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A2 - Direito Ambiental e Tributário (1)

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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU
FACULDADE DE DIREITO
THAYNÁ BONARDI CAMILO – RA: 81612002
EDILÉIA GONÇALVES DE MACEDO – RA: 818119394
ATIVIDADE AVALIATIVA A2
DIREITO AMBIENTAL E DIREITO TRIBUTÁRIO – DIR5AN-MCC
SÃO PAULO 
2020
PARECER JURÍDICO
REQUERENTE: EMPRESA AGROALL
Assunto: Regularização ambiental do imóvel rural.
Ementa: ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APP). ÁREA DE RESERVA LEGAL (RL). CONSERVAÇAO. COMPUTO DA APP EM RL. IMPOSTO TERRITORIAL RURAL (ITR). ISENÇÃO. 
I. DO RELATÓRIO
Trata-se de consulta solicitada pela empresa Agroall, produtora de cana-de-açúcar, em uma fazenda de 50 hectares, no município de Botucatu, interior do Estado de São Paulo, da qual é proprietária. Tal consulta tem como objetivo analisar a regularização ambiental da propriedade, bem como a relação jurídico-tributária incidente sobre a propriedade e suas áreas de preservação.
Preocupada em fazer a regularização ambiental de seu imóvel, a empresa Agroall deseja se adequar às normas, restaurando as Áreas de Preservação Permanente, além de regularizar seu Cadastro Ambiental Rural (CAR). À vista disso, a empresa indaga acerca do percentual de área exigido para preservação, bem como sobre a possibilidade de compensação do percentual de Áreas de Preservação Permanente em relação à área de Reserva Legal.
Em função destas áreas, a direção da empresa busca orientação sobre a possibilidade de não efetuar ou, ao menos reduzir o valor do tributo incidente sobre a propriedade da fazenda em questão. 
	É o relatório. Passo a opinar.
II. DA FUNDAMENTAÇÃO 
1. DA RESERVA LEGAL 
a) Quanto ao percentual de reserva legal	
	In casu, o percentual exigido como Reserva Legal é de 20%, considerando que a propriedade se encontra em local de transição de biomas, se enquadrando, portanto, na hipótese do inciso II, do artigo 12 do Código Florestal. 
b) Quanto à exploração econômica em área de Reserva Legal
Segundo o art. 17, §§ 1º e 3º do Código Florestal, é admitida a exploração econômica da Reserva Legal, mediante manejo sustentável. Contudo, o manejo realizado pela empresa Agroall possui propósito comercial, por esta razão é necessário atender as diretrizes e orientações previstas no art. 22 do referido diploma.
Para o preenchimento desses requisitos se fez necessária a recomposição e regularização das áreas de preservação. Assim, a jurisprudência do STJ se mantém no sentido de que a obrigação de demarcar, averbar e restaurar a área de reserva legal configura uma obrigação propter rem, ou seja, é transferida automaticamente ao adquirente ou possuidor do imóvel. 
Embora a empresa Agroall tenha adquirido a propriedade no ano de 2010, com as Áreas de Preservação Permanente não preservadas por culpa do antigo proprietário, torna-se sua a obrigação de recompor para que assim possa realizar a exploração econômica na área. 
c) Quanto ao cômputo da Área de Preservação Permanente no cálculo do percentual de Reserva Legal.
A referida propriedade rural, por conta da região em que está inserida, possui uma grande quantidade de APPs, a qual pode ser computada no cálculo do percentual de área de Reserva Legal, tal admissão abrange as modalidades de recomposição, regeneração e compensação, e está prevista no art. 15 da Lei n. 12.651/12.
A compensação será admitida desde que o benefício não implique a conversão de novas áreas para o uso alternativo do solo; a área a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperação e que o proprietário ou possuidor tenha requerido inclusão do imóvel no CAR (Cadastro Ambiental Rural).
2. DO IMPOSTO TERRITORIAL RURAL (ITR)
Em matéria tributária, sobre a fazenda, situada fora da zona urbana do município, incidirá o imposto sobre a propriedade territorial rural (ITR), o qual terá como contribuinte do imposto o proprietário do imóvel rural, o titular de seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título. 
A Lei nº 9.393/1996 dispõe acerca do ITR e, em seu art. 1º estabelece que se trata de imposto de apuração anual e, de acordo com seu §2º, considera-se imóvel rural a área contínua, formada de uma ou mais parcelas de terras, localizada na zona rural do município.
A competência tributária para instituir o referido tributo é exclusiva da União (art. 153, inciso VI, CF) e, tem como fato gerador “a propriedade, o domínio útil ou a posse de imóvel por natureza, como definido na lei civil, localização fora da zona urbana do município” (art. 29, CTN).
