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Crescimento e controle microbiano C A P Í T U L O 5 I Divisão celular bacteriana 144 II Crescimento populacional 149 III Mensurando o crescimento microbiano 154 IV Efeito da temperatura no crescimento microbiano 158 V Outros efeitos ambientais no crescimento microbiano 165 VI Controle do crescimento microbiano 171 microbiologiahoje As primeiras células na Terra possuíam parede celular? Há diversas formas diferentes de células no mundo bacteriano: bacilos, cocos, espiras e muito mais. Qual era a forma das primeiras células? A parede celular contendo peptideoglicano é a marca de células de bactérias, uma vez que define a morfologia da célula e impede a sua lise osmótica. Mas será que as primeiras células na Terra tinham paredes celulares? A bactéria em forma de bastonete, Bacillus subtilis, tem sido utilizada como um modelo para o estudo da forma celular bacteriana, crescimento e morfogênese. As células de B. subtilis são relativamente grandes e de fácil visualização por microscopia de fluorescência (fotografias superiores, esquerda para a direita: marcação de DNA, proteína verde fluorescente e marcação de membrana). Além disso, a genética dessa bactéria é bem compreendida, permitindo aos pesquisadores a geração de vários mutantes. Linhagens mutantes de B. subtilis que não possuem parede celular, denominadas formas L (do inglês, lack [ausente]), podem ser geradas e cultivadas em meios de cultura osmoticamente protegidos. Notavelmente, a conversão do tipo selvagem para a forma L requer apenas duas mutações 1 . Formas L não crescem pelo processo de fissão binária usual de bactérias em forma de bastonete, mas pela liberação de pequenas vesículas que aumentam lentamente e, por vezes, geram suas próprias vesículas (fotografia inferior). Tudo isso acontece independentemente das principais proteínas relacionadas à divisão celular e do citoesqueleto das células bacterianas, FtsZ e MreB. As primeiras células da Terra quase certamente não se pareciam com as morfologicamente diversas bactérias e arqueias que conhecemos hoje, mas sim com as formas L de B. subtilis mostradas aqui. A ausência de parede celular teria permitido que as células iniciais se fundissem e facilmente trocassem genes. Com o surgimento de uma parede celular de peptideoglicano, uma barreira para maior troca genética teria sido estabelecida, mas a parede teria permitido às células explorar hábitats osmoticamente desprotegidos e evoluir diversas formas celulares, mais adequadas à exploração dos recursos nesses hábitats. 1 Errington, J. 2013. L-form bacteria, cell walls and the origins of life. Open Biology 3:120143. 1 4 4 U N I D A D E 1 • A S B A S E S D A M I C R O B I O L O G I A I ∙ Divisão celular bacteriana Nos capítulos anteriores, discutimos a estrutura e função celulares (Capítulo 2) e os princípios da nutrição e meta- bolismo microbianos (Capítulo 3). No Capítulo 4, aprendemos os importantes processos moleculares que codificam as estru- turas e os processos metabólicos das células. Agora, iremos considerar como tudo isso se une para permitir a geração de novas células durante o crescimento microbiano. O crescimento é o resultado da divisão celular e é o pro- cesso final na vida de uma célula microbiana. O conhecimento do crescimento bacteriano nos deu uma nova visão sobre a di- visão celular em organismos superiores e é útil para a criação de métodos de controle do crescimento microbiano. 5.1 Fissão binária Em microbiologia, o crescimento é definido como um au- mento no número de células. As células microbianas possuem tempo de vida limitado, e uma espécie é mantida apenas como resultado do crescimento contínuo de sua população. À medida que as macromoléculas acumulam-se no citoplas- ma de uma célula, elas são agrupadas em importantes estru- turas, como parede celular, membrana citoplasmática, flage- los, ribossomos, complexos enzimáticos e assim por diante, eventualmente levando à divisão celular. Em uma cultura em crescimento de uma bactéria em forma de bastonete, como Escherichia coli, as células alongam-se até aproximadamente duas vezes o seu tamanho original e, então, formam uma par- tição que divide a célula em duas células-filhas (Figura 5.1). Esse processo é chamado de fissão binária (“binário” expressa o fato de duas células originarem-se a partir de uma). Essa parti- ção é chamada de septo e resulta de uma invaginação da mem- brana citoplasmática e da parede celular de direções opostas; a formação do septo continua até a individualização das duas células-filhas. Há algumas variações no padrão geral da fissão binária. Em algumas bactérias, como Bacillus subtilis, o septo forma-se sem a constrição da parede celular, ao passo que no brotamento de Caulobacter a constrição ocorre, mas nenhum septo é formado. Entretanto, em todos os casos, quando uma célula eventualmente separa-se para formar duas células, dize- mos que ocorreu uma geração, e o tempo requerido para esse processo é chamado de tempo de geração (Figura 5.1 e ver Figura 5.10). Durante uma geração, todos os constituintes celulares au- mentam proporcionalmente e as células estão em um cresci- mento balanceado. Cada célula-filha recebe um cromossomo e cópias suficientes de ribossomos e todos os outros complexos macromoleculares, monômeros e íons inorgânicos para exis- tir como uma célula independente. A partição da molécula de DNA replicada entre as duas células-filhas depende de o an- coramento do DNA à membrana citoplasmática ser mantido durante a divisão, com a constrição levando à separação dos cromossomos, um para cada célula-filha (ver Figura 5.3). O tempo de geração em uma dada espécie de bactéria é altamente variável, sendo dependente de fatores nutricionais e genéticos e da temperatura. Sob as melhores condições nu- tricionais, o tempo de geração de uma cultura laboratorial de E. coli é de cerca de 20 minutos. Poucas bactérias podem cres- cer mais rápido, com o detentor do recorde tendo 6 minutos de tempo de geração. Muitas bactérias crescem de forma mais lenta, com tempos de geração de horas ou dias sendo mais comuns. Na natureza, as células microbianas provavelmente crescem bem mais lentamente que suas velocidades máximas observadas em laboratório. Isso acontece uma vez que as con- dições e os recursos necessários para seu crescimento ótimo em laboratório podem não estar presentes no hábitat natural e, diferente do crescimento de culturas puras, os microrganis- mos na natureza vivem com outras espécies em comunidades microbianas e, assim, podem competir com seus vizinhos por recursos e espaço. • Resuma as etapas que levam à fissão binária em uma bactéria como Escherichia coli. • Defina o termo geração. Qual o significado do termo tempo de geração? MINIQUESTIONÁRIO 5.2 Proteínas Fts e divisão celular Uma série de proteínas presentes em todas as bactérias é es- sencial para a divisão celular. Essas proteínas são chamadas de proteínas Fts, e uma proteína-chave, FtsZ, desempenha um papel crucial no processo de fissão binária. FtsZ é relacionada à tubulina, a importante proteína da divisão celular em euca- riotos ( Seção 2.22), e é também encontrada na maioria das arqueias, mas não em todas. Outras proteínas Fts são encon- tradas apenas em bactérias e não em arqueias, portanto a dis- cussão aqui será restrita a bactérias. A bactéria gram-negativa Escherichia coli e a gram-positiva Bacillus subtilis têm sido as espécies-modelo bacterianas para o estudo dos eventos de di- visão celular. O divissomo As proteínas Fts interagem na célula para formar um aparato de divisão chamado de divissomo. Em células bacilares, a for- mação do divisomo inicia-se com a ligação de moléculas de FtsZ em um anel precisamente ao redor do centro da célula; Septo U m a g e ra ç ã o Elongação celular Formação do septo Finalização do septo; formação de paredes; separação das células Figura 5.1 Fissão bináriaem um procarioto bacilar. O número de células duplica-se a cada geração. C A P Í T U L O 5 • C R E S C I M E N T O E C O N T R O L E M I C R O B I A N O 1 4 5 U N ID A D E 1 esse anel será o plano de divisão da célula. Em uma célula de E. coli, cerca de 10 mil moléculas de FtsZ polimerizam-se para formar o anel, que atrai outras proteínas do divisomo, incluin- do FtsA e ZipA (Figura 5.2). ZipA é uma âncora que conecta o anel FtsZ à membrana citoplasmática, promovendo sua estabi- lização. FtsA, uma proteína relacionada à actina, uma impor- tante proteína citoesquelética em eucariotos ( Seção 2.22), também auxilia na conexão do anel FtsZ à membrana cito- plasmática e apresenta um papel adicional no recrutamento de outras proteínas do divisomo. O divisomo forma-se após três quartos do ciclo de divisão celular terem transcorrido. No entanto, antes da formação do divisomo, a célula já está em processo de elongação e o DNA encontra-se em replicação (ver Figura 5.3). O divissomo também contém proteínas Fts necessárias à síntese de peptideoglicano, como FtsI (Figura 5.2). FtsI é uma das várias proteínas de ligação à penicilina presentes na célu- la. As proteínas de ligação à penicilina recebem essa denomi- nação pelo fato de sua atividade ser bloqueada pela penicilina (Seção 5.4). O divissomo coordena a síntese do novo material da membrana citoplasmática e da parede celular, denominado septo de divisão, no centro de uma célula bacilar, até que ela atinja o dobro de seu comprimento original. Após esse proces- so, a célula elongada divide-se, originando duas células-filhas (Figura 5.1). Replicação de DNA, proteínas Min e divisão celular O DNA é replicado antes da formação do anel FtsZ (Figura 5.3), pois o anel é formado no espaço entre os nucleoides duplica- dos; antes da segregação dos nucleoides, eles bloqueiam efeti- vamente a formação do anel FtsZ. As proteínas MinC, MinD e MinE interagem para guiar FtsZ à porção