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Fatores inerentes ao Direito

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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA 
FACULDADE DE DIREITO 
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DO DIREITO 
PROF. JOSEMAR ARAÚJO – 
josemar@josemararaujo.com 
FOLHA DE APOIO 08 
 
Fatores Inerentes ao Direito 
 
A variação a que o Direito está sujeito não é ilimitada. Há 
setores que, por já se acharem sistematizados de acordo 
com o Direito Natural e com as peculiaridades regionais, 
sofrem lentas e eventuais reformulações.A Sociologia do 
Direito estuda os fatores jurídicos, que são responsáveis 
pela criação e aceleração dos institutos de Direito. Há dois 
grupos de fatores jurídicos: os naturais e os culturais. 
 
 Princípios Metodológicos 
 
O estudo dos fatores do Direito deve ser precedido pelo 
exame dos princípios metodológicos aplicáveis à matéria. 
Esses critérios operacionais orientam ao pesquisador 
quanto ao processo de investigação e na fase de 
conclusões, evitando a falsa interpretação de resultados. 
Entre os princípios metodológicos básicos, podem ser 
mencionados os seguintes: interferência das causas; a 
distinção dos fatores em categorias e a distinção entre 
eficácia direta e indireta. 
 
Interferência das Causas - Os fenômenos sociais são 
sempre dotados da máxima complexidade, pois não 
decorrem de um fator exclusivo, mas de uma pluralidade 
deles. Ao pesquisador cumpre constatar quais são estas 
causas que, reciprocamente se influenciando, compõem a 
chamada interferência das causas. Conhecidos os vários 
fatores, deve-se apurar em que medida ou proporção 
contribuíram na formação do fenômeno social. Esta parte 
se revela como a mais difícil da investigação. 
 
 Distinção dos Fatores em Categorias - Quanto mais a 
sociedade evolui, aumenta a complexidade dos fenômenos 
sociais. Os fatores não se apresentam sempre de modo 
idêntico. Não se repetem quantitativamente, porque sempre 
surgem novos fatores. Qualitativamente também não se 
repetem, porque o grau de eficácia dos fatores varia com a 
evolução social. Assim é que, enquanto nos tempos 
primitivos a interferência das causas se dava 
fundamentalmente pelos fatores naturais, de vez que os 
homens viviam dominados pela natureza, modernamente, à 
medida em que o homem progride culturalmente, a 
hegemonia das causas se transfere para os fatores 
históricos ou culturais, que são criações sociais. A evolução 
social não se apresenta uniforme e predeterminada, porque 
a evolução dos fatores de que depende também não possui 
esses caracteres. 
 
 Eficácia Direta e Indireta dos Fatores - Há fatores que 
atuam diretamente sobre o fenômeno social e há os que 
revelam a sua eficácia por intermédio de outros, como 
ocorre na maioria dos fatores naturais, que só 
indiretamente exercem influência sobre os fenômenos 
sociais. Em relação aos fatores de eficácia indireta, 
desejando o homem neutralizar os seus efeitos deverá 
escolher, na cadeia causal, o fator mais conveniente para 
ser enfrentado. Exemplo: uma região insalubre, portadora 
de insetos transmissores de malária, constitui um desafio 
para o homem, que poderá atacar a causa imediata, 
ingerindo preventivamente quinino, ou a anterior, 
providenciando a dessecação de pântanos. 
 
Fatores Naturais do Direito 
 
Estes fatores são os determinados pelo reino da natureza, 
que exerce um amplo condicionamento sobre o homem, no 
tocante à sobrevivência, ao espaço vital e à criação dos 
objetos culturais. Os diversos fatores naturais podem ser 
agrupados nos seguintes tipos: geográficos; demográficos; 
antropológicos. 
 
Fator Geográfico - Entre os fatores geográficos merecem 
atenção especial: clima, recursos naturais e território. 
 
O Clima é um fator de eficácia indireta, que influi no 
crescimento e no comportamento humano. Nos países de 
clima frio, por exemplo, o pleno desenvolvimento físico do 
homem se processa mais lentamente em relação aos que 
vivem em regiões quentes. A mulher adquire a capacidade 
física para ser mãe, geralmente em idade superior à 
daquelas que habitam em regiões de maior temperatura. 
Este fato, no Direito, vai influenciar na fixação da idade 
nupcial. 
 Recursos Naturais - O mundo atual é o da tecnologia, dos 
aparelhos, dos objetos culturais. A matéria-prima utilizada 
na industrialização desses bens é fornecida pela natureza, 
extraída de suas diversas jazidas e fontes. Os minerais, o 
petróleo, flora, fauna, águas são recursos que a natureza 
oferece ao homem e que, por sua importância e limitação, 
têm a sua exploração regulamentada por leis. 
 
