Buscar

Princípios contratuais

Prévia do material em texto

Os Princípios do Direito Contratual 
“Violar um princípio é mais grave do que violar uma regra, 
porquanto as regras são elaboradas a partir dos princípios. Em 
outros termos, a violação a um princípio implica ofensa a todo 
o sistema legal.” 
São os seguintes: 
 
 Princípio da autonomia privada 
 
artigo 421 do Código Civil e abrange a liberdade de contratar e 
a liberdade contratual. 
 
A liberdade de contratar consiste na faculdade que o indivíduo 
possui de contratar ou não contratar e, também, de escolher 
com quem o negócio será celebrado. 
 
A liberdade é relativa em alguns casos como, por exemplo, na 
hipótese do artigo 497 do Código Civil que proíbe a compra e 
venda de bens confiados à administração. 
 
A liberdade contratual confere o direito de escolher o conteúdo 
do contrato, isto é, o direito de estipular as cláusulas e 
condições de acordo com seus interesses e suas conveniências, 
ressalvadas as normas de ordem pública. 
As partes podem criar contratos inominados, conforme 
preceitua o artigo 425 do Código Civil, porém devem respeitar 
os limites da lei como, por exemplo, a regra do artigo 426 que 
dispõe que não pode ser objeto de contrato herança de pessoa 
viva. 
 
 
 
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10704778/artigo-421-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983995/c%C3%B3digo-civil-lei-10406-02
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10700787/artigo-497-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983995/c%C3%B3digo-civil-lei-10406-02
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10704634/artigo-425-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983995/c%C3%B3digo-civil-lei-10406-02
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10704602/artigo-426-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002
 
 Princípio da função social dos contratos 
 
Artigo 421 do Código Civil e consiste na preocupação dos 
efeitos que o exercício do direito contratual pode causar sobre 
a sociedade, ou seja, o contrato deve ser interpretado levando 
em consideração toda a coletividade, eis que sua finalidade 
jurídica é a justa distribuição de riquezas, viabilizando o 
desenvolvimento social e econômico do país. 
 
A função social dos contratos protege o contrato para além das 
partes, impedindo que seus efeitos prejudiquem terceiros ou a 
coletividade. 
Terceiros lesados passam a ter legitimidade para ajuizar ações 
de revisão ou resolução de contratos. 
 Princípio da força obrigatória do contrato 
ou pacta sunt servanda 
 
Determina que as vontades que foram manifestadas livremente 
devem ser cumpridas tais como foram estipuladas, 
constituindo uma verdadeira norma jurídica que vincula as 
partes. 
Confere a possibilidade de uma das partes invocar a exceção de 
contrato não cumprido e alegar que não cumpriu sua parte 
porque a outra ainda não cumpriu o que lhe cabia (desde que o 
contrato seja bilateral). 
Este princípio está mitigado pelos princípios da função social 
do contrato e boa-fé objetiva. 
 
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10704778/artigo-421-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983995/c%C3%B3digo-civil-lei-10406-02
 
 Princípio da equivalência das prestações ou 
material 
 
Pressupõe que todo contrato envolve uma troca econômica 
ajustada pelas partes, caracterizando uma relação de 
equivalência, ou seja, deve existir uma correspondência entre o 
que se paga e o que se recebe a fim de evitar o enriquecimento 
sem causa. 
Possibilita a revisão ou o desfazimento do contrato se, após a 
celebração, sobreviver fato que acarrete desequilíbrio entre as 
prestações das partes, tornando a obrigação excessivamente 
onerosa para uma e gerando uma exagerada vantagem para a 
outra. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Princípio da boa-fé objetiva 
 
Distinção entre a boa-fé objetiva e a boa-fé subjetiva. 
 
Boa-fé subjetiva refere-se ao conhecimento, ou seja, está 
ligada ao estado psicológico da pessoa, como no caso do 
casamento putativo que, se contraído de boa-fé, produz todos 
os efeitos (artigo 1.561 do Código Civil). 
 
Boa-fé objetiva está relacionada ao comportamento ético e 
leal que se espera de todos, ou seja, as relações contratuais 
devem estar pautadas nos preceitos de cuidado, respeito, 
informação, honestidade, confiança e cooperação (os 
denominados deveres anexos). 
 
