mecanismos de coesão e coerência textual2 Leia os exemplos abaixo: a) Camila estava viajando, mas ela chegou semana passada. b) Meu pai estava de aniversário. Comprei-lhe uma gravata. c) Eu adotei um gato. O bichinho já se sente o dono da casa. d) O laboratório de informática foi roubado. Os teclados foram todos levados. e) Inglês e matemática: essas são as matérias que mais gosto na escola. Observe que em todos os exemplos, temos elementos que garantem uma coesão textual e que colaboram, também, para a fluidez da leitura. Imagine, por exemplo, se em vez de usarmos “ela” na primeira frase, repetíssemos o nome Camila. A leitura, com certeza, tornar-se-ia menos fluída. No exemplo A, o pronome “ela” se refere à Camila, elemento já mencio- nado no texto. Se não tivéssemos mencionado o nome Camila no texto, não conseguiríamos entender a que a palavra “ela” se referia. Da mesma forma, podemos observar elementos em todas as outras frases que se referenciam a algo já mencionado na frase, de maneira que retomem uma ideia ou componente já citado: a) Camila estava viajando, mas ela chegou semana passada. b) Meu pai estava de aniversário. Comprei-lhe uma gravata. c) Eu adotei um gato. O bichinho já se sente o dono da casa. d) O laboratório de informática foi roubado. Os teclados foram todos levados. e) Inglês e matemática: essas são as matérias que mais gosto na escola. Note que no exemplo C, não temos apenas um pronome retomando “um gato”, temos um sintagma “o bichinho”. Isso nos demonstra que a anáfora não ocorre exclusivamente por meio de pronomes, mas por qualquer unidade lexical que se refira a algo que já foi anteriormente mencionado, seja de maneira direta ou indireta, completa ou parcial. Veja que nos exemplos A, B, C e E temos uma referência direta. Cada uma das palavras destacadas retoma algo diretamente mencionado nas frases. Contudo, no exemplo D temos um tipo diferente de anáfora, que se referencia de forma indireta ao que já foi dito. No caso do exemplo D, as palavras “os teclados” não fazem uma referência direta ao sintagma “o laboratório de informática”, mas de qualquer forma, podemos observar que existe uma referência anafórica, porque precisamos 3Mecanismos de coesão e coerência textual saber que é sobre o laboratório de informática para entender o tipo de teclado que foi levado. Se não tivéssemos essa informação, poderíamos pensar que eram teclados de música, por exemplo. Em resumo, anáfora são elementos de coesão que retomam alguma infor- mação previamente mencionada no texto. Catáfora Catáfora refere-se à retomada referencial inversa à anáfora. Ou seja, elementos catafóricos são aqueles que irão se referenciar a uma informação subsequente no termo, a algo que ainda será mencionado. Dessa maneira, só é possível compreender o referencial do termo catafórico quando chegamos no elemento ao qual ele se refere no texto. Observe os exemplos: a) Os lugares que precisam de conserto são estes: a sala e a cozinha. b) Eu quero mesmo fazer isto: viajar por todo o mundo. c) Paula o analisou e pensou: Diego está com algum problema. d) Bruna comprou várias coisas: maquiagem, uma bolsa, um sapato e um perfume. Nos exemplos acima, podemos observar elementos que se relacionam com informações que ainda serão mencionadas no texto, de forma que o leitor precisa ou interpretar o referencial das unidades catafóricas ou esperar que sejam citados no texto. Vejamos esses elementos nos exemplos: a) Os lugares que precisam de conserto são estes: a sala e a cozinha. A palavra “estes” se refere a duas outras que serão logo citadas: a sala e a cozinha. b) Eu quero mesmo fazer isto: viajar por todo o mundo. O pronome “isto” faz referência ao que vem sequencialmente na frase: viajar por todo o mundo. c) Paula o analisou e pensou: Diego está com algum problema. Mecanismos de coesão e coerência textual4 O pronome “o” se refere a Diego. d) Bruna comprou várias coisas: maquiagem, uma bolsa, um sapato e um perfume. O sintagma “várias coisas” faz referência a tudo que vem após os dois pontos: maquiagem, uma bolsa, um sapato e um perfume. Em suma, entende-se que catáfora é quando um elemento menciona algo que ainda será citado no texto. Continuidade temática e progressão semântica Entre os componentes de coesão e coerência textual, existem dois que são responsáveis