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03- RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CRIMINAL DE XXX DO ESTADO XXX
Processo nº XXX
JERUSA, já devidamente qualificada nos autos em que lhe move o Ministério Público Estadual, vem por seu advogado por esta subscreve com (procuração em anexo), vem, perante a Vossa Excelência, INTERPOR RECURSO EM SENTIDO ESTRITO com fulcro no artigo 586 do CPP, com pedido de reconsideração na decisão, caso Vossa Excelência reconsidere, com fulcro no artigo 581, IV c/c art. 589 do CPP.
Desde já, requer o recorrente que o presente instrumento seja recebido, processado e, na hipótese de Vossa Excelência não considerar os argumentos e manter a r. Sentença de pronúncia, que seja encaminho ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado X.
Nestes termos.
Pede deferimento.
Local, Data.
Advogado
OAB
Recorrente: Jerusa
Recorrido: Ministério Público
Processo nº XXX
EGRÉGIO TRIBUNAL 
COLENDA CÂMARA
NOBRES JULGADORES
A Decisão interlocutória do magistrado “A QUO” não deve ser mantida em seu inteiro teor, pelas Razões a seguir expressas, conforme artigo 588 do CPP.
DOS FATOS: 
A requerente dirigia seu carro respeitando o limite de velocidade em uma via de mão dupla, decidiu ultrapassar o carro à sua frente, que estava abaixo da velocidade permitida, contudo Jerusa não ligou a seta luminosa para ultrapassar, atingiu o Diogo, motociclista em alta velocidade, ela chamou o socorro que chegou em seguida, as demais testemunhas presenciaram o momento do acidente. 
Diogo faleceu em razão dos ferimentos pelo acidente.
O Ministério Público ofereceu denúncia contra Jerusa imputando-lhe a prática do delito de homicídio doloso simples, na modalidade dolo eventual (artigo. 121 c/c art. 18, I parte final, ambos do CP). Caracterizado por não ligar a seta luminosa na ultrapassagem e não atentar com o trânsito no sentido oposto. 
A denúncia foi recebida pelo juiz, que fundamentou em pronunciar a requerente pelo crime apontado na denúncia. 
DO DIREITO:
O Ilustre Ministério Público denunciou a requerente pela prática do delito de homicídio doloso simples, na modalidade dolo eventual com fulcro no artigo 121 c/c art. 18, I, ambos do CP, contudo não deve prosperar tais imposições, quando se tem leis específicas e leis genéricas respectivamente, Código de Trânsito Brasileiro, Lei nº 9503/97 e Código Penal Decreto-Lei nº 2.848/40, sobrepõe a lei específica nos casos em que se aplicam a norma especial. 
Nesse momento, deve AFASTAR o CP para a APLICAÇÃO do CTB no caso em tela onde ocorreu o delito em acidente de trânsito com tipificação específica.
Portanto, a imposição de homicídio doloso, artigo 121 do CP não deve ocorrer, quando o agente não teve a intenção de cometer o delito no caso “animus” do crime ou dolo eventual, quando a pessoa assume o risco de produzi-lo. 
Ora Vossa Excelência, se tratando de agente que estava na velocidade permitida para trafegar e apenas ultrapassou o carro ela não teve o intuito de assumir qualquer risco fatal, sendo que o fez conforme prevê o CTB, onde dirigia conscientemente, contudo o motociclista Diogo não respeitou limites máximos de velocidade, caput do artigo 43 do CTB e estava em alta velocidade, portanto facilitou para colidir com a Jerusa. 
A questão alegada pelo ilustre “parquet” sobre a ultrapassagem feita por Jerusa sem atentar ao trânsito em sentido contrário, mas não teria como não desviar do motociclista sendo que ele estava em alta velocidade, contudo a seta luminosa caso fosse utilizada não mudaria o resultado do acidente, pois o desrespeito com a norma de trânsito nacional levou ao acidente, assim deve-se retirar tal alegação.
Logo, se trata de crime culposo, conforme artigo 18, II do CP. Onde por imprudência no volante a motorista deixou de sinalizar e ultrapassou o veículo que estava a sua frente este que estava abaixo da velocidade permitida, o qual estava atrapalhando o trânsito, em consequência Jerusa colidiu com o motociclista, sem qualquer vontade de cometer tal acidente fatal de trânsito, em seguida chamou o socorro para amenizar o acidente.
Desclassificando o crime de homicídio doloso com dolo eventual para homicídio culposo na direção de veículo automotor, conforme a norma especial prevê no artigo 302, caput do CTB:
Artigo 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor.
Pena – detenção, de 2 a 4 anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor.
Portanto, se tratando de pena de detenção, o regime semiaberto ou aberto, deve ser imposto pelo magistrado, conforme artigo 33 do CP. Assim, a pronúncia ao rito do Júri não tem base legal, sendo que não se trata de homicídio doloso e sim culposo.
