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LITERATURA- João Cabral de Melo Neto


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JOÃO CABRAL DE MELO NETO 
PROF. RAFAEL FERNANDES 
“O amor comeu minha identidade.” 
 
“A vida não se resolve com palavras.” 
 
“Tu és a antecipação do último filme que assistirei.” 
 
“Escrever é estar no extremo de si mesmo.” 
 
O escritor nasceu no Recife (PE) no dia 9 de janeiro de 1920. 
 
Filho de Luís Antônio Cabral de Melo e 
de Carmem Carneiro Leão Cabral de 
Melo, João Cabral era irmão do 
historiador Evaldo Cabral de Melo e 
primo do poeta Manuel Bandeira e do 
sociólogo Gilberto Freyre. 
 
Passou sua infância entre os engenhos 
da família nas cidades de São 
Loureço da Mata e Moreno. Estudou 
no Colégio Marista, no Recife. 
Amante da leitura, lia tudo o que tinha 
acesso, no colégio e na casa da avó. 
 
Em 1941, João Cabral participou do Primeiro Congresso de Poesia 
do Recife, lendo o opúsculo Considerações sobre o Poeta 
Dormindo. 
 
Cronologicamente, João Cabral situa-se entre os poetas da 
Geração de 45, mas trilhou caminhos próprios. Seus primeiros livros 
apresentam uma poesia hermética, ou seja, de difícil 
compreensão. 
 
Nesse momento, os escritores estavam mais preocupados com a 
palavra e a forma, sem deixar de lado a sensibilidade poética. De 
maneira racional e equilibrada, João Cabral se destacou por seu 
rigor estético. 
 
Em Pedra do Sono (1942), sua obra inaugural, apresenta uma 
inclinação para a objetividade embora predomine aspectos 
surrealistas. 
 
Pedra do Sono 
 
“Meus olhos têm telescópios 
Espiando a rua. 
Espiando a alma 
Longe de mim mil metros. 
 
Mulheres vão e vêm nadando 
Em rios invisíveis. 
Automóveis como peixes cegos 
Compõem minhas visões mecânicas. 
 
Há 20 anos não digo a palavra 
Que sempre espero de mim: 
Ficarei indefinidamente contemplando 
Meu retrato eu morto.” 
 
Em seguida, João Cabral introduz em seus versos o rigor semântico, 
que mostra a luta do poeta com a estética da poesia para 
encontrar a expressão exata e precisa, como no trecho a seguir: 
 
 
O Engenheiro 
 
“A luz, o sol, o ar livre 
envolvem o sonho do engenheiro. 
O engenheiro sonha coisas claras: 
superfícies, tênis, um copo de água. 
 
O lápis, o esquadro e o papel: 
o desenho, o projeto, o número: 
o engenheiro pensa o mundo justo, 
mundo que nenhum véu encobre.” 
 
A partir de Cão Sem Plumas (1950) João Cabral passa a abordar 
temas sociais. Os livros O Rio (1954) e Duas Águas (1956) (onde 
aparece Morte e Vida Severina) revelam motivos regionais. 
 
Morte e Vida Severina 
 
“Morte e Vida Severina” foi, sem dúvida, a obra que o consagrou. 
Além disso, seus livros foram traduzidos para diversas línguas 
(alemão, espanhol, inglês, italiano, francês e holandês) e sua obra 
é conhecida em diversos países. 
 
O título da obra faz referência ao sofrimento que Severino passa 
durante a viagem, relatada através de um poema dramático que 
fez de João Cabral de Melo Neto um dos poetas mais prestigiados 
da Literatura Brasileira. 
 
Em sua viagem, Severino se depara com situações de morte, de 
desespero, de miséria e fome, causadas principalmente pela seca. 
O livro faz também uma crítica ao descaso dos governantes quanto 
a esta situação, vivida por tantos outros nordestinos. 
 
Encontra situações como a dos dois homens que carregam um 
defunto até sua última morada, pois este havia sido assassinado por 
expandir um pouco suas terras, e assim vai tendo seus encontros 
com a vida e com a morte. Em outro momento houve uma 
cantoria, e ao aproximar-se percebe que se tratava da 
encomendação de um corpo. Pensa algumas vezes em 
interromper a viagem e voltar, pensa que poderá não conseguir 
chegar ao destino pretendido, ou pensa ainda em interromper a 
viagem e procurar algum tipo de trabalho pelo meio do caminho. 
Ao pensar nesta possibilidade de trabalho, descobre que os únicos 
que poderiam lhe dar algum dinheiro seriam aqueles de pessoas 
que ajudam na morte, como médico, farmacêutico, coveiro, 
rezadeira, etc. Vê-se como um inútil, já que nada daquilo sabia 
fazer, e para o que sabia fazer não encontrava nenhum trabalho. 
 
