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Insuficiência Renal Crônica (IRC) na Criança Definição: é uma síndrome complexa que se caracteriza pela perda lenta, progressiva e irreversível das funções renais. Epidemiologia: na faixa etária pediátrica a incidência varia de acordo com as características raciais e condições socioeconômicas dos países. Há um aumento no número de casos de crianças com patologias renais crônicas, sendo as principais causas: glomerulopatias crônicas e malformações congênitas urinárias. Em lactentes e pré-escolares predominam as malformações do trato urinário (MFTU), com maior frequência dos rins hipoplásicos e displásicos. Na faixa etária dos escolares e adolescentes predominam as glomerulopatias, as uropatias, as sequelas de doenças adquiridas (Síndrome Hemolítica Urêmica) e iniciam-se as causas relacionadas às nefropatias hereditárias. Em 2005, estudo realizado no Estado do Rio de Janeiro encontrou prevalência de doença renal terminal de 24 casos. Estudo mais recente realizado no Estado de São Paulo encontrou resultado muito semelhante (23,4 casos). A incidência e prevalência das doenças renais têm se baseado nos casos de crianças e adolescentes que chegam ao estágio terminal da Doença Renal Crônica (DRC) (estádio 5) e são dependentes de terapêutica de substituição renal, portanto subestimando-se a verdadeira prevalência da DRC na infância, que pode ser de até 50 vezes maior, porém estas informações são fundamentais afim de para prevenir ou reduzir as complicações da DRC e retardar a progressão da IRC. Fisiopatologia: a IRC é resultante da prolongada redução da função renal. A moléstia clínica se desenvolve por retenção de substâncias normalmente excretadas pelos rins e respostas compensatórias à função perdida. Os mecanismos precisos que produzem deterioração funcional progressiva e os fatores que podem ter papéis importantes incluem uma lesão imunológica continuada, hiperfiltração mediada hemodinamicamente nos glomérulos remanescentes, ingestão de dietas hiperprotéicas e hipertensão arterial sistêmica. Quadro Clínico: é uma doença silenciosa, progressiva e irreversível. Os sinais e sintomas são: edema, vômitos freqüentes, infecção urinária de repetição, atraso no desenvolvimento, problemas ósseos, anemias de difícil tratamento e hipertensão arterial podem ter ligação direta com o problema. Também apresentam oligúria ou anúria, e às vezes proteinúria. Redução da massa muscular, da relação peso/estatura e do crescimento tem sido atribuída à desnutrição energético-protéica. A causa da desnutrição é multifatorial e inclui ingestão alimentar insuficiente, hipercatabolismo, alterações endócrinas, presença de anemia e acidose, deficiência de calcitriol, osteodistrofia renal e resistência tecidual à ação do hormônio de crescimento (GH). Alterações do paladar e sabor dos alimentos são comumente observadas na uremia. A osteodistrofia renal compreende condições em que há alterações específicas dos mecanismos de remodelação óssea associado à uremia. Diagnóstico: Consiste em realizar exames laboratoriais (urinário e sérico), analisando creatinina e níveis de uréia sanguíneos e a excreção de proteinúria e depuração de creatinina na urina de 24h e avaliar a história clínica. Diagnóstico posterior faz-se estudo sorológico, exames por imagem do trato urinário e biópsia renal. • Clearance de creatinina (Cl) = Constante x Altura / creatinina sérica Constante: RN = 0,33 Lactentes: 0,45 Crianças maiores: 0,55 Valores: normal – 80 a 100 IR leve – 50 -80 IR moderada – 20 – 50 IR grave < 20 Indicação de diálise < 7 (* na criança + sinais clínicos de uremia e desnutrição com valores menores, progressivo do K+ sérico, sinais