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1 Trato Genital Inferior O trato genital inferior feminino é composto por vulva, vagina e colo uterino. VULVA. Genitália externa feminina que é composta pelo monte pubiano, grandes e pequenos lábios, glândulas de Bartholin (lubrificação sexual), meato uretral, glândulas de Skene (homólogas a próstata), fúrcula e períneo. Revestida por pele pilificada e mucosa escamosa. As inflamações de pele são as mais comuns, seja como doença primária da vulva ou manifestação vulvar de doença sistêmica. Alguns exemplos são a dermatite eczematosa (de contato, alérgica ou infecções), a psoríase, a dermatite seborreica, líquen escleroso, etc. As principais inflamações são de natureza infecciosa causadas por bactérias ou vírus, geralmente lesões sexualmente transmissíveis. Cisto do ducto de glândula de Bartholin: infecção inespecífica acomete glândula formando abscessos. A obstrução do ducto excretor causada pela inflamação pode resultar nesse cisto, que chega a medir até 5 cm de diâmetro. Doloroso e desconfortável geralmente exige tratamento cirúrgico. LÍQUEN ECLEROSO (CRAUROSE) Lesão leucoplásica (transformação da mucosa em uma placa branca dura – aspecto de papel pergaminho) com atrofia da epiderme. Acomete pequeno lábio, clitóris, prepúcio, vestíbulo e períneo, de forma assimétrica, podendo alcançar região perianal. Histologicamente: epitélio fino, retificação dos cones epiteliais, homogeneização em faixa do colágeno subepidérmico, infiltrado inflamatório mononuclear subjacente – atrofia epiderme, hialinização da derme, inflamação, perda de anexos e edema. Sintomas: prurido, queimação e dispareunia (dor coito). Atinge principalmente mulheres após a menopausa. Causa desconhecida, mas acredita-se que haja influência de fatores hormonais e imunológicos e autoimune. Associação com câncer de vulva não associado ao HPV. Diagnóstico diferencial: líquen plano. HERPES (HSV-2) As lesões são vesiculares, múltiplas e recidivantes, podendo formar úlceras. Sintomas: dor vulvar, corrimento vaginal, disúria ou retenção urinária, febre e aumento linfonodos inguinais. Diagnóstico: exames citopatológicos pela presença de inclusões virais intranucleares ou citoplasmáticas. HPV (6 E 11 – baixo risco oncogênico) Afeta a mucosa escamosa do sistema genital feminino. Cerca de 40% das mulheres com infecção vulvar pelo HPV tem também acometimento cervical. Alterações morfológicas características representadas por lesões confluentes, planas ou verrucosas – condiloma acuminado. Em geral, envolve região vulvovaginal podendo se estender à região perianal. Macroscopicamente: lesão verrucosa, única ou múltipla. Histologicamente: hiperplasia do epitélio, com papilomatose, hiper e paraqueratose, sendo características as alterações coilocitóticas. CANCRO MOLE Causado pela bactéria Haemophilus ducreyi. Lesão caracterizada por úlceras localizadas, pequenas, isoladas ou confluentes, de base eritematosa, purulenta e friável – ocorre no ponto de inoculação do agente. Diagnóstico: esfregaço e cultura ou PCR. VAGINA Ocupa o espaço compreendido pelo vestíbulo uterino e pelas faces dorsal da bexiga e ventral do reto. Revestida por epitélio escamoso estratificado, não corneificado e ausência de glândulas. Trato Genital Inferior 2 Mucosa apresenta padrão rugoso e responde ciclicamente aos efeitos hormonais de estrógenos e progesterona. Superfície é lubrificada pelas glândulas da vulva (Bartholin) e do colo uterino (endocervical) que produzem muco. Examinada através do espéculo vaginal. Microambiente com flora equilibrada mista, com predomínio de lactobacilos, levando a manutenção do pH ácido que protege contra a entrada de agentes infecciosos. O estrógeno induz a proliferação e maturação das células, pico próximo à ovulação. Assim, o epitélio cresce e se diferencia, tornando-se espesso e rico em glicogênio – predomínio de células superficiais maduras. Já a progesterona inibe a maturação – predomínio de células da camada intermédia e para-basal. Epitélio maduro: células superficiais ricas em glicogênio – ocorre em meninas recém-nascidas (estrógeno placentário). Epitélio imaturo e hipotrófico: predomínio células para-basais e basais (camadas mais profundas) – ocorre em meninas em fase pré-púberes e em mulheres após a menopausa. Também está presente em períodos de ovulação e nas gestantes, devido o predomínio da progesterona. COLO UTERINO Representa a porção inferior do útero que se projeta na vagina, tem forma cilíndrica. Canal endocervical comunica a cavidade uterina (orifício interno) com a luz vaginal (orifício externo). Em mulheres multíparas, o orifício externo é em fenda; na nulípara, é circular. É dividido em ectocérvice (porção vaginal) e endocérvice (porção do canal). O ectocérvice é a superfície mucosa cervical voltada para a vagina, é revestida por epitélio estratificado escamoso não queratinizado (continuação do tecido vaginal). Já o endocérvice, a superfície mucosa do canal endocervical, é revestida por epitélio simples colunar mucossecretor. Abaixo do endocérvice existem células de reserva capazes de se diferenciar tanto em células colunares como escamosas. Epitélio colunar endocervical penetra na lâmina própria e ramifica, originando estruturas tubulares que são denominadas glândulas endocervicais. O endocérvice tem células colunares mucossecretoras que produzem mucinas neutras e ácidas, sendo que a quantidade e aspecto da secreção variam com a fase do ciclo. Além disso, apresenta células cilíndricas ciliadas, as mais altas do canal, que são essenciais para a fertilidade. Junção escamocolunar (JEC): local de encontro abrupto do epitélio colunar com o epitélio escamoso. Localização é variável e sofre influência de estímulos hormonais, variando com a idade da mulher e o período do ciclo menstrual. Na fase fértil, há hiperplasia do epitélio endocervical devido a presença de estrógenos. Já na pós-menopausa, a JEC sobe no canal. EVERSÃO E ZONA DE TRANSFORMAÇÃO A eversão é um fenômeno fisiológico em que parte do endocérvice move-se para fora do canal endocervical e adiante do orifício externo, constituindo o ectrópio. Geralmente ocorre no período pós-puberal. No entanto, pode ser encontrado em cerca de 45% das mulheres entre 1 e 13 anos. Ectocérvice Endocérvice EPITÉLIO ESTRATIFICADO ESCAMOSO NORMAL JEC no orifício externo EVERSÃO Mucosa endocervical ocupa área fora do orifício externo 3 Epitélio evertido, mais delgado, é menos resistente às adversidades vaginais, como pH ácido, microbiota residente e traumatismos durante relações sexuais. Esses fatores levam a um fenômeno adaptativo no epitélio evertido, a metaplasia escamosa, caracterizada pela substituição progressiva do epitélio colunar endocervical por epitélio escamoso, mais resistente. Cisto de Naboth: dilatação das glândulas pelo acúmulo dos produtos de secreção. As ramificações endocervicais são obliteradas pelo epitélio escamoso metaplásico, que prolifera na superfície e bloqueia fluxo de muco. Há epitélio escamoso na superfície, mas epitélio glandular na profundidade. Zona de transição (ou transformação): região entre a JEC original e a nova junção. É caracterizada pela presença de epitélio escamoso metaplásico. Reconhecimento é importante para estudo das lesões do colo uterino. Pode ser típica (normal) ou atípica. Se os mesmos processos irritativos indutores da transformação metaplásica continuarem, resultam em alterações no padrão colposcópico sendo considerado atípico (ZTA). Ocorre na idade fértil. O epitélio da zona de transformação é dinâmico, variando entre metaplasia escamosa e retorno ao epitélio colunar normal, possui um turn over celular mais intenso e, por isso, é mais vulnerável à ação de agentesoncogênicos e à transformação neoplásica. Sempre que se encontra zona de transformação, deve ser realizada uma biópsia da região. MUCO CERVICAL Vários componentes, mas o principal são glicoproteínas. Na fase proliferativa e na ovulação, é mais fluído, disposição delicada em filamentos favorecendo passagem espermatozoides para a fecundação. Já na fase secretora, é mais viscoso, maior número de leucócitos e enzimas aumenta a densidade, dificultando a passagem do espermatozoide. Caso ocorra fertilização nessa fase, muco forma tampão que mantém concepto no colo uterino. Condições que causam alteração do muco cervical: uso de anticoncepcional oral, devido abundância de progesterona favorece formação de muco denso; cervicites, tornam muco mais espesso, aumento na quantidade, alteração da cor e cheiro (corrimento). EXAME CITOLÓGICO DO COLO (COLPOCITOLOGIA) Popularmente conhecido como Papanicolau. A coleta do esfregaço citológico é feita através de espátula e escovinha. Determinação da maturidade das células epiteliais e verificação da compatibilidade com o ciclo da paciente, detecção presença de microorganismos e atipias celulares. Assim, é essencial para detecção de lesões precursoras do câncer de colo uterino. A classificação utilizada atualmente divide as lesões em inflamatórias e intraepiteliais do colo uterino (NIC) I II e III Exame não é definitivo, mas serve para triar as lesões precursoras. Caso haja suspeitas, colpocitologia e depois biópsia. DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA (DIP) Infecção por gonococos, clamídias e bactérias entéricas. Poli infecções envolvem estafilococos, estreptococos, coliformes e Clostridium perfrigens – após infecções puerperais. Sintomas: dor pélvica, anexos sensíveis à palpação, febre e secreção vaginal. Geralmente começa pelas glândulas de Bartholin e progride até os ovários. Se for por gonococos, poupa o endométrio. Complicações:peritonite, obstrução