central da célula. MinD forma uma estrutura em espiral na superf ície interna da membrana citoplasmática e auxilia o posicionamento de MinC na membrana citoplasmática. A espiral MinD oscila para a frente e para trás ao longo do eixo da célula em crescimento, e atua inibindo a divisão celular, uma vez que evita a formação do anel FtsZ (Figura 5.3). Simultaneamente, no entanto, MinE também oscila de um polo ao outro e, à medida que o faz, des- loca MinC e MinD. Portanto, devido ao fato de MinC e MinD permanecerem por mais tempo nos polos que em quaisquer outras regiões da célula durante sua oscilação, geralmente o centro da célula exibe a menor concentração dessas proteínas. Como resultado, o centro celular torna-se o local mais permis- sivo para a ligação de FtsZ e, portanto, o anel FtsZ forma-se nesse local. Por meio dessa série de eventos pouco usuais, as proteínas Min garantem a formação do divisomo somente no centro celular, e não nos polos da célula (Figura 5.3). À medida que a elongação celular prossegue e a forma- ção do septo é iniciada, as duas cópias dos cromossomos ATP (b) T. den Blaauwen & Nanne Nanninga, Univ. of Amsterdam Anel FtsZ Anel FtsZ ZipA Membrana externa Peptideoglicano Membrana citoplasmática FtsA GTP ADP + Pi GDP + Pi FtsI FtsK Membrana citoplasmática Complexo do divisomo (a) Figura 5.2 O anel FtsZ e a divisão celular. (a) Visão em corte de uma célula em forma de bacilo, apresentando o anel de moléculas de FtsZ ao redor do plano de divisão. A ampliação apresenta o arranjo das proteínas individuais do divisomo. ZipA corresponde a uma âncora para FtsZ; FtsI é uma proteína de biossíntese de peptideoglicano; FtsK auxilia na separação dos cromossomos; e FtsA é uma ATPase. (b) Surgimento e desaparecimento do anel FtsZ durante o ciclo celular de Escherichia coli. Microscopia: linha superior, contraste de fase; linha inferior, células coradas com um reagente específico para FtsZ. Eventos da divisão celular: primeira coluna, o anel FtsZ ainda não está formado; segun- da coluna, aparecimento do anel FtsZ quando os nucleoides começam a ser segregados; terceira coluna, formação completa do anel FtsZ, à medida que a célula sofre elongação; quarta coluna, desaparecimento do anel FtsZ e divisão celular. Barra na fotografia superior à esquerda, 1 mm. Parede celular MinCD Complexo do divissomo Anel FtsZ Nucleoide 80 60 40 20 0 Minutos Membrana citoplasmática Nucleoide MinE MinE Septo Figura 5.3 Eventos da replicação de DNA e divisão celular. A proteína MinE direciona a formação do anel FtsZ e do complexo do divisomo no plano de divisão celular. É apresentado um esquema de células de Escherichia coli crescendo com um tempo de geração de 80 minutos. MinC e MinD são mais abundantes nos polos da célula. 1 4 6 U N I D A D E 1 • A S B A S E S D A M I C R O B I O L O G I A são separadas, encaminhando-se para cada uma das células- -filhas (Figura 5.3). FtsK, uma proteína Fts, e várias outras proteínas auxiliam nesse processo. Simultaneamente à cons- trição celular, o anel FtsZ começa a sofrer despolimerização, promovendo a invaginação dos componentes da parede para formar o septo e separar as duas células-filhas. A atividade enzimática de Ftsz também hidrolisa guanosina trifosfato (GTP, um componente rico em energia) para gerar a energia necessária à polimerização e despolimerização do anel FtsZ (Figuras 5.2 e 5.3). Há um grande interesse prático no entendimento dos detalhes da divisão celular bacteriana, pois esse conheci- mento poderia proporcionar o desenvolvimento de novos medicamentos que tenham como alvo etapas específicas do crescimento de bactérias patogênicas. Da mesma forma que a penicilina (um fármaco que tem como alvo a síntese da pa- rede celular bacteriana), medicamentos que interfiram com a função de proteínas Fts específicas ou de outras proteínas bacterianas relacionadas à divisão celular poderiam apresentar ampla aplicação na medicina clínica. Replicação do genoma em células de crescimento rápido Conforme aprendemos no Capítulo 4, a natureza circular do cromossomo de Escherichia coli e da maioria dos procariotos gera uma oportunidade para acelerar a replicação do DNA. Isso se deve ao fato de a replicação de genomas circulares ser bidirecional a partir da origem de replicação. Durante a replicação bidirecional, a síntese ocorre tanto na forma con- tínua quanto descontínua em cada fita-molde, permitindo que o DNA seja replicado tão rapidamente quanto possível ( Figura 4.17). Estudos da replicação cromossômica em E. coli têm mostrado que 40 minutos é o tempo mínimo re- querido para a replicação do genoma e que isso independe do tempo de geração (Figura 5.4). Entretanto, isso cria um enigma em culturas de E. coli que crescem rapidamente, um organis- mo que pode se dividir a cada 20 minutos sob condições óti- mas. Sob taxas de crescimento tão rápidas, como a replicação do genoma é coordenada com a da própria célula? A solução para este problema é que células de E. coli crescendo sob tempos de duplicação menores que 40 minu- tos apresentam múltiplas forquilhas de replicação de DNA. Ou seja, uma nova rodada de replicação do DNA começa an- tes que a última rodada tenha sido completada (Figura 5.4), e, além disso, alguns genes estão presentes em mais de uma có- pia. Isso assegura que sob tempos de geração mais curtos que o tempo requerido para a replicação do genoma (um processo que ocorre a uma velocidade máxima constante), cada célula- -filha receba uma cópia completa do genoma no momento da formação do septo. Cromossomo Cromossomo Forquilha única de replicação Múltiplas forquilhas de replicação Tempo (min) 0 20 40 60 Tempo (min) 0 20 40 60 Tempo de geração, 1 h; tempo de replicação, 40 min.(a) Tempo de geração, 20 min; tempo de replicação, 40 min.(b) Figura 5.4 Replicação do genoma em células de Escherichia coli crescendo em tempos de geração de 60 ou 20 minutos. Em células se du- plicando a cada 20 minutos, múltiplas forquilhasde replicação são necessárias para assegurar que cada célula-filha receba uma cópia completa do genoma, que leva 40 minutos para replicar. C A P Í T U L O 5 • C R E S C I M E N T O E C O N T R O L E M I C R O B I A N O 1 4 7 U N ID A D E 1 • O que é o divisomo? • Como FtsZ encontra a porção central em uma célula bacilar? • Explique como o tempo de geração mínimo para a bactéria Escherichia coli pode ser menor que o tempo necessário para replicar seu cromossomo. MINIQUESTIONÁRIO 5.3 MreB e morfologia celular Da mesma forma que existem proteínas específicas que con- duzem a divisão celular em procariotos, há proteínas espe- cíficas que definem a forma da célula. Curiosamente, essas proteínas determinantes da forma exibem homologia signifi- cativa com proteínas essenciais do citoesqueleto de células eu- carióticas. Assim como os eucariotos, os procariotos também apresentam um citoesqueleto que é dinâmico e multifacetado. Morfologia celular e MreB O principal fator na determinação da morfologia em bactérias é uma proteína denominada MreB. MreB forma um citoes- queleto simples em células de bactérias e em algumas poucas espécies de arqueias. MreB forma uma hélice de filamentos, localizada internamente à célula, imediatamente abaixo da membrana citoplasmática (Figura 5.5). Provavelmente, o cito- esqueleto de MreB define a forma celular ao recrutar outras proteínas que coordenam o crescimento da parede celular em um padrão específico. A inativação do gene que codifica MreB em células de bactérias com morfologia bacilar torna as célu- las cocoides. Além disso, a maioria das bactérias naturalmente em forma de coco são desprovidas do gene que codifica MreB, sendo, portanto, incapazes de produzir MreB. Isso sugere que a forma “padrão” de uma bactéria é mais semelhante a uma esfe- ra. Variações no arranjo dos filamentos de MreB em células de bactérias não esféricas provavelmente são responsáveis pelas morfologias comuns de células procarióticas ( Figura 2.11). Como MreB determina a forma celular? As estruturas helicoidais formadas pelo MreB (Figura 5.5a) não são estáti- cas, entretanto, podem sofrer rotações dentro do citoplasma de uma célula em crescimento. Os peptideoglicanos recém- -sintetizados (Seção 5.4) se associam com as hélices de MreB em pontos onde elas contatam a membrana citoplasmática (Figura 5.5a). Imagina-se que MreB direcione a síntese de uma nova parede celular para locais específicos ao longo do eixo de uma célula bacilar durante o crescimento. Isso per- mite que a nova parede celular se forme em diversos pontos ao longo da célula, em vez de se formar a partir de um único ponto, no local exterior à FtsZ, como em bactérias esféri- cas (ver Figura 5.3). Ao girar dentro do cilindro celular, ini- ciando a síntese de parede celular no ponto onde contata a membrana citoplasmática, MreB direciona a síntese da nova parede, de maneira que uma célula em forma de bacilo só cresce ao longo de seu eixo mais comprido. Crescentina Caulobacter crescentus, uma espécie de Proteobacteria em forma de vibrião ( Seção 7.12 e 14.21), sintetiza uma pro- teína determinante da morfologia denominada crescentina, além da MreB. As cópias da proteína crescentina organizam- -se em filamentos com cerca de 10 nm de largura, localizados na face côncava da célula curva. Acredita-se que o arranjo e a localização dos filamentos de crescentina sejam responsáveis pela morfologia curva característica da célula de C. crescentus (Figura 5.5c). Caulobacter é uma bactéria aquática que apre- senta um ciclo de vida em que as células natatórias, denomina- das expansivas, eventualmente formam uma haste, ligando-se às superf ícies. As células ligadas, então, sofrem divisão celular, formando novas células expansivas que são liberadas para co- lonizar novos hábitats. As etapas do ciclo de vida são altamen- te coordenadas em nível genético, e Caulobacter foi utilizado como um sistema-modelo