Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Semiologia do Adulto II Pamela Barbieri – T23 – FMBM Prof. Dr. Ricardo Lessa Anamnese Exame físico Exames complementares Queixa principal → “meu ouvido...” HMA: zumbido x vertigem x baixa acuidade auditiva... Interrogatório Sistemático: nariz, garganta... Antecedentes familiares: síndromes genéticas (ex: perda de audição na família)... Antecedentes médicos e patológicos: medicamentos (existem medicamentos ototóxicos), doenças prévias (DM, autoimunes, – podem formar imunocomplexos, afetando a cóclea; infecciosas), cirurgias, etc... →Sinais e sintomas: os principais sintomas das doenças do ouvido são a otalgia, a otorreia, a otorragia, o prurido, os distúrbios da audição (disacusias ), os zumbidos e a vertigem. ▪Otalgia: a dor de ouvido pode se dever a lesões da orelha externa e da orelha média. Às vezes é urna dor "referida" ou "reflexa': que provém de pontos distantes do ouvido. Entre as primeiras está a otalgia devida a cárie dentária, sinusite, amigdalite e faringite aguda. Tais irradiações dolorosas são favorecidas pelo grande número de anastomoses nervosas da região. ▪Otorreia: é a saída de líquidos pelo ouvido, que podem ser claros corno a água, serosos, mucosos, purulentos ou sanguinolentos. Aqueles que são claros corno água se constituem pelo líquido cefalorraquidiano que provém de fraturas da base do crânio, às vezes misturado com sangue, frequentemente precedido de hemorragia. Os sanguinolentos se devem a pólipos neoplásicos ou de outra histogênese da orelha externa ou média, a otite gripal, neoplasias ulceradas e traumatismos. Os serosos, mucocatarrais ou purulentos têm origem em alterações da orelha externa, como eczemas, otites externas, furúnculos, em otites médias agudas ou crônicas e em mastoidites crônicas. ▪Otorragia: decorre de traumatismos do meato acústico externo no ato de coçá-lo com palitos e cotonetes, de ruptura da membrana do tímpano por tapa violento ao nível do meato auditivo ou por fraturas da base do crânio, longitudinais ou transversais, que podem estender-se à caixa e à membrana do tímpano e à parede óssea superior do meato acústico externo. As fraturas "longitudinais" são as que mais frequentemente acarretam otorragia mais ou menos profusa, por vezes acompanhada de paralisia facial periférica. ▪Prurido: pode ser causado por eczema no canal auditivo, mas pode também aparecer em doenças sistêmicas, corno diabetes, hepatite crônica e linfomas. ▪Distúrbios da audição (disacusias) → disacusia significa perda da capacidade auditiva, que pode ser leve ou moderada (hipoacusia), acentuada (surdez) ou total (anacusia ou cofose). Segundo a localização dos fatores etiológicos responsáveis pelas disacusias, estas podem ser divididas em: • Disacusia de transmissão, devida a lesões situadas no aparelho transmissor da onda sonora; orelhas externa e média (unidade tímpano-ossicular) e líquidos labirínticos • Disacusia neurossensorial ou de percepção, quando o fator lesivo se localiza no órgão de Corti e/ou no nervo acústico, elementos perceptores ou receptores das ondas sonoras. ▪Zumbidos: Zumbidos, tinido ou acúfenos são sensações auditivas subjetivas, que ocorrem sem que haja estímulo exterior. Manifestam-se como ruídos de jato de vapor, água corrente, campainha, cachoeira, apito e chiado. As causas são diversas, algumas de certa gravidade, outras de menor importância. Podem ser óticas e não óticas. Entre as primeiras, encontram-se tampão de cerume obturante, corpo estranho, otite externa, inflamações agudas ou crônicas da orelha média, timpanosclerose, otosclerose, obstrução tubária, afecções da orelha interna, doença de Méniere, ototoxicoses (quinino, salicilatos, estreptomicina, canamicina, garamicina, neomicina), otosclerose coclear, trauma sonoro e presbiacusia (surdez da idade avançada). O neuroma do acústico, quando ainda limitado dentro do meato acústico interno, pode exteriorizar-se clinicamente apenas por um zumbido "persistente': antes que surjam a hipoacusia neurossensorial e os distúrbios do equilíbrio. Semiologia do Adulto II Pamela Barbieri – T23 – FMBM Prof. Dr. Ricardo Lessa Sistematização do Exame Físico: orelhas → nariz → garganta Orelha