 O Território. As características de um território 
influenciam no regime de vida, nas formas de habitação, na 
economia e na organização social de um povo. A 
adaptação do homem à superfície da Terra é uma 
providência imediata, com prioridade em relação a outros 
interesses. Os grupos sociais, no correr da história, deram 
preferência às regiões mais favoráveis ao cultivo da terra. A 
localização das terras em relação aos rios, mares e 
montanhas, as riquezas naturais e as diversas distâncias 
são outros aspectos fundamentais à fixação dos grupos 
sociais em um território. Quanto ao elemento distância, em 
face do atual desenvolvimento dos meios de comunicação, 
tornou-se uma condição apenas relativa. O polígono das 
secas, em nosso país, por suas peculiaridades, tem sido 
objeto de várias leis de proteção, o que exemplifica a 
importância do fator geográfico na formação do Direito. 
 
Fator Demográfico 
 
 A maior ou menor concentração humana por quilômetro 
quadrado, em um território, é fator importante à vida de um 
país. O equilíbrio entre o espaço vital e o número de 
habitantes é o ponto ideal, pois favorece, de um lado, a 
segurança do território e, do outro, a solução dos 
problemas de habitação e alimentação. Para obter esse 
nível, os Estados utilizam-se da legislação. Os países de 
baixo índice demográfico têm interesse em incentivar a 
natalidade e em atrair o estrangeiro com mão de obra 
qualificada. Para tal fim, as leis devem ser favoráveis aos 
imigrantes e facilitar o seu processo de naturalização. Já os 
países que possuem grande densidade demográfica 
adotam política de desestímulo à imigração, incentivam o 
controle da natalidade e alguns chegam a liberar a prática 
do aborto. 
 
Fatores Culturais do Direito 
 
Entre os fatores culturais, também chamados históricos, 
aqueles produzidos pelo homem, destacam-se como 
principais: Econômico, Invenções, Moral, Religião, 
Educação e Ideologia. 
 
Fator Econômico - Este fator refere-se às riquezas e pode 
ser avaliado pecuniariamente. É de capital importância na 
formação e evolução do Direito. Na árvore jurídica, há 
ramos que possuem grande conteúdo econômico, como 
acontece, com o Direito Comercial, o do Trabalho, 
Tributário, Civil, especialmente quanto aos direitos reais, 
obrigacionais e sucessórios. Há correntes de pensamento 
que sustentam a tese de que o Direito subordina-se 
inteiramente a esse fator, defendendo, assim, a teoria do 
monismo econômico. Para o materialismo histórico, a 
economia compõe a infraestrutura da vida social e 
determina a superestrutura, composta pelo Direito, Moral, 
Política, Religião, entre outros. A influência do fator 
econômico no Direito, como já se afirmou, é uma realidade, 
porém, não é menos real a influência do Direito sobre os 
processos econômicos. 
 
Invenções . As ciências se desembocam nas técnicas, 
através das invenções. Ao conhecer as leis da natureza, o 
homem da ciência procura tirar proveito do conhecimento 
obtido, aplicando-o de acordo com as necessidades 
humanas. Esta forma de inovar é representada pelas 
invenções, que provocam novos hábitos e costumes, indo 
determinar a evolução nas instituições jurídicas, de vez que 
estas devem ser um reflexo da realidade social. O 
legislador não pode prevenir-se, aguardando as invenções, 
porque estas são imprevisíveis. Este fator foi também 
enfatizado por Gabriel Tarde, para quem "o futuro jurídico 
será o que o fizerem as invenções por nascer..." 
 
Moral - A Moral favorece o Direito Positivo, emprestando-
lhe valores. O Direito, contudo,não é de todo programado 
pela Moral. Esta não é, como já se afirmou, onipresente no 
território jurídico. Há matérias de indagação no Direito 
estranhas ao setor da Moral. Apesar desse coeficiente de 
competência própria, o Direito se revela sensível às 
mutações que ocorrem na Moral social, acompanhando 
essa evolução, a fim de adaptar-se às novas necessidades 
sociais. 
 
Religião - Se na Antiguidade o Direito se achava 
subordinado à Religião, no presente ambos constituem 
processos independentes, que visam a objetivos distintos. 
De um fator de eficácia direta no passado, a Religião, hoje, 
atua como fator que apenas indiretamente influencia o 
fenômeno jurídico. Como o homo religiosus é participante 
no processo social, contribui para o modo de pensar e 
sentir, na formação da vontade social. Como um traço a 
marcar ainda a presença da Religião no ordenamento 
jurídico de nosso país, a lei civil admite efeitos jurídicos ao 
casamento religioso,mediante certas exigências. 
 
