Buscar

ANÁLISE DO DIREITO AOS ALIMENTOS ENTRE O BRASIL E PORTUGAL

Prévia do material em texto

ANÁLISE DO DIREITO AOS ALIMENTOS ENTRE O BRASIL E PORTUGAL 
INTRODUÇÃO 
O Direito de Família pode ser conceituado como sendo o ramo do direito civil quem tem como escopo a análise de diversos institutos relacionados aos núcleos familiares, dentre eles se destaca o instituto jurídico dos alimentos. 
O direito aos alimentos se encontra lastreado no princípio da solidariedade familiar, correlato da ideia de dignidade da pessoa humana e na teoria do mínimo existencial. 
No Brasil, a normatize que envolve os alimentos se encontra nos artigos 1.694 e seguintes do Código Civil e na Lei 5.478 de 1968. 
Dentro do âmbito familiar, o direito aos alimentos encontra guarida no art. 1.694 do Código Civil, que diz: 
Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação. 
§ 1 o Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada. 
§ 2 o Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia. 
A INADIMPLÊNCIA DO DEVER DE PAGAR ALIMENTOS 
No Brasil, havendo a inadimplência do devedor quanto à sua obrigação de prestar os alimentos, cabe ao credor demandar judicialmente para que o Estado-Juiz efetue o cumprimento, através de uma medida sub-rogatória, ou  através de medidas coercitivas que induzam o devedor a cumprir sua obrigação. 
As medidas sub-rogatórias são técnicas de cumprimento direto, isto é, a satisfação da dívida. O Estado-Juiz, contra a vontade do devedor, toma parte do seu patrimônio para a satisfação da dívida de alimentos. Assim ocorre através da penhora. 
As medidas coercitivas, são técnicas indiretas, utilizadas com o escopo de compelir o devedor a cumprir a obrigação pessoalmente. Aqui, o Estado-Juiz não o substitui, mas compele o devedor a cumprir o devido. Na temática dos alimentos, a principal medida coercitiva é a prisão civil do devedor de alimentos. 
O débito alimentar que autoriza a prisão civil, segundo o § 7º do art. 528 do Código de Processo Civil, é aquela correspondente até as 3 últimas prestações anteriores ao ajuizamento da execução, além das que se vencerem no curso do processo. 
A decretação da prisão civil do devedor de alimentos será de 1 a 3 meses e será cumprida em regime fechado, devendo o preso civil ficar separado dos presos que cometeram crimes (prisão penal). Uma vez paga, o juiz deverá suspender imediatamente a ordem de prisão. 
Contudo, malgrado os instrumentos jurídico-processuais para o cumprimento da obrigação alimentar, não raro, aqueles que necessitam da prestação permanecem desamparados. 
Quem milita no direito de família observa no dia a dias das varas de família que o devedor, mesmo sofrendo as medidas sub-rogatórias e coercitivas, permanece inadimplente com os deveres alimentares. 
Outras medidas se mostram urgentes para o amparo dos alimentandos, sobretudo quando se trata de pessoa em desenvolvimento (menor). 
DIREITO AOS ALIMENTOS EM PORTUGAL 
O atual do Código Civil de Portugal, assim como o brasileiro, reconhece o princípio da solidariedade, quando traz o dever de assistência mútua dentro âmbito familiar.  
Nesse contexto, estabelece o Código Civil português[1] que "O dever de assistência compreende a obrigação de prestar alimentos e a de contribuir para os encargos da vida familiar" (art. 1.675, 1). 
Além disso, o art. 1.874 do Código Civil português prevê que pais e filhos devem-se respeito, auxílio e assistência de forma recíproca. A assistência deve compreender "a obrigação de prestar alimentos e a de contribuir, durante a vida em comum, de acordo com os recursos próprios, para os encargos da vida familiar". 
Contudo, o sistema português prevê um sistema diferenciado em caso de persistência no inadimplemento das obrigações alimentares dos menores, trata-se da responsabilidade do próprio Estado em prestar um mínimo econômico para a preservação da dignidade da pessoa humana dos menores alimentando.  
FUNDO DE GARANTIA DE ALIMENTOS DEVIDOS A MENORES 