intestinal (aderência), bacteremia e infertilidade. Epitélio endocervical sofreu metaplasia e transformou-se em epitélio escamoso, que está presente em toda a região antes ocupada pelo ectrópio Ectocérvice Endocérvice 4 FLORA VAGINAL NORMAL O mecanismo de defesa da vulva são os pequenos e grandes lábios, as glândulas sebáceas e sudoríparas (barreira). Além disso, os hormônios são essenciais, o alto nível de estrogênio/baixa progesterona, pois a produção de ácido lático por lactobacilos (pH ácido – 3.5 a 4.5 na vagina) é controlada pela secreção de estrogênio, estando em baixa em crianças e na pós- menopausa. Se pH vaginal aumenta as bacteriocinas perdem efetividade, peróxido de hidrogênio é degradado e lactobacilos não conseguem competir com as outras bactérias. FLORA NORMAL: formação de biofilme, pH ácido, produção peróxido de hidrogênio e bacteriocinas (inibem diretamente o crescimento de microorganismos, inclusive outros bacilos). A secreção vaginal normal é composta por secreções vulvares, transudato vaginal, descamação celular, secreção cervical (muco), líquidos endometriais/ tubários/ peritoneais, bactérias e seus produtos. O conteúdo vaginal deve ser de aspecto branco ou transparente, ácido, sem associação com sintomas urinários, irritação vulvar, dispareunia e dor abdominal. Varia com a idade, estado emocional, excitação sexual, fase do ciclo e gravidez. Em recém-nascidos, 78% são difteróides, o resto são estafilococos, estreptococos e E. coli. Já nas crianças, começa a colonização por lactobacilos por ação dos estrógenos maternos. Nas mulheres em idade reprodutiva, além dos lactobacilos outros organismos também estão presentes. Enquanto em mulheres pós-menopausa, há uma queda dos lactobacilos e colonização por E. coli e bacterióides. Microorganismos detectados em vagina de mulheres saudáveis e assintomáticas em idade reprodutiva: Lactobacilos Lactobacillus acidophilus, L. crispatus, L. jensenii ou L. gasseri produtores ou não de H2O2 Cocos Staphylococcus aureus, Streptococcus do Grupo B e D, peptococcus e peptostreptococus Bacilos Gardenerella vaginalis, Diphtheroids, Escherichia coli, clostridium, Atopobium, espécies de Bacteróides, Prevotella e Fusobacteria Mycoplasmas Mycoplasma hominis, Ureaplasma urealyticum Leveduras Candida albicans Para realizar um diagnóstico adequado é necessário a realização de 3 exames: teste de pH, teste das aminas e microscopia. O teste do pH vaginal deve dar ácido, entre 3,2 e 4,5. O teste das aminas deve ter como resultado negativo, indicando que não há presença de bactérias anaeróbicas produzindo amina, que ao ser volatilizada leva a um odor de peixe. Já a microscopia, ao ser realizado o esfregaço, deve- se obter flora tipo 1 e sem presença de patógenos. A flora do tipo I é melhor, composta 95% por Lactobacillus Doderlein que auxiliam produção de interleucinas, mantêm pH ácido e evita colonização por bactérias patogênicas. A flora tipo II apresenta cerca de 50% desses lactobacilos. Já a flora tipo III é a pior, menos de 5% de lactobacilos, com grande risco de estar colonizada por patogênicos. VAGINITES/VAGINOSES Processos exsudativos do epitélio vaginal causados por infecção ou desequilíbrio da flora normal do ecossistema. Se há inflamação é vaginite, se não é vaginose. Sintomas: corrimento vaginal, irritação, prurido, eritema, dispareunia, desconforto urinário, odor e hiperemia. CANDIDÍASE Causa frequente da vulvovaginite – 1º lugar em grávidas e 2º lugar em não grávidas – estrógeno dependente. Os fatores facilitadores são gravidez, anticoncepcionais orais, diabetes, hábitos de higiene e vestuário inadequados, uso de corticoides ou imunossupressores, contato com alérgicos ou irritantes e alterações na resposta imunológica. Entre 85 e 90% dos casos, são causados pela Candida albicans, origina-se quando a flora comensal normal rompe a barreira mucosa desencadeando processo inflamatório. Já a Candida não albicans (glabrata, krusei, tropicalis) causa de 10 a 15%. Flora Normal e Agentes Patogênicos Flora Normal e Agentes Patogênicos Tipo I Tipo II Tipo III 5 Considerado pela OMS uma doença sexualmente transmissível, embora contágio possa se fazer através de objetos, mãos e roupas contaminados. 75% das mulheres apresentam no mínimo 1 episódio, de 40 a 50% terão um 2º episódio e 5% terão episódios recorrentes. Sintomas: prurido, vulva e mucosa edemaciada, dor ao urinar, dispareunia e corrimento vaginal abundante, leitoso, brancacento, inodoro (leite coalhado). Mucosa vaginal apresenta hiperemiada e edemaciada, com pontilhado vermelho fino. Diagnóstico: sinais, pH vaginal 3,5, teste de Whife (teste de amina) negativo, hifas ou cistos na microscopia vaginal, cultura específica para fungos positiva. TRICOMONÍASE Infecção geniturinária transmitida sexualmente, mais comum em mulheres com vida sexual ativa. Cerca de 25% das vulvovaginite. Agente é o Trichomonas vaginalis, protozoário anaeróbio tetraflagelado, oval e fusiforme que cresce bem em um pH vaginal em torno de 5,5 a 6,0. Além disso, sobrevive em meio extra vaginal. Pode infectar colo e corpo uterino, tubas, bexiga e glândulas de Bartholin e de Skene. Quadro clínico é variável, estima-se que 50% dos pacientes sejam assintomáticas. Quando sintomática, a infecção manifesta-se por corrimento espumoso, odor fétido, amarelo-esverdeado, prurido, disúria e colpite em “framboesa”. Diagnóstico: pH alcalino, teste de Whife positivo, microscopia “tigróide” e cultura específica. Microscopia: flora tipo III, células epiteliais descamativas em grande quantidade, lise celular intensa, presença de protozoário flagelado, pH>4,5, teste de aminas positivo. CLAMIDÍASE O agente é a bactéria Clamidia trachomatis que tem vida intracelular obrigatória e atividade metabólica restrita. Assim, a maioria dasinfecções são assintomáticas. Sintomas: endocervicite (muco opaco ou purulento), uretrite, bartholinite, skeenite. As infecções em gestantes podem levar a complicações como prematuridade, baixo peso, ruptura prematura das membranas, óbito fetal e endometrite puerperal. VAGINOSE BACTERIANA Agentes: bactérias anaeróbicas, Bacteroides sp, Moliluncus sp, Peptostreptococcus, Mycoplasma sp e Gardnerella Vaginalis (principal causa). Infecção endógena polimicrobiana e aumento de anaeróbios. Ocorre na flora vaginal tipo III, desequilíbrio da flora com diminuição do número de lactobacilos e aumento de outros microorganismos próprios. Leucorréia causada por aumento maciço de germes anaeróbios em que há uma diminuição de lactobacilos produtores de peróxido, e um aumento exagerado de germes anaeróbicos e aeróbios Gram-negativos. É a mais frequente causa de sintomas vaginais na idade reprodutiva, causa muito incômodo as mulheres e pode levar a complicações importantes (obstétricas e ginecológicas), além do aumento da transmissão e aquisição do HIV. Sintomas: secreção vaginal fina, verde-acinzentada, odor desagradável. Diagnóstico: pH vaginal>4,5, teste de aminas positivo, corrimento fino e homogêneo levemente bolhoso, na microscopia presença de células-guias. Células-guia: célula epitelial fica atapetada por bacilos, de modo que a membrana citoplasmática fica com aspecto serrilhado, e não mais liso e bem definido. O tratamento é feito através de anaerobicidas como metronidazol e clindamicina. Não é necessário o tratamento do parceiro. CITOLÍTICA Sintomas: ardor, coceira, hiperemia e corrimento. Diagnóstico: teste de pH<4,3, teste de aminas negativo, flora tipo I intensa, lise celular intensa (núcleos desnudos), presença de células epiteliais recobertas por LB e muito material em suspensão. Célula-guia 6 CERVICITES Algum grau de inflamação crônica é observado em mulheres em idade fértil, não traduz sempre alteração clínica Praticamente inexiste antes da menarca e é menos frequente após menopausa. Podem ser infecciosas ou não. As não infecciosas são causadas por irritantes de natureza química ou mecânica. As cervicites infecciosas são mais comumente produzidas por agentes bacterianos, seguidas da infecção por Candida e por C. trachomatis, estas são importantes por serem uma DST e por causarem infecção ascendente. Bacteriana é reconhecida como evento inicial da DIP e de infecção endometrial, estando ainda relacionada com aborto espontâneo na gravidez. Na cervicite aguda, a mucosa é edemaciada, eritematosa e friável, podendo haver corrimento purulento. Se for muito intenso ou prolongado, surgem úlceras e alterações epiteliais degenerativas. Na cervicite crônica, infiltrado é constituído predominantemente por linfócitos, plasmócitos e histiócitos DIAGNÓSTICO E COMPLICAÇÕES DOENÇA INFLAMATÓRIA CRÔNICA (DIP) Infecção que começa na vulva ou na vagina e se espalha para cima de modo a envolver a maioria das estruturas do sistema genital feminino. Síndrome clínica atribuída à ascensão de microorganismos, portanto, compreende um espectro de distúrbios inflamatórios do trato genital feminino superior. Sintomas: dor pélvica, sensibilidade dos anexos, febre e secreção vaginal. Primeira causa de internação ginecológica nos EUA, 75% dos casos antes de 25 anos, a maioria nulípara. Susceptibilidade de adquirir uma DST, risco em adolescentes sexualmente ativas. Microorganismos envolvidos: Neisseria gonorrhoea, Chlamydia trachomatis, flora vaginal, Mycoplasma genitalium. Diagnóstico diferencial: gravidez ectópica, apendicite aguda, infecção do trato urinário, complicação cisto ovariano, litíase ureteral, endometriose, síndrome do intestino irritável e dor funcional. O diagnóstico clínico é feito por 3 critérios maiores e 1 critério menor ou elaborado. Os critérios maiores são dor no hipogástrio, dor à palpação dos anexos e