Ideologia - As tendências da ordem jurídica estão 
diretamente ligadas à ideologia consagrada pelo poder 
social. Cada ideologia corresponde a uma concepção 
distinta de organização social e reúne valores específicos. 
Enquanto os países socialistas modelam o seu Direito, 
colocando o corpo social em primeiro plano e o indivíduo 
em plano secundário, o liberalismo é de natureza 
individualista, reconhece a autonomia da vontade 
individual. O nacionalismo é outra ideologia fortemente 
influenciadora na ordem jurídica, sobretudo na área política 
e econômica. O Direito se limita a proporcionar a técnica 
formal, já que o conteúdo de fundo é dado pelas 
concepções ideológicas que imperam no grupo dominante. 
 
Educação - O progresso de uma sociedade pressupõe o 
seu desenvolvimento no campo técnico e científico. É 
através da educação que se pode dotar o corpo social de 
um status intelectual, capaz de promover a superação de 
seus principais problemas. Para assegurar o conhecimento, 
a cultura, a pesquisa, o Estado utiliza-se de numerosas leis 
que organizam a educação em todos os seus níveis.' 
 
Forças Atuantes na Legislação 
 
Os fatores jurídicos, por seu próprio significado, podem 
levar o legislador a elaborar novas leis, espontaneamente, 
ou podem ser postos mediante apoio ou instrumento de 
certas forças atuantes na sociedade, como a política, a 
opinião pública, os grupos organizados e as chamadas 
medidas de hostilidade. 
 
 Política - Cada segmento político deve corresponder a um 
ideário de valores sociais, ligado à organização da 
sociedade em seu amplo sentido. Em função de sua linha 
doutrinária, cada partido político deve movimentar-se, a fim 
de que suas teses se realizem 
concretamente. 
 
Opinião Pública - A opinião pública se manifesta, 
eventualmente, em relação às leis. Tal ocorre, 
notadamente, quando a atenção do povo é despertada por 
algum caso particular, da sua simpatia, e que não encontra 
amparo na ordem jurídica vigente. Dá-se então o 
sobressalto da opinião pública. Esta, através das mais 
variadas formas (artigos de jornais, rádio e televisão, cartas 
e telegramas), exerce pressão sobre o poder social, no 
sentido de modificar a ordem jurídica. 
 
 Grupos Organizados - Na defesa de seus interesses 
comuns, as pessoas procuram se organizar em grupos 
conforme as diversas classes, a fim de alcançar maior força 
e prestígio perante as autoridades públicas. Exemplos: 
sindicatos, associação de inquilinos, sociedades pró-
melhoramentos de bairros etc., que lutam junto ao poder 
público pleiteando em favor de seus interesses e muitas 
vezes influenciando na legislação. 
 
Medidas de Hostilidade - A greve do trabalhador, o 
lockout, a greve dos contribuintes, o engarrafamento do 
trânsito, são algumas medidas hostis, utilizadas a fim de 
pressionar o poder público quanto ao atendimento de 
reivindicações. 
 
Direito e Revolução 
 
Enquanto os fatores jurídicos provocam uma evolução 
gradativa no Direito, o fato histórico de uma revolução 
desencadeia, necessariamente, rápidas e amplas 
modificações na área do Direito Público. A revolução é um 
acontecimento político motivado pela insatisfação 
social quanto às instituições e regime vigentes. Caracteriza-
se por uma dupla ação: intelectual e de força. Pressupõe 
idealismo, que se funda em novas concepções, em uma 
ideologia que se pretende implantar na organização social. 
Imbuído pelo chamado espírito revolucionário, o grupo que 
destitui os governantes e assume o poder deve iniciar o 
trabalho de reformulação social, de acordo com a filosofia 
preconizada. 
 
É com essa mudança efetiva que a revolução se completa. 
Se o movimento contraria o sistema de legalidade do 
Estado, cria-se uma nova ordem jurídica. O novo Direito 
criado baseia-se no apoio popular, Revolução implica 
adesão social. 
 
A possibilidade de instauração de um novo Direito, 
notadamente o Constitucional, é básica, pois da luta 
revolucionária , surge um novo instrumental jurídico capaz 
de dar validade e eficácia às transformações que visa a 
operar no quadro social. 
 
Os efeitos jurídicos que os chamados "golpes de Estado" 
causam são menores que os promovidos pelas revoluções, 
isto pelo fato de objetivarem apenas a queda de um 
governo e a consequente ascensão do grupo que se tornou 
vitorioso pelo emprego da força. Normalmente os 
movimentos desse tipo não se fazem acompanhar de 
maiores alterações no Direito Positivo, sendo comum, 
inclusive, a permanência da constituição vigente. 
 
Fonte: : NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 
26. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012.

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