para o estudo da expressão gênica na diferenciação celular ( Seção 7.12). Embora a crescentina pareça ser exclusiva de Caulobacter, proteínas similares têm Parede celular FtsZ Membrana citoplasmática Locais de síntese da parede celular MreB A le x Fo rm st on e C hr is tin e Ja co b s- W ag ne r (a) (c) (b) Figura 5.5 MreB e crescentina como determinantes da morfologia celular. (a) A proteína MreB do citoesqueleto é análoga à actina e enrola-se como uma espiral ao longo do eixo maior de uma célula bacilar, estabelecendo contato com a membrana citoplasmática em vários locais (círculos vermelhos tracejados). Eles correspondem a locais de síntese da nova parede celular. (b) Fotomicrografia das mesmas células de Bacillus subtilis. À esquerda, con- traste de fase; à direita, fluorescência. As células contêm uma substância que torna a proteína MreB fluorescente, aqui ilustrada em branco-brilhante. (c) Cé- lulas de Caulobacter crescentus, uma célula naturalmente curva (em forma de vibrião). As células foram coradas a fim de exibir a crescentina (vermelho), uma proteína determinante da forma, a qual se encontra ao longo da superfície côn- cava da célula, e com DAPI, que cora o DNA e, assim, a célula toda de azul. 1 4 8 U N I D A D E 1 • A S B A S E S D A M I C R O B I O L O G I A sido observadas em outras células de morfologia helicoidal, como Helicobacter, uma bactéria patogênica. Esse fato sugere que essas proteínas podem ser necessárias à formação de cé- lulas curvas. Evolução da divisão e da forma celulares Como os determinantes da divisão e da forma celulares em bactérias comparam-se àqueles de eucariotos? Curiosamen- te, a proteína MreB é estruturalmente relacionada à proteína eucariótica actina, e FtsZ é relacionada à proteína eucariótica tubulina. A actina organiza-se em estruturas denominadas microfilamentos, que atuam como arcabouço no citoesqueleto da célula eucariótica e na divisão celular, ao passo que a tubu- lina forma microtúbulos, que são importantes na mitose e ou- tros processos ( Seção 2.22). Além disso, a proteína deter- minante da forma crescentina em Caulobacter é relacionada às proteínas queratina que constituem os filamentos interme- diários em células eucarióticas. Os filamentos intermediários são também componentes do citoesqueleto eucariótico, e genes codificando proteínas similares foram encontrados em algumas outras bactérias. Aparentemente, várias proteínas que controlam a divisão e morfologia de células eucarióticas possuem raízes evolutivas em células procarióticas. Entretan- to, com exceção de FtsZ, genes codificando homólogos dessas proteínas parecem estar ausentes na maioria das arqueias. • Como o MreB controla a forma de uma bactéria em forma de bacilo? • Que proteína é responsável pelo controle da morfologia das células de Caulobacter? • Qual relação existe entre as proteínas do citoesqueleto de bactérias e eucariotos? MINIQUESTIONÁRIO 5.4 Biossíntese de peptideoglicano Em células de todas as espécies de bactérias que contêm pep- tideoglicano, e a maioria delas contém, o peptideoglicano pre- existente deve ser cortado temporariamente para permitir que o peptideoglicano recém-sintetizado seja inserido durante o processo de crescimento. Em cocos, o material da nova pare- de celular cresce em direções opostas, a partir do anel FtsZ (Figura 5.6), enquanto em células em forma de bacilo, a nova parede celular cresce a partir de várias localizações ao longo do comprimento da célula (Figura 5.5a). Em ambos os casos, como o novo peptideoglicano é produzido e como ele chega ao exterior da membrana citoplasmática, onde se encontra a camada de peptideoglicano? Biossíntese de peptideoglicano O peptideoglicano pode ser considerado como um tecido resis- tente ao estresse, semelhante a uma camada fina de borracha. A síntese do novo peptideoglicano durante o crescimento en- volve a clivagem controlada do peptideoglicano preexistente, com a inserção simultânea dos precursores de peptideoglicano.Uma molécula lipídica carreadora, denominada bactoprenol, desempenha um importante papel na parte final desse pro- cesso. O bactoprenol é um álcool C55 hidrofóbico que se liga ao precursor de peptideoglicano, composto por N-acetilgli- cosamina/ácido N-acetilmurâmico/pentapeptídeo (Figura 5.7). O bactoprenol transporta os precursores do peptideoglicano através da membrana citoplasmática, tornando-os suficiente- mente hidrofóbicos para atravessarem o interior da membrana. Uma vez no periplasma, o bactoprenol interage com enzi- mas denominadas transglicolases, que inserem os precursores no ponto de crescimento da parede celular e catalisam a forma- ção da ligação glicosídica (Figura 5.8). Previamente, as pequenas aberturas existentes no peptideoglicano são feitas por enzimas denominadas autolisinas, as quais têm a função de hidroli- sar as ligações que conectam a N-acetilglicosamina e o ácido N-acetilmurâmico no esqueleto do peptideoglicano. O novo material da parede celular é, então, adicionado por meio dessas aberturas (Figura 5.8a). A junção entre as formas novas e velhas do peptideoglicano forma uma saliência na superf ície celular de bactérias gram-positivas, que podem ser observadas como uma faixa de parede (Figura 5.6b). É essencial que a síntese do peptideoglicano seja um processo altamente coordenado. No- vas unidades do tetrapeptídeo devem ser alocadas no peptideo- glicano existente imediatamente após a atividade da autolisina, a fim de evitar uma ruptura na integridade do peptideoglicano no ponto de junção; uma quebra poderia causar a lise celular espontânea, chamada de autólise. Septo A . U m ed a e K . A m ak o Anel FtsZ Zona de crescimento (b) (a) Faixas da parede Figura 5.6 Síntese da parede celular em bactéria gram-positiva. (a) Localização da síntese da parede celular durante a divisão celular. Em co- cos, a síntese da parede (ilustrada em verde) localiza-se em um único ponto (comparar com a Figura 5.5a). (b) Micrografia eletrônica de varredura de cé- lulas de Streptococcus hemolyticus, apresentando as faixas na parede (setas). Cada célula apresenta cerca de 1 mm de diâmetro. H3C C CH3 CHCH2(CH2C CHCH2)9CH2C CH3 CH3 CHCH2 O P O–O O P O–O OG M Porção hidrofóbica Precursor do peptideoglicano Figura 5.7 Bactoprenol (undecaprenol-difosfato). Essa molécula alta- mente hidrofóbica carreia os precursores do peptideoglicano da parede celular através da membrana citoplasmática. C A P Í T U L O 5 • C R E S C I M E N T O E C O N T R O L E M I C R O B I A N O 1 4 9 U N ID A D E 1 Transpeptidação A etapa final na síntese da parede celular consiste na trans- peptidação. A transpeptidação forma as ligações peptídicas cruzadas entre os resíduos de ácido murâmico em cadeias adjacentes de glicano ( Seção 2.10 e Figuras 2.25 e 2.26). Em bactérias gram-negativas, como Escherichia coli, as liga- ções cruzadas são formadas entre o ácido diaminopimélico (DAP) de um peptídeo e a d-alanina do peptídeo adjacente. Apesar de serem encontrados dois resíduos de d-alanina na extremidade do precursor de peptideoglicano, apenas um per- manece na molécula final, enquanto o outro é removido du- rante a transpeptidação (Figura 5.8b). Essa reação é exergônica (libera energia, Seção 3.4) e fornece a energia necessária para que a reação ocorra. Em E. coli, a proteína FtsI (Figura 5.2a) funciona como uma traspeptidase. A transpeptidação apresenta importância médica, uma vez que corresponde à reação inibida pelo antibiótico peni- cilina. Várias proteínas de ligação à penicilina foram iden- tificadas em bactérias, incluindo FtsI, citada anteriormente (Figura 5.2a). Quando a penicilina se liga às proteínas de liga- ção à penicilina, essas proteínas são inativadas. Na ausência da transpeptidação em uma célula em crescimento, a ação contí- nua de autolisinas (Figura 5.8) enfraquece o peptideoglicano, de forma que a célula eventualmente se rompe. • O que são autolisinas e por que são necessárias? • Qual a função do bactoprenol? • O que se entende por transpeptidação e por que ela é importante? MINIQUESTIONÁRIO II ∙ Crescimento populacional Relembre que o crescimento é definido como um aumento no número de células em uma população. Assim, prosse- guiremos considerando os eventos de crescimento e divisão em uma célula individual para compreender a dinâmica do crescimento em populações bacterianas. 5.5 Aspectos quantitativos do crescimento microbiano Durante a divisão celular, uma célula transforma-se em duas. Durante o tempo necessário para que esse processo ocor- ra (tempo de geração), o número total de células e a massa duplicam-se (Figura 5.1). Conforme veremos, o número de células em uma cultura bacteriana em crescimento pode ra- pidamente tornar-se muito elevado, portanto daremos enfo- que à maneira de lidar com esses grandes números em uma forma quantitativa. Plotando dados de crescimento Um experimento de crescimento iniciado com uma única célula, com tempo de geração de 30 minutos, é apresentado na Figura 5.9. Este padrão de aumento populacional, em que o número de células é duplicado a um intervalo de tempo cons- tante, é denominado crescimento exponencial. Em um expe- rimento desse tipo, quando o número de células é plotado em um gráfico de coordenadas aritméticas (lineares) em função do tempo, obtém-se uma curva de inclinação constantemente crescente (Figura 5.9b). Em contrapartida, quando o número de células é plotado em uma escala logarítmica (log10) em fun- ção do tempo (um gráfico semilogarítmico), conforme ilustra- do na Figura 5.9b, obtém-se uma linha reta. Essa função linear reflete o fato de que as células estão crescendo exponencial- mente e a população está se duplicando em um intervalo de tempo constante. P P G G G G G G G G M M M MM M M M M M M M M G G G G G G G G M G M G M G M Bactoprenol Pentapeptídeo (a) Membrana citoplasmática Peptideoglicano Exterior Interior L-Ala L-AlaD-Glu D-Glu L-AlaD-Glu D-Ala D-Ala D-Ala DAP DAP D-Ala L-Ala D-AlaD-Glu DAP DAP (b) P Ponto de crescimento da parede celular Atividade da autolisina Atividade da transglicolase P P P Transpeptidação Figura 5.8 Síntese de peptideoglicano. (a) Transporte dos precursores de peptideoglicano através da membrana citoplasmática para o ponto de cres- cimento da parede celular. A autolisina cliva as ligações glicosídicas no peptide- oglicano preexistente, enquanto a glicolase as sintetiza, ligando o peptideoglica- no antigo ao novo. (b) A reação de transpeptidação, que forma a ligação cruzada final entre duas cadeias de peptideoglicano. A penicilina inibe essa reação. 