A boa-fé objetiva possui três funções relevantes, quais sejam: 
a) Função interpretativa 
 
O artigo 113 do Código Civil consagra expressamente esta 
função que tem por finalidade buscar o sentido e o alcance da 
norma. Para ilustrar, vamos imaginar que um locador ajuizou 
uma ação de obrigação de fazer contra o inquilino para que 
este último devolvesse o imóvel pintado, mas o inquilino 
pintou tudo de preto, desse modo, violou o princípio da boa-fé, 
pois ele devia devolver da mesma cor que estava quando 
recebeu o imóvel. 
 
b) Função integrativa 
 Diz respeito aos deveres anexos que estão implícitos no 
contrato, isto é, deveres que são essenciais para desenvolver o 
correto cumprimento da relação obrigacional. A doutrina 
costuma exemplificar com o caso da transportadora contratada 
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10626852/artigo-1561-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983995/c%C3%B3digo-civil-lei-10406-02
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10722821/artigo-113-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983995/c%C3%B3digo-civil-lei-10406-02
para transportar um cavalo de corrida, porém transportou o 
animal em condições inadequadas e como consequência o 
cavalo chegou gripado e não pôde participar da competição. No 
caso narrado, a transportadora descumpriu os deveres anexos 
do contrato, quais sejam, de cuidado e atenção, logo violou o 
princípio da boa-fé objetiva. 
Cumpre salientar que tais deveres estão presentes nas fases 
pré-contratual e pós-contratual, sendo que, se descumpridos, 
podem gerar responsabilidade objetiva, consoante o 
entendimento do Superior Tribunal de Justiça. 
c) Função limitadora 
 
 Esta função objetiva impedir o abuso de direito no exercício de 
direitos contratuais (artigo 187 do Código Civil). 
 
A título de esclarecimento, a doutrina utiliza a denominada 
Teoria do Adimplemento Substancial, segundo a qual 
estabelece que se o descumprimento do contrato foi mínimo a 
parte contrária não pode pleitear a resolução contratual, mas 
pode pedir perdas e danos. 
 Desdobramento da Boa Fé Objetiva 
A boa-fé processual se manifesta, principalmente, por meio 
do excpetio doli, venire contra factum proprium, inalegabilidade 
de nulidades formais, supressio, surrectio e tu quoque. 
 
1. Exceptio doli 
Exceção de dolo, ou seja, não age com boa-fé aquele que atua 
intuito não de preservar legítimos interesses, mas, sim, de 
prejudicar a parte contrária. 
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10718722/artigo-187-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983995/c%C3%B3digo-civil-lei-10406-02
Por exemplo: 
aquele que ajuíza ação de cobrança de dívida paga com o objetivo 
de receber em duplicidade determinado valor na esperança de que 
o devedor não tenha como provar o pagamento ou seja revel em 
ação judicial. 
Outro exemplo: 
é o chamado assédio processual consistente na utilização dos 
instrumentos processuais para simplesmente não cumprir a 
determinação judicial, quando ocorre nítida procrastinação por uma 
das partes no andamento de processo, em qualquer uma de suas 
fases, negando-se a cumprir decisões judiciais, amparando-se ou 
não em norma processual, para interpor recursos, agravos, 
embargos, requerimentos de provas, petições despropositadas, 
procedendo de modo temerário e provocando incidentes 
manifestamente infundados, tudo objetivandoobstaculizar a entrega 
da prestação jurisdicional à parte contrária. 
Interessante que a Fazenda é constantemente taxada de parte que 
procrastina o processo em sua atuação, contudo, é preciso 
diferenciar a atitude dolosa de uma das partes do processo com a 
defesa de tese plausível e pautada no interesse público, objetivo 
principal da Fazenda Pública no processo. 
 
2. Venire contra factum proprium 
Proibição de comportamento contraditório, traduz o exercício de 
uma posição jurídica em contradição com o comportamento 
anteriormente assumido, constituindo verdadeira surpresa. 
Possui os seguintes elementos: 
(i) factum proprium– uma conduta inicial lícita da parte (ação ou 
omissão); 
(ii) legítima confiança da outra parte decorrente da conduta inicial; 
(iii) comportamento contraditório injustificado – também lícito; e, 
(iv) existência de dano ou potencial dano a partir da contradição. 
 
Exemplo no CPC: 
Art. 278. A nulidade dos atos deve ser alegada na primeira 
oportunidade em que couber à parte falar nos autos, sob pena de 
preclusão. 
Perceba que a parte não pode guardar a nulidade na “manga” para 
usá-la quando bem entender, não levantada a nulidade na primeira 
oportunidade cria-se, para a parte contrária, a ideia e expectativa de 
que não se quis apresentar a nulidade, razão pela qual sua 
alegação posterior causa surpresa que se busca evitar com a boa-
fé processual. 
 