neurológicos, acidose grave e uréia > 200mg/dl) UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE Faculdade de Nutrição – Departamento de Nutrição e Dietética. Disciplina: Nutrição Clínica Infantil Professoras: Rosane Rito e Ana Lúcia Pires Augusto; Monitora: Aléxia Abreu Rodrigues Avaliação Nutricional: Avaliações Subjetivas: • Anamnese Alimentar: os métodos mais utilizados são freqüência alimentar, recordatório alimentar de 24h e registro alimentar de três dias consecutivos; • Exame Físico: avaliar as características gerais do corpo, de pele, cabelos, unhas, língua, dentes, cavidade oral, hálito, presença de ascite ou edema, podendo ser complementado com medida da pressão arterial e classificação de maturação sexual. Avaliações Objetivas: • Laboratoriais: hemograma completo, perfil lipídico (colesterol total, triglicerídios, LDL-C, HDL-C, VLDL-C), Concentração séricas de proteínas: albumina, pré-albumina, proteína transportadora de retinol e transferrina. E valores séricos de: ferro, ferritina, cálcio, fósforo, potássio, sódio, uréia e creatinina; • Avaliação antropométrica (segundo OMS 2006 e 2007): recomenda-se elaboração de protocolo criterioso para uso sistemático na obtenção de parâmetros de crescimento, com comprimento e perímetro cefálico (para crianças até 36 meses de idade), peso, estatura, circunferência do braço e dobras cutâneas, preferencialmente do tríceps e subescapular. O peso pode ser significativamente influenciado pela presença de edema, as medidas devem ser coletadas após a sessão de HD/DP. Tratamento: as crianças são submetidas ao tratamento conservador (TC) e dialítico (HD/DP) até a realização do transplante renal. • Tratamento conservador ou pré-dialítico: Energia: valores de recomendação energética da FAO 2004 para a idade, multiplicado pelo fator injúria de acordo com a gravidade da doença e presença ou não de desnutrição (até 2,0); Proteínas: baseada no nível seguro de ingestão protéica (FAO-2007) ou recomendações de RIELLA (NK Foundation, 2000) para crianças, apresentada na tabela abaixo: Idade Energia (kcal/Kg/Dia) Proteína (g/kg/dia) Pré-diálise Hemodiálise Diálise Peritoneal 0 a 6 meses 108 2,2 2,6 2,9 - 3,0 6 meses-1 ano 98 1,6 2,0 2,3 - 2,4 1 a 3 anos 102 1,2 1,6 1,9 - 2,0 4 a 6 anos 90 1,2 1,6 1,9 - 2,0 7 a 10 anos 70 1,0 1,4 1,7 - 1,8 Meninos 11 a 14 55 1,0 1,4 1,7 - 1,8 15 a 18 45 0,9 1,3 1,4 - 1,5 18 a 21 40 0,8 1,2 1,3 Meninas 11 a 14 47 1,0 1,4 1,7 - 1,8 15 a 18 40 0,8 1,2 1,4 - 1,5 18 a 21 38 0,8 1,2 1,3 Carboidratos: normoglicídica (50 a 65% do VET); Lipídeos: normolipídica (25 a 30% do VET); Vitaminas e minerais: de acordo com FAO 2003. Havendo deficiências, pode suplementar vitaminas hidrossolúveis ferro, cálcio, vit. D. • Tratamento na diálise: Energia: valores de recomendação energética da FAO 2004 para idade, multiplicado pelo fator injúria, considerando a gravidade da doença e da desnutrição ou segundo RIELA, sendo considerado o peso sem edema (“peso seco”). Proteínas: baseada no nível seguro de ingestão protéica (FAO-2007) ou recomendações de RIELLA, sendo importante ingerir 60 a 70% de alto valor biológico; Carboidratos: normoglicídica (50 a 65% do VET) Lipídeos: normolipídica (25 a 30% do VET); Vitaminas e minerais: de acordo FAO 2003. Sódio: restrição rigorosa de sódio em edema e hipertensão 1 a 2 mEq/Kg/dia (sem sal de adição ou pela parenteral) – avaliar uso de diuréticos; Potássio: restrição conforme os níveis séricos, uso de diuréticos e tipo de tratamento, restrição 2 mEq/Kg ou menos avaliar uso de quelantes; Cálcio e Vit. D: Controle protéico acaba por restringir a oferta – observar osteodistrofia e suplementações medicamentosas junto à Vit D que deve ser suplementada (0,25 a 1,25 mcg/dia) com