1 5 0 U N I D A D E 1 • A S B A S E S D A M I C R O B I O L O G I A Gráficos semilogarítmicos também são convenientes para estimar os tempos de geração de uma cultura a partir de um conjunto de dados de crescimento, uma vez que o tempo de geração pode ser consultado diretamente a partir do gráfico, conforme apresentado na Figura 5.10. Por exemplo, quando dois pontos na curva que representa duplicação de uma célula no eixo Y são selecionados e linhas verticais são desenhadas a partir deles até interceptar o eixo X, o intervalo de tempo mensurado no eixo X é o tempo de geração (Figura 5.10b). A matemática e as expressões do crescimento O aumento no número de células de uma cultura bacteria- na em crescimento exponencial pode ser expresso com ma- temática simples baseada em uma progressão geométrica de quociente 2. Quando uma célula se divide, originando duas células, expressamos esse processo como 20 S 21. Quando duas células originam quatro, esse processo é expresso como 21 S 22, e assim por diante (Figura 5.9a). Há uma relação fixa entre o número de células inicialmente presentes em uma cul- tura e o número presente após um período de crescimento ex- ponencial; essa relação pode ser expressa como N 5 N02 n em que N corresponde ao número final de células, N0 repre- senta o número inicial decélulas e n é o número de gerações formadas durante o período de crescimento exponencial. O tempo de geração (g) da população em crescimento expo- nencial corresponde a t/n, em que t refere-se à duração do crescimento exponencial, sendo expresso em dias, horas ou minutos. A partir do conhecimento dos números inicial e final de células em uma população em crescimento exponencial, é possível calcular n e, a partir de n e do conhecimento de t, o tempo de geração, g. A equação N 5 N02 n pode ser expressa em termos de n, tomando os logaritmos de ambos os lados, como a seguir: Usando esta última expressão, é possível calcular os tempos de geração em termos de quantidades mensuráveis, N e N0. Para exemplificar, considere os dados reais de cresci- mento do gráfico ilustrado na Figura 5.10b, no qual N 5 108, N0 5 5 3 10 7 e t 5 2: n 5 3,3 [log(108) – log (5 3 107)] 5 3,3 (8 – 7,69) 5 3,3 (0,301) 5 1 Assim, nesse exemplo, g 5 t/n 5 2/1 5 2 h. Se o crescimento exponencial prosseguisse por mais duas horas, o número de células seria 2 3 108. Após duas horas, o número de células seria 4 3 108, e assim por diante. Além de determinar o tempo de geração de uma cultura em crescimento exponencial por inspeção dos dados gráficos, o g pode também ser calculado diretamente a partir da inclinação da função linear obtida em um gráfico semilogarítmico de crescimento exponencial. A in- clinação é calculada como 0,301 n/t (ou 0,301/g). No exemplo acima, a inclinação seria então 0,301/2, ou 0,15. Uma vez que g é igual a 0,301/inclinação, obtemos o mesmo valor de 2 para g. O termo 0,301/g é denominado taxa específica de crescimento, abreviada por k. Outra expressão útil de crescimento pode ser calculada a partir desses dados. Por exemplo, a recíproca do tempo de ge- ração, denominada taxa de divisão, abreviada por v. A taxa de divisão é igual a 1/g, apresentando unidades de horas recípro- cas (h–1). Isso significa que, enquanto o termo g é uma medida do tempo necessário para uma população dobrar o número de células, v é uma medida do número de gerações por unidade de tempo, em uma cultura em crescimento exponencial. A in- clinação da reta relacionando o log do número de células ao tempo (Figura 5.10) é igual a v/3,3. De posse dos valores de n e t, pode-se calcular g, k e v para diferentes microrganismos, crescendo em diferentes condições de cultura. Esses cálculos são úteis para otimizar as condições de cultivo de um organis- mo recentemente isolado e também para avaliar os efeitos po- sitivos e negativos de algum tratamento sobre a cultura bacte- riana. Por exemplo, comparando-se a um controle não tratado, os fatores que estimulam ou inibem o crescimento podem ser identificados mensurando-se seu efeito sobre os vários parâ- metros de crescimento aqui discutidos. As consequências do crescimento exponencial Durante o crescimento exponencial, inicialmente o aumento no número de células é relativamente lento, porém posterior- mente torna-se acelerado. Nos estágios finais do crescimento, observa-se um aumento significativo do número de células. Por exemplo, no experimento apresentado na Figura 5.9, a taxa de produção de células nos primeiros 30 minutos de cres- cimento corresponde a uma célula a cada 30 minutos. Entre- tanto, entre 4 e 4,5 horas de crescimento, a taxa de produção (a) (b) Número total de células 1 2 4 8 16 32 64 128 Tempo (h) Número total de células Tempo (h) 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 N úm er o d e cé lu la s (e sc al a lo ga rít m ic a)Aritmética Logarítmica 1 N úm er o d e cé lu la s (e sc al a ar itm ét ic a) Tempo (h) 0 1 2 3 4 5 500 1.000 103 102 10 100 4 4,5 5 5,5 6 . . 10 256 (28) 512 (29) 1.024 (210) 2.048 (211) 4.096 (212) . . 1.048.576 (220) Figura 5.9 Taxa de crescimento de uma cultura microbiana. (a) Dados de uma população que se duplica a cada 30 minutos. (b) Dados plotados em escalas aritmética (ordenada à esquerda) e logarítmica (ordenada à direita). C A P Í T U L O 5 • C R E S C I M E N T O E C O N T R O L E M I C R O B I A N O 1 5 1 U N ID A D E 1 de células é consideravelmente maior, com 256 células a cada 30 minutos, e entre 5,5 e 6 horas o crescimento corresponde a 2.048 células a cada 30 minutos (Figura 5.9). Assim, o número de células em culturas bacterianas de laboratório pode tornar- -se rapidamente muito elevado, com um tamanho populacio- nal final de > 109 células/mL não sendo incomum. Além de ser uma construção teórica, o crescimento ex- ponencial pode ter implicações na vida cotidiana. Considere algo tão comum como a deterioração do leite. As bactérias do ácido láctico, responsáveis pelo sabor azedo do leite estragado, contaminam o leite durante a coleta e estão no leite fresco e no pasteurizado em menor número; esses organismos crescem lentamente na temperatura de geladeira (4oC), mas rapida- mente à temperatura ambiente. Se uma garrafa de leite fres- co é deixada à temperatura ambiente durante a noite, algum ácido láctico é produzido, mas não em quantidade suficiente para afetar a qualidade do leite. Entretanto, se o leite coletado há uma semana, que agora contém o crescimento bacteriano acumulado de uma semana e, portanto, um número bem mais elevado de células, é deixado sob as mesmas condições, uma enorme quantidade de ácido láctico é produzida, resultando na deterioração. • O que é um gráfico semilogarítmico e quais informações podem ser obtidas a partir dele? • Faça a diferenciação entre os termos “taxa específica de crescimento” e “tempo de geração”. • Se em um período de 8 horas uma população de células em crescimento exponencial aumenta de 5 3 10 6 células/mL para 5 3 10 8 células/mL, calcule os valores de g, n, v e k. MINIQUESTIONÁRIO 5.6 O ciclo de crescimento Os dados apresentados nas Figuras 5.9 e 5.10 refletem apenas uma parte do ciclo de crescimento de uma população micro- biana, a parte denominada crescimento exponencial. Por diver- sas razões, um organismo crescendo em um recipiente fechado, como um tubo ou frasco (uma cultura em batelada), não pode continuar crescendo exponencialmente de forma indefinida. Em vez disso, uma curva de crescimento típica de uma popula- ção de células é obtida, conforme ilustrado na Figura 5.11. A cur- va de crescimento descreve um ciclo de crescimento completo, incluindo as fases lag, exponencial, estacionária e de morte. Fase lag Quando uma população microbiana é inoculada em um novo meio, o crescimento é iniciado somente após um período de tempo, denominado fase lag. Esse intervalo pode ser breve ou longo, dependendo do histórico do inóculo e das condições de crescimento. Se uma cultura em crescimento exponencial for transferida ao mesmo meio, nas mesmas condições de cres- cimento (temperatura, aeração, entre outros), a fase lag não necessariamente ocorre e o crescimento exponencial começa imediatamente. Entretanto, se o inóculo for proveniente de uma cultura antiga, em geral haverá uma fase lag, uma vez que as células encontram-se depletadas de vários constituintes es- senciais, requerendo tempo para sua biossíntese. Uma fase lag também é observada quando o inóculo é de baixa viabilida- de (poucas células vivas) ou consiste em células que sofreram algum tipo de dano, mas não foram mortas, decorrente de algum agente estressante, como altas e baixas temperaturas, radiação ou compostos químicos tóxicos. Uma fase lag também é observada quando uma população microbiana é transferida de um meio de cultura rico para um mais pobre; por exemplo, de um meio complexo a um meio definido ( Seção 3.2). Para crescerem em qualquer meio de cultura, as células devem dispor de um conjunto completo de enzimas necessárias à biossíntese dos metabólitos essenciais não fornecidos por aquele meio. Assim, quando transferidas para um meio onde os metabólitos essenciais devem ser bios- sintetizados, há uma demanda de tempo para a síntese das novas enzimas requeridas e para a produção de umapequena quantidade inicial de cada metabólito. Fase exponencial Conforme vimos na Seção 5.5, durante a fase exponencial de crescimento, a população celular duplica-se a intervalos regu- lares por um período curto ou longo, dependendo dos recur- sos disponíveis e de outros fatores. Células em crescimento exponencial geralmente encontram-se nas condições mais saudáveis e, por essa razão, são preferencialmente utilizadas para estudos enzimáticos ou de outros componentes celulares. 