para o desencadeamento do texto se torne claro, para que ele tenha sentido e para que cumpra seu propósito: a continuidade temática e a progressão semântica. Como sabemos, um texto não se caracteriza por ser um aglomerado de palavras e ideias aleatórias. Geralmente, um texto se organiza e se estrutura sob certos princípios, de modo que possa ser coerente, coeso e lógico. Logo, se estamos lendo um textosobre tecnologias digitais, por exemplo, podemos esperar informações sobre diferentes exemplos de tecnologia, sobre as dificul- dades de utilizar tecnologias emergentes, sobre a importância da tecnologia no cenário atual e etc. Contudo, não esperamos que o texto mude subitamente e comece a falar sobre gatos ou sobre música. Progressão semântica é o desenvolvimento do conteúdo de um texto (ou de um tema/rema) para que este apresente um sentido. Ou seja, as informações apresentadas a respeito do assunto do texto se desenvolvem de uma forma lógica ,fazendo com que cada parte faça sentido e tenha coerência com o todo. Já a continuidade ou progressão temática é o procedimento utilizado em um texto para dar sequência a eles de forma lógica e organizada. São, resumidamente, os recursos adotados para garantir que um texto avance e para que as ideias apresentem um sequenciamento lógico. Entendemos que um texto tenha, normalmente, uma unidade temática; ou seja, o assunto sobre o qual o texto decorrerá. Também sabemos que, naturalmente, “novas” informações serão apresentadas sobre esse tema. É com base nessa ideia que podemos entender dois conceitos fundamentais para a coerência textual: tema e rema. 5Mecanismos de coesão e coerência textual Tema é o assunto/tópico que o texto abordará. É uma informação claramente apresentada ou facilmente inferida que pode ser entendida diretamente no texto ou no contexto. Rema são as informações novas introduzidas em um texto, “aquilo que se diz sobre o tema”. Vamos utilizar o exemplo mencionado anteriormente sobre um texto a respeito de tecnologias digitais. “Tecnologias digitais” é o que consideramos como tema do texto, enquanto informações sobre diferentes exemplos de tecnologia, dificuldades de utilizar tecnologias emergentes e a importância da tecnologia no cenário atual são tidos como remas. A continuidade temática é um recurso que garante a clareza de um texto e que permite não só a conexão de seus elementos, mas também a manutenção da informação e a eficiência do texto em apresentar-se de forma que o leitor possa “acompanhar o fio da meada”. De acordo com as diferentes relações entre tema-rema, existem diferentes tipos de continuidade temática. Conforme Suárez, Luz e Quintero (2012), podemos distinguir seis progressões temáticas: 1. Continuidade de tema linear: quando o rema (ou parte dele) se converte em tema da oração seguinte (Figura 1). ■ Exemplo: No que diz respeito à tecnologia, os programas de com- putador relacionados ao ensino se desenvolvem rapidamente. Esses programas têm por objetivo... Figura 1. Esquema para a representação da continuidade temática — continuidade de tema linear. Tema 1 Rema 1 Tema 3 Rema 3 Tema 2 Rema 2 Mecanismos de coesão e coerência textual6 2. Continuidade de tema constante: quando um elemento é o tema constante de várias orações e em cada uma delas ele apresenta um rema novo (Figura 2). ■ Exemplo: O aplicativo tem possibilitado diversas atividades fora da sala de aula. Ele incentiva os alunos a consultarem diferentes materiais. Além disso, ele permite que os professores organizem as atividades de forma mais simples. Figura 2. Representação da continuidade temática – continuidade de tema constante. Tema 1 Rema 1 Tema 1 Rema 2 Tema 1 Rema 3 3. Continuidade tema/hiperrema: quando um rema (ou parte dele) se desenvolve em um hiperrema e, a partir disso, novas orações são apre- sentadas, sendo cada uma com um tema e um rema (Figura 3). ■ Exemplo: Entre os aplicativos utilizados em sala de aula e que são mais úteis para os professores estão o Google classroom e o Moodle. – O Google classroom é um sistema que permite… – Já o Moodle, bastante semelhante, é mais utilizado para… 7Mecanismos de coesão e coerência textual Figura 3. Estrutura da representação da continuidade temática — continuidade tema/ hiperrema. Tema 1 Rema 1 Tema 2 Rema 2 Tema 3 Rema 3 Tema 4 Rema 4 