dor à mobilização de colo uterino. Os critérios menores são febre, conteúdo vaginal anormal, massa pélvica, leucocitose em sangue periférico e proteína C reativa. Os critérios elaborados são evidência AP de endometrite, presença de abscesso tubo-ovariano, laparoscopia com evidência de DIP. SALPINGITES Afecções mais comuns da tuba, podem ser causadas por qualquer microrganismo, sendo os mais incriminados gonococos, estreptococos, E. coli e anaeróbios. É a partir de salpingite que um processo inflamatório, agudo ou crônico, propaga-se para o ovário, ligamentos ou peritônio pélvico, causando pelviperitonite. Complicações agudas: abscessos tubo ovariano, síndrome de Fitz-Hugh-Curtis e peritonite generalizada. Complicações a longo prazo: infertilidade por fator tubário (12 a 50%), gravidez ectópica e dor pélvica crônica. Normal Candidíase Tricomoníase Vaginose bacteriana Vaginose citolítica pH vaginal 3,8-4,5 <4,5 >4,5 >4,5 <4,5 Corrimento Limpo ou branco Branco, floculado Verde amarelado, aderente, bolhoso Fluído, homogêneo cinza ou branco Branco, floculado Teste das aminas (-) (-) (-/+) (+) (-) Queixa principal Nenhuma Corrimento, prurido e queimação Corrimento bolhoso, odor fétido, prurido e disúria Corrimento, odor fétido, prurido Corrimento, prurido e queimação Microscopia Lactobacilos Hifas e pseudohifas Trichomonas Células-guia 7 O HPV é o vírus do papiloma humano, existem pelo menos 70 tipos geneticamente distintos, sendo que 35 tipos infectam a região genital. É um vírus de DNA. Os tipos de baixo risco (1, 2, 4, 6, 7 e 11) provocam o papiloma escamoso benigno (verrugas) em humanos, possuem baixo potencial maligno. Por outro lado, há HPVs de alto risco (16 e 18) que foram implicados na gênese do carcinoma de células escamosas do colo do útero, da região anogenital e da cabeça e pescoço. Esses cânceres são doenças sexualmente transmissíveis provocadas pela transmissão do HPV. A transmissão não é sexual (não presente no sêmen), mas sim pelo contato entre a pele na atividade sexual. Assim, o maior número de parceiros, parceiro promíscuo e início precoce da atividade sexual são fatores de risco. Microscopia: coilocitose, em que as células escamosas, além de atipias nucleares, mostram vacúolos citoplasmáticos perinucleares contendo partículas virais. Na vulva, geralmente infecção se dá por HPV dos tipos 6 e 11 provocando lesão exofítica (verruga vulvar). Já no colo uterino, infecção ocorre por diversos tipos de HPV, a lesão é geralmente plana e são evidentes atipias coilocitóticas. Prevalência de HPV 99,7% dos tumores. Virtualmente, a totalidade dos carcinomas invasores do colo do útero ocorrem em mulheres que foram infectadas por HPV Nas verrugas benignas, o genoma do HPV é mantido em sua forma epissomal não integrada, enquanto em cânceres o genoma do HPV é integrado ao genoma do hospedeiro, sugerindo que a integração do DNA viral é importante para a transformação maligna. As células em que o genoma viral se integrou mostram mais instabilidade genômica. A p53 é conhecida como a “guardiã do genoma”, a proteína que evita a propagação de células geneticamente defeituosas. O potencial oncogênico do HPV pode ser bem explicado pelas atividades dos genes virais codificadores E6 e E7. A proteína E6 faz a mediação da degradação de p53 e estimula expressão da telomerase reduzindo a senescência celular. A proteína E7 liga-se ao gene Rb do hospedeiro (responsável por regular o ciclo celular) promovendo a proliferação celular, sai do estágio G1. – HPVs de alto risco expressam proteínas oncogênicas que inativam os supressores de tumor, ativam ciclinas, inibem a apoptose e combatem senescência celular. Devido ação de E6 e E7, célula acumula mais e mais danos no DNA, que não podem ser reparados. O acúmulo de mutações que surgem ao acaso contribui para a transformação celular. Só a infecção não é suficiente para explicar carcinogênese, fatores exógenos e endógenos devem atuar em conjunto na progressão das lesões. Entre fatores associados ao vírus, o tipo viral, a coinfecção, variantes, carga viral e taxa de integração são os mais importantes. Age em consonância com fatores ambientais que incluem o tabagismo, infecções microbianas coexistentes, deficiências nutricionais e alterações hormonais. Grande proporção das mulheres infectadas fica livre da infecção através de mecanismos imunológicas. O tipo de HPV pode ser hibridização in situ no material da biópsia, captura híbrida ou PCR (tipo mais sensível) A incubação é de 2/3 semanas a 8 meses. LESÕES PRECURSORAS. Ao exame clínico, as lesões cervicais provocadas pelo HPV podem ser planas (condiloma plano) ou, mais raramente, espiculadas (condiloma acuminado). As lesões precursoras do carcinoma invasor, das quais pode-se suspeitar pelo exame colposcópico, são duas vezes mais comuns no lábio anterior do que no posterior. Neoplasia intraepitelial cervical (NIC) que é separado em I, II e III. O NIC I corresponde à displasia leve causada por infecções virais produtivas, enquanto à NIC II, à displasia moderada em que há alta lesão intraepitelial. Já a NIC III é uma displasia acentuada, refere-se a lesões de natureza neoplásica, causada por HPV de alto grau, capazes de evoluir para carcinoma epidermoide invasor caso não seja tratada. O NIC 1 pode ser chamado de lesão intraepitelial escamosa de baixo grau (LSIL) que é associada com a infecção viral produtiva. Há alto nível de replicação viral e apenas pequenas alterações da célula hospedeira. Não progride diretamente para carcinoma invasivo, e, na verdade, em muitos casos, regride espontaneamente, por isso não é tratada como lesão pré-maligna. Forma epissomal, portanto não ocorre integração do HPV ao DNA celular. Hpv e Lesões precursoras Hpv e Lesões precursoras 8 O NIC II e NIC III são combinadas em uma categoria citada como lesão intraepitelial escamosa de alto grau (HSIL). Há desregulação progressiva do ciclo celular pelo HPV que resulta em aumento da proliferação celular, diminuição ou parada da maturação epitelial e uma menor taxa de replicação viral. O desarranjo do ciclo celular pode se tornar irreversível e oferecem um alto risco de progredirem para um carcinoma. Forma integrada, ocorre integração do HPV ao DNA celular. Marcador de proliferação MIB-1 cora intensamente NIC III evidenciando alta proliferação celular. . A progressão da NIC depende do tipo de vírus, da persistência em contato com o epitélio, da ocorrência de reinfecções e quantidade de vírus, além da competência imunológica. Pode haver evoluir para carcinoma epidermoide, adenoescamosos ou adenocarcinoma Lesões são rastreadas através do exame citopatológico, início aos 25 anos e término aos 64 anos, periodicidade trienal. Se o a citologia parecer estar alterada, pedir colposcopia, seguida de biópsia para determinação da lesão. A neoplasia intraepitelial vulvar (NIV) designa lesões precursoras representadas por proliferação epitelial de grau variável e atipias (displasia) que podem acometer desde o terço basal até toda a espessura do epitélio. A incidência de NIV tem aumentado ao longo do tempo, cerca de 50% das mulheres tem outro câncer genital (NIC) e história prévia de infecção por HPV – NIV frequentemente associada à NIC. A NIV pode ser graduada em I que é uma displasia leve. Já a NIV II indica neoplasia moderada e NIV III acentuada. O carcinoma in situ é classificado como NIV III e mostra anormalidades em toda a espessura do epitélio. A NIV I é classificada como lesão intraepitelial de baixo grau, enquanto as NIV II e NIV III e o carcinoma in situ são classificadas como lesões de alto grau. A NIV é dividida em tipo usual e diferenciado. A do tipo usual é separada em basaloide (mulheres mais idosas, maior potencial de transformação maligna e menor índice de remissão espontânea) e verrucosa. Já a NIV do tipo diferenciado, a forma menos comum, corresponde ao que antigamente era designado carcinoma intraepitelial do tipo simples; nesse tipo, há alterações epiteliais focais, com atipias nucleares menos evidentes e localização mais basal no epitélio. A NIV usual apresenta um mecanismo de patogênese associado ao HPV, acometendo mulheres mais jovens (entre 30 e 40 anos). É mais comum e de evolução mais lenta para o carcinoma epidermoide, apresentando lesões multifocais. Tratamento conservador. Histologicamente semelhante a NIC II E NIC III, apresentando figuras de mitoses altas, células isoladas queratinizadas e alteração em toda a espessura do epitélio. Já na NIV diferenciada, a patogênese não está associada ao HPV, acometendo mulheres idosas (70+). É mais raro, estando associado ao líquen escleroso da vulva e presença de mutação da p53, apresentando lesão única. É mais agressivo, portanto o tratamento é mais agressivo, com cirurgia para ressecção ampla. O diagnóstico histológico é mais difícil, pois as atipias celulares situam-se nas camadas mais profundas do epitélio, podendo ser confundidas com hiperplasia epitelial. Diagnóstico diferencial da NIV: dermatoses vulvares como líquen escleroso da vulva. NIC I Proliferação e atipias do epitélio nas camadas profundas; nessa região, há perda da polaridade e da maturação das células. A metade superficial do epitélio é normal NIC II As alterações estão presentes tanto na superfície quanto no terço médio do epitélio NIC III Distúrbio acentuado de proliferação e diferenciação de células escamosas em quase toda a espessura do epitélio. Observar mitoses nas várias camadas do epitélio, pleomorfismo celular e hipercromasia nuclear. 