Exemplo da Fazenda: 
Imagine, por exemplo, que diante de uma sentença líquida a 
Fazenda Nacional concorda com o comando sentencial, inclusive 
com os cálculos apresentados, renunciando ao prazo recursal, 
contudo, no cumprimento da sentença, sem qualquer mudança do 
valor, apresenta impugnação sob a alegação de excesso de 
execução, a atuação da Fazenda, nesse caso, pode ser 
interpretada como venire contra factum proprium. 
 
3. Inalegabilidade de nulidades formais 
Decorre, para muitos, do próprio venire contra factum proprium. 
Trata-se da proibição da alegação dos vícios formais por quem lhe 
deu causa, intencionalmente ou não. 
O CPC repele a ideia de forma lúcida, quando diz: 
Art. 276. Quando a lei prescrever determinada forma sob pena de 
nulidade, a decretação desta não pode ser requerida pela parte que 
lhe deu causa. 
 
4. Supressio 
Supressão de determinada posição jurídica em razão da ausência 
do exercício de determinado direito em um certo espaço de tempo. 
Exemplo da Fazenda: 
Imagine que Fazenda Pública seja obrigada, por tutela antecipada 
de urgência, a entregar determinado medicamento ao autor da ação 
sob pena de multa no valor de R$ 1.000,00 por dia de 
descumprimento, após 30 dias de prazo. No 20º dia do prazo, a 
Fazenda solicita endereço do autor para a entrega do medicamento. 
Intimado, o autor demora mais 100 dias para informar o endereço e 
depois intenta executar a multa pelo período em que a Fazenda não 
entregou o medicamento, aguardando a informação do endereço. 
Ao ser responsável pelo tempo de aplicação da multa no processo, 
pela supressio, o autor perde o direito ao recebimento da multa ao 
atuar sem boa-fé processual. 
 
5. Surrectio 
É o contrário da supressio, a perda da pretensão pela supressio, 
gera direito da parte contrária. 
No caso anterior, a Fazenda Pública tem a pretensão de ver 
cancelada ou de não se submeter à cobrança da multa em razão 
da supressio da parte autora. 
 
6. Tu quoque 
Impossibilidade de exigir da outra parte o cumprimento da regra que 
se está transgredindo. 
Exemplo material mais rico de tu quoque está no art. 180, CC/2002, 
que estabelece que o “menor, entre dezesseis e dezoito anos, não 
pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se 
dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no 
ato de obrigar-se, declarou-se maior” ou mesmo a exceção de 
contrato não cumprido do art. 476 do CC/02, ou seja, enquanto uma 
parte não cumpre sua obrigação não pode exigir o cumprimento da 
obrigação da parte contrária. 
No processo civil, temos exemplo nítido no art. 787: 
Art. 787. Se o devedor não for obrigado a satisfazer sua prestação 
senão mediante a contraprestação do credor, este deverá provar 
que a adimpliu ao requerer a execução, sob pena de extinção do 
processo. 
 
 Enunciados do FPPC (Fórum Permanente Processualistas 
Civis) – Boa-Fé Processual 
Enunciado n. 6 
O negócio jurídico processual não pode afastar os deveres 
inerentes à boa-fé e à cooperação. 
Enunciado n. 374 
O art. 5º prevê a boa-fé objetiva. 
Enunciado n. 375 
O órgão jurisdicional também deve comportar-se de acordo com a 
boa-fé objetiva 
Enunciado n. 376 
A vedação do comportamento contraditório aplica-se ao órgão 
jurisdicional. 
Enunciado n. 377 
A boa-fé objetiva impede que o julgador profira, sem motivar a 
alteração, decisões diferentes sobre uma mesma questão de direito 
aplicável às situações de fato análogas, ainda que em processos 
distintos. 
 
Enunciado n. 378 
A boa fé processual orienta a interpretação da postulação e da 
sentença, permite a reprimenda do abuso de direito processual e 
das condutas dolosas de todos os sujeitos processuais e veda seus 
comportamentos contraditórios. 
Enunciado n. 405 
Os negócios jurídicos processuais devem ser interpretados 
conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. 
Enunciado n. 407 
Nos negócios processuais, as partes e o juiz são obrigados a 
guardar nas tratativas, na conclusão e na execução do negócio o 
princípio da boa-fé.

Continue navegando