Contudo, nos termos do art. 153, §4º, inciso III, o ITR será fiscalizado e cobrado pelos Municípios que assim optarem, na forma da lei, desde que não implique redução do imposto ou qualquer outra forma de renúncia fiscal. 
Corroborando todo o exposto, salienta a doutrinadora Fabiana Lopes Pinto a possibilidade de a União delegar a capacidade tributária aos Municípios, de modo que “o município terá em troca a totalidade dos valores arrecadados, diferentemente do que ocorre quando a União arrecada, pois ao município compete apenas 50% desse valor”. (PINTO, p. 95). 
No mesmo sentindo, o entendimento dos tribunais, acerca do tema:
[...] A atribuição de fiscalizar, lançar e cobrar o Imposto Territorial Rural pode ser delegada pela União aos municípios por meio de convênios, sendo que o Valor da Terra Nua – VTN, base de cálculo do imposto, deve ser informado pelo gestor municipal à Secretaria da Receita Federal, em cumprimento à IN 1562/2015, da Receita Federal do Brasil. [...] (grifamos)
(TRF-4 – AG 7655-88.2011.4.04.0000, Relator: Vânia Hack de Almeida, 3º Turma, Data de Julgamento: 17/07/2018).
Assim, conclui-se que a competência para instituir tal tributo é da União, mas que a cobrança e fiscalização poderá ser realizada pelos municípios. Nessa hipótese a União delegaria a capacidade tributária ativa ao município de Botucatu.
3. DA ISENÇAO DO IMPOSTO TERRITORIAL RURAL (ITR) 
Sobre o questionamento acerca da possibilidade da empresa Agroall não efetuar o pagamento do tributo ou, ao menos, reduzir o valor do tributo incidente sobre a propriedade da fazenda em questão, em função das áreas de Reserva Legal e de Preservação Permanente, passamos a opinar:
Ressalta-se que não há a possibilidade de imunidade sobre o ITR, uma vez que o caso em questão não se enquadra na hipótese prevista no art. 153, §4º, inciso II, da Constituição Federal, bem como no art. 2º da Lei nº 9.393/1996. 
Ademais, o caso analisado também não se enquadra nas hipóteses de isenção do ITR, elencadas nos artigos 3º e 3º-A da Lei supra mencionada. 
Contudo, embora não haja a isenção total do ITR, há a possibilidade da empresa pleitear a sua isenção parcial. 
Isto porque, o imposto sobre propriedade rural possui isenção de seu pagamento em relação às áreas de preservação permanente e de reserva legal, nos moldes do art. 104 da Lei nº 8.171/1991, in verbis:
Art. 104. São isentas de tributação e do pagamento do Imposto Territorial Rural as áreas dos imóveis rurais consideradas de preservação permanente e de reserva legal, previstas na Lei n° 4.771, de 1965, com a nova redação dada pela Lei n° 7.803, de 1989.
A área tributável, portanto, constitui a área total do imóvel, menos as áreas de preservação permanente e de reserva legal, nos termos do art. 10, §1º, inciso II, “a” da Lei nº 9.393/96.
Deste modo, o proprietário poderá excluir estas áreas da base de cálculo do tributo, entretanto, como bem aduz o doutrinador Luis Paulo Sirvinska, deve-se observar as exigências ambientais, previstas em leis e normas do direito ambiental para haver a incidência da norma tributária:
O Fisco esclarece quais são os procedimentos para a propriedade rural ser isenta do imposto: a) área de reserva legal — é exigida aprovação pelo órgão ambiental estadual competente ou, mediante convênio, pelo órgão ambiental municipal ou instituição habilitada. Essa aprovação deve constar na margem da inscrição de matrícula do imóvel, com protocolização anual do Ato Declaratório Ambiental — ADA perante o IBAMA; e b) área de preservação permanente — é exigido laudo técnico emitido por engenheiro agrônomo ou florestal, também com protocolizaçãoanual do Ato Declaratório Ambiental — ADA perante o IBAMA. (SIRVINSKAS, p. 67)
Ademais, conforme entendimento do STJ, a isenção tributária do ITR relacionada as áreas de Reserva Legal demandam averbação junto à matrícula do imóvel, nos termos do art. 167, inciso II, nº 22 da Lei nº 6.015/73. 
Nos autos do EREsp n.º 1.027.051 o relator Min. Benedito Gonçalves, brilhantemente, afirmou que: “a inércia do proprietário em não registrar a reserva legal de sua propriedade rural constitui irregularidade e, como tal, não pode ensejar a aludida isenção fiscal, sob pena de premiar contribuinte infrator da legislação ambiental.” (DJe 21/10/2013).
