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REVISÃO AV1 DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV TÍTULO EXECUTIVO: JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL Quando se fala em execução, pressupõe-se a existência de um título executivo que materializa a obrigação exigível, sendo que tal título pode ser judicial ou extrajudicial. Segundo Didier (2017, p. 50): A execução pode ser classificada de acordo com o título executivo que a lastreia. Fala- se em execução por título executivo judicial - chamada de "cumprimento de sentença" - e execução por título extrajudicial. O procedimento a ser adotado dependerá do título executivo. Se o título for judicial, aplicam-se as regras do cumprimento da sentença (CPC, arts. 513-538). Sendo, por sua vez, extrajudicial o título executivo, a execução é disciplinada pelas normas contidas no Livro II, da Parte Especial, do CPC, com procedimento ditado a partir do art. 771. No caso de título judicial, as regras de competência estão disciplinadas no art. 516, aplicando-se, no que diz respeito às execuções fundadas em título extrajudicial, as regras de competência previstas no art. 781 do CPC. O título executivo judicial é aquele que decorre de uma decisão judicial, ressalta-se que a execução do título executivo judicial prosseguirá nos próprios autos do processo onde foi constituída a obrigação, dessa forma não se trata de um processo autônomo, mas de um processo sincrético. O art. 515 do CPC, em seus incisos, estabelece quais são os títulos executivos judiciais, cujo o cumprimento se dá por meio do cumprimento de sentença, a saber: Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com os artigos previstos neste Título: I - as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa; II - a decisão homologatória de autocomposição judicial; III - a decisão homologatória de autocomposição extrajudicial de qualquer natureza; IV - o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal; V - o crédito de auxiliar da justiça, quando as custas, emolumentos ou honorários tiverem sido aprovados por decisão judicial; VI - a sentença penal condenatória transitada em julgado; VII - a sentença arbitral; VIII - a sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de Justiça; IX - a decisão interlocutória estrangeira, após a concessão do exequatur à carta rogatória pelo Superior Tribunal de Justiça; Os títulos executivos extrajudiciais são aqueles cuja força de título decorre de determinação prevista em lei. Diferentemente do que acontece com o título executivo judicial, execução de título executivo extrajudicial constitui processo autônomo. O rol de título executivos extrajudiciais está previsto nos incisos do art. 784 do CPC: Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais: I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque; II - a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; III - o documento particular assinado pelo devedor e por 2 (duas) testemunhas; IV - o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública, pela Advocacia Pública, pelos advogados dos transatores ou por conciliador ou mediador credenciado por tribunal; V - o contrato garantido por hipoteca, penhor, anticrese ou outro direito real de garantia e aquele garantido por caução; VI - o contrato de seguro de vida em caso de morte; VII - o crédito decorrente de foro e laudêmio; VIII - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio; IX - a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei; X - o crédito referente às contribuições ordinárias ou extraordinárias de condomínio edilício, previstas na respectiva convenção ou aprovadas em assembleia geral, desde que documentalmente comprovadas; XI - a certidão expedida por serventia notarial ou de registro relativa a valores de emolumentos e demais despesas devidas pelos atos por ela praticados, fixados nas tabelas estabelecidas em lei; XII - todos os demais títulos aos quais, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA O cumprimento de sentença é um procedimento previsto em lei, a partir do art. 513 do CPC, que tem por objetivo ver adimplida uma determinação judicial, ou seja, o juiz determina em processo que uma das partes cumpra determinada coisa e, caso essa parte não cumpra espontaneamente aplica-se o cumprimento de sentença. Cabe salientar que o cumprimento de sentença é mais uma fase dentro do processo e não um procedimento à parte. O cumprimento de sentença pode ser definitivo ou provisório. Cumprimento definitivo O cumprimento de uma sentença é definitivo quando já ocorreu o trânsito em julgado, ou seja, foi dada uma sentença condenando o réu a cumprir determinada obrigação e ele não recorreu, porém não cumpriu com o determinado, nessa hipótese o autor precisa requerer o cumprimento de sentença. Nas palavras de Fredie Didier Jr. (2017, p. 57): “O cumprimento definitivo de sentença é a execução completa, que vai até a fase final (com entrega do bem da vida) sem exigências adicionais para o exequente”. Com relação ao prazo para o pagamento de quantia certa, o caput do art. 523 do CPC estabelece que: “No caso de condenação em quantia certa (...) sendo o