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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA _ VARA CÍVEL DA COMARCA DE SÃO PAULO DO ESTADO XXX Mariana Bastos, estado civil, união estável, empresária, inscrita no CPF sob o nº xxx, possuindo o RG sob o nº xxx, endereço eletrônico, domiciliada e residente em São Paulo, vem por intermédio do seu bastante procurador signatário (documento de procuração em anexo), e-mail, com escritório profissional localizado a xxxxx, vem, respeitosamente perante Vossa Excelência, nos termos dos artigos 158 e 161, ambos do Código de Processo Civil, PROPOR: AÇÃO PAULIANA Em face de Andrea Richard, estado civil, união estável, administradora, inscrita no CPF sob o nº xxx, possuindo o RG sob o nº xxx, endereço eletrônico, residente e domiciliada no endereço xxxxx, em São Paulo, e, como litisconsorte passivo necessário: Roberta Richard, estado civil, união estável, advogada, inscrita no CPF sob o nº xxx, possuindo o RG sob o nº xxx, endereço eletrônico, residente e domiciliada no endereço xxxxx, em São Paulo. Em razão das justificativas de ordem fática e de direito, devidamente citadas. I - DOS FATOS Ocorre que, Andrea Richard, solicitou um empréstimo no valor de R$ 180.000,00 (cento e oitenta mil reais) de Mariana Bastos. Empréstimo que foi realizado para pagamento no prazo de 60 dias, sabendo se da amizade entre as partes e do livre conhecimento de que Andrea possuía vínculo empregatício em uma renomada universidade privada, ocupando cargo de diretora financeira, logo possuía renda para o devido pagamento. Entretanto, exatamente no último dia do prazo determinado, Mariana notificou extrajudicialmente Andrea para que essa realizasse o pagamento. Porém, Andrea informou para Mariana que não tinha recurso suficiente para fazer o adimplemento da dívida, mesmo essa possuindo um veículo da marca Land Rover Discovery Sport HSE 2.0 Diesel, avaliado em R$ 200.000,00. Com tudo, a requerente, tomou conhecimento três semanas após a notificação extrajudicial de que Andrea a fez, agindo de má fé, a doação do seu veículo para Roberta sua irmã, advogada, que, em conluio, aceitou a doação com intuito de esvaziar o patrimônio e não assumir o adimplemento do empréstimo que solicitou de Mariana. II – DA LEGITIMIDADE CONCORRENTE Aborda-se a legitimidade da parte ré, sobre litisconsórcio passivo necessário, tendo em vista de ambas terem interesse de agir e legitimidade. Afinal, o objeto da ação é o carro doado a corré. Consequentemente, esta possui interesse e legitimidade de ser parte na presente ação. Observa-se o que aduz os artigos 113 e 114, ambos do CPC: Art. 113. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente, quando: I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à lide; (...) Art. 114. O litisconsórcio será necessário por disposição de lei ou quando, pela natureza da relação jurídica controvertida, a eficácia da sentença depender da citação de todos que devam ser litisconsortes. Com base nos artigos supracitados, por lei, o litisconsórcio será necessário, observando que a corré possui o direito de ser informada acerca do conteúdo do processo, bem como ser chamada à lide para se defender e assim, cumprir com o preceito fundamental, constitucional do contraditório e ampla defesa. É o que segue no artigo 5º, LV da CF/88. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; (...) Com fundamento nos artigos supracitado, o caso presente, demanda a vertente de litisconsórcio passivo necessário. Para melhor compreensão, assim entende o Tribunal do Estado de Minas Gerais acerca do assunto: EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO PAULIANA. SENTENÇA. NULIDADE DE OFÍCIO. FORMAÇÃO DE LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO UNITÁRIO. CITAÇÃO DA PARTE QUE ADQUIRIU O IMÓVEL "SUB JUDICE" DA DEVEDORA, EM FRAUDE CONTRA CREDORES. IMPRESCINDÍVEL. - Na ação pauliana, o devedor insolvente e a pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta, devem figurar no polo passivo, em litisconsórcio necessário unitário. (TJMG - Apelação Cível 1.0335.14.000731-1/001, Relator(a): Des.(a) Aparecida Grossi , 17ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 25/06/2020, publicação da súmula em 17/07/2020). Neste viés, é fácil vislumbrar ser fundamental a ocorrência do litisconsórcio passivo necessário, com base em todo o exposto. III - DOS FUNDAMENTOS JURIDICOS A princípio, vale mencionar a responsabilidade patrimonial do devedor, o qual responde com todos os seus bens, sejam eles, presentes e futuros, para o devido cumprimento de suas obrigações e liquidação de suas dívidas. Afirmação baseada no artigo 789 do Código de Processo Civil. Logo, cabe frisar que a presente ação é a via judicial correta, tendo em vista que o intuito desta ação é anular ato fraudulento, frustrando, assim, a fraude contra credores. A autora sofreu sério dano, prejuízo causado pelas rés, que agiram de má-fé, em conluio, com o objetivo de se esquivar do pagamento da dívida pactuada, fraudando, assim o cumprimento da obrigação. A fraude contra credores e a devida anulação do ato ilícito, serão devidamente provadas, abordando o nexo de causalidade entre estas. Pois bem, como já explanado nos fatos, ao norte desta redação, a ré, Andrea Richard, contraiu empréstimo em face da autora, no entanto, ao receber a notificação extrajudicial quis de desfazer de seu único bem, um veículo avaliado em R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), doando para sua irmã, no intuito de desviar-se de sua obrigação, fraudando sua dívida para com a credora. Ora, a ré efetuou a doação a sua irmã, corré na presente ação, na mesma semana que recebeu a notificação extrajudicial, acerca do pagamento de sua dívida. Ou seja, já estava insolvente e com indícios suficientes de sua má-fé, em conluio com sua irmã, terceira interessada. Veja-se o que aduz os artigos 158 e 159 do Código Civil: Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos. Art. 159. Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante. Portanto, pelo exposto acima, nota-se preenchidos os requisitos que caracterizam a fraude. Sejam eles: eventos damni, no ato da doação do bem, causando prejuízo a credora; consilium fraudis, má fé da devedora em conluio com terceira, para prejudicar a credora. Tendo em vista que o veículo era seu único bem capaz de liquidar a dívida. Logo, fica cristalino o nexo de causalidade entre o ato ilícito e a intenção de fraudar a credora. Em concordância com os argumentos supra, Andrea Richard, ao transmitir seu bem de forma gratuita, a sua irmã, litisconsorte na presente ação, praticou ato definido como de forma ilícita denominada de fraude contra credores. Com fulcro no artigo 171, II do CC: Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. Analisando o artigo acima mencionado, e sendo a autora parte legítima ao constitui-se como credora, requer de Vossa Excelência a devida anulação do negócio jurídico que causou frustração da execução, ocasionando o inadimplemento da dívida. Veja-se como os tribunais estão decidindo: EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO PAULIANA - FRAUDE CONTRA CREDORES - ANTERIORIDADE DO CRÉDITO - NEGÓCIO JURÍDICO CELEBRADO ENTRE PARENTES - INSOLVÊNCIA DA DEVEDORA - REQUISITOS DEMONSTRADOS - PROCEDÊNCIADO PEDIDO INICIAL - INEFICÁCIA - RECURSO PROVIDO. - São três os requisitos para a tipificação da fraude contra credores: a anterioridade do crédito, o consilium fraudis (elemento subjetivo), que se refere à intenção do devedor em prejudicar, lesar o credor, mediante a realização do ato fraudulento, e o eventus damni (elemento objetivo), consubstanciado em ato prejudicial ao credor, por encontrar-se, o devedor, insolvente, ou por ter sido praticado em estado de insolvência - Restando devidamente evidenciado nos autos os pressupostos para o reconhecimento da fraude contra credores, a procedência da pretensão inicial é medida que se impõe. (TJ-MG - AC: 10481140098247001 MG, Relator: Shirley Fenzi Bertão, Data de Julgamento: 11/04/2018, Data de Publicação: 19/04/2018). EMENTA: PELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO PAULIANA - PRELIMINAR DE CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA - PRODUÇÃO DE PROVA INDEFERIDA - PROVA INÚTIL - REJEITAR - FRAUDE CONTRA CREDORES - INSOLVÊNCIA - CONCLUIO FRAUDULENTO - EVENTUS DAMNI E CONSILIUM FRAUDIS - REQUISITOS PRESENTES. - Existindo nos autos prova suficiente a formar o convencimento do juiz, não se deve admitir a produção de provas inúteis, irrelevantes ou desnecessárias. - Pela dicção literal dos artigos 158 e 159 do Código Civil, infere-se que a preexistência das condições de credor e devedor é antecedente lógico necessário à ação pauliana, que trata exatamente da fraude contra credores. - Para que haja ocorrência de fraude contra credores é necessária a configuração de seus requisitos: eventus damni e consilium fraudis. - Deve-se manter a sentença que julgou procedente a ação pauliana, quando restaram configurados e comprovados os requisitos da fraude contra credores, quais sejam, o eventus damni e o consilium fraudis. (TJMG -Apelação Cível 1.0205.15.000846-9/001, Relator(a): Des.(a) Pedro Aleixo , 16ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 19/02/2020, publicação da súmula em 06/03/2020) Pois bem, restou provado, o cumprimento dos requisitos para o deferimento da presente ação. III - DOS PEDIDOS Ante o exposto, requer: a) Designação de audiência de conciliação, com fulcro no artigo 319, VII, do CPC; b) Requer a citação das rés, nos termos do art. 238, e seguintes do CPC, para, querendo, contestar o pedido e comparecer às audiências designadas; c) Que Vossa Excelência se digne a julgar procedente a presente ação, deferindo o pedido de anulação do negócio jurídico, ou seja, da doação do veículo, marca Land Rover Discovery HSE, 2.0, Diesel, revogando o ato ilícito, com base nos artigos 158 c/c 171, II, ambos do CPC, voltando o bem doado ao patrimônio da devedora, no intuito de frustrar a fraude contra a credora; d) Protesta por todos os meios de prova admitidos em juízo, notadamente prova documental, pericial, e testemunho das partes. e) Requer, outrossim, a condenação das rés ao pagamento de custas processuais e honorários advocatícios de sucumbência, nos termos do artigo 82 e 85, caput, do CPC. Por fim, protesta por todos os meios de prova admitidos em juízo, notadamente: prova documental pericial, e testemunho das partes. Dar-se a causa o valor R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) conforme o artigo 292, III do CPC. Nestes termos, Pede deferimento. São Paulo /Data Advogado OAB Equipe L – Turma 60832 1. AISLANE CRISTINA JUSTINIANO CHAVES – CPD: 68819; 2. CARLOS RODNEY CAVALCANTE – CPD: 81086; 3. EDSON NONATO SERRA PEREIRA – CPD: 72525; 4. EMANUELLE MORAES RODRIGUES – CPD: 87202; 5. PATRICK SILVA RAMOS – CPD: 82195.
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