4 3 107 2 3 107 0 1 2 3 4 5 6 C él ul as /m L n –n (a) (b) 1 3 108 0 1 2 3 4 5 8 3 107 6 3 107 4 3 107 3 3 107 2 3 107 1 3 107 Tempo (h) Tempo (h) C él ul as /m L 2 h População duplica a cada 6 h t = 6 h n = 1 g = t = 6 h t = 2 n = 1 g = t = 2 h Inclinação = 0,15 Inclinação = 0,05 População duplica a cada 2 h Figura 5.10 Cálculo dos parâmetros de crescimento microbiano. Método para estimar os tempos de geração (g) de populações em crescimento exponencial, com tempos de geração de (a) 6 h e (b) 2 h, a partir de dados plo- tados em gráficos semilogarítmicos. A inclinação de cada reta é igual a 0,301/g, e n representa o número de gerações formadas no intervalo de tempo, t. To- dos os números estão expressos de acordo com a notação científica, isto é, 10.000.000 equivale a 1 3 107, 60.000.000 a 6 3 107, e assim por diante. 1 5 2 U N I D A D E 1 • A S B A S E S D A M I C R O B I O L O G I A As taxas de crescimento exponencial variam amplamente, sendo influenciadas pelas condições ambientais (temperatura, composição do meio de cultura), bem como pelas característi- cas genéticas do próprio organismo. Em geral, os procariotos crescem mais rapidamente que os microrganismos eucarió- ticos, e os eucariotos menores crescem mais rapidamente do que os maiores. Esse fato nos recorda do conceito discutido anteriormente em relação à proporção superf ície-volume. Lembre-se de que as células menores apresentam uma maior capacidade de permuta de nutrientes e produtos de excreção, quando comparadas às células maiores, e essa vantagem meta- bólica pode afetar significativamente seu crescimento e outras propriedades ( Seção 2.6). Fase estacionária e de morte Em uma cultura em batelada, o crescimento exponencial não pode ser mantido indefinidamente. Considere o fato de que uma única célula bacteriana, pesando apenas um trilionési- mo (10–12) de grama e crescendo exponencialmente com um tempo de geração de 20 minutos, produziria, se permitida crescer exponencialmente em uma cultura em batelada por 48 horas, uma população de células cujo peso seria 4 mil ve- zes superior ao peso da Terra! Obviamente, essa situação é impossível, e o crescimento torna-se limitado nessas culturas porque ou um nutriente essencial no meio de cultura é deple- tado ou os produtos de excreção do organismo acumulam-se. Quando o crescimento exponencial cessa por uma (ou am- bas) dessas razões, a população atinge a fase estacionária (Fi- gura 5.11). Na fase estacionária, não se observa aumento ou diminui- ção líquidos no número de células, portanto a taxa de cresci- mento da população corresponde a zero. Apesar da interrup- ção no crescimento, o metabolismo energético e os processos biossintéticos podem continuar em células na fase estacioná- ria, mas normalmente a uma taxa muito reduzida. Algumas células podem até mesmo se dividir durante a fase estacio- nária, porém não há aumento líquido no número de células. Isso ocorre porque algumas células da população crescem, ao passo que outras morrem; os dois processos equilibram-se um ao outro (crescimento críptico). No entanto, cedo ou tarde a população entrará na fase de morte do ciclo de crescimento celular, que, assim como a fase exponencial, ocorre como uma função exponencial (Figura 5.11). Todavia, normalmente a taxa de morte celular é muito mais lenta do que a taxa de cres- cimento exponencial, e células viáveis podem permanecer em uma cultura por meses ou até mesmo anos. As fases do crescimento bacteriano, apresentadas na Figura 5.11, refletem eventos que ocorrem em uma população de células, e não em células individuais. Assim, os termos fase lag, fase exponencial e assim por diante não se aplicam a célu- las individuais, mas somente a populações de células. O cresci- mento de uma célula individual é um pré-requisito necessário ao crescimento da população. No entanto, o crescimento da população é mais relevante para a ecologia de microrganis- mos, uma vez que as atividades microbianas mensuráveis re- querem populações microbianas, e não somente uma célula microbiana individual. • Em que fase da curva de crescimento as células se dividem em um período de tempo constante? • Sob quais condições a fase lag poderia não ocorrer? • Por que as células entram em fase estacionária? MINIQUESTIONÁRIO 5.7 Cultura contínua Até o momento, nossa discussão sobre crescimento populacio- nal restringiu-se às culturas em batelada. O ambiente em uma cultura em batelada está constantemente mudando devido ao consumo de nutrientes e produção de excretas. É possível con- tornar essas mudanças em um dispositivo de cultura contínua. Diferente de uma cultura em batelada, que é um sistema fecha- do, uma cultura contínua é um sistema aberto. Em um frasco de cultura em crescimento contínuo, um volume de meio fres- co é adicionado a uma taxa constante, enquanto o mesmo vo- lume de meio de cultura usado (que também contém células) é removido na mesma taxa. Quando em equilíbrio, o volume do frasco de crescimento, o número de células e a quantidade de nutrientes/excretas permanecem constantes e a cultura atinge um estado de equilíbrio. 0,75 1,0 0,50 0,25 0,1 Turbidez (densidade óptica) Organismos viáveis MorteEstacionáriaExponencialLag Fases de crescimento Tempo 10 9 8 7 6 D en si d ad e óp tic a (D O ) C on ta ge m d e vi ab ili d ad e lo g 1 0/ m L Figura 5.11 Curva de crescimento típica de uma população bacteria- na. Uma contagem de viáveis mede as células presentes na cultura capazes de se reproduzir. A densidade óptica (turbidez), uma medida quantitativa da dispersão de luz por uma cultura líquida, aumenta de acordo com o aumento do número de células. C A P Í T U L O 5 • C R E S C I M E N T O E C O N T R O L E M I C R O B I A N O 1 5 3 U N ID A D E 1 O quimiostato O tipo mais comum de equipamento para culturas contínuas é o quimiostato, um dispositivo no qual tanto a taxa de cres- cimento (quão rapidamente as células se dividem) quanto a densidade celular (quantas células por mL são obtidas) podem ser controladas independentemente (Figura 5.12). Dois fatores governam a taxa de crescimento e a densidade celular, respec- tivamente: (1) a taxa de diluição, que é a taxa com a qual o meio fresco é adicionado e o meio usado é removido; e (2) a concentração de um nutriente limitante, como uma fonte de carbono ou nitrogênio, presente no meio estéril introduzido no frasco do quimiostato. Em uma cultura em batelada, a concentração de nutrien- tes afeta tanto a taxa de crescimento quanto a eficiência de crescimento (Figura 5.13). Em concentrações muito baixas de um determinado nutriente, a taxa de crescimento é submá- xima, porque o nutriente não pode ser transportado para o interior da célula rápido o suficiente para satisfazer a demanda metabólica. Em concentrações mais elevadas, a taxa máxima de crescimento pode ser obtida, porém a densidade celular pode continuar a aumentar proporcionalmente à concentra- ção de nutrientes presentes no meio (Figura 5.13). Em um qui- miostato, no entanto, a taxa e a eficiência de crescimento são controladas independentemente: a taxa de crescimento pela taxa de diluição, e a eficiência de crescimento pela concentra- ção de um nutriente limitante. Variando os parâmetros do quimiostato Os efeitos no crescimento microbiano da variação na taxa de diluição e concentração do nutriente limitante em um qui- miostato são apresentados na Figura 5.14. Comopode ser ob- servado, há uma ampla faixa na qual a taxa de diluição con- trola a taxa de crescimento. Entretanto, em taxas de diluição muito baixas ou muito altas, o estado de equilíbrio é rompido. Em uma taxa de diluição muito alta, o organismo não conse- gue crescer com velocidade suficiente para manter sua dilui- ção, sendo eliminado do quimiostato. Em contrapartida, em uma taxa de diluição muito baixa, as células podem morrer por desnutrição, uma vez que o nutriente limitante não está sendo adicionado com velocidade suficiente para suportar o metabolismo celular mínimo. No entanto, entre esses limites, diferentes taxas de crescimento podem ser obtidas simples- mente variando-se a taxa de diluição. A densidade celular em um quimiostato é controlada por um nutriente limitante, da mesma forma que em uma cultura em batelada (Figura 5.13). Se a concentração desse nutriente no meio em que está sendo introduzido for aumentada a uma taxa de diluição constante, a densidade celular aumentará, po- rém a taxa de crescimento permanecerá a mesma. Assim, pela variação da taxa de diluição do quimiostato e da concentração de nutrientes, pode-se estabelecer populações celulares diluí- das (p. ex., 105 células/mL), moderadas (p. ex., 107 células/mL) ou densas (p. ex., 109 células/mL), crescendo em qualquer taxa de crescimento específica. Meio fresco do reservatório Ar ou outro gás estéril Regulador da taxa de fluxo Efluente contendo células microbianas Espaço gasoso Frasco de cultura Cultura Saída de excedente Figura 5.12 Representação esquemática de um dispositivo de cul- tura contínua (quimiostato). A densidade da população é controlada pela concentração do nutriente limitante no reservatório, ao passo que a taxa de crescimento é controlada pela taxa de fluxo. Esses dois parâmetros podem ser ajustados pelo operador. Tempo de duplicação 5 4 3 2 1 Concentração bacteriana 0,50,25 0,75 0 2 4 6 Taxa de diluição (h–1) Te m p o d e d up lic aç ão (h ) C on ce nt ra çã o b ac te ria na e m es ta d o d e eq ui líb rio (g /L ) 0 0 1,0 Descarte Estado de equilíbrio Figura 5.14 Relações de estado de equilíbrio em um quimiostato. A taxa de diluição é determinada pela taxa de fluxo e pelo volume do frasco de cultura. Assim, em um frasco de 1.000 mL, com uma taxa de fluxo através do frasco de 500 mL/h, a taxa de diluição seria de 0,5 h–1. Observe que, em altas taxas de diluição, o crescimento não é capaz de contrabalançar a diluição, e a população é eliminada. Observe também que, embora a densidade populacio- nal permaneça constante durante o estado de equilíbrio, a taxa de crescimento (tempo de duplicação) pode variar em grande escala. 