4. Continuidade de tema derivado: quando o tema de uma oração dá origem aos temas das próximas (Figura 4). ■ Exemplo: A utilização de tecnologias em salas de aula é bastante importante. Seus efeitos cooperam para o melhor desenvolvimento dos alunos. Já a falta de recursos para... Figura 4. Estrutura da representação da continuidade de tema variado. Tema 1 Tema 2 Rema 2 Tema 3 Rema 3 Tema 4 Rema 4 5. Continuidade de tema convergente: quando o novo tema de uma nova parte do texto é resultante de informações já conhecidas pelo leitor (Figura 5). ■ Exemplo: Adotar tecnologias na escola permite que os alunos de- senvolvam um perfil mais autônomo e independente. Esse perfil colabora... Mecanismos de coesão e coerência textual8 Figura 5. Esquema da continuidade de tema convergente. Tema 1 Rema 1 Tema 2 Rema 2 Tema 4 Rema 4 Tema 3 Rema 3 6. Continuidade intercalada: quando não existe, evidentemente, ape- nas um esquema particular, de forma que a coerência seja alcançada por sentido e não necessariamente por continuidade tema-rema. Essa relação pode ser observada por efeitos de implicatura, de causa e de efeito, etc. (Figura 6). ■ Exemplo: Utilizar a tecnologia como parte das sequências didáticas contribui grandemente para o avanço intelectual dos alunos. Infe- lizmente, o governo não dispõe de verbas voltadas para a educação. Figura 6. Representação da continuidade intercalada. Tema 1 Esquema 1 Esquema 2 Esquema 3 Esquema 4 Esquema 5 Esquema 6 Rema 1 Com esses diferentes esquemas de continuidade temática, podemos per- ceber a importância da sequencialidade lógica da informação de modo que a apresentação de tema(s) e rema(s) desenvolva um texto coerente e coeso, para que o leitor construa possibilidades e elabore uma linha de pensamento que possa se desenvolver de forma constante e correta por meio do texto. A partir de seus conhecimentos de continuidade temática e progressão semântica, observe agora dois exemplos: 9Mecanismos de coesão e coerência textual TEXTO 1: É indubitável que as tecnologias são partes fundamentais do cotidiano atual: são partes da nossa casa, são utilizadas no nosso trabalho, colaboram para a nossa comunicação, facilitam algumas tarefas, etc. Podemos afirmar que a tecnologia não é restrita apenas a uma fun- ção ou a um determinado público. Ela é constantemente utilizada para diferentes propósitos e por distintos tipos de pessoas. Ao sabermos o quanto a tecnologia é presente nos nossos dias, po- demos concluir que ela se torna componente essencial para a educação: além de facilitar algumas atividades rotineiras dos professores e colaborar para sua organização, ela também é esperada pelos alunos, que utilizam ferramentas, como aplicativos e software com bastante frequência. Logo, adotar diferentes tecnologias digitais em sala de aula pode contribuir muito para o desenvolvimento de conteúdos e para a organi- zação da sala de aula. Quando utilizadas corretamente podem facilitar o trabalho do professor e fornecer diferentes recursos para melhorar o desempenho dos alunos. Contudo, embora utilizar ferramentas tecnológicas em sala de aula seja um fator indiscutivelmente benéfico, sabemos que existem certas limitações como, por exemplo, o alto custo para o fornecimento de tecnologias que não sejam retrógradas. Como sabemos, a realidade política do nosso país não destina recursos financeiros suficientes para a educação, de forma que escolas públicas mal tenham condições de fornecer suprimentos básicos aos alunos e/ou professores, como cadernos, lápis, giz, etc. Portanto, como seria possível para essas escolas adotar a tecnologia? (...) TEXTO 2: É indubitável que as tecnologias são partes fundamentais do cotidiano atual: são partes da nossa casa, são utilizadas no nosso trabalho, colaboram para a nossa comunicação, facilitam algumas tarefas e etc. Ao sabermos o quanto a tecnologia é presente nos nossos dias, po- demos concluir que ela se torna componente essencial para a educação: além de facilitar algumasatividades rotineiras dos professores e colaborar Mecanismos de coesão e coerência textual10 para sua organização, ela também é esperada pelos alunos, que utilizam ferramentas, aplicativos e software com bastante frequência. Existem aplicativos gratuitos na internet que podem ser utilizados para a edição e publicação de fotos. Eles