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André Bazin - A evolução da linguagem cinematográfica (Escrito na década de 1950) 1920 a 1940: imagem vs realidade. Duas vertentes opostas. Para quem defende a força da imagem, reside na plástica da imagem e nos recursos da montagem a sua maior virtude. Imagem - O que a representação na tela acrescenta à coisa representada. Cenário, maquiagem, interpretação, iluminação e enquadramento. Montagem - Para André Malraux, "A montagem constitui o nascimento do filme como arte. O que a diferencia da fotografia animada. Nascimento da linguagem". Montagem paralela - simultaneidade de ações, mesmo que espacialmente distantes (Griffith) Montagem acelerada - multiplicação de planos cada vez mais curtos para dar impressão de aceleração (Abel Gance) Montagem de atrações - Dá-se sentido a uma imagem com a aproximação de outra imagem que não pertence necessariamente ao mesmo acontecimento (Eisenstein). Pode ser associada também a elipse, a comparação e a metáfora. A montagem dá sentido que as imagens não contêm objetivamente a partir de suas relações. (Efeito Kuleshov) Neste sentido, no final da era muda, o cinema, a partir do caráter plástico da imagem e os recursos da montagem, é capaz de impor ao espectador uma interpretação do acontecimento representado. Cinema alemão (imagem; cenário e iluminação) e cinema soviético (montagem; teoria e prática). A partir desse ponto de vista, o cinema mudo era uma arte completa, sendo o advento do som apenas um complemento. * Em contrapartida, havia quem defendesse a exposição da realidade como interesse do cinema. Nesse sentido, a montagem teria o peso negativo de eliminar a realidade. Realizadores como Flaherty (evidencia a amplitude da espera de Nanook caçando a foca), Murnau (interessado na realidade do espaço dramático; em Aurora não busca deformar a realidade como os expressionistas, mas se interessa em desvelar as estruturas profundas que constituem as relações dramáticas) e Erich Von Stroheim (propõe um olhar insistente para revelar a crueldade da realidade; um plano logo) não articulam a plasticidade da imagem e a montagem como essencial. A imagem vale não pelo que acrescenta, mas pelo que revela da realidade. Nessa visão, o advento do som não constitui uma ruptura. * Entre os anos de 1930 e 1940, o cinema alcança equilíbrio e maturidade. Neste período o cinema hollywoodiano (comédia americana, burlesco, filme de dança e musical, filme policial e de gângsteres, drama psicológico e de costumes, filme fantástico ou de terror e o western) e o cinema francês (realismo noir ou realismo poético) firmam-se como principais cinemas do mundo. Gêneros (convenções com apelo público) e forma (fotografia, decupagem, etc) bem executados conferiam sucesso a sintonia entre imagem e som. Filmes com No Tempo das Diligências, de John Ford, e Trágico Amanhecer, de Marcel Carné, evidenciam a maturidade do cinema enquanto arte. As mudanças que o cinema sofreu nos anos entre 1940 e 1950 agregam ao cinema "sangue novo" com o cinema neorrealista italiano e o cinema britânico. Entretanto, trata-se de uma revolução mais de temas que estilos. Mais sobre o que dizer do que sobre como dizer. ● Após a alcançar a maturidade técnica, o cinema partiu para um novo momento. Anos 30: com o som e a película pancromática, o cinema passava pela sua última revolução radical. "Em suma, desde a vulgarização do emprego da pancromática, o conhecimento dos usos do microfone e a generalização do guindaste no equipamento dos estúdios, podemos considerar adquiridas as condições técnicas necessárias e suficientes para a arte cinematográfica a partir dos anos 30". 1939: o cinema falado alcança o perfil de equilíbrio de um rio. Ponto em que as águas do rio fluem sem esforço. Dos filmes com forma expressionista/simbolista para filmes com forma analítica/dramática. Até 1938, a maioria dos filmes era decupado em um sucessão de planos alternados em campo e contracampo. Adotava-se convencionalmente o enquadramento dos personagens acima dos joelhos, ponto de acomodação mental do espectador. Com a chegada dos anos 40, realizadores com Orson Welles e William Wyler questionam esse modelo tradicional. Em Cidadão Kane, a profundidade de campo proporciona a realização de cenas inteiras em uma única tomada, com a câmera permanecendo imóvel em alguns casos. "Os efeitos dramáticos, que anteriormente se exigia da montagem, surgem do deslocamento dos atores dentro do enquadramento escolhido". Welles, e Renoir antes dele, não foi o primeiro a utilizar a profundidade de campo, mas, notoriamente, ressignificou a técnica para fins dramáticos. Jean Renoir - propõe uma composição em profundidade de campo que suprime a montagem, substituindo-a por panorâmicas e entradas no quadro. Supõe um respeito à continuidade do espaço dramático e sua duração. Renoir, em A Regra do Jogo, busca revelar o sentido oculto dos seres e das coisas sem quebrar sua unidade natural. Concepção moderna de cinema: o plano-sequência em profundidade de campo do diretor moderno não renuncia à montagem. Ele a integra à composição plástica. Contribuições da profundidade de campo à imagem: A profundidade de campo propõe uma estrutura mais realista; Implica uma atitude mais ativa do espectador. Na montagem analítica, seu olhar é guiado pelo diretor. A profundidade de campo lhe oferece escolha pessoal. O sentido da imagem está vinculado à sua atenção e vontade; A montagem supõe um sentido para o acontecimento dramático, opondo-se à ambiguidade. A profundidade de campo agrega subjetividade/ambiguidade na estrutura da imagem. O cinema moderno refuta a montagem como matéria do cinema, a textura do texto. O neorrealismo italiano, de Roberto Rossellini (Paisà e Alemanha Ano Zero), e Vittorio de Sica (Ladrões de Bicicleta) reforçam a revolução na linguagem ao renunciar o expressionismo e os efeitos da montagem, apostando na ambiguidade do real. Opondo-se ao efeito kuleshov, trata-se de conservar o mistério. "No tempo do cinema mudo, a montagem evocava o que o realizador queria dizer; em 1938, a decupagem descrevia; hoje, enfim, podemos dizer que o diretor escreve diretamente em cinema. A imagem - sua estrutura plástica, sua organização no tempo -, apoiando-se num maior realismo, dispõe assim de muito mais meios para infletir, modificar dentro da realidade. O cineasta não é somente o concorrente do pintor e do dramaturgo, mas se iguala enfim ao romancista."
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