Com relação às áreas de preservação permanente, não há a necessidade de sua averbação. Isto porque, a tributação do ITR possui a finalidade de fiscalizar as atividades potencialmente nocivas ao meio ambiente, sendo que sua isenção é instituída por disposição legal, presumindo-se, portanto, a publicidade normativa. Por esta razão não se aplica às áreas de preservação permanente. 
Vejamos jurisprudências neste sentido.
[...] A área objeto do litígio - em relação à qual é buscada a isenção de ITR - não se trata de "reserva legal", mas é composta por "Áreas de Preservação Permanente" (APPs) e por área vegetada pelo bioma Mata Atlântica, especialmente protegida e declarada de interesse ecológico. O Superior Tribunal de Justiça vem entendendo que, para fins de isenção do ITR, só é exigível a averbação da área protegida no Registro de Imóveis na hipótese de "reserva legal", dada a necessidade de prévia delimitação pelo proprietário. [...] (grifamos) 
(TRF-4, Apelação Cível nº 5026437-35.2010.404.7100, 1ª Turma, Des. Federal Maria de Fática Freitas Labarrère, Data de Julgamento: 28/03/2014)
[...] A pretensão da União, ora embargante, merece acolhida quanto ao ponto não apreciado no anterior julgamento. Isso porque a jurisprudência do STJ assenta ser "[...] imprescindível a averbação da área de reserva legal à margem da inscrição de matrícula do imóvel, no registro de imóveis competente, para que o contribuinte obtenha a isenção do imposto territorial rural prevista no art. 10, II, "a", da Lei n. 9.393/1996" (REsp 1.638.210/MG, Relator Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, DJe 5/12/2017). [...] (grifamos)
(Embargos de Decl. no AgRg no REsp 1395393/MG, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, 1ª Turma, Data de Julgamento: 09/09/2019).
O quadro fático revela a comprovação da área de reserva legal, averbada na matrícula do imóvel, contudo, é recomendável a sua inscrição no Cadastro Ambiental Rural (CAR) para que ocorra a referida isenção parcial. 
Diante do exposto, pode-se concluir que preenchido todos os requisitos, a empresa Agroall poderá assumir parcialmente a obrigação tributária de pagar o ITR, visto que dentro de sua propriedade há Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal, sendo estas áreas isentas de tributação. 
III. DA CONCLUSÃO 
Pelo exposto, respondendo ao questionamento formulado na consulta, conclui-se que:
a) A empresa Agroall, na posição de proprietária da fazenda, está obrigada a regularizar o percentual de 20% da área de reserva legal, pois se enquadra na hipótese do inciso II, do art. 12 do Código Florestal;
b) A obrigação de recompor as áreas de APP’s não preservadas, por tratar-se de obrigação propter rem, agora são de obrigação da empresa Agroall;
c) É possível o manejo sustentável, se preenchido os requisitos legais, expostos no tópico pertinente ao tema; 
d) É permitido por lei o computo das Áreas de Preservação Permanente no cálculo do percentual de Reserva Legal, se preenchido os requisitos elencados no tópico referente ao tema;
e) Na posição de contribuinte, não há a possibilidade de afastamento do fato gerador do ITR, contudo, a empresa Agroall poderá assumir parcialmente a obrigação tributária, visto que dentro de sua propriedade há Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal, sendo estas áreas isentas de tributação, bem como a empresa preenche os demais requisitos para a redução da base de cálculo. 
	É o parecer.
São Paulo, __ de __ de __.
Advogado/ OAB nº_
REFERÊNCIAS:
BRASIL. Código Tributário Nacional. Lei nº 5.172 de 25 de outubro de 1966. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172.htm> Acesso em: 05 de abril de 2020.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm> Acesso em: 05 de abril de 2020.
BRASIL. Lei 9.393 de 19 de dezembro de 1996. Dispõe sobre o Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9393.htm>. Acesso em: 05 de abril de 2020.
BRASIL. Lei nº 12.651 de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/L12651compilado.htm> Acesso em: 05 de abril de 2020.
PINTO, Fabiana Lopes, Direito Tributário, Editora Manole, 2012.
PAULSEN, Leandro. Curso de Direito Tributário Completo. 11ª Ed. Editora Saraiva, 2020. 
RODRIGUES, Marcelo Abelha. Direito Ambiental Esquematizado. 2018. 6ª Ed. Editora Saraiva.
SIRVINSKAS, Paulo, L. Manual de direito ambiental. 16ª Ed. Editora Saraiva, 2018.