executado intimado para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze) dias, acrescido de custas, se houver”. O não cumprimento de tal prazo gera consequências, como é explicado por Didier Jr. (2017, p. 428): Decorrido o prazo para pagamento, incidem a multa de dez por cento e os honorários de advogado de dez por cento, e, independentemente de nova intimação, já tem início outro prazo de quinze dias para o oferecimento de impugnação. Não é ocioso lembrar que tais prazos são contados em dias úteis, nos termos do art. 219 do CPC. Se houver pagamento parcial, a multa e os honorários incidem, nesse mesmo percentual fixo de dez por cento, sobre o restante (CPC, art. 523, § 2º). Cumprimento provisório Segundo Fredie Didier Jr. (2017, p. 496): O cumprimento provisório de sentença permite que o vencedor (exequente) busque a efetivação de uma decisão que lhe foi favorável, ainda que tenha sido impugnada por recurso. Justifica-se como forma de compensá-lo pelo fato de o vencido (executado) ter recorrido. Além disso, desestimula a interposição de recursos meramente protelatórios, no intuito de postergar indefinidamente o início da atividade executiva; sem o efeito suspensivo, o recurso não impede a realização de atividade executiva. Por exemplo, na hipótese de o réu interpor um recurso de apelação que é negado pelo tribunal e posteriormente ajuizar um recurso especial perante o STJ, é possível que o autor inicie com o cumprimento provisório da sentença, uma vez que o recurso especial não possui efeito suspensivo, dessa forma o autor não é obrigado a esperar o demorado trânsito em julgado. Sobre o tema prazo, Didier Jr. (2017, p. 429) discorre que: “Atualmente, ao receber o requerimento de cumprimento provisório da sentença, o juiz deve determinar que o executado seja intimado para depositar o valor no prazo de quinze dias, sob pena de multa de dez por cento e dos honorários de dez por cento”. Ainda segundo Fredie Didier Jr. (2017, p. 503): Entretanto, não realizado depósito no prazo de lei, o valor da multa e dos honorários será abrangido no cumprimento provisório e igualmente executado. Saliente-se, contudo, que cassada ou reformada a decisão provisória, deverão ser restituídos não só o valor principal da condenação, como também o valorda multa e dos honorários que tenham sido pagos e levantados - provavelmente mediante caução. Abelha (2015, p. 243) complementa que: (...) caso o cumprimento provisório de sentença tenha superado todas as fases executivas e nada há mais a fazer senão alienar o domínio ou levantar a quantia, resta claro que a prestação de caução idônea é requisito intrínseco à realização completa da atividade executiva, que ficará impedida de prosseguir enquanto não cumprida a exigência mencionada. Tem-se aí uma hipótese de ato necessário à atividade executiva fundada em título instável, que, se não for atendido, coloca-se como óbice ao prosseguimento do procedimento executivo. Competência No que tange sobre a competência para o cumprimento de sentença, Didier Jr. afirma que: O cumprimento de sentença deve ser processado perante o juízo competente. Como o cumprimento de sentença é uma execução fundada em título judicial, a competência é, em regra, do juízo que decidiu a causa, pondo fim à fase de conhecimento; há, porém, exceções. As regras - e suas exceções - relativas à competência para o cumprimento de sentença estão previstas no art. 516 do CPC. A competência, nos casos dos incisos I e II do art. 516 do CPC, é absoluta, sendo relativa nas hipóteses do seu inciso III. Via de regra, em relação aos títulos executivos judiciais, a competência para a execução é no juízo onde ele se formou, seguida pelo juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição e, na hipótese de sentença penal condenatória, arbitral, estrangeira ou de acórdão proferido pelo Tribunal Marítimo, a execução se dará em juízo cível, sendo relativa a competência. A fundamentação legal está prevista nos incisos do art. 516 do CPC. Já na execução de título extrajudicial, a competência é relativa e deve ser apurada de acordo com as regras gerais de competência estabelecidas no CPC, não havendo foro de eleição, a competência será do foro do local do pagamento. Impugnação do cumprimento de sentença Segundo Abelha (2015, p. 576): A impugnação do executado do art. 525 do CPC se inicia por petição simples (exceção) no prazo estabelecido no art. 525, caput, sob pena de preclusão. Por se tratar de defesa, o executado deve oferecer todas as matérias possíveis, restritas ao conteúdo do art. 525, § 1.