PTH de 300 a 400 mcg/ml. Fósforo: Uso de quelantes. Ferro: dietas são restritivas, principalmente em menores de 1 ano - reposição e em uso de eritropoetina. • Em Nutrição Parenteral: Oferta calórica adequada à idade e tipo de tratamento; AA: TC - 1,0 g/Kg/dia. DP - 2,0 g/Kg/dia; Glicose: Taxa de infusão de glicose (TIG) das crianças sem IR, observar lipogênese em DP (absorção de glicose de 7 a 10Kcal/Kg/dia); Lipídeos: 0,5 a 3,0 g/Kg/dia (observar distúrbios típicos das nefropatias, para redução). Questões – Insuficiência Renal Crônica (IRC) na Criança 1) No planejamento de suporte nutricional para uma criança de 8 anos em hemodiálise deve se preconizar: a) Dieta hipoprotéica, hipercalórica e normoglicidica b) Dieta hiperprotéica, normocalórica e hiperglicídica c) Dieta com taxa protéica levemente aumentada em relação ao NSI e energia segundo a FAO 2004 e injúria d) Dieta com taxa protéica de acordo com o NSI e hipocalórica em relação à FAO 2004 2) Qual das alternativas abaixo é uma causa da insuficiência renal crônica em crianças? a) Infecção urinária na criança b) Dieta materna hiperprotéica c) Malformações congênitas urinárias d) Pais com IRC 3) A terapia nutricional de uma criança com IRC, em tratamento conservador inclui: a) Aporte protéico compatível com NSI e atenção com aporte de cálcio e vitamina D b) Aporte protéico aumentado e atenção com o aporte de fibras e selênio c) Aporte protéico de 0,6 gramas/kg e atenção com o aporte de fósforo e fitoesteróis d) Aporte protéico diminuído e atenção com o aporte de cloro e vitamina B1 4) A ingestão recomendada de proteína e energia para uma criança de 1 ano e 4 meses com insuficiência renal crônica em tratamento conservador é, respectivamente: a) 1,2 g/kg/dia – 102 kcal/kg/dia b) 1,6 g/kg/dia – 98 kcal/kg/dia c) 1,6 g/kg/dia – 102 kcal/kg/dia d) 1,0 g/kg/dia – 108 kcal/kg/dia 5) Em relação a crianças em diálise peritoneal e em uso de nutrição parenteral, é verdadeiro: a) A proteólise é favorecida pela absorção de glicose neste tipo de diálise b) A lipólise irá acontecer com TIG abaixo de 6 mg/kg/minuto c) A lipogênese é favorecida pela alta absorção de glicose neste tipo de diálise d) A proteólise irá acontecer com TIG abaixo de 6 mg/kg/min UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE Faculdade de Nutrição – Departamento de Nutrição e Dietética. Disciplina: Nutrição Clínica Infantil Professoras: Rosane Rito e Ana Lúcia Pires Augusto; Monitora : Aléxia Abreu Rodrigues Síndrome Nefrótica na Infância Definição: compreende um grupo heterogêneo de doenças que derivam da perda da barreira glomerular para proteínas. A maioria das crianças nefróticas tem de um a seis anos de idade e apresenta padrão histológico renal de lesões glomerulares mínimas, além de remissão da proteinúria pelo tratamento com corticosteróide. É responsável por graves distúrbios metabólicos que afetam o desenvolvimento e o crescimento da criança, podendo levar a insuficiência renal. Em crianças frequentemente aparece após infecção pelo streptococcus beta-hemolítico. Epidemiologia: a incidência anual da síndrome nefrótica (SN) é estimada em 2 a 7 novos casos por 100.00 crianças e a prevalência é de 16 casos por 100.000 crianças. O pico de apresentação da SN é aos 2 anos de idade e 70 a 80% dos casos ocorrem em crianças com menos de 6 anos. Quadro Clínico: a SN pode ser primária que é idiopática ou associada a defeitos genéticos em proteínas da barreira de filtração glomerular e pode ser secundária a diversas doenças sistêmicas, como doenças de depósitos (amiloidose). As grandes perdas de proteína na urina levam a hipoalbuminemia, com conseqüente edema, hipercolesterolemia, hipercoagulabilidade e metabolismo ósseo