0 0,1 0,2 0,3 0,4 Apenas a eficiência é afetada Concentração de nutrientes (mg/mL) 0,5 Ta xa d e cr es ci m en to ( ) E fic iê nc ia d e cr es ci m en to ( )Taxa e eficiência de crescimento afetadas Figura 5.13 O efeito dos nutrientes no crescimento. Relação entre concentração de nutriente, taxa de crescimento (curva em verde) e eficiência de crescimento (curva em vermelho) de uma cultura em batelada (sistema fe- chado). Apenas em baixas concentrações de nutrientes tanto a taxa de cresci- mento quanto a eficiência de crescimento são afetadas. 1 5 4 U N I D A D E 1 • A S B A S E S D A M I C R O B I O L O G I A Usos experimentais do quimiostato Uma vantagem prática do quimiostato é o fato de a população celular poder ser mantida na fase exponencial de crescimento por longos períodos, dias e até mesmo semanas. Células em fase exponencial são geralmente as mais desejáveis para ex- perimentos fisiológicos, e podem estar disponíveis a qualquer momento, quando crescem em um quimiostato. Além disso, podem ser feitas repetições dos experimentos, sabendo-se que a cada momento a população de células será praticamente a mesma. Após uma amostra ser removida do quimiostato, é ne- cessário um período de tempo para que o frasco retorne ao seu volume original e para o estado de equilíbrio ser novamente alcançado. Uma vez que esse processo tenha ocorrido, o frasco encontra-se pronto para nova amostragem. O quimiostato tem sido utilizado tanto na ecologia como na fisiologia microbiana. Por exemplo, uma vez que o quimios- tato pode mimetizar facilmente situações de baixa concen- tração de substrato, que são frequentemente encontradas na natureza, é possível testar quais organismos em culturas mis- tas de composição conhecida podem melhor sobreviver sob limitações nutricionais. Isso pode ser realizado por meio do monitoramento das alterações que ocorrem na comunidade microbiana em função da variação das condições nutricionais. Os quimiostatos têm sido também empregados no enriqueci- mento e isolamento de bactérias da natureza. A partir de uma amostra natural, uma população estável pode ser selecionada mediante a escolha de condições nutricionais e da taxa de di- luição, aumentando-se lentamente a taxa de diluição até que somente um único organismo permaneça. Nesse sentido, microbiologistas analisando as taxas de crescimento de dife- rentes bactérias do solo isolaram um organismo apresentando tempo de duplicação de 6 minutos – a bactéria com cresci- mento mais rápido já descrita! • Como os microrganismos presentes em um quimiostato diferem dos microrganismos em uma cultura em batelada? • O que ocorre em um quimiostato se a taxa de diluição exceder a taxa de crescimento máximo do organismo? • A utilização de um quimiostato requer o emprego de culturas puras? MINIQUESTIONÁRIO III ∙ Mensurando o crescimento microbiano O crescimento de uma população é medido pelo monitora-mento de alterações no número de células ou alterações nos níveis de algum componente celular como um substituto para o número de células. Estes incluem proteínas, ácidos nu- cleicos ou o peso seco das próprias células. Aqui, abordaremos duas medidas comuns do crescimento celular: contagens de células e turbidez, sendo essa última uma medida da massa celular. 5.8 Contagens microscópicas Uma contagem total do número de microrganismos em uma cultura ou em uma amostra natural pode ser realizada sim- plesmente observando-se e enumerando as células presentes. O método mais comum de contagem total corresponde à con- tagem microscópica das células. As contagens microscópicas podem ser realizadas a partir de amostras secas em lâminas ou a partir de amostras líquidas. As amostras secas podem ser coradas a fim de aumentar o contraste entre as células e o fun- do ( Seções 2.2 e 18.3). Para amostras líquidas, câmaras de contagem consistindo de uma grade quadriculada (grid), onde os quadrados têm área conhecida marcada sobre a superf ície de uma lâmina de vidro, são utilizadas (Figura 5.15). Quando a lamínula é colocada na câmara, cada quadrado do grid com- porta um volume conhecido. O número de células presentes por unidade de área do grid pode ser contado ao microscó- pio, possibilitando a determinação do número de células pre- sentes no pequeno volume da câmara. O número de células por mililitro de suspensão é calculado empregando-se um fator de conversão baseado no volume da amostra da câmara (Figura 5.15). Células em amostras líquidas também podem ser con- tadas em um citômetro de fluxo. Essa é uma máquina que emprega raio laser e eletrônica complexa para contar célu- las individuais. O citômetro de fluxo raramente é utilizado na contagem rotineira de células microbianas, porém possui aplicações no campo da medicina para a contagem e diferen- ciação de células sanguíneas e outros tipos celulares presentes em amostras clínicas. Ele também foi utilizado na ecologia mi- crobiana para separar diferentes tipos de células para fins de isolamento ( Seção 18.10). Número/cm3 (mL) (1,5 3 107) Número/mm3 (1,5 3 104) Número/mm2 (3 3 102) Sulcos que sustentam a lamínula 1 50 A amostra é aplicada neste ponto. Deve-se ter cuidado para que ela não transborde;a distância entre a lâmina e a lamínula é de 0,02 mm ( mm). O grid apresenta 25 quadrados grandes, com área total de 1 mm2 e volume total de 0,02 mm3. Lamínula Observação microscópica; todas as células do quadrado grande são contadas (16 quadrados pequenos): 12 células (na prática, vários quadrados grandes são contados, estimando-se o número médio). Para calcular o número de células por mL de amostra: 12 células 3 25 quadrados grandes 3 50 3 103 Figura 5.15 Procedimento de contagem microscópica direta, utili- zando a câmara de contagem de Petroff-Hausser. Um microscópio de con- traste de fase é normalmente utilizado para a contagem de células, evitando a necessidade do uso de corantes. C A P Í T U L O 5 • C R E S C I M E N T O E C O N T R O L E M I C R O B I A N O 1 5 5 U N ID A D E 1 Ressalvas da contagem microscópica A contagem microscópica é uma forma rápida e simples de estimar-se o número de células microbianas. Entretanto, apre- senta várias limitações que restringem sua utilidade a algumas condições específicas. Por exemplo, sem o uso de técnicas de coloração especiais ( Seção 18.3) não é possível distinguir células mortas de células vivas, e é dif ícil alcançar precisão, mesmo que sejam realizadas replicatas. Além disso, células pe- quenas são de dif ícil visualização ao microscópio, o que pode levar a contagens errôneas, e suspensões celulares de baixa densidade (menor do que cerca de 106 células/mililitro) apre- sentam poucas ou nenhuma célula no campo microscópico, exceto se a amostra for inicialmente concentrada e ressuspen- sa em um pequeno volume. Finalmente, células móveis devem ser mortas ou imobilizadas de alguma outra forma previamen- te à contagem, e fragmentos presentes na amostra podem ser confundidos com células microbianas. Contagem de células microscópicas na ecologia microbiana Apesar das muitas ressalvas potenciais, ecologistas microbia- nos muitas vezes utilizam a contagem de células microscópi- cas em amostras naturais. Entretanto, eles o fazem utilizando corantes para visualizar as células, muitas vezes empregando corantes muito poderosos que provêm informações filogené- ticas ou outras informações-chave sobre as células, como suas propriedades metabólicas. O corante DAPI ( Seção 2.2 e Figura 2.6c) cora todas as células de uma amostra, uma vez que reage com o DNA. Por outro lado, corantes fluorescentes que são altamente espe- cíficos para determinados organismos ou grupos de organis- mos podem ser preparados por sua ligação a sondas de ácido nucleico específicas. Por exemplo, corantes filogenéticos que coram apenas espécies de bactérias ou apenas espécies de ar- queias podem ser usados em combinação com corantes não específicos para determinar a proporção de cada domínio presente em uma dada amostra; a utilização desses corantes será discutida na Seção 18.4. Outras sondas fluorescentes têm como alvo genes que codificam enzimas relacionadas a pro- cessos metabólicos específicos; se uma célula é corada com uma dessas sondas, uma propriedade-chave metabólica pode ser inferida, o que pode revelar o papel ecológico da célula na comunidade microbiana. Em todos esses casos, se as células na amostra estiverem presentes apenas em baixas densidades, por exemplo, em uma amostra de água do oceano, esse problema pode ser superado concentrando-se inicialmente as células em um filtro e, então, realizando a contagem após sua coloração. Por serem simples e suprirem informações úteis, as con- tagens de células microscópicas são comumente empregadas em estudos microbianos de ambientes naturais. Abordaremos esse tema em mais detalhes no Capítulo 18. • Quais são alguns dos problemas que podem surgir quando preparações não coradas são utilizadas para realizar contagens microscópicas? • Utilizando técnicas microscópicas, como você poderia dizer se há arqueias presentes em um lago alpino cujo número total de células foi de apenas 10 5 /mL? MINIQUESTIONÁRIO 5.9 Contagem de células viáveis Uma célula viável é definida como aquela