º, em respeito à eficácia preclusiva da coisa julgada (art. 507), posto que se trata de cumprimento de sentença em processo sincrético. O prazo para a impugnação, bem como as hipóteses que podem ser alegadas estão expressas no art. 525 do CPC, a saber: Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento voluntário, inicia-se o prazo de 15 (quinze) dias para que o executado, independentemente de penhora ou nova intimação, apresente, nos próprios autos, sua impugnação. § 1º Na impugnação, o executado poderá alegar: I - falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo correu à revelia; II - ilegitimidade de parte; III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação; IV - penhora incorreta ou avaliação errônea; V - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções; VI - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução; VII - qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que supervenientes à sentença. Princípios gerais da execução Princípio da autonomia A autonomia no processo de execução ocorre devido ao fato de as atividades realizadas na execução se diferirem das atividades realizadas no processo de conhecimento, uma vez que a finalidade da execução é a de realizar medidas para satisfazer a pretensão, com o objetivo de resolver uma crise de inadimplemento. Princípio da patrimonialidade A execução, em regra, deve recair sobre bens (presentes e futuros) e não sobre pessoas. A exceção ocorre no caso da prisão do devedor de alimentos, já que a importância do credito alimentar justifica esse mecanismo de pressão psicológica. Princípio da máxima efetividade A execução deve proporcionar tudo aquilo que o credor tem direito. Princípio da disponibilidade do processo de execução O CPC permite que o credor possa abrir mão da execução, entretanto essa desistência, em alguns casos, fica condiciona a manifestação do próprio devedor, por exemplo, quando devedor tiver apresentado uma defesa de mérito, ou seja, atacando a própria origem da obrigação. Princípio da menor onerosidade A execução deve ser realizada de maneira menos gravosa ao devedor, conforme dispõe o art. 805 do CPC. Princípio do contraditório Previsto no art. 5º, inc. LV da CF, deve se dar ciência dos atos executivos para que haja um debate de manifestação. PENHORA Quando o executado é citado, porém não paga sua dívida, inicia-se o procedimento para realizar a penhora, que é o ato processual que apreende os bens do devedor com o objetivo de satisfazer o crédito executado. A ordem de preferência da penhora é determinada pelo art. 835 do CPC. IMPENHORABILIDADE Trata-se de uma medida de proteção da dignidade do executado, limitando a tutela executiva, entretanto, em casos específicos, essa proteção perde importância em detrimento da magnitude do bem jurídico que está sendo executado. O rol exemplificativo de bens impenhoráveis está previsto no art. 833 do CPC. Bens de Família Os bens de família são em regra impenhoráveis, entretanto o art. 3º da Lei Nº 8.009/90 apresenta algumas exceções: Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido: I - (Revogado pela Lei Complementar nº 150, de 2015) II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato; III – pelo credor da pensão alimentícia, resguardados os direitos, sobre o bem, do seu coproprietário que, com o devedor, integre união estável ou conjugal, observadas as hipóteses em que ambos responderão pela dívida; (Redação dada pela Lei nº 13.144 de 2015) IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar; V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar; VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens. VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação. (Incluído pela Lei nº 8.245, de 1991) FRAUDE À EXECUÇÃO E FRAUDE CONTRA CREDORES Fraude à Execução A fraude à execução, prevista no art. 792 do CPC e considerada ato atentatório à dignidade da justiça, ocorre quando, no curso de um processo de execução, o devedor tenta inviabilizar o sucesso da demanda por meio de fraude caracterizada pela dilapidação patrimonial, ou seja, o executado se desfaz do seu patrimônio (através de venda ou transferência) de modo que não existam mais bens passiveis de penhora. A alegação da fraude à execução deve acontecer dentro da própria ação de execução, de modo que não há a necessidade de interpor um outro recurso. Antes de declarar a fraude à execução, o juiz deverá intimar o terceiro adquirente, que, se quiser, poderá opor embargos de terceiro, no prazo de 15 (quinze) dias. A partir do momento que o magistrado decreta a fraude ele não está anulando a venda, mas sim tornando-a ineficaz perante o processo de execução em foi feito o requerimento, conforme dispõe o § 1º do art. 792 do CPC. Fraude Contra Credores A fraude contra credores, prevista nos arts. 158 a 165 do CC e considerada um vício do negócio jurídico, trata-se de uma manobra maliciosa do devedor, sendo quenão há exigência da existência de um processo em andamento, que aliena (diminui) o seu patrimônio com o objetivo de não pagar o credor, tornando-se assim insolvente, uma vez que não possui bens suficientes para garantir o pagamento de sua dívida. Para evitar que isso ocorra, o credor deve ajuizar uma ação, chamada de ação pauliana ou revogatória, com o objetivo de anular os atos fraudulentos cometidos pelo devedor. Ao anular os atos fraudulentos, os bens do devedor retornam para o seu patrimônio para pagamento de suas dívidas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ABELHA, Marcelo. Manual de execução civil – 5. ed. rev. e atual. – Rio de Janeiro: Forense, 2015. DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: execução - 7. ed. rev., ampl. e atual. Salvador: JusPodivm, 2017.
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