9 CARCINOMA DE COLO DO ÚTERO Prevenção e diagnóstico precoce resulta em redução da mortalidade – É PREVENÍVEL! Epidemiologia: pico de incidência aos 40 anos, indicativo de subdesenvolvimento de um país (2x mais comum). O subtipo histológico mais comum (80%) é o carcinoma de células escamosas, o segundo mais comum (15%) é o adenocarcinoma que se desenvolve a partir de um adenocarcinoma in situ; por último (5%) estão os carcinomas adenoescamosos e carcinoma neuroendócrino. Os graus histológicos são: G1 bem diferenciado, G2 moderadamente diferenciado e G3 pouco diferenciado (mais agressivo, maior índice de proliferação). Fator de risco: infecções recorrentes por HPV de alto risco. Cofatores de risco para lesões precursoras e carcinoma do colo uterino: nº de parceiros sexuais da mulher e parceiro, início precoce da atividade sexual (mucosa imatura), tabagismo, imunodepressão e uso de contraceptivo oral. CARCINOMA EPIDERMOIDE (CÉLULAS ESCAMOSAS – CCE) 85 a 90% dos casos, sendo o tipo histológico mais frequente. Incidente predominantemente em mulheres jovens, em idade fértil e produtivas. Abordagem de lesões suspeitas por meio do estudo de esfregaços de células (Papanicolau - citopatológico) ou biópsias (anatomopatológico) dirigidas por colposcopia. Assim, é possível o diagnóstico precoce da lesão e nítida redução da taxa de mortalidade. Pode se manifestar como massa vegetante (exofítico) ou infiltrativa. O padrão exofítico, forma mais frequente, caracterizada por massa polipoide, vegetante que se projeta na luz vaginal, melhor prognóstico. Já o padrão endofítico, de crescimento infiltrativo, acometendo inicialmente canal endocervical; tumor endofítico é mais agressivo e pode ser ulcerado, com infiltração precoce da parede uterina e extensão ao paramétrio, pior prognóstico ADENOCARCINOMA 10 a 15% dos casos. Origina-se das glândulas endocervicais, no interior do canal endocervical, sendo, portanto, de difícil visualização colposcópica. A maioria das lesões surge na zona de transformação. Clinicamente, o adenocarcinoma pode comportar-se como o CCE, sangramentovaginal é referido por 75% das pacientes, além de corrimento. Macroscopia: exofítico, podendo também ter crescimento infiltrativo difuso; em muitos casos há ulceração. Pode ser endocervical (70% - células similares às do epitélio da endocérvice que formam estruturas glandulares com ramificações complexas), viloglandular (mulheres mais jovens e melhor prognóstico, já que a infiltração pode não ocorrer ou ser mínima) e endometrioide (30% - adenocarcinomas da endocérvice é morfologicamente semelhante ao adenocarcinoma do endométrio). CARCINOMA ADENOESCAMOSO Mais raro – adenocarcinoma associado CCE A zona de transformação é a área mais vulnerável ao aparecimento de NIC e carcinoma invasivo. As lesões precursoras geralmente são lesões brancas no colo do útero, limitadas ao epitélio e podem regredir. Já o carcinoma invasivo rompe a membrana basal, não sendo limitado ao epitélio, e não regride. O carcinoma cervical avançado se estende por disseminação direta para envolver tecidos contíguos, incluindo os tecidos paracervicais, a bexiga, os ureteres, o reto e a vagina. A invasão linfovascular resulta em metástases de linfonodos Câncer do Trato Genital Inferior Câncer do Trato Genital Inferior Carcinoma de células escamosas invasor, bem diferenciado, formando pérolas córneas 10 locais e distantes. As metástases distantes também podem ser encontradas no fígado, pulmões, medula óssea e outros órgãos – metástases são preferencialmente por via linfática (linfonodos pélvicos), sendo as hematogênicas em órgãos distantes menos comuns. As displasias cervicais e o CIS, não tem sintomatologia própria e são diagnosticados por exames citológicos ou por colposcopia, em casos suspeitos é feita biópsia da lesão. No carcinoma invasor, sintomas dependem do tamanho do tumor e estadiamento. Em geral, pacientes queixam-se de corrimento, sangramento genital e dispareunia; nos casos avançados, pode ser detectada lesão que deforma ou destrói o colo uterino. APRESENTAÇÃO CLÍNICA As lesões precursoras não causam sintomas específicos, sendo detectadas somente através do exame de Papanicolau. Na fase inicial do carcinoma invasivo é assintomático e é diagnosticado pelo exame de Papanicolau. Na fase mais avançada, pode causar Leucorréia aquosa e depois fétida, sangramento pós coito, insuficiência renal e edema unilateral de membro inferior. ESTADIAMENTO O estádio I fica restrito ao colo do útero cujo diagnóstico microscópico é feito através da biópsia por conização. No estádio II, há invasão parcial dos paramétrios (não alcança parede óssea) e/ou vagina (terço superior a médio). Já o estádio III refere-se a invasão total dos paramétrios (até parede óssea), invasão de ureteres, invasão total da vagina e/ou acometimento de linfonodos aórticos, ilíacos e inguinais. Já no estádio IV A há invasão da bexiga e/ou reto, enquanto estádio IV B metástase para o pulmão. Maioria diagnósticos no estádio III que é quando aparecem sintomas como sangramento, insuficiência renal, leucorréia e edema (linfonodos). Sobrevida média de 5 anos ocorre em até 90% dos casos de lesões no estádio I, mas é de apenas 10% para os tumores no estádio IV. A maioria das pacientes nos estádios avançados falece em consequência da extensão local do tumor, sobretudo por acometer a bexiga, os ureteres ou a uretra, resultando em obstrução das vias urinárias com hidronefrose, infecção urinária e insuficiência renal. O grau de diferenciação da neoplasia também constitui fator prognóstico; tumores bem diferenciados são menos agressivos e permitem sobrevida maior. RASTREAMENTO E PREVENÇÃO O desafio é o rastreamento das lesões precursoras, que podem ser tratadas com sucesso antes da progressão para tumor invasivo. No colo uterino, isso pode ser feito por exame colpocitológico, convencional ou em meio líquido, ou ambos. Por esse exame, podem ser detectadas alterações morfológicas nas células, além de a mesma amostra servir para testes para detecção e tipagem do HPV, o que pode ser feito também em biópsias cervicais. DNA do HPV pode ser detectado por hibridação in situ, por captura híbrida ou por PCR. O teste de HPV tem melhor desempenho que o exame citológico no rastreamento do câncer do colo do útero: é esperado que substitua progressivamente o teste de HPV substitua o citopatológico. Não é indicado para mulheres jovens. TRATAMENTO Depende da extensão da doença no momento do estadiamento. No estádio I, a fase mais inicial, o ideal é cirurgia com remoção de margem, histerectomia. Nos estádios mais avançados, o indicado é quimioterapia, radioterapia (teleterapia) e braquiterapia. 30% dos pacientes morrem por recorrência ou residual. CARCINOMA DE VULVA É mais comum em mulheres idade avançada, especialmente após 65 anos. Diagnóstico: inspeção, vulvoscopia e biópsia. CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS 3 a 5% das neoplasias ginecológicas e representa a neoplasia vulvar mais comum. Pode ser superficialmente invasivo ou invasivo. Quando superficial, pode apresentar-se em forma de úlcera, pápula ou mácula, escura ou branca, com hiperceratose. O CCE invasivo pode ser vegetante de aspecto verrucoso ou ulceronodular (geralmente solitário). Clinicamente, pode haver prurido, sensação de queimação, sangramento ecorrimento. Assim como, dispareunia e disúria. Os graus histológicos são: G1 bem diferenciado, G2 moderadamente diferenciado e G3 pouco diferenciado. A diferenciação traduz-se pela capacidade da neoplasia formar ceratina/pérolas córneas e pelo grau de atipias. Metástases em geral por via linfática, acometendo primeiro linfonodos inguinais homolaterais e, depois, pélvicos ou cadeias distantes. Pela via sanguínea, podem acometer fígado, pulmões e outros. 11 Fatores de prognóstico: tamanho, ulceração, invasão vascular e acometimento de linfonodos. ADENOCARCINOMA Neoplasia maligna bastante rara, geralmente origina-se nas glândulas de Bartholin ou sudoríparas OUTROS TUMORES Melanoma (2 a 9% dos tumores malignos da vulva) pode originar-se em nevos ou melanoses cutâneas. A forma clínica pode ser superficial, melhor prognóstico, ou nodular, profunda e infiltrativa. Linfomas são muito raros e ocorrem sobretudo em mulheres jovens. Tumores metastáticos são também raros, com exceção do coriocarcinoma ou metástases generalizadas. O carcinoma verrucoso é muito bem diferenciado, volumoso, crescimento lento, associado ao HPV de baixo risco. É pouco agressivo, dando metástases poucas vezes. Apresenta diagnóstico histológico difícil, pois assemelha-se ao condiloma e não apresenta atipias. Infiltração em blocos arredondados e bom prognóstico. APRESENTAÇÃO CLÍNICA As lesões precursoras causam prurido crônico, manchas (brancas, avermelhadas ou hiperpigmentadas) e lesão única (idosa não associada ao HPV) ou múltiplas (jovens associadas ao HPV) O carcinoma invasivo da vulva leva a prurido crônico, nódulo (esbranquiçado, avermelhado/hiperpigmentado), localizado. Se o carcinoma já estiver avançado, há também lesão ulcerada com bordas elevadas e sangramento. ESTADIAMENTO E TRATAMENTO No estádio I a lesão é menor que 2 cm sem linfonodos suspeitos. No estádio II, a lesão é maior que 2 cm ainda sem linfonodos suspeitos. No estádio III, o tamanho da lesão é indiferente podendo comprometer uretra inferior/vagina/ânus ou linfonodos regionais unilaterais. Já no estádio IV há comprometimento da uretra superior/mucosa bexiga/parede óssea ou linfonodos regionais bilaterais e acometimento de órgãos distantes. Se nos estádios iniciais, é possível a retirada cirúrgica através de vulvectomia total. Se não, é necessária a realização de radioterapia e quimioterapia. CARCINOMA DE VAGINA É pouco comum (1% das neoplasias ginecológicas). As metástases são mais comuns que o tumor