permitem que um usuário tire uma foto e edite com diferentes recursos e filtros. Um exemplo é o Instagram, que além de ser uma rede social, apresenta para o usuário diferentes possibilidades de edição de foto. O primeiro aplicativo de edição de foto que deu origem a todos os outros se chama Photoshop da empresa Adobe e que foi lançado (a primeira versão) em 1988. Além do Photoshop, a Adobe tem outros programas de imagem e vídeo, como Illustrator, InDesign, Acrobat Reader, etc. (...) Você consegue perceber alguma diferença entre o texto 1 e o texto 2 em termos de sequencialidade e de desenvolvimento lógico de conteúdo? É possível perceber que o texto 1 se desenvolve a partir do tema “tecno- logias” e apresenta remas relacionados ao uso da tecnologia nas escolas, às contribuições da tecnologia em sala de aula, tanto para o professor quanto para o aluno, às limitações financeiras que impedem a adoção de tecnologia em escolas públicas e etc., de forma que o texto seja coerente e que as ideias sejam sequenciadas e lógicas para o leitor. É bastante claro, também, que existem diferentes tipos de relação entre tema-rema e que existe uma progressão semântica –em que novas informações são adicionadas em relação ao tema principal e que se conectem ao todo, criando um texto com um sentido e um objetivo claro. Já no texto 2, embora pareça se desenvolver sobre o mesmo tema (tecnolo- gias), parece existir uma falta de coesão e, em certos pontos, até de coerência por haver quebras das continuidades temáticas e da progressão semântica. O texto começa a se desenvolver a respeito da presença de tecnologias no cotidiano do mundo atual, logo passa para um recorte sobre o uso de tecno- logias em sala de aula e, logo após, passa para exemplos de aplicativos para edição de fotos e, por fim, para uma explicação sobre os diferentes recursos disponibilizados por uma determinada companhia. Embora o assunto a respeito dos aplicativos de edição de fotos possa parecer ligado ao tema principal, existiu uma quebra de continuidade temática e de progressão semântica porque não houve continuidade do tema/rema apresen- tado no segundo parágrafo: o uso das tecnologias nas escolas. 11Mecanismos de coesão e coerência textual Embora possamos – se forçarmos um pouco – encontrar uma certa relação entre os parágrafos 3, 4 e 5 com os dois primeiros, é bastante claro, para o leitor, que houve um rompimento no fluxo de ideias. Esperava-se que o texto continuasse a decorrer sobre as tecnologias em salas de aula e apresentassem outros remas sobre o assunto, mas houve uma ruptura brusca e bastante evidente quando o assunto foi alterado para “aplicativos de edição de fotos”. A falta de continuidade temática e de progressão semântica podem fazer com que o leitor perca o interesse pelo texto ou que considere o texto como incoerente ou com falta de coesão. Portanto, é preciso observar mecanismos de continuidade temática e de progressão semântica para garantir que um texto cumpra, eficientemente, seus objetivos. Exemplos de construção de coesão e de coerência A coesão e a coerência são dois fatores fundamentais para o desenvolvimento de textos. Um texto não é apenas um aglomerado de palavras. Para que seja considerado como texto, é preciso que ele comunique/informe e que cumpra certos propósitos. Podemos entender como coesão os mecanismos que garantam uma sequên- cia lógica e semântica entre as partes de um texto, seja entre palavras, frases ou parágrafos; de maneira que o texto inteiro possa ser entendido como um todo e que o leitor entenda a relação de todos os seus componentes de forma natural. A coerência, por sua vez, diz respeito ao sentido e à lógica de um texto. Um texto incoerente é aquele que não faz sentido e cuja veracidade não é encontrada em nenhum contexto. Existem diferentes mecanismos e princípios que garantem tanto a coesão quanto a coerência textual. Elementos de coesão textual Primeiramente, é importante entender que existem dois tipos de coesão textual: a coesão referencial, que diz respeito à remissão e referências entre elementos de um texto e a coesão sequencial, que é a responsável pela sequência lógica e pela progressão de tema de um texto. Alguns mecanismos garantem a coesão textual, como veremos a seguir: Mecanismos de coesão e coerência textual12 1. Referências: quando um termo dentro do texto se refere a outro já citado ou que será posteriormente citado, por meio de anáfora ou catáfora. Exemplos são: ■ referência pessoal: utilizando um pronome pessoal ou possessivo para criar uma referência. – Exemplo: Paula e Pedro viajaram. Eles foram para Paris. ■ demonstrativa: quando a referência ocorre com o uso de pronomes demonstrativos ou advérbios. – Exemplo: Ele se lembrou de todos os detalhes, menos deste: enviar o convite do casamento. 