Como o crime de homicídio culposo artigo 302 do CTB prevê pena de detenção de 2 a 4 anos, cabe a restritiva de direito conforme o artigo 44, I do Código Penal, onde penas não superiores a 4 anos, não reincidente em crime doloso e não ter violência ou grave ameaça cabe restritivas de direitos.
Conforme o entendimento massivo do Tribunal de Justiça do Mato Grosso:
GABINETE DO DES. PAULO DA CUNHA GABINETE DO DES. PAULO DA CUNHA APELAÇÃO CRIMINAL (417) APELANTE: NIVALDO DA CONCEICAO APELADO: MPEMT - VÁRZEA GRANDE EMENTAAPELAÇÃO CRIMINAL – CRIME DE TRÂNSITO – HOMICÍDIO CULPOSO – ARTIGO 302, CAPUT, DA LEI N. 9.503/97 – PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO POR AUSÊNCIA DE PROVAS – CONTEXTO PROBATÓRIO APTO A COMPROVAR A AUTORIA DELITIVA – RÉU QUE TRAFEGAVA ACIMA DA VELOCIDADE PERMITA EM RODOVIA FEDERAL – ULTRAPASSAGEM DESENFREADA - INVASÃO DA PISTA CONTRÁRIA – COLISÃO COM UMA VAN – MORTE DE DOIS PASSAGEIROS – CONDUTA CULPOSA (IMPRUDÊNCIA) – DEVIDAMENTE DEMONSTRADA – PEDIDO SUCESSIVO – PENA ESTIPULADA NO MÍNIMO LEGAL – IMPOSSIBILIDADE – CONCURSO FORMAL – DUAS VÍTIMAS – FRAÇÃO DE UM SEXTO (1/6) – PROPORCIONALIDADE E LEGALIDADE DA REPRIMENDA IMPOSTA – SUSPENSÃO DA HABILITAÇÃO PARA DIRIGIR VEÍCULO AUTOMOTOR – READEQUADA DE OFÍCIO – TRÊS (3) MESES – RECURSO DESPROVIDO. O réu, na condição de motorista do caminhão, agiu com imprudência ao trafegar em rodovia federal, imprimindo velocidade acima do permitido e sem os cuidados de tráfico da região, na tentativa de ultrapassagem, invadiu a pista contrária e colidiu com uma van que transportava nove (9) pessoas, sendo que duas (2) faleceram em decorrência da gravidade do ACIDENTE, motivo pelo qual se faz necessária a mantença de sua condenação às penas do artigo 302, caput, da Lei n. 9.503/97.Sendo praticados dois (2) crimes de HOMICÍDIO CULPOSO no TRÂNSITO em concurso formal, a fração de exasperação da pena em um sexto (1/6) evidencia-se legal e proporcional. Quanto à suspensão da habilitação para dirigir veículo automotor, comporta redimensionamento, pois estabelecida de forma exagerada e desproporcional, razão pela qual, de ofício, reduzo-a pelo período de três (3) meses.
(N.U 0018476-83.2012.8.11.0002, CÂMARAS ISOLADAS CRIMINAIS, PAULO DA CUNHA, Primeira Câmara Criminal, Julgado em 30/04/2019, Publicado no DJE 08/05/2019)
Assim, Vossa Excelência, se trata de um acidente pela imprudência no volante levando ao homicídio culposo, logo o rito do júri não pode ocorrer. 
Vejamos o que Fernando Capez ensina sobre as penas de detenção e reclusão:
“As diferenças entre reclusão e detenção, é que os crimes mais graves são puníveis com pena de reclusão, reservando a detenção para os delitos de menor gravidade. Como consequência, a pena de reclusão pode iniciar seu cumprimento no regime fechado, o mais rigoroso de nosso sistema penal, que jamais poderá ocorrer com a pena de detenção. Somente com o descumprimento as condições impostas pelo juiz, poderá levar o condenado a pena de detenção ao regime fechado, através da regressão de regime”.
Portanto, o regime inicial deve ser o aberto, em último caso no semiaberto, conforme jurisprudência dominante do Egrégio Tribunal.
DOS PEDIDOS:
Solicita de Vossa Excelência:
A) Que seja aceite o recurso em sentido estrito reiterando a impronúncia no rito do júri, artigo 581, IV do CPP.
B) Que seja desclassificado o crime de homicídio doloso para homicídio culposono trânsito, artigo 302 do CTB.
C) Que seja imposta as restritivas de direitos a ré, conforme o artigo 43 do CP.
D) Caso não seja acolhida as penas de restritivas de direitos que seja o regime prisional iniciado no aberto, tratando do tipo penal com pena máxima de 4 anos, artigo 33, §2, “c” do CP.
Nestes termos.
Pede deferimento.
Local, Data.
Advogado
OAB

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