A morte é tratada como algo vulgar, e as profissões que lidavam 
com a morte como um negócio lucrativo. 
 
Cemitérios, coveiros, assassinatos, tudo leva severino ao desespero 
e à expectativa de seu próprio fim, já que ele mesmo não 
conseguia encontrar trabalho. Chega a conclusão de que a 
realidade que encontra não é diferente da que já conhecia no 
Sertão. Por fim, revela a intenção de suicidar-se, pois já não vê 
diferença entre a morte e a vida. O nascimento de uma criança, 
contudo, é o fato responsável pelo renascer da esperança de 
Severino. 
 
O autor utiliza uma linguagem poética, porém concisa, engajada, 
buscando mais o concreto e o visual do que os sentimentos. O livro 
é considerado uma reconstrução dos autos medievais, porém 
retratando a realidade atual das populações nordestinas. Morte e 
Vida Severina, portanto, é um auto de Natal do folclore 
pernambucano. Nesse trecho, o retirante explica quem é e a que 
vai: 
 
“— O meu nome é Severino, 
não tenho outro de pia. 
Como há muitos Severinos, 
que é santo de romaria, 
deram então de me chamar 
Severino de Maria; 
Como há muitos Severinos 
com mães chamadas Maria, 
fiquei sendo o da Maria 
do finado Zacarias. (...) 
E se somos Severinos 
iguais em tudo na vida, 
morremos de morte igual, 
mesma morte Severina: 
que é a morte de que se morre 
de velhice antes dos trinta, 
de emboscada antes dos vinte, 
de fome um pouco por dia.” 
 
Numa terceira etapa, João Cabral desvencilha o poema de todo 
e qualquer artifício, sua poesia é desenvolvida mediante a 
preocupação com os aspectos formais da poesia. 
 
Nesse período aparecem obras-primas como Uma Faca só Lâmina, 
Terceira Feira e A Educação Pela Pedra. 
 
Educação Pela Pedra 
 
“Uma educação pela pedra: por lições; 
para aprender da pedra, frequentá-la; 
captar sua voz inenfática, impessoal 
(pela d dicção ela começa as aulas). 
A lição de moral, sua resistência fria 
ao que flui e a fluir, a ser maleada; 
e de poética, sua carnadura concreta; 
a de economia, seu adensar-se compacta: 
lições da pedra (de fora para dentro, 
cartilha muda), para quem soletra-la.” 
 
João Cabral era atormentado por uma dor de cabeça que não o 
deixava de forma alguma. Ao saber, anos atrás, que sofria de uma 
doença degenerativa incurável, que faria sua visão desaparecer 
aos poucos, o poeta anunciou que ia parar de escrever. Já em 
1990, com a finalidade de ajudá-lo a vencer os males físicos e a 
depressão, Marly, sua segunda esposa, passa a escrever alguns 
textos tidos como de autoria de João Cabral. Conforme 
declarações de amigos, escreveu o discurso de agradecimento 
feito pelo autor ao receber o Prêmio Camões, considerado o mais 
importante prêmio concedido a escritores da língua portuguesa, 
entre outros. Foi a forma encontrada para tentar tirá-lo do estado 
depressivo em que se encontrava. Como não admirava a música, 
o autor foi perdendo também a vontade de falar ("Não tenho muito 
o que dizer", argumentava). Era, sem dúvida, o nosso mais forte 
concorrente ao prêmio Nobel, com diversas indicações dos mais 
variados segmentos de nossa sociedade. 
 
Abaixo, o discurso proferido por Arnaldo Niskier, presidente da 
Academia Brasileira de Letras, por ocasião da morte do poeta, por 
ataque cardíaco, em 9 de outubro de 1999: 
 
Adeus a João Cabral 
 
"Severino retirante, 
deixe agora que lhe diga: 
eu não sei bem a resposta 
da pergunta que fazia, 
se não vale mais saltar 
fora da ponte e da vida; 
nem conheço essa resposta, 
se quer mesmo que lhe diga; 
é difícil defender, 
só com palavras, a vida, 
ainda mais quando ela é 
esta que vê, Severina; 
mas se responder não pude 
à pergunta que fazia 
ela, a vida, a respondeu 
com sua presença viva." 
 
Vida que foi para João Cabral uma bonita e ao mesmo tempo 
sofrida obra de engenharia poética,como demonstrou no seu 
inesquecível Morte e Vida Severina.