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RINOSSINUSITE AGUDA ANIBAL MESCUA CARDOSO, UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA, MEDICINA, 2020. Inflamação da mucosa da cavidade nasal e seios paranasais caracterizada por dois ou mais dos seguintes sintomas: • Obstrução/congestão nasal ou rinorreia purulenta anterior ou posterior • Dor/pressão facial • Perda ou redução do olfato • Um ou mais dos achados endoscópicos: Presença de pólipos, edema de mucosa e secreção amarelada em meato médio ou recesso esfenoetmoidal O termo RINOSSINUSITE (RS) é preferível, pois dificilmente há sinusite isolada sem que haja processo inflamatório também na mucosa da cavidade nasal (rinite). Afeta mais mulheres do que homens e, em média, 1 a cada 7 adultos nos Estados Unidos por ano. A RS viral, que corresponde ao resfriado comum, é o tipo mais frequente, sendo os rinovírus o principal agente causal. FISIOPATOLOGIA O processo inflamatório afeta o clearance mucociliar da mucosa nasal que, associado normalmente à obstrução dos óstios de drenagem dos seios da face por edema na mucosa ou causas anatômicas (desvio septal), produzem estase de secreção no interior dos seios da face, diminuição do pH e da oxigenação, criando ambiente propício para a proliferação bacteriana. AGENTES ETIOLÓGICOS MAIS COMUNS: • Streptococcus pneumoniae • Haemophilus influenzae • Moraxella catarrhalis. APRESENTAÇÃO CLÍNICA ANAMNESE QUADRO CLÍNICO: Geralmente o quadro começa com resfriado comum, que evolui para a infecção bacteriana. Sugerem quadro bacteriano aqueles com duração maior que 10 dias ou com piora dos sintomas a partir do 5º dia. O paciente queixa-se de obstrução nasal, rinorreia purulenta anterior e/ou posterior, hiposmia/anosmia, cacosmia, febre, cefaleia e/ou algia facial, tosse seca noturna, halitose, irritação faríngea e astenia. MARCADORES DE GRAVIDADE: • Alteração na acuidade visual • alteração na mobilidade ocular • proptose ocular • edema e hiperemia periorbitários • sinais meníngeos • sinais de sepse • confusão mental. FATORES DE RISCO: • Obstruções anatômicas (desvios de septo, células de Haller, hipertrofia adenoideana); • Mudanças bruscas na pressão atmosférica; • Irritantes químicos: tabaco, ar seco, produtos de limpeza. EXAME FÍSICO Durante a inspeção podemos notar edema periorbitário. A palpação do seio acometido pode revelar dor, que piora a inclinação da cabeça para frente, embora seja pouco específico. Durante a RINOSCOPIA ANTERIOR, nota-se hiperemia e edema na mucosa, rinorreia purulenta em fossa nasal ou em meato médio. Na OROSCOPIA geralmente há gotejamento posterior de secreção purulenta, com hiperemia da faringe. COMPLICAÇÕES ORBITÁRIAS: EDEMA INFLAMATÓRIO: hiperemia e edema na pálpebra, com movimentação ocular e acuidade visual preservadas; CELULITE ORBITÁRIA: inflamação difusa do conteúdo da órbita, sem formação de abscesso. Há, além de hiperemia e edema da pálpebra, o acometimento da conjuntiva associado a proptose; ABSCESSO SUBPERIOSTEAL: formação de abscesso entre a lâmina papirácea e a periórbita. Paciente apresenta proptose ocular inferolateral, restrição e dor à movimentação ocular; ABSCESSO ORBITÁRIO: abscesso dentro do cone orbitário. Complicação mais grave, podendo levar a amaurose em horas. Apresenta proptose acentuada, restrição à movimentação ocular, diminuição da acuidade visual e do reflexo pupilar. INTRACRANIANAS: • Trombose do seio cavernoso; • Meningite; • Abscesso extradural, subdural e