2. Substituição: ocorre quando um termo é substituído por outro dentro de um texto. Exemplos são: ■ sinonímia: quando a palavra é substituída por um sinônimo para evitar repetições. – Exemplo.: A menina e o menino se perderam na floresta. A garota, pelo menos, estava com seu celular. ■ metonímia: quando utilizamos uma palavra em vez de outra, baseada em uma relação semântica. – Exemplo: O governo dos Estados Unidos tem demonstrado grandes preocupações. A Casa Branca alega que... ■ epíteto: quando um termo é substituído por uma qualificação. – Exemplo: Fernando Pessoa foi um poeta português. O melhor po- eta do mundo publicou poemas utilizando diferentes pseudônimos. 3. Elipse: quando existe a omissão de algum elemento do texto de forma que essa omissão ainda deixe claro o que foi omitido. ■ Exemplo: Sobraram dois pedaços de pizza. Você os quer? (Elemento elipsado: “dois pedaços de pizza”.) ■ Exemplo: Elas compraram roupas. Eles, jogos. (Elemento elipsado: “compraram”.) 4. Conjunção: permite o desencadeamento lógico e contínuo dos textos, desenvolvendo ideias de adição, de oposição, etc. ■ Exemplo: Nós não entendemos a matéria, mas ela sim. ■ Exemplo: Dirceu foi ao mercado e à farmácia. 5. Lexical: utilização de palavras com sentidos apropriados e que se encaixem no contexto do texto. ■ Exemplo: A universidade permite que os alunos escolham disciplinas eletivas. A instituição oferece mais de cem opções... 13Mecanismos de coesão e coerência textual Princípios de coerência textual A coerência é o que garante a lógica e a pertinência do texto como um todo, de modo que o leitor possa identifi car o conteúdo dos textos como verossímeis e lógicos. Existem três princípios lógicos de coerência textual, sendo eles: 1. Princípio da não contradição: um texto se torna incoerente se ele apre- senta ideias que se contradigam entre si, de modo que uma anule a outra. Exemplo: A tecnologia é benéfica para o desenvolvimento dos alunos. Ferramentas tecnológicas fazem mal para o progresso dos estudantes. Existem duas ideias opositivas nas orações acima e, por conseguinte, apresentam uma contradição. 2. Princípio da não tautologia: tautologia é um vício linguístico em que um emissor repete o mesmo pensamento com palavras sinônimas. Quando um texto apresenta a mesma ideia repetidas vezes, acaba se tornando redundante. Exemplo: A tecnologia é importante para a sala de aula, porque ferra- mentas tecnológicas são benéficas para o ensino, uma vez que aparelhos tecnológicos contribuem para a didática. O parágrafo acima apresentou três vezes a mesma ideia, de forma que quebrou o princípio da não tautologia. 3. Princípio da relevância: a relevância diz respeito à relação entre os conteúdos apresentados em um texto.Para ser coerente, um texto precisa apresentar assuntos que possam se relacionar entre si para alcançar um entendimento global. Partes do texto que abordam assuntos diferentes e que não são possíveis de relacioná-los com o resto, tornam o texto incoerente. Exemplo: Utilizar a tecnologia em sala de aula pode contribuir para a organização dos professores. No Japão, os alunos fazem reverência ao passar por um professor. Embora possa parecer que exista uma conexão entre os dois parágrafos (uma vez que ambos falam de professores), não existe uma relação lógica entre os dois assuntos, tornando, assim, uma das informações irrelevantes para o texto. Mecanismos de coesão e coerência textual14 Além desses princípios básicos de coerência, existem alguns fatores que podem ajudar a tornar um texto coerente, entre eles: o conhecimento de mundo, as inferências, a contextualização, a informatividade e etc. Em suma, existem práticas e mecanismos que garantem não só a sequência lógica e estrutural de um texto, mas também a sua relevância e pertinência. Sem coesão, não é possível que um leitor acompanhe o fluxo de ideias pre- tendido pelo escritor e sem coerência não é possível que o receptor encontre a pertinência e a lógica de um texto, prejudicando, assim, a principal função de um texto: a comunicação. 