capaz de dividir-se, originando células-filhas, e, na maioria das situações de con- tagens de células, são as células que causam maior interesse. Com esse propósito, podemos utilizar um método de conta- gem de células viáveis, também denominado contagem em placa, uma vez que placas de ágar são requeridas. O proce- dimento de contagem de células viáveis pressupõe que cada célula viável é capaz de crescer e dividir-se, originando uma colônia. Assim, o número de colônias e o número de células são proporcionais. A amostra é depositada na superfície de uma placa de meio sólido (0,1 mL ou menos) A amostra é espalhada de forma homogênea na superfície do meio com auxílio de uma alça de vidro estéril Resultados típicos de uma semeadura por espalhamento Colônias na superfície A amostra é depositada em uma placa estéril O meio estéril é adicionado e misturado ao inóculo Resultados típicos de uma semeadura em profundidade Colônias na superfície Colônias abaixo da superfície Método de semeadura em profundidade* Método de semeadura por espalhamento D eb or ah O . J un g D eb or ah O . J un g Solidificação e incubação Incubação Figura 5.16 Dois métodos de contagem de células viáveis. No méto- do de semeadura em profundidade, as colônias formam-se no interior, assim como na superfície, do meio sólido. Na quarta coluna é apresentada uma fo- tografia de colônias de Escherichia coli, formadas por células depositadas em placas pelo método de semeadura por espalhamento (superior) ou pelo método de semeadura em profundidade (inferior).*N. de R.T. Este método é internacionalmente conhecido como “pour-plate”, mesmo na literatura técnica em português. 1 5 6 U N I D A D E 1 • A S B A S E S D A M I C R O B I O L O G I A Métodos para a contagem de células viáveis Há pelo menos duas formas para realizar-se uma contagem em placa: o método de semeadura por espalhamento e o método de semeadura em profundidade (Figura 5.16). No método de se- meadura por espalhamento, um volume (geralmente 0,1 mL ou menos) da cultura diluída apropriadamente é espalhado sobre a superf ície de um meio sólido com auxílio de uma alça de vidro estéril. No método de semeadura em profundidade, um volume conhecido (geralmente de 0,1–1,0 mL) da cultura é pipetado em uma placa de Petri estéril. O meio de cultura fun- dido é, então, adicionado e bem misturado, movimentando-se delicadamente a placa em círculos sobre a bancada. Tanto no método de semeadura por espalhamento quanto na semeadu- ra em profundidade, é importante que o número de colônias desenvolvidas na placa não seja muito elevado, nem muito bai- xo. Em placas muito populosas, algumas células podem não formar colônias e algumas colônias podem se fundir, levando a erros de contagem. Se o número de colônias for muito peque- no, a significância estatística da contagem será baixa. A prática geral, de maior valia estatística, consiste na contagem somente de placas que possuam entre 30 e 300 colônias. Para que se obtenha o número apropriado de colônias, a amostra a ser contada deve quase sempre ser diluída. Tendo em vista que raramente podemos prever o número aproximado de células viáveis, em geral mais de uma diluição é necessária. Frequentemente, são empregadas várias diluições decimais da amostra (Figura 5.17). Para realizar uma diluição decimal (10–1), pode-se misturar 0,5 mL da amostra a 4,5 mL do diluente, ou 1,0 mL da amostra a 9,0 mL do diluente. Se uma diluição cen- tesimal (10–2) for necessária, 0,05 mL pode ser misturado a 4,95 mL do diluente, ou 0,1 mL a 9,9 mL de diluente. Alternativa- mente, uma diluição de 10–2 pode ser preparada a partir de duas diluições decimais sucessivas. No caso de culturas densas, essas diluições seriadas são necessárias para obter-se a dilui- ção adequada para plaquear um número contável de colônias. Assim, se uma diluição de 10–6 (1/106) for necessária, ela pode ser obtida pela realizaçãode três diluições sucessivas de 10–2 (1/102), ou de seis diluições sucessivas de 10–1 (Figura 5.17). Fontes de erros na contagem de placas O número de colônias obtidas em uma contagem de células viáveis depende não apenas do tamanho do inóculo e da via- bilidade da cultura, mas também do meio de cultura e das condições de incubação. O número de colônias também pode mudar de acordo com o tempo de incubação. Por exemplo, se uma cultura mista é contada, nem todas as células deposita- das na placa formarão colônias na mesma velocidade; se um período mais curto de incubação é utilizado, menos do que o número máximo de colônias será visualizado. Além disso, o tamanho das colônias poderá variar. Se, neste processo, sur- girem colônias muito pequenas, elas podem não ser contadas corretamente. No caso de culturas puras, o desenvolvimento das colônias é um processo mais sincronizado, e a uniformida- de da morfologia das colônias é provável. A contagem de células viáveis pode estar sujeita a erros significativos por diversas razões, as quais incluem inconsis- tências no plaqueamento, como erros de pipetagem de amos- tras líquidas, amostras desuniformes (p. ex., uma amostra contendo grumos celulares), homogeneização insuficiente da amostra, intolerância ao calor (caso a técnica de semeadura em profundidade seja usada), e muitos outros fatores. Dessa for- ma, para que se obtenham contagens precisas, são necessários cuidado e consistência durante a preparação da amostra e o seu plaqueamento, além da utilização de replicas de diluições im- portantes. Além disso, se duas ou mais células estão agrupadas formando um grumo, elas crescerão formando uma única colô- nia. Assim, se uma amostra contém muitas células em grumos, uma contagem da viabilidade dessa amostra pode ser erronea- mente baixa. A quantificação dessas amostras é frequentemen- te expressa como número de unidades formadoras de colônias, em vez do número de células viáveis, uma vez que uma unidade formadora de colônia pode incluir uma ou mais células. Aplicações da contagem de placas Apesar das dificuldades associadas à contagem de viáveis, o processo fornece a melhor estimativa do número de células viáveis em uma amostra, sendo assim amplamente utilizado em várias áreas da microbiologia. Por exemplo, na microbiolo- gia de alimentos, de laticínios, médica e aquática, a contagem de viáveis é rotineiramente empregada. A grande vantagem desse método consiste em sua alta sensibilidade, pois até mes- mo uma célula viável por amostra inoculada pode ser detecta- da. Essa propriedade permite a detecção precisa de contami- nação microbiana em alimentos ou outros produtos. A utilização de meios de cultura e condições de cresci- mento altamente seletivos nos procedimentos de contagem de viáveis permite que se enfoque espécies particulares em uma amostra contendo diversos organismos. Por exemplo, um meio complexo contendo 10% de NaCl é muito útil no isolamento de Staphylococcus da pele, uma vez que o sal inibe o crescimento Amostra a ser quantificada 9 mL de caldo Diluição total 1/10 (10–1) 1/100 (10–2) 1/103 (10–3) 1/104 (10–4) 1/105 (10–5) 1/106 (10–6) Plaqueamento de 1 mL de amostra 159 3 103 Contagem de placas Fator de diluição 5 1.59 3 105 Células (unidades formadoras de colônia) por mililitro da amostra original 159 colônias 17 colônias 2 colônias 0 colôniasNúmero excessivo de colônias para contagem 1 mL 1 mL 1 mL 1 mL 1 mL 1 mL Figura 5.17 Procedimento de contagem de viáveis utilizando dilui- ções seriadas da amostra e o método de semeadura em profundidade. O líquido estéril utilizado no preparo das diluições pode ser simplesmente água, porém uma solução balanceada de sais ou de um meio de cultura pode permitir uma maior recuperação. O fator de diluição é a recíproca da diluição. C A P Í T U L O 5 • C R E S C I M E N T O E C O N T R O L E M I C R O B I A N O 1 5 7 U N ID A D E 1 da maioria das outras bactérias ( Seção 29.9). Em aplicações práticas, como na indústria alimentícia, a contagem de viáveis tanto em meios complexos como seletivos permite avaliações quantitativas e qualitativas dos microrganismos presentes em um produto alimentício. Isto é, utilizando-se uma única amos- tra, um meio pode ser empregado para uma contagem total, e um segundo meio utilizado para detectar um organismo em particular, como um patógeno específico. A contagem de um alvo específico é comum em análises de águas de rejeitos e ou- tros tipos de água. Por exemplo, pelo fato de as bactérias enté- ricas, como Escherichia coli, serem originadas de matéria fecal e serem facilmente detectadas pelo uso de meios seletivos, se bactérias entéricas forem detectadas em uma amostra de água de um local de natação, por exemplo, sua presença significa que a água não é apropriada para utilização humana. A grande anomalia da contagem em placa Contagens microscópicas diretas de amostras naturais normal- mente revelam muito mais organismos que aqueles recuperá- veis em placas de qualquer meio de cultura. Assim, embora seja uma técnica de grande sensibilidade, as contagens em placa po- dem ser pouquíssimo confiáveis quando utilizadas na avaliação do número total de células em amostras naturais, como o solo e a água. Alguns microbiologistas referem-se a esse fenômeno como a “grande anomalia da contagem em placa”. Por que as contagens em placa revelam números inferio- res de células aos observados por contagens microscópicas diretas? Um fator óbvio está no fato de os métodos microscó- picos fazerem a contagem de células mortas, ao contrário dos métodos de contagem de viáveis. Ainda mais importante é o fato de diferentes organismos, mesmo aqueles presentes em uma amostra natural muito pequena, poderem exibir diferen- tes exigências nutricionais e de condições de crescimento em culturas laboratoriais ( Seções 3.1 e 3.2). Assim, pode-se es- perar que um meio e um conjunto de condições de crescimen- to permitam, na melhor das hipóteses, sustentar o crescimento de