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MARX, K; FOSTER, B Metabolismo entre natureza e sociedade e crítica da economia política

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Referências: 
FOSTER, J. B. A ecologia de Marx: materialismo e natureza. 
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.
MARX, K. O Capital: crítica da economia política. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2006.
Metabolismo entre natureza e sociedade e crítica da economia política em Karl Marx 
Aspectos gerais do capitalismo
Mercadoria
Os valores-de-uso constituem o conteúdo material da riqueza, qualquer que seja a forma social dela. Na forma de sociedade que vamos estudar, os valores-de-uso são, ao mesmo tempo, os veículos materiais do valor-de-troca. [...] Enquanto valores de uso, as mercadorias são, antes de tudo, diferentes quanto a qualidade; como valores de troca só podem diferir por sua quantidade, e não contém, por conseguinte, nenhum átomo de valor de uso
(MARX, K. O Capital. Livro I. pp. 58-60).
[...] se colocamos de lado o valor de uso do corpo das mercadorias, unicamente lhes restará uma propriedade: a de serem produtos do trabalho. 
Com o caráter útil dos produtos do trabalho se desvanece o caráter útil dos trabalhos representados neles e, por fim, se desvanecem também as diversas formas concretas desses trabalhos; estes deixam de distinguir-se, reduzindo-se em sua totalidade a trabalho humano indiferenciado, a trabalho abstratamente humano. [...] 
Enquanto cristalizações dessa substância social comum a elas [as mercadorias], são valores (Op. cit., p. 61). 
Extraindo-se a totalidade dos diferentes trabalhos úteis incorporados ao casaco, ao linho etc., resta sempre um substrato material, que a natureza, sem interferência do homem, oferece. O trabalho não é, por conseguinte, a única fonte dos valores-de-uso que produz, da riqueza material. 
Conforme diz Willam Petty, o trabalho é o pai, mas a mãe é a terra. 
Como valores, casaco e linho são coisas de igual substância, expressões objetivas de trabalho de natureza igual (Op. cit., p. 65). 
 A troca simples de mercadorias 
 (M – M)
O dinheiro como equivalente geral das trocas
 (M – D – M)
 O dinheiro como capital
 (D – M – D’)
 A forma desenvolvida do capital
 (D – M – M’ – D’)
 O capital financeiro
 (D – D’)
Síntese da produção capitalista 
Capital constante (C) = Meios de produção 
Capital variável (V) = Força de trabalho remunerada
Mais-valia (MV) = Força de trabalho não remunerada
C + V = M (valor do capital adquirido/demandado)
C + V + MV = M’ (valor produzido/ofertado)
O processo histórico capitalista
Acumulação primitiva de capital
Marcam época, na história da acumulação primitiva, todas as transformações que servem de alavanca à classe capitalista em formação, sobretudo aqueles deslocamentos de grandes massas humanas, súbita e violentamente privadas de seus meios de subsistência e lançadas no mercado de trabalho como levas de proletários destituídas de direitos (Op. Cit., pp. 829-830).
“Toda produção”, escreveu Marx nos Grundrisse, “é apropriação da natureza por parte de um indivíduo no interior de e através de uma forma específica de sociedade”. 
[...] o sistema da propriedade privada capitalista, distinto tanto da propriedade comunal quanto da propriedade privada enraizada na propriedade da terra pelo trabalhador-agricultor individual, surge através da ruptura de qualquer conexão direta entre a massa da população e a terra. 
Daí um “pressuposto” para desenvolvimento do trabalho assalariado capitalista ser “[...], acima de tudo, a liberação do trabalhador do solo como sua oficina natural” 
(FOSTER, J., A Ecologia de Marx. p. 238).
Cooperação
A produção capitalista só começa realmente quando um mesmo capital particular ocupa, de uma só vez, número considerável de trabalhadores, quando o processo de trabalho amplia sua escala e fornece produtos em maior quantidade. 
Nos seus começos, a manufatura quase não se distingue, do ponto de vista do modo de produção, do artesanato das corporações, a não ser através do número maior de trabalhadores simultaneamente ocupados pelo mesmo capital 
(MARX, K. O Capital. Livro I. p. 375). 