1. Qual das alternativas apresenta o uso de uma anáfora? a) Direi a ela apenas isto: não aceito mais amor incompleto. b) Na cena do crime, o detetive encontrou vários objetos: uma faca, um pedaço de pano e uma corda. c) Minha família está sempre brigando. Eles não conseguem passar um dia sem discutir. d) Ele a olhou e concluiu: Bruna é a mulher mais bonita do mundo. e) Os conteúdos mais cobrados na prova de literatura são estes: romantismo e barroco. 2. Qual das alternativas apresenta o uso de uma catáfora? a) Paula está sempre atrasada. Ela nunca se importa com o horário. b) Meu cachorro é muito agitado. O animal não para nunca. c) Chocolate e baunilha: esses são os sabores que mais gosto de sorvete. d) Cheguei atrasado e o professor estava me esperando. Entreguei-lhe o bilhete da minha mãe. e) Entre as matérias, vão cair na prova apenas estas: trigonometria e polinômios. 3. Qual a diferença entre tema e rema? a) Tema é o assunto sobre o qual um texto é desenvolvido. Rema é tudo aquilo que não se referência ao assunto. b) Tema é o assunto sobre o qual um texto é desenvolvido. Rema são as informações novas adicionadas sobre esse assunto. c) Rema é o assunto sobre o qual um texto é desenvolvido. Tema são as informações novas adicionadas sobre esse assunto. d) Tema é o assunto principal que defende a ideia de um texto e argumenta em favor do ponto de vista do autor. Rema são as ideias que se opõem ao ponto de vista do autor. e) Tema é o elemento que garante a coerência de um texto. Rema 15Mecanismos de coesão e coerência textual é o elemento que garante a coesão de um texto. 4. Qual das alternativas apresenta uma continuidade temática linear? a) A respeito do programa didático, a universidade oferece diversas disciplinas eletivas para os alunos calouros. Essas disciplinas permitem que os alunos entrem em contato e explorem outros tópicos. b) As aulas de culinária são destinadas aos públicos iniciantes. Elas são ministradas por uma cozinheira profissional. c) A adoção de diferentes técnicas para o desenvolvimento da língua estrangeira é essencial. Seus efeitos são cognitivos e comunicacionais. O ganho linguístico é bastante evidente nos primeiros seis meses. d) O livro trabalhado no semestre será Orgulho e Preconceito. Ele foi escrito por Jane Austen. e) O efeito do remédio é imediato: acaba com a dor de cabeça. 5. Qual a diferença entre coesão e coerência? a) Coesão é o que garante a lógica e a pertinência de um texto, enquanto coerência é o que sustenta e organiza a sequência de informações em um texto. b) Coesão são mecanismos que garantem que um texto seja não- -contraditório, não-tautológico e relevante. Coerência são mecanismos que permitem um sequenciamento lógico das informações e uma ligação entre os elementos de um texto. c) Coesão são mecanismos que permitem um sequenciamento lógico das informações e uma ligação entre os elementos de um texto. Coerência são as práticas adotadas para garantir que um texto seja pertinente e lógico. d) Coesão são técnicas adotadas para que o texto seja verossímil e realístico. Coerência são mecanismos que ligam os elementos do texto, desde palavras até parágrafos. e) Coesão é o que garante a eliminação de repetições desnecessárias em um texto e evita que ele seja tautológico. Coerência é a utilização de corretas referências (que podem ser anáforas ou catáforas) entre os elementos de um texto. Mecanismos de coesão e coerência textual16 SUÁREZ, M.; LUZ, E.; QUINTERO, O. Esquemas de progresió n temá tica en textos es- pecializados. In: ISQUIERDO, A. N.; SEABRA, M. C. C. (Ed.). Ciências do Léxico. Campo Grande: Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, 2012. v. 4, p. 397-414.. Leituras recomendadas KOCH, I. V. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1989. KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2012. KOCH, I. V. Ler e escrever: estratégias de produção textual. São Paulo: Contexto, 2011. Referência 17Mecanismos de coesão e coerência textual Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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