apenas um subconjunto da comunidade microbiana total. Se esse subconjunto representar, por exemplo, 106 células/g de uma comunidade viável total de 109 células/g, a contagem em placa revelará somente 0,1% da população microbiana total, uma estimativa muito abaixo do número real de células viáveis e tipos fisiológicos de organismos presentes na amostra. Os resultados da contagem em placa podem, portanto, representar uma grande limitação. Contagens em placa com alvos específicos, utilizando meios altamente seletivos, como, por exemplo, na análise microbiológica de esgoto ou de ali- mentos, podem gerar dados confiáveis, uma vez que a fisiolo- gia dos organismos-alvo é conhecida. Por outro lado, conta- gens de células “totais” da mesma amostra, utilizando-se um único meio e conjunto de condições de crescimento simples, podem ser, e geralmente são, estimativas aquém do número real de células em uma a várias ordens de grandeza. • Por que uma contagem de viáveis é mais sensível do que uma contagem microscópica? Qual a principal hipótese considerada quando se relaciona os resultados obtidos na contagem em placa ao número de células? • Descreva como preparar uma diluição de 10 –7 de uma cultura bacteriana. • O que se entende por “grande anomalia da contagem em placa”? MINIQUESTIONÁRIO 5.10 Espectrofotometria Durante o crescimento exponencial, todos os componentes celulares aumentam proporcionalmente ao aumento do nú- mero de células. Um desses componentes é a própria mas- sa celular. As células dispersam luz, e um método rápido e bastante útil para estimar a massa celular é a turbidez. Uma suspensão celular exibe aspecto nebuloso (turvo) ao olho nu porque as células dispersam a luz que atravessa a suspen- são. Quanto maior o número de células presentes, maior a quantidade de luz dispersa e, consequentemente, mais turva a suspensão. Uma vez que a massa celular é proporcional ao número de células, a turbidezpode ser utilizada para estimar o número de células, e é uma técnica amplamente utilizada na microbiologia. Densidade óptica A turbidez é medida com o auxílio de um espectrofotômetro, um instrumento que promove a passagem de luz através de uma suspensão celular, detectando a quantidade de luz emer- gente, não dispersa (Figura 5.18). O espectrofotômetro emprega um prisma ou grade de difração para gerar uma luz incidente de comprimento de onda específico (Figura 5.18a). Os com- primentos de onda normalmente utilizados para medir a turbidez bacteriana incluem 480 nm (azul), 540 nm (verde), 600 nm (cor de laranja) e 660 nm (vermelho). A sensibilida- de é maior nos comprimentos de onda mais curtos, porém as medidas de suspensões celulares densas são mais precisas com o uso de comprimentos de onda mais longos. A unidade de medida da turbidez corresponde à densidade óptica (DO) no comprimento de onda especificado, como por exemplo, DO540 para medidas de densidade óptica a 540 nm (Figura 5.18). O termo absorbância (A), por exemplo, A540, é também uma unidade comumente utilizada, porém deve ser entendido que é a dispersão da luz, não a absorbância da luz, que é realmente mensurada no espectrofotômetro. Relacionando a densidade óptica ao número de células No caso de organismos unicelulares, a densidade óptica é proporcional, dentro de certos limites, ao número de células. As leituras da turbidez podem, portanto, ser utilizadas como um substituto dos métodos de contagem total ou de células viáveis. Contudo, antes desse procedimento ser realizado, uma curva padrão deve ser previamente construída, relacionando o número de células (contagem microscópica ou de células vi- áveis), peso seco ou teor proteico, à turbidez. Como pode ser observado nesse tipo de gráfico, a proporcionalidade é manti- da apenas dentro de certos limites (Figura 5.18c). Em altas den- sidades celulares, a luz dispersa por uma célula e captada pela fotocélula do espectrofotômetro pode ser novamente dispersa por outra célula. Para a fotocélula, esse fenômeno pode causar a impressão de que não houve dispersão da luz. Em densida- des celulares tão elevadas, a correspondência entre o número de células e a turbidez afasta-se da linearidade e, portanto, as medidas da DO são menos precisas. Todavia, até esse limite, as medidas de turbidez podem corresponder a medidas pre- cisas do número de células ou do peso seco. Além disso, uma vez que diferentes organismos diferem em tamanho e forma, um mesmo número de células de duas diferentes espécies bac- terianas não irá necessariamente corresponder a um mesmo valor de DO. Assim, para relacionar a DO ao número de célu- las real, uma curva padrão relacionando esses dois parâmetros 1 5 8 U N I D A D E 1 • A S B A S E S D A M I C R O B I O L O G I A deve ser construída para cada diferente organismo crescendo rotineiramente no laboratório. As vantagens e desvantagens do crescimento turbidimétrico Por um lado, as medidas turbidimétricas são rápidas e de fácil execução e, geralmente, podem ser realizadas sem a destrui- ção ou alteração significativa da amostra. Por essas razões, as medidas turbidimétricas são amplamente utilizadas para mo- nitorar o crescimento de culturas puras de bactérias, arqueias e vários eucariotos microbianos. Com ensaios turbidimétricos, a mesma amostra pode ser analisada repetidamente, sendo as medidas plotadas em um gráfico semilogarítmico em relação ao tempo (Seção 5.5). A partir desses dados, é fácil calcular o tempo de geração e outros parâmetros da cultura em cresci- mento (Figura 5.18b). Por outro lado, as medidas turbidimétricas podem ser por vezes problemáticas. Embora muitos microrganismos cresçam em suspensões homogêneas em meio líquido, outros não o fa- zem. Algumas bactérias formam agrupamentos pequenos ou grandes, e, nestas situações, as medidas da DO podem ser bas- tante imprecisas como avaliação do total da massa microbiana. Além disso, muitas bactérias crescem em filmes sobre as pare- des de tubos ou outros frascos de crescimento, mimetizando na cultura laboratorial a forma como crescem, de fato, na natureza (ver Explorando o mundo microbiano, “grudar ou nadar”). Por- tanto, para que as DOs reflitam de modo preciso a massa celular (e, assim, o número de células) de uma cultura líquida, os agrega- dos e biofilmes devem ser minimizados. Isso pode ser frequen- temente realizado misturando-se, agitando-se ou mantendo-se, de alguma forma, as células bem misturadas durante o processo de crescimento, a fim de impedir a formação de agregados celu- lares e biofilmes. Algumas bactérias são naturalmente planctô- nicas – permanecem bem ressuspendidas em meio líquido por longos períodos – e não formam biofilmes. Entretanto, se uma superf ície sólida está disponível, a maioria das bactérias móveis irá, eventualmente, desenvolver um biofilme estático, e a quan- tificação acurada do número de células pela turbidez pode ser dificultada ou mesmo impossível nestes casos. • Liste duas vantagens da utilização da turbidez como medida de crescimento celular. • Descreva como você poderia utilizar uma medida turbidimétrica para calcular quantas colônias seriam esperadas a partir do plaqueamento de uma cultura com determinada DO. MINIQUESTIONÁRIO IV ∙ Efeito da temperatura no crescimento microbiano O s microrganismos são intensamente afetados pelo estado químico e f ísico de seu ambiente, e quatro fatores essen- ciais controlam o crescimento: temperatura, pH, disponibili- dade de água e de oxigênio. Começaremos com a temperatura, um fator-chave ambiental que afeta o crescimento e a sobrevi- vência dos microrganismos. 5.11 Classes térmicas de microrganismos Em temperaturas muito frias ou muito quentes, os micror- ganismos não serão capazes de crescer, podendo até mesmo morrer. As temperaturas mínima e máxima que suportam o crescimento variam amplamente entre os diferentes microrga- 0.610.61540540 0.32540 EspectrofotômetroWavelength OD Luz não dispersa, I Luz Prisma Filtro Fotocélula (mede a luz não dispersa, I) Amostra contendo células ( ) Luz incidente, I0 (a) D en si d ad e óp tic a D en si d ad e óp tic a (b) Tempo (h) 0 5 10 15 20 25 30 35 (c) Número de células ou massa (peso seco) 0,1 0,1 0,2 0,2 0,3 0,3 0,4 0,4 0,5 0,6 0,6 0,7 0,8 0,8 Real TeóricoOrganismo A Organismo B I0 I = Log Densidade óptica (DO) Figura 5.18 Medidas turbidimétricas do crescimento microbiano. (a) A turbidez é medida em um espectrofotômetro. A fotocélula mede a luz incidente, não dispersa pelas células em suspen- são, registrando-a em unidades de densidade óptica. (b) Curva de crescimento típica de dois organis- mos apresentando diferentes taxas de crescimento. Para praticar, calcule o tempo de geração (g) das duas culturas empregando a fórmula n 5 3,3 (log N – log N0), em que N e N0 correspondem a dois valores de DO diferentes, obtidos em um intervalo de tempo t (Seção 5.5). Qual organismo está cres- cendo mais rápido, A ou B? (c) Relação entre o número de células ou o peso seco e as medidas de tur- bidez. Observe que a correspondência unívoca dessas relações é perdida em altos valores de turbidez. U N ID A D E 1 EXPLORE O MUNDO MICROBIANO Grudar ou nadar N este capítulo serão discutidas diver- sas formas por meio das quais o cres- cimento microbiano pode ser medido, incluindo métodos de microscopia, conta- gens de viabilidade, e medidas da dispersão luminosa (turbidez) produzida por células suspensas em uma cultura líquida. As me- didas turbidimétricas do crescimento bacte- riano partem do princípio de que as células permanecem homogeneamente distribuídas pelo meio líquido de cultura. Nessas condi- ções, a densidade óptica da cultura é pro- porcional ao logaritmo do número de células em suspensão (Figura 1). Este estilo de vida flutuante, denominado planctônico, é a for- ma como determinadas bactérias vivem na natureza, como é o caso de organismos
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