primário, portanto devem ser sempredescartadas. . O câncer mais comum da vagina é o carcinoma de células escamosas, semelhante ao da vulva, que deve ser diferenciado do carcinoma escamoso do colo uterino que invade a vagina. Sua etiopatogênese também envolve a infecção pelo HPV. A nomenclatura das lesões é análoga à do colo uterino, ou seja, neoplasia intraepitelial vaginal (NIVA). Outros possíveis tipos histológicos são carcinoma verrucoso (raro) e adenocarcinoma (muito raro – quando ocorre reepitelização após lesão da mucosa vaginal com formação de glândulas. APRESENTAÇÃO CLÍNICA As lesões precursoras estão associadas as lesões precursoras do colo uterino e vulva. Uma lesão branca e localizada é a manifestação mais frequente. O carcinoma invasivo da vagina é mais frequente na parede posterior e no terço superior da vagina. Gera lesão ulcerada com bordas elevadas, sangramento espontâneo ou pós-coito e odor fétido. ESTADIAMENTO No estádio I está limitada à parede vaginal. No estádio II, se estende até o tecido subvaginal, sem atingir a parede óssea. No estádio III, se estende até a parede óssea. Já no estádio IV A se estende além da pelve verdadeira, atingindo a mucosa da bexiga/reto, enquanto no IV B atinge órgãos distantes (pulmão). CONDILOMA ACUMINADO Não é considerado uma NIV, causado por HPV de baixo risco oncogênico. Processo expansivo, com crescimento exofítico (verruga genital – “crista galo”). Transmissão sexual, se verruga visível o risco é maior. Apresenta atipias coilocitóticas. 12 O útero tem dois componentes principais: o miométrio e o endométrio. O miométrio é composto por feixes entrelaçados de músculo liso que formam a parede do útero. A cavidade interna do útero é revestida pelo endométrio, composto por glândulas em meio a um estroma celular As doenças mais comuns do corpo uterino resultam de alterações endócrinas, complicações da gravidez e lesões proliferativas. Pouco frequentemente, é sede de infecções. LEIOMIOMA É a neoplasia uterina mais comum, estando presente em cerca de 25% das mulheres acima de 30 anos, mas pode ocorrer da adolescência a menopausa. Crescimento afetado pelos hormônios sexuais, pois suas células têm receptores para estrógenos. Regride e calcifica após menopausa, além de aumentar muito na gestação. Macroscopia: nodular, bem delimitado, firme, fasciculado e brancacento. O tamanho varia de poucos milímetros até grandes massas. A localização pode ser subserosa, intramural ou submucoso. Microscopia: células musculares lisas dispostas em feixes entrecruzados (“redemoinho”), de aspecto homogêneo, colágeno, sem atipias e com raras mitoses. Limites nítidos, ausência de cápsula verdadeira Diagnóstico diferencial: liomiossarcoma bem diferenciado (pelo número de figuras de mitose). Raramente sofre transformação maligna (2%) – benigno. ASPECTOS CLÍNICOS Geralmente assintomáticos, sendo o diagnóstico feito por imagem (ultrassonografia). Dependem do número de tumores, localização no endométrio e tamanho. Os sintomas mais comuns são dor, poliúria, sensação de compressão e sangramento uterino anormal. Ás vezes pode ser palpado. Pode ser dentro do miométrio (intramural), logo abaixo do endométrio (submucosos – maior sangramento) ou abaixo da serosa (subserosos – menos sintomático). LEIOMIOSSARCOMA • Cerca de 1,5% das neoplasias malignas do útero. Ocorre sobretudo em mulheres entre 40 e 60 anos. A maioria é intramural, podendo acontecer também o colo uterino. Macroscopia: massa única, de limites pouco definidos, de coloração amarelo-acinzentada ou rósea, frequentemente com áreas de necrose e hemorragia. Microscopia: hipercelularidade, atipias nucleares, 10 ou mais figuras de mitose em 10 campos de grande aumento e necrose. Células pouco diferenciadas com alta capacidade proliferativa. Prognóstico depende do tamanho do tumor, índice mitótico, invasão vascular, necrose e estadiamento. Sintomas: crescimento rápido do abdome, hemorragia. As metástases são mais frequentes por via hematogênica. OUTRAS QUESTÕES DO MIOMÉTRIO Miometrites são quase sempre secundárias a infecções da cavidade uterina e geralmente estão associadas a infecção puerperal ou aborto infectado. Os microorganismos causadores mais frequentes são bactérias anaeróbias, estafilococos, estreptococos e gonococos. A complicação mais importante é a disseminação a distância, resultando em endocardite infecciosa, abscessos pulmonares e septicemia. A hipertrofia do miométrio é caracterizada por espessamento da parede uterina, resultando em aumento simétrico do volume e peso do útero (+ filhos + pesado). ENDOMÉTRIO NO CICLO MENSTRUAL Descama parcialmente a cada ciclo menstrual. No período pré-puberal, a mucosa endometrial permanece inativa. Sofre alterações fisiológicas próprias do ciclo menstrual, as quais são controladas por hormônios hipofisário e ovarianos. No período reprodutivo, os dois terços superficiais do endométrio respondem aos hormônios ovarianos e sofrem modificações durante o ciclo menstrual. Já o terço basal Corpo Uterino e Casos Clínicos Corpo Uterino e Casos Clínicos 13 permanece marcadamente constante e constitui a origem da proliferação de glândulas e estroma da 1ª fase do ciclo. Fase proliferativa: glândulas dos terços superficiais são tubulares retas e revestidas por epitélio colunar, com frequentes figuras de mitose, pseudoestratificado, sem sinais de secreção ou vacuolização. Ao final da fase proliferativa, proliferação celular se reduz, e inicia-se, após a ovulação, a diferenciação das glândulas e do estroma, constituindo a fase secretora. Fase secretora: glândulas tornam-se cada mais tortuosas; as modificações do estroma incluem edema e pré- decidualização, além de modificações das arteríolas, que passam a ser ramificadas e espiraladas. O ciclo do endométrio é controlado pela liberação de estrógenos e progesterona pelos ovários. Estrógenos atuam nas células do estroma, induzindo-as a produzir fatores de crescimento (fase proliferativa). Já a progesterona promove a diferenciação glandular e reduz a expressão dos receptores estrogênicos nas glândulas (fase secretora). Exame histológico: avalia funcionamento do eixo hipotalâmico- hipofisário-ovariano e para se determinarem ciclos ovulatórios em pacientes inférteis. A datação (dia do ciclo menstrual) do endométrio é feita durante a fase secretora, por meio de biópsias realizadas no endométrio. Na gestação, as glândulas são supersecretoras (tortuosas) e o estroma abundante. Na gravidez há acentuada ação progesterônica. Ocorre o fenômeno Arias-Stella em que há hipercromatismo nuclear, que é atribuído a poliploidia das células pela ação da progesterona. As células fazem proeminência na luz da glândula e são chamadas de células em cabeça de prego. As células do estroma endometrial sob ação progesterônica mostram-se volumosas com citoplasma abundante róseo. O endométrio gravídico também é chamado de decídua, e a modificação das células estromais é referida como decidualização ou transformação decidual. Poucas mulheres param de menstruar abruptamente. Na maioria das vezes, existe um período com duração média de 4 anos, denominado climatério, em que os ciclos menstruais tornam-se irregulares, prolongados e geralmente anovulatórios. Nessa fase, sangramentos anormais são comuns e devem ser investigados dentro do diagnóstico diferencial com hiperplasias ou adenocarcinoma do endométrio. Após a menopausa e com a redução progressiva dos estrógenos, o endométrio sofre hipotrofia crescente. As glândulas são tubulares e ficam revestidas por epitélio simples, cuboide ou pseudoestratificado, sem figuras de mitose ENDOMETRITE Pouco comum, pois endométrio é bem resistente às infecções, pois o canal endocervical, ocupado por secreção mucosa e possuindo células de defesa, forma umabarreira eficaz contra entrada de agentes infecciosos pela via ascendente. Os fatores predisponentes são período menstrual (maior abertura do colo uterino para passagem do endométrio descamado), gravidez (retenção de produtos da gestação favorecem a proliferação bacteriana), DIU (irritação crônica do endométrio) e pólipos (processo irritativo crônico). AGUDA Resulta de infecção bacteriana que ocorre no pós-parto ou em abortos, principalmente pela retenção de produtos da concepção; podem associar-se também, a dispositivos intrauterinos. A causa mais comum é a pós- aborto com antissepsia inadequada. Sintomas: loquiação purulenta, falta de involução uterina, exsudato, pseudomembrana, propagação ao miométrio, flebite, trombos e êmbolos sépticos (disseminação). Os agentes infecciosos mais comuns são as bactérias. Histologia: processo inflamatório com acometimento do interstício e das glândulas, sendo o infiltrado predominantemente de neutrófilos, às vezes formando abscessos. Complicações: tromboembolismo e abscesso pulmonar, endocardite bacteriana, insuficiência cardíaca secundária e sepse. Glândulas curtas revestidas por epitélio pseudoestratificado, com estroma denso Glândulas alongadas e tortuosas, com estroma frouxo 14 O tratamento é feito através de antibióticos ou cirurgia com a retirada total do útero (histerectomia). CRÔNICA Associada a processos inflamatórios pélvicos, seguem- se a endometrite agudas ou são secundárias a inflamações crônicas específicas, como tuberculose miliar ou salpingite tuberculosa. Histologia endometrite crônicas inespecíficas: infiltrado de macrófagos, eosinófilos e, principalmente, plasmócitos. Histologia endometrite crônicas específicas: resposta inflamatória é granulomatosa ou identifica-se o agente causador. A tuberculose é o agente causador mais comum da crônica específica afetando as tubas uterinas e gerando quadro de salpingite. Em