Mesmo não se alterando o método de trabalho, o emprego simultâneo de grande número de trabalhadores opera uma revolução nas condições materiais do processo de trabalho (Op. Cit., p. 377).
Chama-se cooperação a forma de trabalho em que muitos trabalham juntos, de acordo com um plano, no mesmo processo de produção ou em processos de produção diferentes, mas conexos 
(Op. Cit., p. 378).
Antes de tudo, [...] o objetivo que determina o processo de produção capitalista é a maior expansão possível do próprio capital, portanto, a maior exploração possível da força de trabalho (Op. Cit., p. 384).
Com a quantidade dos trabalhadores simultaneamente empregados, cresce sua resistência, e com ela, necessariamente, a pressão do capital para dominar essa resistência. 
A direção exercida pelo capitalista não é apenas uma função especial, derivada da natureza do processo de trabalho social e peculiar a esse processo; além disso, ela se destina a explorar um processo de trabalho social, e, por isso, tem por condição o antagonismo inevitável entre o explorador e a matéria-prima de sua exploração (Op. Cit., p. 384).
Divisão do Trabalho e Manufatura
A cooperação fundada na divisão do trabalho adquire sua forma clássica na manufatura. Predomina como forma característica do processo de produção capitalista durante o período manufatureiro propriamente dito, que, grosso modo, vai de meados dos século XVI ao último terço do século XVIII (Op. Cit., p. 391).
Na sociedade capitalista, condicionam-se reciprocamente a anarquia da divisão social do trabalho e o despotismo da divisão manufatureira do trabalho (Op. Cit., p. 411).
Na manufatura, o enriquecimento do trabalhador coletivo e, por isso, do capital em forças produtivas sociais realiza-se à custa do empobrecimento do trabalhador em forças produtivas individuais (Op. Cit., pp. 416-417).
Uma vez que a habilidade manual constituía o fundamento da manufatura e que o mecanismo coletivo que nela operava não possuía nenhuma estrutura material independente dos trabalhadores, lutava o capital constantemente contra a insubordinação do trabalhador (Op. Cit., p. 423).
Uma das suas obras mais perfeitas foi a oficina para produção de ferramentas e ainda dos mais complicados aparelhos mecânicos, que já eram aplicados em algumas manufaturas. 
Essa oficina [...] produziu, por sua vez, máquinas. Estas eliminam o ofício manual como princípio regulador da produção social. [...] E caíram as barreiras que aquele princípio opunha ao domínio do capital (Op. Cit., p. 424).
A lei geral da acumulação capitalista
Não se alterando a composição do capital, a procura da força de trabalho aumenta com a acumulação
O decréscimo relativo da parte variável do capital com o progresso da acumulação e da concentração que a acompanha
Produção progressiva de uma superpopulação relativa ou de um exército industrial de reserva
As formas de existência da superpopulação relativa. A lei geral da acumulação capitalista
A superpopulação relativa existe sob os mais variados matizes. Todo trabalhador dela faz parte durante o tempo em que está desempregado ou parcialmente empregado. As fases alternadas do ciclo industrial fazem-na aparecer ora em forma aguda, nas crises, ora em forma crônica, nos períodos de paralização. Mas, além dessas formas principais que se reproduzem periodicamente, assume ela, continuamente, as três formas seguintes: flutuante, latente e estagnada (Op. Cit., p. 744).
Quanto maiores a riqueza social, o capital em função, a dimensão e energia do seu crescimento e, consequentemente, a magnitude absoluta do proletariado e da força produtiva do seu trabalho, tanto maior o exército industrial de reserva. 
E, ainda, quanto maiores essa camada de lázaros da classe trabalhadora e o exército industrial de reserva, tanto maior, usando-se a terminologia oficial, o pauperismo. 
Esta é a lei geral [...] da acumulação capitalista. Como todas as outras leis, é modificada em seu funcionamento por muitascircunstâncias que não nos cabe analisar aqui (Op. Cit., p. 748).
Contradições sociais e ecológicas
 do desenvolvimento capitalista
A palavra alemã “Stoffwechsel” implica diretamente [...] uma noção de “troca material” subjacente à noção dos processos estruturados de crescimento e decadência biológicos englobados pelo termo “metabolismo”. 