Nos casos em que o credor de alimentos estiver em situação de risco, sem a colaboração familiar para os alimentos, foi criado  em Portugal o Fundo de Garantia de Alimentos Devidos a Menores (FGADM), instituído pela Lei n. 75/98. 
Tal mecanismo é de importância vital para a proteção da infância e da juventude e tem forte aplicação no direito português. 
Segundo noticia o site português "Observador[2]": "Em 2017, o Fundo de Garantia de Alimentos Devido a Menores pagou 20.255 processos e, ao todo, gastou-se 31,3 milhões de euros". 
O FGADM substitui, em caso de descumprimento, ao alimentos devidos pelos responsáveis. Ou seja, havendo o reiterado descumprimento, ou sendo de difícil adimplemento em razão do desemprego, ou mesmo pelas dificuldades processuais em razão  de o devedor não residir no país ou não for localizado, o fundo visa proteger os menores que estão sem receber os alimentos. 
De acordo com a Lei 75/98[3], quando a pessoa juridicamente responsável por prestar os alimentos aos menores residentes no território português não satisfizer a quantia devida, e o menor alimentando seja carente de recursos financeiros, o Estado assegurará o pagamento de alimentos até que se dê o efetivo cumprimento pelo responsável. 
Para que o menor possa se beneficiar do pagamento da prestação de alimentos através do FGADM é necessário que se verifiquem determinados requisitos legais[4]: 
I. Descumprimento da obrigação pelo respectivo devedor; 
II. A pessoa judicialmente obrigada a prestar alimentos não satisfizer as quantias em dívida; 
III. Menor residente em território nacional português; 
IV. Representante legal residente em território nacional; 
V. A capitação de rendimentos do respectivo agregado familiar não pode ser superior ao valor do IAS (indexante dos apoios sociais); 
VI. O valor das prestações fixadas não pode exceder mensalmente, por cada devedor, o montante de 1 IAS; 
VII. Menor - crianças ou jovens até aos 18 anos de idade. 
O valor da prestação a ser paga pelo fundo será fixada pelo tribunal e não poderá exceder, mensalmente, para cada devedor, o montante de um IAS, que é um Indexante de Apoios Sociais. Em 2020 o IAS foi estabelecido em € 438,81, nos termos da Portaria n.º 27/2020, de 31 de janeiro.[5] 
Alguns parâmetros devem ser observados para a determinação do valor dos alimentos a serem prestados pelo Fundo. Segundo o art. 2º, item 2, da Lei 75/98, o tribunal deverá atender à capacidade econômica da família do menor alimentando, o montante do valor dos alimentos que foram fixados e as necessidades específicas do menor. 
A pagamento da pensão alimentícia pelo FGADM pode, inclusive, ser determinado antes do término do processo, ou seja, de forma liminar. O art. 3º da Lei 75/98 diz que compete ao Ministério Público ou ao representante do menor requerer ao juiz que fixe o montante a ser pago em substituição ao devedor de alimentos. 
Diante desse pedido, se o juiz considerando a sua urgência e a sua justificação, proferirá decisão provisória fixando os alimentos após diligências prévias de provas. 
Havendo a fixação definitiva, o valor estabelecido irá perdurar enquanto as circunstâncias subjacentes à sua concessão se mantiverem e até que cesse a obrigação a que o devedor está obrigado. 
O menor beneficiário do Fundo deverá fazer a prova anual de sua condição, ou seja, deverá demonstrar que permanecem os pressupostos subjacentes à concessão do benefício. Quedando inerte, o pagamento será cessado. 
Portanto, a sistemática portuguesa, diferente da brasileira, estabelece que o menor alimentando nunca ficará desamparado, pois o Estado toma para si a responsabilidade de prestar as alimentos quando o devedor não o cumpre. 
[1] http://www.ministeriopublico.pt/iframe/codigo-civil
[2] https://observador.pt/2018/12/28/estado-paga-20-mil-pensoes-de-alimentos-a-menores/
[3] http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=708&tabela=leis&so_miolo=[4] http://www.seg-social.pt/fundo-de-garantia-de-alimentos-devidos-a-menores
[5] https://www.economias.pt/ias/

Continue navegando