pacientes imunossuprimidos, também é possível Paracoccidioidomicose, Estrongilóides e esquistossomose. Sintomas: sangramento anormal, dor pélvica, eliminação de secreção vaginal e até infertilidade. HEMORRAGIA UTERINA DISFUNCIONAL (HUD) Sangramento excessivo, prolongado ou intermitente, que ocorre durante ou entre os períodos menstruais, proveniente do endométrio, sem lesão orgânica primária do útero, associado a distúrbios hormonais. Geralmente, ocorre em mulheres acima dos 35 anos de idade e adolescentes. A causa mais frequente é o ciclo anovulatório que ocorre geralmente próximo da menarca ou na perimenopausa. Essa falta de ovulação resulta das alterações endócrinas, lesões ovarianas ou transtornos metabólicos sistêmicos. Não havendo ovulação, o endométrio fica submetido a estímulo estrogênico excessivo e prolongado. Diagnóstico através de biópsia endometrial entre 22º e 24º dia do ciclo mostrando endométrio com padrão proliferativo. Esse tipo de ciclo é a causa mais frequente de infertilidade. Outro motivo é a fase luteínica inadequada, que se manifesta com sangramento aumentado ou amenorreia, também causa infertilidade e ocorre por função inadequada do corpo lúteo, determinando baixa de progesterona. Diagnóstico é feito por biópsia do endométrio no período pós-ovulatório que mostra endométrio secretor defasado. Possível motivo é a descamação irregular que se manifesta por sangramento volumoso e prolongado durante a menstruação. Diagnóstico através da curetagem que revela endométrio de padrão misto (proliferativo e secretor). Também pode ser causado pelo uso de anticoncepcionais orais que pode provocar uma gama de alterações endometriais que dependem do tipo de esteroide utilizado, da dose, da fase do ciclo e do tempo de utilização. Alteração desaparece após suspensão do uso. Outro possível motivo é o molde decidual, condição comum em mulheres jovens, que se caracteriza pela eliminação de fragmentos grandes de tecido de aspecto membranáceo, pardo e macio, que lembra um molde da cavidade uterina. Os principais sintomas são dor e desconforto abdominal. Microscopia mostra endométrio secretor com acentuada reação decidual, sugerindo estímulo progesterônico aumentado. ENDOMETRIOSE Presença de glândulas e/ou estroma endometriais fora do útero. É relativamente frequente e geralmente ocorre no período reprodutivo. As sedes mais comuns são ovários, tubas uterinas, ligamentos uterinos, peritônio e cicatriz de laparotomia. Menos comumente, acomete intestinos, colo uterino, vagina e vulva; raramente, atinge linfonodos pélvicos, bexiga, mama, pulmões, ossos e encéfalo. Etiopatogênese controversa, existem três teorias que não se excluem mutuamente. A teoria da regurgitação baseia-se em menstruação retrógrada através das tubas uterina, o que levaria fragmentos de endométrio à cavidade peritoneal que se implantam e proliferam. A teoria metaplásica pressupõe que surge de metaplasia do epitélio celômico, do qual é primitivamente derivada. A teoria da disseminação vascular ou linfática de células da mucosa endometrial descamadas durante a menstruação, o que explicaria a endometriose presente em sítios distantes como pulmões, encéfalo, etc. Fatores hormonais, genéticos e imunitários parecem também estar relacionados com susceptibilidade ao desenvolvimento. As glândulas e estroma têm comportamento diferente do endométrio normal quanto às respostas hormonais. Na endometriose, há ativação da cascata inflamatória com liberação de prostaglandinas, que estimulam a produção de estrógenos por células estromais, os quais aumentam a sobrevida e a persistência da endometriose e resistência à ação progesterônica. Fator predisponente para desenvolvimento de neoplasias. Macroscopia: massas ou nódulos avermelhados, azulados ou acastanhados, geralmente associados a pequenos cistos 15 contendo material achocolatado. Essas lesões podem ocasionar aderências entre os órgãos afetados e estruturas adjacentes. Microscopia: glândulas endometriais, estroma e pigmento de hemossiderina – tecido decidualizado. Endossalpingiose: epitélio do tipo tubário. Sintomas: dependem do sítio acometido; mais frequentemente, aparecem dismenorreia, dor pélvica, dispareunia, sangramento irregular e infertilidade. Existem 2 tipos: adenomiose (endometriose interna) e endometriose verdadeira (externa ao útero – descrita anteriormente). ADENOMIOSE Caracteriza-se pelo encontro de endométrio na intimidade do miométrio – mucosa endometrial na espessura do endométrio. É uma lesão frequente, não tem causa conhecida e ocorre predominantemente na perimenopausa (4ª ou 5ª décadas de vida e multíparas). A patogênese está relacionada a estímulo estrogênico que leva a uma hiperplasia da camada basal. Associação leiomioma. Sintomas: menometrorragias, desconforto menstrual, dor pélvica e dispareunia (período pré-menstrual). Macroscopia: parede uterina espessa, miométrio submucoso exibindo aumento da fasciculação (espesso), focos de hemorragia (cheio de furinho que corresponde as glândulas endometriais) e/ou pequenos cistos. Microscopia: glândulas e/ou estroma endometriais na intimidade do miométrio que podem ou não responder aos estímulos hormonais do ciclo menstrual. A presença de estroma endometrial junto às glândulas, que possuem características de benignidade, ajuda a diferenciar a adenomiose do adenocarcinoma endometrial bem diferenciado, invasor. TUMORES MÜLLERIANOS MISTOS Neoplasias incomuns, bifásicas, que se caracterizam por apresentar diferenciação tanto epitelial quanto mesenquimal. Origina-se no mesoderma mülleriano, que deriva do útero, assim, suas células podem se diferenciar em tecido epitelial e mesenquimatoso – tumor misto. Histologicamente, pode ser adenofibroma, adenossarcoma, carcinofibroma ou carcinossarcoma (mistura de células epiteliais/mesenquimais com características demalignidade). O carcinossarcoma (TMMM) ou tumor mülleriano misto maligno é o mais comum. Apresenta áreas de carcinoma (componente epitelial maligno) e de sarcoma (componente mesenquimatoso maligno). Pode ser homólogo (elementos útero) ou heterólogo (elementos não próprios do útero). 16 HIPERPLASIA DO ENDOMÉTRIO Consiste na proliferação aumentada da mucosa endometrial. 15% das afecções ginecológicas, constituindo uma causa frequente de consulta ao ginecologista. Ocorre predominantemente na perimenopausa; podendo, no entanto, acometer pacientes jovens ou após a menopausa. São resultado de estímulo estrogênico anormalmente elevado e prolongado, acompanhado de redução ou ausência de atividade progesterônica. Lembrando que o estrógeno aumenta proliferação glandular, enquanto a progesterona tem efeito secretor. Condições que propiciam: ciclos anovulatórios, tumores ovarianos funcionantes, hiperplasia do estroma cortical ovariano, ovários policísticos e administração prolongada de estrógenos (reposição hormonal) sem a contraposição de progesterona. Sintomas: sangramento normal uterino anormal no período reprodutivo ou após a menopausa. Com a permanência do estímulo estrogênicos a hiperplasia do endométrio evolui lenta e progressivamente para quadros histológicos cada vez mais atípicos, com potencial para evoluir para adenocarcinoma do endométrio. Geralmente, há inativação do gene supressor de tumor PTEN que codifica uma enzima que promove a desfosforilação de moléculas lipídicas e proteicas. Quando inativo, a fosforilação dessas moléculas é maior, havendo estimulação da proliferação celular e inibição do apoptose. Mutações PTEN encontradas em 20% das hiperplasias e em 20 a 80% dos carcinomas endometriais. Perda de função da PTEN ativa caminhos ativados por estrógenos. Diagnóstico: biópsia do endométrio. Importante, pois há possibilidade na progressão para malignidade, já que as de alto grau (atípicas complexas) podem evoluir para adenocarcinoma endometrial. Macroscopia: endométrio é difusamente espessado com crescimento polipoide e contendo cistos. MICROSCOPIA Típica: autolimitada e com pouca relação com o câncer de endométrio. A simples consiste em proliferação de glândulas (bastante estroma), com ramificações e invaginações, sendo o epitélio semelhante ao epitélio proliferativo normal – transformação cística é frequente e na maioria dos casos evolui para hipotrofia cística do endométrio. Na hiperplasia complexa, a densidade glandular é maior, com ramificações mais frequentes e complexas, além da justaposição entre elas – relação glândula/estroma deve ser 2:1. SIMPLES Atípica: precursora do adenocarcinoma endometrial. A grande maioria é complexa também chamada de hiperplasia adenomatosa. Na complexa, formam-se papilas na luz glandular – são lesões precursoras do carcinoma em 20% dos casos. O diagnóstico de atipias é baseado no encontro de alterações nucleares e despolarização das células, núcleos aumentados, cromatina irregular (aspecto vesicular), Ambas são divididas em simples ou complexa, com base em aspectos arquiteturais, especialmente complexidade glandular e a quantidade de estroma entre as glândulas. Lesões precursoras e Câncer do Endométrio Lesões precursoras e Câncer do Endométrio Glândulas proliferadas, que são revestidas por epitélio pseudoestratificado, sem atipia Transformação cística 17 ADENOCARCINOMA Se mulher na pós-menopausa reclamar de sangramento SEMPRE descartar esse carcinoma. 