intraparenquimatoso. ABORDAGEM DIAGNÓSTICA O DIAGNÓSTICO É CLÍNICO, observando-se anamnese e exame físico detalhados. A endoscopia nasal é importante ferramenta e ajuda a corroborar o diagnóstico ao flagrar secreção purulenta drenando dos óstios dos seios paranasais. A radiografia dos seios da face não está indicada por apresentar muitos falso- positivos e falso-negativos. A tomografia computadorizada (TC) de seios da face não deve ser solicitada como abordagem inicial, mas sim em quadros refratários, recorrentes ou com suspeita de complicações. Nos quadros agudos fica evidente nível líquido nos seios paranasais. A ressonância magnética dos seios da face apresenta informação importante de partes moles e são melhores que a tomografia nos casos de complicações. A cultura nos casos agudos não é solicitada, ficando reservada aos casos refratários. CLASSIFICAÇÕES A classificação de rinossinusite pode ser em função da duração dos sintomas: • RS aguda: sintomas < 4 semanas; • RS subaguda: sintomas de 4 a 12 semanas; • RS crônica: sintomas persistem > 12 semanas; • RS aguda recorrente: quatro ou mais episódios por ano com resolução completa no período intercrises. Outra classificação se baseia na etiologia e manifestações clínicas: • VIRAL • BACTERIANA AGUDA NÃO COMPLICADA - sem evidência clínica de extensão para os seios paranasais e cavidade nasal • BACTERIANA AGUDA COMPLICADA - com evidência clínica de extensão para os seios paranasais e cavidade nasal ACOMPANHAMENTO INDICAÇÕES DE INTERNAÇÃO • Diplopia • Diminuição da acuidade visual ou da motilidade ocular • Proptose ocular • Sinais meníngeos • Confusão mental • Sinais de sepse • Cefaleia de forte intensidade ABORDAGEM TERAPÊUTICA Não iniciar antibioticoterapia nos casos iniciais pouco sintomáticos, pois a maioria é viral e autolimitada. Os antibióticos devem cobrir Pneumococo e o Haemophilus. Sendo amoxicilina a droga de escolha inicial, por 7 a 14 dias. O tempo de tratamento varia de acordo com a droga a ser utilizada. Naqueles pacientes que fizeram uso de antibióticos recentemente, amoxicilina- clavulanato ou cefalosporinas de 2ª geração são a melhor opção. Para os pacientes alérgicos, a doxiciclina, claritromicina ou levofloxacino são opções. Os anti-histamínicos não devem ser utilizados pois causam espessamento das secreções. Os corticoides tópicos e sistêmicos apresentam grau de recomendação A, devendo ser utilizados. A lavagem nasal com soro fisiológico leva à melhora dos sintomas, apesar de possuir grau de recomendação baixo. ATENÇÃO A FATORES AMBIENTAIS DESENCADEANTES E TABAGISMO. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Anselmo-Lima WT, Sakano E, Tamashiro E, et al. Rhinosinusitis: evidence and experience: October 18 and 19, 2013 - Sao Paulo. Brazilian journal of otorhinolaryngology 2015;81:S1- s49. Mion O, Anselmo-Lima WT, Pignatari SSN, et al. Antibioticoterapia para rinossinusite aguda bacteriana em adultos. Expert Opinion 2017. Suguri VM, Oliveira PWB, Garcia LBS. Rinossinusite Aguda. In: Ganança FF, Pontes P (coord). Manual de otorrinolaringologia e cirurgia de cabeça e pescoço. Barueri: Manole; 2011;(46). Nakajima V, Tagliarini JV. Rinossinusite Aguda. In: Neto SC, et al. Tratado de otorrinolaringologia. 2ª ed. São Paulo: Roca; 2011;(3):9. Brook I. Acute Sinusitis [Internet]. Medscape, Georgetown, 05 out. 2020. Rosenfeld RM. Clinical Practice. Acute Sinusitis in Adults. N Engl J Med. 2016;375:962.
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