Na definição do processo de trabalho Marx tornou o conceito de metabolismo central a todo o seu sistema de análise, enraizando nele a sua compreensão do processo de trabalho 
(FOSTER, J., Op. cit. p. 229).
Na economia política desenvolvida de Marx, tal como apresentada no Capital, o conceito de “metabolismo” foi empregado para definir o processo de trabalho como “um processo entre o homem e a natureza, um processo pelo qual o homem, através das suas próprias ações, medeia, regula e controla o metabolismo entre ele mesmo e a natureza”. 
Mas uma “falha (rift) irreparável” surgiu nesse metabolismo em decorrência das relações de produção capitalistas e da separação antagonista entre cidade e campo (Op. cit. p. 201).
Um componente essencial do conceito de metabolismo sempre foi a noção de que ele constitui a base que sustenta a complexa teia de interações necessária à vida e viabiliza o crescimento. 
Marx empregou o conceito de “falha” na relação metabólica entre os seres humanos e a terra para captar a alienação material dos seres humanos dentro da sociedade capitalista das condições naturais que formaram a base da sua existência – o que ele chamou “a[s] perpétua[s] condição[ões] da existência humana imposta[s] pela natureza” (Op. cit. p. 229)
“A produção capitalista”, observou Marx, “volta-se para a terra só depois que esta foi exaurida pela sua influência e depois que as suas qualidades naturais foram por ela devastadas”. 
Para Marx, assim como para Liebig, a incapacidade de devolver ao solo os nutrientes que haviam sido removidos na forma do alimento e das fibras encontrava a sua contrapartida na poluição das cidades e na irracionalidade dos modernos sistemas de esgoto (Op. cit. p. 229).
“A moral da história”, escreveu Marx no volume 3 do Capital, “... é que o sistema capitalista corre no sentido inverso a uma agricultura racional, ou que uma agricultura racional é incompatível com o sistema capitalista (mesmo que este último promova o desenvolvimento técnico da agricultura) e precisa ou de pequenos agricultores trabalhando por conta própria ou do controle dos produtores associados” (Op. cit. p. 232). 
Sociedade de produtores associados
A condição prévia do capitalismo é a retirada em massa da população do solo, que possibilita o desenvolvimento histórico do próprio capital. Isto assume a forma de uma crescente polarização das classes da população entre ricos e pobres, da separação antagônica entre cidade e campo. 
Para Marx, tudo isto era [...] um subproduto lógico do que ele chamava a “differentia specifica” do sistema capitalista – o fato de estar construído sobre a alienação sistemática de todas as formas de necessidade de base natural (Op. cit. p. 243).
A extrema polarização decorrente entre, num extremo, uma riqueza que não tem limites e, no outro, uma existência alienada, explorada, degradada que constitui a negação de tudo que é mais humano, cria uma contradição que atravessa o sistema capitalista como uma linha de falha. [...] que distorce e restringe o desenvolvimento do trabalho social acaba por “estourar, anunciando o fim da propriedade privada capitalista. Os expropriadores são expropriados” (Op. cit. p. 243).
Porém, Marx insiste continuamente em que a alienação da terra é o sine qua non do sistema capitalista. 
A transformação do capitalismo, a abolição do trabalho assalariado e a criação de uma sociedade de produtores associados exigiam assim a abolição desta alienação dos seres humanos da terra. 
O argumento deles envolvia a abolição da relação antagônica entre cidade e campo através da integração da agricultura e indústria, dispersão da população e o que Marx se referia como a “restauração” da relação metabólica entre os seres humanos e a terra 
(Op. cit. pp. 243-244).
A revolução contra o capitalismo exigia pois não só a derrubada das suas relações específicas de exploração do trabalho, mas também a transcendência – através da regulação racional da relação metabólica entre os seres humanos e a natureza mediante a moderna ciência e indústria – da alienação da terra: o derradeiro fundamento/ precondição do capitalismo. 
Só nestes termos é que o frequente pleito de Marx pela “abolição do trabalho assalariado” faz algum sentido (Op. cit. p. 246).

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