5ª neoplasia mais frequente em mulheres, com maior incidência nos EUA e na Europa – predominante em países desenvolvidos – no Brasil, mais incidente no Sul e Sudeste. Mais comum na etnia branca do que negra e manifesta-se na maioria dos casos entre 55 e 65 anos, sendo incomum antes dos 40 anos de idade, o que mostra a importância do cuidado da saúde da mulher na pós-menopausa. Fatores de risco semelhantes aos da hiperplasia endometrial: idade avançada, hiperestrogenismo na pós- menopausa (sem estímulo de progesterona), síndrome metabólica, exposição prolongada a estrógenos, fatores imunológicos e hormonais, antecedente oncológico, síndrome hereditária e tamoxifeno. O estrógeno pode ser da reposição hormonal, tumores produtores de estrógenos e da conversão periférica de andrógenos em estrógenos no tecido adiposo, especialmente em mulheres obesas. Tamoxifeno é terapia adjuvante em mulheres com câncer de mama e tem efeito agonista de estrogênio no endométrio – risco depende da alta dosagem e do longo tempo de uso. Anticoncepcional oral combinado (estrógeno + progesterona) tem efeito protetor, o uso por mais de 5 anos pode diminuir o risco em 55%. Cerca de 1/3 dos casos surge em mulheres na pós- menopausa, sem evidência de exposição exógena ou endógena aos estrógenos, nas quais o endométrio adjacente é inativo ou atrófico. Esses tumores são em geral pouco diferenciados, mais agressivos, insensíveis à terapia com progesterona e têm prognóstico desfavorável. Carcinoma endometrial é subdividido em dois grandes tipos. Tipo I ou endometrioide: mais comum (70%) relacionado à hiperplasia endometrial e ao hiperestrogenismo. Mutações no gene supressor de tumor PTEN, instabilidade de microssatélites e mutações nos oncogenes KRAS e ß-catenina. Por ter crescimento mais lento e ser menos agressivo tem melhor prognóstico. Tem sintomas precoces e lesão grande e difusa o que leva a um diagnóstico precoce Tipo II ou não endometrioide: não relacionado com fatores hormonais ou hiperplasia endometrial, que aparece em idade mais avançada e tem pior prognóstico. A lesão precursora é o carcinoma intraepitelial. Desenvolve-se no endométrio atrófico e geralmente é pouco diferenciado, pelo os sintomas serem mais tardios o diagnóstico é atrasado. Mutações no gene p53 são comuns nos dois tipos tumorais, mas parecem ser um evento tardio na tumorigênese, pois não são observadas em hiperplasias ou carcinomas do tipo I pouco diferenciados. Macroscopia: massa polipoide, de tamanho variado, ou como tumor difuso acompanhando toda a superfície do endométrio. MICROSCOPIA Carcinoma endometrioide reproduz estruturas do endométrio normal, sendo graduado, de acordo com a distribuição arquitetural, como de grau 1 (bem diferenciado, com padrão glandular predominante e menos de 5% de crescimento sólido), grau 2 (moderadamente diferenciado, com menos de 50% de áreas sólidas) e grau 3 (pouco diferenciado, com padrão de crescimento predominantemente sólido – mais de 50%). Além disso, cerca de 20% desses tumores têm focos de diferenciação escamosa. Carcinoma não endometrioide tem padrão histológico semelhante ao do carcinoma seroso ou de células claras do ovário. Os tipos histológicos são adenocarcinoma seroso (mais comum) e adenocarcinoma de células claras. APRESENTAÇÃO CLÍNICA São inespecíficos e pouco característicos. Maioria (90%) das pacientes tem alguma forma de corrimento vaginal anormal e 80% queixam-se de sangramento uterino. Pacientes com doença avançada podem relatar dor pélvica ou outros sintomas relacionados com a disseminação da neoplasia. Cerca de 1% dos tumores é assintomático, geralmente são do tipo não endometrioide. 18 Diagnóstico: ultrassonografia vaginal (sensibilidade maior que 70%), citologia oncótica cervical e endometrial, biópsia endometrial (se negativo não exclui ausência), dilatação e curetagem, histeroscopia (padrão ouro). Sobrevida depende do estadiamento e tipo histológico do tumor. Também está relacionado com o prognóstico uma maior profundidade de invasão do miométrio e metástases em linfonodos. Tratamento: cirurgia, radioterapia, quimioterapia e hormonoterapia. ESTADIAMENTO Tumor progride com invasão direta do miométrio e, por contiguidade, atinge estruturas periuterinas;por via linfática, acomete linfonodos inguinais, pélvicos e para- aórticos. Tardiamente, pode disseminar-se por via hematogênica, determinando metástases nos pulmões, peritônio, ovários, fígado, intestinos, vagina e bexiga. As metástases também podem ser transtubárias. No estádio I, tumor confinado ao corpo uterino. No estádio II, tumor estende-se do colo uterino para glândulas endocervicais e estroma cervical. Já no estádio III, há infiltração regional do tumor na vagina, pelve, linfonodos para-aórticos e/ou anexos. Por fim, o estádio IV, já é uma doença pélvica avançada com metástases a distância. 19 CISTOS NÃO NEOPLÁSICOS Os cistos não neoplásicos são lesões comuns, de grande interesse clínico e sobretudo cirúrgico, relacionadas muitas vezes com alterações funcionais do ovário e hemorragia uterina disfuncional. Os cistos foliculares e lúteo são funcionais e resultam em uma disfunção do eixo hipotálamo-hipófise-ovário. Diagnóstico diferencial em relação as neoplasias císticas, abscessos ovarianos e hidrossalpinge através de exames de imagem. CISTOS FOLICULARES Durante o ciclo menstrual, se houver algo que impeça a rotura do folículo maduro e a liberação do ovócilo, não ocorre a ovulação e forma-se um cisto folicular, com conteúdo líquido que involui espontaneamente. Tão comuns que podem ser considerados variação normal da evolução dos folículos ovarianos. Geralmente pequenos, únicos ou múltiplos com superfície interna lisa, sem massas vegetantes na luz. Conteúdo seroso, cristalino ou pouco hemorrágico. Microscopia: cistos revestidos por células da granulosa ou da teca, com ou sem luteinização. Podem produzir estrógeno, favorecer torção do ovário. Além disso, a situação gera atraso na menstruação e endométrio apenas proliferativo devido a não produção de progesterona que ocorreria após ovulação. Cistos foliculares regridem espontaneamente em 2 ou 3 meses. CISTOS DO CORPO LÚTEO Após a ovulação, o corpo lúteo pode não ser reabsorvido e cresce, formando um cisto heterogêneo, de aspecto pseudo-sólido, menor que o folicular, com um halo de vascularização ao redor (facilmente detectável ao exame de imagem). Parede castanho-amarelada, superfície interna lisa e o conteúdo é hemorrágico no início e incolor quando ocorre sua absorção. Revestidos por células da teca e granulosa luteinizadas. Confundidos com cistos endometrióticos durante cirurgia Ruptura ou torção com torção com hemorragia abdominal pode simular gravidez ectópica. CISTOS ENDOMETRIÓTICOS Formam se há endométrio funcionante no ovário. São uni ou bilaterais, quase sempre múltiplos. Aparecem como nódulos vermelho-azulados ou pardo-amarelados, cobertos por aderências fibrosas. Conteúdo é caracteristicamente vermelho-escuro e espesso, sendo por isso denominados por cistos achocolatados. Microscopia: revestido por epitélio e estroma endometrial, com áreas de hemorragia recente e antiga. Na fase final, o tecido endometrial é reabsorvido, ficando apenas a parede fibrosa contornando áreas de hemorragia e grande número de macrófagos fagocitando hemossiderina. Podem estar associados a carcinoma do endométrio ou a carcinoma endometrioide do ovário. Ovário: Neoplasias e Cistos Não Neoplásicos Ovário: Neoplasias e Cistos Não Neoplásicos 20 DOENÇA DE OVÁRIOS POLICÍSTICOS Condição comum (8% de mulheres em idade reprodutiva) mais frequente em jovens (3ª década) e caracterizada por ovários esclerocísticos, oligoamenorreia e ciclos anovulatórios, levando a infertilidade e manifestações androgênicas (hirsutismo, acne e alopecia) Macroscopia: os ovários estão geralmente aumentados de volume e têm superfície externa brancacenta, perolácea e lisa (aparência de “ovos de galinha”). A superfície de corte mostra diversos cistos subcapsulares de tamanhos variados, envoltos por estroma denso. Microscopia: encontra-se espessamento fibroso da cápsula e numerosos cistos foliculares, com hiperplasia e luteinização da teca interna. Evolução clínica é lenta. Devido hiperestrogenismo prolongado, pacientes apresentam risco aumentado de desenvolver hiperplasia e adenocarcinoma endometriais e carcinoma da mama. Tratada com hormônios reguladores do ciclo menstrual, fármacos indutores de ovulação ou cirurgia com ressecção em cunha dos ovários. OUTRAS QUESTÕES DO OVÁRIO A hiperplasia é um distúrbio relativamente comum, caracterizado por hiperplasia das células tecoestromais e ninhos de luteinização. Incide preferencialmente após menopausa. Como as células tecoestromais produzem andrógenos e estrógenos, as pacientes podem apresentar graus variados de virilização, hemorragia uterina disfuncional, hiperplasia e carcinoma endometrial. Torção e infarto hemorrágico são condições frequentes em cirurgias de urgência ou laparotomia exploradoras, em pacientes com sintomatologia de abdome agudo. São mais comuns em pacientes com tumores (benignos e malignos) e cistos volumosos de ovário. Edema acentuado de ovário, que ocorre em mulheres jovens (21 anos), crianças ou adolescentes, resulta de torção intermitente do meso-ovário. Em 90% dos casos, o processo é unilateral, resultando em ovário volumoso e com superfície de corte gelatinosa, simulando neoplasia. A lesão provoca dor ou desconforto abdominal baixo e massa anexial palpável. Microscopicamente, há edema acentuado e difuso. A maioria dos casos exige tratamento cirúrgico, mas alguns podem ser tratados de forma conservadora. Inflamações são raras (oooforites) são raras e, quase sempre, secundárias a inflamações da tuba (doença inflamatória pélvica). Algumas vezes, são secundárias a inflamação do sigmoide ou do apêndice cecal. Infecção hematogênica é rara. NEOPLASIAS 3º lugar entre os cânceres do sistema genital feminino, atrás dos carcinomas do colo uterino e do endométrio. Cerca de 80% são benignas, ocorrendo