anormal. Apresenta urina espumosa, amarela e densa. Diagnóstico: São realizados os seguintes exames: proteinúria de 24h, dosagem de colesterol total e frações, albumina sérica, uréia e creatinina, sódio, potássio e cálcio, lipídios. E para que se possa estabelecer a etiologia da SN, outros exames podem ser necessários, exames de função renal, exame de fundo de olho, dosagem de complemento sérico, biópsia renal, sorologias para hepatites B, C e HIV; crioglobulinas séricas, ultrassonografia renal, ecodoplercardiograma. Avaliação Nutricional: não existe um único método que seja eficaz e preciso. Os mesmos métodos adotados para crianças sadias podem ser utilizados, porém sempre considerando as conseqüências da doença, que podem alterar as correlações entre medidas antropométricas. Tratamento: São utilizados prednisona, diuréticos e infusão endovenosa de albumina. Tratamento Dietético: • Energia: de acordo com a recomendação da FAO/OMS 2004, levando em consideração a situação clínica e nutricional de cada criança para utilização de fator injuria multiplicado pelo método da FAO; • Proteínas: baseada no nível seguro de ingestão protéica (FAO-2007), sendo importante ingerir 60 a 70% de alto valor biológico; • Carboidrato: normoglicídica, com 50 – 60% do VET, dando preferência a carboidratos complexos; • Lipídios: normolipídica (25 – 30% do VET), sendo 7% de gorduras saturadas, gordura poliinsaturada até 10% e monoinsaturada até 20%, sendo colesterol dietético não mais do que 200mg/dia; • Vitaminas e minerais: de acordo com FAO 2003, no entanto o sódio deve ser restringido. Cálcio e Vit. D deverão ser ajustados conforme a observação de osteodistrofia renal. UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE Faculdade de Nutrição – Departamento de Nutrição e Dietética. Disciplina: Nutrição Clínica Infantil Professoras: Rosane Rito e Ana Lúcia Pires Augusto; Monitora: Aléxia Abreu Rodrigues Questões – Síndrome Nefrótica Infantil 1) Em crianças, o principal fator desencadeante da síndrome nefrótica é: a) infecção por streptococcus beta-hemolítico b) diabetes não insulino-dependente c) desmame precoce d) dieta hiperpotéica 2) O quadro clínico da síndrome nefrótica em crianças tem como principal conseqüência nutricional: a) hipovitaminose D e hipertireodismo secundário b) a desnutrição protéica e o hipodesenvolvimento c) diminuição da reserva adiposa e aumento da massa óssea d) obesidade e síndrome metabólica 3) As principais consequências da hipoalbuminemia na síndrome nefrótica são: a) sobrepeso, com IMC acima de +3 e dislipidemia b) taquicardia, taquipnéia e disúria c) hiperglicemia, síndrome metabólica e hiperuricemia d) edema, hipercolesterolemia e metabolismo ósseo anormal 4) A principal dificuldade do tratamento dietético para crianças com síndrome nefrótica consiste: a) na aceitação de dietas ricas em fibras b) na restrição lipídica c) na aceitação das dietas hipossódicas d) no planejamento de dietas ricas em cálcio 5) Em linhas gerais o tratamento dietético da criança com síndrome nefrótica consiste em: a) energia baseada na FAO 2004, proteínas no NSI, hipocolesterolêmica e hipossódica b) energia baseada na FAO 85 com a injúria, proteínas aumentadas, hipocolesterolêmica e normossódica c) energia diminuída segundo a FAO 2004, proteínas aumentadas, hipocolesterolêmica e hipossódica d) energia baseada na FAO 2004, proteínas aumentadas, hipocolesterolêmica e normossódica UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE Faculdade de Nutrição – Departamento de Nutrição e Dietética. Disciplina: Nutrição Clínica Infantil Professoras: Rosane Rito e Ana Lúcia Pires Augusto; Monitora: Aléxia Abreu Rodrigues
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