deve começar, porque é a que menos incomoda. Na criança, deve fazer o exame físico na sequência correta, evitando choro (que já modificará os exames). Começa pela orelha boa e depois a orelha que ele apresenta a queixa. Se o paciente tem uma otorreia, contamina o cone e passa a infecção para o outro lado. Se a queixa for das duas orelhas, tanto faz. Não tem diferença no exame da criança do exame e do adulto, a sequência é a mesma. Instrumental necessário: Otoscopio (examina membrana timpânica e componentes da orelha média), coloca um cone de acordo com o diâmetro do conduto auditivo. Cureta de cerume e seringa: servem para remover cerume para fazer o exame de forma efetiva. Orelha externa: pavilhão da orelha (esqueleto fibrocartilagíneo) e o meato acústico externo (canal sinuoso que prolonga a concha até a membrana do tímpano). Segmentos do pavilhão: no lóbulo da orelha, não há cartilagem. O restante são estruturas cartilaginosas. Poros acústico é abertura do conduto auditivo externo (onde introduz espéculo auricular). Na otoscopia, afasta-se o tragus com a ponta do cone para introduzir o otoscopio. Verifica se tem edema, deformidade, se tem secreção escorrendo, examina sulco retroauricular (se tem edema, abaulamento – otomastoidite). O conduto externo tem cerca de 2,5cm: do poros acústico até membrana timpânica. É divido em terço ósseo (interno) e terço cartilaginoso (externo) – ficam localizadas as glândulas sebáceas e ceruminosas e folículos pilosos (pelos protetores). Pele ao chegar na porção óssea já é mais delgada, não tem mais pelos e glândulas sebáceas e ceruminosas. Meatocospia: exame do meato acústico externo até o tímpano. Quando está visualizando o tímpano já está realizando a otoscopia. O meato acústico externo tem tortuosidades, ao examinar, faz-se retrações do pavilhão para corrigir essas tortuosidades. Orelha média: compreende a caixa do tímpano, colocada entre as orelhas externa e interna, ao mesmo tempo em que se comunica com a nasofaringe por intermédio da tuba auditiva e com as células mastóideas através de um canalículo, o aditus ad antrum. ▪Membrana do tímpano: três camadas: externa - epitelial; interna - forro mucoso da caixa do tímpano; e média - fibras circulares, parabólicas e raiadas, que se inserem no cabo do martelo. ▪Parede interna ou labiríntica da caixa do tímpano apresenta uma saliência, o promontório (que corresponde à cóclea), e dois pequenos orifícios: a janela oval, na qual se articula a platina do estribo, e a redonda, obturada por uma membrana ▪Na parede anterior se localiza o orifício timpânico da tuba auditiva; no interior da caixa do tímpano estão os ossículos da orelha média: martelo, bigorna e estribo, ligados entre si por meio de articulações e suspensos às paredes da caixa do tímpano por ligamentos. Orelha interna: também denominada labirinto, está contida no rochedo; é formada por esqueleto ósseo ebúrneo, que contém em seu interior o labirinto membranoso. Divide-se em dois segmentos: um anterior, constituído pela cóclea e destinado à função auditiva, e outro posterior ou aparelho vestibular, formado pelos canais semicirculares, Semiologia do Adulto II Pamela Barbieri – T23 – FMBM Prof. Dr. Ricardo Lessa que participam da função do equilíbrio. Entre esses dois segmentos interpõe-se uma pequena cavidade denominada vestíbulo. Membrana timpânica Membrana timpânica, aspecto cônica. No meio vê-se o cabo do martelo e se passar duas linhas (imagem 2), formam 4 quadrantes: Anterossuperior: nenhuma estrutura importante vista por translucidez. Anteroinferior: importante identificar o brilho da imagem “trígono/triangulo luminoso”, visto porque o tímpano não éplano e sim cônico, e a parte póstero-superior é a porção mais próxima do poros acústico e ao imprimir a luz do otoscópio chega primeiro no quadrante póstero-superior, e o tímpano reflete luz no quadrante anteroinferior que é oposto ao póstero-superior. Essa avaliação é importante, porque se o paciente tem membrana timpânica integra, Semiologia do Adulto II Pamela Barbieri – T23 – FMBM Prof. Dr. Ricardo Lessa translucida de aspecto cônico e com presença do trígono luminoso, se infere que a membrana timpânica está normal. Póstero-superior: onde ficam todas as estruturas ossiculares (exceto cabo do martelo que está no meio do quadrante). Estão localizados ramo longo da bigorna e também o estribo. Póstero-inferior: não abriga estruturas ósseas importantes, mas ficam localizadas as janelas, principalmente a redonda (a oval está localizada na região do estribo no quadrante póstero-superior). Essas setas da imagem mostram que a distância entre a membrana timpânica e o poros acústico é maior na parte anterior, do que na parte posterior. Isso explica o porque a luz chega primeiro no quadrante antero-inferior. A luz do otoscopio deve estar sempre boa para poder visualizar o trígono luminoso. Acumetria – diapasão – prova de Weber: O diapasão de 512 cps (ciclos por segundo) é colocado no vértice da abóbada craniana; normalmente, sua vibração é percebida igualmente por ambos os ouvidos (Weber "indiferente"). Quando há surdez unilateral, entretanto, as vibrações são bem mais audíveis por um dos ouvidos. Quando se trata de surdez unilateral por lesão da orelha interna (surdez neurossensorial), a vibração sonora é mais bem percebida pelo ouvido normal; quando, porém, há lesão da orelha média ou do ouvido externo (surdez de transmissão), a vibração sonora é mais audível pelo ouvido surdo. Diz-se, então, que o Weber está lateralizado, para a esquerda ou para a direita. Avalia transmissão, através do conduto auditivo externo e vai vibrar o tímpano. A partir disso, é transmitido e ampliado pela cadeia auricular, e dentro da janela oval, será transmitido para o ouvido interno, passando pelo labirinto ósseo através da rampa vestibular e depois flui toda a cóclea, e quando chegar no ápice coclear, vai voltar pela rampa timpânica e deflete a janela redonda – esse movimento empurra a membrana basilar, que faz parte do labirinto membranoso, e as células ciliares externa vão tocar na membrana tectória, acarretando na despolarização (transdução mecano-elétrica) e impulso nervoso. Vibra a cadeia ossicular e cóclea. A via aérea vibra o tímpano. No diapasão testa a via aérea (coloca o diapasão em frente a orelha), testa a via óssea (compara com a via aérea) e testa as vias ósseas (Weber). Comparação das vias aéreas: coloca o diapasão próximo das duas orelhas e pergunta se o individuo escuta igual dos dois lados. Comparação das vias ósseas: exame de Weber descrito acima. Semiologia do Adulto II Pamela Barbieri – T23 – FMBM Prof. Dr. Ricardo Lessa Teste de Rinne: comparação da via aérea e via óssea no mesmo ouvido – padrão normal → deve escutar mais pela via aérea do que pela via óssea, porque quando encosta o diapasão na via óssea, ele vai perdendo energia até chegar na cóclea e no tímpano, em que ele vai vibrar bem pouco. Já na via aérea ele ganha energia quando passa a onda sonora através do conduto auditivo e vibra o tímpano; a cadeia ossicular vai servir como um braço de alavanca que vai amplificar a força que vibrou o tímpano. O tímpano e ossículos amplificam a onda sonora. Comparação das vias aéreas: →Perda de condução no ouvido direito e normal no ouvido esquerdo – via aérea do lado esquerdo estará maior do que ouvido direito. Rinne: no ouvido (esquerdo) que é normal, via aérea maior do que a via óssea. Quando for testar no ouvido direito (que está com perda de condução), paciente refere que via óssea está maior do que a via aérea (Rinne negativo). Weber: diapasão num ponto central craniano, o Weber lateraliza para o ouvido direito (ouvido que escuta pior pela via aérea, com perda de condução). Weber: Lateraliza pro lado pior, porque toda vez que tem perda de condução, a via óssea se sobressai sobre a via óssea do ouvido normal. →Supondo que paciente tenha perda neurossensorial no ouvido direito: Na perda neurossensorial, paciente continua escutando melhor pela via aérea no ouvido normal, porque para escutar tem todo o processo de transmissão e transdução, então se houver uma lesão na cóclea, a audição será menor nesse ouvido. Rinne: Rinne + tanto do lado direito, quanto do lado, porque ele vai escutar melhor a via aérea do que a via óssea. Webber: lateraliza para o lado que a via óssea está preservada (perda neurossensorial tem a vida óssea lesada). Testes auditivos: ▪Audiometria: exame em que testa frequência por frequência e o paciente responde se está escutando ou não, tanto pela via aérea e via óssea. É um exame mais acurado. Registra-se em um gráfico a intensidade que o paciente escuta o som. ▪Reflexo cócleo-palpebral – testa se criança está escutando (som forte, reflexo de piscar, que significa que o som chegou na cóclea). ▪Avaliação instrumental: usa instrumentos com frequências diferentes ▪Audiometria de campo: coloca a criança em uma sala acústica, com caixas de som, coloca sons e avalia se a criança olha para onde o som sai. ▪Audiometria condicionada: crianças um pouco mais velhas; coloca brinquedos, condiciona a fazer os movimentos com aquele brinquedo, e toda vez que ela escuta o som está condicionada a fazer o movimento com o brinquedo indicado pelo som. Semiologia do Adulto II Pamela Barbieri – T23 – FMBM Prof. Dr. Ricardo Lessa Exames de avalialão audiométrica: Frequências sonoras testadas. A intensidade normal de escutar até 25dB. Representação da via óssea “>” e via aérea” x”: via aérea e óssea coincidindo: perda neurossensorial. Só uma frequência ultrapassa 25dB, o resto é tudo abaixo: perda sensorial leve a moderada. 25 a 40 – leve 4 - 55 – moderada... Se houver distanciamento entre a captação do som via aérea da via aérea para a via óssea - via aérea mais baixa que a óssea: perda condutiva. Se via aérea e óssea abaixo do limiar: perda mista (condução e neurossensorial). Discriminação de fala: o poder de discriminação auditiva do paciente em relação à voz humana. O examinador emite palavras foneticamente balanceadas, que deverão ser repetidas pelo paciente. Ao final do exame verifica-se a porcentagem de palavras corretamente repetidas. Se discriminação for boa, trata-se de uma lesão na cóclea (quem discrimina som é nervo e não célula ciliada). Se discriminação for baixa, trata-se de uma lesão neural. Semiologia do Adulto II Pamela Barbieri – T23 – FMBM Prof. Dr. Ricardo Lessa Imitanciometria: testa a pressão no ouvido (se tem pressão negativa ou normal no ouvido médio). Depois realiza-se reflexo estapediano – reflexo do musculo do estribo. Isto é, toda vez que há um som muito alto, o estribo contrai para que o impulso sonoro não vibre tanto e que essa transmissão não seja feita pro ouvido interno (podendo lesar a membrana basilar, células ciliadas e levar a um trauma acústico). Sons mais altos que 60-70dB acima do limiar auditivo: desencadeia o reflexo estapediano. Via aferente: nervo vestíbulo-coclear; via eferente: nervo facial. Se tem uma perda neurossensorial a direita – se não houver reflexo nesse ouvido direito, suspeita de alguma patologia neural. Se for um reflexo ipsilateral – lesão no vestíbulo-coclear ou facial (se não tem paralisia facial, por consequência a lesão é no vestíbulo-coclear. Imitanciometria: veda o conduto, imprime ar e empurra o tímpano e suga, para avaliar se a mobilidade está adequada (se houver rigidez, pode indicar uma otite media cerosa, por exemplo). Emissões otoacústicas (testeda orelhinha): Coloca um aparelho no ouvido do recém-nascido, aperta o botão e o aparelho emite um som, que caminha pelo conduto, tímpano, vibrando células ciliadas e essa células ciliadas ao encostar na membrana tectória e fazem contração e se encurtam, fazendo com que os cílios menores encostem também e quando ocorre a estimulação dessas fileiras de camadas de células ciliadas, as células ciliadas externas também encostam, havendo uma despolarização e estímulo sai pelo nervo. O aparelho capta o som do encurtamento da causado pela contração dessas células – afere integridade das células ciliadas externas. Audiometria do tronco cerebral: Diagnóstico para perdas centrais. I nervo coclear II núcleo coclear III núcleo olivar superior IV núcleo lemenisco lateral V núcleo colículo inferior. Possibilita a obtenção de potenciais elétricos auditivos ao nível do tronco cerebral. Como os eletrodos são colocados superficialmente na cabeça, a anestesia geral pode ser dispensada na criança. Com a introdução desses modernos recursos semióticos, surgem possibilidades cada vez maiores de diagnóstico diferencial seguro entre surdezes sensorial, neural, de tronco cerebral e de córtex.
Compartilhar