entre 20 e 45 anos de idade. As neoplasias malignas são mais comuns entre 45 e 65 anos. O diagnóstico ocorre em estágios já avançados, com extensão além do ovário, pois causam pouco ou nenhum sintoma em fases iniciais. Pelo diagnóstico ser geralmente tardio, o câncer ovariano apresenta elevada letalidade, sendo responsável por quase metade das mortes por câncer genital feminino. Fatores protetores: gravidez, lactação, laqueadura tubária e contraceptivos orais Fatores de risco: idade, menarca precoce, nuliparidade, menopausa tardia, baixa utilização de contraceptivos orais, histórico familial e disgenesia gonádica. Nuliparidade e não utilização de contraceptivos orais favorecem ovulações múltiplas. Teoricamente, a ovulação causaria perda da integridade do epitélio ovariano superficial seguida de regeneração, mutações múltiplas e, finalmente, transformação maligna. Resumidamente: os ciclos ovulatórios são fatores de risco para desenvolvimento carcinoma de ovário, portanto os fatores protetores estão associados a ciclos anovulatórios e fatores de risco associados a ciclos ovulatórios. O rompimento do folículo no momento da ovulação permite a entrada de células serosas tubárias alteradas nos ovários que levariam ao desenvolvimento da neoplasia. Essa passagem de células ocorreria no momento em que ocorre a aderência entre a trompa e o ovário que está ovulando – essas células podem entrar no cisto ovariano e lá encontrar melhores condições para proliferar, já que o ovário é hiperestimulado por hormônios. 7% das mulheres com câncer do ovário apresentam um ou mais parentes com a doença. Os genes frequentemente mutados no câncer ovariano familial são BRCA-1 e BRCA-2. Outros fatores de risco são mutações nos genes HER2 (relacionado ao mau prognóstico), p53, KRAS e BAF. Os sintomas mais comuns são dor e distensão abdominal, sintomas do trato urinário e gastrointestinal decorrentes da v 21 compressãopelo tumor ou invasão por câncer e sangramento vaginal. Localização do ovário dificulta a realizada de biópsias em lesões localizadas. DIAGNÓSTICO Rastreamento não é recomendado na população geral. Detectáveis por marcador sorológico específico CA125 que está presente em 50% dos casos de carcinoma de ovário, mas possui baixa especificidade porque fica aumentado em mulheres que estão ovulando, em período menstrual e tabagismo. Padrão-ouro para o diagnóstico é análise histológica, para isso deve-se remover o tumor inteiro e não fazer somente uma biópsia. Diagnóstico diferencial: cistos funcionais (folicular e corpo lúteo), abscesso ovariano e trompa dilatada (hidrossalpinge). Visíveis no ultrassom, avalia a presença ou não de algumas características que permitem a diferenciação de lesões benignas e malignas. Critérios: BENIGNIDADE MALIGNIDADE Unilaterais - 90% dos casos Bilaterais em - 60% dos casos Cápsula íntegra Cápsula rota Geralmente móvel Aderente, fixo Superfície lisa Superfície nodulosa, irregular, p Sem ascite ou citrina Ascite hemorrágica Peritônio livre Peritônio com implantes Cístico de parede lisa Sólido, com áreas císticas, necrose e excrescências Se sólido, resistência firme Zonas de amolecimento Superfície de corte uniforme Superfície variegada NEOPLASIAS DO EPITÉLIO DE REVESTIMENTO Os mais frequentes do ovário (70% dos tumores do órgão) e os mais comuns entre as neoplasias malignas ovarianas. Originam-se do epitélio celômico, que possui capacidade de diferenciação para epitélios dos tipos endocervical (mucossecretor), tubário (serossecretor) e endometrial (endometrioide). Subclassificadas: Tipo de diferenciação epitelial: tipos histológicos – seroso (células neoplásicas se diferenciam no epitélio tubário – seroso ciliado), mucinoso (se diferenciam em células do epitélio da endocérvice ou intestinal) e endometrioide (se diferenciam em células semelhantes às do endométrio – epitélio colunar). Localização da proliferação epitelial: superficial ou intracística. Comportamento biológico: benignas (adenomas), malignas (adenocarcinoma) e borderline ou intermediários (em que a proliferação celular é maior que o adenoma, atipias leves a moderadas, estratificação nuclear, poucas mitoses e não há invasão estromal). SEROSOS Representam 30% das neoplasias ovarianas, das quais 60% são benignas (cistadenomas), 10% são borderline e 30% são malignas (cistadenocarcinomas – câncer ovariano mais comum). Os tumores benignos são encontrados principalmente na fase reprodutiva, enquanto formas malignas predominam em idade avançada. Císticos e revestidos por epitélio colunar ciliado (células neoplásicas se diferenciam em células do epitélio tubário), cuja cavidade contém fluido seroso. Propensão a de disseminar para superfícies peritoneais e omento, comumente estão associados a ascite. Podem apresentar implantes na cavidade peritoneal, levando a ascite e aderências entre vísceras, com obstrução intestinal. As teorias para explicar esses implantes são: metaplasia do epitélio celômico peritoneal, em que as lesões surgiriam em forma de neoplasias in situ (tumorigênese multifocal), e disseminação peritoneal a partir do tumor ovariano primário. Neoplasias borderline geralmente produzem implantes superficiais sem caráter infiltrativo, denominados implantes superficiais sem caráter infiltrativo (implantes não invasivos – melhor prognóstico)). Já os carcinomas serosos, especialmente os de alto grau, produzem implantes invasivos, com pior prognóstico. ASPECTOS MORFOLÓGICOS Macroscopia benigna: cística, uni ou multiloculada, diâmetro entre 5 e 20 cm, parede fina, superfície interna lisa e conteúdo seroso, em geral cristalino ou citrino. A presença de papilas na face interna da parede também é comum . Macroscopia borderline ou maligno: maior número de excrescências papilíferas, parede irregular, áreas v 22 sólidas e modularidade na cápsula. Encontram- se também áreas de necrose e hemorragia. Tumores são bilaterais em 20% dos casos benignos e em 60% nos malignos. Microscopia cistadenomas são: revestido por epitélio colunar simples, ciliado e sem atipias podendo existir papilas pequenas. Microscopia borderline: exibe papilas mais complexas, ramificadas (arboriformes), revestidas por epitélio estratificado atípico, mas sem invasão do estroma. Microscopia cistadenocarcinomas: nítida invasão do estroma, atipias celulares mais acentuadas e mitoses frequentes, podendo existir papilas, ninhos, trabéculas e pseudoácinos. O estroma de neoplasias serosas contém depósitos laminados de sais de cálcio, formando corpos psamomatosos (papilas que necrosam e sofrem calcificação distrófica).. Os carcinomas serosos podem ser divididos em baixo grau (bem diferenciados) ou de alto grau (moderadamente ou pouco diferenciados). Os de baixo grau se originam de um tumor seroso borderline, com mutação nos oncogenes KRAS e BRAF, porém raramente com mutação no gene p53. Os carcinomas serosos de alto grau, que se originam de novo, sem lesão precursora, estão geralmente associados a mutação no gene p53, mas não nos genes KRAS e BRAF e têm pior prognóstico. Já os carcinomas com mutação no gene BRCA são de alto grau. MUCINOSOS 20% dos tumores ovarianos. Cerca de 75% dessas neoplasias são benignas, 10% são borderline e 15% são malignas. Císticos revestidos por epitélio colunar mucossecretor (tipo endocervical ou intestinal – células caliciformes). Cistadenomas mucinoso ocorrem em qualquer faixa etária, com predomínio na 4ª década. Já os tumores malignos são mais comuns na idade avançada. A ruptura da parede de um cistadenomas ou a disseminação das formas malignas ou borderline provoca a liberação de células e muco no peritônio, com formação de implantes tumorais e aderências entre as vísceras – pseudomixoma peritoneal ou ascite mucinosa. Nesse caso, a cavidade peritoneal fica preenchida por muco, frequentemente associado a tumor mucinoso de ovário bilateral, se extenso pode resultar em obstrução intestinal e morte. Lesão metastática deve ser considerada em todos os casos de neoplasia ovariana mucinosa bilateral. Carcinoma mucinoso tem prognóstico melhor do que o seroso. ASPECTO MORFOLÓGICO Macroscopia: formam massas císticas multiloculada com conteúdo gelatinoso, alcançando muitas vezes, grandes dimensões e peso. As formas malignas apresentam áreas sólidas, necrose e modularidade capsular. Preenchida por fluido pegajoso e gelatinoso rico em glicoproteínas. Cistadenoma mucinoso é geralmente unilateral; 10 a 15% dos carcinomas são bilaterais. A presença de bilateralidade requer exclusão origem metastática. Microscopia benigno: revestido por epitélio colunar simples e mucossecretor, sem atipias. 23 Microscopia borderline: epitélio estratificado e com atipias nucleares, porém sem invasão do estroma, sendo classificados nos tipos intestinal e endocervical, o primeiro mais frequente e de pior prognóstico. Microscopia maligno: atipias nucleares, numerosas mitoses, invasão da cápsula e do estroma. Distinção entre tumores borderline e francamente malignos é, ás vezes, muito difícil e até mesmo controversa. ENDOMETRIOIDES Adenocarcinoma endometrioide é o 2º tipo de carcinoma mais frequente do ovário (10 a 20% casos). Os tipos benignos e borderline são raros. Ocorrendo mais comumente na 5ª e 6ª décadas de vida. Neoplasias constituídas por elementos epiteliais e/ou estromais semelhantes aos do endométrio normal. Origina-se provavelmente dos focos de endometriose ou do próprio epitélio de superfície ovariano. Assim, está relacionado à endometriose ovariana, mulheres com endometriose associada desenvolvem neoplasia mais precocemente. Adenocarcinoma endometrial sincrônico está presente em
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